sexta-feira, 26 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11477: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (1): Ofensiva do PAIGC na ZA de Gadamael até 22MAI73 (Manuel Vaz)

1. Começamos hoje a publicar mais um trabalho de pesquisa, que sabemos vai merecer a melhor atenção da tertúlia, principalmente de quem passou por Gadamael em 1973, elaborado pelo nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67). 

Diz o nosso camarada na sua mensagem de apresentação:
Este trabalho que vai ser publicado em 6 Postes, correspondentes a outros tantos subtítulos, foi concebido como "peça única". Posteriormente foi seccionado e ilustrado, sem perder as caraterísticas iniciais.
Para facilitar uma visão global do que se passou em Gadamael, era bom que se fizesse uma leitura sequencial dos subtítulos.
Um abraço.
Manuel Vaz  

Não podemos deixar de lembrar o seu anterior trabalho aqui publicado, integrado na série Memórias da CCAÇ 798



UMA VISÃO ALARGADA DO ATAQUE A GADAMAEL

DOS ANTECEDENTES ÀS CONSEQUÊNCIAS

1- OFENSIVA DO PAIGC NA ZA DE GADAMAEL ATÉ 23MAI73

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Guiné 63/74 - P11476: Notas de leitura (475): Guiné-Bissau - De Colónia a Independente, por José Gregório Gouveia, e O Trabalho de uma Vida - Avelino Teixeira da Mota, por Carlos Manuel Valentim (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Dezembro de 2012:

Queridos amigos,
Mais uma prova de que anda por aí muita documentação dispersa sobre a Guiné que merece a nossa atenção. Desta feita, temos o testemunho de José Gregório Gouveia que foi furriel enfermeiro da CART 1525 e que resolveu dedicar ao povo da Guiné um punhado de considerações sobre a história da presença portuguesa até aos eventos mais recentes, intercalando apontamentos sobre as atividades da CART 1525 que deixou saudades à população de Bissorã.
Ficarei muito grato a quem me facilitar a leitura de documentos como este, que encontrei na Biblioteca da Liga dos Combatentes, todos estes esforços tão meritórios devem merecer-nos respeito.
E junto a referência do importante inventário biobibliográfico de Avelino Teixeira da Mota.

Um abraço do
Mário


Província da Guiné e Guiné-Bissau:
Um longo olhar de um antigo combatente

Beja Santos

José Gregório Gouveia prestou serviço militar na Guiné integrado na CART 1525, nos anos de 1966 e 1967, onde foi furriel enfermeiro. É hoje advogado na Madeira. Procedeu a um estudo sobre a Guiné, desde colónia a país independente. O seu trabalho de pesquisa compreende três partes: enquadramento histórico da presença portuguesa; síntese das atividades da CART 1525 e resumo da vida da República da Guiné-Bissau.

Trata-se de uma edição não comercial que encontrei na Biblioteca da Liga dos Combatentes com a cota 13513. É indiscutivelmente uma iniciativa generosa, um olhar de quem combateu durante 21 meses, sobretudo na região de Bissorã e que entende legar apontamentos a camaradas interessados, é um labor cuidado, despretensioso, pautado pela afabilidade e o amor à Guiné e às sua gentes.

A primeira parte compreende um escorço histórico dos descobrimentos, abarca o território, a população, as atividades económicas, a presença portuguesa com realce a partir do século XIX, a emergência dos movimentos de emancipação e de independência, intercalando a luta armada vista do lado português e do lado e dos guerrilheiros. Como nota de curiosidade, registo que José Gregório Gouveia recorda o significado de dois artigos publicados no jornal “Ponto”, nas suas edições de 4 e 18 de Dezembro de 1980, assinado por Fernando Baginha, que em 1972 e 1973 foi professor e diretor da Escola-Piloto do PAIGC, em Conacri; e foi também o autor e responsável por programas de propaganda dirigidos aos militares portugueses, através das emissões da Rádio Libertação do PAIGC. O tema destes dois artigos prende-se ao assassinato de Amílcar Cabral. Vejamos qual a visão de Baginha quanto ao assassinato do líder do PAIGC:
“A esquerda portuguesa adotou, para seu descanso, até ao 25 de Abril e depois, o esquema geral de “É mau? Foi a PIDE”. Isto permitia explicar tudo o que não se sabia explicar. Assim, e neste caso, Amílcar tinha sido morto e só havia uma explicação: foi a PIDE. Este foi, aliás, o sentido do primeiro programa da Rádio Libertação do PAIGC, por mim escrito e lido depois do assassinato. E eu, quando escrevi e li já não acreditava nisso. Sabia tão bem como todos os que estávamos nessa situação, que a PIDE não tinha, diretamente, nada a ver com o assassinato. Penso, com isto, não estar a promover a PIDE, para pelo contrário, estar a retirar-lhe méritos que a esquerda lhe atribuía, acusando-a permanentemente de poderes conspirativos que na realidade não possuía”.

Creio ser útil regressar mais tarde à detalhada argumentação de Baginha, reveladora dos complexos conflitos que existiam no seio do PAIGC e que foram comodamente silenciados aquando da morte de Cabral.

O autor condensa as atividades da luta de contraguerrilha e depois traça um apanhado da vida da CART 1525 que partiu para a Guiné em 12 de Janeiro de 1966, tinham como nome de guerra “Os Falcões”, em Fevereiro, foram colocados em Mansoa e a seguir marcharam para Bissorã, que assim descreve: “Uma casa, coberta de telha, para os oficiais com messe própria; duas casas, cobertas de zinco, para os furriéis e sargentos. Com um frigorifico que funcionava a petróleo – a central termoelétrica não funcionava 24 horas por dia, apenas à noite e pouco mais. O local das refeições funcionava na casa da D. Maria (um casal cabo-verdiano que se distinguia por saber assar leitão). Dois armazéns, tipo colonial, cobertos de telha, serviam de caserna aos soldados. Para servir o rancho geral foi necessário a Companhia construir instalações com toros de madeira e cobertas de capim”. Descreve o centro de saúde, o parque de viaturas e conta a história do jipe do ronco, um jipe aparentemente a abater à carga mas que estava destinado à glória: “Veio um chassis usado, foi trabalhado um tabliê em madeira onde foram colocados todos os instrumentos de bordo, volante à maneira de competição, jantes pintadas, bandas brancas nos pneus, faróis de marcha-atrás, tapetes interiores de palhinha de capim”. O jipe do ronco foi perseguido pela Polícia Militar em Bissau, era tão insólito que toda a gente parava para ouvir. Segue-se uma apresentação da região de Mansoa e a enunciação das principais atividades operacionais da companhia. Depois de um ano em Bissorã, erigiu-se um monumento simbólico, ao que parece ainda está de pé, conseguiu resistir à deterioração do tempo. A CART 1525 distinguiu-se por um admirável conjunto de relações sociais entretecidas com a população local: escolas, criação de um talho, melhoramento dos espaços desportivos, etc.

Com o 25 de Abril, e após a independência da Guiné-Bissau, o autor desfia os dados mais significativos da cooperação portuguesa. Refere o fuzilamento de militares e milícias guineenses que tinham combatido à sombra da bananeira portuguesa, e sumaria os principais acontecimentos da vida político-constitucional da Guiné-Bissau, atos eleitorais, golpes de Estado, assassinato de políticos e militares. No final, relembra o leitor que pretendeu apenas chegar ao povo guineense a quem este trabalho é sinceramente dedicado.

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O trabalho de uma vida: Dados biográficos elementares e resumo da obra monumental do almirante Teixeira da Mota

“O trabalho de uma vida: Biobibliografia de Avelino Teixeira da Mota”, por Carlos Manuel Valentim, Edições Culturais da Marinha, 2007 é um documento que permite conhecer melhor o perfil de um historiador que dedicou alguns dos seus melhores trabalhos à Guiné.

Trata-se de uma biografia elementar, sólida e rigorosamente coligida por um estudioso que preparara o seu doutoramento à volta da historiografia de Teixeira da Mota cuja obra incontornável gira à volta de dois eixos fundamentais: estudos sobre a história de África e a cartografia dos descobrimentos.

Carlos Valentim evidencia o papel de Teixeira da Mota na revolução da historiografia portuguesa e como ele revolucionou a visão global da história das navegações portuguesas. Recorde-se que Teixeira da Mota chegou à Guiné como colaborador direto do governador Sarmento Rodrigues e de seguida viveu 12 anos na Costa Ocidental de África. Atirou-se a fundo ao estudo da descoberta da Guiné, o que deu aso a uma importante polémica com Vitorino Magalhães Godinho. A sua investigação sobre a arte de navegar no Mediterrâneo foi um contributo decisivo para clarificar a navegação gastronómica em Portugal, até então pensava-se que a navegação gastronómica começara no Atlântico. Outro trabalho fundamental foi o seu estudo sobre a viagem de Bartolomeu Dias e as ideias geopolíticas de D. João II. Por fim, contribuiu para clarificar que a Escola de Sagres não passava de uma lenda, devia ser revertida para símbolo dos descobrimentos henriquinos, conceito que veio agitar a historiografia conservadora.
Encontra-se neste meritoso trabalho o levantamento do que mais importante foi assinado por Teixeira da Mota, investigador revolucionário e pai da historiografia do que é hoje a Guiné-Bissau.
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Nota do editor:

Último poste da série de 22 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11444: Notas de leitura (474): Um Império de Papel, por Leonor Pires Martins (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11475: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (67): Hoje há festa no "sempre em festa" (Ritz Clube, R da Glória, 57, Lisboa), a partir das 23h, com Mamadu Baio / Super Camarinda, de Tabatô...



IndieLisboa'13 > Culturgest > 24 de abril de 2013 > Estreia (nacional) do filme "A batalha de Tabatô", do realizador português João Viana, produção Guiné-Bissau / Portugal, 2013. Mamadu Baio, múisico de Tabatô, e um dos três atores principais, fala da sua alegria por este filme sobre a sua terra e a sua gente e convida-nos para o "after-partty" no Ritz Clube, hoje, sexta-feira à noite.



IndieLisboa'13 > Culturgest > 24 de abril de 2013 > O Jorge Cabral, o Mamadu Baio e a Alice Carneiro, antes do início da projeção do filme.

Vídeo ('36'')  e foto: Luís Graça (2013).

1. Estreou-se. noa 4ª feira, 24, na Culturgest, no ambito do IndiLisboa'13, o filme "A batalha de Tabatô", realizado por João Viana, numa coprodução lusoguineense, e que tem no Mamadu Baio, líder do grupo musical Super Camarimba, um dos 3 atores principais,,,

O filme foi todo rodado na Guiné-Bissau, em Bissau, em Bolama, Bafatá e Tabatô, a cada vez mais célebre tabanca de didjius (contadores de histórias), e escola de grandes músicos  (cantores, tocadores de balafon, kora e  djambé).




O filme não se centra na guerra colonial: não houve nenhuma batalha de Tababô,  o título é uma metáfora, sugestão do escritor Pedro Rosa Mendes. A guerra está presente, e de que maneira, sob a forma de fantasmas  por exorcizar: o pai da noiva, antigo combatente, aliado das tropas portuguesas (interpretado por Imutar Djebaté) , e que vem, do estrangeiro, ao casamento da filha (Fatu Djebaté), mas ainda com contas por ajustar com o seu passado... O noivo, músico de Tabatô,  é interpretado, magnificamente, pelo nosso amigo Mamadu Baio, jovem e talentoso cantor e músico. Toda a aldeia (hoje com cerca de 300 pessoas, a 12 quilómetros, a nordeste de Bafatá) entra no filme... que é preto e branco (com o vermelho para as cenas de "flash back", associadas às memórias de guerra).

O filme, que vai entrar no circuito comercial, passa de novo no Indie Lisboa'13, às 19h15,  no Cinema City Classic Alvalade, Sala 3.



Mamadu Baio, foto da sua página pessoal no Facebook... Esteve em 26/12/2012 no B.Leza. É o fundador e líder dos Super Camarimba.  O João Graça conheceu-o em dezembro de 2009 em Bissau e a  sua gente em Tabatô.



Entretanto, fica aqui também um convite e um desafio à malta da Tabanca Grande: hoje há festa no "sempre em festa", como a gente chamava ao Ritz Clube no nosso tempo de meninos e moços...

A Batalha de Tabatô After-Party > Ritz Clube, Rua da Glória, 57, 1250-115 Lisboa
Telef . 212 417 604 (metro: Restauradores).

Super Camarimba + convidados [Concerto], 5€


[Fonte: Programa do IndieLisboa'13: "Depois da exibição do filme A Batalha de Tabatô de João Viana, na Competição Internacional de Longas-Metragens, a noite continua com ritmos quentes de África. Os Super Camarimba trazem as koras e os balafons. Uma festa com os sons de Tabatô, a mítica aldeia de músicos no centro da Guiné-Bissau"].

Eu vou lá estar, às 23h00, a Alice também. O João Graça, infelizmente, está fora de Lisboa. E o "nosso alfero Cabral" (que está a escrever um romance!, confidenciou-me ele) prometeu aparecer. Claro que lhe pago um copo!... 

Espero que mais camaradas e amigos da Guiné se juntem à festa. Afinal, estamos também a comemorar a nossa 5ª comissão da Guiné (9 anos a blogar!)...

A entrada são "cinco morteiradas"... Vão gostar de conhecer o Mamadu Baio /Super Camarimba, um dos próximos novos membros da Tabanca Grande, mais os seus convidados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11457: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (66): Cap Cmd Maurício Saraiva, aqui evocado pela sua sobrinha Luciana Saraiva Guerra (Florianópolis, Santa Catarina, Brasil) e pelo nosso coeditor Virgínio Briote

Guiné 63/74 - P11474: Recortes de imprensa (65): O filme lusoguineense "A batalha de Tabatô", de João Viana, veio pôr Tabató e a cultura da Guiné-Bissau no mapa das rotas do cinema internacional (Luís Graça)



1. Excerto de peça da Agência Lusa, da autoria de Paula Mourato, publicada no DN - Diário de Notícias, 23 de abril de 2013. Com a devida vénia, reproduzimos aqui a notícia:

O realizador João Viana filmou uma aldeia na Guiné-Bissau e agora espera que "A Batalha de Tabatô", em exibição no festival IndieLisboa, "limpe o olhar" dos espetadores e desencadeie um processo de "descolonização mental". Veja o vídeo.

Após ter sido distinguida com menção honrosa no Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro, a longa-metragem "A Batalha de Tabatô" chega ao público português na quarta-feira, integrada na competição do festival de cinema IndieLisboa. (*)

O que João Viana encontrou em Tabatô, nome da tabanca (aldeia) de músicos mandingas da Guiné-Bissau para onde foi filmar, resultou numa curta e numa longa-metragem, ambas exibidas em Berlim.

A longa-metragem, que vai ser exibida no IndieLisboa, tem estreia marcada nas salas nacionais para "início de junho", adiantou à Lusa o cineasta luso-angolano.

Os habitantes de Tabatô vão ter oportunidade de se verem no grande ecrã, porque João Viana está a planear viajar com o filme pela Guiné-Bissau, durante o mês de julho. "É terrível estar cá, estou morto por ir para lá outra vez", confessa.

França, Bélgica e Alemanha serão outras das paragens do filme, mas João Viana faz questão de não iludir a realidade.

"Não é possível o que está a acontecer à cultura. São marcas gravíssimas que só se vão ver para o ano", alerta, recusando que o cinema até esteja a correr bem, "apesar da crise".

"Pensa o poder que os criadores arranjam sempre alternativas", critica, recordando que "mais de 300 pessoas" surgem no genérico de "A Batalha de Tabatô", porque o cinema é "uma arte coletiva" e "não é possível fazer um filme sozinho".

O cineasta nunca tinha estado antes na Guiné-Bissau, mas resolveu ir conhecer a aldeia que gira em torno da música. A princípio, o sítio não o surpreendeu, "as tabancas pareciam todas iguais" e "não via a riqueza" da floresta, recorda, confessando que foi "preciso peneirar a realidade" e "limpar o olhar ocidental".

Em Tabatô, deparou-se com olhares "sujos", de parte a parte. "Foi muito bom ver o olhar perante mim, enquanto branco, mudar. Da mesma maneira que nós temos um olhar viciado para com eles - olhamos sempre de cima do cavalo, (...) estamos com o olhar sujo (...) -, eles também nos olham de baixo para cima", compara.

Este processo de "nivelamento" de olhares "demorou alguns anos", mas funcionou. O seu está limpo e os habitantes de Tabatô conseguiram passar a vê-lo como "um contador de histórias como eles", descreve.

João Viana espera agora que os espetadores saiam do filme "com o olhar limpo". "O que eu sonho é que este seja um filme de descolonização mental", resume.

Ainda a braços com projetos sobre Tabatô (dois documentários), o cineasta já recebeu um convite para filmar na ilha da Reunião. "O cinema está muito ligado ao chão" e, por isso, admite que o seu esteja "ligado a África".

"A Batalha de Tabatô" - falado em mandinga, uma das línguas étnicas da Guiné, na qual João Viana aprendeu apenas a dizer "abarca" (obrigado) - é exibido na quarta-feira, às 21:30, na Culturgest. (**)


2. O filme fez anteontem, 24,  a sua estreia nacional, no grande auditório da Culturgest, no âmbito do festival IndieLisboa'13 (*). A nossa Tabanca Grande teve um simpático  convite por parte da produtora. Estivemos presentes, pelo menos eu, a Alice e o Jorge Cabral. Entre outros convidados, esteve também o embaixador da Guiné-Bissau. Um público, jovem e numeroso, viu um filme difícil de catalogar, entre o documentário e a ficção, que nos convida à desconstrução do nosso "olhar etnocêntrico sobre o outro"...

João Viana, realizador português, de 46 anos ganhou, com esta filme, uma menção especial na categoria de Melhor Primeiro Filme (A Batalha de Tabatô é a sua primeira longa-metragem)., em fevereiro passado, no prestigiadíssimo Festival de Cinema de Berlim.  Entrevistado, em 18 de fevereiro passado, pela RTP Internacional, no programa "Repórter Africa (vd. minuto 15' 54''),  o realizador português, nascido em Angola, hoje com 46 anos, falou longamente do "making of"  deste filme e da grande e fascinante descoberta que foi para ele a Guiné, o seu povo, as suas etnias, a sua pasiagem,  a sua história, a sua cultura, o seu futuro. E obviamente das gentes de Tabatô, que ele tem no coração e  que,  com este filme,  ele veio pôr no mapa do cinema português e do cinema internacional...

Em declarações à Visão 'on line', em 290 de fevereiro de 2013, o realizador falou deste e de outros projetos na Guiné-Bissau

(...) "Há mais dois [filmes]. Um making of sobre a forma como a música entra no filme. O som é a coisa mais importante no cinema, como explica João César Monteiro. O filme tem uma grande componente sonora, que tem a ver com o trabalho do percussionista Pedro Carneiro, que trabalhou sobre a música Mandinga. O Paulo Carneiro, o meu assistente de realização, está a acabar um documentário sobre o naufrágio que a equipa sofreu durante a rodagem. Estavam 109 pessoas a bordo, incluindo crianças, perdemos o material de iluminação, morreram os animais mas, felizmente, não morreu nenhuma pessoa.

 (...) "A Guiné é um país culturalmente riquíssimo, com mais de 30 grupos étnicos, com os seus hábitos e costumes. Isto para um contador de histórias, como eu, é uma mina. Poderia fazer 300 filmes diferentes".


E respondendo à pergunta sobre se o filme está "na fronteira entre a ficção e o documentário", João Viana respondeu:


(...) "Sim. Porque a Guiné é uma terra de ficção. Fazendo-se um documentário sobre contadores de histórias, o resultado nunca é convencional. Numa simples conversa com um homem sábio vivemos vários tempos em simultâneo. É muito intenso em termos de ficção. Mas eu quis fazer um documentário, e foi para isso que ganhei um subsídio, e acho que, ao filmar assim, não enganei o Estado. Nós não ficámos em hotéis, antes em casas. Eles construíram-nos as paredes e nós os telhados. Com o filme foi exatamente o mesmo. O filme foi construído por eles, nós fizemos muito pouco" (...)

 O filme, falado em mandinga, interpretado por atores locais (entre eles o meu novo amigo, Mamadu Baio, líder da bamda musical Super Camarimba), começa com uma espécie de lembrete  e provocação:   


(...) Há 4500 anos, enquanto tu fazias a tua guerra, criámos a agricultura. 
Há 2000 anos, enquanto tu fazias a tua guerra, criámos a boa governação dos reinos.
Há 1000 anos,enquanto tu fazias a tua guerra, criámos as bases do reggae e do jazz.
Hoje, superando a tua guerra, construiremos contigo a tua paz. (...)


Os nomes de  Eduardo Costa Dias, consultor para a cultura dos mandingas (e membro da nossa Tabanca Grande, professor do ISCTE) ,  e de Luís Graça  e Carlos Matos Gomes, como consultores para as questões de história militar, aparecem no genérico do filme. No meu caso, por gentileza do realizador, que me lembrou, no batepapo depois do filme,  a importância que teve para ele a leitura do nosso blogue e uma conversa tida comigo há cerca de 5 anos atrás... (LG)

Guiné 63/74 - P11473: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (28): Respostas (54): Pepito / Carlos Schwarz, eng agr, cofundador e líder da AD - Acção para o Desenvolvimento: "Fazer a Guerra é fácil. (...) Construir a Paz e promover a Amizade é obra de espíritos superiores"

1. Resposta do nosso amigo Pepito ao "questionário aos leitores do blogue" (*)... Em seu nome pessoal mas também na sua qualidade de cofundador e líder da AD - Acção para o Desenvolvimento.

[Foto à esquerda: Em Guileje, 1 de março de 2008]

 Recorde-se que ele é eng agr de formação, licenciado pelo ISA - Instituto Superior de Agronomia, da Universidade Técnica de Lisboa. Nasceu na Guiné, e voltou para a Guiné-Bissau, em 1975. É casado com Isabel Levy Ribeiro. Os dois são membros da nossa Tabanca Grande, e todo os anos em agosto, nas férias de verão, abrem aos amigos as portas da Tabanca de São Martinho do Porto, filial da Tabanca Grande. Eles e a decana da Tabanca Grande, essa grande senhora chamada Clara Schwarz, hoje com 98 anos e uma lucidez invejável...

Luís:

Mais uma vez os nossos PARABÉNS. Pela qualidade, pela inovação, por juntar naturalmente pessoas de pensamento oposto, pela informação e pela persistência em não abandonar.

A AD sabe o que aprendeu com a sua pertença ao Blogue. O que beneficiou. Como alargou o seu núcleo de amigos. Uns organizados em associações, como a Tabanca Pequena e a Ajuda Amiga~, e muitos outros individualmente, como a Júlia Neto, esposa do falecido Capitão José Neto.

Fizemos, com o apoio da Tabanca Grande, o Simpósio de Guiledje, o Museu "Memória de Guiledje" e estamos a avançar para o pequeno Museu de Gadamael-Porto: Se não fosse a TG ainda estávamos nos "entretantos".

Fazer a Guerra é fácil. Basta convocar o ódio e esperar pela resposta do outro. Construir a Paz e promover a amizade é obra de espíritos superiores. Hoje estamos, de um e outro lado das barricadas de ontem, do mesmo lado do futuro.
Obrigado Tabanca Grande

pepito



2. Resposta nº 53

(1) Quando é que descobriste o blogue ? Mais de 5 anos (?).

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada): Informação de um camarada-

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? Mais de 5 anos (?) [Desde outubro ou novembro de 2005; e conhecemo-nos, eu e o Pepito, em Lisboa, Fevereiro de 2006]

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)? Semanalmente

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ? Muito de vez em quando.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ? Não

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ? Só Blogue

(8/9) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ? Blogue

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) Um pouco

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ? (ver texto que escrevi acima)

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ? Não

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ? Não

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ? Com um líder como o Luís...

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

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Nota do editor:

Últimop poste da série > 25 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11472: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (27): Respostas (52): José da Câmara, residente nos EUA; ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73)

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11472: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (27): Respostas (53): José da Câmara, residente nos EUA; ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73)

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 17 de Abril de 2013, com as suas respostas ao nosso questionário:


(1) Quando é que descobriste o blogue?
R - Descobri o blogue em 2009.

(2) Como ou através de quem?
R - Encontrei o Blogue através da NET.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (tertúlia)?
R - Sou membro desde 2009.

(4) Com que regularidade visitas o blogue?
R - Faço os possíveis para visitar diariamente o Blogue.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.?
R - Tenho mandado com alguma regularidade material para ser publicado. Comento pouco.

(6) Conheces também a nossa página do Facebook (Tabanca Grande Luís Graça)?
R - Julgo que sou amigo da Página do Facebook, mas não a conheço.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue?
R - Ver resposta #6.

(8) O que gostas mais no Blogue? E no Facebook?
R - Acima de tudo gosto dos artigos que relatam as nossas experiências no teatro da guerra. Os artigos sobre a presença História Portuguesa na Guiné também captivam a minha atenção. Não comento sobre a página no Facebook. Não uso esse meio para ler a página da Tabanca.

(9) O que gostas menos no Blogue? e no Facebook?
R - Estou no Blogue porque gosto de estar. Dito isso, preferia ver os nossos amigos e camaradas escreverem os seus artigos com os olhos e os sentimentos dos seus dias de combatentes. Perante a experiência da guerra que vivemos, quando se escreve com o sentimento de hoje perde-se objectividade da história de então. Nesse sentido é deveras confrangedor ler artigos apologéticos ao PAIGC e aos seus objectivos, em detrimento da nossa história e dos nossos camaradas de armas. Os antigos guerrilheiros do PAIGC também têm abertas as páginas deste blogue. Compete a eles e só a eles contar o seu lado da história. Outro ponto que me fere de sobremaneira é o constante maltratar dos Oficiais do QP que, na sua grande maioria, também foram combatentes como nós e são, acima de tudo, camaradas do mesmo Exército. As picardias, algumas delas pessoais, sempre de lamentar, que por vezes deflagram no Blogue podem sinalizar alguma imaturidade no confronto com o contraditório. Há que haver mais cuidado, até porque não nos podemos esquecer que a história também julgará o nosso carácter. Em face das minhas respostas anteriores, nada tenho a acrescentar sobre a página no Facebook.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue?
R - Não tenho problemas no acesso ao Blogue.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook?
R - Para mim, o Blogue representa um esvaziar de emoções que durante muitos anos estiveram recalcadas nas neblinas da memória. Aqui encontrei gente com quem posso falar a mesma linguagem, com quem criei boas e sólidas amizades.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais?
R - Nunca participei em nenhum encontro nacional da Tabanca. Um dia, quem sabe, quando o encontro for feito em Boston…

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real?
R - Não estarei presente neste encontro.

(14) E por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra… para continuar?
R - Claro que o Blogue tem pernas para andar. Certamente que um dia morrerá, todos nós morreremos.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer?
R - As regras do Blogue estão há muito estabelecidas. Por isso não me parece ser este o fórum apropriado para tecer críticas e ou sugestões.
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Nota do editor:

Último poste da série de 25 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11463: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (26): Respostas (50/51): Armando Fonseca (Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64); e Joaquim Peixoto (CCAÇ 3414, Bafatá e Sare Bacar, 1971/73)

Guiné 63/74 - P11471: Efemérides (125): No passado dia 20 de Abril fez 43 anos que foram assassinados os Majores Passos Ramos, Magalhães Osório e Pereira da Silva, O Alferes João Mosca, dois Condutores e um tradutor (Manuel Resende)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Resende (ex-Alf Mil da CCaç 2585/BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71), com data de 20 de Abril de 2013:

Caros amigos e camaradas,

Hoje é o dia 20 de Abril. Por acaso alguém se lembra do que aconteceu no dia 20 de Abril de 1970 em Jolmete, precisamente há 43 anos?

O nosso Capitão Almendra, disse aos Oficiais, não sei se a mais alguém, talvez ao Dandi, depois do almoço, que se estava a passar algo de anormal.

Nesse dia iria acontecer uma reunião (a última) para a pacificação do “Chão Manjaco”, entre os chefes do PAIGC e os OFICIAIS do CAOP, num local junto à primeira bolanha a contar do Pelundo para Jolmete, a cerca de 5 Kms do Pelundo.
Essa reunião destinava-se a integrar todo o pessoal do PAIGC pelos aquartelamentos da zona, como já estava combinado em reuniões anteriores.

No dia anterior, 19, Domingo, o CAOP esteve em Bula, e ao jantar, o Sr. Major Pereira da Silva recebeu um telefonema, presume-se de Bissau, dizendo que um tal “LUIS” iria estar presente na reunião do dia seguinte. Segundo o que me lembro dos comentários da altura, diziam que ele ficou cabisbaixo, mudo e pensativo.

Só para resumir, o local foi alterado para a segunda bolanha, a 5 Kms de Jolmete. Porquê?

Devo confirmar que ouvi dois tiros por volta das 3 da tarde (e muitas outras pessoas também ouviram).

Foram barbaramente assassinados (pois estavam desarmados) os nossos Oficiais:

Major PASSOS RAMOS
Major MAGALHÃES OSÓRIO
Major PEREIRA DA SILVA
Alferes JOÃO MOSCA
Dois condutores dos jipes e um tradutor (total 7 pessoas).

Não é meu interesse aqui entrar em pormenores, pois apenas quero lembrar a memória destes Oficiais, que devem figurar em todos os escritos com letra maiúscula.

Junto algumas fotos tiradas por mim, mas lamento não ter do Sr. Major Pereira da Silva.

Major Passos Ramos o primeiro à esquerda

Major Osório em primeiro plano

Alferes Mosca em primeiro plano

Alferes Mosca

Manuel Resende
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Nota do editor:

Último poste da série de 22 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11445: Efemérides (124): Matosinhos comemorou o Dia do Combatente e o 4.º aniversário do Núcleo da Liga dos Combatentes (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P11470: No 25 de abril de 1974 eu estava em... (17): Bissorã, a ouvir as notícias da BBC, depois de regressar, de manhã, de um patrulhamento noturno (Henrique Cerqueira, Bissorã)

1. Mensagem do Henrique Cerqueira (ex- fur mll, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, e CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74)

Data: 25 de Abril de 2013 à12 12:49
Assunto: O meu 25 de Abril de 1974



Luís Graça:

Hoje,  25 de Abril de 2013, resolvi narrar um pouco do meu 25 de Abril de 74 . Pretendo assim homenagear deste modo essa data já com 39 anos mas que ainda está bem presente nas minhas memórias.
O texto não tem grande novidade mas mesmo assim resolvi mandar para apreciação dos meus camaradas editores que se acharem por bem o publiquem no nosso blogue que ainda respira festividade pelo seu aniversário.
Um abraço

Henrique Cerqueira


2. O meu 25 de Abril em 1974

Pois é,  hoje dia 25 de Abril de 2013, trinta e nove anos depois trouxe-me á memória o meu 25 de Abril de 1974 passado na Guiné.

Tinha ido eu com o nosso grupo de combate no dia 24 de abril de 1974 fazer mais um patrulhamento para a zona situada entre Bissorã e Biambe,  o qual se porlongou por toda a noite e felizmente sem 
qualquer acontecimento a assinalar. 

Pese embora a nossa guerra noturna com os mosquitos tudo correu com normalidade. Pela manhãzinha foi a hora de regressar ao aquartelamento e como era normal a malta quando chegava a Bissorã dava uma passagem pelo bar dos Sargentos tanto para saciar a sede como para depositar o armamento mais pesado,  pois que era nas traseiras do bar que havia a arrecadação de armamento.

Então nós nos deparamos com toda a malta junto de um pequeno rádio a ouvir notícias da BBC sobre os acontecimentos na Metrópole. Lembro-me que na altura se encontrava lá um elemento da PIDE/DGS e não se cansava de ameaçar o pessoal por estar a ouvir as ditas notícias (mal ele sabia o que o esperava).

Toda a gente ainda incrédula com a possibilidade do fim da guerra mas mesmo assim foi como se nada mais importasse e, a partir daí,  começou logo a rolar cerveja a festejar. Eu até esqueci as ferradelas dos mosquitos da noite passada no mato.

Bom,  depois de já convencido das mudanças na nossa política e com o fim á vista,  lá me dirigi a casa onde me esperava a minha mulher e filho (pois que ambos viviam comigo em Bissorã) e dei a novidade,  o que foi recebida com alguma incredulidade. É que dias antes tinha sido avisado que devido ao agravar da guerra na Guiné teria que mandar embora a família para a Metrópole que até já estaria um navio em Bissau de prevenção para a evacuação dos civis .

A verdade é que,  como todos sabem,  nada disso aconteceu embora até meados de Maio tenha havido alguma atividade do PAIGC flagelando ainda a nossa posição com um ataque de misseis terra/ar sem que tenha havido qualquer estrago tanto humano como material, pois que os misseis caíram na periferia de Bissorã,  de certeza que intencionalmente.

A partir daí foi o que toda a gente sabe. Algumas convulsões populares contra as nossas tropas, possivelmente para mostrar um revolucionarismo de última hora. O que mais tarde se veio a revelar é  que a população temia era o futuro,  o que infelizmente se veio a confirmar pois que hoje a Guiné é "Independente" mas continua pobre e massacrada por interesses que nada tem a ver com o desenvolvimento daquele povo.

Bom,  e foi assim o meu 25 de Abril de 1974.

Henrique Cerqueira
Ex-fur mil CCAÇ 13,  Bissorã
Batalhão 4610 /72

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P11469: Álbum fotográfico do Leopoldo Correia (ex-fur mil, CART 564, Nhacra, Binar, Teixeira Pinto, Mansoa, 1963/74) (2): Mais fotos de outros tempos (1958/61) : Bafatá, Olossato, Capé...


Foto nº 225 > Bombas de gasolina na Casa Barbosa [, Bafatá, s/d ] (1)


Foto nº 225 A > Bombas de gasolina na Casa Barbosa [, Bafatá, s/d ] (2)



Foto nº 224 > O Libanês Munir, Bafatá, 1959



Foto nº 226 > O Srn. Reis, Casa Gouveia, Olossato,1958 (1)


Foto nº 226 A > O Srn. Reis, Casa Gouveia, Olossato,1958 (2)


Foto nº 227 > O snr. Zito, Casa Gouveia, [Olossato ? Bafatá ?], 1958



Foto nº 228 > O Saldida , da Murtosa , e empregados da S. C .Ultramarina [s/d, s/l] (1)



Foto nº 228 A > Foto nº 228 > O Saldida , da Murtosa , e empregados da S. C .Ultramarina [s/d, s/l] (2)



Foto nº 230 > Casa Barbosa, de Capé, Equipe futebol, 1958 (1)



Foto nº 230 A > Casa Barbosa, de Capé, Equipe futebol, 1958 (2)


Foto nº 230 B > Casa Barbosa, de Capé, Equipe futebol, 1958 (3)


Foto nº 231 > Militares Portugueses , em 1961 [s/l] (1)




Foto nº 231 > Militares Portugueses , em 1961 [s/l] (2)


Foto nº 231 > O célebre pombal de Bafatá

Fotos (e legendas): © Leopoldo Correia (2013) Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. O Leopoldo Correia (ex-fur mil da CART 564, Nhacra,Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65), enviou-nos "mais fotos de outros tempos", de Bafatá, Capé e Olossato, res+peitanes ao período entre 1958 e 1961...

Presumimos que o álbum seja do mesmo familiar seu, que trabalhou na Casa Gouveia, em Bafatá. e de que já publicámos dois postes (um sobre Bafatá e outro sobre o Olossato).

Estas velhas fotos, com mais de meio século, são uma preciosidade: ajudam-nos a reconstituir o "puzzle" da época anterior à guerra colonial., e em que graças ao desenvolvimento da agricultura colonial, virada para a exportação (amendoium, coconote, arroz....), os comerciantes locais, portugueses, caboverdianos e libaneses, tiveram o seu tempo áureo.

Obrigado, mais uma vez, ao nosso camarada e ao seu familiar, que ele continua a não identificar.

Guiné 63/74 - P11468: Convívios (515): Pessoal da CCAÇ 2315 no dia 4 de Maio em Cantanhede e da CART 2716 no dia 25 de Maio no Marco de Canaveses

ALMOÇO/CONVÍVIO DA CCAÇ 2315/BCAÇ 2835 (GUINÉ, 1968/69)

DIA 04 DE MAIO EM CANTANHEDE


1. Mensagem da nossa amiga Arminda Castro, filha do nosso camarada Manuel Moreira de Castro, ex-Soldado da CCAÇ 2315, com data de 22 de Abril de 2013:

Boa Tarde,
Gostaria de deixar uma informação a pedido do meu pai Manuel Castro, que se vai realizar o Almoço de Convívio da Companhia de Caçadores 2315 do Batalhão de Caçadores 2835, dia 04 de MAIO em Cantanhede/Coimbra, (Marialva Park Hotel).

A confraternização tem inicio a partir das 10h00.

Para qualquer esclarecimento ou até marcações deverão contactar o Sr. Henrique Santos para os números de telefone: 231 422 884 / 966 296 239 / 914 441 496.

Um forte abraço,
Manuel Castro/Arminda Castro(filha)

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2. Mensagem do nosso camarada José Martins Rodrigues (ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72), com data de 22 de Abril de 2013:

Caro Amigo e Camarada Carlos Vinhal
Pedido de Publicação
Agradeço o favor de publicitares este Convívio nas páginas do nosso Blogue.
Dá-lhe o arranjo gráfico que entenderes adequado.
Junto em anexo a Ementa do Convívio.
Aceita um Cordial Abraço de Amizade
José Martins Rodrigues
Ex-1º Cabo Enfermeiro
CART 2716
1970/72


CART 2716 – XITOLE 1970/72 

17.º ALMOÇO/CONVÍVIO 

DIA 25 DE MAIO DE 2013 – MARCO DE CANAVESES 

A exemplo de anos anteriores o pessoal da CART 2716 – XITOLE - 70/72 vai reunir-se no seu 17º Almoço/Convívio no próximo dia 25 de Maio, desta feita no Restaurante Marisqueira Albufeira no Marco de Canaveses, junto ao rio Tâmega. 

Convocamos todos os Camaradas da CART 2716 a partilharem connosco aqueles especiais momentos de convívio, selados por aqueles fortes, sinceros e únicos abraços de AMIZADE E CAMARADAGEM. 

Para tal, basta inscreverem-se através dos 967 409 449 ou 229 517 464 (José Rodrigues) até ao dia 20 de Maio. 

Participa e traz a tua Família; a “festa” é tua. 

VAI SER MANGA DE RONCO. 

A Comissão Organizadora

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Nota do editor:

Último poste da série de Guiné 63/74 - P11465: Convívios (514): Divulgação do Encontro de Confraternização da CCAÇ 763, dia 16 de Junho, em Arruda/Alverca (Mário Fitas)

Guiné 63/74 - P11467: Humor de caserna (34): Vale mais uma boa foto do que mil palavras (Tony Borié)

1. Em mensagem do dia 11 de Abril de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos mais este pensamento voador... vale mais uma boa foto do que mil palavras.





Seguindo o ditado que diz: Vale mais uma boa foto, do que mil palavras, o Cifra, hoje vai dirigir-se, não só aos amigos antigos combatentes, mas também à juventude, alegre, que gosta de convívios, festas e namorar, mas sobretudo de jogos de computador.
Como se explicou no princípio, vale mais uma boa foto do que mil palavras, portanto vamos primeiro “falar da tal mentira”, que é todo aquele blá, blá, blá, onde diz que, para os que vivem no mundo onde se fala inglês, vão dizer, com toda a certeza:
- At the time of the Cipher, always with the thought in the G-3, Ezekiel, kept giving shots!

No mundo onde se fala francês, dizem:
- Au moment de l’Cipher, toujours avec le G-3 dans la pensée, gardé donnant coups!

Onde se fala germânico, friamente dizem:
- Zum Zeitpunkt des Cipher, immer mit dem G-3 in Gedanken immer geben shots!

No mundo que se fala espanhol, entre dois ou três “zzz”, dizem:
- En el momento de la Cifra, siempre con el G-3 en sus pensamientos, seguia dando tiros!

Os chineses, põem os pauzinhos de parte, se estiverem a comer, e depois dizem:
 

Perceberam? Não? Deixem lá, porque o Cifra também não percebeu, pois tem alguma dificuldade em pronunciar os pontos e as vírgulas.

E nós portugueses, dizemos:
- No tempo do Cifra, sempre com a G-3 no pensamento, o Ezequiel, não parava de dar tiros.


Sim é verdade, o Ezequiel, que andou pelas bolanhas de Mansoa e do Olossato, talvez pelo jeito que lhe ficou, pois não se separava da sua querida G-3, quando chegou a Portugal, depois do dever cumprido, nunca mais lhe perdeu o jeito, claro, com as G-3 sempre no pensamento.

Sempre fez o que estas G-3 mais modernas estão a tentar fazer na foto em cima, uma por cima da outra e vai daí, como não havia televisão nem computadores na aldeia, o resultado foi que continuando com essa saga de tiros e sempre dizendo, “chega-te para lá Maria Amélia”, deu no resultado que a foto mostra em baixo. O seu neto, o Nelo, saindo talvez ao avô, também quer mostrar que sabe manejar uma G-3, mas no computador e vai daí passa a noite toda dando tiros, na companhia da sua bonita namorada Gila, a quem passa a vida dizendo, “chega-te para aqui Gila, abre o olho e agarra-me nesse botão”, só que a diferença é que o Ezequiel teve que criar sete filhos e o neto Nelo, que não larga a companhia da sua bonita Gila, tem que sustentar quatro computadores!

Sem qualquer ofensa e com a maior humildade, a avó do Cifra dizia um velho ditado, que era mais ou menos assim:
- Quem sai aos seus não “denegenera”.

Não sei se é assim que se escreve, será?
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Nota do editor:

Último poste da série de 11 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11376: Humor de caserna (33): Vale mais uma boa foto do que mil palavras (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11466: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (10): Bombeiro (in)voluntário e outras histórias

1. Em mensagem do dia 17 de Abril de 2013, o nosso camarada Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense. CSJD/QG/CTIG, 1973/74), enviou mais uma crónica para a sua série Um amanuense em terras de Kako Baldé.
A guerra vivida de modo mais soft mas não menos espectacular.


Um Amanuense em terras de Kako Baldé

(Para quem não sabe, Kako Baldé era o nome por que era conhecido, entre a tropa, o General Spínola. Kako – (caco) lente que o General metia no olho. Baldé – Nome muito comum na Guiné) 

10 - Bombeiro (in)Voluntário

Tendo cumprido uma comissão militar na Guiné, entre Março de 1973 e Setembro de 1974, apenas ali passei um Natal; o de 1973.

No dia de Natal era habitual, segundo creio, todas as unidades militares na Guiné entrarem em prevenção a 100%, isto é: toda a gente a trabalhar durante as 24 horas do dia.

Dias antes, na CSJD/QG/CTIG onde eu prestava serviço, iniciaram-se as "conversações" no sentido de definir a contribuição que cada um iria dar para a realização de um convívio natalício naquela noite, o que abrangia toda a gente, incluindo o Chefe (TenCor Manuel de Moura).
Imaginava um são e alegre convívio, mas toda a noite sem dormir, comendo e bebendo de tudo um pouco (excepto água), afigurava-se-me uma prevenção a rondar talvez os 5%, na melhor das hipóteses.

Se numa qualquer repartição do QG/CTIG esse facto não parecia diminuir muito significativamente a sua "capacidade de defesa", já no mato não se poderia afirmar o mesmo, mas, ainda assim, parece que o convívio nessa noite também por lá se efectuava, a julgar pelos relatos de alguns ex-combatentes publicados neste e noutros blogues. Seria um Natal diferente, longe da família, é certo, mas onde a camaradagem própria dos militares proporcionaria, certamente, alguns momentos de alegria atenuando minimamente a saudades próprias da época.

Tanto na tropa como na vida civil, um bom desempenho, coragem, grande sentido do dever, e outros atributos que me são característicos e que a minha modéstia me impede de referir, trazem-nos, por vezes, trabalhos redobrados, já que nos momentos mais difíceis somos os primeiros a ser chamados para a "frente de batalha".
E foi asim que, naquele Natal de 1973, me escalaram para o serviço de Sargento de Piquete.

O Piquete raramente era chamado para qualquer tarefa e limitava-se a estar pronto para o que "desse e viesse", mas originou o meu afastamento do convívio natalício com os meus camaradas e superiores da CSJD. Mas se andava algo entusiasmado com a ideia de um Natal diferente passado entre militares, não posso dizer que as minhas expectativas tivessesm saído frustadas, pois acabei por passar uma noite de Natal bem diferente e bem regada, entre militares, população e bombeiros.

Então não é que, a meio da noite, nos colocaram pás e picaretas nas mãos e nos mandaram para o Pilão atacar um incêndio que deflagrara numa tabanca?!

Se com a HK-21 não me entendia lá muito bem, apesar da formação obtida (+/- 10 minutos), imaginem a minha destreza a manusear uma pá, ou picareta sem nunca ter tido qualquer formação, nem tão pouco saber como se puxava a culatra atrás!
- "Os generais devem estar loucos!", pensava eu com os meus botões.

Lá seguimos de Unimog até ao Pilão, armados de pás e picaretas para fazer não sabia bem o quê. Demoramos algum tempo a chegar ao objectivo já que o Unimog se deparava com algumas dificuldades de manobra dentro do Pilão e a tabanca em chamas se situava numa das extremidades do bairro.

Tivemos de circundar o bairro e, chegados lá, encontramos os bombeiros de Bissau a atacar o fogo que se circunscrevia apenas às travessas que suportavam o telhado de colmo que, entretanto, havia já sido consumido pelas chamas. Sentindo-me perfeitamente ridículo no comando de um pelotão armado de pás e picaretas, por ali ficamos quedos e mudos na esperança que o breu da noite encobrisse a nossa triste figura.

O pessoal dos bombeiros era todo guinéu e tendo, provavelmente, detectado a nossa caricata presença, resolveu atacar o fogo pelo lado oposto àquele onde nos encontrávamos e como as agulhetas eram apontadas para as travessas do tecto, a água que não acertava nas mesmas, ia cair direitinha em cima do Piquete, no outro lado da tabanca.

E assim passei o meu Natal de 1973 bem regado, com alguns militares, no meio da população do Pilão e com bombeiros danados p'ra agulheta. (à falta de champagne...!)


Outros pequenos episódios 

1 - Guarda de Honra em julgamento militar 

Nos tribunais militares os julgamentos eram efectuados com a presença de uma Guarda de Honra e durante a minha comissão na Guiné, apenas uma vez fui escalado para comandar um pequeno pelotão numa "cena dessas".
De camuflado, luvas e cordões brancos, sob uma temperatura a rondar talvez os 40ºC e com alguns 80% de humidade no ar, lá fomos para a sala de audiências que não tinha ar condicionado, mas sim uma ventoinha "gigantola" no tecto.

Quando o Juíz entrava todo de branco fardado, fazendo lembrar um vendedor de gelados que ali bem-vindo seria, a Guarda levantava-se, eu dava ordens de sentido-ombro armas-apresentar armas, "comme d'habitude" nestas ocasiões.

Durante o julgamento permanecíamos de pé, de mãos quentinhas e com o suor a escorrer por todo o corpo, fazendo-nos sentir sermos nós os verdadeiros réus a cumprir já parte da pena.
Recordo-me que, nesse dia, foram três julgamentos seguidos (era talvez época de saldos).
A situação lá se foi aguentando (que remédio!), mas na hora da leitura da sentença é que a coisa se tornava feia. Todos em sentido enquanto o homem lia os "preliminares" e, quando proferia uma frase semelhante a: "Determino em nome da lei", eu dava voz de apresentar armas e assim permanecíamos até ao fim da leitura que demorava uma eternidade, fazendo com que as armas aumentassem exponencialmente de peso.

No meu caso a arma era uma FBP cujo peso era bem inferior ao da G3 e cujo apresentar d'armas era sobre o peito aguentando-se razoavelmente a posição, mas o resto de pessoal armado de G3, ao fim de alguns minutos já não conseguia manter a arma firme na vertical, tremendo como varas verdes.
De soslaio, apercebi-me que alguns foram aproximando as respectivas coronhas da barriga, acabando por as poisar no cinturão, transformando a Guarda de Honra num cerimonial com pouca verticalidade.

Segundo me recordo, um dos julgamentos referia-se a um soldado metropolitano que, a caminho de uma qualquer patrulha, saltou da viatura e regressou ao aquartelamento, desobedecendo ao Alferes. Este ter-lhe-á posteriormente aplicado apenas um castigo de alguns "reforços à benfica", castigo esse que foi considerado demasiado brando, o que terá originado, também, um processo disciplinar ao Alferes.
Quanto à pena sofrida pelo soldado, não me recordo bem, mas julgo que foi de alguma dureza.

Num outro julgamento o réu era um civil negro, já com algumas chuvas passadas, baixote, descalço (e eu de luvas brancas!) e de uma etnia qualquer que obrigou à presença de um outro militar, também negro, no papel de tradutor. Não me recordo já de qual o crime cometido por aquele civil, nem da pena a que foi condenado, mas apenas que, após uma pergunta do Juíz, o "intérprete" ter entrado em longa algaraviada com o réu, finda a qual simplesmente respondeu:
- "Ele disse que não"


2 - Certidão de óbito cacimbada 

Como referi anteriormente, quando cheguei à Guiné já lá se encontrava o meu irmão Álvaro que prestava serviço na Secretaria do HMBIS e a quem ainda faltava cerca de um ano para terminar a comissão. Claro que eu, sendo "piriquito fresquinho", fui alvo de muita "música" do "velhinho", nomeadamente com telefonemas sobre os assuntos mais estapafúrdios que se possam imaginar.

Um certo dia encontro num dos processos que me chegaram às mãos uma certidão de óbito que, após a respectiva assinatura, continha mais ou menos, os seguintes dizeres: Panderonga Parabó Lundó Médico Anatomopato

Tratando-se embora de uma brincadeira algo tétrica, não deixei de esboçar um sorriso e associar aquele acto mórbido ao cacimbo entretanto já suportado pelo mano Álvaro.

Telefonei-lhe imediatamente para o Hospital e ele desatou a rir à custa da ignorância do "piriquito".
Afinal - Panderonga Parabó Lundó - era o nome de um médico Anatomopatologista, de origem indiana, que prestava serviço no HMBIS.

Ia lá eu adivinhar semelhante tal!
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Nota do editor:

Último poste da série de 20 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11283: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (9): Rancho melhorado