terça-feira, 18 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12851: Acordar memórias (Joaquim Luís Fernandes) (5): O porco que não consegui comer

1. Quinto episódio da série "Acordar memórias" do nosso camarada Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974):


ACORDAR MEMÓRIAS

5 - O SEGREDO DE...

O PORCO QUE NÃO CONSEGUI COMER

Nesse mês de Junho, iria começar uma nova função, que acumularia com as já habituais; passaria a desempenhar a função de gerente da messe de oficiais. Na necessidade de, mais uma vez, me afirmar responsável e competente, quase como a ter que ganhar o direito a existir, eu que me sentia de fora, pouco "militar", deslocado na classe privilegiada, assumi mais esse encargo como um desafio. Iria empenhar-me para melhorar a qualidade das refeições servidas na messe, dentro dos estabelecidos 30 escudos por pessoa e por dia. Ganharia melhor alimentação e evitaria as duras críticas e acusações que tinha ouvido, dirigidas ao camarada que me antecedera nessas funções.

Uma profícua papaeira do horto do batalhão. Ou uma prova de que com querer, algum trabalho, organização e técnica, a Guiné seria uma terra produtiva e próspera.

Depois de me inteirar do serviço a desempenhar, reuni com o Cabo Vagomestre transmitindo-lhe os meus propósitos visando ganhá-lo para a minha causa. Diariamente, procurava acompanhar as contas dos gastos e as ementas planeadas, incentivando-o a que se melhorasse a confeção das refeições e se variasse, quanto possível. Mas tinha uma circunstância a contrariar os meus intentos: a horta do batalhão, que nos meses anteriores tinha sido generosa e farta em verduras, alguns legumes e leguminosas, estava em final de ciclo produtivo; estava quase tudo seco e já pouco se poderia colher.

Ficaríamos dependentes dos reabastecimentos vindos de Bissau, em coluna, uma vez por semana, com poucos frescos. Era o recurso ao arroz, às massas, aos enlatados e ao peixe da bolanha. Nem com muita imaginação e boa vontade se conseguiriam ementas que agradassem. Por repetitivas, tornar-se-iam enjoativas.

O Mamadú, (?) auxiliar do soldado hortelão. Diariamente prestava serviço no quartel, ou no horto ou no corte da lenha para a cozinha e para o forno do pão. Sempre descalço e de cachimbo na boca.

Perante a marcação que fazia ao cabo vagomestre para que não se caísse na rotina e desmazelo de ementas contestadas, coloquei-me a jeito para que ele me lançasse o repto: “Se o meu alferes quer que se melhore a alimentação, só temos uma solução: ir às tabancas comprar víveres.” E eu aceitei o repto. Segundo o vagomestre (e disso deveria ele saber), as populações das tabancas tinham a obrigação, imposta pela administração civil, de fornecer alguns animais ao batalhão, para a alimentação da tropa.

Depois de me informar melhor, e tomar as providências necessárias, lá fomos, acompanhados de um Cipaio, que serviria de intérprete nas “negociações” e representava a Administração Civil.

Acompanhavam-me, para além do vagomestre, que faria de tesoureiro, alguns soldados do meu grupo e pessoal adstrito à cozinha da messe, em duas viaturas, creio que uma unimog e uma mercedes.

Chegados à tabanca escolhida, não sei se Beniche, se Bajope, se Chulame, que eram ladeadas de férteis bolanhas, iniciou-se o “jogo da apanhada” às galinhas, aos cabritos e aos porcos, que por ali andavam em liberdade, em volta das moranças e das cercas. E o “negócio” lá se ia fazendo, com a intermediação do cipaio e o pagamento feito em espécime (sem fatura e sem recibo).

As férteis bolanhas ao redor das tabancas da zona de Teixeira Pinto. Um grupo de homens (poucos) a preparar a terra para as sementeiras/plantações, virando a leivas com os seus arados. Alguns são ainda meninos outros já velhos. Os jovens adultos faziam a guerra, dos dois lados da contenda. E eu pensava: como seriam produtivos estes campos, se fossem introduzidas outras técnicas e mecanização. Mas o esforço ia todo para a guerra.

As mulheres manjacas, mulheres de trabalho, nos viveiros do arroz, procedem à repicagem para o transplante.

Aspeto exterior das moranças das muitas tabancas dos arredores de Teixeira Pinto; onde pessoas e animais viviam em harmonia e liberdade. Só a guerra e os militares levavam o desassossego.

Já com uma boa “caçada” consolidada, surge à vista um esmerado e bem nutrido leitão. A rapaziada entusiasmada com o “jogo,” enceta uma perseguição ao bicho, que lá se ia esquivando, ensarilhando entre as cercas e as moranças. Mas perante a determinação dos bravos pegadores, não foi longe. Amarrado e transportado para a viatura, grunhia e guinchava que nem um desalmado.

Surge então um ancião, que tomei como sendo o dono do animal, com modos pouco amistosos. Tentou-se a conversação e a negociação, mas o homem estava irredutível. Não percebi uma palavra do que disse, mas entendi que ele não queria vender o porco. Perante os factos, disse ao cabo vagomestre que seria melhor libertar o bicho, mas ele replicou que não o devíamos fazer, que o homem tinha a obrigação de vender o porco e que se não quisesse receber ali o dinheiro, que o fosse levantar à Administração, que era esse o procedimento habitual.

Não me agradava aquela situação, mas perante esta argumentação e as circunstâncias (novamente a minha condição de “pira”, inseguro e pouco firme, a vir ao de cima) cedi e viemos embora com o porco, sem o pagarmos, deixando para trás o ancião furioso, que com o seu olhar agressivo parecia querer fuzilar-nos. Se não era já afeto ao IN, após esse dia passou a sê-lo, com certeza.

Durante a viagem de regresso, autocensurava-me pelo que se tinha passado; deveria ter sido mais firme e não ter consentido em trazer o porco sem o pagar, mas também não tive iniciativa de voltar atrás e devolvê-lo ao dono. Achava que isso me deixaria diminuído na minha autoridade para com o vagomestre, para continuar a pedir-lhe todo o empenho para melhorar o serviço na messe. Mas pensava também no risco que corria, se o ancião, que eu desconhecia quem era, fosse fazer queixa ao Régulo e se este fizesse chegar a queixa até Bissau, ao Com-Chefe, talvez não me livrasse de uma “porrada”; e isso era a última coisa que eu queria; lá se iriam os meus 35 dias de licença, tão desejados. Se isso acontecesse, não sei como me iria aguentar.

Quando passados alguns dias o leitão foi servido na messe, não consegui comer dele. Ou porque estava mal cozinhado, pareceu-me só gordura, ou por remorso. E lá fui, mais uma vez, compensar-me no bar com uma lata de fruta enlatada e uma garrafa de leite achocolatado. Eu tratava-me e cuidava-me bem, para me manter com saúde e em forma.

Durante estes 40 anos esqueci muita coisa, quase tudo, nomes de pessoas e de locais, episódios, etc. Até o número da companhia e do batalhão eu tinha esquecido, mas este acontecimento nunca o esqueci e considero-o uma nódoa no meu comportamento, que desejei impoluto e pautado pelos elevados valores éticos, que tinha levado na mente e no coração, que procurei preservar, cultivar e ser fiel, não o tendo conseguido. A par de outros atos incorretos, confessados a quem de direito na devida altura, este, de caráter mais público, fica bem aqui retratado, nesta série “O segredo de:”. Dele peço desculpa, pelo que representa, a quantos se sintam por ele, atingidos e prejudicados.

Foto tirada da pista que ficava próxima do quartel. Ao fundo, o aspeto exterior das muitas tabancas de Teixeira Pinto. Uma área arborizada com as moranças circulares feitas de barro e cobertas de colmo. Arquitetura ancestral, bem adaptada às gentes e ao clima. Bem melhores que os reordenamentos que a tropa fazia, em áreas descampadas, retangulares, com blocos de barro cozidos ao sol e cobertura de zinco. Na zona havia alguns, mas pouco habitados. O objetivo principal não era servir as populações a quem se destinavam, mas sim controlá-las.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 15 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12841: Acordar memórias (Joaquim Luís Fernandes) (4): Teixeira Pinto, adaptação às pessoas e ao terreno

Guiné 63/74 P12850: (In)citações (62): Agradecimento da família Schwarz da Silva ao nosso blogue por, metaforicamente falando, ter emprestado os seus cavaleiros e tambores para glorificar o Homem, que foi o Pepito, na vida e na morte (João Schwarz da Silva / Luís Graça)




Poema datilografado, sem data, com emendas manuscritas pelo autor, Artur Augustio Silva, cortesia do seu filho João Schwarz da Silva

Morreu o homem
Artur Augusto Silva
(Nova Sintra, Ilha da Brava,
1912- Bissau, 1983)

Ao meu amigo Mamadú Baldé

por Artur Augusto Silva [, foto à direita,]



Mamadú Baldé,
filho de Salifo,
filho de Indjai,
filho de Tchamo,
filho de Monjur,
filho de Mutari,
cuja linhagem se perde há mais de dois mil anos
nas terras do Egito,
e de quem os antepassados remotos viram Moisés e Maomé
e com eles conversaram sobre o tempo e as colheitas.
Mamadú Baldé morreu.
Mamadú Baldé, 

o sábio que falava com Alá
e era bom
e era justo,
morreu.
Cavaleiros e tambores levaram a notícia a toda a parte:
subiram as encostas do Futa-Djalon
e desceram para o mar.
Percorreram o Sudão até Cao e Tombucutú
e desceram o lago Tchade.
E toda a terra dos fulas repetiu:
morreu Mamadú Baldé.
O sol parou o seu caminho,
espreitou para Labé,
viu Mamadú morto,
e continuou.
A lua parou também o seu caminho,
espreitou e continuou.
Os rios que nascem no teto do mundo,
pararam na sua corrida para o mar
e prosseguiram.
E o poeta pegou num pedaço de papel
e escreveu:

Morreu o Homem.

In: Artur Augusto da Silva - E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu: Poemas.
Bissau, Instituto Camões - Centro Cultural Português. 1997. p.21 (*) (**)

[Fixação de texto / Revisão em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico: L.G.]




Lisboa > São Sebastião da Pedreira (ou S. Martinho do Porto?) > Em primeiro plano, o Carlos, ainda bebé, mais os irmãos Henrique (Iko) e João. 

Foto: © António Lopes (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de João Schwarz da Silva, irmão do Pepito, e que vive em Paris [, foto à esquerda, cortesia do sítio European Alliance for Innovation]

[Engenheiro de formação e profissão, é doutorado em "Performance Analysis of Mobile Packet Radio Systems" pela Universidade de Carleton, Ottawa, Canadá, 1981; foi alto quadro da Comissão Europeia (1991-2010), diretior de seviços na Direcção-Geral da CE para a Sociedade da Informação; é atualmente investigador da Universidade do Luxemburgo; autor de uma centena de artigos e livros técnicos e científicos nas suas áreas de especialização; entre outras atividades sociais, é presidente da direcção da Associação dos Amigos da Sinagoga de Tomar]

Data: 14 de Março de 2014 às 14:38

Assunto: Agradecimento

Caro Luís Graça,

Graças a si e ao seu formidável blogue, que eu já conhecia, foram muitos aqueles que viram a noticia da morte do meu irmão Carlos. Durante a conversa telefónica que tivemos há poucos dias, agradeci a sua contribuição para o conhecimento da Guiné e para o conhecimento das actividades do Carlos. Penso no entanto ser preferível deixar-lhe uma mensagem escrita a agradecer tudo o que tem feito para celebrar a memória do Carlos.

O nosso pai Artur escreveu um dia um poema intitulado "Morreu o Homem" no qual fala dos cavaleiros e tambores que levaram para toda a parte a noticia da morte de Mamadu Balde. De certo modo o seu blogue corresponde aos cavaleiros e tambores, no caso do Carlos.

Em breve vou tentar acrescentar ao site que comecei a fazer há já uns tempos, uma parte onde irei tentar retraçar a vida do Pepito (mais exactamente Agapito que era um herói do "Cavaleiro Andante" mas que o Carlos não conseguia restituir devidamente quando era miúdo).

Convido-o desde já a dar uma vista de olhos ao site www.desgensinteressants.org onde encontrara nomeadamente um capitulo sobre o nosso pai Artur. Convido-o também a comunicar-me alguns elementos que possam fazer parte do capítulo que será dedicado ao Carlos.

Mais uma vez um grande obrigado e um grande abraço. (***)

João Schwarz da Silva

Anexo: Original de "Morreu o Homem"


Lisboa, campus da ENSP/UNL, 6 de set 2007; da esquerda para
a direita,  Nuno Rubim, Pepito e Luís Graça. Foto: LG 
 2. Resposta de Luís Graça, 
com data de 14 do corrente



Meu caro João:

A amizade não se agradece. A perda do Pepito toca-nos a todos, A si e aos seus, seguramente, de uma maneira única, e para mais numa família como a vossa que tem, do lado materno (os Schwarz), um historial de perdas trágicas,

Já dei uma "vista de olhos" ao seu sítio na Net ("Des Gens Intéressants", Gente Interessante, em português). E incentivo-o a prosseguir. Por si, pelo Carlos, pela família, pelos amigos, por todos nós.

Dou-lhe os parabéns pela filial devoção, rigor documental e riqueza iconográfica do extenso capítulo dedicado ao seu pai, Artur Augusto Silva (e, e donde constam preciosos documentos, como, por eemplo, a foto do funeral, em 1935, do Fernando Pessoa). É a história de uma vida, de um homem, cidadão, advogado, escritor,  intelectual, português, pai e esposo; é a história de uma família mas também de uma época, e de três países lusófonos, que nos são caros, a todos nós:  Cabo Verde, Portugal e Guiné-Bissau.

Tenho mais fotos (e vídeos) do seu mano Pepito que llhe enviarei com todo o gosto: 

(i) da viagem que fiz à Guiné, em fev/mar 2008, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje;

 (ii) da viagem que o meu filho João Graça (médico e músico dos Melech Mechaya, a única banda klezmer portuguesa) fez, um ano depois, à Guiné-Bissau, em dezembro de 2009, tendo privado com o Pepito e a famíla, em Bissau, no Quelelé, mas também em São Domingos, num festival intercultural;


(iv) dos nossos encontros anuais, na Tabanca de São Martinho do Porto, em agosto, nas férias da família, na mítica Casa do Cruzeiro... 

 Há, além disso, fotos diversos dos nossos camaradas que privaram com o Pepito, em Bissau, por ocasião de entregas de ajuda humanitária em Bissau... Enfim, tenho que consultar os meus arquivos fotográficos, que já são vastíssimos...e estão em diversos suportes (CD-Rom e discos externos), para alénm das inúmeras referências que há, no nosso blogue, (na I e II Série) ao Pepito e à sua querida ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento, "o seu 5º filho", depois do DEPA - Departamento de Experimentação e Produção de Arroz, da Cristina, da Catarina e do Ivan...

Sinto uma dor imensa por não ter podido conviver mais e conhecê-lo melhor... E de ter "falhado", por razões profissionais, o seu convite para ir à inauguração do Núcleo Museológico Memória de Guiledje, em 20 de janeiro de 2010. Mas mesmo assim tenho guardadas largas dezenas de emails que trocámos nestes últimos anos...e de que poderei mandar-lhe uma seleção... 

O Pepito e a Isabel tornaram-se rapidamente amigos da nossa família e chegaram a vir jantar a nossa casa algumas vezes, em Alfragide e na Lourinhã... Quando vinha a Lisboa, o Pepito andava sempre num pandemónio, alimentando as suas redes de contactos e resolvendo assuntos da sua ONGD. E, infelizmente, nos últimos tempos, nos hospitais... A Alice e os meus filhos Joana e João tinham uma grande admiração e afeto por ele. O mesmo se passa com muitos dos meus camaradas e amigos da Guiné que tiveram o privilégio de o conhecer.

Se mo permitir, vou publicar a sua mensagem para conhecimento dos muitos amigos que o Carlos tinha no nosso blogue, que é, como sabe, uma criação coletiva. Aliás, é espantosa a nossa aproximação, a partir de finais de 2005, tendo nós sido homens que combateram o PAIGC de Amílcar Cabral... O Pepito percebeu, primeiro que ninguém, que Guileje podia e devia ser um traço de união entre todos nós, portugueses, guineenses, caboverdianos, lusófonos...

E estou-lhe muito grato, a si, João, pelo poema datilografado, lindíssimo, em que o seu pai faz o luto pela morte de um amigo e "homem grande", a que chamou simplesmente "o homem".  Também o Carlos não precisava de adjetivos: ele era o homem, o que honrou (e continuará a honrar) a nossa comum humanidade, a nossa condição humana... Hei-lhe um dia destes fazer-lhe um poema, para o seu sitio Des Gens Intéressants..

Dê um beijinho á sua querida mãe, Clara Schwarz, que faz o favor de ser nossa amiga. Ainda não arranjei um bom pretexto (!) para lhe falar,  coisa que fazia com alguma regularidade. E tenciono continuar a fazê-lo. Como sabe, ela é a nossa "decana" e queremos fazer-lhe uma grande festa daqui a um ano, poor ocasiaão do seu 100º aniversário!...

João, vamos comunicando. Julgo que já regressou ou vai regressar a França. Boa viagem. Saúde e longa vida para si e os seus. Um abraço. Luis.

PS - Já em tempos tinha publicado o texto original do poema "Morreu o Homem", (que é em prosa). Tomei, no entanto a liberdade de o converter para o fornmato de verso, procurando reconstituir a magnífica oralidade do texto. (*)

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Notas do editor:

(*) Vd-. poste de 18 de setembro de 2011 >  Guiné 63/74 - P8789: Blogpoesia (160): Na morte de Mamadú Baldé, descendente do régulo Monjur: E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu (Artur Augusto da Silva)

(**) Vd. recensão feita ao livro pelo nosso camarada Beja Santos, no  poste de 

13 de abril de  2011 > Guiné 63/74 - P8093: Notas de leitura (228): Poemas, de Artur Augusto da Silva (Mário Beja Santos)


(***) 8 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12695: (In)citações (61): Pepito, Clara, Isabel, estamos convosco! ...E fazemos votos para que o bom irã, acocorado no alto do poilão da nossa Tabanca Grande, ajude a dar força, ânimo e esperança à família Schwarz, nesta hora difícil (Luís Graça)

segunda-feira, 17 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12849: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (34): Homenagem nacional e internacional ao Pepito, organizada pelos seus amigos e colaboradores, um mês depois da sua morte: 3ª feira, 18 de março, em Bissau, no Quelelé, no seu "chão"... Seguramente que ele não quereria um "choro" à moda tradicional, mas sim uma festa onde os seus valores, os seus sonhos, os seus projetos e a sua equipa fossem celebrados como um legado vivo, fecundo e proativo... (Luís Graça)


Lisboa, campus da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa > 7 bde setembro de 2007 >

Neste rosto luminoso, há carisma, afabilidade, determinação, coragem física e moral, visão estratégica, cinco qualidades pessoais que eu identificava e admirava no engº agrº Carlos Schwarz da Silva (1949-2014), mais conhecido por Pepito ("nickname" que vem da primeira meninice: segundo o irmão João,  o Carlos tinham um herói, uma das figuras de banda desenhada do "Cavaleiro Andante", o Agapito, um nome com 4 sílabas, dificeis de pronunciar por uma criança, e que ele simplficava, chamando-lhe "Pepito"...).

No nosso blogue, sempre o tratámos, carinhosamente, como Pepito. Tem mais de 130 referências... E foi um dos nossos primeiros 111 "tertulianos" (, designação  criativa  para os "membros" da nossa tertúlia, a comunidade virtual que se juntou à volta da primeira série do nosso blogue, entre 23 de abriul de 21004 e 1 de junho de 2006).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados.



1. Um mês depois da sua morte, o nosso querido amigo Pepito vai receber a homenagem que lhe é devida por parte dos seus amigos e colaboradores da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, de que ele foi, durante 23 anos,  o ideólogo, o líder carismático, a figura de proa e o diretor executivo, pelas comundidades (rurais e urbanas) com quem trabalhou, e ainda pela sociedade civil guineense e bem como representantes do poder político, nacional e internacional.

Chega-nos agora o programa, disponível no sítio da ONG AD, que reproduzimos a seguir.

Para a  família do Pepito,  e em especial Isabel e as filhas, Cristina e Catarina,  que voltaram  à Guiné-Bissau, no sábado passado, dia 15,  os nossos melhores votos de regresso.  Sei que o Henrique Schwarz também as acompanhou e vai estar presente, e falar, na festa de amanhã.

À Isabel Miranda, presidente da Direção da AD, as nossas melhores saudações pessoais e bloguísticas... Ela é uma figura fundamental para fazer a transição neste momento difícil e manter vivo, fecundo e proativo o enorme legado do Pepito. Pepito ca mori, Isabel!... O seu exemplo continuará a ser inspirador para todos vós e para nós, seus amigos de Portugal.

O nosso alfabravo (ABraço) fraterno também para o Nelson Dias, vizinho e amigo do peito  do Pepito, presidente do Conselho Fiscal da AD, alfabravo extensível a toda a vasta família da AD, a segunda família do Pepito.

Ao novo diretor executivo da AD, eng agr Tomané Camará (que eu conheci em 2008, como braço direito do Pepito na comissão organizadora do Simpósio Internacional de Guiledje, um dos "oito magníficos",) vão os nossos votos de sucesso a nível pessoal e profissional, na esperança que a AD continue a desenvolver o seu trabalho e a realizar a sua miss
ão, com o rigor,  a paixão, a indepedência, a ética e a visão de futuro que o Pepito sempre quis transmitir no  seu pensamento e na sua ação. O Tomané Camará é nosso grã-tabanqueiro desde 2008.

Desempenhava até agora funções como "coordenador de Programas da AD, responsável pela planificação, implementação, monitorização e avaliação dos componentes que constituem os quatro Programas Integrados da AD". Era, além disso, "responsável da Direcção Nacional da AD pela área Financeira".


Para mim, o Pepito era um perfeito exemplo do líder (etimologicamente falando, "o que vai à frente, mostrando o caminho"). E mais: para ele a liderança não era um fim em si mesma, mas apenas um meio para  pôr as pessoas a trabalhar em conjunto, de maneira cooperativa, construtiva, solidária e criativa. Ele era um exemplo vivo do trabalho de liderança em equipa: "trabalhar com a equipa, através da equipa e às vezes contra alguns... para concretrizar os objetivos da equipa"...

Era um lider carismática e uma figura de proa, mas nunca o vi em bicos a dizer a equipa sou eu, a AD sou eu... Pelo contrário, gostava muitas vezes de ficar fora das luzes da ribalta... O Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008)  foi disso exemplo extraordinário, uma lição magnífica de liderança: "Pepito e os oito magníficos da sua equipa", escrevi eu aqui, em tempos, na véspera de partir para Bissau onde fui participar no evento (*):

"Por detrás de um grande líder, há sempre uma grande equipa. No caso da organização do Simpósio Internacional de Guiledje - uma ideia que nasceu no seio da ONG AD há dois anos e tal - esse líder chama-se Pepito e a equipa é constituída, pelo menos, por oito magníficos, três dos quais são mulheres: a Anésia Fernandes, a Cadidjatu Candé e a Conceição Vaz"...

Por outro lado, era bem patente, nesta iniciatiava de um "paisano" e um "pacifista" (que nunca na vida pegou em armas), a grande sensibilidade sociocultural e a visão de futuro, que só um homem com as qualidades dele podia ter,  ao fazer questão de acentuar que aquele  simpósio (i) não pretendia " celebrar a derrota de ninguém";  pelo contrário, (ii) representava "o triunfo da vida sobre a morte, da paz sobre a guerra, da memória colectiva sobre o esquecimento e o branqueamento da história, da ciência sobre a propaganda, da amizade sobre o ódio"... Enfim, era também  ou pretendia ser  (iii) "a afirmação (ou a reivindicação) da apropriação da história por parte dos guineenses, e de certo modo da recusa do círculo vicioso da pobreza e da dependência"... 

Pepito ca mori, amigos da AD- Bissau!... Foi um privilégio conhecê-lo (e tê-lo como amigo e parceiro da nossa Tabanca Grande). (LG)


2. ATO SOLENE DE HOMENAGEM A PEPITO EM BISSAU

Campo polivalente de Quelele, 18 de março de 2014

16:45 Chegada dos participantes

16:50 Os participantes tomam os seus lugares

1ª parte: mensagens da AD 

17:00 Hino da AD

Família AD, Sofia Rodrigues e Verónia Gomes (solistas)

17:05 Boas vindas aos participantes

Alfredo Simão da Silva, Presidente da Assembleia Geral da AD

17:10 Introdução ao Ato Solene

José Filipe Fonseca, AD

17:20 Interlúdio

Demba Galissa (cora)

17:25 Resumo das mensagens recebidas até ao momento

Isabel Miranda, Presidente da Direção da AD

17:40 A obra de Carlos Augusta Schwarz da Silva (Pepito)

Nelson Gomes Dias, Presidente do Conselho Fiscal da AD

17:55 Interlúdio

Cooperativa Cultural Os Fidalgos

2ª parte: mensagens das comunidades urbanas e rurais 

Comunidades urbanas

18:00 Mussa Candé, Associação dos Moradores de Quelele

18:05 Emília Lopes, representatnte das Mandjuandis de Cacheu

Comunidades rurais

18:10 Hadja Djenabu Baldé, Presidente da APALCOF, Contuboel

18:15 Interlúdio

Mandjuandadi Amizadi Ca Facil, Quelele

18:20 Quissima Ducuré, representante da comunidade de S. Domingos

18:25 Momo Silá, representante de Cubucaré

18:30 Interlúdio 

Professores e alunos da Rede das Escolas de Verificação Ambiental (EVA)

18:40 Mandjuandcadi Firquidja di Bula

3ª parte: Mensagens da Sociedade Civil, setor público e parceiros  internacionais 



18:45 Luís Vaz Martins, Presidente da Liga Guineense dos Direitos do Homem

18:50 Augusta Henriques, Conselheira da Tiniguena

18:55 Sambu Seck, Secretário Executivo da Kafo

19:00 Interludio 

Mandjuandis de Cacheu

19:05 Ibraima Sori Djaló, Presidente da Assembleia Nacional Popular

19:10 Representante da Delegação da União Europeia

19:15 Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Senegal, Decano do Corpo Diplomático

19:20 Interlúdio

Por: Patchi di Rima

Agradecimentos

19:25 Henrique Schwarz, representante da família do Pepito

19:35 Interlúdio

Por: Cooperativa Cultural os Fidalgos

19:40 Tomane Camará, Diretor Executivo da AD

19:45 FIM DO ATO SOLENE (**)

Guiné 63/74 - P12848: Notas de leitura (573): "Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa", por Pires Laranjeira e "Jornal Português" e a notícia do assassinato de Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Outubro de 2013:

Queridos amigos,
A Universidade Aberta editou em 1995 um conjunto de ensaios sobre as literaturas africanas de expressão portuguesa. Aqui se faz o registo do que ao tempo era o balanço da literatura da Guiné-Bissau onde pontificava (como pontifica) a lírica.
Igualmente se junta uma referência a um jornal da extrema-esquerda publicado em Paris, tendo como público mais interessado os desertores e refratários, estamos em 1973, noticia-se o assassinato de Cabral e deixa-se claro que a morte do líder não irá desmotivar a luta armada em curso, fala-se também de atos de destruição perpetrados pelas Brigadas Revolucionárias.
Para que conste.

Um abraço do
Mário


Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa, por Pires Laranjeira
*
Jornal Português noticia o assassinato de Amílcar Cabral

Beja Santos

A Universidade Aberta editou em 1995 “Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa”, com coordenação de Pires Laranjeira cujo capítulo dedicado à Guiné-Bissau foi redigido por Inocência Mata. Vale a pena um olhar em relance o que nos propõe a investigadora.

A literatura guineense é tardia e escassa. Entre as principais razões que se pode encontrar há que ter em conta a débil implantação das estruturas educacionais, mesmo na última fase do período colonial. Recorde-se que só nos anos de 1960 é que foi implantado decisivamente o ensino secundário no país.

Com a separação da Guiné de Cabo Verde em 1879, instalada a capital em Bolama, foi aqui que surgiram as primeiras manifestações literárias. Logo, em 1920, à volta do jornal Ecos da Guiné. O primeiro jornal editado por um guineense, de nome Armando António Pereira, foi O Comércio da Guiné, que teve curta vida (1930-1931) e onde colaboraram, entre outros, Juvenal Cabral, Fausto Duarte e João Augusto da Silva. A propósito, escreveu Leopoldo Amado na análise que efetuou à literatura colonial guineense: “Antes da chegada em massa de cabo-verdianos, a bifurcação entre a sociedade guineense e a colonial era bastante acentuada, foi o elemento étnico cabo-verdiano que aproximou as duas componentes”. O que importa realçar é que os filhos da Guiné pugnavam por uma crioulização social como modo de inserção dos autóctones na sociedade colonial. Digamos que o balanço desta intervenção foi bastante exíguo. Seja como for há uma especificidade literária que não se pode iludir e onde pontificaram os nomes de Fernanda de Castro e Fausto Duarte.

Por último, merece menção 1963, foi neste ano que se publicou em São Paulo o livro “Poetas e Contistas Africanos”, de João Alves das Neves e o representante guineense foi António Baticã Ferreira. No termo do período colonial, em 1973, foi publicado um caderno de poesia de onze autores, intitulado Poilão, edição do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino.

Aquilo que é hoje a literatura guineense teve como seu percursor Vasco Cabral, cujos poemas datam de 1955. Os investigadores recusam considerar que Vasco Cabral tenha sido o criador desta literatura, um sistema literário pressupõe uma tradição, Cabral era um poeta muito formal, claramente marcado pela cultura portuguesa, a despeito das suas mensagens anticolonialistas.

A seguir à independência surgiram antologias poéticas: “Mantenhas para quem luta!”, “Antologia dos Jovens Poetas” e “Os Continuadores da Revolução”. Aparecem todos estes poetas irmanados pela carga panfletária, pelo orgulho africano, pelo sentimento da pátria emergente e pelos sonhos de progresso e justiça. Avulta neste período, pela sua inegável qualidade, Hélder Proença. O crioulo aparece claramente como língua de criação literária. Já nos anos 1990, foram publicadas outras duas antologias: “Antologia Poética da Guiné-Bissau” e “O eco do pranto”. Desvela-se uma poesia de grande tristeza pelos sonhos falhados, esses sonhos parecem canalisados na criança. Dois nomes desta geração apareceram como promessas, Jorge Cabral e Domingas Samy.

Resta acrescentar que nos anos 1980 Vasco Cabral viu publicado “A luta é a minha Primavera”, que Inocência Mata observa: “À primeira vista, uma escrita em desfasamento com o tempo. Mas é preciso não esquecer que o mais antigo poema data de 1951, o que explica o compromisso ideológico, a intensão de transformação social, tão cara à ideologia marxista”. A poética guineense iria mudar de rumo mas já não cabe no âmbito da recensão deste livro.

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O “Jornal Português” e a notícia do assassinato de Amílcar Cabral

Vasco de Castro é nome cimeiro do desenho de humor na segunda metade do século XX. Foi em Paris que conheceu o triunfo a trabalhar para a imprensa mais influente. Como escreveu o historiador de arte António Valdemar, a propósito de Vasco: “Conheceu, através do Paris Match, o Siné, o Bosc e o Chaval, nos seus desenhos agressivos. De 1961 a Abril de 1974, quase sempre em Montparnasse, lado a lado com os maiores cartoonistas, colaborou em Le Monde, Figaro, Cannard Enchainé, Harakiri, etc. Viver a vida foi, certamente, mais importante do que isso. Vasco entrou em seis ou sete filmes, esteve nos movimentos underground, nas barricadas do Maio de 68, no ativismo da extrema-esquerda”. É exatamente deste ativismo que Vasco meteu as mãos na massa na produção de jornais que lhe mereceu recentemente um claro elogio de José Pacheco Pereira a propósito da imprensa revolucionária. Em Abril de 1973, surgia Jornal Português, todo o grafismo lhe pertence, era o primeiro jornal de mensagem revolucionária publicado na imprensa parisiense. Logo nesse número, deu-se destaque à notícia do assassinato de Amílcar Cabral, morto em 20 de Janeiro. A notícia classifica o seu desaparecimento como dolorosa perda, não obstante não iria impedir o povo da Guiné-Bissau de prosseguir tenazmente a sua luta contra o domínio colonial.

Basil Davidson, um incondicional amigo de Cabral é citado a propósito de um artigo que escrevera em Le Monde Diplomatique, em Fevereiro anterior, onde dá expressão às preocupações do líder do PAIGC: “Em 1972, decidimos promover um grande número de jovens (homens e mulheres) apostos de responsabilidade, estávamos a ficar rotineiros. Descobrimos que tínhamos demasiados dirigentes reconhecidos, com uma tendência à formação de frações. Por isso, alargamos a direção”.

Jornal Português dá ainda notícia de aeronaves abatidas em Moçambique, ao assalto a instalações do Ministério do Exército pelas brigadas revolucionárias, às explosões nas instalações do Distrito de Recrutamento e Mobilização nº 1, na Avenida de Berna.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12837: Notas de leitura (572): "Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné", de Gomes Eanes de Azurara (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12847: Brochura, "Soldado! Coisas importantes que deves saber", 5ª ed. [Lisboa: SPEME, 1970, 14 pp.] (II e última Parte) (Fernando Hipólito / César Dias)




















Reprodução da  II e última parte  (pp. 1, e 7 a 14)  da brochura de 14 páginas, "Soldado!, Coisas importantes que deves saber. Aos jovens soldados do Exército Português", ª ed. [Lisboa: SPEME - Serviço de Publicações do Estado Maior do Exército, 1970, 14 pp.].(*)

Este exemplar pertence ao nosso novo grã-tabanqueiro, nº 650, Fernando Hipólito (**), e chegou-nos às maõs, devidamente digitalizado por gentileza e generosidade do César Dias. Aos dois o nosso muito obrigdo. 

Guiné 63/74 - P12846: Parabéns a você (706): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil TRMS do BART 2917 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 de Março de 2014 > Guiné 63/74 - P12838: Parabéns a você (705): António da Silva Batista, ex-Soldado At da CCAÇ 3490 (Guiné, 1972/74)

domingo, 16 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12845: Tabanca Grande (429): Fernando Hipólito, grã-tabanqueiro nº 650 (ex-fur mil, CCAÇ 2544, Angola, 1969/71; incorporado no 3º turno, 1968, CISMI, Tavira)


Angola >  Zona leste > CCAÇ 2544 (1969/71) > Lumege, estação dos caminhos de ferro de Benguela > >  Fevereiro de 1970 Em primeiro plano, à esquerda, o fur mil Fernando Hipólito, junto do veículo blindado que seguia na frente dos comboios.


Angola >  Zona leste > CCAÇ 2544 (1969/71) > Lumege > Vista aérea do aquartelamento onde a companhia esteve 18 meses, desde julho de 1969.



Angola >  Zona leste > CCAÇ 2544 (1969/71) > Setembro de 1970 >  Levantamento de uma mina A/C na picada


Fotos (e legendas): © Fernando Hipólito (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



CISMI, Tavira, 3º turno, 1968: o Fernando Hipólito (à esquerda)
e o César Dias, no jantar do fim do 1º ciclo do CSM,  no dia
do juramento de bandeira. Foto: César Dias (2014)

1. Mensagem do Fernando Hipólito, com data de 3 de março de 2014, respondendo ao meu convite para se sentar "sob o poilão da nossa Tabanca Grande", apadrinhado pelo 
César Dias:


Amigo Luís Graça

Aceito a sugestão de me sentar debaixo do Poilão.Aqui vai a reportagem que enviei ao Correio da Manhã,com a História da minha CCAÇ 2544. em Angola.

Na foto estou junto a um veículo que seguia à frente do comboio,a fazer segurança.Também já não resido em Sacavém, mas sim em S.João da Talha.

Se for necessário mais info, eu envio.

Abraço

Fernando Hipólito


2. Reprodução do depoimento do Fernando Hipólito, para a série "A Minha Guerra", publicado no Correio da Manhã, 17/6/2012 (Utilizámos, com a devida vénia, os recortes que nos foram enviados pelo nosso novo grã-tabanqueiro, nº 650):


~




3. Comentário de L. G.:


O nosso blogue estava em dívida para com o Fernando Hipólito pelas fotos do CISMI, Tavira, e pelos documentos ("Guia do instruendo" e "Soldado!, coisas importantes que deves saber") que já aqui publicámos (o guia) ou estamos a publicar (a brochura "Soldado"). Esse material chegou-nos por mão do César Dias, seu amigo e camarada dos tempos da recruta, 3º turno, 1968... 

Embora tenha feito a sua comissão de serviço em Angola, o Fernando Hipólito fica bem, aqui sentado, sob o nosso poilão ao lado de camaradas da Guiné, do seu tempo do CISMI, como o Tony Levezinho e o César Dias, eu próprio e tantos outros.

Sê bem vindo, camarada, grã-tabanqueiro nº 650: afinal, a nossa guerra foi a mesma, e hoje é a mesma, a guerra contra o esquecimento, pela partilha de memórias e de afetos.

Guiné 63/74 - P12844: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (5): Contrastes e coincidências

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.


1. Em mensagem do dia 12 de Março de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil da CCAÇ 1422/BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, Pelundo e Bissau, 1965/67) enviou-nos a sua habitual Crónica  Higiénica para publicação.






CRÓNICAS HIGIÉNICAS

5 - CONTRASTES E COINCIDÊNCIAS

P12790
Numa foto está escrito: "três mil soldados para uma piscina".
Claro que fiquei a pensar: Em Bafatá? Paraíso para onde só alguns iam combater... a boa comida... o sossego... o cinema? Mas como três mil? Não será exagero... tanta gente a descansar, ou melhor 12% então, de toda a população militar da Guiné concentrada num só local?

Alembrei-me do tempo que andei lá nos matos (Agosto/65,Julho/66) e da forma primitiva como vivemos, em Bissorã, Mansabá, Manhau, K3, Biribão e respondido a emboscadas várias nas matas, nos caminhos e até no próprio aquartelamento, valendo-nos nessa altura, a artilharia de Farim.

E que bom teria sido se tivéssemos, nós os 150 da CCAÇ 1422 nem que fosse um tanque de lavar roupa, para não termos de ir ao rio gastar granadas para afugentar os crocodilos e banhar-nos em meia-hora, que depois eles voltavam.

P12787
Aqui o contraste... o horror e não a piscina. Esta foi a guerra que conheci.

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"Meus amigos", tal como diz a canção "A ternura dos 40"... "o importante é o sorriso".
Façam-no, descontraiam, recordem, sintam saudades, que isso sim é sinal de que ainda estamos vivos, sentimos, amamos e sofremos. E nem se preocupem se o dinheiro chega e se os impostos vão aumentar. Preocupemo-nos sim com o próximo jogo de futebol qu'o resto nada vale.

E como diz o PR, vamos demorar 21 anos a ser novamente PORTUGAL. Não comento ladrões, que roubam para sustentar a mulher estrabeculosa e os filhos que não comem o suficiente nas cantinas escolares, não comento políticos, nem futebóis, mas comento, por me dizer respeito, esta questão do 21.

É que, vejam bem a perseguição: nasci a 21, casei a 21, cheguei à nossa Guiné a 21, sai de lá a 21 e agora mais o 21 para finalmente deixar a pata protectora das gentes boas que desinteressadamente nos ajudam a pagar mais impostos... nos retiram subsídios.... Sensibilizado me sinto por termos tão bons dirigentes... confesso, pois que se em vez de 21 fossem 22, estragavam-me a mnemónica.

Mais do que tudo até lhes agradeço... pois que me fazem lembrar o tempo que andei de G3 com bipé, capacete na tola, quatro ou cinco cartucheiras cheias no cinto, cantil com whisky Vat 69, três ou quatro granadas de morteiro 60 no torso, mais duas ou três defensivas nos bolsos do camuflado. Mas sei que valeu a pena ter combatido para a construção dum Mundo melhor... ah pois valeu, e como gostaria de voltar aos meus vinte e pouco anos, talvez não os deixasse gozarem assim tanto com o povo que tanto defendem, mas aporcalham porque sabem que já não há revoluções que lhes façam frente.

Mas também morrem e que a morte seja, antes, cheia de sofrimento idêntico ao que estão a provocar. Nesse dia e se calhar até invocarão os Deuses, cujas teorias desrespeitam.

P12817
Caro camarada d'armas, permite-me que te cumprimente pelo desassombro.
Há verdades incómodas para alguns, mas mal de nós se tivermos de desistir ou de pôr por escrito o que sabemos. "Ver para crer" foi dantes e perdoar até será uma coisa boa, mas a verdade é que os crimes ainda não esqueceram e como tal ainda não prescreveram.

Há camaradas brancos e bloguistas que ficaram instalados na Guiné após a "descolonização exemplar" e que por força das pressões posteriores dos mandantes, a tiveram que abandonar devido a perseguições e ameaças. Também o mesmo aconteceu com Angola e deixemo-nos de ser ingénuos.
A que chamarão a isso os puristas? Não foi racismo? E quando a UPA começou a matar brancos em Angola (1961) não foi racismo?

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Hoje 11 de Março e para dar continuidade a essa treta da fisioterapia, enquanto esperava lendo o que já havia lido, fui ouvindo um senhor que procurava estabelecer diálogo, fosse com quem fosse e ali estivesse a aguardar a sua vez e até com quem de novo chegasse.

Olhei-o, vi que precisava de alguém para desabafar e decidi sentar-me ao seu lado. Esteve em Madina do Boé, algum tempo em Nova Lamego, fez um mês de férias em Bissau, foi aos bairros pobres e durante o dia, ouvir a música... ver os pretinhos a dançar e só não se atreveu a ir de noite, pois que se dizia ser perigoso.
Fez a especialidade em Tavira, na mesma altura que eu... foi para Lamego na mesma altura que eu... foi no Niassa... no mesmo dia que eu...
Dói-lhe o corpo todo e gostaria de voltar a ser novo... tal como eu.

Chamaram-me para as massagens... e eu não fui.
Chamaram-no... e ele foi.

Nada falei... apenas ouvi e prometi que na 5.ª feira cá estaremos de novo.
Nem nos "apresentámos"...nem fiquei a saber o seu nome. Vim para casa tremendo e a pensar que afinal estamos mesmo sem ninguém que nos oiça.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12813: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (4): Semanas para esquecer

Guiné 63/74 - P12843: Convívios (569): 20º Convívio dos camaradas de Bambadinca (1968/71): 24 de maio de 2014, Óbidos e Caldas da Rainha (José Fernando Almeida, ex-fur mil, trms, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > c. 1969/70 > Quartel > Rampa de acesso, do lado leste... Daqui saía-se para o rio e porto fluvial (ao fundo, à esquerda) ou para a estrada (alcatroada Bambadinca-Bafatá). Bambadinca era a sede do regulado de Badora, do outro lado do rio já era o  regulado do Cuor (no nosso tempo, confinado a Finete e Missirá)... Bambadinca ficava num promontório. Esta rampa de acesso, íngreme, prestava-se a acidentes. Lembro-me de um deles que ia vitimando o major Ângelo da Cunha Ribeiro, 2º cmdt do BCAÇ 2852, que ia morrendo esmagado no seu jipe por um desprendimento de cibes da viatura pesada que seguia à frente... Tinha por alcunha o "major elétrico"...



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > c. 1969/70 > Escola primária de Bambdinca, e em frente a parada do quartel com o pau da bandeira e os monumentos evocativos das unidades que por aqui tinham passado até então (ou seja, até ao tempo da CCS/BCAÇ 2852, 1968/70).



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > c. 1969/70 > O enorme poilão (?) de Bambadinca, o depósito de água e a casa do chefe de posto, que ficava à esquerda escola...A seguir, era o edifícios dos correios (se não erro), já não visível na foto



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > c. 1969/70 > Vista parcial da tabanca de Bambadinca e da rua principal que ia até ao Rio Geba, com casas comerciais e de habitação, de traça colonial, do lado direito.



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > c. 1969/70 >   > Vista parcial da rua principal de Bambadinca que ia  da entrada leste do quartel até ao Rio Geba (, ao fundo do lado esquierdo,), com casas comerciais e de habitação, de traça colonial, do lado direito.

Fotos © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagemL.G.]


1.Mensagem do nosso amigo e camarada [José] Fernando Almeida, ex-fur mil trms, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), com data de 5 do corrente:

Luís, boa noite

Venho pedir que divulgues, no blogue, o Programa e Ementa do nosso 20º convívio dos camaradas que passaram por Bambadinca, entre 1968b e 1972; os do BCAÇ 2852, CCAÇ 2590/CCAÇ 12,  Pelotões de Morteiros, Pel Rec .Daimler, Pelotões de Intendência, Pelotões de Caçadores Nativos, e ainda o BART 2917 (1970/72).,


.Será no dia 24 de Maio de 2014, em Óbidos e Caldas da Rainha.
Anexo O Programa e a Ementa .
Agradeço a atenção.

Um abraço

Fernando Almeida



2. Guiné - Bambadinca 1968-1971  > 20º Convívio em Óbidos / Caldas da Rainha, 24 de Maio de 2014


Camaradas e Amigos, conforme ficou combinado em Seia, este ano o Convívio é realizado em Óbidos-Caldas da Rainha. Como sempre,  o Convívio é extensivo aos nossos familiares,camaradas e amigos, que nos têm acompanhado, apoiado e suportado todos estes quarenta e cinco anos,(45 anos, tantos!). Se encontrares algum camarada que tenha perdido o contacto,  convida-o .

(i) Local de encontro: Parque D. Carlos I (Coreto), Caldas da Rainha, entre as 10.00 H e as 10.45 H. 

(ii) No Centro Comercical VIVACI, há estacionamento GRATUITO nas duas primeiras horas. Fica à entrada das Caldas da Rainha,  perto do Largo com a Estátua da Rainha Dona Leonor.

(iii) Missa em memória dos camaradas e familiares falecidos, na Igreja de Nª Senhrora do Pópulo (Hospital Termal) às 11.00 H.

(iv) Almoço- Recepção : No Restaurante A Lareira (Alto do Nobre),  Estrada da Foz, às 12.30 H.

Agradeço a confirmação até ao dia 10 de Maio de 2014. 

 Contactos : José Fernando Gonçalves de Almeida – Estrada dos Ingleses nº 9 
 Gracieira 2510-339 A-dos-Negros

Telemóveis: 933 494 741 : 262 958 178 
Email: josefgalmeida@gmail.com.

Preço por pessoa: Adulto- 35.00 €

Crianças entre os 0 e 3 anos= Grátis
Crianças entre os 4 e 9 anos= 50 %
Crianças com 10 anos ou mais = 100 %

Agradeço que sinalizes por Transferência Bancária : NIB 0035 0697 0037 1004 2007 9 ou envio de Cheque:em nome de José Fernando Gonçalves de Almeida

Um abraço

José Fernando Almeida

José Fernando Gonçalves de Almeida
Estrada dos Ingleses Nº 9
Gracieira
2510-339 A-dos- Negros
Óbidos

3. Ementa

Recepção

Mini Pataniscas da Marciana
Tapas diversas com enchidos regionais
Canapés de Salmão, de Queijo, Presunto, de Camarão, de Linguiça
Mini Rissois de Peixe, Mini Croquetes de Carne, Mini Pasteis de Bacalhau
Gin , Martini, Whisky, Porto branco seco, Moscatel de Setúbal
Sumo de Laranja e Águas

Couvert 
Pão e Manteiga
Sopa
Sopa de Peixe à Pescador
Creme de Legumes à Francesa
Peixe
Naco de garoupa assado no forno à Marinheiro
Acompanhado com batata assada e salada colorida

Carne

Lombo de Porco recheado com alheira de Mirandela
Acompanhado com arroz de cenoura,bróculos,cebola frita e pêssego recheado

Sobremesa 

Pudim de Ovos com fios de Caramelo

Café e Digestivos

Café
Whisky novo, Aguardentes, Licores, Bagaceiras, Vinhos do Porto

Bufete

Mesa de Frutas 

Centros de frutas descascadas compostas por,
Manga, Ananás, Kiwi, Maça, Laranja, Uvas, Morangos, Melão, Meloa

Mesa de Doces 

Bolo de Noz, Bolo de Chovolate, Tarte de futas, Pão de Ló de Alfeizarão, Doce de Bolacha Mouse de Chocolate, Arroz Doce, Mini Pastelaria, Pudim de Ovos, Doce tradicional da casa

Mesa de Queijos 

Tipo Serra,Niza, Saloio . Tostinhas, Broa de Milho e Pão Saloio. Mel, Marmelada e Doce de Framboesa

Mesa de Carnes 

Leitão assado da bairrada, Lombo de Porco, Rosbife, Frango frito à Antiga

Ceia

Caldo Verde, Carne de Porco à Portuguesa

Corte do Bolo

Bolo Comemorativo, Espumante Lareira

Cave

Vinho branco Lareira, Vinho Tinto Lareira, Águas , Sumos, Refrigerantes


4. Para quem quizer pernoitar nas Caldas da Rainha.

Hotel Cristal Caldas.Tel: 262 840 260

Europeia Hotel. Tel: 262 839 320

Hotel Dona Leonor. Tel. 262 842 171-Fax .262 842 172- Telm.964 504 595-email.hoteldonaleonor@mail.telepac.pt.

Hotel Caldas Internacional. Tel 262 830 500

Inatel Foz do Arelho. Tel : 262 975 100

Hotel Penedo Furado. Tel : 262 979 610

Sana Silver Coast Hotel. Tel: 262 000 600

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Nota do editor: