terça-feira, 27 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15297: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (26): De 29 de Janeiro a 26 de Fevereiro de 1974

1. Em mensagem do dia 25 de Outubro de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 26.ª página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

26 - De 29 de Janeiro a 26 de Fevereiro de 1974

Das minhas memórias: 

29 de Janeiro de 1974 – (terça-feira) - A morte do Jerónimo

Estávamos a almoçar quando nos chegou a triste mensagem: o Jerónimo sofrera um acidente em Bissau e morrera. Foi um choque para mim, porque tinha grande estima por ele e porque era soldado do meu grupo de combate. Era uma pessoa afável, sempre com um sorriso e sempre pronto para o que desse e visse. Nunca lhe ouvira uma queixa ou uma recusa, nunca protagonizou um incidente.

Não recordo o que o levou a Bissau mas tenho uma vaga ideia de que fora para obter a carta de condução. Morreu de acidente de viação. Tanto quanto recordo, foi por ter caído de uma viatura militar que transportava uma equipa que ia levar lixo para algures. Era um problema recorrente: ia-se a Bissau tratar de assuntos mais demorados e entrava-se logo numa escala de serviço qualquer.

O Jerónimo foi o único morto da nossa Companhia (a 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513). Era natural de Cruz-Atães, localidade do concelho de Guimarães, onde está sepultado.

Foto 1: Jerónimo de Freitas Martins, Soldado do 4.º GCOMB da 2.ª CCAÇ do BCAÇ 4513 
(Faleceu em 29-01-1974) 

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Fevereiro de 1974 iniciou-se com nova dança dos pelotões. Era necessário adequar as bases das tropas ao evoluir das obras da estrada Aldeia Formosa-Buba, que prosseguia a bom ritmo e cujas frentes de trabalho se encaminhavam ao encontro uma da outra.

A actividade da guerrilha deixava vestígios um pouco por todo o lado, mas apenas concretizou dois ataques às nossas tropas logo no início do mês, nos dias 2 e 6. Das minhas escassas notas desse período, ressalta uma referência ao ataque que sofreu o pessoal da CART 6250 de Mampatá. É uma nota breve de 09-02-74: “Há umas noites, pessoal de Mampatá foi atacado no mato por grupo inimigo. E Nhala aqui tão perto”. Numa nota de 24-02-1974 (domingo), refiro uma notícia que me deixou os pêlos eriçados: “De Bissau, o Comandante-Chefe pede relação de todos os elementos do Batalhão com o curso de Minas e Armadilhas. Mais um sobressalto quanto ao futuro”.


Da História da Unidade do BCAÇ 4513:

FEV74/01 – A fim de reajustar o dispositivo da protecção aos trabalhos de Engenharia na frente de BUBA, foram transferidos de BUBA para NHALA, os GR COMB da 2.ª CCAÇ/4513 e 3.ª CCAÇ/4513. (...).

FEV74/02 – (...) Pelas 17h45 o GEMIL 405, emboscado próximo do MISSIRÃ, foi flagelado por GR IN não estimado, com 40 granadas de CanhSRC 82, com base de fogos provável na região de BOLOLA. NT sem consequências. (...).

FEV74/04 – (...) Para reforçar as forças de segurança dos trabalhos de Engenharia, foi deslocado do CUMBIJÃ para NHALA 1 GR COMB da CCAV 8350. Pela mesma razão, foi deslocado de NHALA para A. FORMOSA o GR COMB da 3.ª CCAÇ/4513. (...).

FEV74/06 – Pelas 21h00 quando 1 GR COMB da CART 6250 se deslocava de MAMPATÁ para a zona dos pontões (XITOLE 4 H 1-27), para evacuar um elemento doente do GR COMB da mesma CART, em contra-penetração na referida região, foi emboscada por GR IN estimado em 30/40 elementos em região (XITOLE 4 I 0-42) com RPG, MORT 60, MORT 82 e armas ligeiras. As NT reagiram à emboscada com armas ligeiras apoiadas pelo fogo de MORT 81 cm e ART. NT sofreram 3 feridos ligeiros e o IN feridos prováveis. Em reconhecimento posterior, ao local da emboscada, foram capturadas 5 granadas de MORT 82, 8 granadas de RPG-7, 3 granadas RPG-2, várias cargas de RPG-2 e 7, 4 carregadores de Kalashnikov, 1 cantil, 2 sacholas e uma pá. O IN retirou na direcção de SAMBA SEIDI-MISSIRÁ. No local de emboscada foram detectados 26 ninhos de atiradores deitados. (...).


Histórias marginais (5): A vingança das abelhas e a máquina despeitada

Foi numa manhã esplendorosa e fresca, ainda sem pó e sem o braseiro que havia de vir, que se iniciaram, em mais uma etapa, os trabalhos da estrada na frente de Buba. Davam-me sempre imenso prazer estas primeiras horas na frente de trabalhos, onde terminava a recta longa e já desmatada e começava a mata fechada, sempre cheia de surpresas e espaços virgens. Também gostava de apreciar de perto a perícia dos operadores das máquinas brutas da Engenharia, e sentir o avanço da estrada pela mata dentro, lento e difícil mas definitivo.

Desta vez não fomos para a “pedreira” fazer a protecção do troço de estrada já a funcionar. Levava a indicação de emboscar mesmo ali, onde começava a desmatação. Instalado o grupo em redor, alguns elementos à vista, eu fiquei em campo aberto não muito longe de um dos Caterpillar que, resfolgando, derrubava árvores de grande porte em três penadas. Primeiro levantava a pá, a dois ou três metros do chão, contra a árvore a abater e, com as lagartas bem fincadas no chão, em esforço, dava várias sacudidelas violentas e a árvore vibrava até à copa, ao mesmo tempo que soltava as raízes da terra. Depois recuava para enfiar a pá no solo contra as raízes, subia-a um pouco, e fazia tombar a árvore com fragor sobre as outras. Restava empurrá-la pela raiz, ao comprido, e ela entrava na mata fechada como se fosse um palito.

Estava a uns trinta metros do Caterpillar, no momento em que o operador fazia vibrar uma árvore de grande porte quando, inesperadamente, desce sobre ele uma nuvem de abelhas que o envolvem de imediato. Ele, por certo calejado no ofício, saltou da máquina como uma mola e mergulhou no pó, embrulhando-se nele, rolando e berrando, enquanto uma parte dispersa do enxame zumbia em toda a área, à caça de corajosos em que pudesse descarregar a ira vingativa. Berrei ao meu pessoal para que todos se mantivessem quietos onde estavam. Dando o exemplo, mantive-me imóvel no mesmo sítio e assisti, impotente, ao suplício do maquinista. Nem uma me picou. Só quando me pareceu que as abelhas já se afastavam do pó e o homem se levantava a sacudir-se e a praguejar, corri para ele para ver se precisava de ajuda. Enquanto ia arrancando umas cabeças de abelha das partes mais expostas, foi-me dizendo que já estava habituado e que era sempre assim. E seria sempre assim.

Insólito foi que, quando olhou para o lado não viu a sua máquina. E eu, tanto quanto recordo, também não me apercebi que ela se tivesse ido embora. Talvez pelo despeito de ter sido abandonada pelo seu dono, ela continuou a andar e penetrou na mata profunda. Por solidariedade (e também por curiosidade), acompanhei o inconsolável operador, mata dentro, à procura da máquina mas percebendo logo que esta surpresa não fazia parte dos ossos do ofício dele. Fomos seguindo o rasto das lagartas da máquina e das árvores derrubadas, não tinha nada que saber, ela devia estar logo ali. Mas não estava e, à medida que avançávamos, íamos ficando um pouco atónitos, porque nem mesmo lá no fundo da mata a máquina se via. Ficámos um pouco sem jeito para gracejos mas, por fim, lá estava ela silenciosa e amuada, embicada numa árvore de grande porte. Como fora possível que, desde a entrada na mata, tivesse passado sempre ao lado de árvores imponentes, passando por cima das mais fracas, até onde estava? Calhou. A verdade é que parecia uma manhã tão fresca e rotineira...

Foto 2: Caterpillar: máquina escondida com chaminé de fora. Ao fundo, a base da estrada Aldeia Formosa-Buba, lado de Buba. 


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

FEV74/12 – Esteve de visita a A. FORMOSA o CHERNO YUSSUF SY da REP SENEGAL, que tendo vindo visitar a família do CHERNO RACHID, veio a este Comando apresentar cumprimentos salientando que desde que se encontra em Território Nacional, estava encantado com o apoio e as deferências de que fora alvo. Referiu ainda, que o clima em que as populações vivem aqui, é muito diferente do que se diz por lá, vendo-se em todos a determinação de continuarem Portugueses. Acompanhado do Comandante, visitou MAMPATÁ, e o reordenamento de ÁFIA, assim como a frente dos trabalhos da estrada.

FEV74/13 – (...) – Com vista à substituição do GC COMB da 1.ª CCAÇ/4513, empenhados na protecção dos trabalhos de Engenharia, e para que os mesmos fossem desviados para a acção (OURIÇO) com início em 14FEV74, deslocaram-se para BUBA, 1 GR COMB da 2.ª CCAÇ/4513 e 1 GC COMB da CCAV 8351.

FEV74/15 – Acompanhado pelo Exmo. Major CARVALHO FIGUEIRA visitou este Sector o jornalista finlandês MARTTI VALKONEN.
- Os contactos com a população, as várias deslocações feitas de Jeep, sem escolta, os reordenamentos em curso e fundamentalmente as obras de construção da estrada A. FORMOSA-BUBA, foram argumentos altamente positivos a nosso favor.

FEV74/16 – (...) – Prosseguem os trabalhos de Engenharia nas duas frentes da estrada A. FORMOSA-BUBA, embora não se estejam a asfaltar por falta de asfalto. [A falta de alcatrão voltaria ainda a ser referida nos dias 20 e 28 do corrente mês. Nota minha].

FEV74/26 – Continuam os trabalhos de Engenharia na estrada A. FORMOSA-BUBA. Na frente de BUBA já atingiram a região de NHALA e na frente de A. FORMOSA, atingiram a região da antiga tabanca de UANE.


Das minhas memórias: O FORNILHO

Como refere a História da Unidade, a frente de Buba dos trabalhos da estrada nova, em 26 de Fevereiro de 1974, estava na região de Nhala. Mas a estrada passaria a, aproximadamente, 500 metros do aquartelamento e da tabanca, sendo necessário rasgar a mata para realizar um troço de ligação. Caso único em todo o percurso da estrada, desde A. Formosa a Buba.

Num dia de finais de Fevereiro, manhã cedo ainda, dormia eu descansado quando o Capitão Braga da Cruz me veio acordar com uma notícia que me deixou sobressaltado. “Oh Murta, tem que se levantar porque tem aí um trabalhinho especial. Os homens da Engenharia querem vir por aí a baixo com as máquinas e vieram perguntar se há obstáculos nossos nas imediações. Você tem aquele monstro ali fora do arame farpado, virado para a mata por onde eles vêm e, se calhar, já não vai ter tempo de o desmontar”. Por instantes não percebi a que é que ele se referia, mas ele continuou: “Como calculei que você quererá rebentar aquilo, já mandei evacuar a população daquele lado da tabanca e o nosso pessoal está todo avisado”. Era o fornilho, porra!... Não imaginei que tivesse de o accionar tão depressa. Como andam céleres os homens da Engenharia... “Vou já tratar disso, Capitão”. Acho que nem tomei o pequeno-almoço.

Mas o fornilho tinha uma história: Não fora montado naquele sítio, com uma carga brutal, ao acaso ou por mero cálculo estratégico.

Numa noite que mal começara, muito tempo atrás, a sentinela do posto de vigia da parte de trás da tabanca, (se se entender que a parte da frente era a do campo da bola e da picada para Buba), dá o alarme (com tiros?) de que vira vultos a moverem-se quase na orla da mata em frente, que, naquele ponto, era muito próxima. Alerta geral. Imaginámos um ataque ao arame e não seria de estranhar, já que o aquartelamento de Nhala era dos poucos que continuava poupado a ataques e flagelações. Recordo que estava uma noite de breu. Imagine-se a situação logo que desligou toda a iluminação. Enquanto se preparava o morteiro 81 no espaldão, aquela zona da mata foi passada a rajadas de metralhadora e batida com o morteiro 60. Depois bateu-se a zona mais afastada com o morteiro 81, mas sem grande insistência, tenho ideia, de modo a aguardar qualquer reacção. Mas tudo ficou por ali. Admitimos que fossem elementos a estudar um possível ataque, aqueles que a sentinela viu ou julgou ter visto, mas isso deixou-nos alerta daí para a frente e, no seguimento, o Capitão Braga da Cruz teve uma conversa comigo sobre o estudo de pontos ainda vulneráveis à volta da tabanca e do aquartelamento, mormente aquele em que ocorrera o anterior sobressalto, pela proximidade da orla da mata e porque, nessa zona, a mata era muito “aberta”. Podia, com facilidade, ser usada como porta para um assalto. Para aí, concretamente, o capitão sugeriu-me a instalação de fornilhos.

Só que o terreno era completamente plano e, para instalar vários fornilhos que disparassem os projécteis para a frente – excluí outras hipóteses -, exigia um empreendimento desmesurado. Optei por instalar um apenas, mas de grande potência e com uma “carga de efeito dirigido”, inspirando-me no princípio das granadas de bazuca anticarro e de certos mísseis perfurantes. A ideia era que todo o efeito da explosão e projecção de material se desse apenas para a frente já que, por trás, ficavam muito próximas alguma palhotas da tabanca. Isso exigia um bom apoio para a base do fornilho, de modo a suportar o “coice” da explosão. Como no local, mesmo defronte da zona vulnerável, havia as ruínas do que fora um bagabaga imponente – uma massa sólida de grande resistência -, idealizei instalar ali o fornilho, de maneira que a sua base ficasse soterrada em 2/3 (aproximadamente) no solo e 1/3 apoiada no bagabaga.

Para um fornilho assim grande, o primeiro invólucro que me ocorreu, e que foi adoptado, foi um bidão de 200 litros desses que abundavam por lá. Era penoso fazer um buraco para albergar um bidão inteiro. Para facilitar, depois de se cortar a tampa a maçarico, mandei cortar-lhe cerca de 20 centímetros na boca, reduzindo-lhe o comprimento. Mesmo assim, ainda foi penoso abrir o buraco no chão, tal como o meu trabalho de montagem dos materiais no seu interior, já com ele no sítio. Dada a proximidade, já referida, do fornilho às palhotas da população ali junto ao arame farpado, confesso que, até ao seu rebentamento, vivi possuído por incertezas – logo, ansiedade -, quanto à segurança dessas palhotas. Se algo não corresse como calculei, dada a carga explosiva que decidi usar, elas simplesmente voariam.

Para conseguir dispor a carga explosiva de forma a obter o efeito dirigido, precisava de algo no fundo do bidão que mantivesse os explosivos sempre com o mesmo ângulo até à frente. Para tanto, mandei fazer um cone com ripas, obedecendo a determinado ângulo. Mal-empregado... Ficou tão bem feito que parecia um chapéu de palha vietnamita.

No paiol enchi um carro-de-mão com todo o material velho disponível: granadas não rebentadas de todo o tipo e objectos metálicos inúteis que se foram acumulando. Como explosivo escolhi o TNT a granel em pequenos sacos (de 1 Kg?), por ser mais adaptável à configuração cónica e ao aproveitamento do espaço no bidão. Não recordo o total de quilos usados nem encontro os apontamentos feitos na altura, mas creio que eram mais de quinze e menos de vinte. Foi tudo montado como mostro a seguir, num croquis sem preocupações de escala. No espaço sobrante entre o material e a “boca” do bidão, ainda coloquei uma “cortina” de garrafas de cerveja. Só então se recolocou a tampa do bidão, atando-a com arames. Cobriu-se de terra a frente da tampa, mantendo-se o aspecto que tinha anteriormente o bagabaga. À cautela, no interior do explosivo, coloquei três detonadores eléctricos ligados em paralelo. Abriu-se uma vala estreita mas profunda, por onde passaram os fios eléctricos desde o bidão até a um ponto estratégico nos limites do aquartelamento onde, numa caixa a que só eu tinha acesso, cravada na parede de uma vala, ficaram os terminais desses fios. De passagem, refiro que no lado oposto do aquartelamento, tinha uma caixa semelhante para accionamento de uma série de minas de superfície Claymore, que enfileiravam ao longo do arame farpado.

Nos primeiros tempos passava pelo bagabaga a certificar-me de que tudo se mantinha oculto e inalterável mas, aos poucos, deixei de passar e quase me esqueci daquilo. Até essa manhã de Fevereiro quando fui confrontado com a necessidade de accionar o fornilho. Não havia tempo para desmontar. De qualquer modo, ainda que tivesse, eu preferia accioná-lo apesar dos riscos, para não ficar eternamente com dúvidas sobre o bom desempenho do dispositivo e, logo, do meu trabalho.

Tudo a postos, vou para vala com uma pilha eléctrica na mão. Antes de fazer a ignição, soergui-me de modo a ficar a ver de longe o bagabaga. Fosse das circunstâncias ou da sugestão, tudo em redor parecia mergulhado no vácuo, tal era o silêncio e a quietude. Esperava, confesso, uma explosão de ensurdecer, ver as árvores da mata vergadas pelo sopro, enfim..., não aconteceu nada disso. O que aconteceu foi um “buuuum” prolongado, seco e profundo, telúrico, como se tudo se tivesse passado na pirosfera. Em simultâneo o ar encheu-se de terra e pó. Deixei de ver a tabanca e a mata, tudo em redor era pó amarelo. O Capitão Braga da Cruz chegou perto de mim com uma expressão de grande preocupação e não disse nada. Aguardámos o desanuviamento atmosférico para irmos ver. Foram-se juntando outros curiosos.

No local, apenas grandes torrões circundavam a base do bagabaga, nada tendo passado para o lado da tabanca. Respirámos de alívio e fomos aos pormenores. Do que restava do bidão, o fundo, estava lá no sítio mas, das suas paredes apenas restavam tiras retorcidas, com as pontas em caracol. Na mata, tudo o que pertencera ao bidão estava reduzido a tiras longas, de igual modo retorcidas, e espalhadas com o conteúdo por uma área tão vasta que não a vimos toda. Muitas das árvores tinham cravados estilhaços das granadas e de muitos metais já não identificáveis. Vidros, não encontrámos. Podia-se concluir que fora um sucesso, e como seria eficaz em termos defensivos. Ainda bem que nunca precisámos dele. Agora havia que dar sinal aos homens da Engenharia para que avançassem em segurança e em paz...

Este foi o único fornilho que montei. O dispositivo mais pequeno que havia montado, fora uma armadilha, (trabalho de casa), como prova final do Curso de Minas e Armadilhas de Tancos: era uma caixa de fósforos que explodiria nas mãos de quem a tentasse abrir, quer para um lado, quer para o outro. O interior continha estearina a fazer de explosivo, e nela mergulhava uma lâmpada minúscula a representar o detonador e a comprovar o funcionamento, bem como uma pilha pequena (de tipo AAA?), para a alimentar. Nas paredes interiores da caixa estava o segredo dos contactos, feitos com cabeças de alfinete e tiras de ouro-mouro. Tudo bastante óbvio, agora...

Croquis do fornilho em corte. 
Legenda: Aspecto da localização do fornilho: A – Fornilho; B – Fiada do arame-farpado. 
Fornilho em corte: 1 – “Cortina” de garrafas de cerveja na boca do bidon; 2 – Material para funcionar como projéctil; 3 – Carga explosiva: TNT a granel em sacos; 4 – Cone de madeira para assentar o explosivo; 5 – Ruínas de um bagabaga.

Foto 3: Nhala, finais de Fevereiro de 1974. Eliminado o fornilho, a Engenharia rasgou este trecho da mata para a construção do troço de ligação da estrada A. Formosa-Buba (nas costas do fotógrafo) à tabanca e ao aquartelamento de Nhala, lá ao fundo.

(Continua)

Texto e fotos: © António Murta
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Nota do editor

Poste anterior da série de 20 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15271: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (25): De 6 a 26 de Janeiro de 1974

Guiné 63774 - P15296: (Ex)citações (296): "A ternura dos 20 anos", vídeo de Armando Ferreira, grã-tabanqueiro nº 704: seleção de comentários (António Murta, Cherno Baldé, José Sousa Pinto, Mário Vasconcelos e Tony Levezinho)

Armando Ferreira (ex.-fur mil cav, 
CCAV 8353, Cumeré, Bula, Pete
Ilondé e Bissau (1973/74)
1. Seleção de comentários ao poste P15291 (*), sobre o vídeo "A ternura dos 20 anos", de Armando Ferreira, grã-tabanqueiro nº 704 [foto à esquerda].





(...) A foto nº 7 deve ter sido tirada entre junho a agosto de 1974, no período de euforia do pós-25A74, nela estão elementos da guerrilha e jovens simpatizantes do PAIGC.

Sobre este período de transição escrevi no Poste (P6864 - A (mu)danca das bandeiras em Fajonquito em 1974) de 17/08/10 o seguinte:

"Pela forma como os recebiam e se congratulavam, trocando pequenos presentes e 'lembranças', os soldados portugueses pareciam muito mais satisfeitos com o fim da guerra do que os guerrilheiros. Talvez pela primeira vez na história dos conflitos armados, um dos beligerantes que, para todos os efeitos, tinha perdido a guerra, parecia estar feliz por não ter vencido. Era compreensível mas nem por isso deixava de ser intrigante."




(...) Inevitável não nos revermos em muitas das passagens do texto declamado. No entanto, perdoem-me a franqueza, o tom demasiado teatral da declamação, a querer imitar um Ary ou um Mário Viegas, belisca a sinceridade do contexto do estado de alma que levou o seu autor a sentir a necessidade de dar a conhecer o seu grito.

Não dexa por isso, em meu entender, de ser mais um contributo para a história coletiva de um Portugal colonial em agonia, ainda que, aqui e ali, possamos ter visões diferentes do pesadelo em que todos os combatentes se viram envolvidos.

Saúdo o Aramando Ferreira com um abraço, extensivo a todos os camaradas. (,,,)


(...) Visionei o vídeo do Armando Ferreira. Respeito o sentimento que ele exteriorizou, mas depois dos meus 27 meses passados no teatro de operações e já casado com 4 filhos, [não] deixei em algum momento, de sentir que cumpria uma missão Patriótica, para bem de Portugal e sobretudo para bem das populações autóctones,( neste caso da Guiné), pelo que, de forma alguma, me revejo nessas palavras.

Já voltei à Guiné por 3 vezes para participar em estudos de projectos para o desenvolvimento daquela Terra. Encontrei-me 2 vezes com o Presidente Nino, antes da sua morte e falamos do que eu fiz como militar de Portugal e do que eu pensava à cerca do que teria sido melhor para a Guiné. Compreendemos ambos as situações e fizemos amizade.

Não dou, de todo. como perdido o tempo que permaneci na Guiné, apesar do atraso que isso me provocou no arranque da minha vida profissional e foi muito, mas valeu a pena por Portugal.

As maiores felicidades e muita saúde para todos os Camaradas, Tanbanqueiros , ou não. (...)


(...) Ao Armando Ferreira, militar no teatro de operações da Guiné e ao cidadão português que transporta a raça que cumpre e sofre, endereço a minha saudação de amizade.

Sendo a escultura uma arte representativa de relevos, ela vive-se aqui na ilustração de sentimentos e vivências passadas, mas nunca esquecidas. Um clamor pessoal que a todos envolve.
Um abraço sentido, que abarca todos os camaradas. (...)


(...) Tem toda a razão o Cherno Baldé quando diz que um dos beligerantes parecia estar feliz.

Mas está completamente enganado quando diz que "parecia estar feliz por não ter vencido". Não, camarada Cherno, não era por não ter vencido, (que disparate!), era por ter sobrevivido àquela guerra, por não ter sido dilacerado por ela e, razão não menos importante, saber que podia regressar a casa e à Pátria, coisa que, até ao fim das hostilidades, nunca teve como certo.

De passagem refiro que a fotografia nº 3 deste poste  (*) foi tirada no Uíge, dado que é referida a partida em 16-03-1973. Eu também vinha nele e devo-me ter cruzado com o Armando Ferreira, mas os nossos destinos tiveram rumos diferentes após a chegada à Guiné no dia 22-03-1973: em fui direitinho a Bolama com o meu BCAÇ 4513 e o Armando foi para o Cumeré com a sua CCAV 8353.

Aproveito para lhe dar as boas vindas e um grande abraço de "periquito" para "periquito", com a certeza de que os "periquitos" já não irão mais para o mato, mas que a "velhice" pode ir no Bissau quando quiser. (...) (**)

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Notas do editor:

(*) 26 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15291: Vídeos da guerra (12): "A ternura dos 20 anos", de Armando Ferreira, natural de Alpiarça, escultor de profissão, ex-fur mil cav, CCAV 8353 (Cumeré, Bula, Pete, Ilondé, Bissau, 1973/74): uma emocionante e emocionada homenagem aos seus camaradas mortos e feridos, há 42 anos, no "batismo de fogo", em 5/5/1973, em Bula, em que "deixei de ser eu" (sic)

(**) Último poste da série > 4 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15200: (Ex)citações (295): Fui advogado e amigo de Luís Cabral, e até agora não encontrei uma explicação racional para o assassinato (gratuito) dos 4 oficiais portugueses no chão manjaco nem para o fuzilamento, no pós-independência, de muitos ex-militares guineenses que serviram lealmente as NT (António Martins Moreira, ex-alf mil inf, CART 1690, Geba, 1967/69)

Guiné 63/74 - P15295: Agenda cultural (432): Integrada no 14.º Ciclo das Tertúlias Fim do Império, dia 28 de Outubro, pelas 15 horas, apresentação dos livros "A Guerra", de Fernando Reis Lima e "Não Sabes Como Vais Morrer", de Jaime Froufe Andrade, no Palácio da Independência, em Lisboa

1. Em mensagem do dia 22 de Outubro de 2015, o nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704/BCAV 705, Guiné, 1964/66, dá-nos conta da próxima tertúlia do Fim do Império, a levar a efeito no próximo dia 28 no Palácio da Independência, em Lisboa:


14.º CICLO DAS TERTÚLIAS FIM DO IMPÉRIO 

LISBOA/SHIP/Palácio da Independência (em princípio, 4.ª feira, 15h00; 20% das vendas revertem para a SHIP): 

28 de Outubro de 2015 - 122.ª Tertúlia: 

Apresentação de livros já apresentados na tertúlia do Porto, nomeadamente:

"A Guerra", de dr. Reis de Lima (Alferes Miliciano Médico em Angola, BCaç 114, 1961/63, Presidente da Assembleia Geral do Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes); e 

"Não sabes como vais morrer", 7 mais 1 histórias de guerra, do jornalista Jaime Froufe Andrade (1945; Alferes Miliciano Ranger, Moçambique 1968/70). 
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15294: Agenda cultural (431): Lançamento do livro "Modelo Político Unificador - Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau", da autoria do Dr. Livonildo Francisco Mendes, Licenciado e Mestre em Sociologia e Doutor em Ciência Política, Cidadania e Relações Internacionais, levado a efeito no passado dia 19 de Outubro de 2015, nas instalações da UNICEPE, no Porto

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15294: Agenda cultural (431): Lançamento do livro "Modelo Político Unificador - Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau", da autoria do Dr. Livonildo Francisco Mendes, Licenciado e Mestre em Sociologia e Doutor em Ciência Política, Cidadania e Relações Internacionais, levado a efeito no passado dia 19 de Outubro de 2015, nas instalações da UNICEPE, no Porto

Em mensagem de 21 de Outubro passado, o Dr. Livonildo Francisco Mendes, Licenciado e Mestre em Sociologia e Doutor em Ciência Política, Cidadania e Relações Internacionais, enviou-nos uma Nota de Imprensa do lançamento do seu livro "Modelo Político Unificador - Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau", levado a efeito no passado dia 19 de Outubro, nas instalações da UNICEPE, no Porto.


Novo livro sobre a política da Guiné-Bissau apresenta propostas nunca dantes vistas

No dia 19 de Outubro de 2015, realizou-se nas instalações da UNICEPE - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto (Portugal), uma sessão de apresentação da obra "Modelo Político Unificador - Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau", do sociólogo e politicólogo guineense, Livonildo Francisco Mendes.

A obra foi lançada no passado dia 25 de Julho e promete mexer com todos os que se interessam pela política. Nesta sessão, para além do autor e do representante da UNICEPE, o Dr. Rui Vaz Pinto, foram oradores convidados, o Dr. José Manuel Pavão, Cônsul Honorário da Guiné-Bissau no Porto, Arnaldo Baldé, presidente da Associação de Guineenses do Porto, e o Professor Doutor António José Fernandes, da Universidade Lusófona do Porto.


Livonildo Francisco Mendes, formado Licenciado e Mestre em Sociologia e Doutor em Ciência Política, Cidadania e Relações Internacionais, apresenta propostas inovadoras para o desenvolvimento e a estabilização da Guiné-Bissau.
Esta é uma obra de extrema importância para todos os que se preocupam com a Guiné-Bissau e com os guineenses, e que pretendem aí construir os alicerces para um futuro melhor.

Nos próximos meses, seguir-se-ão apresentações em Lisboa, Coimbra e Aveiro (a confirmar) e também, brevemente, em Bissau, onde o autor pretende regressar definitivamente para trabalhar como professor universitário e comentador político.

O livro está disponível nas livrarias portuguesas e brasileiras, e também através da página da Chiado Editora, que comercializa online para todo o mundo.

Atentamente,
Livonildo Francisco Mendes


2. Sobre o autor:

Livonildo Francisco Mendes (Ildo) nasceu a 28 de Julho de 1974 em Cacheu (Guiné-Bissau), cidade que é considerada o berço da civilização dos guineenses e a primeira capital da Guiné-Bissau.
Conheceu muitas zonas da Guiné-Bissau, graças ao trabalho que o pai, empregado comercial, exerceu desde o período anterior à luta armada até a década de 1990. 
Terminou o secundário e foi convidado pelo Ministério da Educação para dar a sua contribuição ao país. Trabalhou na Região de Cacheu como Professor de Língua Portuguesa no Liceu Regional Hô-Chi-Minh, em Canchungo e como Professor contratado de Filosofia no Liceu Unidade Escolar 23 de Janeiro, em Bissau. Frequentou até ao terceiro ano a Licenciatura em Direito na Faculdade de Direito de Bissau. Em 2001 foi apurado para uma Bolsa de Estudo para Portugal. Estudou o 12.º ano na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro (Caldas da Rainha). Foi depois para Coimbra, onde concluiu a Licenciatura e o Mestrado em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra – com uma Dissertação de Mestrado intitulada “Democracia na Guiné-Bissau: por uma mudança de mentalidades” (que conta já com cerca de 2000 downloads). Depois do Mestrado, sentiu necessidade de complementar a sua formação na área da Ciência Política e, por esta área de formação não existir em Coimbra, mudou para a Universidade Lusófona do Porto. Em 2014, terminou o Doutoramento em Ciência Política, Cidadania e Relações Internacionais pela Universidade Lusófona do Porto, com uma Tese intitulada “Modelo Político Unificador - Novo Paradigma De Governação Na Guiné-Bissau”. A Dissertação e a Tese serviram de base a este livro.

Com a devida vénia a Chiado Editora
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15253: Agenda cultural (430): Conferência de António Graça de Abreu, "Entender a China 2015. Viajar pelo mundo chinês”, sábado, dia 17, pelas 11h30, em Lisboa, na sede da AFAP - Associação da Força Aérea Portuguesa, nas comemorações do seu 32º aniversário

Guiné 63/74 - P15293: As nossas mulheres (13): Só se pode falar do passado porque o futuro começa amanhã (Juvenal Amado)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 20 de Outubro de 2015:


SÓ SE PODE CONTAR COISAS DO PASSADO, PORQUE O FUTURO É SÓ A PARTIR DE AMANHÃ.

Mais uma para a nossas mulheres

Viver de recordações não uma atitude saudável ou será? Traz-nos fantasmas, existências mais ao menos romanceadas, conceitos alinhados com opções do momento, arrependimentos pelo que não fizemos, quantas vezes não douramos a pilula e assim evitamos pensar no que fizemos ou deixamos por fazer, convencidos que haveria sempre tempo. Depois, acabamos por constatar que o tempo escorreu-nos por entre os dedos e que nunca faremos nada sobre isso, nem recuperaremos o que perdemos.

Aquela viagem adiada para dias melhores, a beleza que passou e a que agora vemos passar. Tudo gira na nossa cabeça e pensamos, como era bom haver uma altura na vida, que se carregava num botão, voltávamos aos vinte anos e viveríamos como jovens os anos que nos faltam viver. Ficção cientifica talvez, na vez de irmos ao futuro, regressávamos ao passado e sabendo das nossas frustrações presentes, emendaríamos tudo o que não vivemos com intensidade suficiente na altura.

Assim teríamos aproveitado, ou pelo menos tentado, a nossa sorte com aquela miúda, de olhos verdes, linda, que a nossa falta de confiança ou timidez condenou à nascença qualquer vislumbre de romance.

“ És tão linda, que por onde passas nem a erva cresce” ou “O que se passará no Céu, para os anjos andarem cá na Terra”.

Na minha juventude estes piropos corteses, outros haviam chamado os de trolha acompanhados de assobiadelas estridentes lançados do alto dos andaimes, que diziam serem os parvos ou de mau gosto. Umas gostavam, riam-se apesar de tudo, mas outras tentavam responder à letra e raramente saíam a ganhar do confronto.

Quando estava na Guiné, era como sabem da praxe ter três ou quatro madrinhas de guerra com quem trocávamos cartas, confidências e fotografias. Dávamos largas à nossa veia de sedutores a 2000 km de distância, com a certeza que mesmo o conhecimento das nossas maiores parvoíces seria mínimo em terras, que nunca visitaríamos possivelmente e com pessoas que jamais nos cruzaríamos.

Impunidade era pois o manto com que nos cobríamos.

Umas eram bonitas outras assim-assim, pois como a minha avó dizia “não há meninas feias”. Elas nunca chegaram a saber na verdade, o que as suas cartas representavam para nós e a ansiedade, com que as recebíamos ou esperávamos.

Nalguns casos deram em namoro e casamento. Noutros casos só promessas de ocasião, que nunca haveriam de dar em nada.

Mas também aconteceram amargos de boca a alguns camaradas, quando resolveram deixar de escrever a uma das madrinhas, que já tinha assumido mais alguma coisa ainda que há distância.

Assim aconteceu com o meu nunca demais celebrado compadre “austrel”. Ele era artista de muita palheta, muita conversa e muitas promessas. Mal bispasse uma foto de uma irmã mais jeitosinha de um camarada, não descansava enquanto ele não lhe desse a morada e escrevia-lhe pedindo-lhe para ser madrinha dele. Acrescentava logo, que pedia correspondência porque tinha logo simpatizado com ela e que, não tinha mais nenhuma estivesse descansada etc, etc. Depois quando e se recebia resposta, não eram poucas as vezes que lia a carta, para uma plateia mais ao menos interessada nos pormenores que ela lá ingenuamente lá tinha escrito.

Mas que havia de fazer, ele era levado da breca e tinha imensa graça tendo um curso de malandragem de 1º escalão com muita inclinação para o disparate.

Numa altura em que o “cacimbo” mais o atacou, deixou de escrever a uma ou duas dessas moças. Dizia ele com ar compenetrado, que que se ia deixar dessas merdas, pois já não sabia o que havia de lhes dizer.

Por consequência e causa visível, um belo dia foi chamado ao nosso comandante, que lhe mostrou um pedido de informações a seu respeito. Dizia a pobre moça, que depois de ele lhe ter pedido namoro, deixou de receber correspondência e que temia que lhe tivesse acontecido alguma coisa de mal.

O “austrel” tentou logo ali minimizar a ocorrência, mas sendo o coronel Castro e Lemos daquela têmpera de não tolerar dúvidas ou omissões, logo lhe pregou ali uma valente descasca acompanhada de uma nada velada ameaça de que, se ele não escrevesse à pobre lhe dava uma porrada tal, que o mínimo que lhe acontecia, era ir despedir-se do batalhão ao cais de Bissau, quando o 3872 embarcasse para a Metrópole. Bem como nos devemos recordar, a pior ameaça que nos podiam fazer, seria vermos os nossos camaradas irem embora e nós ficarmos mais um mês e um dia.

É que não sabíamos quando era esse dia.

O nosso camarada passou a escrever todas as semanas e não foram poucas a vezes, que que nós gozámos com ele quando chegávamos ao abrigo e ele estava a dormir, abanávamos-lhe o beliche e gritávamos oh! “austrel” já escreveste?

Ele respondia-nos com uma linguagem que me escuso aqui de repetir está claro. Muitas coitadas não sabiam com quem se metiam.

Ainda lá fiz planos para conhecer uma ou duas quando regressasse, que ficou assim mesmo só nos planos. Hoje lamento que assim tivesse sido, foi um tempo que passou e já não volta para trás.

Em troca disso arranjei coragem e declarei-me à tal miúda linda de olhos verdes, que é a minha companheira há 36 anos feitos em 29 de Setembro. E ainda é assim, “onde ela passa nem a erva cresce”.

Um abraço
JA
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8294: As nossas mulheres (12): A presença das esposas em teatro de guerra (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P15292: Notas de leitura (770): “As Naus", por António Lobo Antunes (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Dezembro de 2014:

Queridos amigos,
António Lobo Antunes é um escritor recebido com aclamação ou pronto repúdio, não dá margem à indiferença. Lá para o termo dos anos 1980, dispunha de nome feito, era conhecido internacionalmente, publicou um romance um tanto à revelia da sequência de obras anteriores, “As Naus”, um achado experimental entre o passado e o presente, uma atmosfera das grandezas pretéritas e do caos que foi a chegada dos retornados, uma virulenta história trágico-marítima, em que se regressava de avião ou por nau.
É neste embrechado de histórias e historietas que um casal regressa de Bissau, na hora da independência e é metido temporariamente no Hotel Ritz.
Para ler e meditar, ou, quem sabe, querer ler o romance por inteiro. Sou suspeito, pois sou incondicional deste turbilhão da literatura.

Um abraço do
Mário


A Guiné num livro de António Lobo Antunes

Beja Santos

Médico em Angola, António Lobo Antunes estreou-se na literatura com duas obras associadas à sua experiência militar, Memória de Elefante e Os Cus de Judas, em 1979. No fim dos anos 1980, o escritor, já então consagrado pelas singularidades da arquitetura da sua escrita, publica “As Naus” cujo tema eram os retornados.

O livro foi prontamente incensado e escarnecido, uns consideravam que o escritor obtivera um achado misturando o passado e o presente, gente na torna-viagem com nomes como Camões, Gil Eanes, Francisco Xavier, Diogo Cão, entre outros. Caravelas e aviões, os Jerónimos do passado entendido como glorioso e pensões mal-afamadas entre o Paço da Rainha e o Intendente. É um périplo pelo Império, e aquele regresso caótico que se seguiu à descolonização, tudo se passa em Lixboa, a capital do reyno, no termo desse regresso reabilitam-se os mitos litúrgicos de sempre como o sebastianismo, é esse o final belíssimo do romance:
“Amparados uns aos outros para partilharem em conjunto do aparecimento do rei a cavalo, com cicatrizes de cutiladas nos ombros e no ventre, sentaram-se nos barcos de casco ao léu, no convés de varanda das traineiras, nos flutuadores de cortiça e nos caixotes esquecidos, de que se desprendiam esquecidos odores de suicida dado às dunas pela chibata das correntes. Esperámos, a tiritar no ventinho da manhã, o céu de vidro das primeiras horas de luz, o nevoeiro cor de sarja do equinócio, os frisos de espuma que haveriam de trazer-nos, de mistura com os restos de feira acabada das vagas e os guinchos de borrego da água no sifão das rochas, um adolescente loiro, de coroa na cabeça e beiços amuados, vindo de Alcácer Quibir com pulseiras de cobre trabalhado dos ciganos de Carcavelos e colares baratos de Tânger ao pescoço, e tudo o que pudemos observar, enquanto apertávamos os termómetros nos sovacos e cuspíamos obedientemente o nosso sangue nos tubos do hospital, foi o oceano vazio até à linha do horizonte coberta a espaços de uma crosta de vinagreiras, famílias de veraneantes tardios acampados na praia, e os mestres de pesca, de calças enroladas que olhavam sem entender o nosso bando de gaivotas em roupão, empoleiradas a tossir nos lemes e nas hélices, aguardando, ao som de uma flauta que as vísceras do mar emudeciam, os relinchos de um cavalo impossível”.

Pois bem, entre Índias e Angolas, há gente que regressa da Guiné, de onde vieram os primeiros escravos, a Guiné, diz o autor que se limitava então a um amontoado de casa no estuário do rio, muitas delas de madeira e de capim. Há para ali guerra, que se ouve em Bissau, e vamos então a algumas dessas referências guineenses avançadas por Lobo Antunes:
“A violência das explosões dos morteiros, das bazucas e dos canhões sem recuo estremecia as lagunas de Bissau, sobrepondo-se aos relâmpagos de Março (…) Uma noite escutaram por acaso na telefonia, num vendaval de assobios, a revolução de Lixboa, notícias, comunicados, marchas militares, a prisão do governo, canções desconhecidas, e no dia imediato, a tropa parecia menos crispada, os bombardeamentos rarearam, pretos de óculos flamejantes e camisas de feriado instalaram-se nas esplanadas e nos largos no lugar dos brancos. Convocaram-nos para uma reunião no Cine-Theatro das zarzuelas estafadas e das récitas dos bombeiros, onde um coronel de artilharia, com uma tripla fita de condecorações na clavícula, subiu ao palco em cujo fosso a orquestra desafinou entusiasticamente o hino, e lhes ofereceu de mão beijada, numa generosidade inexplicável, a possibilidade gratuita de tornar a Portugal (…) Batalhões completos, convulsos de amibas e lombrigas, com os furriéis a cabecearem de doença do sono logo após a charanga e a bandeira, alçavam-se para navios ferrugentos carregando as suas armas e os seus mortos (…) As naus aportavam vazias e partiam cheias, convexas de gente e de caixotes. Bissau despovoava-se de brancos e o início da estação das chuvas encontro-os sem saber o que fazer numa terra de selvagens triunfais que estilhaçavam à metralhadora os postigos das fachadas (…) 
Um amigo da fábrica de sonetos gongóricos, chamado Jerónimo Baía, descreveu-lhes os acontecimentos medonhos, sodomias, envenenamentos, rimas cruzadas, récuas de prisioneiros de algemas enxotados à coronhada para o mato. E quando o chá acabou e mergulhavam diariamente na água fervida o mesmo saquito sem sabor dependurado na extremidade de uma guita, a esposa, de costas para ele, anunciou-lhe na serena voz habitual com que enterrara, trinta e oito anos antes, a filha criança, já não pertenço aqui (…) Nessa mesma tarde subiu aos damascos rotos e óleos de defensores do reyno do palácio do governo, esperou numa enorme cadeira de dignatário, no meio de dezenas de brancos e mulatos, que lhe pronunciassem o nome e um funcionário de jaqueta o recebesse na cave do edifício e pediu dois lugares de porão para Lixboa (…) Se os brancos diminuíam, os pretos, em compensação, aumentavam nas casas atoladas nos caniços dos rios. Ocupavam as casernas que a tropa deixara, aliviada do peso da guerra, e enfeitadas de frases bélicas; acomodavam-se nos bancos de jardim, indiferentes à chuva, com as automáticas checoslovacas nos joelhos (…) Um grande paquete claro aproximava-se do cais a ameaçar destruir Bissau com o gume da proa. Não somos de parte alguma agora, respondeu o marido a designar o barco coroado de flâmulas, de emblemas reais, do estandarte do almirante Afonso de Albuquerque no topo do mastro principal (…) Depois de três meses de viagem um solzinho cor de pêssego despontou no meio da granito das nuvens e daí a nada avistaram o contínuo fervedoiro de mercado sírio de Lixboa a pular na distância, muralhas de castelo, fogueiras de judeus, procissões de flagelados, um trânsito simultâneo de carroças de escravos, cruzadores e bicicletas (…) 
Após cinquenta e três anos num cubículo de Bissau sofrendo mosquitos e cacimbo era-lhes difícil imaginar o ilimitado tabuleiro de damas do chão de mármore, as tapeçarias de hibiscos nas paredes, grooms disfarçados de hussardos, portas que se descerravam sozinhas. A cabine espacial do elevador, acostumado a assobiar de leve por órbitas de cometas, depositou-os numa espécie de corredor de basílica com os vãos dos altares laterais numerados (…) palpou-se longamente para se convencer da sua própria idade, tomando consciência dos molares que faltavam, dos músculos que obedeciam em guinadas dolorosas, do rosto devastado pelo clima da Guiné desde que aos quinze anos o pai o enviara para os trópicos aos cuidados de um primo sargento (…) 
Colocaram-nos na mesma mesa que três fazendeiros de Carmona que carpiam o café perdido e a lembrança das prostitutas da Muxima, um caçador de hipopótamos e um faquir guês de perinha ascética que mastigava parafusos e roscas (…) Um tenente de cabelos ralos, penteados desde a nuca numa minucia de ourives atravessou as tapeçarias, adaptou o microfone à sua altura, disse um dois três experiência, informou com ferocidade, damas e cavalheiros que se encontravam no Hotel Ritz por pura benevolência paternal das autoridades revolucionárias preocupadas em zelar pelo conforto e tranquilidade dos seus filhos até o Estado democrático conseguir casas ou pré-fabricados ou apartamentos nos bairros económicos para as vítimas da ditadura felizmente extinta, e que em nome, camaradas, da luta de classes e da construção do socialismo dirigida pela vanguarda política do exército, passariam a ser punidos com a forca os intoleráveis abusos de assar sardinhas nos lavatórios, cozinhas refogados e fritos nas cerâmicas dos chuveiros, vender as torneiras, assim como servir-se das cortinas estampadas do hotel opara blusas e adornos”.
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15283: Notas de leitura (769): “Diário de Ébano", por Sofia Yala Rodrigues (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15291: Vídeos da guerra (12): "A ternura dos 20 anos", de Armando Ferreira, natural de Alpiarça, escultor de profissão, ex-fur mil cav, CCAV 8353 (Cumeré, Bula, Pete, Ilondé, Bissau, 1973/74): uma emocionante e emocionada homenagem aos seus camaradas mortos e feridos, há 42 anos, no "batismo de fogo", em 5/5/1973, em Bula, em que "deixei de ser eu" (sic)


Vídeo (11' 29'') do Armando Ferreira, nosso grã-tabanqueiro nº 704, disponível no You Tube > Armando Ferreira.





Foto nº 1 > O fur mil at cav Armando Ferreira


Foto nº 2 > O fur mil at cav Armando Ferreira


Foto nº 3 > O fur mil at cav Armando Ferreira e mais furrieis na classe turística do navio que os levou, em março de 1973, até à Guiné

Foto nº 4 > O fur mil at cav Armando Ferreira



Foto nº 5 > P fut mil cav Serafim de Jesus Lopes Fortuna, morto em combate em 5/5/1973, mês e meio depois da companhia ter chegado ao TO da Guiné. Era um dos amigos chegados do Armando Ferreira: andaram juntos desde o primeiro dia, na recruta e especiliadade em Santarém, na EPC



Foto nº 5 > O fur mil at cav Armando Ferreira


Foto nº 6 > O fur mil at cav Armando Ferreira e camaradas


Foto nº 7 > Foto sem legenda...[Segundo o "olho clínico" do nosso amigo Cherno Baldé, esta foto deve deve ter sido "tirada entre junho a agosto de 1974, no período de euforia do pós-25A74, nela estão elementos da guerrilha e jovens simpatizantes do PAIGC"... Não se sabe o local.]

Fotos: © Armando Ferreira (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

1. O Armando Ferreira, natural de Alpiarça, escultor de profissão, foi fur mil cav, CCAV 8353, Cumeré, Bula e Pete (1973/74). 

Esta companhia não pertenceu ao BCAV 8320/72, era independente. Foi mobilizada pelo RC 3. Partiu para a Guiné em 16/3/1973 e regressou a 29/8/1974 (17 meses de comissão). Esteve em Bula, Pete, Ilondé e Bissau. Cmdt: cap mil cav António Mota Calado

Veio  substituir a mítica companhia do cap cav Salgueiro Maia, a CCAV 3420 (Bula, 1971/73).  Neste vídeo, de mais de 11 minutos, o Armando faz um emocionado e emociante relato do historial da sua companhia, declamando em "voz off" um dramático e longo texto poético,  a que deu significativamente o título "A ternura dos 20 anos"... 

O vídeo foi colocado no You Tube,  42 anos depois do "batismo de fogo" do Armando e dos seus camaradas, a trágica emboscada que a companhia sofreu em 5/5/1973, na região de Bula,  de que resultaram as 17 primeiras baixas da companhia, das quais 4 mortos:

(i) fur mil cav Serafim de Jesus Lopes Fortuna, natural da Madalena, Vila Nova de Gaia, e que era um dos seus grandes amigos;

(ii) 1º cabo at cav José João Marques Agostinho, natural de Reguengo Grande, Lourinhã;

(iii) Sold at cav João Luís Pereira dos Santos, natural de Brejos da Moita, Alhos Vedros, Moita; e

(iv) Sold at cav Quintino Batalha Cartaxo, natural de Castelo, Sesimbra.

Mais tarde, em 4/11/1973, da mesma companhia morrerá, também em combate, Madaíl Baptista, natural de Carvalhais, Ponte de Vagos, Vagos. (Dados do portal Ultramar TerraWeb).

As fotos acima reproduzidas foram recuperadas do vídeo.  Espero que o Armando nos ceda cópias das originais, com maior resolução (**).

Esta CCAV 8353 tem um um blogue em construção, editado pelo Nuno Esteves. Até
a data da entrada do Armando Ferreira na nossa Tabanca Grande não tínhamos qualquer referência a esta subunidade. Temos alguns camaradas do tempo do Armando, e do BCAV 8320/72, que estiveram em Bula como o Fernando Súcio, o Leonel Olhero ou o José Alberto Leal Pinto.

Não confundir este BCAV 8320/72 com o BCAV 8320/73, a que pertenceu por exemplo  o Nelson Henriques Cerveira (fur mil enf, CCS/BCAV 8320/73, Bissorã e Bissau, 1974).

O BCAV 8320/72 foi mobilizado pelo RC 3, partiu para o TO da Guiné em 21/7/1972 e regressou a 25/8/1974. Esteve em Bula, sendo comandado pelo ten cor cav Alfredo Alves Ferreira da Cunha. Era composto,  para além da CCS, pelas seguintes unidades de quadrícula: 1ª C/BCAV 8320/72 (Bula, Pete, Nhamate e Bissau); 2ª BCAV 8320/72 (Bula, Nhamate); e 3ª C/BCAV 8320/72 (Bula, BIssorã, Catió, Pete).






Guiné > região de Cacheu > Bula > CCS/BCAÇ 8320/72 (Bula, 1972/74) > Casa dos geradores > O fur mil Olhero vendo os estragos causados por um míssil. O Leonel Olhero, ex-fur mil cav, e nosso grã-tabanqueiro, pertencia ao EREC 3432 (Panhard), 1971/73.

Foto: © Leonel Olhero (2012). Todos os direitos reservados [Edição: CV]


2. Enquanto artista plástico,  e nomeadamente escultor, o nosso camarada Armando Ferreira tem participado em diversas exposições individuais e colectivas: Lisboa, Porto, Faro, Monsaraz,Torres Novas,  Alpiarça.  Está representado com obras em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Itália e Holanda. É também autor de cartazes, cenários interiores e exteriores para várias sessões comemorativas: festivais da canção infantil, encontros musicais, ilustração de livros infantis e designers for books. Tem diversas entrevistas, críticas e apreciações por nomes ligados á arte, publicadas em revistas, jornais nacionais, televisão e em várias obras literárias (Portugal e Espanha). (LG)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15287: Tabanca Grande (475): Armando Ferreira, ex-Fur Mil Cav da CCAV 8353 (Cumeré, Bula e Pete, 1973/74)

(**) Último poste da série > 31 de outubro de  2012 > Guiné 63/74 - P10600: Vídeos da guerra (11): Sete anos no bacalhau em alternativa aos dois anos no ultramar: o filme A Outra Guerra (Portugal, 2010, 48')

domingo, 25 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15290: Por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-mar em África, etc.: legislação régia (1603-1910) (3): Como se podem enjeitar os escravos e bestas por os acharem doentes ou mancos (Ordenações manuelinas, decreto de 1 de janeiro de 1521)






Portugal > Assembleia da República > Legislação régia > Ordenações manuelinas > Decreto, 1 de janeiro de 1521 > Como se podem engeitar os escrauos , e bestas, por os acharem doentes ou mancos > Sem Entidade Livro V. (Reproduzido com a devida vénia...) (*)


1. Apesar de nos podermos orgulhar de Portugal ter sido
Reprodução de uma xilogravura da edição de 1514
das Ordenações Manuelinas,
impressa por João Pedro Buonhomini
nas instalações de Valentim Fernandes,
em Lisboa. Fonte: Wikipedia. 

Vd. cópia pública, em formato pdf, desta edição 
de 1514  na Biblioteca Digital Nacional
um primeiros  países a abolir a escravatura (no território nacional, em 1761, ao tempo do Marquês de Pombal, o todo poderoso primeiro ministro do rei Dom José), tivemos tráfico (luso-africano, convém sempre lembrar...) de escravos desde a expansão marítima, e utilização de mão de obra escrava, de origem africana, da ilha da Madeira ao Brasil, passando por Cabo Verde e pelo continente... 

Originalmente os primeiros escravos vinham da Guiné (topónimo que designava uma vasta região da costa de África Ocidental, incluindo o Senegal, a Gâmbia, a Guiné-Conacri, a Guiné-Bissau, a Guiné Equatorial, etc.). Na legislação régia, há naturalmente referências aos "escravos da Guiné", que eram vistos na época de uma tripla perspectiva: (i) tinham alma e era preciso batizá-los;  (ii) eram mão de obra valiosa (, fundamentais na exploração mineira e nas plantações de açúcar); (iii) tinham valor económico, sendo transacionáveis; e (iv) eram um "bem de luxo" para a corte e as classes dirigentes, uma forma de ostentação da riqueza, do poder e da honra (!)...

À luz dos nossos princípios e valores de hoje, esta linguagem "jurídica" das ordenações manuelinas (**) é chocante. (E mais chocante ainda a realidade que o poder régio procurava ordenar e regulamentar)... Mas estamos em 1521, mesmo no final do reinado de D. Manuel I, o "Venturoso", que irá morrer a 13 de dezembro desse ano, e que é descrito, por um dos seus biógrafos, "como um rei centralizador, inovador e reformador" (Costa, 2015, p. 259).

A 19 de dezembro de 1521 era aclamado rei seu filho, D. João III... Era o fim de uma época e o início de uma outra. (COSTA, João Paulo Oliveira e - D. Manuel I, 1469-1521: um príncipe do Renascimento. Lisboa: Círculo de Leitores, 2005, col. "Reis de Portugal", 333 pp.).

2. Yoro Fall, conceituado historiador senegalês, antigo professor da universidade de Dakar,  no Dicionário de História dos Descobrimentos (sob a direção de Luís Albuquerque) (Lisboa: Círculo de Leitores,1994), vol. I, "Escravutura", pp. 367-384, escvreve o seguinte:

(...) "o arranque económico da Europa foi largamente determinado, sobretudo no século XVIII, período de maior intensidade do tráfico de escravos, pela interconexão estabelecida entre a colonização da América e a utilização de escravos africanos na construção de novos espaços e de novas estruturas econonómicas" (p. 383).

A expressão "tráfico luso-africano" é dele, não é minha. É um artigo de leitura obrigatória... LG

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 17 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15260: Por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-mar em África, etc.: legislação régia (1603-1910) (2): "Que todos os que teuerem escrauos de Guinee os baptizem"... (Ordenações manuelinas, decreto de 1/1/1521)... Em busca do rei (cristão ?) de Guandem e Sará (Carta régia de 17/6/1603).

(**) Sobre as "ordenações manuelinas":

"(...) são três diferentes sistemas de preceitos jurídicos que compilaram a totalidade da legislação portuguesa, de 1512 ou 1513 a 1605. Fizeram parte do esforço do rei Manuel I de Portugal para adequar a administração no Reino ao enorme crescimento do Império Português na era dos descobrimentos. Consideradas como o primeiro corpo legislativo impresso no país

(,,,) , elas sucederam as pioneiras Ordenações Afonsinas, ainda manuscritas, e vigoraram até a publicação das Ordenações Filipinas (...) , durante a União Ibérica. Representam um importante marco na evolução do direito português, consolidado o papel do rei na administração da Justiça e afirmando a unidade nacional (...) " (Fonte: Wikipédia, com a devida vénia...).

Na Biblioteca Digital Nacional pode consultar-se, página a página (são 866!) a cópia pública, em formatop pdf, desta preciosidade bibliográfica.

Guiné 63/74 - P15289: Meu pai, meu velho, meu camarada (47): A minha mãe terá adorado esta fotografia do seu namorado, pelo aprumo e elegância, realçados pela distinção da farda que lhe assentava tão bem, que se lhe assemelhava a um general conquistador (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 21 de Outubro de 2015:

No quarto dos meus pais, lembro-me desde criança, da fotografia deste jovem soldado. A minha mãe por não ter outra fotografia dos bons tempos de namorados, em que ambos trocavam olhares com promessas de beijos e palavras cheias de significado e de futuro, tirou esta fotografia da caderneta militar deste soldado garboso e colocou-a num lugar de destaque no quarto do casal.

Nesses tempos antigos do século XX, até à década de cinquenta, em que todos os militares tinham direito a uma farda número um, com dólman e quepe, semelhante aos dos oficiais superiores, em lugar do quico e do blusão verde dos nossos tempos, a minha mãe, costureira e esteta amadora, terá adorado esta fotografia do seu namorado, pelo aprumo e elegância que já lhe reconhecia, realçados pela distinção da farda que lhe assentava tão bem, que se lhe assemelhava a um general conquistador.

Emídio Baptista, meu pai

A fotografia dos últimos trinta anos ou talvez mais, já não será a original, pois a minha irmã mais nova, que sempre gostou de recordações da família, mandou fazer uma cópia e guardou para si uma delas.

À minha mãe, esse retrato de militar, devia trazer à memória recordações gratas da sua juventude e do seu namorado, tão discreto mas que sabia tão bem dizer-lhe as palavras apropriadas, que acompanhadas por um sorriso afável, lhe adoçavam os dias, a faziam sonhar e lhe prometiam um futuro radiante.

Apesar de todas as contrariedades e dissabores próprios do casamento, a minha mãe continuou a confiar para sempre nesse homem, que ela conheceu menino, adolescente e jovem.

Ele morava tão perto da sua casa, a menos de 100 metros. Aos 19 anos, por morte do pai dele, por ser o mais velho de 4 irmãos, teve que tomar conta da casa de lavoura e de dar todo o apoio possível à sua mãe viúva. Nesses anos e em anos anteriores teve tempo e oportunidade de avaliar esse vizinho, da idade dela, que passava à sua porta com as vacas e vitelos, com o carro puxado pelas vacas, vazio, para trazer cortiça, trigo, ou lenha, ou outros produtos agrícolas, ou com as charruas e os arados para lavrar as hortas, as oliveiras ou os campos de trigo e centeio. Muitas vezes se terão cumprimentado conforme os usos e costumes da terra: Bom dia Maria! Bom dia Emídio! E pela urgência das lides quotidianas ou pela timidez de um ou do outro, a troca de palavras terá ficado por aí.

Afinal, apesar do silêncio, da reserva e da dureza da vida após o casamento, o seu homem não era pior do que todos, mesmo irmãos ou cunhados. O seu homem era trabalhador e responsável e nunca faltaria com o indispensável às necessidades da família que ia aumentando ano após ano. Nessa sociedade patriarcal todos tinham essa máscara ou marca de rudeza, que tinham herdado dos pais e avós que lhe dava autoridade, até demasiada, mas que lhe iria também exigir muitas responsabilidades. O sustento da mulher de dos filhos ficaria para sempre a seu cargo, bem como todos os trabalhos agrícolas. A mulher teria o encargo de criar os filhos e de ajudar em alguns trabalhos agrícolas menores, se possível, como por exemplo alguma ajuda no tratamento da horta.

A minha mãe, uma mulher inteligente, acreditava na escolha da sua vida, pelo conhecimento e enamoramento que terá crescido dentro dela desde criança, ao longo dos anos, pela forma gentil com lhe terá dito que gostava dela e pelo seu sorriso simpático de garoto brincalhão ou trocista. Na fotografia desse soldado, a melhor representação do seu amor juvenil, que imaginou para a vida inteira, a minha mãe apostou todo o seu projecto de vida.

Apesar dos seus silêncios, do seu feitio reservado que não lhe conhecia bem dos tempos de namorado, os filhos iam nascendo para alegria dela, cada qual o mais belo (os filhos são sempre tão lindos), para compensar desgostos passageiros. Ao seu marido autoritário ela sabia que o sabia vergar e moldar aos seus gostos quando fosse necessário. Recordo-me bem quando plantávamos a horta, com feijões, tomates, cebolas, batatas, pepinos, melões, etc., as guerras que a minha mãe tinha com o meu pai, por ele não lhe querer garantir um bom lote de terreno para plantar as suas flores: os crisântemos, as sécias e as zínias. A nossa mãe ganhava sempre.

Quando os filhos começaram a crescer, depois de fazerem a escola primária, a minha mãe lutou como uma leoa para que a todos fosse garantida toda a continuação da educação escolar possível.

O nosso pai já a pensar que com a ajuda dos quatro filhos varões podia aumentar bastante a riqueza da família teve que se curvar perante as exigências da mulher, que não sendo autoritária, se sabia impor em defesa das suas flores e dos seus filhos, os bens que mais amava.

A vida deste militar, garboso e aprumado, com o mesmo porte que conservaria para o resto da sua vida civil, continua a ser para mim um enigma, já que ele nunca falava do seu passado, civil ou militar, nem das suas recordações da meninice ou da juventude. Sei somente algumas coisas que a minha mãe ou outros contaram.

Consta-se que era da arma de Cavalaria e que terá tido uma repreensão por um dia ter vergastado um cavalo mais rebelde. Terá passado por Mafra em 1939, por onde eu passei 30 anos mais tarde. Sei que escrevia cartas muito meigas à namorada que a minha irmã mais nova, já depois da sua morte, morreu cedo, aos 59 nos, encontrou numa arca de madeira. no meio de lençóis de linho.

Cartas que tinham sempre no cabeçalho duas palavras: Minha Maria. A minha irmã, sempre a mais nova, teve tempo de ler duas cartas porque entretanto foi encontrada pela nossa mãe, nesse delito de inconfidência, as cartas, com os segredos desses namorados, terão sido queimadas ou bem escondidas, o que se sabe é que não mais foram encontradas.

Esta é a minha homenagem singela, que se me permitem os meus camaradas, presto a estes dois guerreiros que lutaram até ao limite das suas forças, pelo futuro dos filhos, e que a todos deixaram uma herança tão grande em valores humanos: honra, honestidade verticalidade, companheirismo, dedicação e solidariedade .

Um abraço.
Francisco Baptista
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OBS: 
- Foto editada por CV
- Título do poste da responsabilidade do editor 
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14648: Meu pai, meu velho, meu camarada (46): O meu avô, cruz de guerra de 1ª classe, esteve na I Grande Grande, nas margens do rio Rovuma, norte de Moçambique.... Quando regressou, trouxe com ele um "filho da guerra", que seria mais tarde o meu pai, que eu sempre adorei e adoro (Jaime Machado, ex-alf mil cav, Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70; membro do Lions Clube Lusofonia)

Guiné 63/74 - P15288: Libertando-me (Tony Borié) (40): Isto é a Flórida

Quadragésimo episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 21 de Outubro de 2015.




...isto é a Flórida!

As rajadas de vento passavam a 31 milhas por hora, naquela água revoltada do mar, podia-se ver, talvez a mais de um quarto de milha de distância da costa, dezenas de ondas seguidas, cobrindo-se umas às outras, pintadas de branco, que não era bem branco, pois havia alguns sinais, aqui e ali, mais escuros, que deviam de ser troncos de árvores, restos de costas tropicais que vinham dar à praia, fugindo da tempestade, da fúria daquele pequeno furacão, que devastava a areia, destruindo as dunas, onde dias antes era um lugar paradisíaco.

Este foi o cenário que encontrámos, quando, entusiasmados, na esperança de alguma aventura, viemos passar uns dias fora da cidade, fora do ambiente quotidiano, do conforto daquelas coisas que existem na nossa casa, procurando viver em contacto com a natureza, sem computadores, sem rádio ou televisão, sem ouvir e tomar conhecimento pelo que vai no mundo, pois no “six o’clock news”, que é o noticiário das seis, é só desgraças, são só notícias que excitam as pessoas, se for uma boa notícia, não tem interesse, tem que ser uma catástrofe, para aparecer a todas as horas ao abrir dos noticiários, assim têm maior audiência, faz deles os melhores.

Mas continuando, viemos cozinhar as nossas refeições numa fogueira, com lenha de cedro, perfumada com aquele cheiro que não existe à venda em nenhuma casa de perfumes, tomando banho na água do mar, ou em qualquer riacho, caminhando por trilhos selvagens, às vezes tropeçando, caindo aqui, levantando-se ali, dormindo no pequeno espaço da nossa caravana, falando e convivendo com novas pessoas, vindas de outros estados, também aventureiras, que gostam de conversar, que contam anedotas e vivências de aventura pela noite dentro, em volta da tal fogueira, onde o café e alguma cerveja, dão alguma cor àqueles rostos antigos, de pessoas da nossa idade.

Um casal que acampou num espaço ao nosso lado, portanto nossos vizinhos, oriundos do estado de Montana, falavam entre si, dizendo:
- Meu Deus, isto é a Florida? E viemos nós de tão longe para ver o mar, a minha avó, que nunca viu a cor do mar, chamaria a isto uma planície de neve a querer derreter-se, que saudades da minha Montana!


Quando o vento vinha do norte, a caravana balançava, havia pequenos ramos e folhas no ar. Para caminhar, colocava-se a mão sobre a testa, cobrindo os olhos, protegendo-os, era a natureza revoltada, que encontrámos nos primeiros dois dias da nossa fuga para o passado mas, como diz o ditado, “depois da tempestade bem a bonança”, agora o mar está calmo, a corrente é serena, pode-se mesmo pescar, apanhar sol, entrar nas pequenas ondas que estendem a água suavemente pelo grande areal plano, que existe, antes de tocar nas dunas, onde a vegetação rasteira tenta sobreviver, acolhendo algumas palmeiras que começam a tomar o sentido vertical, pois algumas vergaram no sentido sul, com o forte vento que vinha do norte. Limpámos todo o local à volta da nossa nova “vivenda”, abrimos o tolde da nossa caravana, passamos algumas horas lendo, admirando a natureza, meditando, criando em nós algum sossego de espírito, tentando limpar a nossa mente, já antiga e baralhada, deixando de pensar por alguns momentos em emboscadas, ataques ao aquartelamento, sobretudo naqueles irmãos mortos em plena juventude, embrulhados nos restos do camuflado, a cheirar a medo e pólvora, sujos de lama e sangue, daquela maldita guerra que lá vivemos, na então nossa Guiné.

Tony Borie, Outubro 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15263: Libertando-me (Tony Borié) (39): Tal e qual lá na Guiné

Guiné 63/74 - P15287: Tabanca Grande (475): Armando Ferreira, ex-Fur Mil Cav da CCAV 8353 (Cumeré, Bula e Pete, 1973/74)

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo Armando Ferreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 8353, Cumeré, Bula e Pete, 1973/74), com data de 13 de Outubro de 2015:

Camarada Luís,
Sou mais um igual a milhares que sobrevivemos cada qual à sua maneira.
Fui Furriel Miliciano Atirador e pertenci à Companhia Independente de Cavalaria 8353.
Fomos para o Cumeré, depois para Bula para render a CCav do famoso Cap.Maia. Mais tarde com o meu grupo fomos viver subterraneamente para Capunga e depois S.Vicente, e por fim, fazer colunas a Farim.

Tivemos várias baixas, vários feridos com armamento deficiente, fomos atacados várias vezes com misseis russos e ainda aqui estou.  

Nasci em Alpiarça e aos dez anos parti para Lisboa, aí estudei em escola de artes e trabalhei, e muito mais tarde regresso para ter espaço físico na realização com o meu trabalho.
Tenho dois filhos e dois netos, e estou disposto a fazer seja o que for para que a minha família e as outras, terem direito ao país onde nasceram e receberam a sua própria cultura, TER A VIDA COM FELICIDADE.
Sou escultor de profissão, o meu trabalho está entre o Realismo e Expressionismo e tenho neste Portugal muitas esculturas urbanas, representando: feitos, heróis, individualidades, conjuntos escultóricos de grande dimensão, alegorias etc.
Trabalho em pedra e em bronze. Estou representado em vários países.

 À Liberdade - Estudo

 À Solidariedade

Homenagem à Juventude

Homenagem a Passos Manuel(1)

No passado mês de maio, fiz uma pequena homenagem a camaradas que perdi ao meu lado e aqui te mando o link, pois é ainda o que me vai na alma. Se entendes que deves publicar, força.


Desejo-te saúde e alegria, até breve um grande abraço
Armando Ferreira

Nota do editor:
(1) - Passos Manuel (Matosinhos, 1801 - Santarém, 1862), natural da freguesia de Guifões.
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Comentário do editor:

Camarada Armando Ferreira, sê bem-vindo à nossa tertúlia.
Foi um prazer receber-te nesta tabanca virtual de combatentes da Guiné. Se bem me lembro és o primeiro escultor na tertúlia. Vou dedicar um poste para divulgação das fotos que me mandaste com as tuas obras, além das que hoje publico, para a malta tomar conhecimento da tua arte e dos locais onde a mesma pode ser apreciada.
Hoje divulguei uma foto do teu Passos Manuel, que como sabes nasceu no concelho de Matosinhos em 1801 (ou 1806?), onde aliás tem também uma estátua, inaugurada em 1864, cujo autor não consegui descobrir. Já agora, se souberes diz-nos.
Ficamos desde já ao teu dispor para a divulgação de eventos relacionados com a tua actividade artística.

Quanto à missão que cabe a cada um de nós, combatentes da Guiné, neste Blogue, é, dentro das condicionantes de cada um, colaborar no registo, em texto e em fotos, dos momentos que mais nos marcaram. Fotos há muito guardadas e esquecidas, e memórias que julgávamos já apagadas, podem ver a luz do dia na nossa página, e ficarem a fazer parte da nossa História mais recente. Ficas então convidado a participar nesta missão colectiva.

Ficamos por aqui disponíveis para qualquer esclarecimento adicional quanto ao funcionamento e fins deste blogue.

Cabe-me deixar-te, em nome de toda a tertúlia, editores incluídos, um forte abraço de boas-vindas.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15094: Tabanca Grande (474): Joaquim dos Santos Ascenção, ex-Fur Mil AP Inf da CCAÇ 3460/BCAÇ 3863 (Cacheu, 1971/73)

Guiné 63/74 - P15286: Recortes de imprensa (76): a AMFAP (Associação dos ex-Militares das Forças Armadas Portuguesas) ainda existe (e reivindica), segundo notícia recente da Agência de Notícias da Guiné

1. Na sequência do poste P15284 (*), aqui vai um eecorte de imprensa, uma notícia,  recente,  Agência de Notícias da Guiné > 7 de agosto de 2015, relativa à AMFAP (Assoccação dos ex-Militares das Forças Armadas Portuguesas)... Com a devida vénia... (**)

[Repare-se que é uma foto nossa, da autoria do Humberto Reis, sem qualquer referência à fonte... Não é bonito, senhores jornalistas da ANG - Agência de Notícias da Guiné... Mas, enfim, que
seja tudo por uma boa causa...].





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Notas do editor:

 (*) 23 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15284: Os nossos camaradas guineenses (43): Quem se lembra do Madjo Baldé, natural de Mampatá, nascido em 1936, sold at inf, Madjo Baldé. que serviu o exército português desde 1961 a 1966, incluindo a 1ª Companhia de Caçadores (Umaro Baldé, filho, a viver na ilha do Sal, Cabo Verde)

(**) Último pose da série > 14 de outubro de 2015 >Guiné 63/74 - P15252: Recortes de imprensa (75): "Guiné-Bissau, um dia de cada vez", fotorreportagem de Adriano Miranda, Público -Multimédia, 11/10/2015... Quatro dezenas de fotos, a preto e branco, que nos emocionam e interpelam (António Duarte, ex-fur mil at, CART 3493 e CCAÇ 12, dez 1971/jan 1974)