quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10413: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte IX: Mais fotos do álbum do cor inf ref Jorge Parracho, que integram hoje o Núcleo Museológico Memória de Guiledje



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 40, sem legenda  >  O comandante da companhia sentado à entrada da sua morança (?), ou então mais provavelmente da secretaria, ou ainda do bar/messe de oficiais. Neste tempo já havia abrigos, construídos pela engenharia militar, presumindo-se que todo o pessoal militar dormisse, pelo menos, nos abrigos...



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 9, sem legenda  > A porta de armas... Ao fundo, uma série impressionate de barris com frases saudando os visitantes de Guileje.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 45, sem legenda  > Aspeto parcial do aquartelamento e tabanca... Ao todo viviam em Guileje cerca de 800 pessoas, entre civis e militares.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 46, sem legenda  >  Mais um aspeto parcial do aquartelamento e tabanca. Do lado esquerdo, um dos espaldões da artilharia (um das 3 peças 11,4, que defendiam Guleje, orientadas para a fronteira, a sul).


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 42, sem legenda  >  Vista aérea, geral, do aquartelamento e tabanca. Ao fundo, os três espaldões de artilharia, antes a orla da floresta... Ao lado direito, o heliporto


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 45, sem legenda  >  Porta de armas, passadeira VIP feita com garrafas de cerveja dando acesso à pista de aviação e ao fundo um dos impressioantes "bunkers" construídos pelo BENG.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 6, sem legenda  > Guiné > Região de Tombali > Guileje >  Porta de armas e por detrás um dos "bunkers" construídos pela engenharia militar no tempo da CART 2410 (1969/70). Jorge Parracho e um dos seus alferes (presume-se que seja o Rodrigues).


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 39, sem legenda  > O cap Parracho com a malta do Pel Art n.º 5, que era comandado pelo alf mil art Cristina... O quarto militar, na primeira fila, a contar da direita para a esquerda, parece ser o alf mil médico Mário Bravo, nosso grã-tabanqueiro.

Fotos: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [As fotos de Jorge Parracho foram disponibilizadas à ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, em 2007, no âmbito do projecto de criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje. Não têm legendas, vêm apenas numeradas.
Legendagem da responsabilidade de L.G, que recorreu às informações já aqui publicadas pelo Orlando Silva sobre a CCAÇ 3325].


1. Já aqui chamámos, no devido tempo, a atenção para a a qualidade dos materiais usados pela Engenharia Militar na construção dos abrigos de Guileje que toda a gente diz (ou dizia) que eram os melhores da Guiné... As escavações arqueológicas, pela AD - Acção para o Desenvolvimento, vieram mostrar as placas de cimento armado ainda estavam como novas, ao fim de quase 4 dezenas de anos, capazes de aguentar bem o morteiro 120...

O José Barros Rocha, ex-alf mil, da CART 2410, os Dráculas, chegou a  Guileje em Junho de 1969, e por lá ficou até Março de 1970. Já aqui nos falou também sobre a construção dos abrigos:

"Recordo-me que houve um Pelotão de Engenharia que durante esse período aí esteve sediado para construir dois abrigos de betão armado, e que se afirmava serem à prova das granadas do Morteiro 120 ou 122. Dois Pelotões aí tinham a sua residência!!! Tais abrigos localizavam-se por detrás do refeitório e à direita da saída para estrada que seguia para Mejo"...

Recorde.se aqui as companhais que passaram por Guileje, desde o tempo do José Barros Rocha, de junho de 1960 a maio de 1973:

CART 2410 (Jun 1969/Mar 1970) (contacto: Armindo Batata,. comandante do Pel Caç Nat 51)
CCAÇ 2617 ( Mar 1970/Fev 1971) > Os Magriços (contacto: Abílio)
CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971)  > Os Cobras de Guileje (contacto: Jorge Parracho)
CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972) > Os Gringos de Guileje (contacto: Amaro Munhoz Samúdio)
CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) > Os Piratas de Guileje (contacto: José Casimiro Carvalho )


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto n.º 12 > Um curioso artefacto produzido por um militar da CCAÇ 3325 (À direita, a sua efígie; de quem seria ?)...

Fotos: © Pepito / AD -Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



2. A origem destas fotos do cor inf ref Jorge Parracho já foi aqui explicada pelo nosso amigo  Pepito, em poste de 15 de janeiro de 2007:

(...) Queria pedir-te dois apoios, embora saiba que tempo é o que tens menos:

(i) Quando aí estive no verão 2006, conheci o Coronel Jorge Parracho que me forneceu excelentes fotos, algumas das quais te enviei. Nessa altura, e por seu intermédio conheci o ex-enfermeiro de Guiledje, Vitor Manuel Rodrigues Fernandes (CCaç  3325) que estava na altura a digitalizar o Livro da Unidade, tendo-mo prometido logo que acabasse (em finais de Setembro). O favor que te pedia era o de, se possível, dares-lhe uma chamada (933323135) para saber se ele já concluiu o trabalho e se te poderia dar esse documento, para tu mo dares.

(ii) Como vou aí na 3.ª semana de Fevereiro, gostaria de contactar com o [Coronel] Coutinho Lima, último Comandante do quartel de Guiledje [ou, melhor, do COP 5], elemento determinante do nosso 
projecto. (...)




Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1972 ou 1973 > Croquis do aquartelamento e tabanca, desenhado à mão pelo Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho (CCAV 8350, 1972/73), e enviado pelo correio a seu pai. Clicar na imagem para ampliar.

Legenda:

(i) Pelo que se consegue perceber nesta infografia, o aquartelamento e a tabanca de Guileje formavam um rectângulo, todo minado à volta, na parte desmatada, com minas, armadilhas e fornilhos;

(ii) A orientação parece ser norte/sul, tendo as peças de artilharia de 11.4, em número de três, apontadas para a fronteira com a República da Guiné-Conacri (a sul);

(iii) Podem ver-se ainda as posições dos morteiros, a verde: dois 81 (incluindo o 'meu', o que era operado pela secção do Furriel Carvalho, do lado oeste, junto a um dos abrigos) e dois 10,7 (ou 120?);

(iv) A oeste, há um campo de futebol, uma pista de aterragem de aeronaves e um heliporto;

(v) Ao longo do perímetro do aquartelamento, há arame farpado, postos de iluminação, postos de sentinela (cinco), abrigos e valas, todos devidamente assinalados;

(vi)  As palhotas da tabanca situam-se dentro do perímetro do aquartelamento;

(vii) O trilho que corre a norte da pista de aviação era o trilho da água, o que significava que as NT e a população precisavam de sair do perímetro defensivo para se abastecer do precioso líquido;

(viii)  A esttrada que atravessava o aquartelamento e a tabanca, no sentido norte/sul era a que seguia para Mejo e Bedanda (a noroeste) e ligava a sul à estrada de Mampatá - Gadamael - Cacine, ao longo da fronteira.

Infografia: © José Casimiro Carvalho (2005)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. 
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Nota do editor:
 

Último poste da série >16 de setembro de 2012 >  Guiné 63/74 - P10390: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte VIII: Mais fotos do álbum do cor inf ref Jorge Parracho, que integram hoje o Núcleo Museológico Memória de Guiledje

Guiné 63/74 - P10412: Convívios (475): I Encontro do pessoal do Pel Rec Daimler 2208 (Mansoa/Mansabá e Bissau) ocorrido no passado dia 28 de Julho de 2012 em Porto Alto (Ernestino Caniço / Carlos Pinto)

 
 Os nossos camaradas Ernestino Caniço (foto da esquerda) e Carlos Pinto (foto da direita), respectivamente: ex-Alf Mil e ex-1.º Cabo Condutor/Apontador Daimler, ambos pertencentes ao Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá, Mansoa e Bissau, 1970 a 1972), deram-nos conta do I Encontro do Pessoal desta Unidade que decorreu em Porto Alto no passado dia 28 de Julho de 2012.



I Encontro do pessoal do Pel Rec Daimler 2208  
(Mansoa / Mansabá / Bissau- 1970/71) 


Após mais de quatro décadas da chegada a Lisboa do pessoal do Pelotão, decorreu este Encontro no passado dia 28 de Julho, no restaurante Os Chancas, em Porto Alto. 

Num primeiro olhar não foi fácil associar muitos de nós aos jovens de então. As fisionomias diferentes, pudera!, uns mais “avantajados”, outros mais “descapotáveis”e alguma “neve” no andar superior. Ainda assim, foi gratificante este encontro, dos tais “rapazes”, que permitiu reviver algo de tempos idos, que marcou a nossa juventude.

Estiveram presentes alguns familiares, provavelmente com paciência para ouvir algumas das nossas histórias.
Dos ex-militares do Pel Rec Daimler 2208 contámos no convívio com 10 presenças, (do total de 14), tendo 2 infelizmente já falecidos e 2 à data incontactáveis

De realçar que foi através o nosso blogue que se conseguiram os primeiros contactos.
Uma palavra especial para o camarada Carlos Pinto, que foi o obreiro das posteriores diligências para a efetivação deste Encontro.

Seguem-se algumas fotos do evento.

Um abraço
Ernestino Caniço
2012.09.11

 
A partir da esquerda (em baixo): José Potra e Carlos Pinto; em cima: Firmino Correia, Manuel Fernandes, Ernestino Caniço, António Proença, Victor Rodeia, Fernando Carneiro, José Romão e Mário Francisco

Militares e seus familiares

Carlos Pinto

A partir da esquerda: : José Potra, Firmino Correia, Victor Rodeia e Carlos Pinto

José Romão

António Proença e Victor Rodeia

Manuel Fernandes, Firmino Correia e José Potra

Mário Francisco e António Proença

Uma vista da sala de jantar

Ernestino Caniço em primeiro plano

A partir da esquerda: António Proença, Fernando Carneiro, Ernestino Caniço e Firmino Correia

De novo o grupo dos 10 magníficos presentes no I Encontro do Pel Rec Daimler 2208. Atrás, a partir da esquerda: António Proença, Firmino Correia, Mário Francisco, Manuel Fernandes, Ernestino Caniço, Fernando Carneiro e José Romão. À frente, a partir da esquerda: Carlos Pinto, Victor Rodeia e José Potra.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10384: Convívios (474): 25.º Almoço do pessoal da CCAÇ 557, dia 27 de Outubro de 2012 em Benavente (José Colaço)

Guiné 63/74 - P10411: Notas de leitura (406): O conflito político-militar na Guiné-Bissau (1) (Francisco Henriques da Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Henriques da Silva (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato, 1968/70), ex-embaixador na Guiné-Bissau nos anos de 1997 a 1999, com data de 9 de Setembro de 2012:

Meus amigos,
Após aturadas e quase sempre frustrantes buscas nas livrarias e na Internet à procura de obras, artigos ou simples referências sobre a guerra civil na Guiné-Bissau, deparei com esta dissertação de mestrado, intitulada “O Conflito Político-militar na Guiné-Bissau (1998-1999)”, que Guilherme Jorge Rodrigues Zeverino publicou através do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD).
A obra tem alguns méritos, mas, como não há bela sem senão, também tem defeitos e registam-se algumas omissões importantes. No fundo, estamos sempre à espera de mais, em particular atendendo a que no caso em apreço se trata de um trabalho de investigação universitário.
Efectuei uma análise crítica dividida em duas partes de que remeto a primeira.

Com os meus cumprimentos cordiais e amigos
Francisco Henriques da Silva
(ex-alf. mil. de infantaria
CCAÇ 2402)


O conflito político-militar na Guiné-Bissau (1/2)

As dissertações académicas – teses de licenciatura, de mestrado ou de doutoramento - não sendo propriamente obras de divulgação e não estando, em regra, acessíveis ao grande público, possuem, via de regra, uma relevante mais-valia em relação às obras do chamado circuito comercial, porquanto se trata do resultado de uma investigação exaustiva, de uma abordagem científica e rigorosa de certos temas, da respectiva análise especializada e, bem entendido, das propostas apresentadas. Tudo depende, obviamente, do produto final. No fundo, as dissertações permitem que outros, alicerçados e confortados com a seriedade do trabalho feito, possam, em momento posterior, difundir de uma forma aberta os pontos de vista expressos ou então contrariar fundamentadamente os resultados aduzidos.

Sob o título algo ambíguo “O Conflito Político-militar na Guiné-Bissau (1998-1999)”, Guilherme Jorge Rodrigues Zeverino publicou no Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), Lisboa, 2005, a sua dissertação de mestrado em Gestão do Desenvolvimento e Cooperação Internacional, apresentada anteriormente, ou seja em Outubro de 2003. Mencionámos que se tratava de um título algo ambíguo, não porque seja enganoso, antes pelo contrário, mas, a nosso ver, não reflecte totalmente a realidade crua e dura que foi uma guerra civil e que carece de adjectivação adicional, apesar de ter sido uma confrontação dita de baixa intensidade. Cremos que o autor, por uma questão de prudência e para evitar eventuais controvérsias, sobretudo a nível universitário – uma vez que a poeira ainda não assentou completamente -, terá preferido a expressão conflito político-militar, que, aliás, utiliza sempre, nesta formulação, ou, mais abreviadamente, o “conflito”. Eu também a emprego, muito embora a considere, como disse, de certo modo redutora. São opções. Respeito-as.

No seu trabalho, Guilherme Zeverino define “hipóteses no âmbito político, económico e social, nomeadamente:

• No âmbito político

- a instauração do regime multipartidário na Guiné-Bissau não contribuiu para a resolução dos conflitos internos no seio do partido no poder, antes pelo contrário, criou as condições para a sua exacerbação;

- No entanto, a instauração do regime multipartidário deu lugar a um reforço da sociedade civil;

- A interdependência entre a crise interna do PAIGC e a crise nas Forças Armadas constitui-se como uma das causas principais do conflito 1998-1999;

- A rivalidade cultural manifestada pelas políticas de cooperação seguidas por Portugal e pela França explicam em grande medida os diferentes posicionamentos que estes países adoptaram durante o conflito, simpatizando e apoiando naturalmente lados opostos.

• No âmbito económico

- A aproximação da Guiné-Bissau à França e à Francofonia mais especificamente com a adesão ao franco CFA (Comunidade Financeira Africana), em Maio de 1997, teve um impacto negativo a nível económico, porque não foi acompanhada de medidas macro-económicas capazes de sustentar o desenvolvimento, criando condições para o aumento da pressão externa, nomeadamente dos Estados francófonos.

• No âmbito social

- A intervenção de tropas estrangeiras (Senegal e Guiné-Conakry) com apoio francês ao lado do Presidente da Guiné-Bissau, e contra a auto-intitulada Junta Militar provocou a adesão em massa da população guineense aos militares revoltosos, associando desta forma a defesa da soberania da Guiné-Bissau ao descontentamento geral relativamente ao estado de sub-desenvolvimento do país.” (pp. 18 e 19).

Todas estas hipóteses de trabalho têm de ser sopesadas. Em nosso entender , algumas constituem pistas seguras ou chaves para a compreensão da guerra civil bissau-guineense, outras, muito embora não atinjam tal desiderato, em nosso entender, não devem ser totalmente descartadas, pois contém elementos de ponderação válidos. Por outro lado, detectam-se omissões no que às causas respeitam. Mas já lá iremos.

Para além de uma introdução, na qual se incluem as hipóteses a desenvolver acima transcritas, o autor inicia a obra traçando uma panorâmica histórica recente da Guiné-Bissau colocando o acento tónico na conflitualidade, desde a luta de libertação nacional à actualidade, o que acaba por ser uma constante da vida colectiva da Guiné-Bissau – e, por maioria de razão, nos dias que correm.

Concentra-se em seguida nas causas internas e externas do conflito político-militar para passar à questão de Casamansa (ou seja, a causa próxima da guerra), ao início da conflagração propriamente dita, à mediação internacional e ao fim do regime de “Nino” Vieira. Dedica um capítulo inteiro ao processo eleitoral e ao restabelecimento da legalidade democrática (serão as consequências mais imediatas e visíveis do conflito; resta saber se estamos perante um restabelecimento genuíno e duradouro da “legalidade democrática” e estamos em crer que não, como os factos supervenientes parecem ter amplamente demonstrado). Termina com um capítulo final (conclusão) em que dá por demonstradas as hipóteses de trabalho anunciadas no início da obra. Neste particular é de salientar, como sublinha, a justo título, Guilherme Zeverino, “que o Estado de Direito e as instituições democráticas na Guiné-Bissau, embora existam formalmente, funcionam com dificuldade e estão em ameaça constante, quer das Forças Armadas quer dos movimentos políticos” (p. 131). E um pouco mais adiante, remata : “podemos considerar a Guiné-Bissau como um país “frágil”, onde os conflitos militares e político-sociais são uma constante, dilacerando e destruindo a estrutura da sociedade guineense” (p. 133). A linguagem é quase eufemística e peca por timidez. Podíamos, sem dúvida, ir um pouco mais longe. Mas respeitamos a posição do autor.

(continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10398: Notas de leitura (405): "Les Héros de la Guinée-Bissau: La Fin D'Une Légende", de Lourenço da Silva (2) (Francisco Henriques da Silva)

Guiné 63/74 - P10410: Em busca de... (204): Camaradas do 15.º Pel Art.ª (Guileje, 1972/73) (Luís Paiva)

1. Mensagem do nosso camarada Luís Paiva (ex-Fur Mil Art.ª, 15.º Pel Art.ª, Guileje e Gadamael, 1972/73), com data de 19 de Setembro de 2010:

Caro Carlos Vinhal:
Pertenci ao 15º Pelart localizado em Guileje e ali estive desde meados de 1972 até à retirada para Gadamael em 1973, ocorrida na sequência dos ataques àquele aquartelamento.

Ao referido 15º Pelart estavam afectos, no tempo em que ali prestei serviço, inicialmente, para além de mim, os ex-furriéis Tobias Queirós e Américo Santos (este veio substituir o furriel José Araújo), o cabo Oliveira (pertencente à seção do Américo Santos) e o alferes Luís Pinto dos Santos, falecido por doença há poucos anos.

Os praças do referido Pelart eram todos africanos mas, para além deles e dos graduados acima referidos, existia ainda um cabo de munições (falecido em ataque a Gadamael, conjuntamente com parte dos praças africanos) e um outro cabo de nome, salvo erro, Neto. Tem havido alguma confusão sobre o destino deste cabo que gostaríamos de ver esclarecida.

No passado sábado, eu, o Santos, o Queirós e o Oliveira juntámo-nos durante uma tarde em convívio e do mesmo resultou uma dúvida sobre o cabo Neto. Estive durante todos estes quase 40 anos convencido que o Neto havia também falecido em combate mas a informação, que os elementos acima me prestam, é a de que quem faleceu foi o cabo de munições.

O Oliveira tinha uma vaga ideia de que o Neto teria sido bombeiro no Minho, supostamente numa das duas corporações existentes, salvo erro, na Trofa. Após, há vários meses, algumas tentativas para aqueles aquartelamentos de bombeiros, fui informado que o pessoal que ali se encontra é todo muito mais novo e não tem ideia de quem seja. Nem na Secretaria das referidas corporações foi possível descobrir algo!

Também o Pinto dos Santos foi substituído pelo alferes Fortes que viajou com o Queirós desde Bissau para Gadamael quando o Queirós regressava de férias.

Nunca mais soubemos do paradeiro quer do cabo Neto (julgamos que é este o nome) quer do alferes Fortes pelo que solicitamos os vossos bons ofícios no sentido de tentar descobrir se estão vivos e onde param.

Será possível a vossa colaboração por vias que se tornem exequíveis para esse objectivo? Um antecipado agradecimento.

Saudações cordiais e os meus cumprimentos.
Luís Paiva
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10397: Em busca de... (203): Exemplar do livro de Fernando de Sousa Henriques "Picadas e Caminhos da Vida na Guiné" (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10409: O Nosso Livro de Estilo (6): O que fazer com este blogue ? (Parte II ): Depoimentos de A. Pires, C. Pinheiro, D. Guimarães, L. Ferreira, B. Santos, C. Rocha, F. Súcio, B. Sardinha , T. Mendonça e JERO






Lisboa > Av Fontes Pereira de Melo > 15 de setembro de 2012 > Arte urbana (ou "street art"), pintura mural em prédios devolutos... Dizem que ajuda a "climatizar" os nossos pesadelos, medos, ansiedades, perplexidades, incertezas, angústias, individuais e coletivas... Lisboa é já uma cidade de referência para os fãs da "arte urbana"... que não deve ser confundida com o "vandalismo" de alguns grafiteiros...

Fotos: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados


1. Continuação dos depoimentos dos membros da nossa Tabanca Grande sobre a questão O Que Fazer Com Este Blogue ? (*)... 

Recorde-se aqui algumas das regras básicas do nosso convívio bloguístico, á sombra do simbólico poilão da Tabanca Grande: por exemplo, (i) não nos insultamos uns aos outros; (ii) não usamos, em público, a 'linguagem de caserna'; (iii) somos capazes de conviver, civilizadamente, com as nossas diferenças (políticas, ideológicas, filosóficas, culturais, étnicas, etc.); (iv) somos capazes de lidar e de resolver conflitos 'sem puxar da G3'; (v) todos os camaradas têm direito ao bom nome e à privacidade; (vi) não trazemos a "actualidade política" para o blogue, etc. 

Recorde-se ainda mais algumas ideias da nossa "política editorial": (vii) O blogue não é nenhum porta-estandarte, nenhum porta-voz, nenhuma bandeira de nenhuma causa... (viii) Somos independentes do Estado, dos partidos políticos e das associações da sociedade civil que de uma maneira ou de outra possam representar e defender os direitos e os interesses dos ex-combatentes portugueses (ou guineenses); (ix) Somos sensíveis aos problemas (de saúde, de reparação legal, de reconhecimento público, de dignidade, etc.) dos nossos camaradas e amigos, incluindo os guineenses que combateram, de um lado e de outro, mas enquanto comunidade (virtual) não temos nenhum compromisso para com esta ou aquela causa por muita justa ou legítima que ela seja... (x) Em todo o caso, a solidariedade, a amizade e a camaragem são valores que procuramos cultivar todos os dias.

Mais comentários, sugestões ou críticas  serão bem vindos! (LG). 


(xii) Armando Pires, 12/9/2012 


Percebo o estado de alma do Henrique Cerqueira. É em tudo igual ao meu. Todavia, ainda que sendo "relativamente" novo nesta casa, deixem-me dizer que, se já despejamos bombarda, uns sobre os outros, quando o filme da guerra não tem o guião do nosso acordo, no dia em que aqui trouxermos a politica, matamo-nos.
Abraços, armando pires



(xiii) Carlos Pinheiro, 12/9/2012 

Caros camarigos: Penso que os dois, cada um à sua maneira, estão cheios de razão. O blogue tem regras que devem ser cumpridas ou então,  se houvesse um consenso alargado, essas regras poderiam vir a ser alargadas, o que será sempre dificil de concretizar consensualmente. Mas enquanto as regras forem as que são, devem ser cumpridas.

Mas de facto, os governantes, todos, que nunca nos respeitaram, que nos souberam mandar para a guerra como carne para canhão, sem condições, basta lembrar como eram feitas as viagens nos porões, sem água para se tomar banho, sem qualquer tidpo de conforto, etc., e depois aqueles 25 meses cumpridos também sem condições desde ofardamento até às instalações militares que não existiam e foram sendo construidas à mão, como era possivel, que até os restos mortais dos nossos camaradas que por lá tombaram tinha a familia que pagar o seu transporte para que eles também pudessem regressar e por isso é que por lá ficaram muitas campas, a maioria delas ao abandono - é bom lembarmo-nos destes pormenore - que viemos e nunca ninguém nos ligou patavina e a prova é a provocação do complemento de pensão que um senhor, que era falador e agora anda calado, inventou, complementp este, se calhar,com estes apertos todos, também irá acabar, se calhar está a chegar a hora para dizermos, alto e bom som, que afinal ainda há muitos sobreviventes que também têm direito a opinião e acima de tudo a ser respeitados.

Não sei se entendi bem a "provocação" para que fossem feitos comentários à conversa entre dois amigos, mas de momento, é o que se me oferece dizer nesta altura em que o país deveria ter a Bandeira Nacional à meia haste por tanta patifaria que muitos têm vindo a fazer, ao longo dos anos, a este País à beira mar encravado, nomeadamente a quem menos tem e mais precisa.

Um abraço solidário para todos, mas, perdoem-me, especialmente para aqueles que estão mesmo a psssar as passas do Algarve, que são cada vez mais. Carlos Pinheiro

(xiv) David Guimarães, 13/9/2012

Entendendo e comungando do espirito do nosso camarada na revolta que se gera e com razão - afirmo -, acho que estes comentários contudo não cabem no nossoblogue... Ele tem a sua definição inicial, não tem tido grandes desvios do essencial e do que se pretende e isso para mim tem rido todo o valor. 

Nunca nos ultrapassamos para além do que se pretende - MEMÓRIAS E RELATOS DA "NOSSA" GUERRA (Guiné)- , sendo que embora sempre um motivo político foge totalmente do âmbito do espírito que nos fez estar aqui a todos...

A indignação ou protestos contra o governo - podendo ser justos, acho que não cabem de todo no nosso canto, portanto tenho uma opinião bem formada de que - nada seja aflorado nesse sentido aqui, na nossa caserna.

Esta minha opinião tem a força que tem, mas que não veja eu isto aflorado no blogue- aí então pensarei que não estou enquadrado e que se desvirtua os princípios aceites por quem cá entrou e faz parte desta grande caserna..

Todos temos as nossas opiniões e concretas sobre o assunto Governo sendo que uns concordam, outros duvidam e outros acham mal - mas não cabe escrever isso no nosso blogue que é pluralista, respeita o pensar de cada cidadão e essencialmente faz o relato da guerra na Guiné e só.... 

Um forte abraço David, ex Furr Mil At. Art e Minas e Armadilhas, Cart 2716 do Bart 2917 - 1970 1972 (...)

(xv) Lázaro Ferreira, 13/9/2012

Luis, sem ler o que o Henrique escreve, deixar implícito na tua resposta de opinião sábia; na verdade, o blogue não pode ser um espaço de ideias, nem uma cartilha de religião e política; será um espaço imaterial de memórias! Como referes, somos um povo bipolar …, e também muito rico, muito pobre, muito culto e muito analfabeto ou num linguagem erudita, ausência de literacia. …, apesar de tudo gosto muito deste meu nosso Portugal;

Como te referi num email atrás, estou com um projeto ao nível profissional que me obriga a alargar horizontes em face da grave crise que há alguns anos assola este no Portugal e que não se vê a última ondulação calma deste nosso mar tenebroso, em que os nossos marinheiros, na linguagem dos Lusíadas, não conseguem dobrar o cabo das tormentas e passar para além da Taprobana (ilha de Moçambique: como não tenho em mão os Lusíadas não sei se a palavra está bem escrita). (...)

Um abraço amigo e bom ano. Lázaro.

(xvi) Beja Santos, 13/9/2012




Luís, Este blogue, tanto quanto sei, propicia as condições para se falar da Guiné, do passado ao presente. Como todas as arenas onde não há pensamento único, enriquece-se os mais desvairados contributos. Há blogues para tratar os problemas atuais, relacionados com a crise que nos assola e muitos outros. 

Graças às facilidades do digital, podemos saltar de blogue em blogue, consoante as matérias. Não estou nada arrependido de me cingir à Guiné, terra que amo profundamente. Não tenho angústias em demarcar as minhas preocupações, utilizando as diferentes redes sociais e outros meios de comunicação. 

O que fazer com este blogue? Mantê-lo disponível para todos os que combateram na Guiné, naquele tempo. E também refletir sobre a Guiné de hoje, com base em princípios. Nada mais tenho a responder-te, tal e tanto gosto do que contribuo a teu lado, e pondo a circular para centenas de confrades, aberto ao mundo. Recebe um abraço de um amigo que te estima profundamente, Mário.

(xvii) Carlos Rocha. 13/9/2012 [, foto não disponível; penso que é apenas nosso leitor, não estando formalmente registado na Tabanca Grande; entrou aqui neste debate pro mão do Manuel Luís Sousa, salvo erro]

 (...) Em relação ao que diz o Henrique, e para ser muito rápido porque neste momento não tenho grande disponibilidade para me alongar, acho que ele tem toda a razão e não vejo qualquer carácter intempestivo na mensagem/alerta que ele faz. Acho até bastante pertinente. 

Têm de se dar umas pedradas nos charcos. Basta de sermos os carneirinhos mansos que vamos para onde nos empurram. O caminho que as coisas levam só pode conduzir a que amanhã os nossos, filhos já não, porque esses também já têm obrigações de cidadania e por isso devem estar ao nosso lado, mas os nossos netos com toda a razão possam dizer: “que covardes que os nossos avós foram ao terem-nos deixado o país que deixaram, ou se quisermos ir mais além, com toda a legitimidade e num âmbito mais alargado, dizer: “que porcaria de europa nos deixaram” ou porque não até: “que merda de mundo é este em que nos deixaram”. 

Neste momento penso que já ninguém tem dúvidas que a origem de tudo isto está na globalização (chinisação) sem regras que os mesmos, e sempre os mesmos que todos conhecemos e não o podemos negar, e que estão sempre na origem do quede mal acontece para viverem à tripa forra, nos impingiram.

Posto isto e dado realmente não ter na minha mão a solução, porque essa está nos poderes, só tenho qu eme disponibilizar, seja pela escrita, seja mesmo pela vinda para a rua, por vontade própria e por convicção, juntar-me aqueles que me convencerem de forma honesta a actuar junto com eles para tentar que as coisas mudem em vez de ficar comoda e covardemente instalado de pantufas na minha zona de conforto à espera que os frutos me venham ter à mão sem eu fazer o que quer que seja para isso, porque é o que acontececom os acomodados que “pensam” que estarão sempre muito bem na vida e por isso não se dispõem afazer o que quer que seja e quando abrem a boca é só para defenderem o seu status quo. 

Mas,  atenção,  que não é vir para a rua gritar “a luta continua”, mais outras frases feitas e gastas e acabar com uma sardinhada, uma churrascada, uns copos e os bombos dos zés pereiras a animar a festa. Tem de ser assunto mais sério e nós, como ex-combatentes,  sabemos que… quem vai à guerra dá e leva, mas também sempre foi assim.

Atentem no que foi a Primavera dos Povos em meados do século XIX. Tenho pena de não ter o endereço do Henrique para lhe transmitir um abraço de solidariedade. Abração a todos, CR  


(xviii) Fernando Súcio, 13/9/2012

O que devemos fazer é e dar-lhe continuidade, não desistir de forma nenhuma, pelo contrário devemos-nos empenhar, ainda com mais força,e avançar, sempre em frente, deteminados.

um grande abraço a todos. 

fernando súcio,


(xviii) Belarmino Sardinha, 15/8/2012


(...) O blogue, tal como o vi e vejo ainda, serve para os militares que estiveram na Guiné como combatentes ou os seus familiares, por lhes terem feito companhia, ou trazerem à nossa memória a lembrança daqueles que já nos deixaram. Serve para que se contem as suas histórias e passagens mais ou menos romanceadas. Serve para se falar da Guiné, das suas gentes e culturas. Serve para lembrar a este povo que ainda existem pessoas vivas quelutaram pela Pátria. Serve para mostrar que nos encontramos unidos por uma mesma causa…
Quanto ao tornar este blogue como um movimento político onde se discutem opiniões estritamente políticas, demagógicas, com interesses partidários e outros que se escondem por detrás, sou frontalmente contra, seria acabar com o que temos, pese o facto de nem sempre estarmos de acordo. Não será já isso suficiente? Não existe já bem definida a política na forma como cada um se expressa?

Na verdade e para ser sincero, não aprecio minimamente qualquer partido político ou qualquer político profissional. Quando se deixa de ser livre para respeitar as decisões dos órgãos de um qualquer partido, mais não se é que uma marioneta à procura de uma oportunidade, perdeu-se a liberdade, aquela por que todos dizem ansiar e nada tem isso que ver com solidariedade ou espírito de grupo, companheirismo ou o que lhe decidam chamar…

Acredito cada vez mais nos homens, sejam de direita ou esquerda, naquilo que fazem e nãonaquilo que dizem querer ou prometem fazer. Acredito no serviço público praticado sem contrapartidas, por aqueles que a ele se dedicam sem fazer dele carreira, apenas como missão de serviço a que todos estamos obrigados…

Enfim, havia aqui conversa para um sem número de horas, dias, meses ou até anos… Voltando ao teu blogue, ao nosso blogue, volto a referir que estou contigo, não vejo como bom alargá-lo à política pura e dura, existem entre aqueles que nele estão, por certo, elementos disciplinados partidariamente e outros que levaria a fricções insanáveis. A nossa política, onosso espírito de grupo, a nossa solidariedade, a nossa missão deverá ser levar a cabo a lembrança de que houve guerra, o registo para memória futura, como é moda dizer-se, a Guiné foi o nosso centro e os nossos camaradas, vivos ou mortos são e devem ser a nossa razão.

Espero ter sido suficientemente claro, desculpa se me alonguei. Um abraço, BS


(xix) Torcato Mendonça, 18/9/2012  [, comentário ao poste P10402 *]


(...) Por razões pessoais, não relevantes para o Blogue, não tenho seguido com a habitual atenção o que aqui se escreve. Sinceramente espero vir a fazê-lo. Sem me adiantar muito, sem esperar pela parte II, penso que este tema já foi aqui suficientemente debatido.Há regras e há a vontade colectiva de dar continuidade ao "escrito" primeiro, á base que lançou este projecto. Já estou por aqui há mais de seis anos, muitos sabem o meu pensamento politico e muitos sabem também que tento ao máximo respeitar a pluralidade opinativa.

Falar de politica aqui? NÃO ! Menos agora nestes tempos de pouca serenidade. O objectivo do Blogue está definido, quem aqui está conheço-o. Pois sigamo-lo então.

Nada mais ou vou dizer só: a Net está cheia de blogues que tratam desses assuntos, de assuntos de ex-combatentes e de politica e saudosismos,  etc. Quem quiser pode participar neles. Contudo respeito opiniões diferentes da minha e fico por aqui. (...),

(xx) JERO [, aliás, o último monge de Alcobaça...], 19/9/2012   [, comentário ao poste P10402 *]

 (...) Em minha opinião o nosso Blogue não deve encaminhar-se no sentido de ser um fórum político. Poderia, em pouco tempo, perder-se um património único de memórias que custou tanto a recolher. E a esse extraordinário trabalho de recolha seguiu-se uma notável divulgação graças a uma extraordinário conjunto de boas vontades.

Como refere o Hélder Sousa …«para expor teses político-partidárias existe o Facebook. É de leitura mais rápida, pode-se 'amandar' bocas à vontade e há à disposição para todos os gostos».  Neste ponto estou particularmente à vontade para opinar pois tornei-me nos últimos tempos um “face-ò-dependente”.

Vamos manter este nosso espaço isento e apolítico. Digo eu com inteiro respeito por outras opiniões que não coincidam com a minha. (...)
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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10402: O Nosso Livro de Estilo (5): O que fazer com este blogue ? (Parte I) : Depoimentos de H. Cerqueira, L. Graça, A. Branquinho, J. Manuel Dinis, J. Mexia Alves, J. Amado, Manuel L. Sousa, José Martins, Hélder Sousa e Eduardo Estrela

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Guiné 63/774 - P10408: Ser solidário (136): Vamos arranjar uma sepultura condigna para o senhor Coronel Inf.ª Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos (Carlos Jorge Pereira)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Jorge Marques Pereira, ex-Fur Mil IOI, COP 3 (Bigene e Guidaje, 1972/74), com data de 15 de Setembro de 2012:

Camarada Luis Graça:
Venho por seu intermédio solicitar que na sua lista de contactos ou por intermédio do seu blogue, transmita este meu apelo.

Obrigado
Carlos Jorge Marques Pereira
Ex-Fur Mil IOI - COP 3 - 1972-1974
Bigene- Guidage
carlosjmpereira@hotmail.com


APELO

No passado mês de Agosto, fui mais uma vez visitar o nosso antigo Comandante Sr. Coronel de Infantaria CARLOS ALBERTO WAHNON MOURÃO DA COSTA CAMPOS que se encontra sepultado em Sesimbra.

Fez este ano, em 8 de Agosto, seis anos que o mesmo faleceu e a sua sepultura abandonada desde essa data.

Dentro de um ano os seus restos mortais irão ser levantados e, caso não sejam reclamados pelos familiares, serão transferidos para uma vala comum.

Por essa razão, apelo a um ou dois antigos colaboradores e amigos do nosso Comandante e amigo que se juntem a mim, para falarmos com a família e caso não mostrem interesse, sermos nós a tratar e a pagar uma sepultura condigna e perpétua.

Para o efeito devem contactar-me para delinearmos a estratégia.

Ex-Fur Mil IOI- Pereira
carlosjmpereira@hotmail.com
Bigene e Guidaje 1972-74
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Setembro de 2012 > Guiné 63/774 - P10333: Ser solidário (135): A Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau vai realizar um Encontro no dia 22 de Setembro de 2012, a partir das 12h00, no Monte dos Burgos - Matosinhos

Guiné 63/74 - P10407: Passatempos de verão (13): Lorde Byron e o cerco de Missilonghi (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com uma passagem da sua recente viagem, este Verão, à Grécia.

Lorde Byron e o cerco de Missilonghi

Beja Santos

Fui passar uns dias à Grécia, o pretexto era um casamento em Neo Paramos, uma cidadezinha no golfo Sarónico, entre Corinto e Atenas. Com um calor fervente, fui até às ruínas do Santuário de Deméter, em Eleusis, ali perto, na véspera da festa, e, celebrada a boda, rumei para o nordeste do Peloponeso, na mira de ver a montanha Zíria, Nemeia, Micenas, o teatro de Epidauro e Napflio, a primeira capital da Grécia, entre outros alvos.

O maciço montanhoso em que se inscreve Zíria é de cortar a respiração, é uma pedra cinzenta, com uns tons azulados, a vegetação vai por ali acima amarinhando mas os fraguedos querem-se desnudados para que o turista os contemple entre o assombro da natureza escalvada e a noção da sua pequenez enquanto mirone. Foi nessa deambulação que cheguei ao mosteiro de S. Jorge onde captei uma imagem que me encheu as medidas, à entrada da igreja, num espaço que penso ser uma sacristia contemplei desvanecido este lido fresco.

Mosteiro de S. Jorge, no nordeste do Peloponeso

E daqui seguiu-se para Micenas, era uma revisitação, estivera lá há cerca de 4 anos, então comovi-me a valer, agora vinha à espera doutro tipo de fruição, incluindo a visita ao museu. Comecei pelo Tesouro dos Átridas, uma construção ímpar da Idade do Bronze e depois Micenas, as suas muralhas ciclópicas e, claro está, quedei-me boquiaberto em frente da Porta dos Leões, a primeira construção monumental do seu género. Deu para lembrar que muitos dos heróis da Ilíada partiram daqui.

Porta dos Leões, em Micenas, vendo-se um troço das muralhas ciclópicas 

Depois o grupo decidiu que devíamos ir à procura do mar, que é coisa que não falta num país que tem mais de 1400 ilhas. Rumou-se para Patras, e um pouco antes de lá chegar cometi a asneira de dizer a ingleses que ali perto estava a cidade de Missilonghi, onde morrera um dos maiores bardos românticos ingleses. Bonda de praia, queremos ir a Missilonghi ver como os gregos guardam memória do mais sagrado dos seus heróis estrangeiros. A torreira ao sol não dava tréguas, nem comendo as espetadas tradicionais acompanhadas de uma boa cerveja fresca. Impacientes, a suar em bica, fomos todos para o Jardim dos Heróis Sagrados, em Missilonghi.

Talvez valha a pena determo-nos um pouco sobre este local mítico, tanto para gregos como para ingleses.

A guerra de independência da Grécia estendeu-se por toda a década de 20 do século XIX, portanto precedeu o período das grandes lutas de libertação europeias. Recorde-se que durante mais de quatro séculos o Império Otomano controlou a Grécia. Os gregos viram preservadas a cultura e as tradições, a Igreja Ortodoxa Grega foi respeitada, mas os gregos estiveram submetidos e sem quaisquer direitos políticos básicos. Assim que os gregos deram sinal de revolta, em 1821, logo cresceu o Filelenismo (a simpatia pela causa grega) por toda a Europa. É por isso que o Jardim dos Heróis Sagrados da Grécia acolhe lápides alemãs, francesas, russas e outras. Byron é já um poeta consagrado quando parte da Albânia para a Grécia, recolhera fundos e dirigiu-se para Missilonghi, na Grécia Central. O sultão otomano, verificando uma série de desaires tanto na guerra marítima como em solo continental, pediu a intervenção egípcia. Os egípcios concordaram em enviar os exércitos para a Grécia em troca de Creta, de Chipre e do Peleponeso. O sultão aceitou e Ibrahim Paxá invadiu a Grécia. É neste contexto que dá o cerco de Missilonghi que acabará num desaire para os gregos depois de uma enorme resistência ao longo assédio.

Byron, uma figura quase odiada em Inglaterra, tornou-se o ídolo dos gregos. E assim eles reservaram-lhe o lugar central do jardim, sobe-se uma alameda flanqueada por ciprestes e ali temos o monumento, Byron olha-nos sobranceiro, vestido com distinção.

Lorde Byron com honras no melhor espaço do Jardim dos Heróis Sagrados da Grécia. Os seus restos mortais seguiram para Inglaterra, mas por sua decisão o seu coração está aqui sepultado

Um dos panos da muralha de Missilonghi que sobreviveu aos desgastes do tempo. Houve o cuidado de as preservar, constituem um dos pontos altos do Jardim dos Heróis Sagrados da Grécia

O calor era insistente e não dava tréguas, mas impunha-se visitar o museu de Missilonghi, um quilómetro adiante, também ali Lorde Byron põe e dispõe, é o verdadeiro rei da festa. A cambalear, fomos refazer as forças no café Byron, bebendo um bom café gelado, e depois entrámos gloriosamente no museu. Deu para perceber o papel iconográfico que ainda hoje desempenha o autor de Childe Harold, o tal poema que cantou as belezas de Sintra, sim estamos a falar do mesmo Byron que classificou Sintra como um Éden.

Uma das salas do museu de Missilonghi destinadas a Byron

E saímos de Missilonghi eufóricos, durante a viagem de regresso discutimos as lutas de libertação europeias, ninguém esqueceu Garibaldi e todos os outros heróis nacionais. Alguém falou num quadro célebre de Delacroix dedicado ao sofrimento dos defensores de Missilonghi e intitulado Grécia sobre as Ruínas de Missilonghi. Vale a pena ver o quadro com algum pormenor.

Eugène Delacroix apresenta o episódio na forma de uma alegoria, onde a Grécia, em seu ideal de liberdade, é apresentada como uma mulher em trajes brancos, luminosa, de braços estendidos e colo nu, como que ascendendo sobre as ruínas da cidade a seus pés. Todo o restante da obra é dominado pelas trevas. Sob as pedras destruídas da cidade, surge o braço de um homem, que segundo algumas interpretações, seria uma referência explícita a Byron.

Urgia pôr termo à deriva cultural, atravessou-se a ponte em Patras, voltou-se ao Peloponeso, chegara a hora do banho nas águas de Corinto, a água era um caldo e antes do regresso, entre alguns dedos de conversa onde Missilonghi veio à baila, bebeu-se mais um café gelado para fazer horas para nos sentarmos em frente ao golfo Sarónico, a ver Salamina ao fundo, a comer uma espetada de peixe. Tinha sido um dia diferente, uma visita singular aos movimentos de independência na Europa do século XIX.

É com muita alegria que se faz esta notificação para todos os confrades do blogue.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10405: Passatempos de verão (12): Mensagem bem humorada (Álvaro Vasconcelos)