quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15220: Fotos à procura de... uma legenda (64): visita do gen Arnaldo Schulz e do brig Reimão Nogueira a Porto Gole, em fevereiro de 1967... O insólito: (i) duas caixas de cerveja (Cristal e Sagres) no banco traseiro do helicóptero; (ii) um comandante-chefe, de máquina fotográfica a tiracolo, com ar de turista...



Foto nº1 > Porto Gole, fevereiro de 1967:  a despedida, depois da viista:  o gen Arnaldo Schul ao lado do piloto, e eu à direita, com  as minhas botas alentejanas e o camuflado paraquedista trocado com um camarada numa operação no Morés em outubro de 1966.



Foto nº 2 > Porto Gole, fevereiro de 1967:  o gen Arnaldo Schulz [, de máquina fotográfcia a tiracolo,] , junto da população local; à direita, em primeiro plano, de perfil, um tenente médico, da CART 1661. 

Fotos (e legendas) : © José António Viegas (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e letgednagem complementar: LG]


1. Foto do álbum do nosso grã-tabanqueiro,  algarvio,  José António Viegas, ex-fur mil do Pel Caç Nat 54 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1966/68):


 Estava em Porto Gole, com o seu Pel Caç Nat 54 (, comandado pel alf mil Carlos Marchã) , e com os homens da CART 1661, quando em fevereiro de 1967, recebeu a vista do governador geral e con.chefe gen Arnaldo Schultz, acompanhado do brig Reimão Nogueira, co9mandante militar...

Onde está o insólito da(s) imagem(ens) ? No banco de trás do helicóptero, há pelo menos duas caixas de cerveja, uma da marca Cristal e outra da marca Sagres (foto nº 1) ...

Pergunta inocente: o precioso carregamento era para autoconsumo da comitiva, ou para distribuir pelo caminho ?  Fazia parte da "psico" na época ? Enfim, teria, por cerrto algum destinatário, civil ou militar, talvez lá no cu de Judas (*)...  O Viegas diz-nos, por mail, que o carregamento já vinha de Bissau e que se destinava à "psico"... Ficamos a saber então que nesse tempo a cerveja era uma das armas (secretas) da "psico"...

Como se vê, na foto nº 1, em cima o José António Viegas,  estava lá, no sítio certo, "com as suas botas alentejanas e o seu camuflado  paraquedista" (**)..... Por outro lado, e analisando a foto nº2, digam lá se o antecessor do gen Spínola não tunha mais um ar de turista do que de comandante-chefe ? Na opinião do Viegas, o Schulz era "um tipo bonacheirão"...


Zé Viegas, estas fotos valem ouro!... De qualquer modo, um pouco de humor de caserna também nos faz bem. Na Guiné sempre fomos irreverentes: querm não se recordas das "anedotas" e das "partes gagas" que se contavam de Spínola, "o "caco Baldé"  ? (LG).

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Notas do editor:

(*) Último poste da série >   7 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15215: Fotos à procura de... uma legenda (63): Bajudas de Bambadinca, fevereiro de 1970: um "grupo de idade" da etnia fula num dia de festa tradicional (Cherno Baldé, Bissau)

(**) Vd. poste de 8 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15218: Memórias dos lugares (321):  Porto Gole, fevereiro de 1967: visita do Gen Arnaldo Schulz (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, 1966/68)

Guiné 63/74 - P15219: Notas de leitura (764): "O Quarteto de Alexandria", escrito por Lawrence Durrell, edição D. Quixote 2012 (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 4 de Outubro de 2015:

O tédio dos dias longos da reforma, que para muitos de nós se pode assemelhar a uma longa espera, de braços cruzados, dum fim inevitável que a todos nos aguarda, na sucessão dos dias e na curva dos anos, essa tristeza de horas vazias, que se pode transformar numa depressão melancólica e ligeira ou até numa depressão mais aguda, segundo os especialistas, pode ser combatida por várias formas.

Uma boa forma de o combater, aconselham eles, são as viagens. Viagens que até podem não ser muito longínquas mas que representam sempre, para quem as faz, uma mudança de rotina, uma mudança do cenário quotidiano, em que o espírito desperta e se reanima por estímulos novos, que podem ser cidades com outras ruas avenidas, pontes, rios, monumentos, outras gentes e outras paisagens.

Dado que ninguém pode andar sempre em viagem e sobretudo os reformados portugueses, a toda a hora assaltados pelos rapazes da política de mãos dadas com os banqueiros, temos que encontrar outras alternativas para nos ocuparmos nos longos meses que ainda sobram depois das viagens possíveis.

Alternativas possíveis há muitas: tratar dos netos, plantar uma horta, escrever um livro, ajudar a melhorar a vida dos presos, dos doentes, dos sem-abrigo, dos refugiados. Estas e outras actividades são uma boa terapia para as nossas horas de enfado e solidão.

Para os que preferem o aconchego do lar, podem sempre navegar na internete, o que se pode tornar um pouco cansativo depois de algumas breves horas. Navegar na internete ou ver televisão duma forma passiva, pode tornar-se pouco estimulante na medida em que o nosso trabalho cerebral é diminuto.

Para esses recomendo uma leitura de um livro ao seu gosto. Há tantos e tão variados; sobre saúde, psicologia, filosofia. sociologia, política, história, poesia, romances para todos os gostos, policiais, sentimentais, históricos, de viagens.

Nos livros, o nosso espírito encontra o alimento essencial para rejuvenescer, e todo o nosso ser viaja com eles pelos domínios do conhecimento e pela arte literária, essa arte onde as palavras nas suas diversas combinações fonéticas, sintácticas e figuras de estilo nos embriagam, pelos quadros de beleza que o escritor vai compondo.

Gostava de dormir, sobre ele, uma noite calma e feliz e que o meu cérebro conseguisse absorver toda a arte narrativa e literária deste livro denso e imenso, "O Quarteto de Alexandria" escrito por Lawrence Durrell.

Sem ser crítico literário, nem pretender ter conhecimentos e qualidades para tal, somente me atrevo a falar deste livro pela surpresa e espanto que senti quando o descobri e comecei a ler. Foi a segunda vez que eu repeti a leitura dum livro. A primeira vez li-o um pouco apressadamente, dei-me conta da sua beleza, mas não o li pausadamente para puder apreciar todos os seus contornos, pensamentos, quadros humanos e naturais. Procuro entendê-lo melhor nesta segunda leitura.

Este livro é uma sinfonia de melodias, de ritmos de cor, de palavras que nas variadas combinações que formam entre si adquirem outra vida, outro colorido. Este livro sente-se, vê-se, ouve-se, este livro pode declamar-se como um poema sem rima. Nas suas novecentas páginas é sólido como um tijolo e talvez mais perigoso como arma de arremesso. É um grande livro, para durar enquanto os homens lerem livros, um dos maiores romances do século XX.

O pano de fundo do romance é a cidade de Alexandria, essa cidade mítica, cultural, monumental, que o general grego Alexandre o Grande construiu à beira do Mediterrâneo, no cruzamento das antigas civilizações, egípcia, grega, romana, judaica e outras levantinas. Durante séculos, praticamente até à nossa era, Alexandria tornou-se um pólo de atracção de sonhadores e artistas da Europa e do Mundo.

Ao longo dos quatro livros que compõem o quarteto, o narrador vai falando da cidade, ruas e bairros, os habitantes, árabes, judeus, gregos e europeus, porto de mar, lago Mareotis, Mar Mediterrâneo, a cidade transforma-se também numa personagem importante da obra.

Nesse cruzamento de povos e de culturas, das mais avançadas de três continentes, os viajantes parecem procurar o esplendor antigo da cidade:
Quando o Farol de Alexandria iluminava o mar Medirerrâneo e assombrava pela sua grandeza e monumentalidade.
Quando a Biblioteca de Alexandria pela sua beleza e pelos seus muitos milhares de livros convidava todos os intelectuais, sábios, filósofos e outros amantes da sabedoria a fazer-lhe uma visita demorada.

Farol de Alexandria, construído por volta de 280 a.C. pelo arquitecto grego Sóstrato de Cnido
Foto com a devida vénia ao site por acaso

O trama do quarteto gira à volta das quatro personagens que dão nome a cada livro, tendo um lugar de destaque Justine, casada com Nessim, que desperta amizades e paixões eróticas destes e doutros protagonistas a que ela por vezes corresponde. Justine pela atração que provoca, pela sua sabedoria religiosa da Cabala e filosófica, pelas línguas que domina fluentemente faz ainda lembrar Cleópatra aquela alexandrina famosa do inicio da nossa era.

Duas mulheres muito belas e muito cultas mas bastante diferentes, Cleópatra foi uma rainha egípcia por sangue, da dinastia dos Ptolomeus, uma mulher ambiciosa e que pelo poder aceitou casar-se com os irmãos, como era hábito nessa e noutras dinastias egípcias e pelo poder rejeitou essas ligações e tornou-se amante ou mulher de dois generais e cônsules romanos. Justine é uma judia que teve uma vida difícil antes de casar com Nessim, um banqueiro egípcio de religião cristã copta, com quem tem também um grande entendimento filosófico, cuja ambição é conhecer com a ajuda dos outros o conhecimento necessário para conseguir o seu equilíbrio interior através duma teoria religiosa e filosófica satisfatória. Uma mulher frágil que atrai os outros pela sua beleza e pela força espiritual que parece emanar dela.

Nesse círculo de intelectuais e afins, respira-se uma atmosfera libertária no campo dos costumes e das ideias, são aceites tanto os místicos como os agnósticos ou ateus, os homossexuais ou os outros, é conhecido, sob algum sigilo, o caso de incesto de um escritor, infidelidade conjugal, sem escândalo, não só o de Justine..

Abro o livro à toa e transcrevo uma pequena passagem:

"Este gesto recordou-me aquela mulher grávida que me abordou certa noite e que, como eu procurasse afastar-me, me pegou na mão comprimindo-a contra o enorme ventre ou simplesmente talvez para dar uma ideia antecipada do prazer que me oferecia (ou simplesmente para exprimir a que ponto estava necessitada de dinheiro".

Confesso que esta passagem recolhida ao acaso até nem é das mais expressivas. Transcrevi-a pelo acaso e pela verosimilhança que lhe encontrei com uma passagem da minha vida, quando embarcado no navio Alfredo da Silva, a caminho da Guiné, passamos um dia na cidade da Praia em Cabo Verde.
O Alfredo da Silva era um navio, de porte médio, de carga e passageiros, propriedade da antiga CUF que fazia regularmente transportes para Cabo Verde e a Guiné. Militares íamos muito poucos, talvez uma dúzia, dos quais três eram topógrafos que ficaram em Cabo Verde, os restantes seguimos viagem para a Guiné, mobilizados em rendição individual.

À noite fomos a um baile popular, onde ao som dos ritmos africanos e cabo-verdianos toda a gente dançava, homens e mulheres, sobretudo mulheres velhas e novas. Quando saímos, na rua fui abordado por uma jovem grávida, já com uma grande barriga que me pediu com muita insistência para ir com ela. Nos meus 21 anos, senti-me embaraçado pela sua grande barriga, pela sua insistência com modos tão doces, e pelos seus olhos belos e tão meigos que, pensei para mim, traduziam mais a necessidade de dinheiro que lhe faltava, do que a simpatia ou encanto que poderia ter por mim.
E ela teimava em me agarrar a mão e o braço como um naufrago agarrado a uma tábua de salvação.
Por uma mistura de sentimentos onde havia além do embaraço de que falei, alguma compaixão e alguma ternura, tirei 50 pesos da carteira dei-lhos e despedi-me dela.

Cidade da Praia
Com a devida vénia a polemikos

Antes tínhamos ido comer lagostas a um café, mal descongeladas, que me terão provocado uma digestão difícil, ou isso, ou o mar agitado, sei que tive tantas náuseas, vómitos e mal-estar que o resto da viagem entre Cabo Verde e a Guiné passei-o deitado no quarto, tendo recebido a visita do médico de bordo, que me receitou duas injecções.

Já restabelecido desembarquei em Bissau e senti aquele sufoco de calor tropical que já tinha experimentado nas ilhas de Cabo Verde, já que o navio tinha feito escala em duas, para deixar mercadorias e emigrantes cabo-verdianos, que regressavam talvez de férias à terra, vindos do norte da Europa, sobretudo da Bélgica e Holanda, se bem me lembro.

Fujo do tema do grande livro que descobri e propago junto dos meus amigos e perco-me nessa viagem épica que todos fizemos com desembarque em Bissau. Enfim todos nós, guineenses por dois anos, enviados quase como prisioneiros, a combater, para essa terra de homens grandes, mulheres grandes e bajudas, voltámos vencidos pela afabilidade e simpatia dos nossos irmãos africanos e com essa mágoa sem remédio dos nossos camaradas que por lá caíram.

Só os outros, os que não experimentaram os nossos gostos e desgostos, é que não compreendem a nossa necessidade em evocarmos essa terra e esses tempos.

Um abraço.
Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15203: Notas de leitura (763): “Memória e Império, Comemorações em Portugal (1880-1960)”, por Maria Isabel João, Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2002 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15218: Memória dos lugares (321): Porto Gole, fevereiro de 1967: visita do Gen Arnaldo Schulz (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, 1966/68)


Foto nº 1 - Porto Gole, fevereiro de 1967; o Gen Arnaldo Schulz e um Ten-Coronel que não identifico


Foto nº 2 - Porto Gole, fevereiro de 1967: o Brigadeiro Reimão Nogueira e o régulo Sá Na Onça [, irmão do valoroso capitão de 2ª linha, Abna Na Onça, morto em Bissá];   de costas,  o Gen Arnaldo Schulz


Foto nº 3 - Porto Gole, fevereiro de 1967: o Gen Arnaldo Schulz, o Tenente Médico da CART 1661 (à direita)  e o Alferes Carlos Marchã,  Comandante do Pel Caç Nat 54 (à esquerda).


Foto nº 4 - Porto Gole, fevereiro de 1967:  a despedida: o Gen Arnaldo Schulz ao lado do piloto; em primeiro plano, à esquerda, um cabo especialista da FAP e , eu, à direita, com  as minhas botas alentejanas e o camuflado paraquedista trocado com um camarada numa operação no Morés em outubro de 1966. 

Fotos (e legendas) : © José António Viegas (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Mensagem de ontem,  de José António Viegas algarvio, ex-fur mil do Pel Caç Nat 54 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole e  Ilha das Galinhas, 1966/68):

 Caro Luis,  aí te envio algumas fotos de gente da Guiné nos anos de 1967.

Depois de ter passado por Mansabá, Enchalé e Missirá, assentei arrais em Porto Gole em fevereiro de 1967. 

Aí te envio algumas fotos da visita do General Arnaldo Schulz e do Brigadeiro Reimão Nogueira ao destacamento, onde se encontrava o Pelotão de Caçadores Nativos 54 e parte da CART 1661.

Vou tentar descobrir no baú mais memórias de Porto Gole.

Um abraço,
José António Viegas [, foto atual à esquerda]
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15170: Memória dos lugares (320): Academia Militar, Palácio da Bemposta, Lisboa, visita no âmbito do Festival Todos 2015 (Parte II)

Guiné 63/74 - P15217: História de vida (42): Clube dos Octogenários - Narrativa de 80 anos de vida (Coutinho e Lima)

1. Mensagem do nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), com data de 17 de Setembro de 2015:

Caro Amigo Carlos Vinhal
Junto envio o texto em epígrafe, no qual relato a minha vida, com relevo para a vida militar e dou algumas informações relativas ao próximo livro que comecei a escrever.

Um Abraço Amigo
Coutinho e Lima

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CLUBE DOS OCTOGENÁRIOS

Narrativa de 80 anos de vida

Ao entrar, por direito próprio, no Clube dos Octogenários, entendi fazer o que agora se designa como “narrativa” dos meus 80 anos de vida. É o que se segue.

Nome: Alexandre da Costa Coutinho e Lima
Nascimento: 21 de Setembro de 1935
Local: Freguesia de Vila Fria – Concelho de Viana do Castelo
Instrução Primária: 4 Classes, na Escola Primária de Vila Fria
Ensino Secundário: 5 anos no Liceu Nacional de Viana do Castelo 6.º e 7.º anos, no Liceu Camões, em Lisboa


Vida militar, postos, colocações e funções

Escola do Exército – 1953/56 
- 53/54 – Curso Geral Preparatório, no Aquartelamento da Amadora

- 54/56 – Curso de Artilharia, em Gomes Freire


Tirocínio para Oficial – 56/57 – na Escola Prática de Artilharia (EPA), em Vendas Novas.
Tive o privilégio de ter, como Comandante da Bateria de Instrução, o Sr. Capitão de Art.ª ERNESTO PASSOS RAMOS, um dos mais prestigiados Oficiais do Exército Português. Foi barbaramente assassinado pelo PAIGC (era Major), juntamente com outros Oficiais, em Abril de 1970, na região de Pelundo/Jolmete – Guiné.


Alferes e Tenente – 1957/61

- Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 – Serra do Pilar – V. N. de Gaia.

Durante este período, frequentei:
- Curso de Observador Aéreo de Art.ª na EPA e Base Aérea 3 – Tancos .
- Curso de Instrutor de Educação Física Militar, no CMEFED (Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos), em Mafra.


Capitão – 1961/70 

- Regimento de Artilharia Ligeira n.º 2 – Coimbra

- CMEFED

- CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné) – 1.ª Comissão – 63/65
Comandante da CART (Companhia de Artilharia) n.º 494 - Gadamael

- CMEFED

- CTIG – 2.ª Comissão - 68/70
Adjunto da Repartição de Operações do Comando-Chefe - Bissau

- Academia Militar


Major – 1970/76 

- Academia Militar

- CTIG – 3.ª Comissão (72/74)
Centro de Instrução Militar (CIM) em Bolama - Director de Instrução
Comandante do Comando Operacional n.º 5 (COP 5) – Guileje
Bissau - Prisão Preventiva (MAI 73/MAI 74), como consequência da Retirada de Guileje

- Estado Maior do Exército – 5.ª Repartição

- Quartel General da 3.ª Divisão – Santa Margarida – Chefe de Estado Maior (CEM)

- Academia Militar – Gabinete de Estudos

- Escola de Artilharia dos Estados Unidos da América – Fort Sill, Oklahoma
Curso Avançado de Artilharia – Field Artillery Officer Advanced Course (2-76)


Tenente Coronel - 1977/82 

- Academia Militar

- Comando da Área Ibero-Atlântica (COMIBERLANT) – Oficial de Pessoal e Segurança (JUL 77/NOV 80)

- Quartel General da Região Militar dos Açores (QG/ZMA) - CEM

- Centro de Instrução de Artilharia Anti-Aérea e Costa (CIAAC) – 2.º Comandante


Coronel – 1982/89

 - Direcção do Serviço de Educação Física do Exército (DSEFE) – Inspector

- QG/ZMA – CEM

- DSEFE – Inspector

Passagem à situação de Reserva – 1 de Setembro de 1989

Passagem à situação de Reforma – 1 de Setembro de 1995


Desempenho de funções não militares

- Director de Segurança do Metropolitano de Lisboa – 1989/1997

- Presidente da Direcção da Casa do Minho em Lisboa – 1988/89; 1992/93

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Depois desta descrição, penso que posso concluir que tive, durante 80 anos, uma vida militar muito variada e intensa, tendo aprendido sempre em todas as situações e circunstâncias.

Nas actividades, em tempo de paz, saliento as dedicadas à Educação Física: Curso de Instrutores no CMEFED (58), onde fui Instrutor em 62/63 e 65/68; mais tarde prestei serviço na DSEFE, antes e depois de ter sido, com o Posto de Coronel, CEM do Q/ZMA; na DSEFE desempenhei a função de Inspector.

Na guerra, têm especial relevância as 3 Comissões, por imposição, na Guiné, nas quais conheci os 3 Comandantes-Chefes: Senhores Generais ARNALDO SCHULZ, ANTÓNIO DE SPÍNOLA e BETTENCOURT RODRIGUES.  Por esta razão, tive oportunidade de verificar a evolução da guerra: no que respeita o IN, desde o baptismo de fogo, em 17 SET 63 (primeiro dia da CART 494, que eu comandava, em Ganjola – Norte de Catió) – 1.ª Comissão, até ao ataque em força a Guileje (3.ª Comissão), no período de 18/22 MAI 73, onde eu era o Comandante do COP 5.

Relativamente à actividade operacional, na 1.ª Comissão, a CART 494 (integrada no BCAÇ 513 – sede em Buba), ocupou a localidade de Gadamael (com um destacamento em Ganturé), materializando no terreno a Missão atribuída ao Batalhão, pelo Sr. Comandante-Chefe, Sr. General Arnaldo Schulz, de ocupar a fronteira Sul com a Rep. da Guiné Conacri. As outras posições ocupadas pelas NT foram Guileje, Sangonhá (com um destacamento em Cacoca) e Cameconde - destacamento da Companhia com sede em Cacine.

Na 2.ª Comissão, como Adjunto da Repartição de Operações do Comando-Chefe, em Bissau, (era Comandante-Chefe o Sr. General Spínola), tive oportunidade de viver a outra face da guerra, esta muito mais confortável.

Na 3.ª Comissão, (ainda era Comando-Chefe o Sr. General Spínola) com o posto de Major, comecei por ser Director de Instrução do Centro de Instrução Militar (CIM) em Bolama e a seguir Comandante do COP 5, em Guileje; em 22 MAI 73, decidi retirar desta localidade todos os militares, milícias e população, por ter considerado, face à negação de reforços, solicitada ao Comando-Chefe, conjugada com a intensa e constante pressão do IN (37 flagelações em 80 horas), a posição insustentável.

Como consequência, foi ordenada a minha prisão preventiva, com a instauração de um auto de corpo de delito.

Sobre este assunto escrevi o livro “A Retirada de Guileje”.

Presentemente, estou a escrever um 2.º livro (ainda na fase inicial), cujo título será “As minhas 3 Comissões, por imposição, na Guiné”.

Relativamente à 3.ª Comissão, não faz nenhum sentido e não o farei, repetir o que consta no livro já publicado. Nestas condições, é minha intenção:

- incluir no próximo livro, cópia da “Acta da Reunião de Comandos realizada em 15 de Maio de 1973, no Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, em Bissau” ; é um documento da maior importância, que será objecto de dois comentários: um sobre o seu conteúdo geral; outro analisando a decisão da retirada de Guileje, face ao que consta, na referida acta, das declarações de alguns dos participantes, nomeadamente o Sr. Comandante Adjunto Operacional e os Senhores Chefes das Repartições de Informações e Operações;

- publicar as críticas, positivas ou negativas, que chegaram ao meu conhecimento, sobre “A Retirada de Guileje”; das críticas negativas, algumas muito contundentes, destaco as de 4 Senhores Oficiais da Força Aérea (todos Pilotos Aviadores): 3 Oficiais Generais e 1 Tenente Coronel;

- solicitar, a todos os militares que estavam em Guileje, no período de 18/22 MAI 73, uma opinião sobre a decisão de retirar de Guileje, se assim o entenderem.

Importa referir que, destes militares, apenas um apresentou no nosso blogue, uma crítica, muito severa, sobre este assunto – Soldado Constantino Costa; embora eu lhe tenha respondido, a opinião deste militar perde toda a credibilidade, ao afirmar que os relatórios de operações da Companhia eram todos iguais (qualquer que fosse a missão), apenas mudava a data e que, depois do 25 de Abril (na sua designação 25 A), fora eleito representante dos Oficiais, Sargentos e Praças da Companhia, junto da estrutura do MFA na Guiné; tais afirmações, como terei oportunidade de provar, são puras mentiras.

Aproveito esta oportunidade para sugerir aos componentes da nossa Tabanca Grande, se assim o entenderem, que me façam chegar a sua opinião sobre a decisão que tomei de retirar de Guileje, para serem incluídas no meu próximo livro.

Alexandre da Costa Coutinho e Lima
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15197: História de vida (41): Regressei a 6/11/1968 e casei-me a 29/6/1969, com uma das minhas madrinhas de guerra...Soube pelo padre que a tropa me tinha dado como morto... (Mário Gaspar,ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15216: O nosso querido mês de férias (18): Viagem Bissau-Lisboa-Porto-Lisboa-Bissau paga a prestações porque o patacão não transbordava das algibeiras (António Tavares)

1. Ainda a propósito das nossa férias, recebemos esta mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 4 de Outubro de 2015:

Camarigos,

Ao ler o P15178, do tema “O nosso querido mês de férias”, recordo:

- Em 03Agosto1971 paguei, na Agência Correia, Bissau, CTIGuiné, o total de 6 430$80 pela viagem: BISSAU - LISBOA - PORTO - LISBOA - BISSAU.
- Voei na TAP e tive direito a um Saco de Pernoita, que ainda possuo.
- Viajei na modalidade: VIAJE AGORA PAGUE DEPOIS.
- Em três prestações paguei a importância total, que não ganhava, como explico: 4.430$80 em 03-08-71; 500$00 em 22-09-71 e finalmente 1.500$00 em 21-10-1971.

Se repararem na cópia do bilhete consta uma taxa de 110$80. O ZÉ pagante teve sempre Taxas e Selos à perna. O pagamento foi em Pesos.
- O Escudo era trocado com uma agiotagem de 10%.
- A viagem foi no dia 04 de Agosto de 1971 e regressei no dia 07 de Setembro de 1971.


Os camaradas mais atentos verificarão que acabei de pagar a totalidade das prestações depois da minha chegada de regresso ao CTIGuiné. Porque o “patacão” não transbordava das algibeiras tinha de aproveitar todas as facilidades de pagamento autorizadas.

Com um abraço,
António Tavares
Foz do Douro,
Domingo 04 de Outubro de 2015
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 Nota do editor

 Último poste da série de 7 de Outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15211: O nosso querido mês de férias (17): Vim a casa uma vez, em agosto de 1965, na TAP, num Super Constellation, como simples passageiro... e estava longe de imaginar que cinco anos depois estaria aos comandos de um Caravelle, como piloto da mesma, saudosa, companhia... (João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)

Guiné 63/74 - P15215: Fotos à procura de... uma legenda (63): Bajudas de Bambadinca, fevereiro de 1970: um "grupo de idade" da etnia fula num dia de festa tradicional (Cherno Baldé, Bissau)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > BCAÇ 2852 (1968/70) > Pel Rec Daimler 2046 (1968/1970) > Fevereiro de 1970 > "Eu com um belo conjunto de bajudas junto à capela"..

Foto (e legenda): © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



1. Mensagem de hoje do nosso amigo e irmãozinho Cherno Baldé, que vive hoje em Bissau, respondendo pronta e amavelmente a um pedido do editor LG para completar a legenda da foto (*):

Caro amigo Luis Graça,

Antes de mais aproveito para felicitar o Jaime  Machado (ex-alferes), pelas imagens do tempo que passou (e bem) em Bambadinca (*), o que mostra o seu elevado nível de cultura, já naquela época, muito acima da média daquilo a que a tropa em geral nos tinha habituado.

E em jeito de resposta àquestão do Luís Graça (**), na minha opinião, acho que as imagens retratam um "grupo de idade" da etnia fula num dia de festa tradicional. Por força da islamização, as festas desta etnia são quase todas de natureza religiosa. [Em inglês, "age set",conceito socioantropológico; vd. Enciclopaedia Britannica]

A postura e o olhar algo envergonhados, a indumentária, os penteados e os enfeites na cabeça e no corpo, dizem isso mesmo.

Ainda seriam solteiras mas, nesta idade estariam todas comprometidas (com casamentos arranjados entre os pais) e aproveitam os últimos meses de liberdade antes do casamento.

A presença de elementos ou símbolos estranhos usados como adornos pode ser explicada por razões de urbanização e da crescente mistura/influência de outros hábitos e culturas em Bambadinca (centro urbano e importante elo de ligação ao resto do país) e arredores, devido à guerra e ao movimento das populações.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé

PS - A expressao "islamizado/a"  não é  correcta, seria mais correcto dizer "islâmico/a",  pois já nasceram dentro de uma familia, meio e cultura islâmicas, mesmo que superficial. Islamizados seriam os seus bisavos que, de facto foram coagidos (de forma voluntária ou não) a uma conversão, muitas vezes forçaada, nos sec. XVIII/XIX.

Guiné 63/74 - P15214: Convívios (715): Almoço de Confraternização do pessoal da CART 1659 – ZORBA, levado a efeito no Concelho da Batalha, no passado dia 26 de Setembro de 2015 (Mário Vitorino Gaspar)

1. Em mensagem do dia 3 de Outubro de 2015, o nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) enviou-nos o rescaldo do Convívio da sua Unidade levado a efeito no passado dia 26 de Setembro,  na Batalha.


Almoço de Confraternização da CART 1659 – ZORBA
Restaurante Pérola do Fetal
Reguengos do Fetal – Concelho da Batalha
26 de Setembro de 2015

No dia 26 de Setembro, após Encontro de Amigos – abraços e risos, barriga de uns e cabelo branco, ou liso de todo de outros – recordações, também colocada a questão: – Estou a conhecer-te mas não sei quem és… Passaram 47 anos. Tudo passado junto ao lindo Mosteiro da Batalha. As aranhas tecem teias e as tecedeiras tecem linho e o homem teceu pedra e fez o Mosteiro.

Guiné bem longe – Gadamael Porto e Ganturé.

Depois de um primeiro encontro, uma ou outra surpresa, para além do envelhecimento, via-se em cada um o jovem que fora. Recordados momentos. Não vi sinais de se reviverem os maus momentos, muito embora me viessem à memória, ao olhar um a um cada rosto. Confundi-me, não tinha a certeza. Quando não sabia, não tive problemas em perguntar.

Recordei os mortos da Companhia: Furriel Miliciano Vítor José Correia Pestana e do Soldado António Lopes da Costa a 12 de Outubro de 1967, vítimas de uma armadilha, e em 26 de Março de 1968 atingido de morte o Soldado Manuel Ferreira da Silva num ataque ao destacamento de Ganturé. Eles marcaram presença no almoço.

Seguimos para o Restaurante “Pérola do Fetal” – Reguengos do Fetal ficando na Serra de Aire, pertence ao concelho da Batalha.

Seguiu-se o almoço e a cavaqueira. Relembrámos aqueles que não tinham aparecido. Num ou outro caso faleceram, outros que desconhecíamos os motivos da falta. Confraternizámos, o alvo principal, nosso Capitão Miliciano e de Infantaria Manuel Francisco Fernandes de Mansilha, agora Advogado.


À esquerda: eu, o Jorge e atrás o Pedreiro e à frente – o terceiro a contar da esquerda o Justo – Guerreiro Justo. De blusão e camisa azul o Capitão Mansilha e do lado direito, à frente e de casaco – a surpresa Alferes Miliciano Júlio César Sousa Alves Moreira (um dos cinco Comandantes de Pelotão que tive) No fundo o Alves, Biga, Vitorino à esquerda de Mansilha o Pereira


Agora com as esposas e filhos de alguns. É difícil, mas a espreitar no lado direito, Pereira no seu lado direito o Barreira (1.º Sargento e à sua esquerda a sua esposa). O Alves está agachado, à sua direita o filho do Batista, o homem da bazuca da minha Secção


Ainda tenho a sopa de peixe no prato, e à direita o Maia de MA – foi ferido e o Pereira (Sargento)

As entradas e a sopa de peixe. Estive com a sopa mais de meia hora, já todos tinham comodo. Conversa com os Amigos. O Maia a meu lado esquerdo e a seguir o Pereira a quem roubei três galinhas e matei com uma fisga, a primeira não morreu com as fisgadas e matei-a com a faca de mato. Todos comeram galinha. E o Pereira dizia mais tarde: – Quem foi o filho da… que me roubou as galinhas? Anos depois contei-lhe.

Os meus velhos Amigos Jorge, Pedreiro e sua esposa e mais Amigos. Não os esquecerei
 

O Capitão, tendo à sua esquerda e em pé o Batista
 

É pena que não tenham ido ao Almoço mais Amigos Camaradas

O Biga faz contas à vida e na mesa atrás, o Capitão ao lado do filho. No lado direito está o Sargento Barreira e ao lado a esposa

Conversei com o Barreira e ainda se recorda, até foi ele mesmo que recordou as partidas que eu fazia ao Justo. Armadilhava-lhe a cama, dormia ao meu lado. Apanhava cada susto mas recuperava bem, ficando preparado para outra. Desafiava-me: – Já não me enganas!

Mas logo de seguida lá ia outra: ou na almofada; no rádio; num caixote, nos sapatos em qualquer que menos esperava.

Recordámos um episódio que foi na altura confortável. A minha mãe aproveitava os jornais desportivos que me enviava, para colocar entre eles uma posta de bacalhau alta. Penso que vinha de via aérea como jornais, mais barato. Eu quando tinha 2/3 postas, por vezes enviava de uma vez, pedia ao magríssimo Cozinheiro Lima que com tomate fizesse com o bacalhau desfiado e cru. Todos comiam e o 1.º Barreira dizia-me no fim: – A tua mãe continua a enviar-te bom bacalhau!

Um dia ao passar pelo armário – que era um caixote improvisado, como tudo – estava aberto e tinha postas de bacalhau que a mulher enviava. Espreitei e tirei talvez três boas postas que dei ao Lima. Todos comiam, fosse muito ou pouco. O Barreira depois de saborear o petisco diz: – A tua mãe continua a enviar bom bacalhau!

Respondi:
– Desta vez não foi a minha mãe, mas a sua mulher!

Era uma brincadeira, não se tratava de roubar fosse o que fosse, todos compreendiam. E riam.


O Alves à esquerda e no centro o Justo – engordou muito. A mesa ao fundo é a minha
 

E o bolo, uma beleza – não falta o lema da ZORBA - “Os Homens Não Morrem”
 

Passámos ao período do bolo, tragar uma fatia e comemorar este encontro. Um dia bem passado, recordando o tempo que ficou para trás. Honra para os mortos e os vivos que recordem: “OS HOMENS NÃO MORREM”

Discursou o Capitão Mansilha, depois de ter falado nestas quadras que lhe enviaram, disse ser curioso a Comemoração dos 50 Anos. Se forem da partida será Janeiro de 2017 e se for a chegada será em Novembro de 2018.

Propus que nesse dia o Almoço fosse em local em que fosse possível deixar uma marca. Talvez a colocação de uma Placa Alusiva ao facto. Será algo para pensar.

O Capitão Miliciano e de Infantaria Manuel Francisco Fernandes de Mansilha, leu as quadras que lhe enviaram em 2011 pelo Natal

Feliz Natal

Bem certo que o tempo passa…
Já nos vai pesando o pé!
Mas não há nada que faça…
Esquecermos a Guiné!

Algures em Gadamael…
Os outros em Ganturé.
Fulas, mandingas, papel
Sobe o rio com a maré.

Tempos difíceis, claro.
Sei que se foi cimentando.
A amizade. Um dom raro.
Que estamos comemorando.

Caro Mendes, Cabo Cripto.
Que que decifravas a mensagem.
Magro como um eucalipto.
Sempre com fé e coragem.

Vale a pena acreditar.
Que há mar e os rios correm.
O que nos fez regressar?!
Foi porque “OS HOMENS NÃO MORREM”.

Feliz Natal para si e
Para toda a Família
Natal de 2011

Terminámos este dia que ficará gravado na memória de todos. Voltaremos.

Texto do Ex Furriel Miliciano Mário Vitorino Gaspar
Fotos: Eduardo Mansilha e Fidelino Valada
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15193: Convívios (714): Encontro do pessoal da CCAÇ 2797 e Pel Canh SR 2199, a realizar no próximo dia 10 de Outubro de 2015, em Fátima (Luís de Sousa)

Guiné 63/74 - P15213: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte XV: fotos de despedida, em fevereiro de 1970, com as beldades locais


Foto nº 1


Foto nº 1 A 



Foto nº 1 B


Foto nº 1 C


Foto nº 2


 Foto nº 2 A 


Foto nº 2 B


Foto nº 2 C




Foto nº 3


Foto nº 3 A


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > BCAÇ 2852 (1968/70) > Pel Rec Daimler 2046 (1968/1970) >   Fevereiro de 1970 > "Eu com um belo conjunto de bajudas junto à capela"...Não, não é foto de despedida, embora dias mais tarde, finda a comissão, em fevereiro de 1970, o Pel Rec Daimler 2046, comandado pelo Jaime Machado, partisse  para Bissau donde regressaria à metrópole, no T/T Niassa, em abril de 1970.

Fotos (e legenda): © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



1. Continuação da publicação do belíssimo álbum fotográfico do Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968 / fevereiro de 1970, ao tempo dos BART 1904 e BCAÇ 2852) (*).




[foto atual à direita; o Jaime Machado reside em Senhora da Hora, Matosinhos; sua avó paterna era moçambicana; mantém com a Guiné-Bissau uma forte relação afetiva e de solidariedade, através do Lions Clube; voltou à Guine-Bissau em 2010]



2. Comentário do editor:

Ao tempo do BART 2917 (1970/72), que o Jaime já não conheceu, havia só no regulado de Badora (que incluía, Bambadinca, o principal núcleo populacional com c. de 1500 habitantes), uma população total (recenseada e controlada pelas NT) de c. de 12 mil, metade dos quais de etnia fula.

Os restantes eram mandingas (20%), balantas (20%) e outros (10%), onde se incluíam mansoanques, manjacos e alguns caboverdianos e metropolitanos, cristãos.

No conjunto  do setor L1 (que incluia ainda os regulados do Xime, Corubal, Enxalé e Cuor), o total da população sob o nosso controlo não ia além dos 15200. Segundo a  mesma fonte (a história do BART 2917), a população sob controlo do IN, andaria à volta das "5400 pessoas, na sua maioria de etnia Balanta, Beafada ou Mandinga" (nos regulados do Corubal, Xime, Enxalé e Cuor).

Perguntei ao Jaime Machado o que é que estas beldades, bem arranjadas, "bem produzidas" (como se diz no norte),  fariam aqui, junto à capela de Bambadinca,  em fevereiro de 1970 ? Era dia de festa ?  Era domingo ? Seriam cristãs ? Seriam mandingas ?

Apesar da sua "memória de elefante", o Jaime confessou que não se recorda de mais pormenores: não, elas não vieram despedir-se do "alfero", nenhum delas era sua conhecida, estavam em grupo, por ali, junto à capela (que ficava em frente ao edifíico de comando, quartos e messes de oficiais e sargentos) e o fotógrafo, oportuno, zás!, tirou-lhes uma chapa...

O outro militar que aparece no grupo  (fotos nº 2, 2 A, 2 B) pertencia à CCS/BCAÇ 2852 e não ao Pel Rec Daimler 2046... O Jaime admite que elas fossem cristãs, estavam com ar domimngueiro, bem vestidas e calçadas. (De facto, não há nenhuma descalça...).

Quanto a mim, seriam mandingas, a avaliar pelas feições, pelo vestuário e pelos adornos... Embora houvesse de facto uma pequena comunidade cristã em Bambadinca, não vejo crucifixos ao peito, mas sim colares, e numa delas com um amuleto (talvez em prata, uma figa, que é de origem europeia,  etrusca e romana, e não africana, estando associada originalmente ao erotismo e à fertiliddae, e hoje à proteção contra o mau olhado) (foto nº 2 B)... Mas,  vendo bem, a bajuda do lado direito, na foto nº 2 C, parece trazer ao peito um colar com um crucifixo... E a do lado esquerdo, traz um medalhinha...  a do meio usa sutião ("corpinho"), o que é um hábito ocidental... Se calhar, neste grupo todas já usavam "corpinho"...

Por outro lado, a porta da capela está fechada... Fica a dúvida: seriam bajudas cristãs ouu mandingas, islamizadas ? Um certeza: para estas lindas, amorosas, bajudas, era um "dia de ronco", talvez elas fossem, frescas, alegres e divertidas,  para algum casamento, ali em Bambadinca ou em Bambadincazinho.  (LG)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Crianças cristãs, em dia de primeira comunhão, ao tempo da CCS/BCAÇ 2952 (1968/70). Foto do álbum do ex-fur mil rebastecimentos José Carlos Lopes, nosso grã-tabanqueiro nº 604.

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)

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Guiné 63/74 - P15212: Os nossos seres, saberes e lazeres (118): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
O pretexto era uma estadia folgada em Antuérpia, mas ao chegar e o regressar, o viandante não gosta de tempos mortos e tem gente muito afável e que o estima por aquelas paragens.
Este é o relatório do primeiro dia, a partir da chegada à Portela, nem sete da manhã eram. O dia rendeu, foi um verdadeiro regresso ao local do crime, o tempo ajudou, amanhã já não será assim. Não escondo o fascínio que estes lugares me provocam, por alguma coisa eram conhecidos pelo nome de Países Baixos Meridionais. Estava excitado, há um ror de tempo que não visitava Antuérpia e mal conhecia as Ardenas, suspirava por conhecer aquela floresta que foi palco da última grande batalha ocidental da II Guerra Mundial.

Um abraço do
Mário


Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (1)

Beja Santos

Volto ao local do crime, Bruxelas, mesmo que o mesmo destino principal seja Antuérpia. Viajei no primeiro voo da manhã, um grande amigo vai-me buscar a Zavantem, o aeroporto, poucos dão por isso mas está em território flamengo. Quinze minutos depois, em linha reta, chego a Watermael-Boitsfort, a minha guarida. Despachei uma sopa e um pão, aparentemente está um dia radioso, temperatura suave, é uma questão de apanhar o metro, atiro-me para o centro da cidade. Ando com saudades de entrar na igreja de S. Nicolau, a poucos metros da Grand-Place, deve a sua imponência ao facto do Santo ser o padroeiro de padeiros, comerciantes e navegantes. É um tempo que entusiasma pois tem adossado às paredes laterais edifícios civis, hoje é uma igreja barroca, toda aquela pompa me deixa indiferente mas há detalhes de uma forte atração. Logo o esplendoroso relicário dos mártires de Gorkum, tem a ver com as guerras entre católicos e protestantes, é um trabalho assombroso. Como se contempla com ternura a imagem de Nossa Senhora da Paz, que vem do século XVI, o quadro atribuído a Rubens, a Virgem com o Menino Jesus, e deixo para o fim o Cristo Espanhol do século XVI.






Finda a visita a este edifício que vem dos séculos XI e XII, que foi severamente destruído pelos canhões do marechal de Villeroy, a mandado de Luís XIV, em 1695, atiro-me para os bulevares, estou esfaimado por ver livros. Por aqui andei, vi títulos sobre África a rodos, as edições que vendem prende-se sobretudo com o Norte de África, mas deixei de me deliciar uma obra espantosa sobre a arte dos Nalus e dos Bagas, já da Guiné-Conacri, mas com imensas semelhanças à arte genial que podemos visitar no Museu Nacional da Etnologia ou na Sociedade de Geografia de Lisboa. É apaziguador ver um dos focos mais criativos da arte africana admirado sem reservas.


Faço inversão de marcha, é altura de uma confidência. Nos primeiros anos em que calcorreei Bruxelas, fiquei num hotel baratucho que tinha um nome ofuscante, George V. Passava obrigatoriamente por um espaço que me intrigava, belo mas fechado. Anos depois abriu, fui logo lá espreitar. Chama-se os Halles de Saint Géry, era o antigo mercado do peixe no centro de Bruxelas. Criaram ali um espaço de lazer, a autarquia abriu serviços relacionados com a preservação ambiental e a proteção do património, e há exposições. Vejam um caso de sucesso na reabilitação de um mercado que parecia sem préstimo.



Não, esta imagem não é para encher, é para tentar dizer aos leitores que é relativamente fácil ver numa quase amálgama quatro estilos arquitetónicos distintos nesta cidade que já foi esplendorosa, em 1900 a Bélgica era a quinta potência industrial mundial e a fortuna do rei Leopoldo, o proprietário do Congo, era tão desmesurada que deu para imitar Paris. Punha-se pois o imperativo de adaptar, fazer novo junto do velho. E o resultado nem sempre é feliz.




Estava patente uma exposição de fotografia artística, procurei abocanhar tudo, está por aqui muita investigação, muita apuro técnico, para mim é uma fotografia que se aproxima do grafismo da banda desenhada, talvez quem estude publicidade e desenho não concorde comigo, mas que me fascina, fascina.





Aproveito a boa luz do fim de tarde para cirandar à volta dos grandes bulevares, o meu último trabalho de turista até regressar a casa é vascular num espaço familiar, a livraria Pêle-Mêle (significa desordem, bagunça), a ver se encontro livros e cds apetitosos, pelo caminho depara-se-me esta esplêndida porta, depois um prédio ferro-de-engomar, logo a seguir um falso gótico (é do século XIX, ainda do tempo de grande religiosidade) da Igreja de Santa Catarina e esta torre ficou-me no goto, será vestígio de uma igreja destruída durante a I Guerra Mundial? Seja o que for, tem muita beleza. Agora vou trabalhar à volta do papel e da música que me leva às estrelas. A viagem prossegue amanhã.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15179: Os nossos seres, saberes e lazeres (117): Un viaggio nel sud Italia (8): Roma, addio