sexta-feira, 2 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13082: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (47): CCAÇ 675, "A Gloriosa": "Uma ilha isolada"


1. Em mensagem do dia 26 de Fevereiro de 2014, o nosso camarada Belmiro Tavares (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), fala-nos da sua Unidade como sendo "Uma ilha isolada", pelo que fez enquanto força de intervenção e quadrícula no sector de Farim e pelo que faz na actualidade em prol dos seus ex-militares vivos, não esquecendo honrar os camaradas mortos.




HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES

Resposta a: 

47 - “Uma ilha isolada”

Com muito agrado, acabo de ler (desta vez fora de horas por motivos que não cabem aqui) o editorial do “Jornal de Famalicão” da pretérita sexta-feira, dia 21 de Fevereiro. Entendi não dever calar-me, não para contrariar a Exma. Diretora de tão prestigiado semanário, a minha amiga muito cara, Drª Teresa Mesquita, mas para corroborar a sua opinião, trazendo a lume uma exceção – seguindo o velho ditado em que a “dita” confirma a regra.

Peço mil desculpas aos muitos e mui dignos leitores do referido jornal por voltar a falar dum tema que já aqui foi, em parte, largamente escalpelizado, quer por mim quer pelo amigo JERO, o meu querido companheiro de armas – “hermano de sables”, como se diz do outro lado da paliçada -; eu lutei de espingarda na mão e ele usou, quase sempre apenas, a seringa. Ele sabe o que isto significa! Hoje aproveito a oportunidade que surgiu, a talho de foice – como soe dizer-se – para expor uma não menos heróica faceta da nossa CCaç 675, a Gloriosa.

A esta unidade que combateu incansavelmente, na Guiné Bissau, de 1964 a 1966, pertenceu um brioso famalicense, Álvaro Manuel Vilhena Mesquita, que lá faleceu, a 28 de Dezembro de 1964; era irmão da Exma. Diretora do J.F. Por ele por todos nós a CCaç 675 portou-se digna e heroicamente, durante os dois anos de dura luta; no após guerra, a gloriosa tem vindo a provar que, sem espingardas na mão, continua a ser uma unidade de elite, exemplar e diferente de todas as outras unidades, sem desprimor para ninguém. Não é essa, juro, a nossa intenção.

Há tempos, escrevendo para ex-alunos do Colégio de Oliveira de Azeméis (estabelecimento de ensino que frequentei) eu defendi que a minha “ida à guerra” foi uma das coisas boas que me aconteceram na vida e apresentei as seguintes razões:

1º Lá aprendi muito e, como ser humano, cresci bastante – no respeito pelo próximo, na disciplina, na camaradagem, etc.
2º Como consegui sobreviver tenho matéria quase infinda para transmitir e o bom Deus deu-me vida para levar a cabo esta complicada tarefa;
3º Naqueles dois anos intermináveis vividos à sombra de tremendas intempéries e no meio de desmedidos perigos constantes – 60 minutos por hora e todos os dias – entre inimagináveis dificuldades e carências de toda a sorte, tivemos oportunidade (e aproveitámo-la da maneira mais conveniente) de edificar um numeroso agregado familiar de mais de 160 membros, amigos de todas as horas (antes quebrar que torcer) e sempre prontos a enfrentar os maiores sacrifícios para safar o companheiro do lado de qualquer situação calamitosa em que se encontre.

Isto só foi possível porque fomos superiormente comandados e ensinados por um oficial (capitão) rico em qualidades sublimes. Não uso mais adjetivos porque, mesmo que citasse todos os qualificativos do mais completo dicionário da nossa língua, todos não seriam suficientes para classificar com rigor tão destacada figura de homem e de militar. Alguém já disse que nós “endeusamos” aquele capitão (há anos que é general) mas fazemo-lo em plena consciência de que ele merece todo o nosso carinho e reconhecimento e que ele sente o mesmo por nós. A CCaç 675 foi célebre na Guiné, fomos a unidade mais badalada de todas durante aqueles dois anos porque:

- “Limpámos” completamente a nossa zona;
- Conseguimos trazer do Senegal largas centenas de portugueses que ali se refugiaram para escapar às represálias dos “independentistas” que os espoliaram de seus bens. Passada a fronteira, no regresso, eles diziam: “não temos nada a não ser a fiança do capitão”!
- Por solicitação, devidamente fundamentada, do célebre “capitão do quadrado” (como os adversários o apelidaram) o Governador-geral, Sr. General Arnaldo Shulz forneceu toneladas de arroz e amendoim para semear, toneladas de arroz para comer e 100.000$00 para adquirir alimentos para aquela gente;
- Beneficiámos estradas e reconstruímos pontes que haviam sido queimadas para impedir a nossa passagem;
- Construímos duas pistas de aterragem;
- Edificámos uma escola onde umas dezenas de crianças nativas aprendiam a ler e a escrever na língua de Camões e contratámos, a expensas nossas, um “professor” para as alfabetizar.

Um belo domingo, cerca de 30 crianças, alinhados por alturas, compareceram junto à sede da Companhia para assistir respeitosamente ao hastear da Bandeira; enquanto Ela subia garbosa ao longo daquela haste tosca e informe, as crianças cantaram jubilosamente o Hino Nacional – uma agradável surpresa para todos nós.

- Construímos um posto de enfermagem e a nossa equipa médica preparou um eficiente grupo de “enfermeiros” que ali tratavam com desvelo assinalável os seus familiares e amigos;
- À volta da nova aldeia construímos CREB (circular regional exterior de Binta) entre o arame farpado e o casario; militarizámos uma série de jovens que, sob a nossa supervisão, faziam a defesa da tabanca;
- Custeámos a transladação dos nossos mortos para que as famílias pudessem fazer o funeral condigno;
- A cereja no topo do bolo – pusemos a funcionar as aulas regimentais (certamente caso único) e 32 militares que tinham apenas a 3ª classe de adultos, fizeram, em Farim, o exame da 4ª classe;
- O indomável capitão de Binta pretendia que os seus rapazes estivessem permanentemente ocupados com tarefas válidas e úteis para que não pensassem em coisas tristes, o que os desencorajaria. Regressámos da Guiné, em Maio de 1966, e a nossa obra continuou, agora em moldes diferentes:
- Conseguimos os endereços completos de toda a gente; foi a primeira tarefa bastante complicada… mas conseguiu-se;
- Todos os anos, no primeiro ou no 2º domingo de Maio, a companhia reúne-se; no 1º ano éramos 24 elementos, mas chegámos a reunir 150 pessoas. É um encargo complicado juntar tanta gente, tendo em conta que temos militares em todas as províncias e na Madeira, apenas não tínhamos representação nos Açores. Se um companheiro não tem condições para pagar o almoço, pouco importa e alguém há-de pagar:
- todos os presentes o fazem sem regatear. Antes do almoço rezamos missa pelos nossos já 43 mortos;
- Temos vindo a colocar lápides nas sepulturas de todos os que já partiram;
- Os familiares de alguns dos nossos falecidos reúnem connosco;
-Conseguimos alguns empregos para companheiros ou familiares em dificuldades;
- No meio disto surgiu uma briga (uma boa briga) na nossa companhia; como todos somos adultos e pessoas de bem a contenda foi resolvida a contento. É caso para dizer: entre nós não há casos insanáveis; se surgem… ultrapassam-se sem molestar ninguém.

Um dos nossos “colocadores” de lápides alegava ter celebrado um contrato válido com o S. Pedro, segundo o qual ele ficava autorizado a viver até aos 120 anos, para colocar as lápides nas sepulturas de todos os companheiros; logo surgiu um desmancha-prazeres a “puxar a brasa à sua sardinha”: Não! Não! O último sou eu! Vimos a cara dele e todos concordámos, pois o seu nome é nem mais nem menos, este: Firmino António Carola Padre Eterno! Vejam só o que nós temos na CCaç 675!

- Surge agora a última obra de longo alcance que continuará a fazer-nos diferentes; vai ser agora divulgada para confirmar o editorial do Jornal de Famalicão da passada semana, sendo a exceção que confirma a regra. A CCaç 675 é agora também uma Associação se Socorros Mútuos.

Tivemos conhecimento que um dos nossos elos estava em dificuldades com o fisco; foi aconselhado a aceitar a divisão da dívida em parcelas suaves e temos vindo a colaborar no seu pagamento para que não vão “sobre a sua casa” o seu único bem material.

“Vejam agora os sábios da escritura / que segredos são estes da natura!”

Parece que não restam dúvidas que a CCaç 675… É realmente diferente de todas as outras.

Lisboa, 26 de Fevereiro de 2014
BT
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12700: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (46): Ocupação dos tempos livres

Guiné 63/74 - P13081: Notas de leitura (585): "O Pano Artesanal na República da Guiné-Bissau", por Isabel Borges Pereira Mesquitela (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Novembro de 2013:

Queridos amigos,
A autora lançou-se na criação de uma empresa original de recuperação da lendária panaria guineense, viu com orgulho ressurgir a criatividade dos artesãos que reabilitaram panos maravilhosos na grande tradição Manjaca e Fula, sobretudo. Mas foram tantas e tais as barreiras que teve de desistir.
Este livro é uma obra de grande afetividade por um projeto derrubado pela ignorância e a mesquinhez. A panaria guineense é um profundo enlace cultural da Guiné, de Cabo Verde e de Portugal. É uma arte que não se pode apagar e que merecia chegar aos mercados internacionais mais exigentes.

Um abraço do
Mário


O pano artesanal na Guiné-Bissau

Beja Santos

Isabel Borges Pereira Mesquitela foi para a Guiné-Bissau em 1986, descobriu que a panaria guineense tinha praticamente desaparecido. Deslocou-se ao interior da Guiné, contactou velhos artesãos e manifestou-lhes o desejo de recuperar essa panaria prodigiosa, uma das dimensões do talento guineense. Contratou um etnólogo, fez investigações e criou uma estrutura empresarial destinada à produção, divulgação e comercialização do pano guineense: “M’Banyala” que funcionou de 1988 até 1994, dedicou-se inteiramente à recuperação dos antigos padrões, à introdução de novos designs e cores adaptados ao quotidiano. Escreveu este livro com o objetivo de contribuir para uma maior sensibilização quanto à necessidade de preservar a arte da panaria da Guiné-Bissau.

A autora confessa o seu desalento quando, a partir de 1994, não pôde prosseguir com o seu projeto empresarial, tais e tantos foram os condicionalismos impostos que desviaram de forma drástica os índices de qualidade e beleza que sempre caraterizaram a tecelagem guineense. E adicionou alguns desses condicionalismos: fio de inferior qualidade que entra pelas fronteiras dos países vizinhos a preços muito mais acessíveis que o “100 % algodão” que importava de Portugal, os tecelões passaram a adquirir fio contendo maior percentagem de acrílico do que de algodão; também a crescente falta de poder de compra e carência de postos de venda desmotivaram os tecelões.

Esta panaria é o expoente de um património de várias culturas onde se entrelaçam a Guiné, Cabo Verde e Portugal. Neste livro carregado de afetos e onde a autora descreve minuciosamente a recuperação que procurou pôr em marcha nos anos 1980, conta de modo sugestivo o breve historial desta panaria e os principais centros de produção, socorrendo-se de um importante clássico de António Carreira “Panaria Cabo-verdiana-Guineense” (Aspetos históricos e socioeconómicos). O declínio desta prodigiosa arte da tecelagem acentuou-se nos anos 1960, segundo Carreira o pano manjaco ficava muito mais caro do que o importado da Europa. Para além do preço, a moda internacional desincentivava as mulheres mais jovens que se sentiam fascinadas pelos modelos europeus, enfim, a produção do pano artesanal acabou por colapsar por falta de matéria-prima. A autora contactou diferentes artesãos, comerciantes portugueses, pediu cotações para tintas adequadas a têxteis e fio de algodão em meadas. Alguns tecelões Manjacos e Papéis, bem como Fulas e Mandingas acabaram por aceitar o desafio que a autora lhes propôs.

Para interessar o leitor, Isabel Mesquitela descreve minuciosamente o tear Manjaco/Papel e o que o distingue do tear Fula. E procede a considerações técnicas sobre o pano de tear. Tinha-se deslocado a Portugal onde fizera a primeira encomenda de uma tonelada de fio. Para os primeiros trabalhos, a empresa contava com três tecelões Manjacos e dois Fulas. Como se sabe, estes panos são feitos em peças chamadas bandas. Um pano de banda estreita mede aproximadamente 1,20mx180m. É constituído por seis bandas de aproximadamente 0,20mx1,80m. Às barras transversais das pontas chamam “boca” e o padrão em si, entre duas “docas”, é denominado “corpo”. O pano é portanto constituído por bocas e corpo. Os jovens, inicialmente relutantes na arte da tecelagem, com o tempo entusiasmaram-se. A introdução de cores verificou-se naturalmente.

De seguida, elenca padrões recuperados e a sua evolução, é material gráfico muito sugestivo que permite ao leitor ser confrontado com a nomenclatura dos principais padrões de panos que a empresa comercializou na Guiné e no estrangeiro. Dá igualmente atenção ao pano tingido que tem longa história nesta região de África. Segundo Carreira, os povos Mandingas eram bastante entendidos na arte de tingidura de panos. E a autora dá os seus aportes técnicos: “As bandas são reduzidas da forma tradicional, sem sobreposição, formando o pano que, no caso de se desejar de cor única, é mergulhado e tinto integralmente. A tingidura integral ou com desenhos toma em crioulo a designação de moda ou maneira. Quando tingem com anilina, os “dégradés”, desde o tom azul muito escuro a que chamam preto até ao azul claro, dependem do tempo do banho de tinta. Panos havia que estavam mergulhados na tinta durante sete dias. Caso pretendam uma moda com desenho, praticam duas modalidades: a técnica de “Tritik”, e técnica “Plangi”, conhecidas em Java desde o século XII (…). O sistema de atadura permite fazer desenhos de batik sem isolar o tecido com cera. Marcam-se com um lápis as áreas, linhas ou pontos que devem ficar dobrados ou enrolado, ata-se e liga-se bem o desenho nestes pontos onde a tinta não deve penetrar; dentro das dobras, por vezes, metem pedras redondas, sementes ou contas. Depois de mergulhado na tinta previamente preparada é mexido com paus em tambores aquecidos a lenha, controlando por instinto o tempo de banho necessário. Posteriormente é enxaguado, desfeitas todas as ataduras, passado o pano por água com sal e depois de seco ao sol é distendido”. E ficamos por aqui, são aspetos técnicos que por si só não despertam o interesse para ver ou querer adquirir um destes maravilhosos panos artesanais.

Por último, a autora tece algumas observações sobre o uso do pano em decoração e moda. O pano corrido é um pano utilitário, pode servir de toalha, colcha ou como invólucro para transportar a roupa que lavam no rio. Esta secção está profusamente ilustrada com as exposições em que a autora colaborou na Galeria de Arte Ícaro (Lisboa), na Altamira e no Chapitô. Exemplifica também com panos que podem ser utilizados em cerimónias nupciais, trajes de grandes cerimónias, trajes de trabalho, etc.

Ao despedir-se, sente-se que a autora guarda melancolia profunda pelo que fez e pelo que não pôde fazer, devido a muitas incompreensões. Resta-lhe a esperança de que os artesãos, entretanto formados, continuem a tecer apesar da matéria-prima não ser a ideal e de terem que se defender tecendo padrões mais simples e de rápida confeção.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13057: Notas de leitura (584): "PAIGC - Sobre a Situação em Cabo-Verde", por Sá da Costa (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13080: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): III (e última) Parte


Guiné > Bissau > 1973 > No canto esquerdo o comandante Ricou, o oficial do lado direito de óculos é o Coronel CEM/CTIG Henrique Vaz (oficiais presentes na reunião relatada no manuscrito do sr. Coronel Vaz Antunes), e ao centro, também de óculos, o general Bethencourt Rodrigues (destituído em 26 de Abril de 1974), numa cerimónia oficial, em Bissau, no ano de 1973. Fotografia do arquivo pessoal do coronel Henrique Gonçalves Vaz.

O QG/CTIG era o Quartel General do Exército (situado nas instalações militares de Santa Luzia), enquanto o QG/CCFAG era o Quartel General de todas as Forças Armadas em serviço naquele território (situado no antigo Forte da Amura, mesmo em frente ao cais de Bissau).

O coronel Henrique Gonçalves Vaz, CEM/CTIG na altura destes acontecimentos, irá desempenhar as funções de Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG (Comando Unificado), após este Golpe Militar.,

Foto  (e legenda): © Luís Gonçalves Vaz (2014).  Direitos reservados


Guiné > Bissau > 1974 > O Coronel António Vaz Antunes (à esquerda da fotografia) com o General Bethencourt Rodrigues, e outros oficiais numa visita do Comandante-Chefe a uma unidade em Bissau, no ano de 1974. Fotografia do arquivo pessoal do Coronel António Vaz Antunes.

Foto: © Fernando Vaz Antunes (2014). Direitos reservados


Lisboa > Base Naval do Alfeite > 30 de abril de 1974 > Da esquerda para a direita: Coronel António Vaz Antunes, Brigadeiro Leitão Marques, General Bethencourt Rodrigues e Coronel Hugo Rodrigues, todos oficiais afastados no Golpe Militar de 26 de Abril em Bissau. Fotografia obtida já no Alfeite, em Lisboa no dia 30 de Abril de 1974.


Foto: © Fernando Vaz Antunes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



 Folha nº 5

Folha nº 6 

 Folha nº 7

 Folha nº 8
Folha nº 9


Fonte: © Fernando Vaz Antunes (2014). Direitos reservados


Restantes folhas, de 5 a 9, do documento manuscrito, da autoria do cor inf António Vaz Antunes, de 9 folhas, "Memorando dos acontecimentos de Bissau", datado de Lisboa, 30 de abril de 1974. Transcrição da responsabilidade do seu filho Fernando Vaz Antunes que digitalizou e facultou o documento ao Luís Gonçalves Vaz, para divulgação no nosso blogue (*).


Comentário do editor L.G.:

O nosso especial agradecimento a ambos, ao Fernando Vaz Antunes (que não conheço pessoalmente, mas sei que passou pela Academia Militar, e vive em Mafra, de acordo com a sua  página no Facebook) e ao Luís Gonçalves Vaz pelo seu contributo para a preservação e divulgação de documentos relevantes, como este, para a historiografia da presença portuguesa na Guiné, e em particular para a nossa historiografia militar, relativa ao período de 1961 a 1974.

Sendo ambos filhos de militares que serviram a Pátria no TO da Guiné, querem também, e com toda a legitimidade,  honrar a memória dos seus pais. É para isso que o nosso blogue também serve. E nessa medida envio, desde já,. um convite ao Fernando Vaz Antunes para se juntar aos camaradas e amigos da Guiné, que se senta à sombra do poilão da Tabanca Grande. Basta expressar a sua vontade, mandar-nos uma foto atual e aceitar as nossas regras de convívio.

Quanto ao Luís Gonçalves Vaz [, foto atual à esquerda,] recorde-se que  é  membro da nossa Tabanca Grande (nº 530), é professor do 2º/3º ciclos do ensino  básico em Vila Verde, vive em Braga, e é filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74), já falecido.

O Luís, como aqui já ele próprio recordou, tinha 13 anos e vivia em Bissau, com a família, quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo.


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Nota do editor:

Vd. postes anteriores:


quinta-feira, 1 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13079: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): Parte II


Cor inf António Vaz Antunes (1929-1998): "Memorando dos acontecimentos de Bissau".
Documento manuscrito, Lisboa, 30 de abril de 1974.





Folha nº1




Folha nº 2



Folha nº 3


Folha nº 4

(Continua)

Fonte: © Fernando Vaz Antunes (2014). Direitos reservados


Primeiras quatro folhas do documento manuscrito, da autoria  do cor inf António Vaz Antunes, de 9 folhas, "Memorando dos acontecimentos de Bissau", datado de Lisboa, 30 de abril de 1974. Trancrição da responsabilidade do seu filho Fernando Vaz Antunes que digitalizou e facultou o documento ao Luís Gonçalves Vaz, para divulgação no nosso blogue (*). O nosso especial agradecimento a ambos.

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Guiné 63/74 - P13078: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): Parte I


1. Mensagem, acabada de enviar hoje, às 14h50, pelo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande,  filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74), e que tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo:

Boa tarde, camarigo editor:

É com muita satisfação e "sentido do dever cumprido" que envio para publicação no nosso Blog, este artigo sobre um Documento manuscrito em 30 de abril de 1974, pelo Sr. Coronel António Vaz Antunes sobre a forma de um “Memorando dos acontecimentos de Bissau”, protagonizados pelo próprio em 25 e 26 de abril de 1974.


Trata-se, quanto a mim de um documento histórico-militar, de grande "relevância", e de um momento muito conturbado para a então Província Ultramarina Portuguesa da Guiné. Fez ontem 40 anos, que este oficial com grandes responsabilidades na altura, na defesa do perímetro militar da cidade de Bissau, escreveu este documento, não poderia haver melhor momento, para o publicar.

Forte Abraço, Luís Vaz




2. Golpe Militar de 26 de Abril de 1974 no TO da Guiné  > “Memorando dos acontecimentos de Bissau”

Pelo cor inf António Vaz Antunes [1923-1998]

A pedido do filho do Ilustre Sr. Coronel de Infantaria António Vaz Antunes, Fernando Vaz Antunes, elaborei este artigo para dar visibilidade nacional, neste nosso muito visitado blogue,  a um documento manuscrito em 30 de abril de 1974, sobre a forma de um “Memorando dos acontecimentos de Bissau”, protagonizados pelo próprio,  em 25 e 26 de abril de 1974, e registados em papel pela mão deste oficial, três dias depois de os mesmos terem decorrido.

Enfim trata-se, quanto a mim de um documento histórico-militar de uma altura muito conturbada e de mudança de paradigma politico e consequentemente de grandes mudanças para a então Província Ultramarina Portuguesa da Guiné. Este documento, em minha opinião contribuirá sem dúvida para a “Memória Histórica do Golpe de 26 de Abril na Guiné”. Achei que deveria Iniciar este artigo com uma pequena resenha biográfica sobre este oficial. 

António Vaz  Antunes

[consultar também o portal Ultramar Terrweb]

(i) nasceu na freguesia da Mata, Concelho de Castelo Branco, em 21 de Junho de 1923;

(ii) faleceu em 15 de Outubro de 1998;

(iii)  frequentou a Escola do Exército, onde se formou como oficial de Infantaria do Exército Português; 

(iv) no ano de 1959 realizou um estágio de oficiais do Exército Português, junto de tropas francesas na Argélia;

(v) passou pelo CIOE/Lamego, onde foi 2º comandante; 

(vi) passou também por por Angola onde foi 2º comandante do Batalhão de Caçadores 185/RMA (1961 e 1962);  e por Moçambique, onde foi 2º comandante do Batalhão de Caçadores 1918/RMM (1967) e comandante do Batalhão de Caçadores 17/RMM (1967 a 1968);

(vii) no CTIG, foi comandante do Batalhão de Caçadores 4512/72/CTIG (1972 a 1975);

(vii) neste teatro de operações, e na altura a que se reportam os acontecimentos relatados no “manuscrito” aqui publicado, o Coronel António Vaz Antunes era Adjunto do Comandante do CTIG e Comandante interino do COMBIS (Comando da Defesa Militar de Bissau), bem como Inspetor do CTIG;

Para que se perceba bem, este oficial tinha nesta altura, uma missão de muita responsabilidade na defesa militar de todos os quarteis no “perímetro militar de Bissau”, mesmo assim na reunião relatada no “documento histórico”, foi afastado destas funções pelo MFA da Guiné. 

Chamo à atenção que nesta altura não estavam em funções os 1º e 2º Comandantes do CTIG, pois encontravam-se de licença, o que elevava a responsabilidade deste oficial no quadro de comandos neste TO (Teatro de Operações). Pode-se ler,  por exemplo, no seu manuscrito, que no dia 25 de Abril recebeu por telefone e por mensagem indicações do CEM/CTIG, coronel cav Henrique Gonçalves Vaz, “recomendações para que o pessoal de guarda tivesse a máxima atenção na vigilância com vista a garantir a segurança dos quartéis contra qualquer tentativa do IN”, a situação era de facto explosiva, vulnerável e muito sensível …

Não quero de forma alguma, fazer aqui qualquer tipo de julgamento, apenas pretendo apresentar este “documento histórico”, de uma forma contextualizada, para que os leitores se inteirem do “ambiente deste momento histórico”, nunca deixando de se perceber que estavam em causa altos interesses “políticos, militares e de segurança”, neste teatro de operações, que era sem dúvida o pior, o mais “dramático”, o mais duro de todos os teatros de operações que mantínhamos naquele ano de 1974. 

Antes de apresentar o “documento manuscrito” do Sr. coronel António Vaz Antunes, quer a “transcrição” para melhor leitura, quer as imagens do “próprio original”, apresento uma pequena citação da autoria de um dos “oficiais revoltosos”, o então capitão Jorge Sales Golias, um dos protagonistas desse mesmo golpe, e que explica o que se teria passado “momentos antes desta mesma reunião”, que acabou por afastar o coronel António Vaz Antunes, a reunião que levou à “destituição/prisão" (?) do então Governador e Comandante-Chefe desta Província Ultramarina, general Bethencourt Rodrigues, a saber:

“Em Setembro de 1973, constitui-se uma primeira Comissão Coordenadora, que integrava o Major Almeida Coimbra, Capitão Duran Clemente, Capitão Matos Gomes e o Capitão Caetano.”

“Assim, no dia 26 de Abril, onze oficiais (1) dirigiram-se ao Gabinete do General Comandante e exigiram a sua demissão e o regresso a Lisboa. Foi um acto pacífico, civilizado, mas dramático. Com o General vieram também alguns oficiais que se lhe solidarizaram, nomeadamente o Brigadeiro Leitão Marques que o MFA julgava poder contar para o substituir.

"Por isso tivemos que solicitar ao Comodoro Almeida Brandão, o Comandante Marítimo, que assumisse as funções de Comandante-Chefe interino das Forças Armadas na Guiné-Bissau. Regista-se o facto de este oficial já ter reconhecido a Junta de Salvação Nacional (JSN). 

"Para as funções de Encarregado do Governo interino, o MFA indigitou um dos seus membros, o Tenente-Coronel Mateus da Silva que era Comandante do Agrupamento de Transmissões, o Quartel-General da conspiração, e um dos poucos oficiais superiores que integrava o Movimento dos Capitães (MOCAP). “

"Lisboa em 20 de Maio de 2005

"Jorge Sales Golias, Tenente-Coronel, MFA da Guiné-Bissau - 1974, Adjunto do CEME, General Carlos Fabião - 1974/75"

(1) Lista dos Oficiais revoltosos:

TCor [Eduardo] Mateus da Silva, Engº Trms
TCor Maia e Costa, Engº
Maj [Raúl] Folques,  Cmd
Maj [Manuel Joaqum Trigo Mira] Mensurado,  Pára [BCP 12]
Cap Simões da Silva,  Art
Cap [Jorge] Sales Golias, Eng Trms
Cap [Carlos] Matos GomesCmd
Cap Batista da Silva.  Cmd
Cap [Zacarias] Saiegh, Cmd (Africano)
Cap Ten Pessoa Brandão, Armada
Cap mil José Manuel Barroso



Como poderemos ler nesta citação, este Golpe Militar na Guiné, segundo um dos seus protagonistas, o então capitão Jorge Sales Golias, “foi um acto pacífico, civilizado, mas dramático”, mas que,  segundo me contaram à época, foi “duro na forma”, em que destituíram o então General Bethencourt Rodrigues…. 

Eu estava lá em Bissau na altura, e apesar de ser muito jovem (tinha 13 anos de idade), era filho de um militar com grandes responsabilidades neste TO e que presenciou também este “episódio histórico”, fiquei com essa ideia (bem como ao longo destes últimos 40 anos), embora se possa considerar que um “golpe militar é por natureza duro”. 

No entanto entre militares que viviam a guerra em conjunto, do mesmo lado da “trincheira”,  e que,  até o dia 25 de Abril, mantinham uma “cadeia hierárquica” sólida, liderada quiçá por um dos mais competentes e respeitados generais portugueses da altura [o gen Bethencourt Rodrigues], o momento seria inevitavelmente (seria mesmo ?) sempre “dramático” para quem é destituído das suas funções neste contexto político-militar. 

Esta ideia com que fiquei, será no entanto verosímil,  a ter em conta  o facto deste general ter ficado “tão tocado” com este episódio que,  passado muitos anos,  não quis dar entrevistas em direto para reportagens sobre a “A Guerra Colonial”, tanto quanto sei. Disse sempre que não se esquecia da “forma como o trataram” nessa manhã longínqua,  no Forte da Amura,  em Bissau.



Lisboa > Base Naval do Alfeite > 30 de abril de 1974 > Da esquerda para a direita: Coronel António Vaz Antunes, Brigadeiro Leitão Marques, General Bethencourt Rodrigues e Coronel Hugo Rodrigues, todos oficiais afastados no Golpe Militar de 26 de Abril em Bissau. Fotografia obtida já no Alfeite, em Lisboa no dia 30 de Abril de 1974.

Foto: © Fernando Vaz Antunes  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Não irei aqui proceder a reflexões “técnico-militares”, se o Sr. General foi apenas “destituído das suas funções” pelos militares revoltosos, ou se foi mesmo “preso”, pois esse tipo de discussões não serão a razão principal deste mesmo artigo.

Sendo assim,   passo à apresentação do “documento histórico”, que justificou a elaboração deste mesmo artigo, o “manuscrito do Sr. coronel de Infantaria, António Vaz Antunes: primeiro apresentarei o original, escrito pelo seu próprio punho, logo dias após o seu afastamento das suas funções neste TO, e depois a “transcrição fiel”,  realizada pelo seu filho Fernando Vaz Antunes, onde apenas se procedeu à introdução / reorganização de notas de rodapé, para permitir uma melhor leitura, tendo também recorrido ao “Regulamento de Abreviaturas Militares” para um melhor esclarecimento dos acontecimentos relatados.


Guiné > Região do Oio > O Coronel António Vaz Antunes,  em Farim,  no ano de 1974. Fotografia do arquivo pessoal do coronel António Vaz Antunes.

Foto: © Fernando Vaz Antunes  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Primeira parte da folha 1, do documento manuscrito do cor inf António Vaz Antunes, de 9 folhas. Trancrição da responsabilidade do seu filho Fernando Vaz Antunes.

3. Lisboa 30Abr74  > Memorando dos acontecimentos de Bissau  (Transcrição dos registos originais)  [Por decisão do editor, e para tornar a leitura mais fácil, e o blogue mais ágil, apresentam-se as imagens digitalizadas do documento manuscrito, nos dois postes a seguir]

Cor. António Vaz Antunes


Funções:

Desde 24Mar – Inspector do CTIG

13Abr – Adjunto do Cmdt do CTIG para parcial substituição do Brig. 2º Cmdt [1], de licença; Cmdt intº do COMBIS por licença do Comandante

Sequência cronológica

24Abr

Considerando que 26 era feriado em Bissau, e para aproveitamento de tempo, solicitei à Chefia Srvc Transportes passagem para Bolama, a partir das 09:30

Planeei assistir às cerimónias mais significativas de homenagem a Honório Barreto e seguir depois para Bolama, em visita ao BArt [2] em IAO.

25Abr

Conhecimento por camaradas, do Movimento das Forças Armadas em Lisboa: através da BBC ao fim da tarde, depois de actividades várias no CTIG e COMBIS, tive conhecimento do triunfo do Movimento. 

Às 18:00 horas comuniquei à Chefia Srvc Transp para anular ida a Bolama.

22:00 horas – como de hábito, desloquei-me para o COMBIS para pernoitar, depois de ter recebido comunicação telefónica do Chefe do Estado Maior do CTIG [3] para recomendar ao pessoal de guarda a máxima atenção na vigilância com vista a garantir a segurança dos quartéis contra qualquer tentativa do IN.

À chegada ao COMBIS recebi a mensagem escrita que repetia a recomendação telefónica. Dei as necessárias instruções ao Oficial de Dia. 

Pouco depois o Oficial de Dia batia à porta do quarto para me prevenir de que a Emissora Nacional (Lisboa) ia transmitir uma mensagem do Movimento. Desloquei-me para o Bar, onde ouvi a mensagem na companhia do Oficial de Dia e mais 2 alferes.

Logo de seguida voltei para o quarto e pouco depois ouvi a repetição da mensagem, feita agora por emissor da Guiné e mais tarde repetida pelo PFA [Programa das Forças Armadas]  , vulgo “PIFAS”.

26Abr

Às 08:00 dirigi-me para a Praça Honório Barreto, de uniforme nº1 (branco), acompanhado do Cor Lemos [4]

Terminada a cerimónia, voltei ao quarto e mudei de farda.

09:45 – Chegada ao QG/CCFAG para tomar parte no briefing diário. Enquanto aguardava no local habitual, juntamente com outros oficiais – nomeadamente Cor Vaz, Cor Pilav Amaral Gonçalves, Cmdt Ricou e Comodoro Brandão [5] –, o Cmdt Lencastre chegou conduzindo um Volkswagen muito apressadamente, travou bruscamente e dirigiu-se a correr ao Comodoro a quem comunicou qualquer coisa, de que eu só percebi “vêm aí pára-quedistas”. 

O Comodoro não reagiu, o Cor Amaral Gonçalves pareceu-me surpreendido e eu perguntei ao Ricou, também impassível, o que se passava.

Este informou-me que eram os pára-quedistas que estavam a cercar o QG. Perguntei qual a intenção, respondeu não saber. Perante a impassibilidade destes, dirigi-me à sala de reuniões para onde tinha visto entrar o Sub Chefe do Estado Maior – Ten Cor Monteny [6] –, disse-lhe o que se tinha passado e ele respondeu-me que não sabia de nada. 

Respondi que, nesse caso, o nosso General [7] também não devia saber. Confirmou-me que não. Nessa altura ordenei-lhe que fosse avisar o nosso General, o que se prontificou a fazer, tendo saído para o efeito [8]. 

Momentos depois o grupo de oficiais, que estava fora, dirigiu-se para a sala de reuniões. Fiz o mesmo e cada um ocupou o lugar habitual.

Faltavam o General Cmdt Chefe, o Brigadeiro Adjunto [9] e o CEM/QG/CCFAG [10]. Não estranhei, por supor que estariam ocupados – e não era a primeira vez que o Comodoro presidia à reunião.

Logo que todos tomaram lugares – e havia muito mais oficiais que era habitual em briefing de rotina, especialmente considerando que era feriado –, adiantou-se para a frente o Ten Cor Mateus da Silva [11] que pedia atenção e disse: 

“A Comissão na Guiné do Movimento das Forças Armadas, que está aqui presente, entendeu que o Sr. General Bethencourt Rodrigues não podia continuar no desempenho de funções. Foi-lhe dado conhecimento disso e destituiu-o. Em face disso nomeia o Sr. Comodoro, Comandante Chefe, e eu, que já desempenhava funções de direcção no Serviço das Obras Públicas, passo a desempenhar as de Secretário Geral” [12].

O Comodoro fez um gesto afirmativo de cabeça e disse: “Bem, vamos ao briefing!”. 

Houve uns curtos momentos de silêncio e passividade que me fizeram crer que só eu fora surpreendido, pelo que me levantei e pedi licença ao Comodoro para dizer: 

“Para mim é surpresa o que acabo de ouvir. Tenho uma missão de responsabilidade da defesa de Bissau. Desejo identificar os membros da Comissão da Junta que tomou tais decisões e conhecer a minha posição!” 

O Comodoro propôs que falássemos depois do briefing. Insisti para que se não adiasse porquanto não conhecia as novas estruturas criadas.

Além disso,  em 33 anos de Oficial nunca se me tinham deparado tais procedimentos dentro das estruturas militares, pelo que pedia o esclarecimento da situação. 

Enquanto falava, um capitão tentou intrometer-se, no que o impedi [13]. Mas logo que terminei, ele pediu licença ao Comodoro e sugeriu “que o senhor Coronel acompanhasse o Sr. General para Lisboa, no Boeing que o transportaria nessa tarde”.

Fiquei perplexo, o Comodoro não respondeu, mas fitava-me como esperando a minha reacção, e então retorqui: 

“Lamento que seja posto na situação de aceitar uma sugestão apresentada por um Capitão que não conheço, mas se o Sr. Comodoro a aceitar eu aceito-a também!”.

 O Comodoro respondeu: “Sim, é melhor, vai com o Sr. General para Lisboa!”. 

Perguntei se podia contactar com o Sr. General, a fim de lhe perguntar se dava licença que o acompanhasse. Perante resposta afirmativa, pedi licença e retirei-me. Dirigi-me de imediato ao gabinete do Comandante Chefe e perguntei ao Sr. General Bethencourt Rodrigues se autorizava que o acompanhasse no avião que o transportaria para fora de Bissau. 

Respondeu-me que não tinha que se pronunciar sobre isso porque fora forçado por um grupo de oficiais, que invadiram o seu gabinete, a abandonar o cargo. Esclareci que apenas pedia licença para o acompanhar, porquanto a ordem para embarcar tinha-me sido dada no briefing nas circunstâncias que atrás referi.

Entretanto entraram no gabinete o Comodoro, o Cor Vaz, o Cmdt Ricou e o Cmdt Lencastre. Após breves palavras que o primeiro disse ao Sr. General, em termos de lamentação (que eu não entendia… ), esclareci-o que o Sr. General autorizava que eu o acompanhasse. Perguntei por guia de marcha, e disse-me que não era precisa. Indaguei sobre hora e local de reunião e fui informado que podia reunir-me no Palácio, ao Sr. General, até às 13 horas. 

Logo de seguida – cerca das 10:15 –, dirigi-me ao COMBIS para recolher os meus haveres pessoais e informar o meu Chefe do Estado Maior, de que devia entrar em contacto com o Cmdt Chefe para lhe definir a situação e missões.

Quando chegava à entrada do Depósito de Adidos, acesso ao COMBIS, estava a formar junto à porta, muito apressadamente, um Pelotão do Batalhão de Comandos Africanos, transportado para ali numa viatura pesada estacionada em frente. O Pelotão estava completamente armado, inclusive com LGF e armas automáticas, equipado e municiado.

Deduzi que seria por minha causa, mas nem parei nem interferi. Rapidamente reuni os meus haveres após o que chamei o Ten Cor Altinino e o Cap Bicho para os informar que deixava o COMBIS, mas não tinha dados que me permitissem transmitir o Comando.

Cerca das 12:45 cheguei ao Palácio com a minha bagagem. Cerca das 14h, quando vi chegar a guia de marcha para o Brig. Leitão Marques e Cor. Hugo Rodrigues da Silva, telefonei ao Cor Vaz, Chefe do EM/CTIG solicitando uma guia também para mim. Às 15:30 o Cor Vaz e o Ten Cor Monteny disseram-me que o Comodoro não assinava a guia e não autorizava que eu saísse.

Surpreendido por esta nova versão, procurei o Comodoro para que me esclarecesse. Estava num dos corredores do Palácio para tomar parte na cerimónia de tomada de posse do novo Governo da Província. Respondeu que não estava na disposição de autorizar que saísse quem pedisse. Lembrei-lhe que eu não o pedira – ele é que o ordenara. Reagiu atirando-se para um sofá e declarando que se quisesse embarcar que embarcasse, mas que não me passava guia.

Mais tarde, já no aeroporto, pedi-lhe para me atender em particular, e solicitei que recordasse o que se tinha passado e a ordem que me dera, e a situação em que me colocara na presença de dezenas de oficiais. Decidiu então que me enviaria a guia pelo correio e autorizou que embarcasse.

Chamei o Cor Vaz e o Ten Cor Monteny e, estando também presente o Cmdt Ricou, o Comodoro deu ordem ao Cor Vaz para me enviar a guia para o DGA [14] no dia seguinte.

Nessa mesma ocasião, disseram (não me lembro quem) ao militar que fazia policiamento à porta de passagem para a gare, que eu podia embarcar.


(24-26Abr1974) – Cor. António Vaz Antunes

Fernando Vaz Antunes, documento inédito, cedido pelo autor ao Luís Gonçalves Vaz e ao blogue  Luís Graça & Camaradas da Guiné

Fonte: © Fernando Vaz Antunes (2014).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Bissau > Quartel-General > O velho forte da Amura > Entrada principal



Foto: © João Martins  (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


E no ainda Império Português, decorria aqui, neste antigo forte colonial (Forte da Amura), mais um Capítulo da História Colonial Portuguesa. No entanto ainda seriamos “senhores deste território”, desta Província Ultramarina,  por mais seis meses, já que o acantonamento e a retirada dos 42 000 militares portugueses (número máximo de militares presentes neste TO) , bem como as negociações com o PAIGC, iriam levar o seu tempo e conhecer a sua “turbulência”.

 Nesta fase final, ainda houve “pressões por parte do PAIGC” e por parte de alguns sectores políticos para que todo o processo de descolonização na Guiné fosse célere. Como tal em 14 de Outubro de 1974 saem os últimos militares portugueses por via aérea, e no dia 15 saem os últimos militares portugueses, por via marítima, estes já ao largo, desde o dia 14 de Outubro.

Espero assim ter contribuído mais um pouco, para a elaboração da “Memória Futura do Golpe Militar de 26 de Abril de 1974”, na antiga Província Ultramarina Portuguesa da Guiné. 

Resta-me agradecer ao Sr. Fernando Vaz Antunes, filho do Sr. Coronel António Vaz Antunes, a amabilidade em me ter confiado esta missão de divulgação deste importante “documento histórico”, de que é proprietário e legítimo herdeiro. Como a História se faz a partir do estudo de documentos e vestígios do passado, aqui ficou mais um, com grande valor para que historiadores e investigadores se possam debruçar sobre estes acontecimentos marcantes da nossa vivência colectiva.


Braga, 29 de Abril de 2014

Luís Beleza Gonçalves Vaz

____________

Notas de AVA/FVA/LGV:

[1] - Brigadeiro Octávio de Carvalho Galvão de Figueiredo, 2º Comandante do CTIG e, por inerência, Comandante do COMBIS (Comando da Defesa Militar de Bissau).

[2] - Batalhão de Artilharia nº 6520/73, mobilizado pelo RAL5-Penafiel e aerotransportado entre 01 e 04Abr74, do AB1-Portela para a BA12-Bissalanca, de onde marchou para o CIM-Bolama.

[3] - Coronel de cavalaria CEM Henrique Manuel Gonçalves Vaz (CEM/QG-CTIG desde 07Jul73 até 14Out74)

[4]  -«A cerimónia começou mais tarde porque se aguardou, em vão, a chegada do Gen Cmdt Chefe. A dada  altura, por decisão do Comodoro Brandão que estava presente, deu-se início à cerimónia com uma alocução  do então Maj de infantaria Alípio Emílio Tomé Falcão, Comissário Provincial da MP na Guiné.» [AVA]

[5] - António Horta Galvão de Almeida Brandão, Comandante do ComDefMarG (Defesa Marítima da Guiné).

[6] - António Hermínio de Sousa Monteny, Tenente-Coronel CEM

[7] - José Manuel de Bethencourt Conceição Rodrigues, desde 29Set73 Governador e CCFAG.

[8] - «Houve entretanto um curto impasse: o Monteny continuava a escrever uns papéis, que eu lhe retirei da secretária repetindo-lhe que fosse de imediato – e ele foi. Isto passou-se na sala, enquanto o resto do pessoal estava fora. Quando o Monteny saiu, vim atrás dele, mas ao chegar à porta vi que os que estavam fora, incluindo o Comodoro, vinham entrando para o briefing, e eu fiz o mesmo, enquanto o Monteny descia o jardim.» [AVA]

[9] - Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques.

[10] - Coronel CEM Hugo Rodrigues da Silva. [O QG/CTIG era o Quartel General do Exército (situado nas instalações militares de Santa Luzia), enquanto o QG/CCFAG era o Quartel General de todas as Forças Armadas em serviço naquele território (situado no antigo Forte da Amura, mesmo em frente ao cais de Bissau). O coronel Henrique Gonçalves Vaz, CEM/CTIG na altura destes acontecimentos, irá desempenhar as funções de Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG (Comando Unificado), após este Golpe Militar.]

[11] - António Eduardo Domingos Mateus da Silva, TCor Engº Trms, desde Jul72 Comandante do AgrTmG.

[12] - «O Mateus da Silva propôs-se ocupar os cargos de Secretário Geral e Encarregado do Governo – o que veio a acontecer –, tendo sido “empossado” cerca das 12h quando nós estávamos ainda no Palácio do Governo (e residência do Governador).» [AVA]

[13] - «O Capitão era o José Manuel Barroso, miliciano, que dirigia o semanário “Voz da Guiné” (e mais nada); era casado com a “fulana” que estava em Bissau para estudar a instalação da Universidade de Bissau, recebendo por isso 15 contos X mês (naquele tempo… ).» [AVA]

[14] - Depósito Geral de Adidos (Calçada da Ajuda, em Lisboa).

(Continua)

Guiné 63/74 - P13077: Agenda cultural (312): Convite para o lançamento do livro “O Corredor da Morte”, de Mário Vitorino Gaspar, no próximo dia 22 de Maio, 4ª feira, pelas 17h30, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa, com a presença, entre outros, do ten gen Joaquim Chito Rodrigues, presidente da Liga dos Combatentes, e do psiquiatra Afonso de Albuquerque, autor do prefácio



Convite do autor para o lançamento do seu livro, "O corredor da morte"


1. Mensagem de 29 de abril último, do nosso camarada Mário Gaspar:


Camaradas e amigos da Tabanca Grande


 I. Fiz a minha Comissão de Serviço como Furriel Miliciano de Artilharia, Atirador e com a Especialidade de Explosivos de Minas e Armadilhas, na Companhia de Artilharia 1659 - CART 1659 - também conhecida como a "ZORBA" em Gadamael Porto e Ganturé - desde Janeiro de 1967 a Outubro de 1968.

Divido o livro em três partes: (i) a minha operação ao coração e o quanto estive perto da morte, fugindo dela após 16 dias em coma; (ii) a minha vida infanto-juvenil, escrita com a beleza de uma poesia dedicada ao bom e ao belo;  e (iii) a minha história militar e o que pensava e fiz antes da partida para a Guiné, para onde fui mobilizado.

E o livro tem o significado de ter existido algo de comum na minha vida, "O Corredor da Morte":

(i) estive no "corredor da morte" quando fui operado ao coração;

(ii) estive no "corredor da morte", quando manuseava explosivos, minas e armadilhas;  e

(iii) estive no "corredor da morte" quando frequentemente tinha de participar nas emboscadas no famigerado "corredor da morte", também chamado "corredor de Guileje", junto à fronteira da ex-Guiné Francesa, hoje Guiné Conacri.

Os intervenientes, Oficiais, Sargentos e Praças,  não possuem rosto, nem nome, embora na enormidade dos casos se possam reconhecer. A Companhia que tinha como lema "Os Homens não Morrem", formada por verdadeiros heróis, aliás como todos os outros jovens que combateram na Guerra Colonial, nas três frentes

Dos mortos que esta Companhia teve, constam os nomes, dos feridos pensei em não os enumerar, o que não é desrespeito.

II. O Lançamento do livro “O Corredor da Morte”, da autoria de Mário Vitorino Gaspar,  é no dia 22 de Maio pelas 17h30, no Forte do Bom Sucesso, em Belém – Lisboa.

A mesa de lançamento do livro, terá a seguinte composição:

1 – Preside a mesa o Presidente da Direção Central da Liga dos Combatentes, General Joaquim Chito Rodrigues;

2 – A Professora Ermelinda Caetano que fará a apresentação do livro e representará a Associação Cultural e Social dos Seniores de Lisboa – Academia de Seniores de Lisboa;

3 – O Psiquiatra Doutor Afonso de Albuquerque, autor do prefácio do livro,  falará decerto sobre a sua comissão em Moçambique como médico, assim como da sua intervenção em trabalhos científicos em Portugal sobre o estudo do Stress Pós Traumático de Guerra;

4 – Eu, como autor do Livro projecto uns slides sobre o livro;

5 – O representante da APOIAR – Associação de Apoio aos Ex Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.

Envio em Anexo o Convite para o Lançamento do Livro.

Cumprimentos do Homem da Tabanca Grande

Mário Vitorino Gaspar

PS - Gostaria imenso que o blogue Luís Graça & Camaradas na Guiné estivesse representada na mesa de lançamento.

Assim, convido-os a fazerem-se representar no mesmo. Para tal necessito da resposta dos Homens Grandes da Tabanca, tão breve quanto possível, visto pensar iniciar o envio dos Convites já para a semana que vem.
______________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de abril de 014 > Guiné 63/74 - 13058: Agenda cultural (311): Lançamento do livro de Henrique Tigo, "As Portas de Abril", 30 do corrente, 4ª feira, 19h, Centro Cultural Malaposta, Olival Basto, Loures

Guiné 63/74 - P13076: 10º aniversário do nosso blogue (23): Mensagens de parabéns (Parte II): Manuel Reis, João Silva, Mário Vasconcelos

Mais mensagens e comentários, a propósito do 10º aniversário do nosso blogue (*):


(i) Manuel Reis 


[, ex-Alf Mil Cav, CCAV 8350, Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã, Colibuia, 25/10/72 - 27/8/1974]


Caros amigos e camaradas:

Em primeiro lugar os meus parabéns para o grande obreiro deste blogue, o nosso amigo e camarada Luís Graça, não esquecendo os que, ao longo dos 10 anos, o foram acompanhando numa caminhada, lado a lado, por vezes complicada e difícil.

Foram 10 anos de muito trabalho, esforço e dedicação a uma causa, a que os ex-combatentes da Guiné não podem deixar de estar gratos. Muitos foram os caminhantes, ex-combatentes, que fizeram o mesmo percurso, escrevendo, intervindo e fazendo deste blogue, um escape para os problemas que arrastavam consigo da Guiné.

Era justo e merecido para todos a recordação da efeméride, com um almoço-convívio. Sentimos essa necessidade.

O meu Bem Haja ao Luís e a todos os ex-combatentes envolvidos neste projecto.

Um abraço solidário e amigo a todos os ex-combatentes.

Manuel Reis.

(ii) João Silva

[ex-furriel mil at inf CCaç 12, 1973]

Luís Graça.

Vou dispensar adjectivos sobre a qualidade do blogue mas sim centrar-me no que evidencia o seu papel social e aglutinador que reflete nos seus 650 tanbanqueiros e mais de 5 milhões de visitantes, níumero no qual me incluo.

Cheguei aqui, ao blogue, através de uma busca que teve como tópico a Companhia Caçadores 12. Companhia de que fiz parte em simultâneo com o António Duarte,  grã-tanbanqueiro. A leitura que faço deste espaço é que é um ponto de encontro e também um espelho do que fomos pela nossa passagem pela Guiné-Bissau. 

Pela minha parte continuarei a divulgá-lo especialmente a ex-combatentes e a frequentá-lo com alguma regularidade. Ao Luís e restante equipa o meu obrigado pelo vosso trabalho.

João Silva

(iii) Mário Vasconcelos

[ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74].

Tabancas grandes, pequenas,
Em dez anos se criaram
Florindo em fotos e textos
Como nunca se esperaram.

Foram dias, foram anos,
Com recolhas de memórias,
Guardem-se pois nossos dias
Como folhas de nossa história.

E num abraço colectivo
À sombra do nosso poilão,
Brindemos à alegria,
Transformando a solidão.

Guiné 63/74 - P13075: Parabéns a você (727): José Carlos Neves, ex-Soldado TRMS do STM (Guiné, 1974) e Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703 (Guiné, 1964/66)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 29 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13062: Parabéns a você (726): Giselda Pessoa, ex-Sarg Enf.ª Paraquedista do BA 12 (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Guiné 63/74 – P13074: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (1): 10 razões para estarmos todos juntos, em Monte Real, no dia de 14 de junho de 2014, sábado, das 10h às 20h…

Cartaz do 10º aniversário do nosso blogue...  Da autoria do "designer" mais "strelado"
do mundo, Miguel Pessoa (ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)
10 razões para estarmos todos juntos, em Monte Real, no dia de 14 de junho de 2014, sábado, das 10h às 20h (*)…

O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca… é Grande!

Estamos vivos, embora mais velhos, seguramente mais pobres, com menos saúde, e eventualmente menos felizes e com menos esperança…(ou talvez não!)

Somos 654 camaradas e amigos (ou sejam, camarigos) da Guiné, inscritos formalmente na Tabanca Grande, dos quais infelizmente 34 já não estão entre nós (fisicamente, já que a sua memória continua a ser lembrada e honrada todos os dias);

Todos os anos entram, em média, 65 novos grã-tabanqueiros: o encontro anual, nacional, da Tabanca Grande, é para os “periquitos” darem-se a conhecer à “velhice” (e vice-versa) e, claro, mantermos a "chama acesa" e passarmos o "testemunho";

Muitos são os que nos visitam e nos leem (um milhão por ano), incluindo os mais de 1400 amigos da página do Facebook da Tabanca Grande, na sua maioria antigos combatentes, registados ou não no blogue; todos podem inscrever-se no encontro;

Somos um blogue, que não é melhor nem pior do que muitos outros, mas que é único, justamente por reunir, à volta de um mágico, simbólico, protetor, fraterno e solidário poilão, camaradas (e amigos) da Guiné, antigos combatentes, que, para além do que os pode dividir (ontem, hoje e amanhã), valorizam sobretudo o que lhes é comum, a sua experiência (única) num teatro de operações, e num terra (e suas gentes) que aprenderam a amar;

Estamos a comemorar os 10 anos de existência do nosso blogue, o equivalente a 5 comissões de serviço na Guiné (!);

Para além do convívio (que é o mais importante),  também há comes & bebes: por 30 euros, por cabeça, temos direito a entradas, almoço e lanche ajantarado, num ambiente aprazível (e com facilidades de estacionamento), o do Palace Hotel Monte Real, Termas de Monte Real; há preços especiais, para os “camarigos”, seus familiares e amigos, que  quiserem passar uma ou mais noites neste hotel de 4 estrelas;

Monte Real tem sido o nosso ponto de encontro anual: é equidistante entre o norte e o sul, o leste e o oeste;

10º E podes trazer, além de outros amigos, os teus filhos e netos… por que os filhos e os netos dos nossos camaradas nossos filhos e netos são

Luís Graça

PS - Aparece. Inscreve-te. Precisamos pelo menos de 50 inscrições. Mas queremos atingir o dobro....

Comissão Organizadora: Luís Graça, Joaquim Mexia Alves, Carlos Vinhal e Miguel Pessoa. 

Endereços de email para as inscrições: carlos.vinhal@gmail.com e joquim.alves@gmail.com
______________

Nota do editor:

(*)  O hotel (com quem mantemos uma excelente relação de há vários anos a esta parte) faz-nos os mesmos preços do ano passado:

Entradas, almoço e buffet da tarde – 30.00€/pessoa;

Mínimo: 50 pessoas

Alojamento (para quem quiser vir de véspera ou ficar no fim de semana):

Single: 50.00€
Duplo: 60.00€

[Ambas as tipologias com Pequeno-Almoço incluído]

Ementa do Palace Hotel Monte Real, confecionado para o nosso IX Encontro Nacional, dia 14 de Junho de 2014:

(i) Entradas:

Saladinha de Polvo
Salada de Bacalhau
Salada de Atum
Salada de feijão-frade com orelha grelhada
Salada de Ovas
Meia desfeita de bacalhau
Salgadinhos variados
Presunto fatiado
Meia concha de mexilhão com vinagreta
Tortilha de camarão
Pezinhos de coentrada
Choquinhos fritos à Algarvia
Joaquinzinhos de escabeche
Sonhos de bacalhau
Coxas de frango fritas à nossa moda
Cogumelos salteados c/ bacon
Guisado de dobrada

Moscatel, Porto seco, Martini
Vinho branco e tinto Fontanário de Pegões e cerveja
Água mineral, Sumo de laranja

(ii) Almoço:

Sopa da pedra
Lombo de porco recheado com alheira e figo
Batata no forno e legumes
Semi-frio de mascarpone e café com toque de lima e colis de cacau

Vinho branco e tinto ‘Fontanário de Pegões’
Água mineral, sumos de laranja e cerveja
Café e digestivo nacional

(iii) Buffet da tarde:

Carnes frias com molho tártaro
Enchidos da região grelhados
Queijos variados
Charcutaria variada
Azeitonas com laranja e orégãos
Franguinho assado
Batata Chips
Salada de tomate
Salada de alface
Salada de cenoura
Salada de Pepino
Mesa de sobremesas

Vinho branco e tinto ‘Fontanário de Pegões’
Água mineral, sumos de laranja e cerveja

Guiné 63/74 - P13073: No 25 de abril eu estava em... (23): Porto, e o meu irmão, Manuel Martins (1950-2013) em Bissau (José Martins, ex-fur mil, trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70)


Foto 1 – O fur mil enf Manuel Martins (1950-2013), irmão mais novo do José Martins, à entrada do Hospital Militar de Bissau onde estava colocado na ortopedia... Ele esteve no TO da Guiné entre 1973/74. E fez também servço em Guidaje, numa equipa do HM241... E em Bissau assistiu ao 25 de abril...


 Foto 2 – Momento de “canto” durante uma reunião da Comissão Coordenadora do Movimento das Forças Armadas (Guiné), que era formada por oficiais, sargentos e praças. A actuar no Teatro de Bissau em 27/7/74.


Foto 3 – O Manuel Martins e o Óscar, autores do cartaz.


Foto 4 - Primeira manifestação do PAIGC em Bissau, a seguir ao 25 e abril, em data que se pode precisar... Talvez já em Maio.


Fotos: © Manuel Martins / José Martins  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.; legendas: J.M.]


1. Mensagem do José Martins (ex-fur mil, trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70; e nosso colaborador permanente):


No 25 de Abril, eu estava (*) …

Nesse tempo, prioritariamente, eu fazia viagens de “casa/emprego” e vice-versa. Ou seja: de Vila Nova de Gaia para o Banco Borges & Irmão (na sede, no Porto) e, claro, vice-versa.

Tinha desembarcado do “Rita Maria”, no cais de Lisboa, 10 de Junho de 1970. Quando vou a Belém no 10 de Junho, além da memória e os amigos, leva-me a celebração do regresso.

Já tinha casado e já era pai da Susana, que acabara de fazer dois anos, em Março.

Mas a família estava representada, como desde o século XIX, 
em “acontecimentos históricos”. Estava
Manuel Martins~
 (1950-2013)
lá o meu irmão Manuel [, Manuel Martins], de saudosa memória, já de regresso, há algum tempo, depois de ter feito parte da célebre “epopeia de Guidage”.(**)

As fotos que junto, chegaram às minhas mãos há um ano e tal. Foi das poucas vezes, muito poucas, que falamos da guerra e, desta feita, via correio electrónico.

Nada mais sei. Fica a memória. (***)

José Marcelino Martins
30 de Abril de 2014
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Notas do editor:



(***) O Manuel Martins. que esteve no 2º encontro nacional da Tabanca Grande, em Pombal, em 2007, integra a nossa Tabanca, sendo um dos 34 amigos e camaradas que da lei da morte já se foram libertando... (Vd.coluna do lado esquerdo da página principal do blogue). Tocava viola (e mais tarde guitarra) num grupo de fado de Coimbra, com o David Guimarães.