terça-feira, 12 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12282: O meu baptismo de fogo (25): Monte Siai, 10 de Janeiro de 1968 (Abel Santos)





1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 28 de Outubro de 2013, narrando-nos o seu baptismo de fogo:





O DIA DO MEU BATISMO DE FOGO

MONTE SIAI,  10 DE JANEIRO DE 1968

A Companhia avançava desde o alvorecer deixando para trás CANJADUDE, quartel que foi o ponto de partida para uma incursão operacional serpenteando através do capim, árvores, bolanhas e todo o tipo de obstáculos, aproximando-nos do objectivo estabelecido pelas esferas militares, e sempre acompanhados pela velhinha DO que a determinada hora se retirou para a Base.

Subido o monte SIAI a malta instalou-se para passar uma noite em alerta, e já com o sol no ocaso, eis que a guerra estala com um frenesim inaudito, envolvendo-nos numa luta sem tréguas. Recordo que quase sufoquei devido à imensa poeira levantada, chegando a pensar que ficaria ali para sempre. Tal não aconteceu mas fiquei algo confuso pois ainda não estava sintonizado com a realidade. É nessa fase de inércia momentânea que recordei tudo que estava para trás, o porquê de eu estar ali defendendo alguns que a essa hora estariam a banquetear-se, enquanto nós lutávamos para defender as nossas vidas. Quando acordei da inércia em que tinha mergulhado, o ataque do IN oscilava por cima das nossas cabeças parecendo mais o troar da trovoada com os seus raios luminosos, mas eram explosões e rajadas de todas as armas no seu matraquear característico da máquina de costura.

Reagimos ao matraquear das metralhadoras e dos morteiros do IN respondendo com o nosso querer e saber, as nossas armas vomitavam jactos de fogo para o meio do IN através da MG-42, bazuca e morteiro 60. Estava estirado no solo mas sentindo passar por mim os fogachos do IN que se desfaziam nas minhas costas revolvendo aquela terra como que a castigá-la acusando-a por ter recebido no seu seio tal intruso. Faço fogo respondendo ao matraquear da outra arma através de uma abertura entre uma árvore e uma rocha onde me tinha postado, quando de repente sou pisado nas costas por alguém que fica gritando (talvez pela minha imobilidade momentânea já que estava a mudar de carregador).
- Está morto?

Ao qual respondi azedamente:
- Está morto o cara..o.

Foi um dia tenebroso, desde o raiar da manhã na qual até as aves e os restantes habitantes daquela mata, talvez sentindo mau presságio desertaram, pois não notamos a sua presença, ou não quiseram assistir a tal sinfonia.

Na manhã seguinte contabilizaram-se alguns feridos entre nós, já o opositor não pôde dizer o mesmo.
Descemos SINAI a caminho do ponto de reunião que foi no CHECHE, onde a coluna que nos veio evacuar sofreu pelo caminho uma emboscada com minas anticarro e antipessoal, da qual viriam a falecer, vítimas de ferimentos, dois militares e Major do Serviço de Material que iam fazer uma inspecção do material existente no aquartelamento e sobretudo à célebre jangada que nos chegou a transportar para a outra margem nas deslocações da 1742 a MADINA DO BOÉ e BÉLI para abastecimento dos nossos camaradas ali colocados.

A partir do momento em que vivi a guerra na sua plenitude, fiquei a ver este conflito de um outro ângulo, pois o invasor éramos nós, e que o IN nos combatia e lutava com toda a legitimidade pois aquela terra era dele.
Pergunto eu, para quê tantos camaradas mortos, tantos deficientes que hoje não têm o apoio das pessoas responsáveis deste meu país?

Amo a GUINÉ, e repugna-me ver como está sofrendo o seu povo, talvez um pouco por culpa nossa, mas os responsáveis já cá não estão para serem responsabilizados.

E assim foram passados dois dias de muitos em actividade constante, defendendo as nossas vidas e a das populações, pois elas procuravam o nosso apoio já que connosco se sentiam mais seguras.

Termino, enviando a todos os camaradas que passaram pela GUINÉ e em especial aos da CART 1742 aquele abraço.

Abel Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE ABRIL DE 2011 > Guiné 63/74 - P8064: O meu baptismo de fogo (24): Num ataque de... formigas (José Barros)

Guiné 63/74 - P12281: In Memoriam (168): A Memória do Cheche, 6 de Fevereiro de 1969 - Lista oficial dos desaparecidos no Rio Corubal (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 22 de Outubro de 2013:

Transcrevo mail do Luis:
 "Zé: 
Queria republicar postes antigos sobre o desastre de Cheche... (O dia 6/2/2013, faziam 44 naos, passou... mas há coisas ainda para esclarecer... ). Tu andaste com este dossiê, tens autoridade na matéria... Mas em relação à tua lista dos mortos, falta um nome!... Já dei voltas e não descobri: deve ser da CCAÇ 1790... Queres pegar neste material e fazer um poste novo. atualizado ?... 
Um abraço
Luís Graça"

Não sei se era o texto que queriam.
Pelo menos segue a "lista oficial" dos desaparecidos no Cheche.

Abraço
José Martins









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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12245: In Memoriam (167): Manuel Leitão Silvério, ex-alf mil, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70), mais tarde despromovido a 2º srgt mil, CCAÇ 2382 ( Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70) (Adriano Moreira, ex-fur mil enf, CART 2412)

Guiné 63/74 - P12280: Memória dos lugares (251): Cacheu, o Largo Central, a Casa Escada, a Casa Gouveia... (António Bastos, ex-1.º Cabo, Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)








Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Cacheu > 2008 > Foto(s) do Largo Central da Vila do Cacheu. As Casas Escada e Gouveia estão devidamente assinaladas. O edifício, hoje em ruínas, da antiga Casa Gouveia, está em recuperação e nele será instalado o Memorial da Escravatura, numa iniciativa da ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento e com apoio da União Europeia.

Foto: © António Bastos (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: L.G.).


1. Resposta, "just in time", com data de ontem, às 18h30, do António Bastos (ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira PintoFarim, 1964/66), ao apelo formulado no nosso poste P12277 (*):

Companheiro Luís, boa noite:

Fotos da casa Escada, no Cacheu, tenho esta foto está um pouco longe, essa parte que se vê era a taberna no meu tempo e a mercearia, depois tinha a habitação que dava para a rua que leva à Fortaleza.
A casa é a que está por trás dos dois homens, mesmo na esquina.
Não sei se interessa para o caso, mas em 1964 estava lá na casa um Português que se chamava Joaquim e nos tratávamos pelo Sr. Joaquim Escada,  não sei se era o dono; também se encontrava a esposa e um filho que devia de ter uns 3 anos e  que depois veio a falecer em 1965,  lá.
Esta família eram de Coimbra.

Companheiro,  eu sei que tenho uns vídeos do ano 1993 quando estive no Cacheu. E é provável que apareça a casa, eu vou visionar,  se por acaso lá esteja eu envio.
Sempre ao dispor.  Parte Mantenhas. E um abraço,

António Paulo.

2. Novo mail do António Bastos, mandado às 18h45:

Companheiro Luís,  houve aqui um lapso meu, vocês querem a casa Gouveia e não a Escada, ora eu no Cacheu só conheci essa e a Ultramarina.

Aliás era a Ultramarina, e a do Libanês (que tinha duas filhas muito boas que em 2008 estavam já em Ingoré) e a do Sr. Joaquim Escada,  que não sei se ele era empregado se dono.

3. Comentário de L.G.:

Fantástico, António, não é o Largo do Cacheu, de 1964, é de 2008, mas não deixa de ser uma foto preciosa... Antes que venha o camartelo camarário ou o tempo dê cabo do resto... É um importantíssimo contributo teu para a preservação da(s) nossa(s) memória8s) do Cacheu. (**)

Dizes-me tu que a casa Escada é a da esquina, do lado direito, de piso térreo. Mas se, reparares, há uma outra, em segundo plano, com um piso superior, e de que só se vê uma parte. Pode ser essa a Casa Gouveia,

Quanto tempo estiveste no Cacheu ? Passaste lá pelo menos o Natal de 1964... Conheces mais alguém, do teu tempo, que tenha fotos do centro histórico do Cacheu ? 



Vista da Praça de Cacheu (Sec. XVI). Litografia, s/d. Arquivo Histórico Ultramarino (AHU). Reproduzido, com a devida vénia,  do sítio Saber Tropical, do IICT - Instituto de Investigação Científica Tropical, Lisboa.


4. Comentário do Pepito, diretor executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, ONGD que está a construir o Memorial da Escravatura, em Cacheu:

Luis:  Acertaste em cheio. A casa Gouveia é exatamente essa que indicas. Dois pisos (sobrado,  como aqui dizemos e como se diz no português arcaico...). Muito obrigado. Já é uma aproximação ter esta foto do Largo Central. Vou aproveitar para contactar com a família Escada,  a ver se eles têm fotos daquele tempo. Pepito.


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12279: Manuscrito(s) (Luís Graça) (12): Servir duas pátrias, Portugal e Angola... O caso do sr. C..., furriel mil em 1974/75, no exército colonial português, tenente das FAPLA em 1975/89

Servir duas vezes a pátria, ontem Portugal, hoje Angola... 

por Luís Graça

Ilha de Luanda, 23/7/2013.

1. Levantei-me às cinco e meia da manhã. É dia ou quase dia. Às seis em ponto, o sr. C... , motorista de ambulâncias da clínica, já estava pronto para me levar ao aeroporto. É o meu motorista habitual, quando aqui venho, à Ilha de Luanda em serviço... É o meu motorista da madrugada.

 Já o conheço há uns anos... E espero voltar a encontrá-lo para a próxima semana. Sábado, vou de novo a Luanda, e desta vez vou no mesmo avião que o António Duarte, meu "neto" na CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1969/74)... Eu sou de 1969/71, ele é de 1973/74... Eu vou dar formação a médicos do trabalho e ele a bancários...Só que ele já lá vai há mais tempo (1999) do que eu (2003) ...(Mais uma vez se constata que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!).

O meu amigo C... estava de férias, mas levantou-se para me conduzir, a tempo e horas, até ao aeroporto. Há outro motorista, o C2..., mas mora longe. Sair de casa a essa hora é arriscado, devido à insegurança nos musseques.  Mesmo assim, na clínica,  há gente que sai de casa às 4h da manhã para vir trabalhar!...A vida é dura para os luandenses que precisam de trabalhar.

O sr. C... é um homem afável, de 59 anos, Mestiço, do Kuanza Sul (, salvo erro),  província a sul, a  cerca de 300 km de Luanda...É preeiso atravessar Luanda, de uma ponta á outra, até chegar ao aeroporto... Nas horas de ponta, pode ser um inferno. Daí ter que me levantar às 6 da manhã...para estar com uma certa margem de segurança, a tempo e horas, no aeroporto.

O sr. C... mora na ilha de Luanda, perto da clínica aonde fui dar formação e onde ele trabalha, como motorista de ambulâncias... Trabalho que, diga-se de passagem, não é pera doce: há uns largos anos atrás,  talvez em finais da década de 1990,  a sua ambulância foi metralhada num musseque, quando um "grupo de bandidos" (sic)  tentava assaltar a casa de um "fulano ricaço" (sic)... Os bandidos, que não sabem ler, confundiram o ti-no-ni da ambulãncia com o carro da polícia... Houve feridos graves, baleados dentro da ambulância; mas, mesmo com os pneus todos furados, o meu amigo C...  lá conseguiu safar-se, com o assento todo crivado de balas... Revelou grande sangre frio e coragem,

Esse sangue frio e coragem vêm-lhe do tempo da guerra. É um ex-combatente. Tem muitas histórias para (e por) contar. Rapidamente criei com ele um laço de cumplicidade. Nada como dois ex-combatentes.... Fez a guerra colonial, do lado português, com "muita honra" (sic), creio que por volta de 1973/74, ou mesmo 1974/75. Era furriel miliciano.  Serviu "a sua pátria de então" (sic). Quando os sul-africanos invadem Angola, sua terra, as FAPLA convocam-no para as suas fileiras. Foi então 1º tenente de infantaria, comandando cerca de 70 homens. Participou em várias batalhas. E lá ficou na tropa e na guerra até à desmobilização, em finais de 1980, se não erro... Também se queixa de o estado angolano ter esquecido os antigos combatentes...

Pelo que perecebio, esteve no Kuando Kubango (e, possivelmente, na batalha de Kuito  Kuanavale, de trágica memória para todos os contendores de um lado e  do outro, angolanos, cubanos, soviéticos, sul-africanos)...

Mas a  cena mais dramática da guerra para o meu amigo C... não foram os bombardeamentos massiços da artilharia e aviação dos sul-africanos, foi sim uma emboscada às portas de Luanda (c. 100 km, se bem percebi), a um coluna de várias viaturas guarnecidas por um grupo de combate... Tenho dúvidas se foi na batalha de Kifangondo, iniciada em 10/11/1975, às portas de Luanda (e cujo desfecho foi fundamental para reforçar a posição do MPLA), ou se foi mais tarde... (Sobre esta batalha, vd. aqui o depoimento do general António França 'Ndalu'). Não tive oportunidade, no trajeto até ao aeroporto, de esclarecer alguns pormenores... Possivelmete foi quando as forças sul-africanas, a seguir à independência,  chegaram até ao sul do Ebo, província do Kwanza Sul, ameaçando Luanda.

Nessa emboscada, as viaturas foram todas destruídas, as FAPLA tiveram cerca de 2/3 de baixas mortais, incluindo 7 cubanos e 12 angolanos... O sr. C... , na altura tenente e comandante da força (cerca de 30 homens), nunca mais se esqueceu desse "dia pavoroso" (sic)...

Começou a trabalhar na clínica quando esta reabriu em 1990/91. Ele já pertencia ao quadro de pessoal da Endiama. Conversa puxa conversa, diz-me que "já não há bandidos na ilha de Luanda e no centro de Luanda" (sic). A polícia "limpou-os" (sic). A esta hora, 6 da manhã, há grupos de 3 e 4 brancos (presumivelmente estrangeiros a trabalhar em Luanda) que andam a fazer "jogging" na marginal. As praias estão limpas, contrariamente ao que se via há uns anos atrás... A zona agora é "turística" (sic), as barracas desapareceram...  Enfim, a cidade mudou, "para melhor"... "Bandido é no musseque onde a polícia não vai" (sic). Tinha-lhe prometido trazer uma garrafa de vinho de Lisboa. Deixei-lhe kwanzas para beber um copo à nossa saúde e à nossa condição de antigos combatentes.

2. Percebo agora melhor porque é que os nossos amigos e irmãos angolanos, são pessoas que vivem com intensidade o dia que passa e manifestam publicamente a sua felicidade. "Para ser feliz tem que ser aqui em Angola", diz um kudurista dos musseques de Luanda no filme angolano "I Love Kuduro", do realizador português Mário Patrocínio, a cuja estreia, em Portugal, eu assisti há dias, no Cinema  São Jorge, no âmbito do doclisboa'13...

Confesso, por outro lado,  a minha relativa ignorância em relação à história e á geografia de Angola, apesar de lá ir já desde 2003... Tenho que me socorrer da Net e dos mapas, como muletas...

Por exemplo, Kuando Kubango... É uma província situada no sudeste do país. Verifico que é limitada a norte pelas províncias do Bié e Moxico, a leste pela República da Zâmbia, a sul pela República da Namíbia e a oeste pelas províncias do Kunene (onde a guerrilha da SWAPO tinha bases e campos de refugiados) e Huíla. A capital da província é a cidade de Menongue e dista de Luanda mais de mil km e de Kuito menos de 350 km. Tem cerca de 140.000 habitantes e ocupa uma superfície duas vezes superior a Portugal...

É constituída pelos municípios de Kalai, Kuangar, Kuchi, Kuito Kuanavale, Dirico, Mavinga, Menongue, Nancova e Rivungo. O clima é tropical no norte da província e semi-árido no sul. Esta região  de Angola é conhecida atualmente como "Terras do Progresso», devido ao seu grande potencial económico, praticalmente por explorar.

Mas voltemos à guerra, à chamada segunda guerra da independência. Durante muito tempo alguns municípios (como Mavinga, Dirico, Cuchi e Kuito Kuanavale) serviram como bases de apoio à guerrilha da UNITA,  liderada por Jonas Savimbi, que só abandonou completamente estes territórios (a "Jamba") em finais de 2001,  aquando da ofensiva das forças armadas angolanas. É sabido que o Movimento do Galo Negro recebeu  apoio dos EUA, na luta contra contra o MPLA,  que por sua vez era apoiado pela União Soviética e Cuba. Estávamos em plena guerra fria. Angola era uma peça importante no tabuleiro do xadrez da geopolítica mundial,..

 A Batalha de Kuito Kuanavale foi o maior confronto militar da Guerra Civil Angolana. Foi um batalha sangrenta e prolongada entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988.  Foi aqui , na província de Kuito Kuanavale, e mais concretamente no munícipio de Kuando Kubango, que as FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola), apoiadas pelos soviéticos e pelos cubanos, se confrontaram com a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), apoiada pelo  exército sul-africano.

É considerada a batalha mais longa travada no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial.

Nesta batalha de Kuito Kuanavale, foi posto em cheque o mito, aos olhos dos angolanos,  da invencibilidade do exército da África do Sul. Independetemente das duas partes terem clamado vitória, a África do Sul terá sido obrigada a reconhecer tacitamente a superioridade demonstrada pelas FAPLA (e seus aliados) no campo de batalha. Isso explicará a posterior assinatura dos Acordos de Nova Iorque, ponto de partida para o fim de um conflito que afinal não era apenas uma guerra civil, nem um simples conflito regional ...  A implementação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU vai levar  à independência da Namíbia e apressar o fim do regime de segregação racial, que vigorava na África do Sul.

3. Levei para Luanda e acabei de ler, de um fôlego, o romance de Ondjaki, Os transparentes, 3ª ed.  (Lisboa: Caminho, 2013, 451 pp). Um marco da literatura lusófona. Este puto (n. 1977, e que fez sociologia, como eu, no ISCTE) vai longe. Será em breve elegível para o Prémio Camões, disso não tenho dúvidas.   Ele não precisa de comparações, mas para mim é o Mia Couto angolano.  Conheci-o pessoalmente, há uns anos atrás, na Feira do Livro de Lisboa. Uma pessoa adorável, de uma grande sinplicidade e simpatia, Luanda passa a ter, depois de Luuanda, do Luandino Veira, mais um livro de referência. Ganha Angola mas também todo a comunidade lusófona com este grande escritor e com o seu primeiro grande romance. É também um hino à língua portuguesa que nos une a todos.

Vd. aqui um resumo do romance.

PS - Sem surpresas para mim, acabou de arrecadar mais um prestigiado prémio, o Prémio Literário José Saramago 2013. Entre os membros do júri, conta-se a poet(is)a Ana Paula Tavares (n. 1952, Lubango), outro nome grande da literatura angolana.

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12060: Manuscrito(s) (Luís Graça) (11): No melhor pano cai a nódoa... (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P12278: Estórias avulsas (71): O meu aniversário - único - na Guiné (Jorge Araújo)

1. O nosso camarada o Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger a, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/74), enviou-nos a seguinte mensagem. 



 O MEU ANIVERSÁRIO [ÚNICO] NA GUINÉ

(XIME-BAMBADINCA-MANSAMBO)

10 de Novembro de 1973 [há 40 anos]

1. Após trezentos e sessenta e cinco dias e ¼, ou doze meses, período a que chamam de “ano civil”, cada ser humano é laureado pela máquina do tempo de origem europeia, um sistema promulgado em 24Fev1582 pelo Papa Gregório XIII (1502-1585), com mais uma “coroa” [unidade] que, somadaao número acumulado no período anterior, perfaz a idade, em anos, que já atingiu, feito que é festejado por familiares e amigos.Em função do determinismo dessa Lei e observada a regra da adição, eis que a partir de hoje conclui mais um ano de idade e iniciei um novo ciclo. Não há volta a dar … nem podemos reclamar.

2. Considerando que a maioria de nós [ex-combatentes] teve de cumprir mais de dois anos de comissão ultramarina, ainda que no início do conflito essa presença obrigatória fosse de dezoito meses, crescendo sucessivamente para vinte e um, vinte e quatro, e no final da guerra quase vinte e oito, é natural que aí tivéssemos de comemorar um ou dois aniversários.

No meu caso, essa efemérideno CTIG apenas se verificou em 1973, sendo, assim, a primeira e única experiência do género, uma vez que no ano anterior, por desejo pessoal definido numa estratégia de gestão do tempo de serviço, ela tivesse acontecido em Lisboa, em ambiente familiar, naquele que foi o primeiro período de férias de trinta e cinco dias [de 24Out a 27Nov1972], [vdpost 9802].

Por ausência de outra alternativa mais exequível, quis a divina providência e o calendário gregoriano [ou o meu projecto de vida militar] que o aniversário de 1973 teria de ser celebrado algures entre a Ponte do Rio Udunduma, Missão do Sono, Mansambo ou Bambadinca, os locais por onde circulavam os vários elementos da CART 3494, após a sua transferência para Mansambo, efectuada nos primeiros dias do mês de Março desse ano.

A uma semana do evento, e sabendo eu onde estaria nesse dia 10Nov1973, sábado, elaborei o projecto que passava por organizar um jantar comemorativo a ter lugar na Messe de Sargentos da CCS do BART 3873, unidade sedeada em Bambadinca.

Para o efeito, analisei essa possibilidade com o camarada Furriel vagomestre e, em conjunto, organizámos a logística para a confecção de um «menu de muitas estrelas» … mais de trinta [ver fotogaleria]. Adquiri os géneros necessários e, ainda, um leitão na tabanca de Bambadinca [com +/- 15kgs].

Durante o jantar, para o qual tinham sido convocados todos os membros disponíveis da família formada em regime de «união de facto», pois era esse o contexto, foi servido um suculento repasto de «Leitão à Bairrada à moda de Bambadinca» em traje de gala [a da metrópole], bem cheirosos e com barba [des]feita, condiçãosine qua nonpara os que não estavam de serviço.

Dito isto … mais palavras para quê?

Basta ver as imagens. Elas espelham o ambiente vivido e a grande satisfação que me deu em proporcionar este convívio – o possível. Foi bom para mim … e para todos, pois foi um dia [noite] diferente.

Assim sendo, e caso algum dos camaradas, membro da nossa «Tabanca Grande», tenha participado neste convívio faça o favor de dar sinais de vida, comentando/recordando esses momentos que estão [já!] a uma distância temporal de quatro décadas. Mas, se não for ou não tenha participado neletambém pode/deve fazê-lo.

Para mim, foi óptimo rever estas imagens e um prazer enorme escrever este texto.

Aguardo!

FOTOGALERIA:

Foto 1 –Bambadinca, messe de Sargentos (10Nov1973) – de trás para a frente, da esquerda para a direita, os furriéis: 1.ª linha: [nome que não recordo] – Russa – Carrasqueiro eAraújo [3494]; 2.ª linha:Monteiro [cozinheiro] – Jorge – Marques – Catarino – Carvalhido – Costa – Soares – Adérito – Laranjeira – Guimarães – Forja – Ferreira [3494] e Veríssimo; 3.ª linha: Mesquita [cozinheiro] – Pinho – Pachão – Faia – Rosado [1.º Sarg.] – Nunes – Costa [35ª CCmds] – Jesus [3494] – Bonito [3494] e Marques; 4.ª linha: Leite [1.º Sarg.] – Martins – Sousa [fur.enfº].
Foto 2 – Bambadinca, messe de Sargentos (10Nov1973) – da esquerda para a direita: furriéis: Adérito [CCS] – Costa [35ª CCmds] – Araújo [3494] – Bonito [3494], aguardando o «Leitão à Bairrada …», servido por Mesquita.
Foto 3 – Bambadinca, messe de Sargentos (10Nov1973) – da esquerda para a direita: Rosado (1.º Sarg.) – nome que não recordo – Carrasqueiro – Adérito – Costa – Araújo [3494] – Bonito [3494].
Foto 4 – Bambadinca, messe de Sargentos (10Nov1973) – da esquerda para a direita: Adérito – Costa – Araújo [3494] – Bonito [3494] – Jesus [3494] – Laranjeira [CCS] – Vítor, de pé – Carvalhido, de costas [CCS].
 Foto 5 – Bambadinca, messe de Sargentos (10Nov1973) – da esquerda para a direita, de frente para a câmara: Araújo (eu, de pé) [3494] – Marques – Soares – Mesquita, de pé – Guimarães – Forja – Leite – Costa – Pachão – Rosado – Costa – Bonito [3494] – Carvalhido – Ferreira [3494] – Veríssimo. 
Foto 6 – Bambadinca, messe de Sargentos (10Nov1973) – Idem.

Um forte abraço, comvotos de muita saúde e boa disposição.

10Nov2013.
Jorge Alves Araújo, 
ex-Furriel Mil Op Esp/ Ranger, 
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974)
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P12277: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (16): Foto(s) do antigo edifício da Casa Gouveia, no Cacheu, precisa(m)-se... Agora em recuperação, nele será instalado o futuro Memorial da Escravatura... Cacheu foi também o berço do crioulo.

Divulgámos há dias, no nosso blogue, a página em construção "Cacheu, Caminho de Escravos", projeto que está a executado pela AD - Acção para o Desenvolvimento e pelos italianos da AIN, com apoio de diversos parceiros, incluindo portugueses (União Europeia, UNESCO, Fundação Mário Soares, Instituto Politécnico de Leiria, etc.)

A criação do Memorial da Escravatura em Cacheu visa resgatar a memória histórica da escravatura naquela região da Guiné-Bissau e das suas relações com os circuitos e os destinos do tráfico negreiro. Tem 3 vertentes principais:

(i) Histórica, promovendo a investigação histórica e a difusão da temática da escravatura;

(ii) Cultural, promovendo a cultura e a identidade da cidade de Cacheu e da sua região e pondo em evidência as contribuições das diferentes etnias e a importância da língua crioula, que ali surgiu e se afirmou;

(iii) Económica, potenciando as atividades produtivas e de serviços como meio de redução da pobreza e desenvolvimento de novas atividades económicas.

Estão já em curso obras de recuperação do edifício, em ruínas (vd. foto em cima), onde será instalada o futuro Memorial da Escravatura. Esse edifício era a antiga Casa Gouveia, em Cacheu. Acontece que ninguém tem fotos do edifício que estava, de pé, no tempo da guerra colonial (1961/74)... a não ser eventualmente nós, antigos combatentes.

Fazemos, por isso, daqui  um apelo à malta que lá esteve ou passou por lá. Vejam nos vossos albuns fotográficos, se descobrem essa preciosidade. Se houver alguma foto será de imediato publicada no blogue, e com todos os direitos autorais... Ao digitalizar essa ou outras fotos, façam-no sempre com uma boa resolução (300 ou 400 pp).

Com a colaboração ativa, generosa e solidária da Tabanca Grande e dos demais leitores, o nosso blogue é também uma fonte de informação e conhecimento para todos, em particular para a comunidade lusófona. 

Obrigado. Saudações fraternas e lusófonas. Luís Graça.
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P12276: Notas de leitura (533): Escravos e Traficantes no Império Português, por Arlindo Manuel Caldeira (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Junho de 2013:

Queridos amigos,
A investigação do historiador Arlindo Manuel Caldeira irá surpreender todo aquele que procura uma resposta rigorosa e fora do domínio dos tabus para o chamado “o infame comércio”, o tráfico de escravos.
O autor oferece-nos um adequado enquadramento para as grandes questões do comércio negreiro e trata exaustivamente a cronologia deste comércio feito por portugueses. Os pontos de vista procurados cingem-se, claro está, à Guiné. Para quem tenha dúvidas, aqui fica a confirmação que foi a área de comércio menos relevante das nossas posições na África Ocidental.

Um abraço do
Mário


Escravos e traficantes no Império Português, o caso da Guiné-Bissau

Beja Santos

“Escravos e Traficantes no Império Português, O comércio negreiro português no Atlântico durante os séculos XV a XIX”, por Arlindo Manuel Caldeira, A Esfera dos Livros, 2013, é uma obra de indiscutível importância para se conhecer sem preconceitos ou falsas moralidades a extensão da participação portuguesa no chamado “o infame comércio”. Como é óbvio, centram-se as preocupações deste estudo no que tange à Guiné.

O autor é desassombrado logo na introdução no enquadramento da problemática.
Primeiro, não tem qualquer fundamento a ideia que foram os europeus que introduziram no continente africano a escravatura e o tráfico de escravos. A escravatura estava presente em todas as sociedades africanas antes da chegada dos europeus. Antes de começar o tráfico atlântico já os comerciantes árabes transportavam escravos africanos em direção à bacia mediterrânica e à Península Arábica. Esta verificação não obsta que se diga que o comércio negreiro transatlântico teve uma significativa maior dimensão.
Segundo, não é verdade que no período transatlântico o tráfico tenha sido uma iniciativa e um negócio de europeus, em que os africanos eram vítimas passivas. As elites locais participaram conscientemente neste tráfico, tirando proveito próprio e auferindo lucros significativos. Se é verdade que os portugueses quando chegaram à África subsariana ainda praticaram, como faziam em Marrocos, razias para a captura de prisioneiros, quando o comércio negreiro se institucionalizou tais práticas foram substituídas por relações de comércio pacíficas.
Terceiro, com um pragmatismo total, os europeus aproveitaram os mercados de escravos já em funcionamento, instalaram feitorias e submeteram este comércio às regras da oferta e da procura do tempo: um escravo passou a valer x em cavalos, manilhas de cobre, panos. Os colonizadores portugueses, aliás, não estavam em condições de interferir diretamente nas guerras entre os povos locais, beneficiavam, pura e simplesmente, dessas guerras. André Álvares de Almada, no final do século XVI, escreveu que os Mandingas do rio Gâmbia vendiam muitos escravos, “uns obtidos em guerras e juízos mas muitos outros em furtos”; na Guiné, os Bijagós, hábeis marinheiros, realizavam as suas incursões por mar para obterem escravos que depois vendiam aos portugueses.
Quarto, possui-se hoje, graças a importantes investigações coletivas, dados e números que permitem uma aproximação sobre as dimensões deste tráfico. Como refere o autor, o destino principal, durante as primeiras décadas do século XV, foi o continente europeu e os arquipélagos atlânticos onde se introduziu a produção de açúcar (S. Tomé, Canárias, Madeira). Nas primeiras décadas do século XVI, Portugal deve ter recebido uma média anual de dois a três mil escravos.

Com a União Ibérica, os portugueses irão ganhar ainda maior protagonismo no abastecimento de mão à América Espanhola. Este comércio será profundamente alterado quando acabou o monopólio luso-espanhol. Em 1621, fundou-se a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, avançou para o Atlântico Sul e começou a ocupar importantes povoações brasileiras, irão ser expulsos depois da Restauração, mas já estavam experimentados na produção sacarina, lançaram-se na Guiana e nas Antilhas. Haverá depois uma nova fase do tráfico atlântico que corresponde ao século XVIII, prolonga-se ainda pela primeira década do século XIX, carateriza-se pela internacionalização do tráfico e por uma transferência maciça de população africana para as Américas. A Europa do Norte juntou-se a Portugal no negócio da mercadoria humana: Holanda, Inglaterra e França, mas também a Dinamarca, a Suécia e até alemães. Na terceira fase, que se inicia na segunda década do século XIX, os povos ibéricos têm por companhia os EUA.

Posto este enquadramento, é hora de entrarmos no comércio negreiro envolvendo a Guiné. Foi na Senegâmbia que os portugueses estabeleceram as primeiras regulações regulares de comércio. Como observa o autor, no entanto, os valores não estiveram sequer próximos dos que atingiu o Golfo da Guiné, uma das regiões mais movimentadas do tráfico atlântico. Os portugueses foram atraídos pelo ouro, procuraram-no na Costa da Mina ou Costa de Ouro, entre o cabo das Palmas e o rio Volta. Seria, no entanto, da baía do Benim que saíram, no final do século XVII e primeiras décadas do século XVIII, os maiores efetivos de mão-de-obra cativa desta zona. À procura da contabilidade deste tráfico, estima-se que a África perdeu entre 1500 e 1866, só através do tráfico transatlântico, mais de 12 500 000 dos seus filhos, a imensa maioria dos quais embarcados em direção ao continente americano.

A Igreja legitimou este comércio, basta pensar nas Bulas Dum Diversas (1452) dirigida pelo Papa Nicolau V ao rei D. Afonso V e Romanus Pontifex (1455) que volta a afirmar o poder que cabe a Portugal em invadir, conquistar atacar e subjugar os sarracenos e pagãos. É da maior importância o levantamento que o historiador faz sobre a fundamentação religiosa da escravidão, ao longo de séculos.

O autor lembra-nos aquela manhã de um dia dos princípios de Agosto de 1444 em que desembarcaram em Lagos os primeiros escravos, conhecemos ao pormenor graças a Gomes Eanes de Zurara, cronista da corte de D. Afonso V. Eram escravos desembarcados, tinham sido capturados a Sul do Cabo Branco, uma frota de seis caravelas em que participaram pilotos experientes como Gil Eanes. Nesse mesmo ano, uma caravela comandada por Dinis Dias apercebeu-se que a orla quase contínua de deserto dava lugar a manchas de bosque e floresta, chegara-se à Terra dos Negros, a que se chamou Cabo Verde (não confundir com o arquipélago do mesmo nome, que é fronteiro). Iniciou-se um período de exploração litoral entre este Cabo Verde e a Serra Leoa, os navegadores seguiram o curso dos rios, nomeadamente o Senegal, o Gâmbia e o Geba. É um período de comércio livre negreiro, escolhe-se o arquipélago de Cabo Verde como o entreposto estratégico da navegação atlântica neste tráfico de escravos entre a costa africana (a Costa da Guiné) e os mercados europeus da Península Ibérica. Cedo se descobriram chefes dispostos a ceder mão-de-obra e a requerer as mercadorias necessárias: metais, ferramentas, tecidos, quinquilharia, armas de fogo e cavalos. Um cavalo chegou a ser trocado por 25 a 30 escravos, mas será um rácio que irá continuamente descer. Os mercadores iam da ilha de Santiago, frequentavam a foz do rio Senegal, desciam até aos rios Gâmbia, Casamansa, S. Domingos e Geba, também ao arquipélago dos Bijagós e ao rio Grande de Buba.

A seguir, no plano dos Descobrimentos, entrou-se no Golfo da Guiné, será nesta região que o tráfico de escravos irá ganhar uma enorme projeção, basta pensar em Angola.

No próximo texto, voltaremos à Guiné para falar de um comerciante, Manuel Batista Peres, um cristão-novo que procurou na América Espanhol fortuna e tolerância, e igualmente se fará referência aos sócios do Marquês de Pombal graças à Companhia do Grão-Pará e Maranhão. 

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12264: Notas de leitura (532): "Crónicas, Lendas e Usos Costumeiros da Guiné-Bissau", por Fernando Antunes (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12275: Efemérides (146): Foi há 38 anos que Angola se tornou independente... Meio século depois do início da guerra do ultramar, continuamos divididos quanto à explicação da sua razão, sentido e duração (António Rosinha)


1. Mensagem de António Rosinha [, fur mil em Angola, 1961, foto à esquerda; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou, como ele gosta de dizer, colon, em Angola,  de 1959 a 1974; cooperante na Guiné-Bissau, de 1979 a 1993]:

Data: 10 de Novembro de 2013 às 00:55

Assunto: Mais do que as tribos africanas, nós, "tugas, estávamos e continuamos divididos quanto ao objectivo da guerra do ultramar

Foi muito mau para Portugal ter que fazer esta guerra que aqui mantemos viva na nossa memória. Mas pior ainda terá sido para os povos africanos porque, para eles, a seguir à guerra não veio a paz imediatamente.

Analisando, como nós fazemos aqui constantemente, o que se passou há tantos anos, ainda em Portugal a maioria está dividida quanto às razões e motivações daquela guerra.

Uns dizem que Portugal (Salazar) devia ter preparado a independência ou ter negociado com os movimentos.

E para a maioria ainda hoje pensam e dizem que "aquilo" não era nosso, tínhamos é que nem ter lá ido, ou seja,  "aquilo" nunca lhes disse nada.

Lutar por patriotismo seria a posição de uma minoria, e pouca gente terá na memória qualquer tipo de discurso de Generais ou Coronéis a puxar pelo sentimento pátrio.

Uma maioria relativa era contra a guerra simplesmente por ser contra o Salazar e dizia que a guerra era para defender os interesses dos ricos.

Ou seja, para a maioria do povo português, nada no Ultramar justificava o sacrifício daquela guerra, uns por política, outros por total desconhecimento e desinteresse.

Alguns,  com mais experiência e conhecimento de África, como sejam aqueles que depois foram os  chamados retornados, também tinham ideias muito dispares.

Para muitos, Salazar não deixava explorar à vontade as riquezas naturais, e fazia-se referência quase obrigatória à exploração do ouro da África do Sul, como se fosse um bom exemplo de exploração. E muitos destes chegavam mesmo a pensar que apenas interessava defendermos Angola e o resto, principalmente a Guiné, devia ser entregue aos movimentos independentistas.

E havia, entre retornados mais antigos, quem simplesmente pensava numa independência para todos e que no caso de Angola pensava que seria fácil e natural, pensamento idêntico ao de alguns, dirigentes brancos e mestiços dos movimentos.

Os retornados mais modernos,  pouquíssimo politizados em maioria (como eu e velhos régulos e sobas), pensavam calmamente que, enquanto a tropa e os turras se "entretinham" mutuamente, e enquanto os brancos da Rodésia e África do Sul se aguentassem, estava tudo sobre controle.

Todavia, se com 20 anos havia uma opinião na cabeça de cada um de nós, com influências de quem governava, mas também de quem era "contra" quem nos governava, (dizia-se que tinha sido mais votado Delgado do que Tomáz, 3 anos apenas antes da guerra), porque é que não está ainda explicada a tão longa duração da Guerra do Ultramar pela nossa parte, esta desorganização de país organizado?

Não esquecer que Salazar, para muitos a causa da guerra, caíu da cadeira quase a meio da guerra de 13 anos... Porque  é que [a morte política de Salazar] não parou imediatamente a guerra?

Vai ser difícil e levará muitos anos a escrever a história definitiva e em que haja o mínimo de consenso entre uma maioria de portugueses, sobre a lógica ou falta dela para Portugal insistir em negar aquelas independências, quando França, Inglaterra e Bélgica e Espanha, já tinham concordado com as mesmas.

É que tudo corre tão estranhamente com África e que se reflecte tão directamente com os países do sul europeu, com barcos e aviões de socorro a náufragos ao largo das Canárias e Cabo Verde e de Lampedusa, que nada ajuda a compreender e justificar a colonização e respectiva descolonização que se processou há 50 anos para cá. 

E uma das provas de que facilmente nos deixamos dividir quanto a África, foi a facilidade com que, recentemente, fomos enrolados, desde jornalistas, políticos, empresários, etc., por dois ou três angolanos.

Vai demorar muitos anos a contar uma história consensual, mas aqui  [, no blogue,] devemos continuar divididos, embora respeitando as ideias de cada um, pois até nem somos políticos.

Cumprimentos
António Rosinha
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Nota do editor:

domingo, 10 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12274: Fragmentos de Memórias (Veríssimo Ferreira) (1): Chegada a Bissau e deslocação para o Óio

1. Em mensagem do dia 8 de Novembro de 2013, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos o primeiro episódio da sua nova série Fragmentos de Memórias:


FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS

1 - Chegada a Bissau e deslocação para o Óio

24 de Agosto de 1965

Chegado a Bissau, levado pelo Niassa, despejaram-me na Amura.
A viagem foi pior que má, fui sempre deitado, enjoado e só m'alevantava nas horas das refeições, qu'eram cinco diárias. Gostei particularmente dos almoços e jantares, porque aí davam "buída tinta", para o mal estar... e "pescada au meuniére".

Abandonado em terra... amanha-te... e isso fiz embora antes e da Metrópole tenham partido de avião, os oficiais, milicianos e tudo, bem como os sargentos do Quadro (Secção de Quartéis lhes chamaram) com a incumbência também de me prepararem a recepção e instalações tão condignas qb, próprias de quem como eu, se julgou com direito a pelo menos uma cama para dormir, à semelhança de todos os outros que a tal privilégio tiveram acesso.

Depois... um ou outro pelotão lá ia sendo destacado para aqui e para ali e o meu (o 1.º) foi-se passeando e com a prestimosa ajuda dos guias turísticos (CART "ÁGUIAS NEGRAS") por Mansabá, Bissorã, Manhau, Pelundo (apenas a minha Secção), Jolmete e por fim reunimo-nos de novo (a CCAÇ 1422) em data que não posso precisar, mas julgo que nos finais de 1965.

Mas em Bissau e porque ali permaneci oito dias, acabei por e em companhia doutro amigo furriel miliciano acabei por, repito, conhecer a cidade e todas as malandrices que escondia. Nada me parecia ser perigoso e inquiria-me mesmo se haveria guerra, apesar do tiroteio que lá longe se ouvia.

No aeroporto vi os T6, que partiam com bombas agarradas e chegavam sem elas... vi a chegada dos aviões a hélice com o regresso de férias dos militares, conheci um ou outro civil residente, notei que mulheres brancas Portuguesas haviam poucas e miradas como se duma espécie rara fossem.

Impressionava-me ter de dormir com mosquiteiro, inútil que a bicharada entrava mesmo, embora em mim picassem só que morriam de seguida ao absorverem o meu venenoso sangue azul de "Marquês da Pedreira", que fora e que um dia conto como lá cheguei, à nobreza entenda-se.

Pedreira, no rio Sôr, aonde ia pescar barbos de meio quilo... e menos.

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Setembro de 1965

Dizia-se que o baptismo de fogo era sempre e também, uma das situações que nos tornaria finalmente combatentes a sério.

Comigo aconteceu logo no início de Setembro de 1965, quando convidado, que fui, para ir tomar conta dos pertences militares usados por uma Companhia, que iria regressar a casa.

Foi ali um pouco antes de Mansabá, junto a umas ruínas ainda fumegantes do que tinha sido uma serração, que nos receberam com uma fogaracha de todo o tamanho. Tinham antes destruído também a ponte que atravessava um riacho não muito caudaloso, mas que nos obrigou depois a colocar cibes e tábuas, para que a coluna de veículos pudesse atravessar.

Localização da Serração. Vd. carta de Farim 1:50.000

Um dos vários pontões existentes ao longo da estrada Cutia-Mansabá.
Foto © José Barros (2011). Direitos reservados

Tudo ajudado por aqueles valentes que nos vieram socorrer em menos tempo do que leva a contar e após terem ouvido os primeiros tiros com que nos emboscaram.

Nada de grave aconteceu... do cagaço não nos livrámos, mas medo que logo passou quando começámos a corrê-los à pedrada. Daí que eles (os turras) se tenham escafedido com o rabinho entre as pernas e de tal forma que nesse dia, nunca mais os vimos. E foi assim que fui baptizado e tal como quando mo fizeram na igreja, nunca vim a conhecer quem foram os padrinhos. Chegados ao aquartelamento fomos recebidos que nem heróis, pelos restantes que ali haviam ficado contrariados e diziam estes "velhinhos" últimos de farda amarela (e eles sim com feitos dignos de registo), que nos houvéramos portado muito bem. Sem que eu imaginasse, apareceu-me um camarada d'armas, amigo já antes e lá da minha terra, o "Manel de Mora" e nem sei se vos diga se vos conte, a tamanha alegria com que nos abraçámos. Depois vieram as suas recomendações, os avisos, as indicações úteis sobre o IN e os locais onde mais costumavam actuar, tudo isto enquanto jantávamos que até nisso, nos recepcionaram melhor que bem.

No dia seguinte dei início à tarefa de que fora incumbido e lá vieram as contagens de viaturas, a observação dos edifícios, a comida que ficava e também a bebida claro, mas o que me deu mais gozo ver em pormenor, foram os dois obuses enormes com grandes rodas e que ao que me foi dito estavam apontados para Morés, onde já tinham feito enormes estragos nos poilões que circundavam aquela base, pois que, ao que se sabia, as bojardas eram de muito difícil penetração onde se pretendia que fossem.

Era fácil mudá-los para outras posições e na verdade recordo que depois um dia até nos ajudaram no K3, quando as bestas quadradas nos visitaram com alguma pretensa agressividade. Quis saber se na verdade trabalhavam e prometeram-me mostrar que sim.
A demonstração chegou logo quase de imediato, quando nesse mesmo dia atacaram a própria Mansabá.
Repelidos foram e a seguir fomos desopilar para o bar e... que bem aprovisionado estava !!!

Ele havia de tudo desde Vat 69, vinhos tintos e brancos, águas Perrier e Tónica, Gin's.... enfim uma parafernália capaz de engrossar a sério e até aliviar aquelas tantas gargantas secas. E foi nessa noite que comecei a tomar aquele especial remédio feito à base de lúpulo, cevada, milho e centeio.

Comecei e hoje passados 48 anos ainda não acabei.

Ao fim de 3 ou 4 dias e já com os bens mudados para o nome dos novos donos e tivéssemos tomado também posse das suites e instalações militares, veio a ordem de que afinal não íríamos ficar por ali, mas sim trocar com a CCAÇ 1421, que tanto estava empenhada em construir e de raiz, um hotel subterrâneo de cinco ou mais estrelas, em Saliquinhedim.

Para lá fomos passados que foram mais dois ou três meses, se me não engano que esse tempo é dos que não me veio ainda há memória.

Tal como me acontecera com o remédio de que atrás falo, sim aquele de grãos de cereais, foi também aqui na zona, mais propriamente em Manhau, que conheci aquele coisa horrível que se chama ódio. Os motivos para o passar a trazer comigo, foram óbvios e ainda hoje quando leio os que lançam lérias elogiosas ao terrorista Amílcar, fico pi-urso e decerto que não se lembram que ele foi o causador de tantas desgraças que aconteceram.

É que combater frente a frente e dando tiros de cá para lá... ainda vá que não vá, mas mandar implantar minas no terreno que ele sabia ir ser pisado porque quem para a Guiné tinha ido, não para atacar, mas mais para defender... era selvajaria... e foi dramático.

Julgo que (aqueles que leio, repito... aqueles que lançam lérias etc, etc.) não pensariam da mesma forma se tivessem estado presentes quando os infortúnios aconteceram... se tivessem que andar a limpar sangue... a juntar pedaços.

MAS CADA UM É COMO CADA QUAL

E mai'nada.

(continuará)

Guiné 63/74 - P12273: Memória dos lugares (251): Bafatá, fotos do álbum do 1º cabo bate chapas Otacílio Luz Henriques, Pelotão de Manutenção, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)

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Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 326 > 3 militares numa carrinha de caixa aberta, típica da época (, pela marca e pelo desing parece ser uma Toyota Sout, japonesa, dos anos 60)... Não sei se era de um algum civil, ou se estava ao serviço das NT. Ampliando a foto, o condutor não me parece um militar, mas sim um funcionário da administração... se não mesmo o próprio administrador, o Guerra Ribeiro, não ?


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 351 > Uma das entradas e saídas de Bafatá, com a avenida principal,   tendo ao fundo o Rio Geba e à direita a catedral.


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) >Foto nº 361 >  Rua conhecida como a rua da  sede de batalhão (à direita, porta de armas); à esquerda, se não me engano, o restaurante das Libanesas... que não ficava na avenida principal, como já aqui se tem lido...

[Legenda do Fernando Gouveia. Quanto às fotos nº 361, está ao contrário: a casa das libanesas era do lado direito de quem desce a rua]


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 328 > Rio Geba, porto fluvial de Bafatá. Esta foto parece estar invertida. O porto fluvial ficava na margem direita do rio, à esquerda do parque e da piscina... Terá sido tirada do cais acostável junto ao parque... Vd. fotos aéreas do Humberto Reis.


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 331 > Mercado de Bafatá: sempre animado e colorido.



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 364 > Mercado de Bafatá.




Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 330 > Campo de futebol (creio que era do Sporting Clube de Bafatá; em frente, na parede ao fundo, publicidade à Casa Gouveia)


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) >Foto nº 378 > Aeródromo de Bafatá: chegada de um Dakota.



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) >Foto nº 332 > Aeródromo de Bafatá: chegada de um Dakota; desembarque de homens e material.



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) >  Foto nº 329 > Aeródromo de Bafatá: chegada de um Dakota. Personalidades militares não identificadas.

[O Fernando Gouveia mandou-nos a seguinte legenda: Na foto nº 329, da esquerda para a direita reconheço o Ten Cor. Teixeira da Silva do Comando de Agrupamento, um desconhecido e a seguir o Administrador de Bafatá].



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 362 > Aeródromo de Bafatá: Chegada ou partida de um heli




Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Foto nº 377 > Instalações do Esquadrão de Cavalaria.



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Álbum do 1º cabo bate chapa Otacílio Luz Henriques, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) >Foto nº 493 > Vista aérea da então vila (ou já cidade) de Bafatá. Ao canto inferior direito, aparece a igreja  e o edifício da administração... mas parece-me que a imagem está invertida (trata-se de um "diapositivo" digitalizado): a igreja devia estar à direita de quem desce em relação ao rio...

[Legenda do Fernando Gouveia: Quanto à foto nº 493 está ao contrário:  a igreja (catedral será demais) fica do lado direito da avenida, do lado de quem desce.]

 Fotos do álbum do 1º cabo bate chapas Otacílio Luz Henriques, do Pelotão de Manutenção  (que era comandado pelo alf mil Ismael Augusto), CCS/ BCAÇ 2852 (Bambadinca, 19587/0).

Pede-se aos camaradas desse tempo para as conferir as legendas, comparando-as com as fotos do Fernando Gouveia, que foi Alf Mil Rec Inf, Comando de Agrupamento nº 2957, Bafatá, 1968/70, e que é seguramente o melhor cicerone de Bafatá desse tempo...  Ver também as belíssimas fotos aéras tiradas pelo Humberto Reis da nossa doce e tranquila Bafatá, princesa do Geba. E, já agora, revisitar também os postes da I Série, do Manuel Mata, ex-1º cabo apontador de Carros de Combate M 47, que pertenceu ao Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71).

Vou, entretanto, propor a entrada para a Tabanca Grande do nosso amigo e camarada Otacílio... Preciso apenas de o contactar. Ele já deu um importante contributo para o nosso blogue, e para o enriquecimento das nossas memórias... Já não o vejo há um anos, desde o encontro do pessoal de Bambadinca (1968/70), em Coimbra.  Tenho o seu contacto telefónico. (LG).


Fotos: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.).


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Vista aérea de Bafatá ao tempo do Fernando Gouveia: a linha vermelho assinala a "avenida pincipal", que descia desde o hospital até ao parque, ao rio e ao mercado; a amarelo assinala-se o quarteirão ocupado pelo batalhão sedidado em Bafatá... Esta é a malha urbana da Bafatá colonial... O esquadrão de cavalaraia (bem como o comando de agrupamento) ficava na periferia, no bairro (ou tabanca) da Rocha... O Fernando, que é aqruiteto, é que um dia nos pode fazer o mapa e o roteiro da cidade, para acabar com as nossas memórias confusas... Ninguém conheceu (e amou) a cidade como ele...(LG)



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Vista aérea de Bafatá ao tempo do Fernando Gouveia: a linha vermelho assinala a "avenida pincipal", que descia desde a rotunda até ao Rio Geba, ao mercado e ao parque, passando pela catedral (, visível na foto, à direita, sendo as duas torres ainda percetíveis)... Do lado direito, o depósito de água que abastecia a cidade; do lado esquerdo, em primeiro plano, parte da Tabanca da Rocha (onde se situava a mesquita). Ao fundo, no canto superior esquerdo, vê-se uma nesga do Rio Geba. Nas imediações da rotunda, situava-se o café do sr. Teófilo, a coluna de Bambadinca parava para beber o "último copo", antes de regressar á estrada (alcatroada) Bafatá-Bambadinca...


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Vista aérea de Bafatá ao tempo do Fernando Gouveia: a linha vermelho assinala a "avenida pincipal", que descia desde a rotunda (visível na foto) até ao Rio Geba... Ao fundo, assinaladas a amarelos as instalaçõees do Comando de Agrupamento e do Esquadrão de Cavalaria.


Fotos: © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.).

Guiné 63/74 - P12272: Parabéns a você (649): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2790 (Guiné, 1970/72) e Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp da CART 3494 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12268: Parabéns a você (648): António da Costa Maria, ex-Fur Mil Cav do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71) e Ernesto Ribeiro, ex-1.º Cabo At Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69)