quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10339: História da CCAÇ 2679 (52): Vietnam (José Manuel M. Dinis)

1. Em mensagem do dia 31 de Agosto de 2012 o nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), enviou-nos mais um pouco da história da sua Unidade que é também a história da sua vivência enquanto combatente da Guiné:


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (52)

VIETNAM

Sentara-me sobre a mesa de ping-pong (ténis-de-mesa para os puristas) encostada à parede e à janela do meu quarto, sob o alpendre do edifício da messe, chinelinhos enfiados nos dedos dos pés, e tronco nu. Era ali que costumava aguardar pelo crepúsculo, pois tratava-se de um lugar privilegiado para ver o pôr-do-sol, numa direcção que a partir dali passava entre a saída para Pirada e o edifício do comando. Havia dias em que me regalava a ver riscos de luz amarela e rosa a salpicar o fundo azul do firmamento.

Tinha assistido à chegada da coluna,e ao habitual movimento de gente em torno das viaturas, que descarregavam civis e militares, aqueles atafulhados de sacos de pano ou alguidares coloridos, onde faziam transportar os seus bens adquiridos nos armazéns do Gabú, os militares que se sacudiam, e de armas a tiracolo, ou ao ombro, carregavam as cartucheiras e demandavam os abrigos para banhos merecidos. Afluíam outros militares à secretaria para a distribuição do correio, que, de tão desejado, se fazia antes que tudo. Do lado de fora do arame, sob as mangueiras, alguns civis faziam perguntas a quem chegava sobre amigos, familiares, condições de comércio, etc, e davam sonoras risadas que mostravam as cremalheiras de onde sobressaíam os dentes brancos, enquanto dobravam os corpos reflexamente, ou, perante algum regressado depois de longo tempo, ficavam de mãos dadas e conversavam afável e curiosamente.

Os meus camaradas, depois das saudações e aldrabices habituais, tinham ido para o interior, para o banho e preparação para a janta.

Sem me ter dado conta, aproximou-se um militar bem aprumado, da minha estatura, magro mas bem constituído e muito moreno, de nariz aquilino, algo rude, e olhar encovado, que perguntou por mim. Era eu, respondi. De imediato, o recém-chegado bateu o tacão, perfilou-se, levantou a perna direita esticada a noventa gaus, voltou a juntar os pés com novo batimento, e começou a apresentação, enquanto eu me colocara na posição de sentido em correspondência àquele cumprimento. Era o soldado Lapa, proveniente da 26.ª CComandos, que passava a integrar o segundo pelotão, o Foxtrot, inicial de muitos significados. Foi no dia 17JAN71.

Cumprimentei-o civilmente em seguida, perguntei-lhe se precisava de alguma coisa, pedi a um camarada para lhe providenciar uma cama num abrigo, e disse-lhe que de manhã iríamos à lenha, pelo que se não estivesse ocupado, poderia logo acompanhar-nos e começar a conhecer o pessoal. Ainda lhe acrescentei que o decorrer do tempo e o espírito do grupo, seria a melhor maneira de nos irmos conhecendo. De facto, quando nos calhava ir à lenha pelas redondezas, metade do pelotão folgava. Montava uma segurança próxima de uns quatro elementos, enquanto os restantes faziam a colecta. Normalmente, eu não ia. Naquela vez, porém, talvez e em correspondência a comentários sobre a rica vida, e com o sentido acrescentado de avaliar a integração do novo elemento, de manhã estava pronto a seguir. E abalámos. Chegados ao local, designei os quatro para a segurança, e iniciámos a recolha e acondicionamento da madeira na viatura. A certa altura o Lapa aproximou-se bem disposto e comentou sobre a minha actividade, a que respondi, que nem aquilo era um trabalho pesado, nem me caíam os parentes. No Foxtrot o principal era o espírito de equipa e a solidariedade.

Pelas vias normais tive conhecimento de que o Lapa viera transferido por motivos disciplinares, mas não tive interesse e até hoje não sei dos motivos em concreto. Pela malta fiquei a saber que tínhamos então entre nós um tipo valente e alcunhado de "Vietname". Mais tarde vim a considerar que o próprio teria contribuído para a alcunha com alguma auto-promoção. Nos intervalos em que conversávamos, ele manifestava uma certa admiração pelas lendas, nomeadamente pelo Ché Guevara, na época muito em voga. De uma das vezes, senti que ele gostaria de ter mais protagonismo na guerra, provavelmente, também, no sentido de conquistar créditos, quiçá abalançar-se a níveis de projecção entre a guerrilha, e que fosse temido pela bravura. Tentei explicar-lhe que entre nós e o Ché não era possível estabelecermos qualquer comparação. Em primeiro lugar, porque éramos portugueses, mobilizados pelo governo, para actuarmos na defesa dos territórios ultramarinos, e fazíamos a guerra enquadrados numa qualquer estratégia do ComChefe a que éramos completamente alheios, enquanto o Ché, de nacionalidade argentina, era um licenciado em medicina, que tinha uma visão universalista e participava na luta pelo lado dos pobres e explorados contra o poderio dos estados. Por isso combatera em Cuba, e na ocasião deambulava pela América do Sul, onde era comandante de um grupo de guerrilheiros (só muitos anos mais tarde tive conhecimento de actos da sua responsabilidade, abafados pela informação e pelas autoridades cubanas, que me causaram uma negativa perplexidade).

Outra ocasião alongou-se numa conversa sobre as minhas capacidades, e achei que tinha de lhe perguntar, se queria andar à porrada comigo. Que não! Estávamos só a falar. Estas circunstâncias levaram-me à conclusão de que aquele Foxtrot andava meio perdido, que seria capaz do melhor, como do pior, e que aconselharia a prudência andar de olho nele para me antecipar a qualquer acto mais exagerado ou inconveniente.

Depois vim a saber, que no abrigo onde dormia o Lapa, com frequência havia petiscos de galinha, e que ele costumava atravessar o arame para ir a Amedalai, a coberto da noite, para as "controlar". Preferi não tomar conhecimento disso, pois teria que o proibir dessas saídas. O risco era relativíssimo, e estou convencido que se o proibisse, ele desobedeceria e teria que passar ao papel. Mas o ambiente em redor dele era bom, e a integração não levantava dúvidas, até que um dia, seguia eu à frente de uma patrulha de combate com a finalidade de interceptar eventuais travessias da fronteira entre Bajocunda e Pirada, ouviu-se um tiro. Parei. Atrás de mim todos pararam. Mantinha-se o silêncio. Um tiro sem motivo, no ambiente do Foxtrot era pecado. Movimentei-me ao longo do pessoal, olhando-os, sem dizer palavras, apenas a avaliar. Quando me aproximei do Lapa não tive dúvidas, o seu ar zombeteiro, o corpo arqueado e o olhar de viés, denunciaram-no. Para onde atiraste? - perguntei-lhe. Respondeu que para um pássaro. Onde está o pássaro? - voltei a perguntar. Respondeu secamente que não lhe tinha acertado. O tiro, o diálogo, e alguma insolência manifestada, já me impulsionavam. Em fracções de segundo teria que resolver a situação. Levantei a arma que estava suspensa da mão direita, e apontei-a para a cabeça, enquanto lhe disse, olhos nos olhos: Se voltas a atirar sem autorização, rebento-te a caximónia.

Escuso de referir que, quando me chateava, apresentava um ar bastante persuasivo. Olhámo-nos uns segundos, baixei a canhota, virei-lhe as costas e retomei o caminho.

A verdade é que resultou. Daí para diante o Lapa era um Foxtrot alegre e companheiro, e uma mais-valia relevante em caso de sofrermos alguma surpresa da banda do IN. Nenhum de nós ficou com ressentimentos, nem na história, e hoje pertencemos à massa anónima de cidadãos, dos que labutam para viver, e faço votos, dos que movidos pela solidariedade estarão sempre prontos para ajudar quem precise, afinal, uma das lições que ingénua e romanticamente retemos do Ché.

Nota triste: Vítima do bicho-mau, faleceu recentemente o Cabral, outro elemento Foxtrot que nos deixa mais pobres. À sua família apresento sinceros pêsames.

Um grupo Foxtrot no regresso da lenha. Da esquerda para a direita: Gonçalves, Rodrigues (Mama Sono), Santos, Faria, Pauleiro (de G-3), Zip-Zip (condutor fantástico), Dinis e França
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10053: História da CCAÇ 2679 (51): Uma dívida por pagar (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 - P10338: Blogoterapia (215): Obrigado por me terem na vossa lista de amigos e camaradas (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), a propósito do seu aniversário festejado ontem dia 5 de Setembro de 2012:

O dia está a chegar ao fim.

Os convidados – FILHOS, FILHOTES E NETOS – já recolheram às suas casas, que amanhã é dia de trabalho ou de estudo.

Mas falemos de BLOGUEFORANADAEVAOTRES…

Quando começaram as mensagens de parabéns? Não sei, não fui ver e, claro, no momento não tem interesse. A mensagem inicial evoluiu para, além da “típica mensagem” dos administrador e editores, passou a conter outras mensagens de carácter mais pessoal.

Chegou-se à conclusão de que ERA DEMAIS, talvez fosse de acabar com essas mensagens, mesmo as “tradicionais”. Por bem essas não acabaram.

Os editores continuaram a inscrevê-las nas tarefas habituais e assim continuaram. Depois, na sã convivência, e por que não fraternidade, quem quer e quem pode, anota um “comment” expressando os seus votos ao membro festejado.

Li, também algures, que o facebook veio retirar “importância” ao blogue. Nada mais errado ou, pelo menos, não tão verdadeiro como pensamos. Foi com satisfação que vi, aos poucos “segundos” do dia, aparecer o post que me felicitava. Li com interesse, as muitas mensagens que me dirigiram, não só no blogue, mas por telefone, no mail e no facebook. Repetiam-se? Que importa? Não é o número de mensagens nem o número de vezes que cada um dedica ao “seu camarada de armas”. É a amizade, a camarigagem, que cada mensagem revela.

É bom fazer anos, porque relembramos, com mais acuidade, os nossos camaradas. E mais. Hoje festejei o 159.º aniversário de nascimento do meu avô paterno. Só no decurso deste ano tive acesso a essa informação.

Por isso brindei à alegria e aos amigos. 

Obrigado a todos, sem excepção, por me terem na vossa lista de amigos e camaradas.
José Martins
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10331: Parabéns a você (469): José Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)

Vd. último poste da série de 23 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10292: Blogoterapia (214): A minha Praia (Henrique Cerqueira)

Guiné 63/74 - P10337: Convívios (470): 4ºEncontro de Gerações de Lanceiros Policia Militar/Policia do Exército, Portalegre – 20 de Outubro de 2012 (Nuno Esteves )


1. Recebemos do nosso Amigo e visitante, Nuno Esteves, ex-Soldado PE do 1º Turno 94, o pedido de divulgação do seguinte programa festivo. 

4.º Encontro de Gerações de Lanceiros 

Polícia Militar (PM) / Polícia do Exército (PE) 

DATA DA REALIZAÇÃO DO EVENTO: 20 de Outubro de 2012

HORA DE INICIO: 10H30

LOCAL DO EVENTO: Portalegre, restaurante "O Cordas"

DISTRITO DO EVENTO: Portalegre

INSCRIÇÃO (TELEFONE, E-MAIL OU OUTRO CONTACTO): E-mail: kitlav@gmail.com

NOME DO RESPONSÁVEL PELO EVENTO: Jorge Marcelino

TEXTO DO EVENTO: Saudações Lanceiras caros camaradas PM e PE. Vai realizar-se no dia 20 de Outubro de 2012 em Portalegre, o 4.º Encontro Gerações de Lanceiros Policia Militar / Policia do Exército.

Programa do Evento

Ponto de Encontro: 10h30 junto à porta do Centro Instrução de Praças da GNR em Portalegre, com visita às instalações do ex-CIPE (Centro de Instrução de Policia do Exército). Após fim da visita, deslocação para o restaurante "O Cordas" que sita na Avenida da Liberdade, n.º 47, 7300-065 Portalegre (São Lourenço). 

Ementa do almoço

Entradas: Enchidos da Região
Sopa: Sopa de Legumes ou Canja.
Peixe: Bacalhau á Brás.
Carne: Vitela Assada no Forno ou Carne de Porco á Alentejana.
Sobremesas: Doces e Fruta Variada
Bebidas, Café e Digestivos ~

Preço por pessoa: 18,00€ + 1€ para o bolo
Confirmação ou marcação de presença para o e-mail kitlav@gmail.com
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P10336: Do Ninho D'Águia até África (7): O abastecimento ao aquartelamento (Tony Borié)

1. Continuação da narrativa "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agrup 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177.


Do Ninho D'Águia até África (7)

O abastecimento ao aquartelamento

Os militares que por essa altura viviam diariamente no aquartelamento, eram entre cento e vinte e cento e cinquenta, aproximadamente. Mais tarde, com o crescimento da guerra, chegou a suportar à volta de quatrocentos, com um movimento, bastante fora do normal, com chegadas e saídas de militares, e equipamento bélico.

A sua localização permitia-lhe ser uma espécie de posto avançado da fronteira. Daqui saíam para o verdadeiro interior da província, onde a guerra se intensificava cada vez mais. Aqui se organizavam operações de destruição de bases inimigas que normalmente duravam um só dia, com saída pela madrugada e chegada antes do anoitecer. Estava localizado num local estratégico.

Neste momento viviam diariamente entre cento e vinte e cento e cinquenta militares. O sistema de colheita de géneros para a alimentação de todos os militares era suportado, na sua maior parte, pelas aldeias à volta do aquartelamento.

Da capital da província chegava farinha, vinho, azeite, óleo, batatas, feijão, sal e outras especiarias, latas de conserva, cerveja e outros licores, e mais uns tantos produtos. Alguns vegetais, alguma fruta, peixe e carne eram comprados aos habitantes das aldeias, nas redondezas do aquartelamento.

Todos os contactos com os habitantes dessas aldeias era processado através de um africano, em quem os militares confiavam, e que vivia com a sua família na tal aldeia, com casas cobertas de colmo que ficava próximo do aquartelamento. Peixe não faltava. Pelo menos cinco a seis vezes por semana a ementa era “peixe frito e arroz da bolanha”, que queria dizer, do pântano, algum ainda com casca! Havia o típico “rancho”, que era uma mistura de massa, batatas, chouriço, carne de vaca, legumes, feijão, grão de bico, às vezes cenouras, e que quando vinha o recipiente com a comida para a mesa, havia sempre um conflito, pois uns só queriam feijão, outros só chouriça, outros só carne de vaca e outros só massa e feijão.

Enfim, compreendia-se.

Uma, às vezes duas vezes por mês, também havia bifes e batatas fritas. Nessa altura havia voluntários para trabalhar na cozinha, entre os quais se encontrava o Cifra.

A carne de vaca que se consumia no aquartelamento era de animais comprados nas aldeias das redondezas, como já se explicou. Uma ou duas vezes por mês saía uma secção de combate com alguns voluntários, acompanhados por esse tal africano, em quem os militares confiavam. Iam a determinada área, onde havia algumas pastagens, falavam com o dono ou quem estivesse encarregue aos animais, acertava-se o preço e procedia-se ao abate dos animais, que mesmo ali, eram esquartejados e só traziam as partes que lhes interessava, já limpas.

A todo este processo chamava-se “Operação Vaca”!

Era uma operação a que o Cifra, sempre que estava de folga, ia como voluntário. Compravam e bebiam aguardente de palma, comiam fruta de caju, mangas, maduras e grandes. Alguns ficavam sobre influência, e os companheiros vendo isso, logo lhe tiravam a arma das mãos.

De uma certa vez, já depois de todo o serviço, quando se preparavam para carregar as partes limpas dos animais, os militares sofrem uma emboscada, com tiros de metralhadora, vindos de um dos lados, onde havia algumas árvores rasteiras com bastante capim. O tal africano em quem os militares confiavam, e que nesse momento se encontrava um pouco distante dos militares, levou vários tiros na região do peito e morreu instantaneamente. Mais dois militares ficaram feridos, um com uma bala alojada numa perna, um pouco acima do joelho, e outro deitava bastante sangue de um lado da anca, com uma bala que lhe passou a raspar essa área do corpo, mas de raspão, só o feriu. Foi um ataque de uma fracção de segundos, de alguém que estava à espreita, procurando a ocasião certa para atacar. O chefe da secção de combate, militar já com bastante experiência, flagela a área de onde vieram os tiros com diversas rajadas de G-3, no que é seguido por outros militares que disparam para o local.

Não havendo, tiros de resposta, e antes de inspecionar o local de onde vieram os tiros, houve um soldado que para lá queria mandar uma granada o que foi impedido de fazer pelo chefe da secção, militar muito experiente, que disse:

- Eu conheço este tipo de ataques, foi só uma ou duas armas que dispararam, creio que se não disparam mais é porque não têm munições, fugiram pois já fizeram o que quiseram, ou estão mortos, eu vou na frente e vamos inspecionar.

Aproxima-se, dispara mais uma rajada rente ao chão e em circulo, e quando tocaram no capim, tentando afastá-lo com a mão, viram dois guerrilheiros. Um já morto e o outro alvejado nas pernas, acima dos joelhos, pois era daí que vinha um grande rasto sangue, tentando mover-se em direcção oposta. Tinham duas metralhadoras com os carregadores já vazios. O que estava vivo barafustava numa linguagem que não se compreendia, mas pelos gestos não estaria a desejar as boas festas a ninguém.

Um dos voluntários, o Banana, talvez sobre influência, depois de ver o africano morto e os colegas lastimando-se com dores dos ferimentos que tinham, avança para o guerrilheiro, com uma faca em punho, gritando:

- Deixem-me matar este este filho da puta!

Tentando cortá-lo na região do estômago. O Cifra salta para cima dele, tentando impedi-lo, foi ferido na mão e alguns dedos, coisa sem importancia, pela faca do Banana.

Mas este gesto do Cifra não teve qualquer importância, pois o guerrilheiro acabou por morrer, tinha mais ferimentos de balas de um lado, nas costas.

O Banana, sem a faca, e vendo o Cifra a sangrar na mão, começa a chorar e a gritar:

- Perdoa-me, oh Cifra, mas estava fora de mim.

O Cifra era amigo do Banana.

Regressados ao aquartelamento, os feridos foram evacuados para o hospital da província. Mais tarde veio a saber-se que os guerrilheiros já andavam a tentar matar o africano, amigo dos militares há bastante tempo. O seu corpo creio que ficou enterrado no cemitério da vila. Os corpos dos guerrilheiros mortos ficaram a cargo do dono das pastagens, que disse num português que quase não se compreendia, com uma voz bastante firme que se encarregava deles.

Mais tarde esse homem, dono das pastagens, apresentou-se no aquartelamento dizendo que alguns guerrilheiros vieram buscar os corpos dos seus companheiros e que lhe levaram parte dos seus animais, que todos os seus animais pertenciam ao movimento de libertação e eram um contributo para a guerra de independência. Este homem pediu alguma protecção para si, para as suas três mulheres, duas filhas e um filho, dos quais mostrou documentos de identificação passados pelos serviços da tal repartição que funcionava como câmara municipal, que existia na vila, e que já aqui falámos, e que era melhor que não o procurassem mais, pois não podia vender mais animais, de contrário iriam matá-lo.

O comando incluiu a área das pastagens nos patrulhamentos de rotina, e passado uns dias, os militares passaram por essas pastagens que já não existiam. Não viram nem um animal, nem o dono nem a sua família, a casa de colmo estava abandonada e as cercas do gado destruídas.

Alguns reportes com informações passaram pelas mãos do Cifra, onde diziam que os guerrilheiros levaram os animais, o homem, as suas três mulheres, as duas filhas e o filho, abateram os animais e os consumiram nas suas diferentes bases, e tanto o homem como a sua família, agora eram guerrilheiros e desempenhavam diferentes tarefas em diferentes bases, o filho que pouco mais era do que uma criança, até estava a receber treino de guerrilha num país estrangeiro.

A partir dessa altura não houve mais bifes e batatas fritas, a carne era considerada um luxo, havia muita dificuldade em obtê-la e chegou a vir alguma da capital da província, mas pouca que normalmente era consumida na messe dos oficiais superiores, onde o Cifra ia roubar alguma comida, com o consentimento do sargento da messe, que era seu amigo e a quem o Cifra ajudava a fazer as contas no final de cada mês.

Para os restantes militares no aquartelamento a ementa era “peixe frito e arroz da bolanha”, cinco ou seis dias por semana, intervalada com o típico rancho, onde alguns só queriam, chouriça, outros só feijão, outros só massa, outros só massa e feijão! Alguns tinham alguma sorte, pois calhava-lhe um bocadinho de carne de galinha.

Enfim, compreendia-se.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10285: Do Ninho d'Águia até África (6): Apanhado pelo clima (Tony Borié)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10335: Notas de leitura (397): A Viagem do Tangomau - Memórias da Guerra Colonial Que Não Se Apagam, de Mário Beja Santos (1) (Carlos Vinhal)

Apresentação do livro "A Viagem do Tangomau", de Mário Beja Santos, no dia 19 de Junho de 2012, no Auditório da Associação Nacional das Farmácias


A VIAGEM DO TANGOMAU – 1

Carlos Vinhal

A Viagem do Tangomau - Memórias da Guerra Colonial Que Não Se Apagam (Temas e Debates/Círculo de Leitores, Junho de 2012) é o último livro de Mário Beja Santos que relata a sua viagem iniciada em Abril de 1967, quando é incorporado, como Cadete de Infantaria, na EPI de Mafra, culminando com a recente visita de saudade à Guiné-Bissau, em Novembro de 2010, com o propósito de revisitar locais, jamais esquecidos, e rever camaradas e irmãos de armas.

O livro começa com os preparativos para a entrada no Serviço Militar, acontecimento que vem alterar profundamente a vida de um jovem funcionário público. Ficamos a saber como foi o seu último dia como civil, as despedidas dos amigos mais próximos, as últimas recomendações das senhoras da família e o arrumo das malas onde não podiam faltar os livros. Chegado o grande dia, foi a viagem de comboio até Malveira e depois de camioneta até Mafra. Somos depois impressionados pela descrição pormenorizada do Convento de Mafra, onde está instalada a EPI, dos seus corredores e salas, respectivos nomes, cores e até cheiros. A recepção aos Cadetes na Escola, a adaptação sempre difícil à nova situação de militar, os camaradas que se conhecem e os amigos que se criam para sempre. A nova vida começa ali mesmo quando se experimentam as peças de fardamento que durante alguns anos irão fazer parte da indumentária. Ouvem-se os primeiro mimos: - A menina vem com uns caracóis muito grandes…, ou: - Vá já ali ao barbeiro, à tosquia.

O início da instrução, a confusão das formaturas, das palavras de ordem, dos toques de clarim para tudo e mais alguma coisa, a ginástica, a aplicação militar, os crosses, a instrução nocturna, a táctica e o armamento. A alegria das idas para o fim de semana, a ocupação dos tempos livres na indispensável leitura e a exploração da Vila da Mafra.

O tempo passa e a Recruta acaba. Começa então a Especialidade de Atirador de Infantaria para este Cadete que entretanto tinha adquirido, apesar de alguns desalentos momentâneos, um traquejo que lhe permitia ver de outro modo o seu futuro como Oficial Miliciano. Sabia que iria comandar um grupo de homens em situação de guerra, pela vida dos quais se sentia já responsável. Com a semana de campo chega ao fim a Instrução, é promovido a Aspirante a Oficial Miliciano, dão-lhe uma Guia de Marcha e uma passagem para o navio Carvalho Araújo que o levará até Ponta Delgada, Açores. Tinha sido colocado no BII 18.

O Tangomau relata-nos com pormenor a chegada, o desembarque e as primeiras impressões que teve da bonita capital da Ilha de S. Miguel. Na apresentação é incumbido pelo Segundo Comandante de gerir a Messe dos Oficiais: - Nosso aspirante, chamo-lhe a atenção que o seu antecessor foi severamente punido, continua devedor de centenas de contos, desmandou-se na contabilidade, dava bifes e boa carne assada praticamente todos os dias, é um bom ensinamento para si, acautele-se, estude as ementas, aprenda a fazer as contas, faça frente ao sargento vagomestre, perca o tempo que for preciso para não ter amargos de boca. O certo é que em pouco tempo acabará “despedido” face à má qualidade das ementas.

Ficaremos a conhecer as deambulações do viajante, o seu modo de disfarçar as saudades da família, onde pontua a senhora sua mãe sempre preocupada com a saúde do filho, os locais de cultura e os livros que devora. A vida no quartel corre sem sobressaltos, marcando-o especialmente o acto da distribuição das sobras do Rancho pelos miúdos que afloravam a Porta de Armas do BII 18 e o fervor religioso daquele povo. Chegado o Natal de 1967, aos recrutas de Santa Maria impossibilitados de irem a suas casas, é-lhes dedicada, por iniciativa do Tangomau, a feitura de um presépio no quartel, o fornecimento das iguarias próprias da Ceia e até distribuição de prendas, dando assim algum alento àqueles homens que passavam o seu primeiro Natal longe da família.

A determinada altura da sua estadia nos Açores, Tangomau é convidado a substituir um conferencista do Continente que não iria comparecer no Ateneu Comercial local para dissertar sobre literatura. Quase irresponsavelmente aceitou, não por não se sentir à vontade a falar sobre o tema, mas por dispor de pouco tempo para se preparar, uma vez que andava em marchas finais das recrutas. Era acima de tudo, no momento, um militar.

O tempo decorre, acaba mais uma recruta, e em Março de 1968, embarcando, outra vez, no Cais de Ponta Delgada no velhinho Carvalho Araújo, regressa ao Continente. O então RI 1 da Amadora espera-o. Será na carpintaria daquele quartel que o Soldado Macieira fará dois caixotes de tamanho generoso para albergar os livros, os discos e a respectiva aparelhagem de som, material este levado para a Guiné pelo Tangomau, que irá ser destruído por um incêndio aquando do ataque a Missirá em 19 de Março de 1969, como adiante no livro será lembrado.

Mais recrutas e semanas de campo, desentendimentos com superiores hierárquicos, inquéritos, ameaças de punição e entram em cena personagens que virão a ter papel activo na vida política portuguesa do pós 25 de Abril de 1974. É também nesta altura (1968) que o Tangomau conhece a Besuga que virá a ser sua esposa e, que após casamento por procuração, irá para Bissau ao encontro do marido onde casarão pela Igreja em Abril de 1970.

Entretanto o dia 24 de Julho de 1968 aproximava-se,  e o navio Uíge esperava o Tangomau para a sua primeira viagem a caminho da Guiné.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10319: Notas de leitura (396): "Guiné-Bissau, 3 Anos de Independência" (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10334: In Memoriam (126): António Rodrigues Soares da CART 1689/BART 1913 (Guiné, 1967/69)


António Rodrigues Soares da CART 1689/BART 1913 - Guiné, 1967/69

De acordo com a mensagem do nosso camarada Jorge Teixeira (Portojo) chegada hoje ao nosso Blogue, mais um ex-combatente da Guiné, e agora da vida, nos deixou. Desta feita foi a vez do camarada António Rodrigues Soares, natural da Freguesia de Melres, mas que vivia na Freguesia das Medas, Concelho de Gondomar.

Em tempos foram publicados dois postes (P4121* e P8143*) onde se falava de António Rodrigues Soares, já que então o seu estado de saúde suscitava alguma preocupação aos seus camaradas de Gondomar e da Tabanca dos Melros especialmente.

À família do nossos malogrado camarada apresentamos, em nome da tertúlia, as mais sentidas condolências.
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Notas de CV:

1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4121: Ser solidário (32): O nosso camarada António Rodrigues Soares da CART 1689 precisa dos seus amigos (Jorge Teixeira)
e
20 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8143: Convívios (314): Reencontro com António Soares em Medas-Gondomar (José Ferreira da Silva)

Vd. último poste da série de 29 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10306: In Memoriam (125): Cor inf cmd ref Jaime Abreu Cardoso (1936-2012)

Guiné 63/774 - P10333: Ser solidário (135): A Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau vai realizar um Encontro no dia 22 de Setembro de 2012, a partir das 12h00, no Monte dos Burgos - Matosinhos


A Tabanca Pequena – Grupo de Amigos da Guiné-Bissau, ONGD, vai realizar um ENCONTRO / CONVÍVIO aberto a todos os seus associados familiares e amigos, no próximo dia 22 de Setembro de 2012 (sábado)

Alguns de nós, cruzamo-nos às quartas-feiras na Tabanca de Matosinhos. Outros há, que por razões pessoais, profissionais, de distância ou outra, raramente se comunicam.

Estamos unidos por laços de amizade e solidariedade que são a razão da existência da nossa Associação. Há que alimentar esta corrente que une tantos ex-combatentes da Guiné.

Com esse objetivo vimos convidar todos os associados da TABANCA PEQUENA, bem como os seus familiares e amigos a participarem no ALMOÇO / CONVÍVIO que vamos organizar no próximo dia 22 de Setembro em casa do Associado Manuel Graça, à Rua Nova do Seixo, 65 próximo do monte dos Burgos no Porto.

Como ementa teremos: 
- SARDINHADA ASSADA À PORTUGUESA 
- FRANGO DE XABÉU À GUINEENSE.

A tarde será animada por um conjunto formado por tabanqueiros e seus amigos liderados pelo Vitorino Silva.

Inscreve-te para: 966 238 626

A Administração da Tabanca Pequena
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Setembro de 2012 > Guiné 63/774 - P10330: Ser solidário (134): A Humanitarius (Associação Humanitária de Apoio Internacional) prepara a sua IV Expedição solidária à Guiné-Bissau e necessita de apoios financeiros (António Bernardo)

Guiné 63/74 - P10332: Blogpoesia (198): Uma estranha maneira de dizer adeus (Luís Graça)



Lisboa > Cais da Rocha Conde Óbidos > Meados de 1965 > Embarque, no T/T Niassa, do pessoal da CCAÇ 1426 e de outras unidades para o TO  Guiné. Ao fundo, o tabuleiro da ponte sobre o Rio Tejo ainda em construção. Compare-se, entretanto, esta foto com as cenas dos dois primeiros minutos do vídeo feito pelo Henrique Cardoso com a história da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69): embarque do pessoal, no N/M Ana Mafalda, em 14 de janeiro de 1968.

Foto: © Fernando Chapouto (2006). Todos os direitos reservados.




O meu país megalítico > Penafiel > Oldrões - Galegos >  25 de agosto de 2012 > Castro de Monte Mozinho > Povoação castreja, da época da romanização ( Sec. I d.C. e seguintes). A acrópole (o "terreiro do povo") ao centro, assinalado a tracejado.

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.


Uma estranha maneira de dizer adeus

por Luís Graça (*)

uma estranha maneira de dizer adeus.
um estranho povo este
que vem ajoelhar-se
no cais da partida,
não em oração,
para aplacar a ira dos deuses,
mas vergado,
vergado à toda poderosa razão
de Estado.

a tentacular força centrífuga
que de há séculos
te leva os filhos teus,
para fora.
paridos e expulsos da mátria,
para longe.
bem para longe.
muito para lá do mar.

uma despedida breve,
com lágrimas salgadas no rosto
e lenços brancos em fundo preto.

todas as despedidas são breves e tristes,
o momento
em que o niassa apita três vezes
e levanta a âncora,
nunca se poderia eternizar:
diz o capitão de mar e guerra,
lencinho ao pescoço,
cheirando a vate 69,
fotocine, 

cinéfilo,
garboso, 

charmoso,
pronto para a acção.

há um briefing às cinco da tarde,
já em velocidade de cruzeiro,
depois do bugio,
no mar alto português,
anuncia o capitão,
pouco ou nada miliciano,
que serve de mordomo,
pequeno-burguês.
vai na segunda comissão,
o oficial provinciano,
que nunca ouviu falar
da batalha de dien bien phu

nem da operação tridente 
na ilha do como.

e o filme da noite é
uma comédia,

do cinema mudo,
acrescenta o nosso primeiro,
a servir de porteiro
do cais do sodré.
um gajo bacano,
num país de bacanos,
de soldados rasos, 

primeiros cabos,
furriéis 

e segundos sargentos.

uma tragicomédia,
escreverás tu
no teu diário
a que mais tarde chamarás
o diário de um tuga.
cadé os oficiais ?
cadé a elite da nação ?
os filhos-família,
os primeiros,
a fina flor,
os morgados,
os primogénitos,
os fidalgos,
a casta,
a raça,
o sangue azul,
o pedigree,
os melhores de todos nós ?
morreram todos
em alcácer quibir.

lisboa revista
em filme de oito milímetros.
a preto e branco.
ou a preto e negro.
uma só nação,
valente mas mortal,
ironiza alguém.
o niassa colonial
na azáfama do seu vai-e-vem
antes de ir parar à sucata.
inglória a sucata da história
que eu perdi
aos dezoitos anos,
quando dei o meu nome para as sortes.
estranha palavra esta, 

das sortes,
que rima com desnortes
e com mortes.

a despedida breve e triste
do niassa
e ainda mais triste é o filme.
sem som.
sem palavras desnecessárias.
a preto e branco
que alguém terá feito
no cais das sete partidas.
talvez a noiva
que ia vestida de branco
com xaile preto.

a ponte de salazar,

ainda reluzente.
o velho abutre 

que alisa as suas penas,
dirás tu, sophia, pitonisa,
quase morto mas não enterrado.
os últimos golfinhos do tejo.
a última fragata de vela erguida,
a última caravela,
o último império.

o cristo rei em terra que outrora foi de infiéis,
o terreiro que continua do paço, não do povo,
lisboa e o seu casario,
branco.
o filme a preto e branco.
um gato preto à janela.
lisboa e as suas ruínas
pré-pombalinas.
o poço dos mouros.
o poço dos negros.
o lundum.

a umbigada.
a procissão
da nossa senhora da saúde.
a santa inquisição,
zelando pela pureza do sangue,
o cemitério dos prazeres
ao alto,
com os seus altos ciprestes negros.
os mastros dos navios
da carreira colonial.
o império por um fio.
a vida que se recapitula,
de fio a pavio,
no último comboio da noite
que veio do campo militar
de santa margarida.

ah!, e as santas das nossas mães
que ficaram em casa,
a acender a vela à santa das santas.
um fado que tu ouviste no bairro alto
e que já não era batido
nem dançado 

nem cantado.
um fado apenas gemido.

ordeiros os soldados
como os cordeiros da matança da páscoa.

anhos, dizem no norte.
alinhados
no cais da rocha conde de óbidos,
como os eléctricos amarelos
que vão para a cruz quebrada.
empilhados. 

aboletados.
requisitados
às mães para servir
a pátria,
o pai-patrão
que lhe cobra o dízimo
em sangue, suor e lágrimas.

mudos, agrilhoados, os básicos,
uns refractários,
outros desertores,
cozinheiros, 

magarefes,
corneteiros,
apontadores de dilagrama,
municiadores de metralhadora,
atiradores,

sacristães,
coveiros.


coitadas das mães que tais filhos pariram,
diz a letra do ceguinho.
subindo o portaló,

 o cadafalso,
com um nó na garganta
bem disfarçado.
os lenços brancos
como em fátima no 13 de maio.
algumas bandeiras verdes-rubras,
poucas e loucas,
que os tempos não são
de exaltação
patriótica.
o hino
canta-se com voz rachada,
em disco riscado
por senhoras
do movimento nacional feminino.

a mesma atitude
admirável
de patética resignação
perante o arbítrio dos deuses
que tudo pedem e podem,
diz o capelão,
cheio de unto e de virtude,
que este é um povo religioso
porque tem o sentido do pathos.
leia-se: da tragédia inelutável.

senhora minha, protege-me,
das minas e armadilhas,
dos fornilhos 

e das bailarinas,
das canhoadas e roquetadas,
das morteiradas,
dos estillaços
e dos tiros de costureirinha.
protege-me do IN,
dos esquentamentos e das sezões,
dos ataques de abelhas
e das formigas carnívoras.
mas também do cone de fogo
das nossas bazucas e canhões sem recuo.
das piçadas e dos louvores dos meus comandantes.
e sobretudo de mim mesmo,
soldado malgré moi
soldado à força
arrebanhado, arregimentado, aboletado,
requisitado, condenado, ameaçado,
camuflado.
livra-me, senhora minha,
da fome, da peste e da guerra,
e do inimigo da minha terra
que me manda para tão longe.


lisboa e as suas sete colinas
perdem-se na linha de água.
puseste o combate do possível
na tua agenda
de expedicionário da guiné.
puseste o fio com a medalha de ouro
ao peito.
que te deu a namorada,
coitada.


não, não uso a cruz. 
o crucifixo.
não vou para a guerra santa,
senhor capelão.
alguém há-de rezar por mim
para que eu volte
são e salvo.
do regulamento é apenas
a chapa de zinco
com o número mecanográfico
13151468
e o picotado ao meio.
para mais facilmente ser cortada
em duas partes
que seguirão caminhos distintos
tudo isto face ao risco,
bem real e concreto,
de eu morrer longe.
bem longe

da pátria,
para lá do mar,
em terra que não me viu nascer.


descansa, camarada,
alguém fará o teu espólio.
cerrará os teus dentes,
fechará os teus olhos
e engraxará as tuas botas.
se não morreres de morte súbita.

levarei comigo a pedra-chave
que me liga ao além.
uma chapa de zinco,
picotada ao meio.
outrora era de xisto ou de grés,
entre o meu antepassado 

calcolítico,
castrejo,
romanizado.

camaradas
(que colegas é só nas putas):
se eu morrer, que me enterrem,
numa anta do meu país megalítico. (**)


luís graça
lisboa-bissau / niassa, 24-30 de maio de 1969 / 
revisto e aumentado: lisboa,  março de 2007 / abril 2021

________________


Notas do editor:

(*) Uma primeira versão foi publicada na I Série do blogue >  16 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DXL: o meu país megalítico


(**) Último poste da série > 24 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10297: Blogpoesia (197): O trabalho, por António Peres, poeta popular (José Colaço)

Guiné 63/74 - P10331: Parabéns a você (469): José Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)

Para aceder aos postes do nosso camarada José Martins, clicar aqui
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10324: Parabéns a você (468): José Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 (Guiné, 1971/73) e Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CART 2339 (Guiné, 1968/69)

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Guiné 63/774 - P10330: Ser solidário (134): A Humanitarius (Associação Humanitária de Apoio Internacional) prepara a sua IV Expedição solidária à Guiné-Bissau e necessita de apoios financeiros (António Bernardo)

1. Mensagem do nosso camarada António Bernardo* (CCS/BART 2920, Bafatá, 1970/72), com data de 18 de Agosto de 2012:

Companheiros de Luta
Obrigado pela publicação da informação e também, pelo convite para integrar a Tabanca Grande, o que farei em tempo próximo.

Após ler a notícia no "DN", disponibilizei à ONGD "Afectos com Letras", os livros de que disponho para que em Bafatá, seja criado o idêntico a Bissau. De facto, o BART 2920 (CCS,CART(S) 2741/2/3), é referenciado no blogue, pelo trágico acontecimento, ocorrido na CART 2742, sediada em Fajonquito, no domingo de Páscoa de 1972, e por vós publicada em 06/03/2010 (P5938**).

Aproveito para informar, de que a HUMANITARIUS (Associação Humanitária de Apoio Internacional) sediada em Portimão, prepara a sua IV expedição solidária à Guiné-Bissau, e necessita de apoios financeiros, para a sua realização.

Agradecendo uma vez mais, a vossa colaboração, envio-vos um
Abraço de Fraterna Camaradagem.

António Bernardo
CCS/BART 2920

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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10273: O Nosso Livro de Visitas (144): Nasce Biblioteca Pública em Bissau, graças ao trabalho da ONGD 'Afectos com Letras' (António Bernardo, CCS/BART 2920, Bafatá, 1970/72)

(**) Vd. poste de 6 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5938: A tragédia de Fajonquito ou as amêndoas, vermelhas de sangue, do domingo de Páscoa de 2 de Abril de 1972 (José Cortes / Luís Graça)

Vd. último poste da série de 10 de Julho de 2012 > Guiné 63/774 - P10139: Ser solidário (133): Conversas - Guiné-Bissau, dia 13 de Julho de 2012, das 21 às 23 horas, na Fundação Nortecoope em S. Mamede de Infesta - Matosinhos (José Teixeira / Tiago Teixeira)

Guiné 63/74 - P10329: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte V: Atividade operacional, de agosto a setembro de 1971 (Orlando Silva)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Fotos do +álbum do Orlando Silva > Foto nº 19 - Junto a uma das três Peças 11,4 – O Alf Acácio (Médico), o Alf  Rodrigues, o Alf Cristina (Comandante do Pelotão de Artilharia), o Alf Tavares (CPC/BCP 12), eu e o Cap Parracho. 




Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Fotos do álbum do Orlando Silva > 
Foto nº (?) - Vista aérea do aquartelamento, tabanca e pista de aviação.

Fotos (e legendas): © Orlando Silva (2009). Todos os direitos reservados. (Editadas por L.G.)


A. Continuação da publicação da hsitória da CCAÇ 3325 - Cobras de Guilje (1971/73).
Esta unidade, a que pertencia o alf mil Orlando Silva, hoje residente em Aveiro, esteve em Guileje de janeiro a dezembro de 1971. Reprodução de fotos e texto com a devida autorização do autor:

(....) Atividade operacional > De 01 a 31 de Agosto de 1971:

Realizámos mais 22 operações.

Neste período as Bases de fogos do IN,  devido às chuvas, só podiam ser utilizadas para flagelações com Canhão S/R.

Continuaram a realizar-se operações a todas as Zonas de Acção da Companhia, embora nalguns locais a água já atingisse o metro e meio de altura.

Não de confirmaram as notícias de um incremento da actividade do IN. Continuaram isso sim a implantar Minas A/P embora já com menos intensidade, por medo das nossas tropas, pois aparecíamos a qualquer hora de qualquer dia.~

Numa das reacções a flagelações o IN teve muitas baixas. Na Base de fogos do IN foram encontrados vários rebentamentos da nossa Artilharia e Morteiros Pesados.

A actividade operacional das nossas tropas, esteve orientada para o levantamento de algumas Minas e Armadilhas colocadas pelo IN nos acessos às suas Bases de Fogos e locais de passagem, na montagem de minas nos itinerários do IN, e em patrulhar com intensidade a ZA na região Este, para tentar detectar novas Bases de Fogos do IN e criar-lhes insegurança aos seus movimentos.

Levantaram-se neste período 3 Minas A/P e implantaram-se 7 Minas A/P. Causámos várias baixas ao IN numa reacção a uma flagelação.

Devido ao cansaço e às doenças, o pessoal operacional está reduzido a 71%, não sendo a alimentação (em virtude da situação isolada da Unidade), compatível com o esforço operacional exigido e com o trabalho em melhoramentos no Quartel, tanto na parte da defesa, como no do bem estar das tropas.
Em consequência da maneira deficiente com que se processa o reabastecimento de Guileje, apareciam várias deteriorações, violações e faltas de toda a espécie, tendo o Comando problemas administrativos extremamente graves. Como consequência da situação, foi o assunto exposto ao Comandante do Batalhão 2930 sito em Catió, de que dependíamos.

Em resumo podemos dizer que, apesar de tudo, continuámos a manter o total controle da Z.A. e que a actividade do IN, devido à pertinácia das NT em não se deixarem fechar no Quartel, conjugada com a implantação de Minas e com as baixas causadas ao IN no período, devem ter contribuído para que não se confirmasse o aumento da sua actividade, e ainda que, tal como no período anterior, a falta de pessoal e a alimentação estivessem a afectar o rendimento da actividade operacional.


De 01 a 30 de Setembro de 1971:

Realizámos 17 operações de patrulhamento.

As bases de fogos do IN continuam a ser só utilizáveis por Canhão S/R. Continuámos a efectuar regularmente patrulhas a toda a Zona de Acção, apesar das chuvas intensas. O IN continuou a implantar minas A/P furtando-se totalmente ao contacto com as nossas tropas. O único itinerário que o IN utilizava frequentemente era o “Corredor de Guileje”, local onde, num outro reencontro inesperado com as nossas tropas, sofreram assinaláveis baixas.

A actividade operacional das NT neste período, esteve orientada para:

-Levantamento de minas colocadas pelo IN nos acessos às suas bases de fogos e vias de infiltração;
-Colocação de minas nos locais de passagem do IN;
-Patrulhar com intensidade a zona das bases de fogos do IN afim de criar mais insegurança aos seus movimentos no “Corredor de Guileje”, 
- implantar minas e montar emboscadas ao mesmo.

Nesta área tornava-se muito difícil a nossa acção, não só por estar muito bem defendida, mas também por ser intensamente percorrida pelo IN. Daí, termos de procurar sempre itinerários diferentes, para evitar possíveis emboscadas. Acontecia que, por vezes, surpreendíamos o IN pelas costas, e isso tornava-se muito perigoso.

Toda esta actividade causava grande desgaste físico e psicológico na tropa. No entanto procurámos manter o ritmo destas acções, dado o seu extraordinário interesse.

Concluimos mesmo, que a seguir à defesa de Guileje, eram as acções sobre o “Corredor de Guileje” a missão prioritária da Companhia, embora para isso, fosse manifestamente insuficiente uma única Companhia para manter certa continuidade nas investidas sobre o “Corredor”.

Levantámos neste período 01 mina A/P M3 de fragmentação de fabrico português implantada pelo IN. As NT implantaram 05 minas A/P numa base de fogos do IN e 04 minas A/P no “Corredor de Guileje”.

Os transportes são outro grande problema, devido ao isolamento da Companhia. Apesar da deficiente alimentação e do cansaço das nossas tropas, conseguimos evitar que o IN circulasse livremente nas vias de infiltração situadas na nossa Zona de Acção, o que ajudava a manter elevado o moral da tropa.

(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10315: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte IV: Atividade operacional, de maio a julho de 1971 (Orlando Silva)

Guiné 63/74 - P10328: Convívios (469): IV Encontro anual dos ex-Combatentes do Concelho de Gondomar, dia 29 de Setembro de 2012 em Valbom

4.º CONVÍVIO ANUAL DOS EX-COMBATENTES DO ULTRAMAR (1961/1974) 
DO CONCELHO DE GONDOMAR

VALBOM - DIA 29 DE SETEMBRO DE 2012

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10323: Convívios (468): Almoço de confraternização do pessoal da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4612/72 - 29 de Setembro de 2012 -, Lagoa (Jorge Canhão)

Guiné 63/74 - P10327: O nosso blogue em números (31): Jorge Teixeira da CART 2412, o nosso visitante 4 milhões !!!


Cópia da página principal do blogue, ao ser atingido o nº 4 milhões de visitas, esta madrugada por volta da 1h e tal.. O Jorge Teixeira estava de pé, ao computador, e registou o momento...




1. Ontem três de setembro, pelas 22h41, mandámos pelo correio interno da Tabanca Grande a seguinte mensagem:
 

Amigos e camaradas, grã-tabanqueiros:

Dia 4, 3ª feira, atingiremos as 4 milhões de visitas... 

Quem for o felizardo do leitor ou visitante 4 milhões, que nos contacte... e nos mande uma imagem comprovativa da página principal do blogue...

Para tal, deves usar a tecla "print screen", e fazer "copy & paste" para o programa "Paint" (ver acessórios)... Guardas em formato jpg e mandas para os editores a imagem com o contador nos 4 milhões...

Temos que celebrar!... E ganhar forças para chegar aos 5 milhões...

Os editores



2.  Mensagem com data de hoje, dia 4, 1h29 assinada pelo nosso amigo e camarada Jorge Teixeira, ex-Fur Mil da CART 2412, Barro, 1968/70:

 Aí vai [, imagem acima,] a visita 4 milhões, no €uromilhões não acerto eu.

Essa estória do "print screen"... coisa e tal e "copy & paste", (até parece um pedido de "piza"), não é para mim. Vai um recorte e já não é mau. 

Dispenso o certificado.
PARABÉNS.
 

Um abraço e até aos 5 000 000.
cumprim/jteix






3. Outros camaradas, como o José Martins, também quiseram entrar na brincadeira e deram-nos notícia da evolução dos acontecimentos:

Mensagem de 3 de setembro, 23h37:


A 40 minutos da meia.noite..., faltam 400 entradas. [, Imagem supra].


4. O Mário Tito, aliás Mário Serra de Oliveirapor sua vez, escreveu-nos, dos EUA,  já hoje de manhã, a seguinte mensagem de parabéns:

Amigos e camaradas!

Parabéns pelo excelente trabalho. Sou adepto do blogue embora contribuinte de forma limitada por falta de oportunidade. Talvez um dia destes faça algum comentário sobre a Guiné. 

Neste momento estou a lutar com a revisão do meu 1º livro. A verdade é que, quando vejo e-mail de Luís Graça, nem sempre associava ao blogue do mesmo porque, normalmente, o contacto mais directo era e é o Carlos Vinhal. Como me parece que ele está de férias e vi a referência aos 4 milhões, decidi carregar. Concluindo que deve tratar-se mesmo do Luís Graça.

Foi um prazer e mais uma vez parabéns.

O meu nome é Mário Oliveira. Estive na Guiné desde maio de 67 - messe de oficiais da FAP em Bissau e fiquei lá depois de missão cumprida. Só vim de lá em Agosto de 1981. Passei lá de tudo, incluindo os melhores e piores momentos da minha vida. Sobrevivi e cá ando ainda p´ras curvas.

Abraço, Mário.



5. Comentário de L.G.:

Até ao final de dezembro de 2011, estávamos com um total de 3158400 visitas. Ao fim de oito meses, mais exatamente ao início do dia 4 de setembro, atingimos os 4 milhões, o que dá uma média diária de 3500 visitas neste período de tempo (jan/ago 2012). 
Recorde absoluto de visitas diárias (5042) continua a ser o dia 16 de abril de 2012...

Resumo mensal do total de visitas (jan / ago 2012):

Janeiro: 110 mil. 
Fevereiro: 100 mil. 
Março: 120 mil
Abril: 117 mil
Maio: 115 mil
Junho: 96 mil
Julho: 86 mil
Agosto: 91 mil

Os dois piores meses são, como já sabemos dos anos anteriores, aos correspondentes às férias de verão (julho e agosto). E o melhor o março...

Já que estamos numa de números, recorde-se:

(i) atingimos os 3 milhões de visitas na 1ª quinzena de novembro de 2011;
(ii)  os 2 milhões de visitas foram  atingidos em meados de setembro de 2010;
(iii) e o primeiro milhão em fevereiro de 2009.

Quanto a membros inscritos na Tabanca Grande, estamos neste momento com 574... Faltam 26 para os 600, meta que queremos atingir até ao final do ano. 

Em meados de março de 2012, éramos 542. Em outubro de 2011, 520. Em abril de 2011, 500. Em final de 2009, éramos 390, em maio de 2010 andávamos pelos 410 e em meados de Setembro de 2010 estávamos a caminhos dos 450. 

A média de entrada de novos membros desde Setembro de 2010 até agora anda à volta dos 5 por mês, mais ou menos 1 por semana...

Quanto ao número médio de postes diários publicados nestes primeiros 8 meses do ano de 2012 é ligeiramente inferior à média ao ano passado: 4,2 (em 2012), contra 4,8 (em 2011), e 5,4 (em 2010, o ano em que batemos o recorde com um total de 1955 postes publicados).

Num histórico de mais de 35  mil comentários, temos 62 755 referentes aos primeiros 8 meses do ano de 2012, o que dá em média 26,1 comentários por dia / 784 por mês...

Quanto à origem geográfica das visitas, o perfil já aqui há tempos traçado (com base apenas nas estatísticas do Blogger) está-se a alterar substancialmente:

(i) 70,5% das visitas são oriundas de Portugal;
(ii) segue-se, em segundo lugar, o Brasil (13,5%);
(iii) vem depois os Estados Unidos (4%) e a França (2,3%), totalizando estes 4 países mais de 90%;
(iv) entre os dez mais contam-se ainda, por ordem decrescente, a Alemanha, o Canadá, o Reino Unido, a Rússia, a Espanha e Cabo Verde...

A Rússia aparece, pela primeira vez, neste "top ten"; o número de visitantes do Brasil e dos EUA aumentaram em detrimento de Portugal que perdeu mais de 3 pontos percentuais em relação à situação em abril de 2011.

Neste dia, que é de discretíssimo júbilo, o nosso Alfa Bravo mais afetuoso vai para:

(i) os nossos queridos co-editores, com especial destaque para o Carlos Vinhal, que está 24 horas por dia ao serviço do blogue;
(ii) os nossos discretos mas sempre prestáveis colaboradores permanentes;
(iii) os autores (já publicámos mais de 10 mil e 300 postes!);
(iv) os novos e aos velhos membros da Tabanca Grande (n=574);
(v) os comentadores (mais de 35 comentários!.desde que temos estatísticas...);
(vi) os leitores dos quatro cantos do mundo...

Vamos ver se, a este ritmo (3500 visitas / dia), e com os esforços concertados de todos, conseguiremos chegar aos 5 milhões de visitas, daqui a dez meses (Junho de 2013).

6. Mais comentários que foram chegando no dia de hoje:

(i) António Nobre:

Olá, Luís.
Cheguei atrasado. Anteciparam-se 903 camarigos porquanto a minha visualização situou-se nos " 4.000.903"lll Pelo menos arranja lá uma menção honrosa.

A sério. Mais uma vez as minhas felicitações pela "excelência" do vosso trabalho. Eu sou um pouco "cota" informático e como tal tenho apreciado vivamente aquilo que diariamente visualizo no nosso site. Muito bem e mais uma vez os meus parabéns.
Um abraço para toda a equipa
António Nobre

(ii) José Carvalho:

O Facebook tirou algum protagonismo [ao blogue], devido à rápida interação...

(iii) Filomena Sampaio:

Boa tarde: Já existe premiado?
Abraços
Filomena


Parabéns, parabéns,  bravô!

Guiné 63/74 - P10326: Em busca de... (202): Memórias de uma infância perdida .... (Paulo Mendonça, nascido em 1961, em Có, Bula, Cacheu, trazido para Matosinhos em finais de 1967, criado na Casa do Gaiato até aos 14 anos, e a viver há 20 em França)

1. Resposta do Paulo Mendonça (*)


De: jason39 wash [ pmendonca@hotmail.fr]
Data: 3 de Setembro de 2012 22:55


Bonsoir,  Luis Graça

Obrigado pela tua ajuda,  visitei os dois posts do blogue  e são  interessantes.

Nasci no dia três de junho de 1961,  fui baptizado em Bissau no dia 23 de novembro 1967 e o padrinho foi Manuel Lourenço Lopes.

Lembro-me ter passador o Natal na casa do Capitão Anacoreta Soares em Matosinhos,  antes de ir para o Gaiato.

Tenho ainda uma fotografia,  jà no Gaiato,  ao lado de uma rapariga, mas não sei se é a sua filha.

Como deve saber,  Luis Graça, é muito importante para mim encontrar o Capitão. Todo tempo que estive no Gaiato (7 anos) ele veio ver-me duas vezes. Nunca deu noticias e eu não soube mais nada da minha família. Tenho unicamente lembranças dos meus Pais e talvez um irmão quando pequeno...

A minha questão : PORQUÊ?

Merci pela sua ajuda.

Paulo Mendonça


2. Comentário de L.G.:


O Paulo Mendonça nasceu em Có, Bula, Cacheu, foi batizado como cristão em 23 de novembro de 1967, e tem hoje 51 anos... Deve ter vindo com o cap mil art Anacoreta Soares,  no final de 1967. lembra-se de ter passado o Natal desse ano em Matosinhos... 

Em 14 de janeiro de 1968, com seis anos, foi levado para a Casa do Gaiato, em Paço de Sousa, Penafiel.  Saíu de lá aos 14 anos. Vive em França há mais de 20 anos. 

Há uma infância perdida,  possivelmente por causa da guerra, e ele quer recuperar as memórias desse tempo. Algum camarada ou amigo o pode ajudar, levando-o até ao ex- cap Anacoreta Soares e/ou alguém da sua família ? 

Luís Filipe Anacoreta Soares vivia em Matosinhos em 1967/68. Foi comandante da CCAÇ 798 (Gadamel Porto, 1965/67) e da CCAÇ 1498 (Có, Binar, Bissau, 1966/67).

Guiné 63/74 - P10325: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (37): Guerra de titãs, o Almeida Comando contra o Vilar Pára

1. Mensagem do nosso amigo e irmão Cherno Baldé, com data de 29 de agosto último:
  

Caros amigos Luís e Carlos Vinhal,
Junto envio uma crónica na linha do habitual, algumas imagens e poemas da minha colecção da juventude que podem utilizar de acordo com os habituais critérios de utilidade e bom gosto bloguistico.

Um grande abraço,

Cherno Baldé



2. Guerra de Titãs > Almeida contra Vilar / Comando contra Pára

por Cherno Baldé (*)

Hoje vou contar uma pequena estória sobre uma disputa física entre dois militares muito especiais e que, não fosse o ambiente tenso da guerra subversiva que transformava misteriosamente o destino das pessoas envolvidas, poderiam ter cumprido a sua missão normalmente, regressar a sua terra natal, casar-se e ter um destino feliz, como aconteceu com a maioria dos seus companheiros de armas que passaram no TO da Guiné, dita portuguesa.

Estou a referir-me ao duelo entre o Almeida-Comando e o Pára-Villar que ficou gravado na memória de todos os que se sentiam, de uma forma ou outra, atraidos ou ligados à vida dos soldados do quartel local.

Como habitualmente acontecia na época, havia pouca gente que estava informada das suas verdadeiras identidades, nao pertenciam ao corpo original da companhia, tinham vindo de parte incerta para integrar e conviver no meio de soldados milicianos numa localidade meio esquecida do nordeste guineense de Fajonquito, que o soldado Inácio M. Gois tão bem descreveu no seu Diário da Guiné (1964/66).

Dos dois contendores, o Almeida-Comando tinha sido o primeiro a chegar à Fajonquito na coluna que todas as semanas ia à cidade de Bafatá, sede do Batalhão, com a sua G3 numa mão e uma bolsa contendo os seus pertences, noutra. Soldado robusto, estatura media e boca de lâmina (lábios miudinhos), olhar decidido, europeu típico da raça dos Victor Tavares, José Dinis, Antonio Dâmaso ou Silvio Abrantes, cedo mostrou a sua preferência pela solitude, não tinha amigos e os companheiros de caserna não tardaram a desertar, procurando locais mais seguros. Nas suas costas falavam que era maluco ou que estava apanhado, mas ninguém se atrevia a repeti-lo a sua frente. 

Militarmente aguerrido, oferecia-se para todas as saídas ao mato e quando havia ataques nas localidades mais próximas, enquanto os outros ficavam a espera de ordens superiores, ele seguia correndo, sozinho. Era sempre o primeiro a chegar ao local do ataque e, quando os outros chegavam, já ele estava de regresso ao quartel, exausto.

O boato que circulava a seu respeito era que ele teria cometido violações graves que tinham provocado a sua expulsão de uma companhia de comandos para o cumprimento de um castigo que o condenava a ficar na Guiné durante muito tempo. De qualquer modo o que era certo e sabido é que não apreciava muito os seus companheiros brancos, preferindo a companhia das crianças nativas e que não estava programado o seu regresso com aquela companhia de metropolitanos. Quanto tempo teria da Guiné? Ninguém sabia ao certo.

O Pára, Villar,  chegaria mais tarde e, ao contário do primeiro, ele era alto e direito como uma palmeira das bolanhas, mãos largas e fortes, olhar insolente e brincalhão, mas também ele marcado pelo destino e pela carreira que escolhera como militar, pois quando abria a boca viam-se alguns espaços vazios entre os seus dentes da frente e no maxilar esquerdo.

No meio da soldadesca macaca, minado por intrigas e pequenas quezílias de rancho do quartel, não tardou a circular de boca em boca entre criancas e auxiliares nativos da messe e do refeitório que entre os Páras havia uma norma ou lei que se designava "regra da dentadura",  segundo a qual os candidatos à  entrada para a mais exigente de todas as especialidades militares deviam possuir uma dentadura completa e bem saudável e ainda ter que mantê-la durante o periodo de serviço militar sob pena de serem expulsos deste corpo de elite.

Verdadeiro ou falso, para os miúdos que faziam do quartel a sua primeira escola de vida, não era muito importante, o certo-certo mesmo era que dai em diante o ambiente habitual do quartel seria necessariamente alterado com a presença de duas espécies raras da paisagem militar portuguesa com garras bem afiadas. Um soldado comando corajoso e psicologicamente desequilibrado, que no seu estilo de lobo solitário, qual cowboy saído de um Western americano e que fazia das crianças nativas seus instruendos e um Paraquedista durão e provocador, aparentemente normal, amigo da farra, das bajudas e do jogo de cartas.

A chegada do Villar também trazia de volta um debate muito frequente, no começo dos anos 70, no seio da miudagem dos aquartelamentos, que era a questão de saber quem,  entre Comandos e Páras,  é que tinha a melhor preparação militar. Cada um argumentava com as suas armas sem que tivessem, na realidade, noção clara sobre o que os distinguia na prática, suas forças e fraquezas. O facto de os Páras fazerem-se ejectar de um avião em pleno voo, embrulhados num simples pedaço de tecido, parecia conferir-lhes uma nitida vantagem, mas os adeptos dos comandos levavam sempre melhor, pelo menos a luz dos acontecimentos no terreno e o respeito que impunham no mato e, também, nas ruas de Bissau, claro.

O Almeida tinha como "hobby" preferido a caça às pombas na orla da bolanha. Homem de poucas palavras, quando estava de acordo em que o seguissemos,  não dizia nada e ia a nossa frente. Quando não estava no seu melhor dia, com o cano da G3 apontada ao chão, mostrava a direcção da porta de armas com a mão livre, não a descendo enquanto os "djubis" não tivessem transposto o limite dos arames farpados, depois seguia cabisbaixo no seu trote rápido de homem que sabia ter o destino nas suas próprias mãos. 

Inocentes e impertinentes, sempre que as crianças tinham a sorte de o poder acompanhar, não se cansavam de admirar o fisico compacto deste homem, os seus reflexos rápidos e o tiro certeiro da G3. Nunca se precipitava nem perdia muito tempo em pontarias de inclinar cabeça e fechar olhos como faziam os outros, era "tau-rau", isto é, por cada tiro dado era uma ave que caia com uma mancha negra à volta do buraco da morte. Custava acreditar, por atrás dele, movendo-se ligeiros, num silêncio de arrepiar, esperávamos pelo sinal da mão para ir buscar o animal que se esbatia com o corpinho ainda quente. 

Todavia, acompanhar o Almeida era entrar num jogo atractivo, mas sem fim a vista, pois as suas mudanças de humor eram frequentes e imprevisiveis e,  quando isso acontecia, o divertimento inicial podia ultrapassar os limites do suportável, transformando-se num calvário para adultos. Os sinais de tal mudança manifestavam-se no súbito desinteresse pela caça habitual, na raridade dos tiros e na aceleração da marcha. 

Os menores, como eu, não podiam passar dos limites da bolanha de Sunkudjuma e, depois desta, começava a grande floresta de Oio e Cola-Caresse, região povoada de "Djinnés", prenhe de perigos vários e dominada pela guerrilha. O segundo grupo de temerários continuava a marcha, com o Almeida sempre à frente. Percorriam uma zona remota, semeada de centenárias Baga-bagas gigantes, habitat dos lendários "Kankurans" mandingas que coloriam o imaginário da nossa infância mestiça e, quando começavam a escassear os sinais da presença humana, as crianças, impelidas por um instinto natural de defesa, começavam a desertar, uma a uma, deixando o Almeida-comando no meio de intrincados trilhos de gazelas e de porco-espinhos, entregue a si mesmo, a sua inseparável G3 e a granada expansivel na cintura. E, estafados de tanto caminhar, quando voltavam à aldeia e iam ao quartel, encontravam o homem tranquilamente sentado à porta da sua caserna, limpando a sua arma. 

Num certo dia em que vínhamos de uma jornada de caça normal, dei uma fugida rápida e imprevista entrando de rompante numa das moranças da aldeia com a intenção de impressionar os aldeões com as dezenas de pombas que trazia em cima dos ombros. O resultado foi receber uma valente reprimenda também ela inesperada. Os mais velhos não teriam gostado de ver tantos animais mortos com arma de fogo numa só tarde. Descobri assim que o africano,  mesmo levando uma vida miserável,  é, por princípio, avesso ao desperdício de vidas e de recursos. Era muito pouca, de facto, a carne que se aproveitava nos pássaros com o estoiro dos projécteis.

O Almeida, no interior do seu silêncio, parece que fazia tudo para provocar a ira das hierarquias militares e estes, por sua vez, armados de bom senso e instinto de conservação, parece que faziam tudo para não entrar em rota de colisão com um subordinado de modos estranhos e psicologicamente instável. Esta postura oficial, mais tarde, revelar-se-á muito negativa e com consequências bem drásticas e que afectará toda a companhia, a escassos meses de fim de comissão.

Tanto assim que, uma vez por semana, o Almeida ao comando do seu pequeno e barulhento pelotão de "djubis", crianças caídas na órbita do quartel, dirigia os treinos físicos e de preparação militar, seguidos de uma faxina no interior do aquartelamento, tal como apanhar o lixo, capinar e limpar os sanitários. Após estas tarefas que habitualmente terminavam à hora do almoço, todo o grupo se dirigia ao refeitório-geral para servir-se dos restos do almoço do dia, servido em cima das mesas pelos cozinheiros nativos, utilizando os pratos e talheres disponiveis na cozinha da companhia e ainda com direito a sobremesa.  Enquanto isso, o Almeida-comando punha-se a passear de um canto a outro do refeitório, ao som das batidas ritmadas do chicote na parte mais alta das suas botas de cabedal reluzente, peito inchado e olhos vermelhos no rosto inexpressivo de ferra indomada.

Os "djubis", indiferentes ao ambiente tenso que reinava devido a contrariedade que provocava a sua presença indesejada no refeitório, comiam com a sua habitual gula e, ao mesmo tempo, estavam atentos aos movimentos de vaivém do seu Comandante-chefe. Quando este se afastava um pouco e os talheres começavam a atrapalhar, metiam rapidamente as mãos dentro das terrinas metálicas para dai retirar pedaços de carne ou restos de comida. Se a refeição era feita com pedaços de batatas ou arroz, tudo bem, mas às vezes era massa de esparguetes compridos e delgadinhos, que nem com as mãos se seguravam e constituíam tarefa complicada metê-los dentro da boca. Nestes casos a melhor solução era absorvê-los directamente com a boca, "tchúúph". Os brancos não gostavam desta forma muito prática de comer animal, o Almeida também. A ameaça do chicote era real.

Foi o Vilar que acabou com o nosso reinado no refeitório. Para todos os efeitos, era uma situação anormal e que não podia perdurar, pois não agradava a ala mais conservadora da tropa e não era muito apreciado pelos miúdos que, habituados à liberdade natural de comer à mão, sentiam-se bastante constrangidos com o espectáculo de comer com facas e garfos em cima de uma mesa e diante de olhares curiosos, coisas de brancos.

No dia em que se deu a briga, estávamos na cozinha do refeitório a preparar, em fogo brando, as pombas que o Almeida tinha trazido na tarde do dia anterior. O refeitório ainda estava quase vazio, estando numa das mesas o Vilar, sozinho, a entreter-se com a sua faca de mato, de cara para a porta do quarto onde residia o Almeida, facto que, pela sua ousadia, não augurava nada de bom. De vez em quando mandava uns palavrões ao ar, sem se dirigir a ninguém em especial. Caso estivesse a tentar provocar a fera, decerto que não perdia nada por esperar, pensávamos com os nossos botões.

Ninguém viu como  nem quando aconteceu, mas parece que o Almeida teria saído do seu quarto a vomitar impropérios e num salto teria voado em cima do Vilar com os pés em riste. Da violência do choque dos dois corpos, a faca do Villar tinha caído das suas mãos e os dois, entrelaçados, tinham rolado ao chão num grande estrondo, derrubando mesas e cadeiras. Durante alguns segundos, que pareceu um longo espaço de tempo, lutaram no chão cada um tentando dominar o outro e, de repente puseram-se de pé. Ofegantes e punhos cerrados, mediram-se novamente com os olhos e, quando se preparavam para um novo embate,  ouviu-se uma potente voz de comando que gritava "alto ai!!!". Era a voz do Capitão da companhia, Carlos Borges de Figueiredo, também ele com volume e estatura respeitável.

Não ficamos para saber como terminou a briga e, na confusão do momento, aproveitamos para sair dos arames farpados e regressar as nossas casas, na certeza, porém, de que se tratava apenas do começo de uma história que, qualquer dia, poderia terminar muito mal.

Depois, para a posteridade, de aldeia em aldeia, de bantabá em bantabá, como a notícia não pesa nem tem custos de transporte, cada um encarregar-se-ia de descrever o sucedido à sua maneira, acrescentando alguns pormenores ou dando vantagem ao herói da sua preferência. Comando contra Pára, Almeida contra Vilar e, de tanto tocar e retocar no assunto tornou-se dificil distinguir, ao certo, quem conta do que assistiu e viu com os seus olhos de quem conta do que ouviu alguém contar. 

Nasceu assim esta crónica que se inspira da vivência de um imaginário real, de tal modo que qualquer semelhança com a vida real de alguém só pode ser uma coincidencia fortuita e irreal.

Com abraços amigos de

Cherno Baldé (Chico de Fajonquito)
Bissau, 27 de Agosto de 2012.


Na imagem: os meus dois filhos Luís e Domingos numa esplanada da Praça do Império rebaptizada Praça dos Heróis Nacionais em Bissau, 2011. Teria eu a mesma idade quando acompanhava o Almeida-Comando nas aventuras da Bolanha de Sunkudjuma, em Fajonquito, nos anos de 1971/72. Sinais dos tempos.

Cherno Baldé (direita) e o seu colega de infância Saido Candé (esquerda), conhecidos no quartel com os nomes de Chico e Barbosa, antigos alunos e adeptos do Almeida-Comando. O Barbosa realizou o seu sonho de infância e é hoje um graduado do Ministério do interior.

Bissau, Setembro de 2011. Cherno Baldé com os filhos Domingos Ali e Luís Bubacar.


O Duelo entre Almeida-Comando e o Para-Villar, visto por um cartoonista/ humorista da época. Imagem de um desenho mural no bar de um Bairro da periferia de Bissau (Antula, Agosto de 2012)


Sunkudjuma - Eu nasci aqui, / É Sunkudjuma, / É rio dormindo, / É bolanha, fossas e lianas, / São leitos secando, / Peixes escuros e lama, / Aqui lavramos o arroz e / A tristeza dos olhos

Extrato de um poema da minha colecção de juventude com data de 1985.


O Kankuran é um elemento cultural da etnia mandinga, hoje largamente adoptado por muitos grupos de confissão muçulmana na Guiné, associado ao ritual de iniciação e de mudança de estatuto social entre os homens (sexo masculino). O mito fundador quer que as pessoas acreditem que o Kankuran tem poderes mágicos de desmistificar e neutralizar os maus espíritos, proteger, unificar e reforçar a coesão social da comunidade (ver Nhinte Camatchol entre os nalus). Portanto, é um instrumento unificador e propiciador da harmonia social, especialmente direcionado contra o malefício da divisão social associado aos excessos do poder feminino no seio das comunidades. O kankuran emerge das baga-bagas gigantes de onde tira a sua cor vermelha como o próprio chão da Guiné. 

Na imagem, Kankurans da nova geração nas ruas de Bissau (Bairro Militar, 2011).  
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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de julho de 2012 >  Guiné 63/74 - P10146: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (36): Recordando o inesquecível amigo João, ex-1.º Cabo Mecânico da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4514/72