sexta-feira, 22 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11292: Notas de leitura (467): A palavra aos desertores portugueses (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Março de 2013:

Queridos amigos,
Emigrados em França, Suíça, Países Baixos ou Suécia, os desertores foram rapidamente conquistados pelos movimentos anticolonialistas ou eles aderiram por explícita vontade.
Veremos adiante, na recensão do livro “Armas de Papel”, de José Pacheco Pereira, a natureza e os conteúdos dessa literatura panfletária, com um elevado sabor esquerdista.
O texto de hoje, é uma dessas amostras de jornais policopiados que estavam à venda num reduzido número de livrarias de Paris.
Três desertores resolveram dar a cara. Dois deles tiveram um destino trágico.

Um abraço do
Mário


A palavra aos desertores portugueses

Beja Santos

Vários grupos esquerdistas sediados em França publicaram dossiês que eram vendidos em diferentes livrarias. Este dossiê tem a data de 1970 e podia ser comprado na livraria La Comone, Rua Geoffroy St Hilaire, Paris 13. O ano é de 1970, apela-se, no editorial a um movimento revolucionário português para avançar e pôr termo às ilusões reformistas, recorda que a guerra colonial funciona como o motor dinâmico das lutas de classes. "A finalidade deste caderno é de fazer conhecer alguns aspetos da luta do povo português e favorecer o conhecimento internacional da problemática revolucionária portuguesa". Refere a invasão da Guiné Conacri. Traça um quadro de Alpoim Calvão e entrevista vários desertores, alguns deles combatentes na Guiné.

O primeiro é Manuel Alberto Costa Alfaiate, antigo fuzileiro naval. Queixa-se de que os seus oficiais lhe mentiram ao dizer que tinha vindo para a Guiné exclusivamente para manter a ordem. Um camarada de armas ter-lhe-á dito: se queres saber a verdade desta guerra, vai até à enfermaria. Depois de ter estado em serviço em Bissau, partiu para Garunti, onde viu um superior a matar um velho e uma criança. Desertou em Fevereiro de 1970.

Manuel Fernando Almeida Matos, primeiro-cabo, chegou à Guiné em Janeiro de 1969, participou em várias operações, sobretudo na região de Bula e desertou em Abril. Diz ter assistido a vários crimes praticados por um oficial e um sargento quando chegaram a uma tabanca o oficial ordenara aos seus soldados que executassem civis, os soldados recusaram, o oficial e o sargento executaram a sangue frio 14 homens. Mais tarde perto de Bula viu dois oficiais a cortar as orelhas a um prisioneiro. Afirma estar bem tratado pelos militantes do PAIGC que organizou a sua viagem para a Argélia onde foi recebido pela Frente Patriótica de Libertação Nacional.

Manuel Veríssimo Viseu pertencia à 15ª Companhia de Comandos, combateu em Jabadá, chegou à Guiné em Maio de 1968. Queixa-se que as companhias de comandos eram comandadas por autênticos torcionários, matavam prisioneiros do PAIGC. Quando a 15ª Companhia de Comandos estava em Cuntima, atravessou a fronteira e apresentou-se ao PAIGC. Afirma estar ciente de que lhe tinham imposto vir para a Guiné proteger os interesses dos capitalistas, a tropa estava enganada e ele não queria obedecer mais às ordens dos fascistas. Foi colocado no Lar do PAIGC em Dakar, e depois viajou para Conacri, onde fraternalmente recebido e fez declarações à rádio do PAIGC.

O dossiê inclui também uma notícia publicada no Le Monde de vários desertores portugueses que tinham denunciado numa conferência de imprensa, em Alger, cenas de tortura e execuções sumárias perpetradas por tropas portuguesas. Nessa conferência de imprensa esteve presente Amílcar Cabral que aproveitou para declarar que o Estado-maior português considerava ser impossível reconquistar os territórios da Guiné ocupados pelos guerrilheiros, e igualmente apelou à França para que mudasse a sua política com o regime de Lisboa.

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 18 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11272: Notas de leitura (466): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11291: Parabéns a você (549): José Lino Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense da CCS/BCAÇ 4612/74 (Guiné, 1974)

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 17 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11264: Parabéns a você (548): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil TRMS da CCS/BART 2917 (Guiné, 1970/72)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11290: Humor de caserna (32): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (5): A Família Mauser K98 (2)

1. Em mensagem do dia 7 de Março de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos mais este pensamento voador...





Ora cá estamos de novo com outro tema de guerra, tristeza, angústia, e mais um sem número de coisas que os amigos antigos combatentes e não só, ao lerem, se tiverem pachorra para lerem, vão ficar com o coração a transbordar de saudades, e também alguma mágoa destas jovens, que desprotegidas, viram no seu alistamento nas forças militares do seu país, um meio de sobrevivência.

De novo o Cifra vai começar com aquele blá, blá, blá, que já conhecem, e pedindo antecipadamente desculpas às digníssimas leitoras, que sempre têm a amabilidade de abriram a página do Luís Graça & Camaradas da Guiné, ao Luís Graça, Carlos Vinhal e demais editores, que são de uma paciência que “brada aos céus”, mas a linguagem é correcta, é uma cópia da verdade dos factos, só alguns dos antigos combatentes e não só, é que pensam logo coisas que não são, portanto, para os que vivem no mundo onde se fala inglês, vão por certo dizer:
- That story more poignant, the Cipher brings us today!

No mundo onde se fala francês, dizem:
- Cette histoire plus poignante, le Cipher nous apporte aujourd’hui!

Onde se fala germânico, friamente dizem:
- Diese Geschichte umso ergreifender, bringt das Cipher uns noch heute!

No mundo que se fala espanhol, entre dois ou três “zzz”, dizem:
- La historia más conmovedora, la Cifra nos lleva hoy!

Os chineses, põem os pauzinhos de parte, se estiverem a comer, e depois dizem:


 Perceberam? Não? Deixem lá, pois o Cifra também não percebeu!

E nós portugueses dizemos, numa expectativa quase frustrada:
- Que história mais comovedora o Cifra traz hoje!

Portanto cá vai.
Era uma família rural que vivia num país frio e do que lhe dava a natureza, os tempos não eram de paz, andavam em guerra, os homens eram raros, e os que havia foram combater, muitos morreram.

Elas desde pequenas, habituadas a viver em constante sobressalto, e como os tempos não eram de paz, toda a sua família morreu, ou em combate, ou única e simplesmente ao frio, à fome ou com aquelas enfermidades que sempre vêm a seguir à guerra.


Elas, as duas irmãs órfãs, que restaram desta família, não vendo outro meio de sobrevivência, resolveram alistar-se nas forças militares do seu país, iam para o que desse e viesse, como é costume dizer-se, pois pelo menos, não só iriam ter quem lhes desse de comer, dormir e alguma roupa para vestir, mas acima de tudo, iriam ser como nós já fomos, COMBATENTES. Logo nos primeiros tempos de treino, verificaram que se sentiam bem, mesmo muito bem, a mais velha adorava-a, principalmente quando a colocava, direita, entre as suas pernas, como podem admirar na foto, e a mais nova encostava-se a ela, estamos a falar da Mauser K98, agarrava-lhe no cano, depois com a mão percorria toda a distância que ia até à curva, onde estava o gatilho, aí introduzia o seu dedo indicador, mas nunca apertava, pois podia haver o perigo de um disparo, e no final encostava-a ao peito, com alguma ternura, como podem ver na foto, e fazia-o com tal confiança, como abraçasse a coisa mais importante do mundo, às vezes até dizia que ela, a sua querida Mauser K98, era a razão da sua sobrevivência.

Essa irmã mais nova era uma previlegiada, pois tinha muita pontaria, e os seus superiores vendo essas virtudes logo lhe deram treino e colocaram um telescópio na sua querida Mauser K98, iria ser no futuro uma “sniper”, como podem admirar também na foto, onde ela colocava o olho, mas só no momento de acção, pois às vezes as cápsulas das balas, na altura em que a sua querida Mauser K98 disparava, vinham-lhe pró olho direito, pois o esquerdo estava fechado fazendo pontaria, e ela, podia dar tudo do seu corpo, em favor do seu país, mas no olho, é que não queria levar, com as cápsulas das balas, não, isso não, podia levar em tudo menos no olho, pois a visão era o que ela considerava mais importante, e queria manter para o resto da sua vida.

O Cifra, em homenagem a esta família de combate, vai chamar-lhe “Família Mauser K98”, e virá de novo com mais informações a seu respeito, pois nós antigos combatentes, devido ao nosso passado de combate, temos tendência a gostar que nos falem de “armas e bombas”.

Às vezes dizem que uma boa foto equivale a mil palavras, e neste caso é verdade.
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 7 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11206: Humor de caserna (31): Estou a fazer voar o meu pensamento (António Borié) (4): A família Mauser K98

Guiné 63/74 - P11289: Blogpoesia (330): No Dia Mundial da Poesia... Como é bom rever-te, Lisboa, Tejo e tudo (Luís Graça)




Lisboa, Mouraria, Largo da Severa > 11 de setembro de 2011

Foto:  © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados

1. No Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2013... Para os amantes de Lisboa, para a Lisboa dos amantes... LG


O reordenamento de Lisboa, Tejo e tudo 
Luís Graça

Lisboa, sete colinas,
o rio, uma paixão,
que deram origem
à arte e à ciência da olissipografia.
E tu, querida,  eras uma das meninas
que ficava bem,
à janela,
recortada em pórtico manuelino
da Casa dos Bicos
ou no laranjal
da estória da Nau Catrineta,
desenhando frágeis castelos de Espanha
nas areias movediças de Portugal.

Lisboa, menina e moça,
tu podias não saber nada
de geografia,
nem da didática da educação de adultos,
nem da fisiologia do coração,

nem de macroeconomia,
nem de desenho a três dimensões,
nem do risco sísmico,
nem sequer do simples risco de existir e de estar viva.
Mas sempre tiveste por perto
o estúpido pirata de perna de pau,
vesgo e maneta,
irrompendo os teus sonhos
com o pesadelo do sentimento de um ocidental
na ponta mais fina de uma espada
guardada na Torre de Belém.

Lisboa, o casario, o castelo, a mouraria,
e rente ao chão,
a devoção, a procissão
da Senhora da Saúde,
que nos valia nos anos de peste,
nos meses de guerra,
nas semanas de fome
e nos dias de depressão,
a depressão funda, cavada,
do vale de Alcântara até Xabregas.

Lisboa, a Torre do Tombo,

os livros, os incunábulos,
os alfarrabistas,
as pedras, as cantarias,
as traves mestras
que nos falam da cidade
em construção,
dos arquitetos,
dos trolhas,
dos estucadores,
das gaiolas pombalinas,
dos tristes, saudosos da partida,
dos pintores de tabuletas
e de retábulos dourados das igrejas,
dos aguadeiros,
do poço do mouros
e do poço dos negros,
dos almoxarifes,
dos vedores,
dos provedores,
dos coveiros da pátria,
dos enfermeiros-mores,
dos físicos e dos tísicos,
do Carmo e da Trindade,
outrora de pedra e cal,

dos agiotas,
das tenças e das mercês,
dos engenheiros hidráulicos,
dos agrónomos,
dos agrimensores,
dos silvicultores do pinhal d’el-rei,
dos santos inquisidores,
das freiras e das frieiras
que é coçá-las e deixá-las

no cemitério de todos os prazeres.
Ah, aí onde a vida acaba
na ponta de uma naifa
no Bairro Alto
das fadistas

e na Baixa Chiado dos seus chulos.

Mas não de tédio,
minha querida,
diz o pregão da varina,

nem de desesperança,
que ainda a noite é uma criança,
e enquanto houver o 28 para a (Des)Graça
com bilhete de ida e volta,
as Escadinhas do Duque
ou a Calçada do Combro
e os escombros do terramoto
por subir, trepar ou escalar.
E os filetes de alfaquique
ou peixe-galo
com açorda de ovas

que não vão à mesa do rei.
E os pastéis de Belém com IVA
e o bife dos ricos
à Marrare
e as iscas, dos pobres,  com elas
nas carvoarias dos galegos
e o cheiro a carvão e a sardinha,
linda que tresanda
nas ruelas e vielas dos bairros populares,

por fim reordenados,
e livres do tifo, da febre amarela, da cólera,
do bacilo de Koch
e das paixões cegas da alma.
E o Portugal very tipical
do António de Ferro,

descalço e de barrete,
com que te quiseram tramar;
e as sécias e os peraltas da Belle Époque
que a Avenida da Liberdade
acaba na rotunda das edificantes públicas virtudes
e no beco dos mais torpes vícios privados.

Tu, terna, eterna, Olissipo, 
onde o azul do céu é único,

diz o ofício do turismo,
e nos leva a todos os caminhos do infinito.
Ulisses sabia-o
e bem guardado estava o segredo
do mais fundo do tempo.
E por isso fundeou no estuário do teu Tejo,

e te fundou e fecundou,
e trouxe com ele 
a caixinha de Pandora,
e os perfumes inebriantes
das mais belas:
troianas,
fenícias, gregas,
cartaginesas, romanas,
celtas, ibericíssimas,
godas, visigóticas,
mouras, berberes, azenegues, 

futa-fulas, mandingas, pretas da Senegâmbia,
crioulas de carapinha e olhos verdes,

ameríndias, guaranis, 
bárbaras, belas, pérfidas,
ubérrimas,
santas e penitentes,
errantes, caminhantes,
místicas, algures perdidas,
loucamente perdidas
nos caminhos marítimos para as Índias.

Que te importa, amor, 
se Lisboa já não é
uma praça forte,
uma bolsa contra os valores
daqui d’ el-rei
que o paço e o terreiro,
o trono e a régia cabeça,
tremem e estremecem,
entre o Martinho e a Arcádia,
na iminência de um ataque
terrorista

ou da implosão do euro.
Dantes chamava-se anarquista,
à bomba regicida,
quando a palavra de ordem era
a bolsa ou a vida, abaixo o Estado!
E não havia as avenidas novas,
do Ressano Garcia,
nem o risco dos engenheiros,

nem o cordão sanitário,
nem a construção a custos controlados,
nem o prémio Valmor,

nem o Siza nem o Moura,
nem o fundo de mão de obra,
nem o Dow Jones ou o NASDAK.
Nem a apagada e vil tristeza
que te matou, meu irmão Luís de Camões.

E estavas tu, querida,
postada à janela,

descalça e de xaile preto,
em sossego e bom recato,
com vistas largas
para o casario, a sé, o castelo,
o mar da palha,

o mundo vário,
a rua do ouro e a da prata,
o augusto senhor dom José a mata-cavalos,
a serra, a arrábida fóssil,
a armada outrora invencível,
a ribeira das naus,
o turista, o voyeurista,
o motorista
do senhor ministro sem pasta
nem forragem para o gado na canícula do verão,

nem para os puros sangues lusitanos da alcáçova,
nem sangue nem soro para os heróis menores, anónimos, 

da guerra colonial
que vieram morrer na praia
do 10 de junho,
o velho do Restelo,
que já foi praia sem bandeira azul nem glória,
o velho do Restelo agora ainda mais velho
e mais estupidamente lúcido e cruel,
o Cesário e a sua idiossincrasia,
o Cesário, verde e rubro,
nos estádios dos eurofutebóis,
mais o Eça de Queiroz,
o estrangeirado,
que te amava à maneira dele, 

a Sofia, a deusa, a olímpica,
o Almada e os seus marinheiros sem futuro,
o Ary, provocateur, panfletário,

mais o O'Neil, que era tão louco quanto irlandês,
e o luminoso Eugénio de Andrade,
e ainda a Amália 

e a nossa estranha forma de vida,
e tantos outros poetas que te cantaram,
e que morreram de amores por ti.
Ah, e o Pessoa, subindo e descendo o Chiado,
de braço dado contigo,
recitando-te o heterónimo:
A rapariga inglesa, tão loura, tão jovem, tão boa
Que queria casar comigo…
Que pena eu não ter casado com ela…

Teria sido feliz.
Mas como é que eu sei se teria sido feliz ?


Esquece o Álvaro, o Campos, o sedutor,
e deixa-me pôr-te a caminhar
pelos caminhos ínvios e íngremes
desta cidade-sortilégio,
que
nós amamos no singular 
e maltratamos no plural…
E se, contudo,
há um privilégio,
é sempre o da amizade e do amor,
é esse de poder ter-te
ao alcance da mão e do coração
dos amantes,
entre a Rua Augusta e o Cais de Sodré,
ou de permeio,

no Terreiro do Paço,
entre a liberdade sem rua nem abrigo
e os segredos de polichinelo da tua caixa de correio.
É, enfim, esse privilégio de poder dizer-te,
no regresso da última nau do império:
Como é bom rever-te,
Lisboa, Tejo e tudo.

Lisboa, Terreiro do Paço, maio de 2006

Guiné 63/74 - P11288: (De) caras (13): Guerra Ribeiro, natural de Bragança: de administrador colonial no tempo do Schulz a intendente no tempo de Spínola (Paulo Santiago / Cherno Baldé / António Rosinha)


Foto 1> Guiné > Zona leste > Bambadinca > BART 2917 (1970/729 > Março de 1972 > Carreira de tiro > Da direita para a esquerda: (i) na primeira fila: o general Spínola  e o ten cor Polidoro Monteiro (comandante do BART 2917); e atrás, na segunda  fila,  (ii)  o  antigo administrador de Bafatá, o então intendente Guerra Ribeiro.



Foto 1> Guiné > Zona leste > Bambadinca > BART 2917 (1970/729 > Março de 1972 > Carreira de tiro > Da direita para a esquerda: (i) na primeira fila: Comandante do CAOP 2, General Spínola,  e o ten cor Polidoro Monteiro (comandante do BART 2917); e atrás, na segunda  fila,  (ii) o Paulo Santiago (,de bigode e óculos escuros, o ten-cor Tiago Martins e o  antigo administrador de Bafatá, o então intendente Guerra Ribeiro.



Foto 2-A > Guiné > Zona leste > Bambadinca > BART 2917 (1970/729 > Março de 1972 > Carreira de tiro > em primeiro plano, dois civis, da administração colonial , sendo o segundo o Guerra Ribeiro), no meio de militares, com o gen Spínola ao centro; ao fundo, à direita o nosso grã-tabanqueiro Paulo Santiago, na altura instrutor e comandante de companhia de milícias.


Foto 2 > Guiné > Zona leste > Bambadinca > BART 2917 (1970/729 > Março de 1972  > Foto de conjunto das autoridades civis e militares em visita à carreira de tiro de Bambadinca.

Fotos (e legendas): © Paulo Santiago (2013). Todos os direitos reservados [Fotos editadas pro L.G.]


1. Mensagem do Paulo Santiago [ex-Alf Mil At Inf, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72], com data de ontem:

Olá,  Luís

No P 11281 (*) fala-se do Guerra Ribeiro, Administrador de Bafatá. Conheci a pessoa num dia em que apareceu no Saltinho,e lá pernoitou.

Mais tarde,apareceu em Bambadinca na cerimónia de encerramento do curso de Milícias. Nesta altura, já não era Administrador, era Intendente, e penso que estava em Bissau, mas sei muito pouco sobre estes cargos da Administração Civil. [Voltei a Bambadinca em Janeiro de 72 e, durante o novo curso de milícias, tive duas visitas do Com-Chefe, uma aí pelo meio e a outra no final tendo, desta vez, sido cumprido todo o programa de encerramento, que incluiu uma deslocação de viatura à carreira de tiro, que ficava para lá do destacamento da Ponte de Udunduma, a caminho do Xime].

Nas fotos juntas, Março de 72, aparece o então Intendente Guerra Ribeiro. Na primeira, é a pessoa de farda amarela, atrás do Polidoro Monteiro e do Spínola. Na segunda, está a olhar para o lado esquerdo, e vê-se, também fardado,um outro elemento da Administração Civil que não sei quem é. (**)

Abraço, Paulo Santiago


2. Comentário de Cherno Baldé ao poste P11281 (*):

O Guerra Ribeiro, Administrador da Circunscrição, depois Concelho de Bafatá nos anos 60, era o terror dos nativos "indígenas" que viviam nos arredores ou visitavam a cidade, por força de uma medida administrativa que mandava prender e açoitar todos os nativos que nela entrassem de pés descalços.

A medida era inédita, controversa e paradoxal, porque no seu ambiente natural, salvo raras excepções (personalidades politicas ou religiosas), o nativo guineense, em geral, não usava sapatos no seu dia-a-dia e, também na fase inicial da colonização, o uso de sapatos entre o "gentio" ou era mal visto ou simplesmente proibido pela administração.

E, de repente, nos anos 60, o Administrador de Bafatá confundiu a mentalidade dos nativos com esta medida que intrigava muita gente e teria sido motivo para o surgimento de casos caricatos que ainda hoje se contam e são motivo de divertidas gargalhadas.

Com esta medida histórica, quem tivesse que passar por Bafatá, por qualquer motivo, sabia de antemão ao que era obrigado, mesmo que, por isso, tivesse que arrastar os pés ou andar como um coxo, porque os cipaios de Guerra Ribeiro estavam lá para fazer cumprir a ordem.

Assim, na região de Bafatá a história do uso de sapatos está intimamente ligada ao nome de Guerra Ribeiro, e a maioria dessas pessoas compravam o seu par de sapatos exclusivamente para satisfazer
o Senhor Administrador de Bafatá.

O nome de Guerra Ribeiro está também ligado a construção do Bairro-de-Ajuda, o único Bairro digno deste nome na periferia da antiga Bissau,  construído na base de trabalho obrigatório.

É por estas e outras coisas que, hoje, face a situação actual do pais, muita gente questiona (em especial os mais velhos) se não era melhor manter a ordem e a disciplina coloniais.

 3. Comentário do António Rosinha ao poste P11281 (*):

Sempre houve chefes de Posto, ou Administradores coloniais,  que deixaram marcas como este Guerra Ribeiro que talvez o nosso Cherno só já conheceu de ouvir falar.

Mas não sei se existiu mesmo uma lei colonial ou não que se contava: "Nas Repartições do Estado, não podem entrar nem cães, nem pretos descalços".

Mas o trabalho obrigatório como o bairro da Ajuda já fora da Chapa-Bissau (moderno), esse trabalho teve mais ou menos o mesmo processo do trabalho criticado políticamente pelos movimentos PAIGC, MPLA...que era os "contratados" em Angola.

Também lá em Angola eram os Chefes de posto ou Administradores que, como Guerra Ribeiro, arrebanhavam, convocavam, obrigavam, "contratavam" os jovens das tabancas a prestarem trabalhos
temporários, que eram sempre remunerados e com normas.

E,  como diz o Cherno, a "disciplina colonial", também eu digo sempre, que os velhos régulos "gostavam" dos chefes de posto. Mas não é fácil de explicar, quem poderia explicar bem era um Luís Cabral, um Nino, e mesmo Amílcar Cabral.

Os que politicavam antes da guerra diziam que,  se se produz tanta riqueza para o branco com trabalho obrigatório, quando for a trabalhar para nós...imagine-se.

Ainda trabalhei com guineenses na Tecnil que conheceram esse muito afamado Guerra Ribeiro, para o povo era tão afamado como Spínola. Sempre que ouvia falar nele era no tom como aqui se fala do Salazar, quando se diz agora só "dois salazares".

A minha vida em Angola foi trabalhar com "contratados", e só soube analisar o que isso era depois de trabalhar 13 anos na Guiné com "voluntários". E cá, com brasileiros, guineenses, moldavos e ucranianos.

4. Comentário do editor:

A expressão "Guerra Ribeiro - Bafatá" aparece num documento, de 5 páginas, manuscrito, de Amílcar Cabral, sem data, disponível no Arquivo Amílcar Cabral:  "Título: Ordens de Missão. Assunto: Apontamento com Ordens de Missão manuscrito por Amílcar Cabral. "Guerra Ribeiro - Bafatá". Data: s.d. Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral (Organização Militar, Organização do Lar, Estratégia Militar)".

No museu da RTP há um outro documento se ciat o nome do Guerra Ribeiro: trata-se do texto do programa "Crítica literária, por José Blanc de Portugal", que passou na Emissora Nacional, em 27 de julho de 1966, às 14h50

Nesse programa fala-se do livro  de crónicas do jornalista e escritor Amândio César, Guiné 1965: Contra-ataque. Numa dessas crónicas, aparece o nome de Guerra Ribeiro, que faz de tradutor para o Amândio César, numa cerimónia de juramento de bandeira de soldados do recrutamento local, em Nhacra, cerimónia essa que é abrilhantada com cânticos e danças mandingas. Diz o José Blanc de Portugal:, citando o cronista "Eu não, eu não sou terrorista. Sou português da Guiné Portuguesa". E comenta Amândio César: "Era o fim desta maravilhosa. Os versos traduzia-mos Guerra Ribeiro, um bragançano que se encontra há muito na Guiné Portuguesa. O povo continuou a comemorar aquela festa de ronco pelo dia adiante. Tinha direito a esta festa que era portuguesa e pelos pretos da Guiné portuguesa" (...). 

Noutro documento do museu da RTP, disponível na Net, Amândo César refere-se a Guerra Ribeiro como administrador de Bissau.

Ficamos, portanto, a saber que o administrador Guerra Ribeiro era  natural de Bragança, bragançano ou bragantino.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de março de 2013 >  Guiné 63/74 - P11281: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte VII): Bafatá, uma piscina para três mil...

(**) Último poste da série > 9 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10133: (De) caras (12): Foi com um arrepio que voltei ao Xime e a Mansambo, ao ver o vídeo sobre o quotidiano da Cart 2339 (António Vaz, ex-cap mil, CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69)

quarta-feira, 20 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11287: Convívios (504): 30.º Encontro nacional dos Oficiais, Sargentos e Praças do BENG 447, dia 20 de Abril de 2013 em Fátima (Lima Ferreira)

1. A pedido do nosso camarada Lima Ferreira, ex-Fur Mil do BENG 447, leva-se ao conhecimento dos possíveis interessados a realização do 30.º Encontro Nacional dos Oficiais, Sargentos e Praças daquele BENG, no dia 20 de Abril de 2013, em Fátima.





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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 20 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11286: Convívios (503): 14.º Almoço da CCS do BCAÇ 1861, dia 27 de Abril de 2013 na Sertã (Júlio César)

Guiné 63/74 - P11286: Convívios (503): 14.º Almoço da CCS do BCAÇ 1861, dia 27 de Abril de 2013 na Sertã (Júlio César)


Realiza-se no próximo dia 27 de Abril, o 14º almoço/convívio da CCS do Batalhão de Caçadores 1861. 

O almoço/convívio será no Ponte Velha Restaurante, na Sertã. 

Os interessados em participar devem contactar:

Boaventura Videira, pelo telefone 964 534 332 

Participa
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 20 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11285: Convívios (502): 3.º Encontro dos Bedandenses, dia 29 de Junho de 2013 na Mealhada (António Teixeira)

Guiné 63/74 - P11285: Convívios (502): 3.º Encontro dos Bedandenses, dia 29 de Junho de 2013 na Mealhada (António Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada António Teixeira (ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 - Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 - Bedanda; 1971/73) com data de 18 de Março de 2013, com o anúncio do 3.º Encontro dos Bedandenses:




Caros amigos e Bedandenses. 
Vai-se realizar no próximo dia 29 de Junho o nosso 3º Encontro, que esperamos tenha o mesmo sucesso dos anos anteriores. 

Como do costume (equipa que ganha não se mexe), será na Mealhada, no Restaurante / Estalagem "Portagem", essencialmente devido à sua generosa localização, bem no centro do país, com grandes facilidades de estacionamento, dando ainda a possibilidade de pernoita no local para todos aqueles que assim o desejem. 

A exemplo do ano anterior, teremos todo prazer de receber também os familiares daqueles que pisaram aquele chão. 

Em breve, será aqui disponibilizado a ementa (será preciso? Estamos na Bairrada), assim como os preços da refeição e de quarto. 

Para informações e reservas, os contactos são os seguintes: 
António Teixeira - 917 803 681 - toniteixeira@gmail.com
Hugo Moura Ferreira - 969 922 669 - mouraferreira@gmail.com

Um grande e fraterno abraço para todos 
António Henrique Teixeira
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 19 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11276: Convívios (501) 14º almoço/convívio da CCS do BCAÇ 1861 (Buba, 1965/67): Sertã, 27 de abril de 2013 (Boaventura Videira)

Guiné 63/74 - P11284: Convite (11): Museu da Guerra Colonial, a visitar em Ribeirão, Vila Nova de Famalicão (António Teixeira)



1. Mensagem do nosso camarada António Teixeira (ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 - Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 - Bedanda; 1971/73) com data de 15 de Março, dando-nos a conhecer o Museu da Guerra Colonial situado em Ribeirão - Vila Nova de Famalicão:

Caro Carlos Vinhal
Com pedido de publicação
Grande abraço,
Antonio Henrique Teixeira




MGC - Museu da Guerra Colonial

No ùltimo encontro de Bedandenses do Norte que realizamos perto de Famalicão, tivemos a grata surpresa de sermos presenteados por um dos anfitriões, o ex-Fur. Miliciano José Augusto Carvalho, a este espaço fantástico que dá pelo nome de "Museu da Guerra Colonial".

Trata-se de um espaço que continua em constante transformação e que evoca através de diversos temas o que foi a presença portuguesa na chamada guerra de Africa. E tudo isto graças à carolice e boa vontade de uns poucos, que como nós, calcaram aquele chão.

Para além do material já exposto, este Museu tem também mantido um papel fundamental na divulgação daquilo que foi a nossa presença em Àfrica, sobretudo junto das gerações mais novas, que frequentemente em grupos escolares o visitam.

O Museu fica bem perto de Famalicão, na estrada que une esta cidade à Trofa, num local que se chama "Lago Discount", em Ribeirão. Logo à entrada, a presença imponente de uma "Panhard", como podem ver na foto abaixo, que em breve terá a companhia de um "Alouette" (O lugar já lá está reservado).

Quero aqui manifestar o meu reconhecimento a estes verdadeiros "entusiastas", que praticamente sem apoio algum, e sobretudo sem apoio oficial, tanto têm lutado para manter este espaço vivo e em constante evolução. Bem hajam.

Não quero colocar o nome aqui seja de quem for, pois corria o risco de me esquecer de alguém, o que seria uma grande injustiça. Fica no entanto o apelo para todos frequentam este blogue que quando passarem por aquelas bandas, façam uma visita porque garanto-vos que vão apreciar.

Junto algumas fotos do local.

Um grande abraço a todos
António Henrique Teixeira

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 23 DE AGOSTO DE 2011 > Guiné 63/74 - P8700: Convite (10): Os ex-combatentes, as alcunhas e as suas origens, no Programa da Manhã da TVI, dia 25 de Agosto de 2011

Guiné 63/74 - P11283: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (9): Rancho melhorado

1. Em mensagem do dia 8 de Março de 2013, o nosso camarada Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense. CSJD/QG/CTIG, 1973/74), enviou mais uma crónica para a sua série Um amanuense em terras de Kako Baldé.


Um Amanuense em terras de Kako Baldé 

(Para quem não sabe, Kako Baldé era o nome por que era conhecido, entre a tropa, o General Spínola. Kako – (caco) lente que o General metia no olho. Baldé – Nome muito comum na Guiné)

9 - Rancho melhorado 

Tal como nas outras Unidades militares, segundo creio, também no QG/CTIG as refeições para o Oficial de Dia, Oficial de Prevenção e Sargento da Guarda, provinham das respectivas Messes e eram levadas por um ordenança até aos militares em serviço naquelas tarefas.

Durante mais um serviço de Sargento da Guarda que fiz ao QG/CTIG, fui inesperadamente contemplado com um rancho melhorado como nunca mais fui até ao fim da comissão.
Não era o dia da Unidade, nem o dia do meu aniversário!
Seria uma gentileza do Brig. Banazol pelo meu aprumo e competência no comando da Guarda de Honra?! Quem sabe!

"Isso agora não interessa para nada e vamos é 'enfardar' isto e o que for, soará!" - Pensei eu com os meus botões.

"Abarbatei-me" ao apetitoso conteúdo do prato e, à medida que "metia p'ra blusa", mais aumentava a empatia entre mim e o serviço de Sargento da Guarda.
Efectivamente sentia que, finalmente, alguém dava valor ao esforço e empenho que eu colocava na execução de uma Guarda de Honra a um Comandante estrelado. No resto..., nem por isso, mas agora também não interessa nada.

Terminado o faustoso repasto, abeira-se de mim o Capitão - Oficial de dia - que simpaticamente me pergunta:
- Já almoçou?! Então, e o almoço estava bom?
- Sim, obrigado, por acaso hoje até que nem estava nada mau.

E a simpatia continuava, levando-me a pensar que estaríamos com toda a certeza no dia do "Sargento da Guarda". E porque não, ele há dias para tudo?!

Pergunta-me então:
- E um cafezinho, não ia agora?

Nessa altura até já me apetecia dar-lhe um beijo na boca, tanta era a simpatia com que me tratava!
- Ah sim, obrigado, por acaso agora até caía bem um cafézinho.

Ao contrário do que sucedia com muitos oficiais, a este Capitão os galões não o impediam de ter um gesto de cortesia para com um seu subordinado. E se ia pedir ao ordenança para lhe trazer dois cafés (para ele e para o Oficial de Prevenção) que lhe custava pedir que trouxesse mais um para o desgraçado do Sargento da Guarda?!

O café não fazia parte do "Menu do dia" e teria de ser pago. Achei que não seria correcto da minha parte entregar-lhe, logo ali, o dinheiro correspondente ao meu "cimbalino" (1 escudo, salvo erro) e não o fiz, até porque seria pouco provável que o Capitão o aceitasse (julgo eu).

Sentia-me que nem um Abade e, sentado à mesa, de papo cheio, debaixo da ventoinha da Casa da Guarda, aguardava o cafezinho, imaginando até o Capitão a providenciar para que o "cimbalino" fosse devidamente acompanhado com um bagacito pr'ajudar à digestão.

Os minutos foram passando e o café não aparecia. Comecei a pensar que talvez o Capitão tivesse ficado chateado por eu não lhe ter pago o café antecipadamente, mas isso parecia-me pouco plausível.
Também não me parecia normal que o café já tivesse chegado e que fosse o Capitão a trazer-mo à Casa da Guarda. Assim, fui passando várias vezes pela porta do Oficial de Dia (mesmo em frente à do Sargento da Guarda) para ver se o café já tinha chegado. Também pensei que, quando chegasse, o Capitão me chamaria com toda a certeza.

O tempo continuou a passar e, de café, nem cheiro!

Era também estranho que, não havendo café p'ra ninguém, não tivessem a gentileza de me informar.
Rebobinei a cassete toda e comecei a rever o filme. Juntei algumas peças do puzzle e, de repente, fez-se luz no meu espírito!

Um almocinho "à maneira" - o Capitão a perguntar: "E um cafézinho, não vai agora?!... "Querem ver que o ordenança trocou as "marmitas" e eu "mamei" o almoço do Capitão e esta conversa do cafézinho é só tanga?!

Pois, aquele "E um cafézinho, não vai agora?!", não se tratava de qualquer cortesia do Capitão, mas sim de alguma ironia de quem se via na contingência de almoçar "que nem um Sargento".

Resumindo:
Entregaram-me o almoço, estava bem servido e eu estava com fome - atirei-me a ele!
E, digo-o com toda a sinceridade, nunca supus que tivesse havido troca, tanto mais que do outro lado eram dois almoços e, a haver troca, a mesma seria imediatamente detectada. Provavelmente o Alferes também se aviou primeiro, não sei. Apenas sei que almocei melhor do que era costume.
O cafezinho é que, pelos vistos, tinha ficado na Alfândega!

Durante a minha vida militar no TO da Guiné, vários pequenos episódios sem grande importância foram acontecendo e a sua grande maioria estava já no arquivo morto e só agora, depois que me tornei escriba desta grande Tabanca, é que alguns me têm vindo à memória. Parecendo-me, no entanto, que o pessoal das "bolanhas" demonstra algum interesse em conhecer este tipo de episódios vividos pelo pessoal do "ar condicionado" e ainda que sejam, realmente, episódios insignificantes do meu dia-a-dia no QG/CTIG, continuarei a relatá-los até que alguém me mande calar, tenha eu "pachorra" e tempo para o efeito.

Convencido que estou de que isto não sairá daqui por me encontrar entre ex-camaradas da Guiné, vou, aqui e agora, fazer uma confissão que nunca fiz publicamente, para que se perceba minimamente o contexto em que alguns episódios se deram e tendo em conta que estávamos num Quartel General em pleno Teatro de Operações da ex-Província Ultramarina da Guiné (considerada, na altura, zona 100% operacional).

Como já deveriam ter percebido, este vosso ex-camarada, cujas acções militares na Guiné roçaram, ainda que ao de leve, as façanhas do famoso Rambo, fez vários serviços de Sargento da Guarda ao QG/CTIG.
Durante esses serviços nunca visitou nenhuma guarita, nem nunca quis saber, sequer, onde se situavam as mesmas.
Acredite quem quiser, mas é realmente verdade e passo a justificar:

Como sabem, havia sempre uma senha e uma contra-senha para efeitos de ronda. A senha era-me transmitida pelo Oficial de Dia através de uma carteira de fósforos, ou outro artefacto do género e era usual (para mim acho que foi sempre) utilizarem nomes de frutos (banana/pêra - uva/maçã - cereja/morango, etc.). Pelo mesmo método eu transmitia as senhas ao Cabo da Guarda.

O pessoal era sempre guineense com excepção do Cabo da Guarda que, uma ou outra vez, era europeu. Imaginem a confusão que se poderia fazer com uma salada de fruta de senhas e contra-senhas!

Nunca efectuei qualquer ronda, nem sabia onde ficavam as guaritas (eu era Amanuense, porra!). Estão a imaginar-me na escuridão da noite a aproximar-me de uma sentinela e não me lembrar de qual era a fruta da época e o "bacano" já ter entornado alguma "água de Lisboa"?! "Bai lá bai, até o Barack Obama!"

Recordo-me de uma certa noite, já com os portões fechados, me aparecer do lado de fora e agarrado às grades do portão, um soldado negro a quem só se via o "teclado" de tanto se rir e apenas dizia:
- "esfuriel... esfuriel... esfuriel".

Estava com uma "tosga do caraças", pois tinha abandonado a guarita para ir até à messe, onde trabalhava, beber uns copos.

Aquela triste figura só me dava vontade de rir, mas, por outro lado, tinha receio que o Oficial de Dia se apercebesse (nessa dia era um Capitão do QP) e lá estaria eu metido em sarilhos e aquele desgraçado com a vida estragada, pois a tropa era o seu ganha-pão (ou arroz). Abrir-lhe o portão para ele entrar, podia alertar o Capitão.

Disse ao Cabo da Guarda, também negro, que colocasse um substituto no posto e que fosse dar a volta ao Quartel, saindo pela CCS, e o trouxesse caladinho e o enfiasse na cama. Assim fez e tudo correu sem problemas.

Uma outra vez, sendo o Oficial de Dia novamente um Capitão do QP, aparece-me um 1º Sargento, daqueles que gostam de mostrar serviço, com uma G3 na mão dizendo que tinha encontrado uma sentinela a dormir e que lhe tinha sacado a arma. Sugeria que eu fosse lá à guarita ver o homem e fazia-o em voz alta para o Capitão ouvir e me tramar a vida a mim e ao soldado. Já algo furioso com ele, lá consegui que baixasse o tom de voz e me entregasse a G3.

Resumindo:
O pessoal, que era quase sempre o mesmo, já devia conhecer o meu modo de actuar e, quando eu estava de Sargento da Guarda, era uma "rabaldaria do caraças"! Eu só queria que não dessem muito nas vistas. Quanto ao resto, cada um que se desenrascasse que eu tentava fazer o mesmo, papando os almoços aos Oficiais de Dia.

Ainda uma outra vez em que me encontrava de Sargento da Guarda, logo pela manhã aparece-me esbaforido o Cabo da Guarda informando-me de qualquer coisa que se estaria a passar na casa de banho.

Para lá me dirigi de imediato e encontrei no chão, acometido de um ataque epiléptico, um nosso camarada que estava de Sargento de Dia. Lá providenciei para que o levassem de Jeep ao HMBIS.

Era um camarada ainda mais franzino do que eu e deixei de o ver durante uns tempos. Teria sido evacuado para a Metrópole?! Não!
Num outro dia em que voltei a fazer serviço de Sargento da Guarda, lá estava ele novamente de Sargento de Dia.

"Que Deus me perdoe, mas eu adoro isto aqui"
(Frase do General George Patton proferida no decorrer de uma batalha).

"Que Deus me perdoe, mas eu piro-me já d'aqui"
(Frase do Furriel Abílio Magro proferida no decorrer de um serviço de Sargento da Guarda).
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 14 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11250: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (8): O meu "25 de Abril"

Guiné 63/74 - P11282: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (10): À volta de uma fotografia

1. Em mensagem do dia 15 de Março de 2013, o nosso camarada  Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, BissauBissorã e Mansabá, 1965/67), enviou-nos a sua décima "Carta de Amor e Guerra".


CARTAS DE AMOR E GUERRA

10 - À volta de uma fotografia

[Ao início da manhã do dia seguinte à chegada da CCaç 1419 a Bissorã, um grupo ruidoso de jovens mulheres oferecendo os seus serviços de lavagem de roupa “atacava” a “casa dos furriéis” (como era conhecida uma vivenda no centro da vila, “herança” da CCaç 816, segundo julgo).

De entre essas mulheres fixei-me numa que sobressaía pela beleza, pelos cuidados postos na sua apresentação física (magnífica), pela calma e segurança na atitude e pelo brilho do olhar, que me confundiu. E ela percebeu a minha confusão, tenho a certeza!

 “Apanhado”, fiquei à sua espera enquanto ela cirandava na conquista de clientes e me dirigia um olhar furtivo, de vez em quando, como que a dizer “já estás no papo, já tratamos do assunto”. Embevecido, fiquei à espera a apreciar aquele comportamento, típico de alguém que sabia dos efeitos do seu uso. E foi “tiro e queda” quando se me dirigiu. Caí logo, fizemos logo contrato. Com fotógrafo perto, ia lá eu perder uma imagem daquele momento com aquela beleza! E saiu esta foto (foto 1).

Não é a primeira vez que me refiro a esta menina-senhora de há 47 anos. Os seus serviços de lavadeira foram impecáveis, o nosso relacionamento foi magnífico. Passei bons momentos com ela, no seio da sua família. “Honni soit qui mal y pense”, preciso sempre de dizer, pois o nosso relacionamento físico nunca ultrapassou as relações inerentes ao seu trabalho. Mas foi um relacionamento que me deixou boas lembranças.]

Foto 1: Bissorã, 24/10/1965. Linda, a minha lavadeira! 
© Manuel Joaquim 

Lisboa, 9-Dez. 1965

Queridito: 
É muito gira é, a tua lavadeira. Sabes escolher o que te convém e atrevo-me a afirmar que não te envergonharás de a teres a teu lado. Serve-te, não é verdade? Óptimo. 
Como facilmente depreenderás, vi a foto que enviaste à tua Mãe.[foto 1] (…), sem querer, instintivamente, senti um certo mal-estar como se, nesse momento, tudo me fugisse ao olhar-vos. 
Agora (…) reconheço, sem sombra de dúvida, que foi uma reacção descabida, uma reacção sem sentido que valha justificação. Em suma, uma reacção estúpida e indigna de mim. Mesmo assim, não deixo passar a oportunidade de te expor os meus pontos de vista sobre o assunto. 
Por que não enviaste à tua D. um exemplar da foto que enviaste à tua Mãe? Dirás que sou parvinha, que estou com ciúmes e a dar tanta importância ao que não a merece. Sou ciumenta mas posso perfeitamente afirmar que o que senti não foi de modo nenhum ciúme. (…). Senti-me um pouco desgostosa ao ser apanhada de chofre e por atribuir o teu procedimento ao facto de já não confiares em mim, de duvidares sobre qual seria a minha reacção perante a foto. Temias a minha reacção. Foi isso, meu querido?! 
Mas ouve-me, (…). Escuta-me e depois dirás se tenho ou não razão para ficar magoada. 
Ora, se não há nada de anormal, e eu acredito nisso, em contratares uma mulher para te tratar das roupas e do mais que te for necessário, em aproveitares uns momentos de folga para tirares umas fotografias, com que intenção me quiseste ocultar esse facto? (…).
Eu poderia agora, como medida de precaução, ficar de pé atrás, (…). Segundo minha opinião deverias também ter-me confiado essa “pose”. 
Há uma atenuante que ainda formulo para tornar mais branda, menos injusta a tua atitude. Dar-se-ia o caso de teres assim procedido por quereres evitar-me possíveis sofrimentos (…)? 
Mesmo assim, a minha conclusão ao analisar o teu procedimento foi esta: falta de confiança na tua N. Não sabias qual seria a minha reacção e, então, vá de ocultares-me o que poderia induzir-me em erro, levar-me a magicar, a imaginar algo com sentido completamente antagónico ao que a verdade representa. 
Espero e peço-te mesmo que nunca mais assim procedas. Por que não hei-de aceitar com agrado a tua presença junto de uma pretinha? Tanto mais que ela te é indispensável enquanto aí te retiverem! Aceito com certeza, meu amorzito. 
Há sempre uma certa tendência para exagerarmos certos factos, para procurar dar-lhes até um cunho de “maldade” quando se descobre que estão a correr em segredo. Isso desperta a nossa curiosidade e a nossa tendência para uma má interpretação. (…). 
E agora que me justifiquei, vamos pôr uma pedra sobre o assunto exposto. Não é motivo que valha a nossa discussão. 

(… …. ……) 

Para ti, os beijos e abraços que quereria dar-te neste momento. 
Sou a tua N. 


Bissorã, 12dez65 

(…) recebi hoje a tua última carta que, (…), provocou (…) um certo sorriso “malicioso” mas, ao mesmo tempo, também muito carinhoso. 
Com que então ficaste aborrecidita com uma fotografia toda pinocas, (…). 
(…) mandei-a para a minha Mãe, precisamente porque pensei que ela se iria divertir muito mais do que tu. E parece-me que foi isto mesmo que aconteceu. 

Começas por afirmar que não é questão de ciúmes mas, (…), cais em contradição com o que dizes à frente. Se calhar sou capaz de ficar por aqui a criar garotinhos mulatos. É que eu, sabes, gosto tanto da Guiné, adoro a Guiné, vai ser a minha futura pátria! 

Gostava de saber, minha querida, que género de controvérsias o caso poderia vir a provocar entre nós. (…). Julgas então que não te enviei a fotografia por pensar que ias ficar tão magoada que daqui poderia haver um rompimento dos laços que nos unem? 
(…). 
(…) afirmares a hipótese de ficares de pé atrás, como medida de precaução, (…) é “do arco da velha”. Oh D.! Não procures atenuantes para a minha atitude. Não te mandei uma foto igual porque não tinha mais nenhuma. Só isto. Como nem sequer pensei em enviar-ta. A que tinha estava destinada à minha Mãe. Mais nada. 
(… … …) 
Bem, como também afirmas, e eu corroboro essa tua afirmação, não sei onde está a importância do caso. Mas se aquilo que disse te levar a qualquer aflição, (…) peço-te encarecidamente que não te cales e que exponhas o que te aflige, (…). 
(… … ….). 
(…).Os beijos e abraços de sempre do teu M.

Foto 2: Mansoa, 1970, Lavadeiras.
Bela foto do camarada desta Tabanca Grande, César Dias, retirada com a devida vénia de http://bcac2885.com.sapo.pt/index.html
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 13 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11247: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (9): Saída de Bissau para Bissorã

Guiné 63/74 - P11281: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte VII): Bafatá, uma piscina para três mil...


Foto s/ nº > Reprodução de foto publicada numa revista lou brochura  da época... A piscina de Bafatá e ao fundo, do lado esquerdo,  o estabelecimento comercial da Casa Gouveia


Foto s/ nº > Diz o Abílio, legenda em cima da própria foto: "Três mil soldados para uma piscina" (...fora os civis). Ao fundo vê-se a estátua  ddo governador João Augusto de Oliveira Muzanty (1906-1909), e o estabelecimento local da Casa Gouveia.[, salvo erro] [LG]


Foto s/ nº > O Abílio descansando na psicina de Bafatá, que tinha o nome de Guerra Ribeiro, e foi inaugurada em 1962 . [Este Guerra Ribeiro deve ter sido o administrador da circunscrição ou concelho de Bafatá, na época. Também terá sido, antes ou depois,  administrador de Bissau: o seu nome estará ligado á construção do bairro da Ajuda. ]




Foto s/ nº > O Abílio, com um camarada não identificado


Foto s/ nº > O Abílio, no cais fluvial de Bafatá, no Rio Geba Estreito, que era navegável até aqui...

Guiné > Zona Leste > CART 2479/CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/71) > "Na piscina em Bafatá. Bons tempos!... Ainda conseguíamos pirar-nos de Contuboel e passar uns bons momentos em Bafatá. Perto da piscina havia um restaurante [, A Transmontana, seguramente,] muito bom".


Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemenetar: L.G.]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa
companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70). (*) Na época a cidade de Bafatá era, a seguir a Bissau,  porventura a maior, a mais bonita, moderna e limpa da província da Guiné. [Ver aqui fotos posteriores, do Humberto Reis, de 1996].


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Guiné 63/74 - P11280: Blogpoesia (329): No Dia Mundial da Poesia... Eugénio de Andrade (1923-2005): (i) Sobre o Tejo; (ii) Três ou quatro sílabas; (iii) Canção da mãe de um soldado de partida para a Bósnia


Lisboa, Rio Tejo, 21/2/2012... >1. Celebrando o Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2013...



Lisboa, Rio Tejo, 21/2/2012... > 2. Celebrando o Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2013...




Lisboa, Rio Tejo, 29/5/2012... > 3. Celebrando o Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2013...



Lisboa, Rio Tejo, 2/5/2012... > 4. Celebrando o Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2013...

Fotos: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.


Sobre o Tejo

Que soldado tão triste esta chuva
sobre as sílabas escuras do outono
sobre o Tejo as últimas barcas
sobre as barcas uma luz de desterro.

Já foi lugar de amor o Tejo a boca
as mãos foram já fogo de abelhas
não era o corpo então dura e amarga
pedra do frio.

Sobre o Tejo cai a luz das fardas.
É tempo de te dizer adeus.

Eugénio de Andrade [1923-2005]

Véspera da água (1973).
In: Poesia: Eugénio de Andrade.
Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2000. pag. 200.

Três ou quatro sílabas

Neste país
onde se morre de coração inacabado
deixarei apenas três ou quatro sílabas
de cal viva junto à água.

É só que me resta
e o bosque inocente do teu peito
meu tresloucado e doce e frágil
pássaro das areias apagadas.

Que estranho ofício o meu
procurar rente ao chão
uma folha entre a poeira e o sono
húmida ainda do primeiro sol.


Eugénio de Andrade [1923-2005]

Véspera da água (1973).
In: Poesia: Eugénio de Andrade.
Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2000. pag. 192


Canção da mãe de um soldado

de partida para a Bósnia

É muito jovem, sem tempo ainda
de ser triste. Demora-se nos meus olhos
enquanto leva a maçã à boca.

Nenhuma fala obscura escurece a tarde,
a cabeleira solta é a sua bandeira;
os pés brancos, irmãos
da chuva do verão, anunciam a paz.

Suplico à estrela da manhã
que lhe guie os passos, agora que partiu;
que tenha em conta a sua ignorância,
não só da morte, também da vida.


Eugénio de Andrade [1923-2005]

Os Lugares do Lume  (1998).
In: Poesia: Eugénio de Andrade.
Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2000. pag. 568.


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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11244: Blogpoesia (328): Dos meus poemas de juventude (Cherno Baldé)