quarta-feira, 15 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16202: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (16): "The last but the least", o último mas não o menor dos poetas desta primeira antologia da poesia guineense... Luís Sales de Oliveira (pp. 34/35), natural de Mondim de Basto, encerra com chave de ouro este livrinho que reuniu 24 poemas de 11 poetas, 4 da Guiné-Bissau, 3 de Cabo Verde e 4 de Portugal...



Tavira > CISMI > Igreja de São Francisco > Grupo coral do CISMI > c. 1972 >  "Não foi assim tão mau [, o CISMI,] e na verdade até se tornou agradável pertencer ao dito coro. Só lamento de não me lembrar dos nomes da malta, talvez com exceção de um guitarrista de farto bigode, que acho se chamava Jales. Poderá ser que apareça algum nosso Tertuliano que se lembre desta foto" .(*)

O Henrique Cerqueira é o da terceira fila de óculos escuros, assinalado a vermelho... O guitarrista Jales [, Luís Jales, assinalado a amarelo ], com aquela guedelha e bigode (!), de repente pareceu-nos mesmo um sósia do Paul McCartney, um dos Beatles... (LG)

Foto © Henrique Cerqueira (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luísn Graça % Camaradas da Guiné]]








O Luís Manuel Jales de Oliveira, mais conhecido por "Ginho", em Mondim de Basto, sua terra natal, por onde corre o Tâmega, o seu "rio sagrado" e a sua "fonte de inspiração"... No dia do lançamento [, 28 de maio último,] do seu último livro "Mondim de Basto" (edição de autor, 2016), rodeado de duas fãs, nada mais nada menos do que as suas duas filhas. Margarida e Ana Luisa...

O "Ginho", surpresa das surpresas, é o poeta Jales de Oliveira,  "estudante, natural do Porto", que encerra com chave de ouro o 1º (e único) número, o "Poilão"" da coleção "caderno de poesias", . editado por iniciativa do Grupo Desportivo e Cultural (GDC) dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (BNU), em Bissau, a escassos meses do "fim do império"...


Foto; Cortesia do autor cuja página no Facebook viemos a descobrir (e, com ela,  o paradeiro do poeta do Tâmega... e do Cacine!)...





Detalhe da capa da brochura Caderno de Poesias "Poilão", edição limitada a cerca de 700 exemplares, policopiados, distribuídos em dezembro de 1973 e fevereiro de 1974, em Bissau. (*)







Indice da antologia que reuniu  24 poemas de 11 poetas (4 guineenses,  3 caboverdianos e 4 metropolitanos, neste último caso militares em serviço no TO da Guiné, em 1973-74).  

Os guineenses são: Pascoal d' Artagnan,  Atanásio Miranda, Tavares Moreira, António Baticã Ferreira. Nascidos em Cabo Verde temos Mário Lima,  Manuel Ribeiro  e Eunice Borges... Os de Portugal: Albano de Matos,  Valdemar Rocha, Armando Lopes e Jales de Oliveira.


E considerada pelos estudiosos da literatura dos países lusófonos,  a primeira antologia da poesia guineense. Trata-se de uma  edição rara,  dada a sua reduzida tiragem na época, e o facto de a pequena brochura ter sido policopiada a stencil.

É da mais elementar justiça recordar, mais uma vez aqui, que esta pequena aventura editorial só foi possível graças à cooperação e boa vontade de um civil e de um militar, que viviam em finais de 1973 e princípios de 1974 em Bissau:


(i) o Aguinaldo de Almeida, caboverdiano, funcionário do BNU, infelizmente já falecido; era o coordenador da secção cultural do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do BNU - Banco Nacional Ultramarino, Bissau [, foto à esquerda];

e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; tenente art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74; "último soldado do império". natural de Castelo Branco, vive hoje no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo)   [foto à direita].

O Aguinaldo de Almeida foi colega e amigo do nosso António Medina [ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau, de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA].

O poeta que publicamos hoje. o último da antologia (**), mas não o menos importante, é o nosso grande tabanqueiro, Luís Jales de Oliveira, que se senta à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande desde 21/1/2008 (!) (**),... e em 9/10/2014 dei-nos notícias de um extenso comentário ao poste P12784 (*) em que vem confirmar que o "beatle" do coro do CISMI era mesmo ele... Lu´+is Jales, como era conhecido na tropa, transmontano dos quatro costados, e não açoriano (, como pensava o Henrique Cerqueira).

O [Luís] Jales de Oliveira era fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74), companhia africana. Diosse-nos ele que "na Ccaç 20 servi às ordens do Tenente Tomás Camará, dos comandos, que foi ferido em combate e, depois, às ordens do Capitão Sisseco, também dos comandos, que o veio substituir", já não tendo conhecido o Saiegh, que, suponho, terá sido nomeado já depois de eu deixar a Companhia".

Continua a escrever e a publicar. Dentro em breve voltaremos a dar notícias dele e  dos seus livros.








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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 1 de março de  2014 >  Guiné 63/74 - P12784: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (18): Tavira, o CISMI e o meu "santo sacrifício da missa dominical"... Fazia parte do coro [da Igreja de São Francisco] para ter direito a uns "desenfianços" (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74)


(**) Vd. postes anteriores da série (que começou a publicar-se em 23/9/2014):

13 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12974: Memórias dos últimos soldados do império (1): “Bate estradas” histórico, escrito à minha filha em 1973, e uma redacção da minha neta, vinte anos depois (Albano Mendes de Matos)

13 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12975: Memórias dos últimos soldados do império (2): A aventura do "Caderno de Poesia Poilão", de que se fizeram 700 exemplares, a stencil, em fevereiro de 1974, em edição do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do BNU (Albano Mendes de Matos)

23 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13641: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (1): Pássaro tecelão, de Albano de Matos, p. 5
25 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13647: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (2): "Párti um peso" e "Canção de Mamã Negra", de Albano de Matos, pp. 6/7

27 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13657: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (3): "Mãos", "Balantão" e "Cachimbêro", três poemas do poeta maior desta antologia, natural de Farim, Pascoal d' Artagnan [Aurigema] (1938-1991), pp. 9/11

3 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13683: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (4): "Vem à minha tabanca" e "Música que foi cantada", dois poemas de Atanásio Miranda, guineense, à época funcionário das alfândegas, pp. 12/14

7 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13703: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (5): dois poemas do caboverdiano Mário Lima, "Retrato de Maria Caela" e "Menina Santomense"....Quem teria sido essa mulher fatal, caboverdiana, Maria Caela, que um dia saltou no cais do Pidjiguiti ?

9 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13713: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (6): Homenagem a Mário Lima e Aguinaldo de Almeida, já falecidos, meus colegas do BNU, em Bissau (António Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, vive hoje nos EUA)

20 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13771: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (7): Quem seria a Maria Caela, cuja ascensão e queda o poeta Mário Lima cantou ? (António Medina / Amadeu Lopes da Silva)

24 de outubro de DE 2014 > Guiné 63/74 - P13796: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (8): Respondo a algumas perguntas: (i) o poeta Pascoal D' Artagnan, que era filho de mãe balanta e pai italiano; e (ii) o 'making of' do livrinho (Parte I)

25 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13798: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (9): o 'making of' do livrinho (Parte II)


15 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16092: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (13): três poemas de Valdemar Rocha, militar de transmissões em Santa Luzia, premiado nos Jogos Florais da UDIB (1972)

terça-feira, 14 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16201: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte III: Canchungo e o amor em tempo de guerra




Foto nº 14 > Maio de 1973 > Casa  de tipo colonial, situada na avenida. Em primeiro plano, a Maria Helena Gamelas



Foto nº 16 > Habitação nativa típica,  na tabanca de Cachungo, março de 1983


Foto n º  12  > Janeiro de 1972 > Edifício do ciclo preparatório do ensino secundário e casa do director (à esquerda),  Foi nesta casa que nos instalámos. A Maria Helena Gamelas foi a professora de português no lano lectivo de  1972/73. Em frente, do outro lado da ruam ficavam as camaratas dos sodlados da 35ª CCmds.






Foto nº  8 > Embondeiro (ou cabaceira)



Foto nº 9 > Bolanha



Foto nº 10  > Cais acostável

Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Janeiro 72 / maio de 1973


Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Ediçõa: LG]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas (*), ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73) e novo membro da nossa Tabanca Grande [, foto à direita, em Capó, janeiro de 1972) (**).

Francisco Gamelas:

(i) é engenheiro eletrotécnico de formação;

(ii) foi quadro superior da PT Inovação, estando hoje reformado;

(iii) vive em Aveiro;

e (iv) acaba de publicar "Outro olhar - Guiné 1971-1973. Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust. P.reço de capa 12,50 €. 


No seu livro, a pp. 16 e ss., pode encontrar-se  mais imformação sobre a vila (e depois cidade) de Teixeira Pinto daqueles tempos, de 1971/73:

[Vd. fotos 10, 12 e 14].(Gamelas, 2016, pp. 18-120). [Respeitámos a opção do autor que escreve de acordo com a "antiga ortografia". Reprodução de excerto, por cortesia do autor.]


(…) A cidade tinha um posto médico  aberto à população local, suportado médicos milicianos militares, um posto de correios e telefones, logo à saída do quartel, do lado leste, um ciclo preparatório do ensino secundário, apenas com uma sala de aulas, anexa à casa do diretor escolar, cujo edifício  se situava em frente das camaratas dos comandos [, 35ª CCmds,] na primeira saída da avenida para oeste.(…) Havia também um lavadouro público, o edifício da Assembleia do Povo, onde os chefes tribais da região se reuniam regularmente, uma cas de espectáculos onde se projetactavam filmes de vez em quando e se reaalizava um ou outro espectáulo musical, com artistas europeus, ambos gratuitos e abertos à comunidade local (…)

(…)  A cidade tinha distribuição de energia elétrica e água canalizada, ploe mnos no quartel e ao longo da avenida. Anexa ao quartel, ainda que no exterior, oara oeste, existia uma pequena pista de aterragem parta pequenas aeronaves e ehelicópteros. Um caminho em terra batida ligava o quartel à bolanha. No seu terminus, um maciço em cimento  delimitava um cais de acostagem para pequenas embarcações, em princípio  militares” (…)


2. Capa (abaixo, do lado direito,) do livro de Francisco Gamelas ("Outro olhar - Guiné 1971-1973. Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust. P.reço de capa 12,50 €. Os interessados pode encomendá-lo ao autor através do seu email pessoal franciscogamelas@sapo.pt.

O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.

O livro, feito de pequenas crónicas e poemas, e profusamente ilustrado com as fotos do álbum da Guiné, é dedicado "à memória de Maria Helena" e às as "nossas filhas Sara Manuel e Maria João e os nossos netos  Sara, Francisco José e João Gil". 

Sobre a sua primeira esposa, Maria Helena, já falecida, e sua companheira da aventura guineense, o Francisco escreveu um belíssimo poema "Amor em tempo de guerra" (pp. 99/101), de que reproduzimos um excerto:

(...) “Mesmo assim, amor, decidimos casar
e começar a nossa vida em comum
neste reino de guerra sempre latente
aproveitando os intervalos
de alguma normalidade
para nos inventarmos
como casal.
Éramos jovens.
Sentíamo-nos imortais
apesar da evidência em contrário.(...)

(...) Foi aqui, no Canchungo,
e nestas condições que aceitámos,
que o nosso amor floriu,
que nos fomos aprendendo
na partilha permanente,
nas cumplicidades do presente
e nela germinou a semente
que foi crescendo
no teu ventre,
sangue do nosso sangue,
carne da nossa carne,
até nos acrescentar
em forma de rebento
a quem demos o nome de Sara
Então,

Guiné 63/74 - P16200: Convívios (754): Almoço do mês de Junho do pessoal da Tabanca dos Melros, realizado no passado dia 11, na Quinta dos Choupos, Fânzeres - Gondomar (Carlos Silva / Carlos Vinhal)

Quinta dos Choupos - Choupal dos Melros
Ponto de encontro da Tabanca dos Melros


1. Como é habitual no segundo sábado de cada mês, a tertúlia da Tabanca dos Melros reuniu-se no passado dia 11, à volta da mesa, no Choupal dos Melros.

Como sempre, a malta é muito bem recebida, em ambiente rural muito bem preservado, pelo anfitrião Gil Moutinho, também ele camarada combatente, que sobrevoou vezes sem conta os céus da Guiné.

Desta feita o dispositivo estava instalado no pátio interior que preserva todo o ambiente rural, ornado com diversas máquinas e utensílios agrícolas.

Reparem só neste recanto com tanta história

O nosso anfitrião lá mais ao fundo

O repasto iniciou-se com umas apetitosas entradas onde não faltou até uma feijoada com este óptimo aspecto.

Iniciadas as hostilidades, o nosso amigo e camarada David Guimarães passa ao ataque.

A ementa, sempre uma surpresa, desta vez constou de sardinha assada, ou não estivéssemos na época dos santos populares, e de fêveras grelhadas, complementado com o caldo verde da ordem.

Para fim de festa foi servida a sobremesa composta por fruta fresca e deliciosa doçaria, onde pontuava um delicioso creme queimado da preferência deste vosso editor.
Um cafezinho e um digestivo remataram mais esta jornada gastronómica.

Um aspecto da mesa. Em primeiro plano, à esquerda a Germana, esposa do Carlos Silva; a Dina Vinhal e a Rosa, esposa do Barbosa. Do lado direito a Marília, esposa do nosso camarada Angelino Santos Silva

Sempre atento, o nosso amigo Paulo, de pé, que já faz parte da família dos Melros.

Como quando a hora de comer é para todos, até estas pequenas andorinhas são alimentadas pelos pais.

Este mês esteve presente o Carlos Silva, um dos fundadores desta Tabanca dos Melros, que se deslocou expressamente de Lisboa, à sua terra Natal, Gondomar, para participar neste convívio.
São dele as fotos que se publicam.


Em Julho há mais, apontem no calendário o dia 9 e venham almoçar, talvez debaixo desta frondosa ramada. Não precisam ser "Melros", são bem-vindos todos os camaradas.

Fotos: © Carlos Silva
Texto e legendagem das fotos de Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16184: Convívios (753): XII Encontro do pessoal da CART 1742 ("Os Panteras"), realizado no passado dia 28 de Maio, em Creixomil - Guimarães (Abel Santos)

Guiné 63/74 - P16199: Parabéns a você (1095): Francisco Silva, ex-Alf Mil Art da CART 3492 e Pel Caç Nat 51 (Guiné, 1971/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16185: Parabéns a você (1094): Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador do BART 2913 (Guiné, 1967/69)

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16198: Álbum fotográfico do José Salvado, ex-fur mil, CART 1744 (São Domingos, 1967/69) - Parte V: São Domingos (4): pista de aviação e quartel, um "forte do faroeste"


Foto nº 1  > Vista aérea; pista de aviação de S. Domingos (1) e quartel


Foto nº 2  > Vista  aérea: pista de aviação de S. Domingos (2)  e instalações do pessoal, praças e de sete graduados


Foto nº 3 > Pista de aviação de S. Domingos e uma aeronave (DO 27)


Foto nº 4 > Um T6 sobrevoando S. Domingos


Foto nº 5 > Grupo gerador e depósito de água sob o qual se encontrava o paiol


Foto nº 6 > Visão panorâmico das paliçadas e abrigos, dando ao quartel um aspeto de "forte do faroeste"


Foto nº 7 > Tabanca ao fundo e instalações do quartel em primeiro plano e no lado direito


Foto nº 8 > Trator usado no  transporte de troncos de cibe com que se faziam as paliçadas e os abrigos

Guiné > Região do Cacheu > S. Domingos > CART 1744 (1967/69)

Fotos (e legendas): © José Salvado (2016). Todos os direitos reservados


1. Quinta parte do álbum fotográfico do José Salvado, ex-fur mil arm pes inf, CART 1744 (S. Domingos, 1967/69).

A CART 1744 chegou ao TO da Guiné em 25 de julho de 1967, sendo colocada em S. Domingos, na região do Cacheu, como companhia de intervenção. Fez operações em S. Domingos, Susana, Ingoré, Cacheu e Sedengal.  Regressou à metrópole  no T/T Niassa, com partida a 15 de maio de 1969, e desembarque em Lisboa no dia 21.

São Domingos, na margem direita do Rio de S. Domingos, afluente do Rio Cacheu, era a capital do chão felupe, que incluía ainda as povoações de Susana e Varela. onde estiveram destacados militares portugueses ao longo da guerra (1961/74).
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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16145: Álbum fotográfico do José Salvado, ex-fur mil, CART 1744 (São Domingos, 1967/69) - Parte IV: São Domingos (3): a capital do chão felupe

Guiné 63/74 - P16197: Tabanca Grande (489): José Manuel Alves, ex-Fur Mil Inf das CCAÇ 2790 e CCAÇ 16 (Bula e Bachile, 1971/73) - 719.º Grã-Tabanqueiro -

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo tertuliano, José Manuel Alves, ex-Fur Mil Inf das CCAÇ 2790 e CCAÇ 16 (Bula e Bachile, 1971/73), com data de 23 de Abril de 2016, onde manifesta a sua vontade de se alistar na nossa tertúlia, e poder usufruir da sombra e do convívio debaixo do nosso poilão.

Amigo Luís Graça
Como antigo combatente na Guiné, tive o grato prazer de pela primeira vez ter participado no Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) no XI Encontro Nacional da Tabanca Grande em 16 de abril de 2016.

O meu percurso militar é igual ao de tantos outros que foram meus contemporâneos.
Comecei pelas Caldas da Rainha no 2.º Turno de 1970, onde fiz a recruta, seguindo-se Tavira onde frequentei o Curso de Sargentos Milicianos.
Passei ainda por Vila Real e pelo CEMEFED em Mafra, onde fui mobilizado como Furriel Miliciano.

Fiz a viagem para a Guiné a bordo do NIASSA, onde cheguei nos primeiros dias de Abril de 1971, com destino à CCAÇ 2790 que pertencia ao Batalhão de BULA, e fui destacado para a zona de Augusto de Barros, onde se encontravam dois pelotões e o comando da Companhia (Capitão Sucena).

Fui em rendição individual em substituição de um camarada morto numa emboscada na estrada que ligava Bula a S.Vicente.

A Companhia havia sido formada em Ponta Delgada (Açores) e quando cheguei à Guiné já esta tinha seis ou sete meses de permanência no território.
Quando a Companhia terminou a comissão, por volta de Setembro de 1972, fui fazer um curso de cerca de um mês a Bolama para integrar as designadas Companhias Africanas.

Fui integrado na CCaç 16 que se encontrava sediada no Bachile, zona pertencente a Teixeira Pinto. Aí permaneci até Janeiro de 1973, altura em que terminei a comissão de serviço e regressei ao Continente.

De regresso, voltei ao meu lugar de aspirante de Finanças na minha terra Natal Miranda do Douro, e fiz toda a minha carreira nos Impostos, tendo passado por diversos locais, até que em 2003 me aposentei quando era Chefe de Finanças da Repartição da Mina-Amadora.

Actualmente resido em Meleças, um pequeno lugar perto de Sintra.
Os meus tempos livres são passados entre uma pequena aldeia do concelho de Miranda do Douro - Especiosa, naturalidade da minha esposa, pelo Carvoeiro, no Algarve, e aqui em Meleças.

Como pretendo fazer parte do grupo envio as duas fotos - uma em Bula e a actual algures no Douro.

Um abraço fraterno
José Manuel Alves

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2. Comentário do editor

Para começar, a estafada desculpa pela demora na tua apresentação formal à tertúlia, de que tu já conhecerás parte, uma vez que estiveste connosco este ano em Monte Real, segundo os meus arquivos, na mesa 14, devidamente acompanhado pela tua esposa. Espero que se tenham sentido entre amigos e que para o ano voltem.

Entretanto poderás contar-nos as memórias que ainda retenhas da tua passagem pelas CCAÇ 2790 (Bula) e CCAÇ 16 (Teixeira Pinto). Também aceitamos fotos acompanhadas das respectivas legendas.

Como só temos 45 entradas sobre a CCAÇ 2790 e 24 sobre a CCAÇ 16, poderás acrescentar ainda muito ao espólio destas Unidades.

Já agora que falei de fotografias, na próxima remessa por favor envia-as com mais resolução, as que mandaste mal deram para fazer as fotos tipo passe. Basta regulares o scanner para 200dpi. Se precisares de algum esclarecimento é só dizeres.

Posto isto, espero que te sintas bem entre nós já que aqui será o último reduto onde podemos contar e recontar aquilo que já ninguém quer ouvir. Estamos cá para isso mesmo, "ouvir" e registar para memória futura.

Recebe um abraço da tertúlia e dos editores, que ficam ao teu inteiro dispor.
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16108: Tabanca Grande (488): Conceição Alves, esposa do nosso camarada José Eduardo Alves, recentemente falecido, benemérita em favor das crianças de Mampatá/Guiné-Bissau, onde já se deslocou mais que uma vez desde 2009, nossa nova Amiga Grã-Tabanqueira de Leça da Palmeira

Guiné 63/74 - P16196: Nota de leitura (847): “Bolama, a saudosa…”, autoria e edição de António Júlio Estácio (1) (Mário Beja Santos)


Capa do livro "Bolama, a saudosa..."
do nosso grã-tabanqueiro António Estácio, edição de autor, 2016. 


Recorde-se que o autor, António [Júlio Emerenciano] Estácio, (i) é lusoguineense, nado e criado no chão de Papel, em Bissau, em 1947; formou-se como  engenheiro técnico agrário (Coimbra, 1964-1967, Escola de Regentes Agrícolas, onde foi condiscípulo do Paulo Santiago): (iii)  fez a tropa (e a guerra) em Angola, como alferes miliciano (1970/72); (iv) trabalhou  depois em Macau (de 1972 a 1998); (v) vive há quase duas décadas em Portugal, no concelho de Sintra;  (vi) é membro da nossa Tabanca Grande desde maio de 2010;  (viii) tem-se dedicado à escrita, dois dos seus livros mais recentes narram as histórias de vida de duas "Mulheres Grandes" da Guiné, a cabo-verdiana Nha Carlota (1889-1970) e a guineense Nha Bijagó (1871-1959).


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
Durante um largo período encontrei-me regularmente com o confrade António Estácio na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa. Viu-o adoecido e acabrunhado, depois arrebitou, trocávamos algumas trivialidades, falei-lhe do que estava a escrever e ele era sempre parcimonioso: "Ando à volta com as coisas de Bolama".
É preciso ler este seu trabalho, para entender o que ele escreve em jeito de despedida: "Foi o que consegui escrever sobre Bolama, a velha e saudosa capital da Guiné Portuguesa, cuja memória é a que mais me tocou ao longo da minha vida".
É um livro de investigação, mas é um encontro com a própria história do indivíduo. Em Bolama viveu Fernanda de Castro, a mesma Bolama que enfeitiçou Maria Archer, aqui residiu o grande vulto cultural guineense da transição do século, Padre Marcelino Marques de Barros. Quando a visitei, em Novembro de 1991, fiquei preparado para as emoções que António Estácio aqui transmite, vendo em placas esmaltadas estranhamente intocadas, o nome das ruas Teófilo Braga, Manuel Arriaga, visitei as entranhas da Imprensa Nacional, uma jóia da arqueologia tipográfica.
Ver para sentir.

Um abraço do
Mário

Bolama, um indefectível amor do António Estácio (1)

por Beja Santos

O livro intitula-se “Bolama, a saudosa…”, é seu autor o nosso confrade António Júlio Emerenciano Estácio, que também edita. Obra de estudo mas essencialmente uma memória afetuosa urdida com esplêndidas recordações. Tudo começa com apontamentos avulsos sobre a chegada dos portugueses a uma região que durante séculos teve as mais desvairadas designações, fala-se num presidente norte-americano que arbitrou a questão de Bolama, em Abril de 1870, e que deu legitimidade à presença portuguesa em detrimento da britânica, salta-se para a Companhia do Grão-Pará e Maranhão, há referências a uma conferência proferida pelo Conde de Ávila e Bolama em Maio de 1946 subordinada à ilha de Bolama, na Sociedade de Geografia de Lisboa, agora Bolama é a capital da colónia, segundo reza uma notícia publicada em “Occidente”, em Março de 1879, informa-se que a ilha tem de comprimento oito milhas, uma população de cerca de 3800 habitantes. “É dotada das mais favoráveis condições para a cultura do café e de todos os produtos de climas tropicais, consistindo hoje a sua riqueza especial em grandes matas virgens para a construção”. Em rigor, não sabe a origem do seu nome. O município foi criado em 1871, apresentam-se estampas alusivas, menciona-se o Centro de Saúde de Bolama e passamos para a série de motins e rebeliões que atravessam a segunda metade do século XIX, para já não falar de tudo quanto aconteceu na primeira metade desse século e que o historiador René Pélissier descreve meticulosamente.

António Estácio é imparável a carrear elementos, não nos dá descanso, é a liga guineense, as operações militares que envolveram o Capitão Teixeira Pinto que entrará em rota de colisão com negociantes e civis de Bissau e Bolama. E subitamente António Estácio põe as suas recordações na primeira pessoa: “… em conversa com o meu conterrâneo e saudoso amigo José Francisco Xavier Castro Fernandes, o Zeca, veio à baila a cidade de Bolama, que é banhada pelo rio Grande, onde convivemos na década de 50, a qual, após animada comunhão, voltámos a recordá-la, tenho constatado, no misto de surpresa e pesar, que, para além da voragem dos anos, a conseguíamos percorrer com um fim identificativo.
Assim, em vez de sermos capazes de identificar qualquer ponto da malha urbana mais determinante que, na nossa santa inocência, referenciávamos como, por exemplo, à Rua do Cinema, ao Largo da Imprensa, dos Correios ou do Mercado, à Rua da Igreja, à Casa Gouveia, ao Jardim do monumento aos italianos, sem receio algum de nos enganarmos”.

Registava a marca de água esta saudade, fala-nos de Honório Pereira Barreto e o seu tempo, a inauguração da estátua em Bissau, nessa praça, nos anos 1950, Tereza Fiori fazia sorvetes, cassatas e carapinhatas na dependência do Hotel Avenida. E cita o Comandante Avelino Teixeira da Mota a preitear Honório Pereira Barreto na Sociedade de Geografia de Lisboa, numa sucessão solene que ali decorreu em Maio de 1974: “… Falar de outros aspetos da ação de Honório Barreto na Guiné seria um nunca mais acabar. O que ele disse e o que ele fez sobre a intenção dos africanos, não esquecendo a obrigação dos filhos dos régulos, reclamando missionários, para os quais levantou novas igrejas, levando o problema comercial às esferas da metrópole, para que se promovesse a progressiva nacionalidade de tal atividade económica e conseguindo assim que duas casas de Portugal começassem a negociar com a Guiné quando até aí vinham do estrangeiro. Frequentemente, quando faltavam médicos, a tratar como podia e sabia dos doentes e fornecendo-lhes os medicamentos do seu bolso, pois muitas vezes as farmácias do Estado estavam vazias. Os seus cuidados com o arranjo, limpeza e urbanização das povoações. O seu interesse em difundir a agricultura. As muitas reformas que fez em setores da administração pública”.

Continuamos no século XIX, iremos acompanhar a prosperidade do Ilhéu do Rei, o crescimento de Bolama, já estamos na República, há uma clara referências aos estatutos do Centro Escolar Republicano, há o estatuto da Liga Guineense e novas alusões a Teixeira Pinto. Ficamos a saber quem foi António da Silva Gouveia e há uma referência a Jorge Frederico Velez Caroço, um dos mais distintos Governadores da Guiné (1921-1925), vemos a estreita relação entre a Guiné e a aviação. Há sobejas razões para deixar enaltecimento a Velez Caroço, à sua honradez, à sua capacidade de decisão, à sua intransigência com a verdade, o seu móbil pelo desenvolvimento.

Agora uma nota sobre a I Exposição Colonial Portuguesa, já largamente documentada no blogue. A Guiné teve uma importante representação. Basta pensar em Mamadu Sissé, Tenente de Segunda Linha, Régulo prestigiado. Segundo o jornal "O Século", no navio “Guiné”, vieram 63 indivíduos de ambos os sexos, das etnias Bijagós, Balantas e Fulas que se instalaram numa aldeia construída no Palácio de Cristal. Escreve o autor: “Foram apreciados por um grande surto da população, na estação de Santa Apolónia, onde a polícia instalou um cordão para que não pudessem ser incomodados. Partiram para o Porto”. É por esta data que Fausto Duarte é galardoado com o primeiro Prémio de Literatura Colonial com o seu romance “Auá”.

Temos a imprensa local, com destaque para “O Comércio da Guiné”, foi seu diretor Armando António Pereira, bolamense e advogado. Ali se registaram entrevistas, chegada de governadores, a notícia de que a rede urbana de abastecimento de luz estava para breve, fala-se da rebelião de 1931, associada à Revolta da Madeira. O Governador Leite de Magalhães foi o sucessor de Velez Caroço, teve uma ação importante mas não se pode comparar à do seu antecessor. António Estácio não perde a oportunidade para ajuntar detalhes considerados interessantes para os vindouros. Por exemplo a punição do professor Juvenal Cabral com a pena de 15 dias de suspensão e salário, seria irrelevante não se tratasse do pai de Amílcar Lopes Cabral. Estamos a chegar a uma data de enorme consternação, 19 de Dezembro de 1941, golpe terrível em que a capital é transferida para Bissau, no ano seguinte o BNU encerra a sua agência em Bolama. É o princípio do abandono e da desagregação. Lá voltaremos.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Junho de 2016 Guiné 63/74 - P16188: Nota de leitura (846): “Jornada de África”, por Manuel Alegre, versão de 2003, edição conjunta da Visão e Publicações Dom Quixote (Mário Beja Santos)

domingo, 12 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16195: Blogpoesia (452): "E, se de repente..." e "Minhas articulações...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. "E, se de repente..." e "Minhas articulações...", poemas do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66).


E, se de repente…

Nada fazia prever.
A mais tórrida canícula.
Muita vida morta
E tanta, quase a morrer.

Uma chuva grossa,
Esgaçando o céu,
Inundasse o chão,
Apagando o inferno?...

E se um moribundo,
Às portas da morte,
Saltar do catre,
Corre para a estrada
Anunciando ao mundo
Que jamais morre
E adora a vida?...

E, se o mar irado,
Um leão rugindo,
Cavando a cova
Ao barco que pesca,
Com uma fartura a bordo,
Sem tirte zuarte,
Como um cordeiro,
Se queda inerte?...

Só por acaso,
Clamará o louco.
Só por milagre,
Proclamará o crente.

Dois olhares diferentes
Para a mesma sorte.
Onde a verdade?…

Berlim, 11 de Junho de 2016
8h28m

Dia de sol

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

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Minhas articulações...

Entorpecidas, secaram minhas articulações todas.

Varre-me a mente uma letargia,
lânguida e morna.
Me deixo ir nela amorfo.
Quase adormeço e esqueço,
afinal, quem fui.

Toda a gente amada foi.
É o deserto sombrio e frio.
Nem um só cisco seco
de carvalho ou pinho.
É a aridez em força
que me força e esmaga.

Não consigo reagir.
Como folha morta eu vou
nesta corrente morta
que não me afoga.

Surjam raios do céu azul.
Desfaçam chuva em cataratas.
Reverdeça este chão sem chão.
Volte a terra húmida
onde as ervas nascem.

Quero ver outra vez flores
bailando ao vendo
e sorrindo ao sol.

Caia forte a vida em mim.
Me aqueça em fogo
estas articulações artríticas.
Quero voltar, de novo, às maratonas...

ouvindo Maria Betânia cantado "Sinhora Aparecida"... só Ela...

Berlim, 12 de Junho de 2016
11h27m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16167: Blogpoesia (451): "Cocciolo..." e "O talento...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16194: Agenda cultural (489): Os Melech Mechaya hoje em Serpa, à meia-noite, a encerrar o festival XIII Encontro de Culturas (9-12 de junho de 2016)... Celebra-se a cultura como factor de desenvolvimento e de união entre os povos. Entrada livre


O grupo musical Melech Mechaya a que pertence o nosso amigo, e membro da nossa Tabanca Grande,  João Graça, vai  atuar hoje na cidade de Serpa (*), no seu centro histórico, no Espaço Nora, à meia noite, no âmbito do festival XIII Encontro de Culturas (Serpa, 9-12 de junho de 2016). De iniciativa da Câmara Municipal de Serpa, alargado a uma rede de outros municípios  (incluindo estrangeiros), é já um  festival consolidado e de referência, tendo "como objetivo principal a promoção da cultura como fator de desenvolvimento e de união entre os povos!".

Entrada livre. Programa completo: ver aqui.  Vd. também página do Facebook. Serpa Terra Forte. (**)

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Notas do editor:

(*) E por se falar em Serpa,. cidade e concelho  do Baixo Alemtejo: recotde-se aqui os seus mortos  na "guerra do ultramar", foram 34, dos quais 6 no TO da Guiné

(**) Último poste da série >  24 de maio de 2016 >  Guiné 63/74 - P16129: Agenda cultural (481): Comemorações do Dia de África, dia 28 de Maio de 2016, na Livraria-Galeria Municipal Verney / Colecção Neves e Sousa, Oeiras

Guiné 63/74 - P16193: As minhas crónicas do tempo da Diamang, Lunda, Angola (1972-1974) (José Manuel Matos Dinis) - Parte IV: algumas estórias da "kamanga"

Quarta crónica enviada a  31 de maio último, com uma nota de 2 de junho:

Meus Caros:
Aquando do envio da parte III juntei um anexo com 4 fotografias. Se acharem bem, podem servir para ilustrar a parte que anteontem [31 de maio] vos dirigi, se a quiserem publicar, cujo tema incide sobre os clandestinos ["kamanga", tráfico ilegal de diamantes (*)]. Numa, vê-se uma ponte que idealizei e mandei construir para atravessar um canal. Na outra, vê-se de viés uma formatura em marcha da tropa privativa da CDA [Diamang].

Abraços,
JD

[Nota dos editores - Certamente por erro humano ou falha técnica,  o anexo com as 4 fotografias ainda não chegou à nossa caixa de correio. Aguardamos segunda via].

[Foto acima: o José Manuel Matos Dinis, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, nosso grã-tabanqueiro e adjunto do régulo da Magnífica Tabanca da Linha, Jorge Rosales,  depois do seu regresso a casa, a Cascais, em janeiro de 1972, vindo da Guiné, rumou até Angola, em maio de 1972, para ir viver e trabalhar na Lunda, na melhor empresa angolana na época, a famosa Diamang - Companhia de Diamantes de Angola, com sede no Lundo; aqui casou (por procuração), aqui viveu e trabalhou, aqui nasceu o seu primeiro filho: desafiado por nós  justamente a falar da sua experiência angolana em meia dúzia de crónicas memorialísticas,  aceitou galhardamente o desafio e está a cumprir o prometido.] (**)


1. As minhas crónicas do tempo da Diamang, Lunda, Angola (1972-1974) (José Manuel Matos Dinis) - Parte IV: algumas estórias da "kamanga"

Os diamantes são eternos, título de um filme da séria James Bond, refere-se a bens não registados, mas de alto valor transaccionável, dependendo apenas do peso em quilates do material a negociar, do sistema de cristalização, da pureza do cristal, brilho, e eventual coloração, sendo que uma pedra de vinte quilates, vale mais do que o conjunto de cinco que perfaçam o mesmo peso e características.

De serem tão desejados, a carestia acentua-se conforme o produto colocado em venda é de origem legal ou clandestino. Havendo, portanto, a possibilidade de obter diamantes com menor custo, e havendo mercado paralelo, é natural que algumas pessoas procurem o mercado paralelo (kamanga, em Angola) para satisfazerem os seus desejos pelo melhor preço.

Mas a kamanga também pode ver os diamantes canalizados e negociados pelo mercado oficial, com intenção de reduzir o mercado paralelo e desincentivar o negócio clandestino. Algumas pessoas negociaram no clandestino sem conhecer os diamantes, ou o processo de os levar aos lapidadores, os profissionais que lhes fazem várias arestas e faces com o objectivo de aumentarem os brilhos reflectidos.

Tive conhecimento de várias maneiras de intervir na kamanga. Por um lado, alguns nativos, já familiarizados com a extracção promovida pela CDA, dedicavam-se à mineração rudimentar, quer em zonas de colinas com desmonte de terras e cascalho, quer pela prospecção dos aluviões com recurso a redes e ao garimpo. Teriam sempre que agir com o maior cuidado, dadas as penas a que eram sujeitos todos os indivíduos apanhados na actividade não licenciada, que era exclusiva das companhias (até ao inicio dos anos 70 era exclusivo da Diamang, logo surgiu a Condiama).

Um dos primeiros casos de que ouvi falar, foi o de um ex-empregado da CDA, que teria sido aliciado por um cunhado "próspero" industrial de camionagem, que lhe teria dado quota na organização que dominava a coberto do negócio oficial. Um dia, o ex-empregado apareceu morto com um tiro dentro do "boca de sapo", em simulação de suicídio. Nada foi provado, mas constou-se que o "industrial kamanguista" ter-se-ia apercebido de que o cunhado já negociava por conta própria na área em que fora iniciado, e deu instruções para liquidação do traidor a quem dera sociedade. Esta "estória" faz lembrar alguma coisa de "cowboiadas" e máfias representadas no cinema. Quero apenas sublinhar que o "negócio" era a sério e sem tibiezas.

Outra "estória", agora com graça, referia-se a um sujeito que chegou a Malanje com pressa para enriquecer. Terá procurado alguém que o pudesse iniciar e ajudar na compra de diamantes clandestinos. Alguém bastante compreensivo alertou-o para o risco de fazer anunciar tal intenção, pelo que o aconselhava ao princípio da discrição como alma do negócio.

Conselheiro e comprador empatizaram e, pelos vistos, o comprador dispunha de uma quantia generosa que lhe permitiria a aquisição de um "contra-mundo", um daqueles calhaus que só estão ao alcance de árabes milionários, quando querem impressionar uma nova "maria". Pelos vistos também eram clientes clandestinos. O comprador, sempre muito bem assessorado pelo súbito vendedor, passados alguns dias, foi aconselhado a encontrar-se com o mais "consagrado" dos vendedores, um homem possuidor das melhores raridades, que teria um fabuloso diamante para venda, cujo preço se enquadrava com a disponibilidade anunciada.

No encontro, simulando grande surpresa, um "avaliador independente", formulou uma avaliação que excedia o capital do comprador, mas, mediante a sugestão da grande dificuldade da venda de tão rara gema pelo preço "justo", ainda que renitente, o vendedor acedeu a fazer o necessário e substancial desconto. Não terá sido fácil, mas com uns wiskies e outras "estórias" que reforçavam a confiança entre as partes, a cabeça de galheteiro com mais umas marteladas acabou por ser negociada, numa transacção de cujo desfecho hilariante, em breve terá corrido pelas esplanadas da cidade, gerando a maior inveja entre outros "reputados" vendedores.

Uma situação insólita e verdadeira ocorreu com um empregado da Companhia que profissionalmente não tinha contacto com diamantes. Tinha um "land-rover" distribuído para as actividades que exercia, e fazia-se acompanhar de uma arma. Em dias mais ou menos certos abatia uma pacaça e dirigia-se às aldeias com intuito de a vender para alimentação local. Dessa maneira ganhava algum dinheiro suplementar, e também ganhou a estima dos nativos.

Um dia, o "ajudante" recebeu ordem para carregar de novo a caça, porque o chefe da aldeia não tinha dinheiro para a pagar. Mas logo o chefe o chamou de lado, mostrou-lhe alguma coisa, e a contra-ordem foi dada, e a pacaça novamente descarregada. Dali para o futuro, terá afirmado o "negociante", os pagamentos passariam a ser feitos naquela "espécie". E assim foi. Este empregado tinha um Ford do inicio dos anos 70 e, clandestinamente, aos fins-de-semana deslocava-se a Luanda (mais de 2000 km de ida e volta) onde residia o sogro, que era incumbido de ir ao Brasil onde se fazia venda livre de diamantes. O esquema estava montado, e ele teve tanta sorte, que ficou incólume de um acidente provocado pelo sono. Depois do golpe, no regresso forçado ao "Puto", levou uma vida de causar inveja e até hoje não consta que tenha tido que trabalhar para viver.

Seguem-se duas "estórias" um bocado engenhosas que ocorreram no âmbito do trabalho nas estações de escolha. A primeira foi no MD-5 do Luxilo, e só foi descoberta por mero acaso de alguém que passava na outra margem do rio, e achou que junto a uma drenagem estava um tipo a correr risco de vida. As estações tinham em permanência equipas de auxiliares para diferentes tarefas, indivíduos que ali ficavam durante um mês, passando mais tarde durante quinze dias. O tal que corria risco, numa dessas permanências pediu licença ao chefe para fabricar um martelo no equipamento disponível no MD-5 (acho que o torno, onde se aplicava ao martelo um cabo em tubo de aço). E foi esse instrumento que o inculpou da ilegalidade, quando quem o auxiliava a safar-se da corrente do rio alcançou o martelo pendurado dentro do tubo de descarga de águas. De facto, esse trabalhador estava pouco confiante para sair com o martelo autorizado que teria o alegado fim de ser utilizado em obras em casa, e acabou por levantar justas suspeitas pelo arrojo de o ir resgatar em condições e num local inapropriado. O cabo soldado ao martelo e fechado na extremidade, afinal, tinha um conteúdo mais valioso que muitos martelos juntos.

A Estação Central de Escolha, em Andrada, era uma espécie de pequena fortaleza, com muros altos, talvez de dois metros, sem locais de apoio para os saltar para o exterior. Além disso, havia máquinas de filmar nos corredores das portas de saída. Não havia tecto, mas havia uma rede de malha mais ou menos larga e grossa para impedir qualquer forma de ultrapassar as paredes. Uma ocasião, constatou-se que no terreno capinado anexo à estação, havia um individuo à procura de alguma coisa, o que pareceu uma atitude estranha. Verificou-se tratar-se de um trabalhador que saíra de véspera, e procurava por pequenos diamantes envoltos em papel colorido, que havia projectado para o exterior através da malha da cobertura e com o recurso de uma fisga. A ingenuidade para a recolha, voltou a denunciar outro "habitante" das estações de escolha, locais onde se concentrava a produção multi-milionária.

Eu próprio, um dia, deparei com um belo diamante num canto de um degrau de uma tremonha de rejeitado, o que só podia ter acontecido por iniciativa de alguém que o desviara do circuito da Empresa. Nada disse, e também não quis saber quem tivera aquela iniciativa. Não que sentisse medo de consequências ou represálias, mas porque se a Companhia tinha tantos meios, também podia adquirir equipamento adequado para dissuadir a kamanga.

No meu tempo em Andrada ainda ocorreu outra coisa interessante. Por qualquer razão uma senhora casada com um empregado pediu ao filho para ir ao rio buscar um balde com areia. Por acaso, notou que a areia continha diamantes, pelo que a operação repetiu-se com alguma frequência. Por qualquer motivo foi detectada e descoberta, do que resultou ter sido imediatamente expulsa da área da CDA. Foi decidido reciclar aquele rejeitado da ECE na lavaria dos ensaios, e veio a constatar-se ter sido descoberto novo "corte rico" (designação dos cortes com elevados índices de teor do material explorado) e durante alguns dias a produção oscilou entre várias centenas e mais de milhar de quilates.

Desta maneira dediquei uma parte que não esgota as "estórias" sobre a kamanga, as mais recentes das quais estão plasmadas num livro infelizmente célebre da autoria de um oposicionista ao actual regime angolano: "Diamantes de Sangue, Corrupção e Tortura em Angola", de Rafael Marques, editora Tinta da China, Lisboa, 2011, 240 pp. [foto da capa à direita]. (***)

(Continua)
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Notas do editor:

(*) Vd. o nosso pequeno dicionário de "angolês" > 26 de junho de 2012 >  Guiné 63/74 - P10074: Em bom português nos entendemos (8): O angolês, termos angolanos que podem dar jeito integrar no nosso léxico (LuísGraça, com bué de jindandu para o Raul Feio e demais kambas kalus)

(**) Postes anteriores da série  >

6 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16055: As minhas crónicas do tempo da Diamang, Lunda, Angola (1972-1974) (José Manuel Matos Dinis) - Parte I: de Cascais até à Portugália / Dundo...

(...) Em Janeiro de 1972 tinha saído da tropa, dava passeios e namorava pelo litoral de Cascais, onde outros casais nos faziam concorrência. Os meus amigos estavam na vida militar, acabavam os cursos, ou já tinham iniciado actividades profissionais. Já não era como antes, quando a malta se reunia como seita para a paródia, ou para entusiásticas futeboladas. Namorava com envolvimentos familiares, e tinha a obrigação de procurar definição de vida. Não queria trabalhar debaixo de um tecto, e por isso, ficava excluída uma preparação profissional que tinha iniciado antes da tropa.(...)

12 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16080: As minhas crónicas do tempo da Diamang, Lunda, Angola (1972-1974) (José Manuel Matos Dinis) - Parte II: Um "estado dentro do estado"...

(...) Mas afinal, que negócio é esse dos diamantes? É um "fétiche", direi eu. De facto, os diamantes servem para muito pouca coisa, e os que servem, são os industriais, precisamente os de menor valor. Os outros, os que cintilam de brilhos e são usados como adornos, não prestam para nada. Mas valem muito dinheiro, são atributos de riqueza e de poder. Destas razões é que resulta o grande fascínio ou interesse pelos diamantes. (...)

25 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16131: As minhas crónicas do tempo da Diamang, Lunda, Angola (1972-1974) (José Manuel Matos Dinis) - Parte III: A vida na mina Munguanhe 2

(...) A mina de que me tornei responsável, e que já descrevi em pinceladas rápidas, era o Munguanhe-2, uma colina explorada sob o método clássico, com o desmonte de cascalho por padejamento, linhas para vagonetas que transportavam o cascalho para uma lavaria de "pans". Os meios mecânicos empregues eram escassos, e a rentabilidade ficava muito longe das minas mais rentáveis. Imagino que se mantinha este modelo de exploração, porque, apesar da escassa produção diamantífera, era mínimo o desperdício e não deixava de ser rentável. Agora não me ocorre o valor médio da produção diária, que talvez não excedesse os 20 quilates em pequenas gemas. (...)

(***) Sobre esta "mítica" empresa, a Diamang, ver ainda no nosso blogue as seguintes referências: