quarta-feira, 14 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18416: O nosso livro de estilo (13): afinal para que serve e a quem serve o nosso blogue (Luís Graça / Virgílio Teixeira / Hélder Sousa)


Cabeçalho do nosso blogue, que tem como editores: Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e Jorge Araújo. e que se publica, diariamente... A sua origem remonta a 23/4/2004.


1. Não podendo comunicar com toda a malta ao mesmo tempo, por email, por precaução (, não vai o nosso servidor Google, onde temos conta, pensar que andamos a mandar carradas de SPAM e correio indesejável, violando assim as regras do contrato...), o nosso editor Luís Graça enviou há dias, em 8 do corrente, uma mensagem para umas dezenas de grã-tabanqueiros, com destaque para os bedandenses, que dizia o mais ou menos o seguinte, com um link para o poste P18391 (*)

Assunto - Bedanda, a ferro e fogo...

Camaradas: ainda vai havendo, na nossa Tabanca Grande, gente com curiosidade intelectual e espírito crítico, que ainda não arrumou as botas, que acompanha com regularidade o nosso blogue, lê, comenta, faz prova de vida... Mas sinto que a malta, ao fim destes anos todos, está a perder o fôlego... E não é caso para menos: 14 anos a blogar, é mais do que a guerra toda, de 1961 a 1974...

Ainda é possível o blogue trazer material capaz de despertar a curiosidade e interesse da malta? Acho que sim, vejam os trabalhos do nosso novo editor, Jorge Araújo, um "periquito" ao pé da maior parte de nós... Ou o livro, em pré-publicação, com as surpreendentes memórias do Dino, o José Claudino da Silva... Ou o "Abre-te, Sésamo" do Virgílio Teixeira... mais outros dois "periquitos" que vieram enriquecer a nossa Tabanca Grande...

Enfim, faço apelo aos bedandenses, cujo endereço de email tenho aqui à mão... bem como outros amigos e camaradas que têm mostrado interesse por esta nova série, "(D)o outro lado do combate"... Peço-vos para verem, comentarem, divulgarem, darem a cara, aparecerem, fazerem, enfim, prova de vida...

Com um abraço do camarada Luís Graça, também ele " cansado da guerra", como vocês todos...

PS - Não se esqueçam, dia 22, há almoço-convívio da Tabanca da Linha... E a 5 de maio, o XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, o Carlos Vinhal irá divulgar detalhes do evento, dentro em breve...



2. Dos vários comentários que recebemos, na caixa do correio, destacamos o do "periquito" Virgílio Teixeira, e o do "colaborador permanente", de longa data, o Hélder Sousa, que, apesar dos seus probleminhas de saúde, lá arranjou tempo e disposição (, dois recursos  preciosos para "jovens idosos" como nós...) para "consolar" o editor que, como todo o mundo, também tem os seus altos e baixos, os seus momentos de euforia e depressão...  

Estes dois comentários, já partilhados em grupo, merecem ser aqui reproduzidos, se não no todo, pelo menos em grande parte, nesta série "O Nosso Livro de Estilo", não para fazer "doutrina", mas para suscitar outros comentários, e sobretudo ajudar a reflectir sobre o passado, o presente e o futuro do nosso blogue, que é património de todos nós, ajudar enfim os nossos editores a "pilotar o barco" (**):


(i) Comentário do Virgílio Teixeira, com data de 8 do corrente:

Virgílio Teixeira, Bissau, 1969

Bom dia, Luís. Fiquei com a sensação que estavas desiludido e a pensar fechar o blogue, espero bem que não, ainda tenho muito material para divulgar.

Não são cenas como esta de Bedanda, que são uma coisa do outro mundo, isto sim é a guerra viva!
Nunca tinha visto um 'turra' além daquele morto, estas fotos do PAIGC são inéditas. Como é que os gajos carregavam aquilo tudo, um canhão às peças, e manga de 'ameixas' pesadas.

A discussão que deu já esta publicação, está para além dos meus conhecimentos, vou lendo e comentar pouco, eu estava do outro lado da guerra. Mas aprecio quem sabe, ou julga saber, de tantos pormenores que escaparam à maioria dos mortais!... Bem hajam os seus contributos.

E força, não vamos agora desistir, quando eu acabo de entrar. De qualquer modo, isto terá sempre um fim, penso eu, não vai haver gente com garra e disponibilidade para dar andamento num futuro a médio prazo, isto é, pessoal com os teus conhecimentos e cultura para responder a tudo e a todos, e o peso da idade vai carregando nas costas. Pelo menos a mim (...)



Luís Graça, Bambadinca, 1969
(ii) Resposta do editor Luís Graça, com data de 9 do corrente:

Obrigado, Virgílio, pelo teu apreço, alento, incentivo, verdadeira prova de camaradagem (,mesmo ainda não nos conhecendo pessoalmente)...

Não fiques em cuidado, é apenas um desabafo da minha parte... De resto, o blogue já não é meu, embora seja eu a pagar o alojamento no Google / Blogger... Estamos de pedra e cal, para dar e durar... Ainda não morremos todos, e os que infelizmente vão morrendo, não ficam na "vala comum do esquecimento"... É esta a nossa missão...

Temos um novo elemento na equipa editorial, o Jorge Araújo, que também é prof como eu, mas ainda no ativo... Temos muita gente que nos lê: só ontem foram 3100 visitas, durante o mês (últimos 30 dias) foram c.89 mil...

Temos766 membros na Tabanca Grande... Temos gente entusiástica como tu, com um fabuloso álbum fotográfico e uma memória de elefante!... Temos milhares de camaradas que já passaram por aqui, uns ficam, outros não voltam...

Claro que não podemos fechar a porta, fazer greve, encerrar para férias... É nosso timbre, de resto, publicar todos os dias do ano, nem que seja um único poste...
 (...) Para rematar a conversa, a nossa Tabanca Grande (, e em especial o nosso blogue) precisa de uma solução "institucional" que garanta que o nosso trabalho fica disponível, para os nossos filhos, netos e bisnetos, para os investigadores, para os portugueses e guineenses que queiram saber, em primeira mão, o que foi aquela guerra e aquela terra, "verde e vermelha", onde passámos os nossos 21, 22, 23, 24 anos, na maior parte dos casos...

Haveremos de encontrar essa solução, que essa sim é a minha preocupação no futuro próximo (...)


Hélder Sousa, Piche, 1970
(iii) Mensagem do Hélder Sousa, com data de 9 do corrente:

 (...) Vamos por partes... A primeira é que já estou habituado, de quando em vez, que o "nosso" Luís tenha estas palpitações sobre a utilidade do Blogue, sobre o interesse da sua continuidade, sobre se ainda consegue ser atractivo, sobre se ainda haverá quem se disponha a revelar mais e/ou novas fotos, histórias, relatos, lembranças, etc. daqueles tempos.

E, ao estar habituado, sei que isso será motivado por alguma indisposição momentânea e que depois passa. Eu também, em várias circunstâncias, e por diversos motivos e sobre vários temas ou situações, também passo por essas crises existenciais, daí que nestas alturas não dê muito relevo a isso, sei que pode "dar forte mas passa depressa"...

Também acho que todos nós, aqueles que de mais perto, há mais tempo ou que mais se interessam por este fenómeno, que é o Blogue, a sua temática e duração, sabe que o Blogue, mais do que do Luís, é "nosso" e por isso compete-nos, a todos, acarinhá-lo e desenvolvê-lo.

Um dos focos das angústias do Luís é facilmente anulado. Se nos seguem? Claro, basta ver as estatísticas com as visitas ou visualizações diárias! E até a composição, por país, dos visitantes nos mostra esse fenómeno, para mim inesperado, do número de visitas a partir de França, revelando claramente que os emigrantes, e/ou seus descendentes procuram (re)encontrar as suas raízes e acham o Blogue útil para esse fim.

As regras de conduta pelas quais o Blogue se rege são, de facto, muito justas e correctas. Foram elas que, em princípio, me cativaram. Achei que, com elas, se podia estar aqui em convívio com pessoas que não têm necessariamente de pensar como eu, ter os mesmos pontos de vista sobre a guerra que vivemos, as suas origens, os seus porquês, a sua justeza, ou não, as suas consequências e sobre a inevitabilidade de coisas que entretanto aconteceram. Aqui, com aquelas regras, considerei ser possível trocar opiniões, comentários, etc., com pessoas, camaradas da Guiné, em respeito mútuo, sem necessidade de "convencer" ninguém, apenas dar a opinião e que cada qual aproveite, ou não, o que quiser. E assim tem sido, de um modo geral.

Ainda sobre as "audiências" tive oportunidade de dizer ao Luís que o Blogue é seguido e não apenas de modo mitigado, por guineenses, na Guiné-Bissau e provavelmente não só. Em "conversa" com o nosso Cherno, em determinada altura percebi que ele próprio também estava a ter "angústias" sobre se devia ou não continuar a comentar no nosso Blogue. Não queria ser intrometido e tinha dúvidas se os seus comentários poderiam ser mal recebidos, como de alguém que estivesse a entrar em casa alheia... Disse-lhe que nem sequer pensasse isso, pois todas as suas contribuições têm sido valiosas no sentido de esclarecer melhor o que se vai mostrando ou dizendo sobre os povos, costumes e até de 'ambientes' da Guiné.

No seguimento disso ele, em certa altura revelou que, presumo que lá na Guiné, já lhe perguntaram "Mas, porque é que gostas tanto de perder tempo com esses...", referindo-se às suas intervenções no nosso Blogue. Ora bem, postas as coisas assim revela-se imediatamente que há lá quem nos siga, indiscutivelmente, pois se assim não fosse não lhe poderiam fazer a pergunta, embora, por um lado não se manifestem e por outro, aparentemente, discordem dessa 'colaboração'.

Após a observação acima transcrita ele, Cherno Baldé,  acrescentou: "Mas, eles não podem entender que aquilo vem de longe, desde quando era ainda criança (aqui deduzo que seja o facto de interagir connosco) e, habituei-me à sua forma de ser e de pensar (presumo que se refira a nós,  portugueses de cá) quando, muitas vezes, não concordo."

Portanto, e definitivamente, o Blogue tem audiência. E muita! Até de pessoas que não se manifestam, ou raramente o fazem, e quando o fazem é para dar conta das suas discordâncias... "que isto é só para intelectuais"... "que o Blogue está 'bandeado' com o IN" (revelando a sua enorme incapacidade para viver e conviver)... "que é um roteiro de viagens"... "que está sempre a falar de livros e a promovê-los"... "que servia para dar protagonismo ao Graça" (esta é miserável, mas houve quem argumentasse assim...) e outras palermices do género.

Em suma, enquanto pudermos, isto é das melhores coisas que há sobre o nosso tempo e temos o dever de manter o Blogue vivo. Com ele dar testemunho dos tempos e dos modos que vivemos. Se os vindouros pegam nele ou se o desprezam isso já não será da nossa responsabilidade. Não podem é dizer que "não sabiam" (...)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18391: (D)o outro lado do combate (21): "Plano de operações na Frente Sul" (Out - dez 1969) > Ataque a Bedanda em 25 de outubro de 1969 (ao tempo da CCAÇ 6, 1967-1974) - II (e última) Parte (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P18415: Bibliografia (47): “Lamento de uma América em Ruínas”, por J. D. Vance; Publicações Dom Quixote, 2017 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
Há muito que procurava um depoimento de como vivem os grupos sociais desfavorecidos nos EUA.
Este livro tece considerações perturbadoras sobre a perda do Sonho Americano para um largo espectro da população. Quem o escreve é um jovem que constitui um dos raros casos de ascensão social, ele saiu da comunidade operária branca do Cinturão da Ferrugem, o Ohio. Dá-nos, dada a sua análise pessoal e apaixonada, a oportunidade de conhecer a cultura dos norte-americanos brancos e pobres, de ficar a conhecer melhor o lento processo de desagregação que começou há cerca de 50 anos e parece imparável. É a história de uma família que vai de Kentucky para o Ohio, na esperança de escapar à miséria.
Um testemunho que nos insere numa comunidade caótica marcada pelo abuso, o alcoolismo, a pobreza e o trauma.
Uma outra América que raramente vemos nos filmes nem nas séries televisivas.

Um abraço do
Mário


Imperdível: Lamento de uma América em Ruínas

Beja Santos

É o testemunho de um jovem bem-sucedido diplomado em Direito pela Universidade de Yale, um caso bem raro de ascensão social entre a comunidade operária branca do Cinturão da Ferrugem. Relato de uma experiência de vida de quem viveu numa família e num grupo social disfuncionais, incapazes de aceder ao Sonho Americano. De múltipla leitura, pois é uma análise pessoal de uma cultura em crise – a dos norte-americanos brancos e pobres, na vertente da desintegração, que se iniciou nos anos 1970; e é um verdadeiro lamento, autobiográfico, íntimo e sentido; e uma viagem pela história, tudo começa pelos seus avós que se mudaram da região apalache do Kentucky para o Ohio, procuravam escapar à miséria generalizada da sua comunidade, obtiveram um relativo sucesso e formaram uma família da classe média, o símbolo desse sucesso é o autor deste documento de leitura obrigatória: “Lamento de uma América em Ruínas”, por J. D. Vance, Publicações Dom Quixote, 2017.

Famílias disfuncionais, é um grito que ele não reprime:  
“Uma das perguntas que eu odiava, e que os adultos me faziam constantemente, era se eu tinha irmãos ou irmãs. A menos que alguém seja um sociopata especialmente ardiloso, não é possível estar sempre a mentir. Eu tinha um meio-irmão e uma meia-irmã biológicos que nunca tinha visto porque o meu pai biológico me dera para adoção. Eu tinha muitos irmãos e irmãos não-biológicos segundo um terminado critério, mas apenas dois se limitasse o cálculo aos filhos do marido atual da minha mãe. E havia a esposa do meu pai biológico, e ela tinha pelo menos um filho, então talvez eu tivesse de contar com ele também. Às vezes pensava filosoficamente sobre o sentido da palavra irmão. Os filhos dos antigos maridos da minha mãe ainda eram meus parentes? Se sim, o que dizer dos futuros filhos dos antigos maridos das minha mãe?”.

Temos pois uma relação complexa com este meio familiar, avós amorosos e uma mãe toxicodependente. Destinado a ter um futuro sombrio pela frente, descreve a genealogia mais recente, os inumeráveis acidentes da sua infância, o meio operário e o sonho de ascender à classe média. Dá-nos um relato primoroso dos locais onde viveu, do sistema educativo público, do que é viver numa relíquia da glória industrial norte-americana. Comunicação violenta, o recurso às obscenidades, discussões de partir a loiça, intervenções da polícia e da assistência social. O autor irá listar-se nos Marines após completar o ensino secundário e combateu no Iraque. Amadureceu, frequenta o ensino universitário em Ohio e em Yale, é hoje diretor de uma destacada firma de investimentos de Silicone Valley. Um tremendo relato que nos prende pela lucidez e subtileza, onde se misturam todos os dramas da sua vida familiar e onde entram em cena, para nosso espanto, gente pobre completamente descrente do futuro. E nessas famílias disfuncionais todos os incidentes são imprevisíveis, como em dado passo ele observa:  
“Era assim o meu mundo: um mundo de comportamentos verdadeiramente irracionais.
Gastamos tudo até ficarmos pobres. Compramos televisões de ecrã gigante e Ipads. Os nossos filhos usam roupas boas graças a cartões de crédito com juros altos e empréstimos. Compramos casas de que não precisamos, refinanciando-as em troca de mais dinheiro para gastar, e depois declaramos falência e deixamo-las geralmente cheias de lixo. Poupar é para nós uma hostilidade. Gastamos para fingir que somos de uma classe superior. E quando a poeira assenta – quando a falência chega ou algum parente paga a fiança da nossa estupidez –, não sobra nada”. 

O ambiente familiar também não é poupado: 
“As nossas casas estão sempre numa desordem total. Gritamos e berramos uns com os outros como se fôssemos um bando de arruaceiros num jogo de futebol. Pelo menos um membro da nossa família consome drogas. Em momentos particularmente stressantes, batemos uns nos outros, e à frente do resto da família, inclusive das crianças pequenas. Um dia mau é quando os vizinhos chamam a polícia para acabar com a confusão. Os nossos filhos vão para um centro de acolhimento mas nunca ficam por muito tempo. Pedimos-lhes desculpa”.

A ignorância e a alarvice andam de mãos dadas: “Percentagens significativas de eleitores brancos conservadores acreditam que Barack Obama é muçulmano. Numa sondagem, 32% de votantes conservadores declararam que acreditam que Obama tinha nascido no estrangeiro. Ouço frequentemente conhecidos ou parentes distantes dizerem que Obama tem laços com extremistas islâmicos, ou é um traidor”. Conservador, está ciente da profunda debilidade ideológica deste pensamento: “Em vez de incentivarem o envolvimento, os conservadores cada vez mais fomentam o tipo de desapego que exauria a ambição de muitos dos meus amigos. A mensagem da direita é cada vez mais: você não tem culpa de ter fracassado; a culpa é do Governo”.

A todos os títulos, um relato corajoso no quotidiano de maus-tratos, de insultos, de depressões, dos traumas múltiplos que sofrem os membros da classe operária. E há esse rolo compressor que há um grau de instabilidade nunca visto em nenhum lugar do mundo: a miríade de figuras paternas, a elevada percentagem de crianças expostas a três ou mais parceiros das mães, o caos em casa. E testemunha o que viu: “Para muitas crianças, o primeiro impulso é fugir, mas as pessoas que correm para a saída raramente escolhem a porta certa. Foi assim que a minha tia se viu casada aos 16 anos com um marido abusivo. Foi assim que a minha mãe, a oradora da turma na escola secundária, no final da adolescência já tinha engravidado e depois divorciou-se, mas não chegou a terminar o secundário. Saem de uma situação má para uma pior. O caos gera mais caos”.

É um livro inspirador, mais construtivo não pode ser, ajuda a compreender aqueles EUA conservadores que confiam nas vozes messiânicas, como nos ajuda a compreender que há vencedores que não se atolam no princípio da competição e que tanto lutam pela sua felicidade como pela solidariedade com os grupos sociais desfavorecidos que vivem no país mais rico do mundo.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18339: Bibliografia (46): “Lideranças na Guiné-Bissau, Avanços e recuos”, por Santos Fernandes, Chiado Editora, 2017 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18414: Ser solidário (211): Concentração cívica (hoje, 4ª feira, às 18h00, no antigo Hospital Militar Principal, Estrela, Lisboa) e petição pública a favor do apoio social e clínico aos militares e seus agregados familiares, incluindo os antigos combatentes da Guerra em África


Lisboa > Estrela > Hospital Militar Principal, numa fotografia de Augusto Xavier Moreira (c. 1865). Imagem do domínio público.

Fonte: Wikimedia Commons.


1. Chegou-nos, pela  mão do nosso grã-tabanqueiro, Mário Gaspar, a notícia deste evento:

CONCENTRAÇÃO CÍVICA 

Quarta-Feira – 14/3/2018 às 18hOO

Ex- Hospital Militar Principal – Estrela, Lisboa

Petição Pública com mais de 4750 assinaturas

Considera-se importante chegada 15 minutos antes das 18h00, para cumprir horários e compromissos.

Presença da ADFA e de Militares Grandes Deficientes

Intervenções:

1. MGen Bargão dos Santos
2. TCor Cmd António Neves
3. Cor Cmd Carlos de Matos Gomes
4. Intervenções Livres (15’)

2. Petição Pública [assinar a petição aqui]

Apoio Social e Clínico aos Militares e seus agregados familiares

Para: Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembleia da República
Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembleia da República

Excelência

O que se expõe não corresponde a uma situação exclusiva dos militares e das suas famílias , uma vez que diz respeito e de algum modo, a parte igualmente significativa da nossa população.

É apenas dada ênfase aos militares e seus agregados familiares por admitir tratar-se de uma realidade que tem tanto de particular, se atentarmos sobretudo ao que se encontra legislado na Lei de Bases do Estatuto da Condição Militar ( LBGECM), como injusto e preocupante e neste sentido, trazer ao conhecimento de V. Exa, para os devidos efeitos, o seguinte:

Concretamente, a urgente necessidade do apoio a largas centenas de doentes, beneficiários do IASFA, I.P. (Instituto de Acção Social das Forças Armadas) que necessitam de acompanhamento de natureza hospitalar, fundamentalmente por doenças crónicas prolongadas ou situações resultantes de demências ou de acidentes cerebro-vasculares e que hoje se denominam de Unidades de Cuidados Continuados e Paliativos.

De facto, confrontamo-nos hoje com um envelhecimento muito alargado da população militar, com um quantitativo ainda muito significativo de combatentes da Guerra em África , com todas as suas sequelas, seja a nível físico ou psíquico.

Para que se possa ter uma ideia da complexidade e gravidade da actual situação e a título de mero exemplo, refere- se que em termos de Oficiais e Sargentos, apenas do Exército e na situação de reforma (Lista de Antiguidades, Set 2016), existem com mais de 80 anos, cerca de 3500 e com mais de 70 anos, perto de 6000, por sua vez, perante uma realidade de mais de 39.000 beneficiários com mais de 65 anos de idade.

Explicando melhor, a actual lista de espera de doentes beneficiários para internamento nas instalações de acolhimento do IASFA,I.P. para cuidados desta natureza ou afim, ronda os 1500 , sendo a capacidade deste Instituto no âmbito da denominada Acção Social Complementar (ASC), naturalmente diminuta e muito insuficiente para as reais necessidades.

Se recuarmos um pouco recordamos que a criação de um Hospital único para as Forças Armadas (HFAR), sempre desejada ao longo de décadas, como forma de racionalizar recursos materiais, equipamentos e efectivos, então dispersos por três Hospitais, dois do Exército ( Hospital Militar Principal e Hospital Militar de Belém ) e o Hospital da Marinha, levou à decisão política da cedência dos mesmos a outras Instituições, na circunstância à CVP [Cruz Vermelha Portuguesa] e à SCML [Santa Casa da  Misericórdia de Lisboa].

Com esta atitude, as Forças Armadas perderam cerca de 400 camas de internamento hospitalar, correspondente aos três Hospitais e foi desperdiçada de algum modo, uma considerável reserva estratégica nacional de apoio sanitário, perante eventuais situações de calamidade ou catástrofe.

Por sua vez os referidos Hospitais tinham uma taxa de ocupação da ordem de pouco mais de 90%, o que dá para avaliar e fazer-nos hoje reflectir, por onde andarão e em que condicões estarão a ser seguidos esses doentes.

Entretanto, o Hospital Militar de Belém que foi cedido à Instituição da Cruz Vermelha Portuguesa, por um período de vinte e cinco anos, para instalação de uma unidade de Cuidados Continuados e uma Residência Sénior (DR 189/2015 de 28/9/15), continua inactivo.

O Hospital Militar Principal, com capacidade para mais de 200 camas, fechou entretanto as suas portas em Dezembro de 2013 (há mais de três anos) e mantém -se igualmente encerrado, quando seria por inerência a solução mais económica , mais justa e racional para ser a retaguarda indispensável ao actual HFAR (Hospital das Forças Armadas).

Em 30/7/2015, este mesmo HMP, viu então ser formalizada a sua cedência (Pavilhão da Família Militar) à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, através de um protocolo firmado entre o seu Provedor, Sr Dr Santana Lopes e o Sr Dr Aguiar Branco, Ministro da Defesa Nacional.

Visava-se então criar a maior Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos, do País, entre outras valências.

Não obstante o esforço da sua pronta divulgação local, em chamativo cartaz e placas identificativas, não chegou a abrir e desconhece- se inclusivamente uma data para a sua inauguração.

O Hospital da Marinha desafectado do Dominio Público Militar, para ser vendido em hasta pública (17/3/2016).

Em síntese, solicita-se:

1. Uma definição do Ministério da Defesa Nacional relativamente a uma previsão para a abertura das Unidades Hospitalares cedidas pelo Exército respectivamente à CVP e SCML, sendo de admitir como hipótese , perante a gravidade do exposto, a sua reconversão para a administração do Exército, caso se prolongue por mais tempo, a entrada em funcionamento dos mesmos.

2. Que sejam facultados ao IASFA,I.P. os recursos humanos e materiais indispensáveis que lhe permitam, seja por realização de protocolos de assistência médica e social ou por seus próprios meios, dar resposta adequada às necessidades de tratamento ou internamento dos seus beneficiários, em Unidades de Cuidados Continuados ou Paliativos ou de qualquer outra natureza médica e social, servindo em todo o País os seus Deficientes, militares e seus agregados familiares que o necessitem.
3. Que possa finalmente e em definitivo, ser dado o devido reconhecimento de integrar sempre que possível em Unidades de Cuidados desta natureza, os cidadãos hoje civis, mas ex- combatentes da Guerra em África, que delas tenham necessidade e que estão hoje bem identificados pelas diferentes Instituições( Liga dos Combatentes ou outras , que lhes são afins e representativas).

Lisboa, 17 de Março de 2017
João Gabriel Bargão dos Santos 
CC - 01080439
NIF- 108149536

[Fixação de texto, para efeitos de edição neste blogue, incluindo negritos e realce a amarelo: LG]
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de fevereiro de 2018  > Guiné 61/74 - P18351: Ser solidário (210): A ONGD Resgatar Sorrisos apresenta-se à Tabanca Grande e agradece desde já quaisquer apoios para poder construir a escola de Candamã (, no antigo subsetor de Masambo) (Luís Granquinho Crespo)

Guiné 61/74 - P18413: Recortes de imprensa (93): A guerra e a censura: o caso de Armor Pires Mota (Sílvia Torres, "Diário de Coimbra", artigo de opinião, 9/3/2018)



1. Texto enviado pela nossa amiga e grã-tabanqueira Sílvia Torres, com data de ontem. Foi publicado no Diário de Coimbra de 9 de março de 2018, como artigo de opinião.

Crónicas de guerra "perigosas"
por Sílvia Torres

Há 57 anos, a Guerra do Ultramar dava os primeiros passos em Angola, estendendo-se à Guiné Portuguesa em 1963 e a Moçambique, no ano seguinte. Os meios de comunicação social portugueses noticiaram o conflito, na medida do possível, com o controlo severo e discreto da censura. A guerra era um tema tabu, sobre o qual pouco se podia contar e, menos ainda, mostrar.

O Diário de Coimbra, jornal considerado hostil ao Estado Novo, estava na lista dos mais vigiados. O "lápis azul" tinha especial atenção à imprensa "opositora" e de maior tiragem, sendo nestes casos mais rigoroso. Perante jornais de pequena difusão, com sede em meios rurais, o rigor diminuía e, por vezes, temas proibidos viam a luz do dia. O quinzenário Jornal da Bairrada, que ainda hoje se publica como semanário, beneficiou desta imperfeição da censura.

Entre 1964 e 1965, o Jornal da Bairrada publicou "crónicas de guerra", da autoria do bairradino e então alferes Armor Pires Mota (*) que cumpria parte do Serviço Militar Obrigatório na Guiné Portuguesa. Aerogramas transportavam as palavras da província ultramarina para a metrópole. Nenhuma das crónicas, que se confundem com páginas de um diário, sofreu qualquer corte por parte da censura. 

Em todas, como neste excerto, o alferes Mota mostrou aos leitores a guerra que conheceu, sem filtros: 

"(…) causa-me calafrios a morte daqueles dois moços que, ao entardecer, foram encontrados nus. Só lhes deixaram as meias enfiadas nos pés (…) Tinham o sexo mutilado, o nariz arrancado e os olhos, e, pelos rasgões espalhados pelo corpo, tudo leva a crer que lutaram corpo-a-corpo, quando se viram sós e sem munições. (…) Sinto-me em baixo. E estive mesmo tentado a pôr de parte a intenção de contar as guerras. Mas achei que devia trazer para a luz o que anda nas sombras: o mistério do sangue".

Já na metrópole, findas as obrigações militares, Armor Pires Mota reuniu em livro os textos que já tinham sido publicados no jornal bairradino. A obra Tarrafo – crónicas de um soldado na Guiné foi posta à venda na livraria Vieira da Cunha, em Aveiro (**). O que havia escapado à censura na aldeia fez soar o alarme do "lápis azul" na cidade. Consequentemente, o livro foi apreendido pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado). E, sabe-se agora graças aos arquivos que guardam documentos da época, a censura levou um valente "puxão de orelhas" por ter permitido a publicação de textos "perigosos" no Jornal da Bairrada.

Hoje, quase a chegar aos 80 anos, Armor Pires Mota não precisa de ler o que escreveu para recordar os dois anos passados na Guiné Portuguesa. Há histórias que a memória, por mais que se esforce, não consegue apagar.


Sílvia Torres (***)

[Fixação de texto, para efeitos de edição no blogue: LG]
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Notas do editor:

Armor Pires Mota, Lisboa, 10/11/2010.
Foto: Luís Graça (2010)
(*) Armor Pires Mota [ex-alf mil acv, CCAV 488/BCAV 490, Bissau e Jumbembem, escritor, autor dos livros, entre outros, o "Tarrafo", 1965 (com edição facsimilada, com as anotações do "lapis azul" dos censores, em 2013); "Guiné, Sol e Sangue, 1968; "Cabo Donato, Pastor de Raparigas", 1991; "Estranha Noiva de Guerra, 1995: e a "Cubana que dançava flamenco", 2008,  alguns podendo ser adquiridos pela interneta, aqui].

(**) Vd. poste de 5 de novembro de 2011
Guiné 63/74 - P9000: Antologia (75): Tarrafo, crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed, 1965 (8): Ilha do Como, 15 de Março de 1964: E Deus desceu à guerra para a paz (Último episódio)...

(***) Último poste da série de 2 de março de 2018
Guiné 61/74 - P18372: Recortes de imprensa (92) : artigo de opinião de Sílvia Torres: A Guerra em 'copo meio cheio', "Diário de Coimbra", 23 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18412: Parabéns a você (1403): Leopoldo Correia, ex-Fur Mil Art da CART 564 (Guiné, 1963/65)

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Nota do editor:

Último poste da série de > 12 de março de  2018 > Guiné 61/74 - P18405: Parabéns a você (1402): Sarg-Ajudante Ref da GNR Manuel Luís Rodrigues de Sousa, ex-Soldado At Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 13 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18411: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXII: em 11 de novembro de 2016, em Kuala Lumpur, Malásia: tentando, em vão, chegar ao topod as torres gémeas "Petrona", o arranha-céus considerado o mais alto do mundo (88 andares, 452 metros de altura) , entre 1998 e 2003,,,


Foto nº 1  > As torres gémeas "Petronas" 


Foto nº 2 > Bairro de Bukit Bintang  

Malásia, Kuala Lumpur, 11 de novembro de 2016


Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 200 referências.
É casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.


2. Sinopse da série "Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias"

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016; [não sabemos quanto despenderam, mas o "barco do amor" deve-lhes cobrado uma nota preta: c. 40 mil euros, estimanos nós];

(ii) três semanas depois de o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga;

(vi) visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016;

(vii) volta pela Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016);

(viii) o navio "Costa Luminosa" chega, pela manhã de 29710/2016, à cidade de Melbourne, Austrália;

(ix) visita à Austrália Ocidental, enquanto o navio segue depois para Singapura; o Graça de Abreu e esposa alugam um carro e percorrem grande parte da costa seguindo depois em 8 de novembro, de avião para Singapura, e voltando a "apanhar" o seu barco do amor...

(x) de 8 a 10 de novembro. o casal está de visita a Singapura, seguindo depois o cruzeiro para Kuala Lumpur,  Malásia (11 de novembro); próxima etapa: Phuket,  Tailândia (11, 12 e 13 de novembro).


3. Viagem de volta ao mundo em 100 dias >  Kuala Lumpur, Malásia, 11 de novembro de 2016   (pp. 46-48, da Parte II)

No início da viagem, não sei bem explicar porquê, depositava mais esperanças na mágica de Kuala Lumpur do que nos requebros de Singapura. Estava rotundamente equivocado. A verdade é que também não tive o tempo que gostaria para me espraiar à vontade pela capital da Malásia.

O navio acostou em Port Kelang e foram 90 quilómetros de autocarro até Kuala Lumpur, uma cidade interior com quase 2 milhões de habitantes, 46% dos quais são malaios, 44% chineses e cerca de 10% indianos.

Depositaram-me no bairro de Bukit Bintang ao lado de um colorido shopping, impecável para compras como iria comprovar mais tarde. Partimos a pé para a descoberta do grande burgo, podia contar com uns bons pares de horas para nos perdermos por Kuala Lumpur. 

De mapa na mão, procuro o caminho para as torres gémeas Petronas. “Petronas” é a marca do petróleo da Malásia, sponsor da Fórmula 1 e do circuito de Sepang. As torres parecem perto mas só depois de uns três quilómetros por ruas e avenidas incaracterísticas, esburacadas e feias, adivinho ao fundo a silhueta original das duas torres. Dizem-me para descer por uma longa passagem subterrânea, com alindadas arcadas por baixo da terra, com lojas e cafés, que me conduzirão direitinho às Petronas. 

Chego ao piso inferior onde se toma o elevador para subir à plataforma intermédia que une as duas torres. Só havia bilhetes para entradas a partir das cinco da tarde. É impraticável porque às cinco devo estar no autocarro para a viagem de volta ao navio. Poupei 38 dólares, o preço da ascensão às torres, mas gostava mais de os ter gasto; não é todos os dias que um homem anda por estas paragens, chega à boca das Petronas e não consegue avançar. 

Eu conhecia o espectacular arranha-céus de dois filmes, um James Bond com o Pierce Brosnan a saltar de torre para torre, e um outro que, por puro acaso, acabou de passar no nosso camarote, no canal de filmes Lian Hua莲花, de Macau, e se chama The Entrapment, em português A Armadilha, com o Sean Connery, muitos anos pós James Bond e uma deliciosa Catherine Zeta-Jones, em 1999 então no apogeu dos seus gloriosos trinta anos de idade. São dois bons ladrões simpatiquíssimos fugindo a um grupo de maus ladrões pelas escadarias da Petronas e depois, ambos, em luta pela vida, suspensos nos cabos inferiores da estrutura metálica da plataforma que une os dois arranha-céus.

 Como não deu para subir, caminhei pela área ajardinada a norte das torres e depois pelo grande jardim e lago, do lado sul. Excelentes fotografias de um dos mais originais arranha-céus do globo, inaugurado em 1998 que conta com 88 andares e 452 metros de altura. Mas o Petronas começa a ser parcialmente escondido por outros arranha-céus construídos ao lado e esbate-se a grandiosidade do edifício que foi o mais alto do mundo entre 1998 e 2003.

Tempo de seguir a pé para o centro histórico de Kuala Lumpur. Embora no mapa da cidade a Merdeka Square – merdeka significa “independência” em malaio, nada de confusões! --, pareça relativamente perto, a verdade é que era longíssimo e, se não me perdi, eu que tenho a mania de que possuo um excelente sentido de orientação, acabei por andar quilómetros por grandes avenidas, com um trânsito infernal mas vazias de peões, por obtusas avenidas sem saber exactamente onde iriam terminar. 

Acabei por tomar um táxi que me conduziu à Chinatown. Os chineses, quase todos do sul da China, das províncias de Guangdong (onde fica Macau) e de Fujian emigraram aos milhões para o Sudeste Asiático, sobretudo na segunda metade do século XIX, muitos fugindo à grande rebelião Taiping que assolou o centro-sul da China. Fugiram à morte e à miséria.

Já em 1508, o nosso rei D. Manuel enviava a Malaca -- aqui a cento e poucos quilómetros de Kuala Lumpur --, um dos grandes portugueses da época, de nome Diogo Lopes de Sequeira, e pedia ao fidalgo: “Perguntareis pelos chins, e de que partes vêm, e de quão longe, e de quanto em quanto vêm a Malaca, ou aos lugares em que tratam, e as mercadorias que trazem, e quantas naus deles vêm cada ano”, etc. 

Diogo Lopes de Sequeira e os seus homens -- um deles chamava-se Fernão de Magalhães, o da primeira volta ao mundo --, acabaram por ter conflitos com o sultão local, sendo obrigados a fugir da cidade, deixando para trás dezanove marinheiros que, após dois anos de cativeiro, seriam libertados por Afonso de Albuquerque quando este conquistou Malaca em 1511 e a transformou na placa giratória para os portugueses no Extremo Oriente. Com a fixação definitiva em Macau, a partir de 1553, os portugueses jamais deixaram de perguntar pelos chineses, de os tentar entender, de criar um difícil todo com as fantásticas gentes do Celeste Império. Sei do que falo.

Nesta Chinatown da cidade de Kuala Lumpur, foram outros os chineses, ou os mesmos, que inventaram o seu bairro, o seu próprio comércio, seu modo de vida, a sua adoração aos deuses nos templos taoistas. Aqui vale a pena o passeio por Pataling Street, com um bonito pailou, um pórtico de entrada, depois a casa verde da família Chan, lugar da fixação dos primeiros chineses no local, mais adiante, numa rua lateral, o templo de Guandi, o deus taoista da Guerra, levantado em 1888, com guerreiros e os telhados barrocamente decorados com dragões e outros animais mitológicos, tudo na arquitectura clássica do sul da China. A seguir, há um festival de lojas onde se vendem toneladas e toneladas de quinquilharia, muito pechisbeque dourado, made in China.

De táxi, regresso a Bukit Bintang. No grande shopping do lugar aviei-me de uns tantos produtos de farmácia, mais frutas secas raras e até comprei um bonito par de cuecas malaias. Para vestir, despir e recordar.

Depois foi a viagem de regresso a Port Kelang, onde o velho Sandokan, tigre da Malásia, mais o Gastão Sequeira, o português seu imediato e companheiro de aventuras, me esperavam para uns copázios de whisky velhíssimo, capturado pelos homens de Sandokan no desvio de um navio comandado por um execrável capitão inglês. Brindámos à nossa saúde e à estuporada gesta dos portugueses pelo Oriente. Depois, mandei um mail ao Emílio Salgari, noticiando o encontro.

Meio trôpego, embarquei no Costa, rumo à Tailândia.
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18355: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXi: Singapura, Ilha de Singapura: de 8 a 10/11/2016

Guiné 61/74 - P18410: Fauna & Flora (13): De Cassumba, na ponta mais a sul de Quitafine, até Bissau, em 300 km, de um lado e do outro da estrada, não encontrei um único macaco-cão... Até há poucos anos atrás, era capaz de encontrar meia dúzia de bandos, alguns com dezenas de indivíduos (Patrício Ribeiro, Bissau)

Patrício Ribeiro, empresário
[Impar Lda, Bissau]
1. Comentário de Patrício Ribeiro ao poste P18407 (*):


Boas, Boa tarde.
Tenho más noticias,
Já não há "cabrito pé de rocha", na Guiné, nome do bicho já cozinhado, para não se falar o verdadeiro nome [macaco-cão]...

Cheguei há poucas horas da praia de Cassumba, no ponto mais ao Sul da Guiné [, região de Quitafine, a sul de Cacine],  por onde andei vários dias. 

Na viagem de mais de 300 km, para cada lado, não vi um único macaco, coisa impensável até há poucos anos. Nessas nossas viagem, encontrávamos meia dúzias de bandos, alguns dos quais com umas dezenas de animais.

Más noticias para os apreciadores...

Abraço

2. Comentário do editor LG:

Boas, Patrício. Más notícias para a Guiné-Bissau. para a conservação do babuíno da Guiné, para a preservação da biodiversidade, para o turismo, para a economia, para a ciência, para todos nós, afinal.

Há uns anos atrás, em 2009,  colaborámos com a bióloga Maria Joana Silva (**), que estava a fazer o seu doutoramento.numa universidade inglesa. A tese de doutoramente tinha justamente como tema a genética do babuino da Guiné. Não temos tido notícias dela, mas gostaríamos de ter acesso pelo menos ao resumo da tese e algumas das suas principais conclusões... Pode ser que ela nos leia, e satisfaça a nossa curiosidade...

À nossa modesta escala, gostaríamos de poder contribuir para a preservação deste magnífico primata que só existe num nicho ecológico da Africa Ocidental, relativamente restrito, e que inclui a Guiné-Bissau. É uma tremenda responsabilidade, para todos nós, o risco da sua extinção... Até aos anos 90, ninguém se preocupava com o seu futuro...

E a propósito de Cassumba, diz-nos o nosso amigo Cherno Baldé (*): "Cassumba, aldeia situada nos confins do Sector de Cacine (zona marítima), tem uma das praias mais lindas da Guiné-Bissau, mas que, exceptuando umas poucas pessoas que conhecem os segredos do país [, como é o caso do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro], ninguem conhece e é pouco frequentada. Merecia constar da rota do turismo se tivesse acesso facilitado, que é o grande quebra-cabeças".

PS - Disse há dias (*) que o babuíno não existe em Angola e Moçambique, o que é falso... O vocábulo vem do  francês "babouin".. É o nome comum  os "antropoides cercopitecídeos" do género Papio...Algumas das características mais evidente deste Macaco do Novo Mundo (, não existindo portanto no Novo Mundo): (i) focinho pontudo (como o cão...), (ii) caninos grandes, (iii) bochechas volumosas, (iv) calosidades nas nádegas, etc. Pertence à ordem dos primatas, como nós, é  semi-quadrúpede, pode medir 1, 2 metros de  comprimento, vive em África, de preferência em    campos abertos (savana arbustiva, pastagens, terrenos rochosos...).

Há cinco espécies do género Papio, em África, uma delas é o Papio papio que, essa, sim, é que vive na África Ocidental (Guiné-Bissau, Guiné, Senegal, Gâmbia, sul da Mauritânia e oeste de Mali). É vulgarmente conhecido como "bauino da Guiné" ou "macaco-cão"...
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Nota dp editor:

(*) Vd. poste de 12 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18407: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (26): Os "animais, nossos amigos"...

(**) Vd. poste de 10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3714: Fauna & flora (1): Pedido de apoio para investigação científica sobre o Macaco-Cão (Maria Joana Silva)

(...) O meu nome é Maria Joana Silva e sou uma aluna de doutoramento da Universidade de Cardiff (Reino Unido). O meu projecto de doutoramento é acerca da genética do babuíno da Guiné (mais conhecido na Guiné-Bissau por macaco Kom).

Tenho-me deslocado à Guiné-Bissau, mais propriamente a Cantanhez, onde comecei por fazer uma recolha de amostras biológicas exploratória. Logo percebi que a história demográfica desde primata está intimamente ligado à história daquele local. Fiz algumas entrevistas a antigos caçadores da tropa portuguesa que me falaram do tempo da guerra, do facto dos babuínos terem sido caçados principalmente por tropas do PAIGC e que durante o tempo da guerra era relativamente fácil encontrar babuínos. (...) 

(**) Último poste da série >  18 de janeiro de  2009 > 18 de janeiro de 2009 >  Guiné 63/74 - P3755: Fauna & flora (12): Respondendo às perguntas sobre o macaco-cão (Pedro Neves / Alberto Branquinho)

Guiné 61/74 - P18409: Álbum fotográfico de António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 e da CCAÇ 17 (5): Bula e Binar em 1973/74

Foto 26.3 - Empoleirado em cima de uns toros de madeira que atravessavam um dos canais da bolanha, na zona de Pete, caminho este que que era utilizado pela população local, quando ia, ou vinha, de trabalhar nos arrozais.

ÁLBUM FOTOGRÁFICO DE ANTÓNIO ACÍLIO AZEVEDO, EX-CAP MIL, CMDT DA 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 E DA CCAÇ 17, BULA E BINAR, 1973/74


Foto 26.1 - Com algumas elementos da CCAÇ. nº 17, sediada em Binar e junto a uma bolanha

Foto 26.2 - Em traje domingueiro, junto a um edifício da administração, em Binar

Foto 27.1 - Uma coluna com 3 viaturas, com abastecimentos, que vinham de Bissau em direcção a Pete, na sub-região de Bula, a circular na estrada asfaltada Bula/Binar

Foto 27.2 - Junto a um bi-obus, construído por pessoal da 1.ª Companhia do BCAV 8320/72, sediada em Pete e que funcionava

Foto 27.3 - Num posto de vigia, em Pete, onde tínhamos instada uma metralhadora ligeira Breda

Foto 32 - Empoleirados num monte de terra construído pelas formigas "bagabaga", eu próprio, acompanhado pelo Alferes Teixeira e um furriel, todos da CCAÇ 17, sediada em Binar

Foto 33 - Mexendo a panela, na luxuosa cozinha do "hotel" da CCAÇ 17, em Binar

Foto 34 - Na parada do quartel de Binar, ao volante de um Unimog 404

Foto 35 - Eu, com dois miúdos de Binar, sentados em molhos de palha, transportados por uma nossa Berliet, que aos domingos cedíamos à Administração, para serviço da população local

Foto 36 - Imagem de uma minha deslocação a Ponta Augusto Barros (próxima da margem norte do Rio Mansoa), onde se estava a construir um aldeamento para um pelotão de milícia pertencente à CCAÇ 17, que lá se encontrava destacado e respectivas famílias

Foto 37 - Eu acompanhado por 2 furriéis da CCAÇ 17, passeando num domingo, pelo meio das tabancas de Binar

Foto 38 - Na bolanha junto a Binar e em zona onde existiam muitas bananeiras, que davam mesmo bananas, como se pode comprovar por debaixo das folhas e à direita do homem que está a caminhar

Foto 39

Foto 40 - Duas imagens de uma das visitas que o Major Dick Daring e outros elementos do PAIGC nos fizeram a Binar, localidade em cujas tabancas viviam alguns dos seus familiares, como nessa altura, o próprio Major nos demonstrou
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18370: Álbum fotográfico de António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 e da CCAÇ 17 (4): Ainda a visita à Guiné-Bissau em Março e Abril de 2017

segunda-feira, 12 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18408: O nosso livro de estilo (11): A atual equipa de editores e colaboradores permanentes do nosso blogue e respetivos "pelouros"...


LUÍS GRAÇA, FUNDADOR, ADMINISTRADOR E EDITOR DO BLOGUE

Natural da Lourinhã (a "capital dos dinossauros"), mora em Alfragide, é sociólogo do trabalho e da saúde, doutorado em saúde pública, professor jubilado, na Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade NOVA de Lisboa, em Lisboa. Casado, com a Alice Carneiro, nossa grã-tabanqueira. Dois filhos: Joana Graça, psicóloga e ilustradora, e João Graça, médico e músico. Fez a guerra colonial na Guiné (fur mil arm pes inf, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71).



CARLOS VINHAL, COEDITOR E ADMINISTRADOR

Nasceu a 27 de março de 1948 em Vila do Conde. Vive em Leça da Palmeira, Matosinhos. Aposentado da Administração dos Portos do Douro e Leixões SA. Cumpriu a sua comissão de serviço na Guiné, Mansabá, entre abril de 1970 e março de 1972, integrando como fur mil art MA na CART 2732. Preside à comissão organizadora do Encontro Nacional da Tabanca Grande (que se realiza todos os anos em Monte Real). É casado com a Dina Vinhal, nossa grã-tabanqueira.
É coeditor de mais dois blogues. É editor do blogue da Associação da Universidade Sénior de Matosinhos. E pertence aos orgãos sociais
do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes


 
EDUARDO J. MAGALHÃES RIBEIRO, COEDITOR

Nasceu em 27 de março de 1952, no concelho de Matosinhos, foi fur mil op esp / ranger, na CCS / BCaç 4612/74 (Cumeré, Mansoa e Brá). Seguiu para a Guiné já depois do 25 de Abril, tendo regressado em 15 de outubro de 1974, na última viagem, com tropas, do T/T Uíge. Vive e trabalha no Porto (Departamento de Manutenção Mecânica da Produção Hidráulica, EDP). É casado. Pertence ou pertenceu aos órgãos sociais da AOE (Associação de Operações Especiais) e da LAMMP (Liga dos Amigos do Museu Militar do Porto). É fundador, administrador e editor do blogue Rangers & Coisas do MR.




JORGE ARAÚJO, COEDITOR

Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; autor, entre outras, da série "(D)o outro lado do combate". Mora em Almada, é casado. Coeditor a partir de março de 2018.


 
VIRGÍNIO BRIOTE, COEDITOR (JUBILADO)

Nascido em Cascais, frequentou a Academia Militar, foi alf mil em Cuntima, CCAV 489 / BCAV 490 (Jan-Mai 1965). Fez o 2º curso de Comandos do CTIG. Comandou o Grupo Diabólicos (Set 1965 / Set 1966). Regressou em janeito de 1967. Casado com a Maria Irene. Foi quadro superior da indústria farmacêutica. Por razões de saúde, deixou de poder dar uma colaboração assídua ao nosso blogue. Tem, por isso, hoje o estatuto de editor jubilado. Mas está sempre ao alcance de um clique... e é um camarada de grande generosidade.




 
CHERNO BALDÉ, "CHICO DE FAJONQUITO", COLABORADOR PERMANENTE (ASSUNTOS ÉTNICO-LINGUÍSTICOS)

Nasceu no início da década de 60, em Fajonquito, setor de Contuboel, região de Bafatá.  É descendente de Fulas originários de Macina, no espaço territorial do antigo Sudão Ocidental (atual Mali).  Aprendeu a ler e a escrever português por empenho do seu pai que era encarregado de uma importante  casa comercial. a Ultramarina. Tem formação superior universitária em economia e gestão (Kiev e Lisboa). É gestor de projetos. Vive em Bissau. Fula, muçulmano, é casado com uma nalu, tem 4 filhos. É o assessor para as questões étnico-linguísticas da Guiné-Bissau. Entrou em março de 2018, como colaborador permanenente. Trata-se de uma mera formalização.


 
HÉLDER SOUSA, COLABORADOR PERMANENTE (PROVEDOR DA TABANCA GRANDE)

Ribatejano, de nascimento (Vale da Pinta, Cartaxo) e formação (Vila Franca de Xira), português, cidadão do mundo. Fur mil tms TSF Nov 70 / Nov 72 na Guiné. Engenheiro Técnico electrotécnico. Consultor em segurança. Faz parte do Conselho Diretivo da Secção Regional Sul da Ordem dos Engenheiros Técnicos. Vive em Setúbal. É casado.





 
 HUMBERTO REIS, COLABORADOR PERMANENTE 
(O NOSSO CARTÓGRAFO-MOR)

O ex-fur mil  op esp/ranger, da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, junho 1969/março de 71) é o nosso primeiro e até agora único mecenas. Pagou do seu bolso todas as cartas militares da antiga Guiné Portuguesa - uma obra-prima da nossa cartografia militar de que nos orgulhamos! - e a sua digitalização na Rank Xerox. Profissionalmente é engenheiro técnico, especialista em sistemas de refrigeração. Está reformado. Mora em Alfragide, e é viúvo da grã-tabanqueira Teresa Reis (1947-2011).


 
JORGE CABRAL, COLABORADOR PERMANENTE (ÁREA DO APOIO E ACONSELHAMENTO JURÍDICOS)

Ex-alf mil art, Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71), é advogado e especialista em direito penal. Foi director do Instituto de Criminologia da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Está reformado. Vive em Lisboa. É popularmente conhecido na Tabanca Grande como o "alfero Cabral".




JOSÉ MARTINS, COLABORADOR PERMANENTE
(HISTÓRIA MILITAR E ARQUIVOS)

Nasceu em Leiria,  em 5/9/1946. Vive em Odivelas. Trabalhou como contabilista. Está reformado. Serviu como fur mil trms inf, CCAÇ 5, Gatos Pretos (Canjadude, junho de 1968/junho de 1970). Interessa-se particularmente pela história e memória dos antigos combatentes. É sócio da LC nº 80.393/Lisboa. Um dos seus avós foi combatente na I Grande Guerra.


 
MÁRIO BEJA SANTOS, COLABORADOR PERMANENTE (CRÍTICA LITERÁRIA)

Assessor, aposentado, da Direção Geral do Consumidor, reputado especialista de direito do consumidor, a nível nacional e internacional, foi alf mil, cmdt Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70); é autor de dezenas de títulos, incluindo, os mais recentes, sobre a experiência de guerra na Guiné, a história e a cultura da Guiné, a bibliografia da guerra colonial. Entrou em março de 2018, como colaborador permanenente. Trata-se de uma mera formalização.


 
TORCATO MENDONÇA, COLABORADOR 
PERMANENTE (QUESTÕES OPERACIONAIS)

Com dupla costela alentejana e algarvia, escolheu o Fundão para viver, trabalhar e constituir família. Foi autarca, membro da assembleia municipal do Fundão. Ex-alf mil art, pertenceu aos Viriatos, a CART 2339 (1968/69) que construiu de raíz, a pá e pica (e defendeu com unhas e dentes) o aquartelamento de Mansambo, no sector L1 (Bambadinca). Participou em grandes operações como a Lança Afiada (março 1969).


COMISSÃO ORGANIZADORA DO ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE: 

Carlos Vinhal (coordenador)
Joaquim Mexia Alves (logística / reserva de quartos)
Luís Graça (edição)
Miguel Pessoa (execução e envio de crachás para identificação dos participantes)

Fizemos o 1º encontro na Ameira, Montemor-o-Novo (2006); o 2º em Pombal (2007); o 3º (2008) e o 4º (2009) na Ortigosa, antiga freguesia da Ortigosa, Leiria; e os restantes em Monte Real, Leiria (desde 2010 até 2017).

O Joaquim Mexia Alves, ex-alf mil op esp /ranger, CART 3492/BART 3873 (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, desde 2008 que organiza os nossos Encontros Nacionais, sendo que desde 2010 o local escolhido tem sido  o Palace Hotel de Monte Real, cuja história é indissociável da sua própria família.


O outro elemento (histórico) da comissão organizadora é o cor pilav ref Miguel Pessoa, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, o primeiro dos pilotos da FAP a ser atingido por um Strela (em 25/3/1973).
O Joaquim Mexia Alves é o régulo da Tabanca Grande e o Miguel Pessoa é o editor da revista (digital) Karas de Monte Real.
É casado com a nossa grã-tabanqueira Giselda Pessoa, ex-enfermeira paraquedista.

L.G.
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Guiné 61/74 - P18407: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (26): Os "animais, nossos amigos"...


Foto nº 1 > A mascote do pessoal, o "Pifas", um macaco-cão... acorrentado


 Foto nº 2 > "Selvajaria", escreveu o fotógrafo... posando para a fotografia com o "Pifas", de rabo para o ar...


Foto nº 3 >  Pequeno macaco-cão, que fazia parte dos "amigos"...


Foto nº 4 > Sem legenda...


Foto nº 5 > Sem legenda...


Foto nº 6> Sem legenda...

Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 (1972/74) > 1973 > Macaco(s)...


Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mais fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, comandante do Pel Caç Nat 52 (Stor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)


Lisboeta, tem raízes na Lourinhã, pelo lado materno. Durante a sua comissão no CTIG foi sempre um apaixonado pela fotografia... Fotografou quase tudo... até o pobre do macaco-cão, a quem o pessoal da CCAÇ 4740 chamava o "Pifas" , certamente por analogia com a mascote do Programa (radiofónico) das Forças Armadas...

Naquela época, havia, nos nossos aquartelamentos e destacamentos, macacos-cães (babuínos) em cativeiro, que serviam de mascote ao pessoal metropolitano (Mascote, segundo o dicionário Priberam é um "amuleto cuja figura dá felicidade, segundo a crença popular")...

O pobre do macaco-cão, se chegasse ao fim da comissão, passava de companhia para companhia... Nalguns casos, mais cruéis, acabava guisado no tacho ou assado no espeto...(*). Noutros casos, não menos cruéis,  o pobre do babuíno até conseguia chegar a aldeias e vilas recônditas da nossa pacata terra, trazido, às escondidas ou às claras, pelos primeiros soldados que foram mobilizados para o ultramar (, há babuínos em toda a África, embora os Angola e Moçambique sejam de uma espécie diferente dos da Guiné)...

Na época não se falava ainda de (nem as pessoas se preocupavam com) os "direitos dos animais". Nem havia sequer partidos (políticos) dos animais... Muito menos havia partidos,  a favor das pessoas, quanto mais dos animais...

Conhecendo o Luís Mourato Oliveira, como eu o conheço, um pessoa de grande sensibilidade socioecológica (**), ele por certo nunca tiraria hoje uma foto como a  nº 2 (vd. foto acima)... Não é por acaso que ele próprio a rotulou de "selvajaria"... quarenta e tal anos depois. (***)

António Rosinha
2. O macaco-cão ou "babuíno da Guiné" (papio-papio, segundo a designação científica) habita na África Ocidental, nas savanas e florestas secas da Guiné, Guiné-Bissau, Gâmbia, Senegal, Mali e Mauritânia. 

É uma espécie considerada "Quase Ameaçada" (sigla "NT -Near Threatened", da Lista Vermelha da IUCN, a União Internacional para a Conservação da Natureza). A categoria  NT precede  as categorias criticamente em perigo, em perigo ou vulnerável...

Atualmente, devido à desflorestação, à agricultura extensiva, à pressão demográfica, à caça e ao comércio ilegal, o macaco-cão está perto de se enquadrar (ou será enquadrado num futuro próximo) nas categorias seguintes da escala, que vai de "Não ameaçado" a "Extinto"... Há 30 anos atrás, o macaco-cão era considerado como "não ameaçado"...Nesse espaço de tempo, os seus efetivos poderão ter sido reduzidos de 20% a 25%. Muitos de nós chegámos a ver bandos de 100 a 200 indivíduos: eram tratados como "nossos amigos", avisando-nos da proximidade (ou não) da presença do IN...

Recorde-se o que aqui escreveu António Rosinha (,um "tuga", privilegiado observador dos primeiros anos da independência da Guiné-Bissau,) sobre o macaco-cão quando este passou a ir à "mesa do rei":

(...) O Com, não o 'avec', mas o macaco, macaco-kom, foi a "ração de combate", por excelência e por necessidade, dos Combatentes da Liberdade da Pátria, pois que,  havendo já alguma tradição no consumo desse 'petisco', tornou-se como que prato nacional. Nos primeiros anos de independência, era vulgar ver alguém, caminhando ao longo dos caminhos com um animal amarrado a um pau ao ombro e uma Kalash na mão. O povo compreendia este consumo com a maior naturalidade.(...)
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Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 17 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16730: Inquérito 'on line': Num total de 110 respondentes, apenas 16% disse que provou (e gostou de) carne de macaco-cão... Pelo lado dos "tugas", o "sancu" está safo... Agora é preciso que os nossos amigos guineenses façam o seu trabalho de casa...

(**) Vd. poste de  17 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17677: Fotos à procura de...uma legenda (88): "Pietá"... O fotógrafo indiano, Avinash Lodhi, captou o desespero de uma fêmea de macaco Rhesus que abraça a cria inanimada (Luís Mourato Oliveira)

(***) Último poste da série > 13 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18315: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (25): o fotógrafo e as suas "máscaras"