terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14124: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, 18 de Abril de 2015 (2): Divulgação da Ementa, preços, prazos para as inscrições e outras informações (Joaquim Mexia Alves / Miguel Pessoa / Carlos Vinhal)

Monte Real, 14 de Junho de 2014 > Foto da Grande Família do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
Foto: © Manuel Resende  (2014). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem da Organização do X Encontro Nacional à Tertúlia:

Ontem mesmo o camarada Joaquim Mexia Alves (para nós o camarigo Joaquim), mandou ao Blogue a ementa (publicada mais abaixo)  do X Encontro Nacional da Tabanca Grande, que se vai realizar já no dia 18 de Abril no Palace Hotel de Monte Real.

Como dissemos no primeiro Poste, o Hotel vai manter os preços dos anos anteriores, coisa que nos tempos que correm nos apraz registar, que é de 30€ para adultos e 15€ para os mais pequenos. 
Incluem, como é hábito, o Almoço e o Lanche. E ainda... a possibilidade de ocupar (pacificamente) as belíssimas instações desta Unidade Hoteleira, e bosque adjacente, pela tarde dentro, desfrutando do convívio entre camaradas.

Como os assíduos frequentadores dos nossos Convívios sabem, o Hotel disponibiliza aos participantes que o solicitarem na altura da inscrição, alojamento e pequeno almoço a preço especial:
Quarto duplo - 60€
Quarto Single -  55€
A reserva deve ser feita atempadamente, através da Organização do Encontro, sendo confirmada, logo que possível, de acordo com a disponibilidade do Hotel.

Vamos abrir as inscrições no dia 15 do próximo mês de Fevereiro, que se prolongarão até 10 de Abril, pelo que temos pela frente um mês de reflexão e mais dois para acção.
Como sempre, pedimos que não se deixem para o fim para facilitarem a vida a quem tem em mãos a coordenação das reservas de pernoita e das inscrições para o almoço, no caso, o amigo Joaquim Mexia Alves.

Fica aqui também a notícia de que este ano o camarada Miguel Pessoa vai enviar aos participantes no X Encontro um modelo de crachá, personalizado, que servirá também para futuros Convívios, e outras ocasiões, onde os seus possuidores se queiram identificar como pertencentes à Tertúlia do nosso Blogue.
Assim, no próximo ano (XI Encontro Nacional) serão distribuídos cartões só aos novos participantes e àqueles que perderam o cartão enviado este ano, a seu pedido expresso. A "multa", para estes últimos, será pagar o Almoço ao criador do nosso bonito crachá, o nosso brilhante designer Miguel Pessoa.
Porque, como dizemos, o crachá não é exclusivo para os Encontros Nacionais, quem da tertúlia quiser obter um para outros fins, deverá solicitá-lo.

Voltamos a lembrar que no acto da inscrição devem identificar a/o vossa(o) acompanhante, mencionarem de onde se deslocam e se querem pernoitar no Hotel.

Relembramos que este Convívio é destinado à tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, acompanhantes por eles inscritos (amigos e/ou familiares), extensivo a todos os camaradas que tenham cumprido a sua comissão de serviço na Guiné, ou a pessoas que de alguma maneira se sintam ligadas à actual Guiné-Bissau, por exemplo: cooperantes, naturais e outros.
A Organização poderá rejeitar a inscrição de pessoas que não se encontrem nas condições acima descritas.

Continuamos ao vosso inteiro dispor no email carlos.vinhal@gmail.com para qualquer esclarecimento adicional.

Os Organizadores:
Luís Graça
Joaquim Mexia Alves
Miguel Pessoa
Carlos Vinhal

E M E N T A


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2. Em Abril de 2015, além de completarmos 10 Encontros consecutivos no dia 18, festejaremos o 11.º aniversário do Blogue no dia 23, já que neste dia de Abril do ano de 2004, o fundador e editor principal, Luís Graça, publicou o post n.º 1 - Guiné 63/74 – P1: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça).

Entretanto o Blogue foi crescendo, e aderiram à Tertúlia centenas de ex-combatentes da Guiné e alguns amigos  tertulianos que fazem nós um efectivo superior a um Batalhão Militar. As armas bélicas, já as entregámos há muito, mas continuamos armados da nossa perseverança, empenhados nesta luta para que não sejamos relegados ao esquecimento. 
Porque cabe a todos nós esta tarefa e sabendo que há imensos camaradas que nos lêm e não se dispõem a "dar a cara", aqui fica o desafio para que se juntem anós. Hoje somos 676 (destes, alguns já nos deixaram fisicamente, infelizmente), mas em Abril próximo seremos 700, assim o queiram.

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3. Aproveitamos para deixar aqui esta mensagem do nosso camarada Rui Vieira Coelho, médico, (ex-Alf Mil Médico que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e 4518, Galomaro, 1973/74), enviada no passado dia 4 de Novembro de 2014 ao nosso Blogue:

Provavelmente irei e com muito gosto, conviver com toda uma Malta que passou e comeu o pão que o diabo amassou, e que após o 25 de Abril, tão maltratado foi e quase olhado como criminosos colonialistas. Cabe-nos no entanto acreditar, como foi durante estes 40 anos, em nós e ter sempre a esperança de que a história mais tarde ou mais cedo, nos iria dar razão, como tem sido todo o desenvolvimento político medíocre, que nos calhou democraticamente .

Será pois além de tudo uma troca efectiva de ideias lúcidas e que mostra o sentido gregário de todos os ex-combatentes da Guiné, e que continuam a lutar pelo desenvolvimento desta Terra que a todos marcou. A Missão que nos foi confiada, levou a inúmeros sacrifícios, saudades, quebras e separações mas sempre norteadas pelo desenvolvimento das populações onde estávamos estacionados e pela harmonia necessária e a equidade de tratamento entre 23 etnias, pelas quais éramos o denominador comum e o factor de uma união difícil, tanta a diversidade cultural, religiosa, linguística, educacional, nos modos e costumes de gentes tão diferentes, que nós sentíamos como nossas, com direitos e deveres iguais aos nossos.

O desenvolvimento foi enorme enquanto lá estivemos e foi um retrocesso brutal das condições sócio-económicas quer no campo da saúde, educação, justiça com um aumento brutal da criminalidade organizada, ligada ao narcotráfico, e matança indiscriminada dos nossos camaradas africanos, perpretada no tempo de Luís Cabral, ignorada pelos políticos portugueses da altura que fizeram vista grossa perante este hediondo crime contra a Humanidade. Tudo isto nos leva a acreditar e a ter esperança que tudo isto vai mudar, e que no futuro os erros cometidos jamais voltarão a determinar as nossas vidas e a dos nossos filhos e netos.

O desenvolvimento da CPLP e dos Palop's, será determinante no desenvolvimento económico e do emprego em Portugal e devemos divergir da Europa para a qual fomos empurrados, pois desta só vemos austeridade, esvaziamento de ideias, não solidariedade, perseguição, aproveitamento de emigração de qualidade, esbulhamento das nossas melhores empresas, e perda da soberania por dependência económica. A nossa Vocação Marítima será determinante historicamente no reencontro com os nossos Povos Irmãos e no Desenvolvimento Comum interrompido, por tantos Países e tantos Políticos míopes e dos quais a História não deixará de os excluir.

Um alfa bravo do camarigo
Rui
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Nota do editor

Poste anterior de 4 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13846: X Encontro Nacional da Tabanca Grande (1): Foi já feita a reserva para a nossa festa de 18 de Abril de 2015 no Palace Hotel de Monte Real (Joaquim Mexia Alves / Carlos Vinhal)

Guiné 63774 - P14123: As nossas queridas enfermeiras paraquedistas (32): A morte da camarada Enfermeira Paraquedista Celeste Costa (Giselda Pessoa)

1. Mensagem da nossa querida camarada Giselda Pessoa (ex-2.º Srgt Enf.ª Pára-quedista, BA 12, 1972/74, com data de 5 de Janeiro de 2015:

A preparação do livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas" iniciou-se há já cerca de dois anos (!) e para o efeito todas nós fomos solicitadas a dar o nosso contributo, fornecendo à equipa coordenadora textos que focassem aspectos que considerássemos importantes da nossa passagem pelo Corpo de Enfermeiras Paraquedistas.

Assim fiz, enviando alguns textos revistos cuja versão original já tinha sido publicada em blogues (caso da Tabanca Grande, Tabanca do Centro e Especialistas da BA12), outros originais, escritos de propósito para o referido livro.
Naturalmente, como podem compreender, evitei utilizar até agora este material, não sabendo o que iria ser integrado definitivamente no nosso livro. Publicado este (o que sucedeu no final de Novembro), estou à vontade para avançar com a publicação de dois ou três textos que não chegaram a ser incluídos na obra. Este é um deles, um texto original escrito há dois anos, que só agora é publicado.
Giselda

A MORTE DE UMA CAMARADA


Tive um relacionamento próximo com a Enfermeira Celeste em dois períodos diferentes. Frequentámos ambas o mesmo curso de pára-quedismo e partilhávamos os nossos momentos de folia, misturados com algumas pequenas “patifarias” inocentes próprias da nossa juventude.
Separámo-nos momentaneamente após o curso – ela foi para Angola, depois para os Açores, eu segui para Moçambique e mais tarde para a Guiné. Foi aí que em 1972 a Celeste me foi encontrar novamente.
Guardo dela a imagem de uma boa profissional, brincalhona nos momentos certos e sempre boa camarada.
A sua morte ocorre no mesmo dia em que embarco para Lisboa acompanhando um grupo de evacuados. 
O pedido de evacuação surge à hora de almoço e a Celeste avança para o DO-27. Embora não fosse procedimento aprovado o avião já tinha o motor a trabalhar – o que aliás era usual, para diminuir o tempo até à descolagem. 
Nunca se poderá explicar o sucedido, mas o facto é que, depois de ter colocado o material de evacuação na parte traseira do avião, pela porta traseira do lado esquerdo, a Celeste decide passar por baixo do avião – entre o trem dianteiro e o motor (a rodar) – para ocupar o banco da frente (do lado direito) ao lado do piloto.
Pensa-se que poderá ter tido uma desconcentração ou uma falta de equilíbrio, tendo sido atingida pela hélice do DO, o que lhe provocou morte imediata. 
Sem saber do sucedido na Guiné eu tinha entretanto efectuado a minha ida para Lisboa acompanhando os evacuados e como era norma fui apresentar-me na Direcção do Serviço de Saúde, na Avenida da Liberdade. Estranhamente o Director não me quis receber, tendo a sua secretária sugerido que eu fosse falar com a minha colega que estava ali colocada. Quando ela me viu, não conseguiu dizer nada, apenas se rindo com um riso esquisito. Quando eu lhe perguntava o que é que se passava continuava a rir-se, não conseguindo falar. Acabou por ser a secretária a informar-me da morte da Celeste. Saí dali meio em choque e apenas me lembro de ter chegado à beira do Tejo, bem longe do AT1 (Portela), onde pretendia dirigir-me para marcar a viagem de regresso à Guiné.
Novamente na Guiné, por mais que uma vez fui interpelada por pessoal que estava plenamente convencido de que eu é que tinha morrido naquele acidente. Isso terá sido devido também ao facto de eu ter arrancado para Lisboa nesse mesmo dia e deixar de ser vista na Base e nos locais onde normalmente me deslocava.
Deu-se o caso de, passados já uns meses, quando num Boeing da FAP regressava à Guiné após uma deslocação a Lisboa, ter sido solicitada para dar apoio a um dos militares assistentes de cabine que repentinamente se tinha sentido mal. 
Recuperado este, ainda pálido da emoção sentida, disse-me que pensava que o acidente tinha sido comigo e que ao longo de todos aqueles meses tinha ficado convencido (pelas conversas com outros) que eu tinha morrido naquele dia.
Como se deve calcular, o piloto envolvido neste acidente ficou bastante abalado com a ocorrência, tendo eu sentido a necessidade de, no dia-a-dia na Base e nos transportes para casa, lhe dar o apoio que sentia ser-lhe necessário, até porque percebemos que ele considerava haver da nossa parte um comportamento mais distanciado após o sucedido. Compreendíamos todas que uma situação como esta apenas sucede a quem lá anda e que era necessário ajudar o piloto a ultrapassar este trauma. Penso que tal foi conseguido pois o piloto em causa acabou por continuar a voar, cumprindo a sua comissão de serviço até ao fim.  

Giselda Pessoa
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de dezembro de 2012 > Guiné 63774 - P10791: As nossas queridas enfermeiras paraquedistas (31): "É a Céu!", diz a Rosa Serra... Quanto ao resto, "tudo foi possível naquelas terras de África"...

Guiné 63/74 - P14122: Parabéns a você (841): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 5 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14117: Parabéns a você (840): João Meneses, ex-2.º Ten FZE do DFE 21 (Guiné, 1972); Ricardo Figueiredo, ex-Fur Mil Art do BART 6523 (Guiné, 1973/74) e Valentim Oliveira, ex-Sold Condutor Auto da CCAV 489 (Guiné, 1963/65)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14121: A minha máquina fotográfica (19): Quando embarquei no T/T Índia, em julho de 1964, já levava uma Kodak... Ficou-me no rio de Canjambari... (António Bastos,ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)


Foto nº 4 > T/T Índia > 1964 >O António Paulo Bastos a camimho do TO da Guiné. Desembarcou em Bissau em 21/7/1964, há meio século atrás...



Foto nº 1
1. Mensagem do Anónio Bastos, comd arta de 14 de4 dezembro p.pp

14/12/14



Camarada Luís,  boa tarde, em resposta ao inquérito sobre as máquinas fotográficas:

Quando embarquei para a Guiné. já levava uma maquina, Kodak, que ficou no rio de Canjambari numa operação junto a bolanha. Levava-a no bolso da perna e caíu sem eu dar por isso.
A segunda máquina comprei-a em Farim, quando de uma ida a Bissau, e que ainda a tenho, está exposta no meu museu [, fotos nº 1 e 2].

E a propósito de outras máquinas... Será que ainda existem relíquias destas ? É um rádio Sharp, comprei-o  em Agosto de 1964 no Cacheu aos gilas, e ainda toca. [Foto nº 3]

Eu sempre fui amante de fotografia e cinema, pois o meu avô paterno foi o pioneiro do cinema em Azeitão (desde 1932) ainda com máquinas manuais, depois foi o meu pai e por fim em 1968 foi eu que segui as pisadas deles, para acabar em 1972 com o cinema de família mas continuei como projeccionista na colectividade na Filármonica.

Um abraço António Paulo Bastos (ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953,Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)



Foto nº 2 



Foto nº 3


Fotos: © António Bastos (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

Guiné 63/74 - P14120: Manuscrito(s) (Luís Graça) (43): Notas à margem do documentário de Silas Tiny, "Bafatá Filme Clube", com direção de fotografia da Marta Pessoa (Portugal e Guiné-Bissau, 2012, 78')


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 18h02 > O Joaão Graça faz um selfie (quando o selfie ainda não era uma moda viral),  tendo o velho cinema local (, edifício do início dos anos 70) por detrás de si. Comopranado o edifício em 2009 e com as imagens do filme (estreado em 2012), concluo que estará hoje mais bem conservado.



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 15h22 > O edifício da antiga Casa Gouveia, hoje Tribunal Regional de Bafatá; o centro do parque onde estava a estátua do antigo governador Oliveira Muzanty, 1º ten da marinha (1906-1909) está agora o busto de Amílcar Cabral; à dierita da foto, fica o mercado e a piscina (agora em ruínas).


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 16h16 > Bomba de combustíveis (já desativada) junto ao tribunal regional de Bafatá


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 16h19 > O João Graça fotografado junto a uma velha bomba de combustível desventrada...



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 15h22 > O edifício da Repartição de Finanças da Região de Bafatá (Direção  Geral das Contribuições e Impostos, Ministério das Finanças).


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 18h02 > 16h27 > A rua principal de Bafatá; do lado direito, o edifício do antigo restaurante A Transmontana onde muitos de nós íamos nos anos 69/71,  matar a malvada... O supremo luxo para um tuga que vinha do mato, para "respirar aqui os ares da civilização", era um bife com ovo a cavalo e batatas fritas, regada com uma "basuca", tudo por 25 pesos...



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 18h02 > 16h26 > O antigo edifício do Restaurante A Transmontana... Será que estas casas "ainda têm dono" ?



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 15h25 > A Dona Vitória no seu estabelecimento. É irmã do falecido Faraha  Heneni, um dos importantes comerciantes libaneses (ou de origem  sírio-libanesa) de Bafatá... Como diz o Toninho, filho da Dona Vitória,  "a gente giosta de Bafatá, apesar de ser um cidade-fantasma. Temos cá as nossas raízes, nascemos cá, os nossos avós estão cá enterrados, bem como os avós dos nossos avós"...


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 15h26 > A imponente Dona Vitória, viúva e mãe do Toninho, o filho mais novo. Não sei com quem a senhoar era casada... Será que era casada como filho do comerciante português António Marques da Silva ?


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 15h13 > O João, fotogarado com a Célia Dinis e o filho, Bruno, no seu estabelecimento (Restaurante Ponto de Encontro). Diz-me agora o Patrício Ribeiro,  em comentário a este poste, que o filho do casal morreu há dois anos: "O filho do Diniz e da Célia, o Bruno, infelizmente faleceu há  aproximadamente 2 anos, por acidente de moto,  o que deixou os pais muito abalados. Continuam a morar em Bafatá, depois de alguns meses passados em Portugal."


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 18h11> O João Graça a telefonar ao pai... A eletricidade e o telefone terão sido levadas para a cidade pelo administrador colonial Guerra Ribeiro, em 1968... Há postos de iluminação pública na cidade mas á noite é a escuridão total... Ou era, na altura em que "Bafatá Filme Clube" foi rodado...



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 17h34 > Fim de tarde, rua de Bafatá, com o rio ao fundo (1): há muito que o alcatrão desapareceu...



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 17h33 >  Fim de tarde, rua de Bafatá, com o rio ao fundo (2): quem vive em cima ("Barro do Rocha") não vai à baixa ("Bairro da Praça") só para ver a água do Rio Gebam, diz o João Diniz no filme...


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 18h24> Pôr do sol sobre o rio Geba e a antiga piscina em ruínas.


Fotos: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: L.G]



1. Notas à margem de um comentário do Valdemar Queiroz (*):

Valdemar, gravei o documentário "Bafatá Filme Clube" que passou na RTP2 no primeiro dia do ano...

Estive a vê-lo hoje, com alguma emoção. Devo acrescentar, às tuas  notas, que se trata de uma co-produção lusoguineense, da Real Ficção e da Telecine Bisssau...

Ver o filme (que é uma longa metragem, de cerca de 80 minutos) é rever Bafatá, embora se correndo o risco de se cair  na tentação de comparar a cidade de hoje  com aquela conhecemos, bonitinha, se não mesmo esplendorosa, entre meados de 1969 e o primeiro trimestre de 1971.  Chamava-se então a "princesa do Geba"...

Devo dizer que não me deixei ir na onda do saudosismo nem do miserabilismo, muito menos do derrotismo… Os países e as cidades são muito o que são a sua economia… E têm,  graças aos seus povos, uma grande capacidade de resiliência e de regeneração...

Claro que Bafatá (, o centro histórico,) é hoje uma cidadezinha "decadente", do interior da Guiné-Bissau, e aonde já não se vai, onde ninguém vai...  Como muitas partes do mundo, a começar pelo interior de Portugal onde há vilas e aldeias históricas completamente despovoadas...

No interior da Guiné, no antigo "chão fula",  Bafatá terá sido destronada por Gabu, mais próxima da fronteira leste e dos mercados dos países francófonos (Senegal e Guiné-Conacri),  Nem o rio Geba Estreito é mais navegável, como no nosso tempo. As principais casas comerciais (Gouveia, Ultramarina, Barbosa, Esteves, Marques Silva, Faraha Heneni, Marques da XSilva,  …) estavam ligadas à economia colonial, e já estavam em decadência com a guerra, tanto quanto me apercebi na altura…

A Bafatá que eu conheci, que tu conheceste, que muitos de nós conhecemos, vivia do “patacão da guerra”… Não escamoteemos esse facto...  Por outro lado, muitos jovens partiram, depois da independência, uns por razões políticas (temendo represálias dos novos senhores no poder, como foi o caso de muitos dos nossos antigos camaradas guineenses) outros procurando oportunidades de trabalho no estrangeiro (Senegal, Guiné-Conacri, Cabo Verde"...) ou na capital, Bissau.

2. O meu filho tinha estado em Bafatá em 15 de dezembro de 2009, como as fotos acima publicadas documentam (e outras já publicadas anteriormente)... Ficou lá uma noite,  e outra noite em Tabató, não sei se conheceu o Canjajá,  conheceu, a Dona Vitória, a família Dinis, os novos e os velhos habitantes da cidade baixa, os poucos que lá viviam e por lá deambuklavam... Percorreu as ruas e tirou fotos nalguns sítios emblemáticos, a pensar no pai: o cinema, a antiga Transmontana, a piscina, o cais, o rio, o mercado... E as fotos, mais as notas que escreveu no seu caderno, deram-me uma ideia precisa da extrema decadência que atingira a cidade, em particular a parte baixa (e histórica) de Bafatá, decadência essa que se acelerou com o fim da guerra e com a  independência…

Notas do caderno de viagem do João Graça, médico e músico à Guiné-Bissau em dezembro de 2009:

15/12/2009, 3ª feira, 11º dia, Bafatá, Tabatô 

(...) Partida [, de Bissau, ] às 10h00 com Antero (motorista) e Ali (funcionário da AD).  Ida ao quartel de Bambadinca, mas os militares recusaram [a entrada] , pela 2ª vez. Campos (bolanhas) de arroz. Ali disse: “África é um cego em cima de um diamante”. Paragem em Bafatá. Encontro com Demba, músico dos Super-Camarimba [, grupo de música tradicional afro-mandinga, com origem em Tabatô, tabanca a 12km de Bafatá; vd. também a sua página na Net]. 

Almoço no restaurante da Célia, portuguesa radicada em Bafatá desde os anos 70. Marido – não me recordo o nome [. Dinis] – esteve na guerra, nos anos 68/70 […]. Agora tem uma escola de condução.  Decadência de Bafatá velha. Sem pessoas, prédios degradados. Telefono ao meu pai: Libanesas (Vitória), piscina, cinema, [Restaurante] Transmontana. 

Passeio de piroga com pescador no Rio Geba.  Encontro com surdo-mudo que nos levou à sua tabanca (são familiares de Tabatô). Moram numa colina do Geba à entrada de Bafatá. Ofereceram-me uma cadeira e em 20 segundos juntaram-se 20 pessoas à volta da morança.  Ida para Tabatô (aguardada), passando antes pela casa do Victor [, cooperante espanhol, que conheci na viagem para Bubaque]. (...) 

Acho que o filme do jovem realizador, sãotomense,  Silas Tiny (que conversou comigo e com o Fernando Gouveia, entre outras pessoas que conheceram a Bafatá colonial, na fase de conceção do filme) não mostra só o lado decadente de Bafatá (e, por extensão, da Guiné). Descortino no filme sinais de esperança, porque acredito que a Guiné-Bissau tem futuro... (E a talhe foice, acrescente-se, como nota positiva, que a Guiné-Bissau fez uma doação, de 75 mil dólares, para as vítimas do vulcão da Ilha do Fogo e, pela primeira vez, Bissau teve fogo de artifício na passagem de ano, em vez de tiros de Kalasnikov para o ar!)...

3. Algumas notas sobre as pessoas que são entrevistadas no filme, e que retirei do seu visionamento (**):

(i) Canjajá [ou Canjanjá, como vem, parece que erradamente,  no genérico do filme ?] Mané, o antigo projecionista do cinema local (, pertença do Sporting Clube de Bafatá) e atual guardião das instalações, é o protagonista do filme… Há cinquenta anos que este homem guarda religiosamente o cinema de Bafatá (, um edifício ainda relatuivamente conservado, construído no início dos anos 70).… Terá hoje 75 anos. Nasceu em Mansoa, por volta de 1940, onde era pescador de “rede grande”… Em 1960, veio para Bafatá e começou a trabalhar no Sporting Clube de Bafatá, primeiro como contínuo e depois como projecionista, até chegar a fazer parte dos corpos gerentes, depois da indpendência… Ainda hoje é recordado pelos espetadores mais novos… Costumava adormecer durante as sessões, sendo preciso acordá-lo, ruidosamente, quando a fita se partia… Mandavam-lhe sacos de água e ovos, recorda o filho da Dona Vitória, o Toninho.

(ii) Muçulmano, praticante, Canjajá é homem de poucas falas. A primeira máquina de projetar era a “carvão” (?)… Depois veio uma “BU4 Bauer”, alemã, elétrica, acrescenta o presidente do Clube, que começou por ter uma pequena sala de cinema… Também havia cinema ao ar livre, antes da construção do cinema novo. A nova sede nasce do aumento da população de Bafatá e da sua nova prosperidade, com a forte presença dos militares durante a guerra colonial… Nessa altura, o Clube chegou a ter 500/600 sócios… Além das sessões de cinema, faziam-se festas e a vida era bela nesse tempo, dizem as senhoras, entrevistadas…

(iii) A talhe de foice, também há uma referência à passagem, por Bafatá, do Manuel Joaquim dos Prazeres, o conhecido empresário de cinema ambulante, pai da nossa leitora e escritora Lucinda Aranha. Chegou a fazer sessões de cinema na casa do comerciantes António Marques da Silva-

(iv) Canjajá também foi, já depois da independência, o encarregado da piscina de Bafatá: recorde-se que tinha o nome do administrador Guerra Ribeiro, e foi inaugurada em 1962. Depois da independência, ter-se-á chamado “Corca Só” (antigo futebolista do Clube Futebol Os Balantas de Mansoa, e comandante do PAIGC) e não “Orca do Sol” (como aparece, por crasso erro, nas legendas, por falta de memórias da guerra colonial da jovem que faz a tradução do crioulo para português (Joacine Katar Moreira)..

(v ) Outro dos entrevistados é o atual presidente do Sporting Clube de Bafatá, já acima referido, que fala, com ternura e candura, das glórias e misérias da vida da associação, incluindo a conquista do campeonato de futebol da Guiné-Bissau, em 1984 . Era então treinador o falecido Demba... E a histórica partida de futebol, disputada em Bissau, teve na assistência o general 'Nino' Vieira... 

(vi) É também entrevistado, em francês (!), o atual treinador do clube (, provavelmente oriundo do Senegal ou da Guiné-Conacri), que ainda sonha com o renascimento da equipa de futebol… Haja parceiros, de preferência vindos de Portugal, subentende-se... De qualquer modo, parece haver uma forte ligação da cidade ao Sporting Clube de Bafatá… Aquando da conquista do campeonato, em 1984, os futebolistas foram recebidos em apoteose…Mas em geral, o clube da terra fica nos primeiros lugares do campeonato...

(vii) As irmãs Danif, libanesas, que vieram de Sonaco, quando pequenas... Um delas para casar. Penso que são as filhas da Dona Rosa… Um dos irmãos foi paraquedista do BCP 12, hoje ten cor ref e amigo de alguns camaradas nossos, como o Humberto Reis. Um destas manas Danif tem filhas em Portugal, que casaram com ex-militares portugueses… (Eran meninas casadoiras no nosso tempo; e casaram no clube, diz a mãe!)... Os pais das irmãs Danif, Said Danif, estiveram esatabelecidos em Sonaco, Bambadinca, Geba...

(viii) Não sei qual é a relação das  manas Danif com a Dona Vitória, também libanesa, que tinha uma filha que morreu, já depois da independência, e depois de regressar de Portugal onde foi em tratamento. Havia, pelo menos, dois comerciantes libaneses, ligados ao Sporting Clube de Bafatá. Um eles era o irmão da Dona Vitória, Faraha Heneni, citado no filme por ela e pelo seu filho Toninho. Outro libanês era o Arif Elawar, que fazia parte da direcção do Sporting Clube de Bafatá (criado em 1937), quando o presidente era então o  administrador Carlos Caetano Costa (que anteceu o Guerra Ribeiro).

(ix) O João Dinis… Um camarada do nosso tempo que ficou em Bafatá, veio casar a Portugal e levou a esposa, Célia, para a Guiné em 1972… É um homem, desencantado, precomente envelhecido, mas ainda a reconhecer que ama África e a terra que escolheu para viver e trabalhar. Quando jovem, vivia melhor em Bafatá do que em Portugal, costumava dizer ele para os seus antigos camaradas de armas... Mas hoje confessa que ainda sonha em acabar os seus dias na sua terra, Portugal… 

O casal, João e Célia Dinis, abriram um negócio na área da restauração e hotelaria, mas hoje a baixa de Bafatá não tem gente, está às moscas…“O movimnento é que faz falta", diz ele... Havia barcos, havia camiões, sempre a carregar e a descarregar, havia correpios de gente na baixa... Agora é o vazio, diz o Toninho, que deve ser homen dos seus cinquentas e tais anos (, era criança  quando das primeiras flagelações do PAIGC a Bafatá, em 1973, de se lembra bem; o pai mandava o Canjajá desligar as luzes do cinema e levar  o Toninho e os primos para casa...).

(x) No filme, o João Dinis fala para a câmara, num verdadeiro monólogo, tentando explicar  as razões por que se foi deixando ficar até hoje...O realizador e o diretor de fotografia não fazem perguntas nem fornecem informação de contextualização: Bafatá é atravessada por uma "câmara muda"; há momentos de antologia como a sequência da partida de futebol, disputada ao longe (no estádio da Rocha) sob um uma nuvem de pó que se poderia confundir com o cacimbo...); ou a cena em que Canjajá, vestido de preto e com ar de asceta, faz as suas orações virado para Meca, enquanto um grupo de mulheres, a um canto da casa, tagarelam e dão continuidade à vida; ou ainda a cena, bem conseguida,  em que um voluntarioso entrevistado se transforma em proativo entrevistador, inquirindo em crioulo, de microfone em punho, a  opinião dos seus conterrâneos sobre o futuro de Batafá... E tem um comentário final otimista: "Bafatá há-de mudar para melhor, se Deus quiser"

(xi) Outro dos entrevistados é o empregado da atual escola de condução, cujo nome não consegui fixar … Era filho de um comerciante (, português ?), foi para a escola de condução por volta de 1995... Deve ser a escola de condução mais "surrealista" do mundo, a avaliar pelo número de carros que circulam por aquelas bandas... A escola pertence também ao portuguiês João Dinis...

(xii) O filme podia ter mostrado a casa onde nasceu Amílcar Cabral (e os filhos da Dona Vitória!), mas não o fez… Vê-se o seu busto, em bronze,  e um cartaz onde se lê “Cabral Ka Muri”… São as únicas referências ao “pai da Pátria”…

(xiii) Bafatá está hoje dividida em duas partes: a parte de cima (“Bairro do Rocha"), populosa, e a parte de baixo, vazia, o "bairro da Praça". onde alguns dos antigos edifícios coloniais que ainda se mantêm de pé foram ocupados pelo tribunal, as finanças, a conservatória, e uma delegação (?) do ministério do comércio… A baixa está vazia, o mercado está vazio, as lojas estão vazias, há muito que deixou de haver cinema, e os entrevistados vivem pateticamente das suas memórias do passado… À Dona Vitória vale-lhe a televisão que  a liga ao mundo... Não há electricidade, algumas casas têm gerador...A população de  cima só vem à baixa para tratar de algum assunto nas finanças ou no tribunal.. Até a paragem dos transportes públicos mudou-se, democraticamente,  para a parte de cima, no "Bairro do Rocha" [ou "da" Rocha, pergunto eu ao Fernando Gouveia, que é o nosso especialista em Bafatá...].

(xiv) Referência ainda para o ourives de Bafatá, o Tcham [ouTchame], filho do célebre ourives de Bafatá do nosso tempo que fez a famosa espada para o gen Spínola, guarnecida a ouro e prata… Em paga ganhou uma viagem a Portugal, para ele e a esposa... 

Tcham[e], o filho, faz referências (elogiosas) aos administradores Costa [Carlos Caetano Costa ] e Guerra Ribeiro (,sendo este o que trouxe a eletricidade e o telefone para a vila e depois cidade, em 1970)… E, claro, aos militares portugueses que eram clientes da oficina do seu pai, onde vinham encomendar joias para levar para as suas amadas na metrópole...




Guiné > Bafatá >  1959 > Foto nº 4: > "A fonte pública de Bafatá, 1948" [ Esta belíssima fonte, na "Mãe de Água", na zona conhecida como "Nova Sintra" de Bafatá, também aparece no filme, mas já muto degradada, bem, como o seu meio envolvente... O nosso especialista, o arquiteto Fernando Gouveia, que esteve em Bafatá como alferes miliciano nos anos de 1968/7o0, descreve esta zona nestes termos, num dos seus postes do roteiro de Bafatá: "A Mãe d'Água ou a 'Sintra de Bafatá', local aprazível e romântico onde se realizavam almoços dançantes para os quais se convidavam os senhores alferes, alguns furriéis e as moças casadoiras".]


Guiné > Bafatá >  1979 > Foto nº 7:> "A família Marques da Silva em Bafatá, em 1979. O rapaz ao centro da foto era o Xico, filho de uma Balanta e do Marques da Silva, ambos já faleceram. Talvez alguns dos nossos camaradas desse tempo ainda se recordem deles."



Guiné > Bafatá >  1958/59  > Foto nº 242: > "Equipa de futebol do Sporting Clube de Bafatá"


Fotos enviadas pelo nosso camarada Leopoldo Correia (ex-fur mil da CART 564, Nhacra, Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65). Já tinham sido publicadas anteriormente (***). São agora reeditadas.

[Observação do LC:"Fotos de Bafatá, de 1959, tiradas por um familiar ligado ao comércio local (Casa Marques Silva), casado com uma senhora libanesa,  filha do senhor Faraha Heneni",


4. Dito isto, acho que que vale a pena comprar o DVD (7 €):  título "Bafatá Filme Clube"; realizador Silas Tiny; fotografia: Marta Pessoa; produção: Real Ficção (e Telecine Bissau); ano: 2012; duração: 78'.

Não sei se Canjajá e o seu cinema são uma "metáfora de Bafatá" e da própria Guiné.-Bissau (****).... Talvez sim, da Guiné-Bissau e da própria África pós-colonial... É seguramente uma  metáfora das nossas ruínas, materiais e imateriais, as que ficaram do nosso império (*****)...

Mas o mérito do realizador e da equipa é terem ido para Bafatá, despidos de preconceitos etnocêntricos... E trata-se de cinema lusófono!... Por outro lado, o filme faz-me lembrar o "Nuovo Cinema Paradiso", do italiano Giuseppe Tornatore (1988)...  Mas isso daria aso a outras reflexões sobre o cinema enquanto objeto de cinema que não cabem aqui neste blogue e nestes "manuscritos"... (LG)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14115: Memória dos lugares (279): Bafatá, princesa do Geba, parada no tempo: o cinema local e o seu mítico guardião, Canjajá Mané, o casal João e Célia Dinis, Dona Vitória, as irmãs Danif (libanesas), o glorioso Sporting Clube de Bafatá (fundado em 1937 pelos prósperos comerciantes locais, e que chegou a ter 600 sócios), o ourives, o rio, os pescadores, e os demais fantasmas do passado que hoje povoam a terra de Amílcar Cabral... A propósito de "Bafatá Filme Clube" (2012) que acabou de passar na RTP2, no passado dia 1 (Valdemar Queiroz)

(**) Último poste da série > 1 de janeiro de 2015 Guiné 63/74 - P14105: Manuscrito(s) (Luís Graça) (42): Requiem para um paisano... (à memória do meu infortunado camarada Luciano Severo de Almeida)

(***) Vd. poste de 16 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11402: Memória dos lugares (229): Bafatá dos anos cinquenta (Leopoldo Correia)

(****)  Vd. crítica de António Rodrigues > "O movimento é que faz falta" > Rede Angola > 12/12/2014

(...) Mas Canjanjá é apenas a metáfora de Bafatá, segunda cidade da Guiné-Bissau, berço de Amílcar Cabral, entreposto adormecido no centro do país, onde só o tempo e natureza se dão ao luxo de ter futuro. O demais – casas, gentes, ideias – entrega-se resignado à decadência urbana ou à evocação do outrora, quando o cinema era cinema, o Sporting de Bafatá luzia viçoso, o comércio tinha com quem comerciar, os pescadores pescavam e os barcos faziam fila para descarregar no porto fluvial.

Se o projeccionista se limita todos os dias a abrir as portas, vassourar o chão, alimentar fingido o projector, também quase todos os outros personagens fingem gestos habituados a outras décadas, quando havia gente na baixa da cidade que ao perder o mercado, perdeu quase todo o movimento que tinha e o desfiar das casas de comércio – herança do passado colonial – não é roteiro mas rememorar.

Nem sequer é nostalgia, somente o evocar do movimento. “O movimento é que faz falta”, diz a certa altura João Dinis, dono do restaurante e hotel onde nunca se vê ninguém mais do que os seus proprietários. “Se eu chegasse aqui e visse isto, não ficava nem uma hora”, garante, para explicar a razão por que todos partem. Antes já afirmara porque vão ficando aqueles que ficam: “Fomos nos habituando à decadência.” (...)

(...) Silas Tiny, com ajuda da excelentíssima fotografia de Marta Pessoa, filma como se a câmara fosse apenas uma janela para esse mundo que se acaba. Não é o retrato do fim do mundo, só de um mundo, onde o tempo vai fluindo de mansinho, de sol a sol, medido pelas portas e janelas que se abrem e fecham, sem desígnio mais que o acto em si. (...)


(*****) Vd, também poste  de 17 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12595: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (15): O cinema local e a figura lendária do seu guardião, o Canjajá Mané... E, a propósito, relembre-se o documentário, já em DVD, "Bafatá Filme Clube", do realizador Silas Tiny, com fotografia de Marta Pessoa (Lisboa, Real Ficção, 2012, 78')

Guiné 63/74 - P14119: Contraponto (Alberto Branquinho) (53): "A Malta das Trincheiras" de André Brun

1. Em mensagem do dia 2 de Janeiro de 2015, o nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais um dos seus Contraponto(s).

Boa noite Carlos
Aqui estou, em pleno Ano Novo, ressuscitado, a desejar-te um optimíssimo 2015 e a enviar mais um Contraponto.
Aconselho-te vivamente a leitura do livro de que falo no texto.

Abraço
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO

53 - "A MALTA DAS TRINCHEIRAS"

Porque no transacto ano de 2014 se completaram 100 anos sobre o início da I Grande Guerra, a Sociedade Portuguesa de Autores reeditou, em colaboração com a editora “Guerra & Paz”, o livro “A MALTA DAS TRINCHEIRAS” de André Brun, que tem como subtítulo “Migalhas da Grande Guerra”.

Ora, como o subtítulo indica, são textos curtos, com quatro, cinco páginas e sem qualquer sequência narrativa, nos quais o autor transmite variadíssimos aspectos da realidade nua e crua da guerra em que esteve envolvido: as cidades da retaguarda, mais ou menos destruídas, abandonadas pelas populações e ocupadas pelos militares, o avanço das tropas para a 3.ª e 2.ª linhas das trincheiras e, depois, o dia-a-dia e os combates na trincheira da linha da frente.

São pequenas histórias, apontamentos, comentários, análises donde ressaltam, com uma clareza e comunicação incríveis, o sofrimento, a tragédia, o humor, as situações pícaras, a rotina das trincheiras (a abissal diferença entre a noite e o dia, o tempo de sol e o de chuva e neve, com os seus lamaçais), a crítica à retaguarda e às suas burocracias inúteis, que nunca tinham em conta a situação real de quem tinha que sobreviver naquelas condições e conviver com o boche que estava nas trincheiras mesmo em frente.

Através destes pequenos textos André Brun transmite vivamente a realidade das trincheiras, que eu não tinha conseguido apreender desta maneira através da leitura de livros tipo romance, com uma história encadeada (com princípio, meio e fim). É, assim, mais um exemplo (talvez o primeiro em situação de guerra) de como se pode descrever, pintar, ilustrar, transmitir uma realidade de um dado espaço/tempo ou circunstância (acentuando o trágico, surrealista, humano, cómico, pícaro, sarcástico, burlesco), através de pequenas histórias com gente dentro – os militares, mas, também, o drama das populações desalojadas.

Num texto intitulado “O mosqueiro da batalha” há referências sofridas ao 9 de Abril de 1918, dia da batalha de La Lys.

Noutro texto, “O pintor das trincheiras”, fala-nos do famoso pintor Sousa Lopes, que, voluntário e graduado em capitão, foi para as trinchas desenhar, tomar apontamentos, fazer croquis da vida real nas mesmas, dizendo que foi “imediatamente baptizado” pelos soldados como: “Aquele nosso capitão que tira fotografias com um lápis”.

A terminar, transcrevo uma passagem irónica (página 73) que, pelo seu conteúdo, nos diz muito: “À tarde, em três macas rodadas, vamos levá-los ao cemitério, a um daqueles cemitérios de guerra postos à beira das estradas, para que o nosso espírito se não esqueça de que é mais fácil nestas paragens ganhar uma cruz de pau do que uma cruz de guerra”.

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Notas finais:

1 – André Brun escreveu, também, entre outros, “A maluquinha de Arroios” e “A vizinha do lado”, ambos adaptados ao cinema.
2 - A todos aqueles que, aqui neste blogue, falam, por vezes, em “linha da frente” ou em “trincheiras” na Guiné, mais uma vez digo que em qualquer guerra de guerrilha não se combate para conquistar território. Na Guiné não tínhamos, portanto, “linhas da frente” nem “trincheiras”.

Valas não são trincheiras. Estas tinham quilómetros e quilómetros, eram mais altas que um homem, sempre ziguezagueando e, dentro delas, havia tudo aquilo que um quartel necessitava – secretaria, comunicações, dormitórios, algum paiol, etc.. .O texto “A terra de ninguém” começa assim: «Passou-se a segunda linha, B.line, e vai-se descendo pela trincheira de comunicação. Por fim, um entrincheiramento perpendicular. É a primeira linha, aquela para onde nos conduzem as várias setas das tabuletas:”To the front line”». (Convirá referir que o batalhão português de André Brun estava integrado nas tropas inglesas.

Alberto Branquinho
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 15 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7286: Notas de leitura (171): A Malta das Trincheiras, de André Brun (Arménio Estorninho)

Último poste da série de 13 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13135: Contraponto (Alberto Branquinho) (52): A Guerra (Colonial) no Feminino

Guiné 63/74 - P14118: Notas de leitura (665): “Memória sobre o estado atual da Senegâmbia portuguesa, causas da sua decadência e meios de a fazer prosperar”, por Honório Pereira Barreto (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Dezembro de 2014:

Queridos amigos,
É um documento arrojado, digno do patriotismo que sempre orientou Honório Pereira Barreto, a quem a Guiné Portuguesa e a Guiné-Bissau tantíssimo devem, sem cuidarem do seu labor, da sua dedicação, do seu desempenho político inultrapassável.
Desenhou fronteiras, comprou território, fez tratados, enfrentou intromissões britânicas, advertiu Lisboa da cobiça dos franceses.
Esta Memória devia ter sido do nosso conhecimento, quando desembarcámos naquele jardim tropical, tínhamos ficado a saber como toda aquela incúria vinha de longe, era musgo de séculos, eram terras de negros de que se fugia pelo clima, por já não haver escravos e não haver gente ousada disposta a grandes cometimentos agrícolas.
Foi assim, e Honório Pereira Barreto bem advertiu no arranque da sua Memória: “Estas possessões perdem-se, se o Governo e as Cortes lhes não acodem quanto antes”.

Um abraço do
Mário


Memória sobre o estado atual da Senegâmbia: Documento fundamental da história da Guiné, no século XIX

Beja Santos

É lastimável que a Guiné-Bissau continue a descurar um dos seus mais imponentes pais fundadores, Honório Pereira Barreto, que na ideologia inicial do PAIGC era encarado como um negreiro e mero executor às ordens do colonialismo português. Antes de falar do homem, do seu pensamento e ação enquanto hábil político e governante, tome-se nota do que escreveu em 1843 com o título “Memória sobre o estado atual da Senegâmbia portuguesa, causas da sua decadência e meios de a fazer prosperar”. Não conheço documento mais rico, mais luminoso, verbo mais lúcido e coragem mais medular. Deixou-nos uma radiografia que muito nos pode levar a perceber, para além das razões que assistiram aos nacionalistas que pugnaram pela independência da região, como alguém tido por mestiço tinha um coração bem português e desejava o melhor para aquele rincão. Logo na introdução desta Memória queixa-se da falta de um Boletim do Governo e adverte o leitor: “Estas Possessões perdem-se, se o Governo e as Cortes lhes não acodem quanto antes. Diferentes causas concorrem para sua destruição. Eu as mostrarei sem rebuço. Quando vejo o país onde nasci, e pelo qual gostosamente fiz mil sacrifícios quase em completa ruína, não posso deixar de postergar considerações pessoais para falar alto a linguagem da verdade”.

Apresenta a Guiné da época assim: “Os estabelecimentos portugueses de Senegâmbia formam um governo sujeito aos das ilhas de Cabo Verde, e organizado em dois concelhos: o primeiro, de Bissau, composto da praça deste nome, do presídio de Geba, da ilha de Bolama, do ponto de Fá, e dos presídios de Cacheu, Farim, Zeguichor e Bolôr”. Refere-se ao clima doentio, à falta de limpeza das ruas, e lança uma farpa: “Apesar de ser reconhecida em salubridade do clima, o governo não manda para cá nem cirurgião nem botica (…) Em Bissau há uma casa indecente, escura e húmida que se chama hospital (melhor seria chamar-lhe cemitério)”. A presença portuguesa está seriamente comprometida, os gentios cercam os estabelecimentos, insultam, ferem e até matam os portugueses. A seguir, traça um quadro sobre os habitantes, seus usos e costumes. Deixa claro que o comércio é dominado pelos estrangeiros.

E é implacável quanto aos termos da nossa presença: “Desgraçadamente se pode dizer que nestas possessões há um governador e comandantes mas não há governo. O país está inteiramente desorganizado. Todos os empregados, desde o primeiro até ao último, ignoram quais são as suas atribuições e, por consequência quais são os seus deveres: só tratam dos seus negócios, pois são negociantes”. E mais adiante: “Se na administração tudo é arbitrário mais o é no judicial. O governador e comandantes são os juízes de paz, e contenciosos, porque o abuso, ou falta de lei especial, assim o quer. São acusadores, porque não há quem represente o Ministério Público. São parte, porque nunca instauram processo, se não para se vingar ou para seu interesse. A justiça para os ricos é diferente da dos pobres: o rico tem sempre razão”. É pouco lisonjeiro com os governadores: “Os Governadores sendo militares, como são, não estudam ordenações nem reformas judiciárias; portanto tudo afinal se julga militarmente”. E desmonta a ausência de autoridade: “Em todos os estabelecimentos há uma autoridade que sob o título de Juiz do Povo governa o Povo. Estes juízes, excetuando em Zeguinchor, diferenciam-se dos outros por serem mais bêbados. As suas atribuições são impor multas em aguardente…”. O clero também não é poupado: “Os vigários, apesar de serem ministros de uma religião sublime, pouco se importam com a moral e preceitos dela. Vivem com as suas barregãs em casa, e apresentam-nas a todos, como qualquer homem casado pode apresentar a sua mulher. A instrução deles apenas consiste em lerem o missal com alguns barbarismos”. E chega o momento de falar da tropa: “Atualmente a tropa é um bando de homens indisciplinados, turbulentos, esfarrapados, nus e traficantes: não obedecem ao seu chefe e já têm chegado a insultar os seus oficiais. Valentes em se baterem com cacetes, não sabem manejar uma arma. Das ilhas de Cabo Verde só mandam para estas guarnições os soldados mais incorrigíveis que lá há”.

E começa a especificar as possessões guineenses, refere em primeiro lugar o concelho de Bissau, composto da praça, do presídio de Geba, do ponto de Fá, da ilha de Bolama e do Ilhéu do Rei: “Bissau é uma praça construída segundo o sistema de Vauban, mas não foi acabada. Não tem obras algumas exteriores, à exceção dos fossos já quase entulhados e aonde se planta algodão, milho e índigo. O quartel da tropa está quase a cair e por isso que a maior parte dos soldados moram em palhoças, chove no quartel dos oficiais como chove na rua. O governador mora no quartel dos oficiais em quartos pequenos e ridículos”. Ficamos a saber quem são as etnias ali residentes: Papéis, Brames, Balantas, Bijagós, Nalus e Mandingas. Os ingleses tinham feito um tratado com o régulo de Bandim, tinham-se estabelecido neste território. Os negócios do gentio com os estrangeiros era uma realidade, cada ano aportavam a Bissau 80 navios estrangeiros, em média.

Refere-se a Geba como um presídio sem fortificação, tem seis praças e é de perguntar qual a sua utilidade. O comércio tem bastante peso: cera, couros, marfim e algum ouro. Apresenta Fá como um pequeno e ridículo ponto, não longe de Geba: “É só mantido para entreter boa amizade com o gentio, que quer que ali sempre se conserve uma casa, sob pena, em caso contrário, de cortar a comunicação do rio”.

Quanto a Bolama, foi cedida a Portugal em 1828 pelo rei de Canhabaque, Damião. Diz que os ingleses disputam e contestam o nosso direito. Referindo-se ao Ilhéu do Rei, fronteiro à praça de Bissau, diz que foi comprado por ele e oferecido ao governo em 1838.

Passando para o concelho de Cacheu, releva o sossego e a segurança ali existentes: o gentio é mais comedido, os soldados mais subordinados e o povo mais obediente. O concelho é constituído pelo presídio de Cacheu, Farim, Zeguinchor e Bolôr. “Em todos eles a artilharia está falhada e carcomida”. Refere que Cacheu se situa na margem esquerda do rio S. Domingos, que não é braço do rio Gâmbia, como muitos julgam. “Hoje está muito decadente e quase de nenhuma importância. É defendido por uma paliçada e quatro pequenos redutos arruinados: quem os fez não tinha ideia alguma de fortificação”. Esta Memória, parece-me evidente, é um documento de uma importância extraordinária. Feita a caraterização da Senegâmbia, refere as causas da sua decadência: “A principal causa do atual estado destas Possessões é o pouco caso que o Governo Supremo e o geral da província sempre fizeram delas”. Atribui graves responsabilidades aos partidos políticos, pelas nomeações de incompetentes, pelo estado de impunidade e pela falta de ordem. E na terceira parte procede a um esboço quanto aos meios de fazer prosperar a Senegâmbia, ele sente-se ferido nos seus brios de patriota: “Penaliza-me observar o estado atual, a sua desgraça e miséria. Não devemos considerar estas possessões pelo que são; mas pelo que podem vir a ser”. E faz propostas concretas: instituir na corte um tribunal com gente que tenha conhecimento do ultramar, competir-lhe-ia elaborar e prepara as leis há tanto prometidas; dar-se ao Governador amplos poderes; deve-se promover em grande escala a agricultura, introduzindo-se novas ferramentas; os empregados devem ser pagos em metal e ter bons ordenados. E termina dizendo que já é tempo de acabar aqui com as rodas de pau, prisões arbitrárias e violabilidade da casa do cidadão.

Eis, em suma, a Memória de Honório Pereira Barreto, dada à estampa em 1843, em Lisboa, documento de um ex-governador agraciado com as mais altas condecorações, hoje praticamente desconhecido em Portugal e a quem a Guiné-Bissau deve muitíssimo, apesar dos preconceitos que pesam sobre a conduta de um homem que esteve sempre para além do seu tempo.
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Nota do editor

Vd. último poste da série de 2 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14110: Notas de leitura (664): Do livro "Família Coelho", edição de autor, 2014, de José Eduardo Reis Oliveira (JERO), "O Avô Porraditas"

Guiné 63/74 - P14117: Parabéns a você (840): João Meneses, ex-2.º Ten FZE do DFE 21 (Guiné, 1972); Ricardo Figueiredo, ex-Fur Mil Art do BART 6523 (Guiné, 1973/74) e Valentim Oliveira, ex-Sold Condutor Auto da CCAV 489 (Guiné, 1963/65)



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Nota do editor

Último poste da série de 2 de Janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14107: Parabéns a você (839): Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69)

domingo, 4 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14116: Bom ou mau tempo na bolanha (82): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (22) (Tony Borié)

Octogésimo primeiro episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Dia 14 de Julho de 2014. 

Companheiros de viagem, este é o resumo do vigésimo quarto dia

Os nossos antepassados diziam que pela manhã é que se começa o dia, seguindo este ditado, eis-nos na estrada número 191, rumo ao sul. O dia estava com céu limpo, já começava a temperatura a subir, pois eram 7 horas da manhã e, já marcava no termómetro do Jeep, 86ºF.

Levávamos água e roupas leves, pois o nosso destino era a região a que alguns chamam, o deserto de “Moab”, onde queríamos percorrer o “Arches National Park”.

A entrada, ou seja onde está localizado o Centro de Informação, é na base das montanhas de pedra vermelha, podemos viajar por todo o parque, tem uma estrada onde, embora sendo estreita, podemos conduzir com alguma segurança, tem subidas, precipícios e descidas um pouco assustadoras, mas a paisagem compensa.


O Parque Nacional dos Arcos, pois é assim que nós o vamos designar, está localizado no estado do Utah, destacando-se pela grande concentração de arcos naturais, cerca de 2000, tem uma superfície de 310 km2 e o seu ponto mais alto é de 1723 metros, situado na “Colina Elefante”, e a sua elevação mínima é de 1245 metros, que, tal como já mencionámos, é junto no centro de visitantes. Está localizado numa região árida, pois recebe em média 250mm de chuva por ano.


Descrevendo só um pouco da sua história.
Dizem que, provavelmente, esta região há cerca de 300 milhões de anos era mar, estava coberta de água salgada que, também provavelmente, foi evaporando, portanto hoje toda esta região está localizada, ou seja, “dorme sobre uma cama de sal evaporado subterrâneo”, que é a principal causa da formação dos seus arcos, torres, pedras equilibradas, barbatanas de arenito e monólitos erodidas nesta área. Esta “cama de sal” tem de milhares de metros de espessura em alguns lugares e foi depositado na “Bacia do Planalto do Colorado”, que é como chamam a esta área. Há cerca de 300 milhões de anos, quando um qualquer mar, fluiu na região e, torno a dizer, provavelmente evaporou, como tentámos explicar no princípio.


De uma maneira ou de outra, em Abril de 1929 esta maravilhosa região foi proclamada pelo presidente Herbert Hoover, “Monumento Nacional” e, em Novembro de 1971, foi proclamado como “Parque Nacional”, tudo isto são pequenas curiosidades que ajudam a compreender a importância deste parque.


Entrámos e saímos, parando de novo no Centro de Informação, bebendo e enchendo de novo as garrafas, onde existe uma fonte com água filtrada. Seguindo viagem pela estrada com o número 128, na direcção nordeste, que segue encostada ao rio Colorado, entre desfiladeiros, também de terra vermelha, tal como o nome do rio, em alguns pontos com montanhas de um lado e do outro, que o rio por milhões de anos rasgou e, em outros lugares, pequenas planícies, onde existem pequenas quintas, podendo-se ver ao longe aqueles monumentos que aparecem nos “filmes do Jonh Wayne”, que por aqui andou, pois tivemos a possibilidade de parar numa pequena localidade, onde ele viveu, com  outros artistas, quando por aqui andavam a filmar “cowboyadas”.


Esta estrada tem uma paisagem que por vezes nos faz lembrar as do “Gande Canyon” e, afinal, é o mesmo rio que o atravessa.


Com alguma mágoa, por abandonar estas paisagens, regressámos à estrada rápida número 70, agora definitivamente rumo ao Atlântico, seguindo por algum tempo por planícies, atravessando depois a fronteira com o estado do Colorado, onde viemos dormir na pequena cidade de Fruita, onde não cozinhámos, pois houve tempo suficiente para ainda comer um “cowboy churrasco” à moda do Colorado, cujo anúncio, com a respectiva foto, aparecia em diversos anúncios de estrada.


Neste dia percorremos 419 milhas, com o preço da gasolina a variar entre $3.42 e $3.46 o galão, que são aproximadamente 4 litros.

Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14088: Bom ou mau tempo na bolanha (80): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (21) (Tony Borié)