quinta-feira, 31 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9971: Agenda cultural (205): Convite para o lançamento do livro "A Viagem do Tangomau", de Mário Beja Santos, dia 19 de Junho de 2012 no Auditório da Associação Nacional das Farmácias em Lisboa

CONVITE

Lançamento do livro "A Viagem do Tangomau", de autoria de Mário Beja Santos, dia 19 de Junho de 2012, pelas 18h30, no Auditório da Associação Nacional das Farmácias (Museu da Farmácia) Rua Marechal Saldanha, 1 em Lisboa.
Serão apresentadores, o escritor Carlos Vale Ferraz e o investigador Leopoldo Amado.


OBS: - Os interessados na visita guiada ao Museu da Farmácia a levar a efeito pelas 17h30 devem confirmar a sua presença através deste endereço: aferreira@circuloleitores.pt



1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 28 de Maio de 2012:

Meus queridos amigos,
É com muita satisfação que venho convidar todos aqueles que se possam deslocar no dia 19 de Junho, pelas 18h30, ao Museu da Farmácia, a estarem presentes ao lançamento deste livro que, no essencial, nasceu no blogue.
É um livro de 42 anos de memórias, como numa sinfonia tem quatro andamentos: os preparativos para a guerra, os dois anos no rio Xaianga, a retoma da vida civil e persistente presença de sinais guineenses, a eclosão de todas as memórias e o regresso à Guiné.
É um livro que pertence a dois países, tal a natureza do testemunho. E mais não digo. Apelo à vossa companhia, toda a viagem do Tangomau apareceu redigida em primeira mão no nosso blogue, houve momentos em que me senti numa missão coletiva.
Considero o filão esgotado. O que tenho pela frente é uma empreitada valente, de parceria com Francisco Henriques da Silva, aquele nosso camarada que cobriu de glória a diplomacia portuguesa durante o conflito político-militar de 1998-1999, todos os outros ilustres embaixadores saltaram do barril de pólvora, ele ficou a pé firme, correndo todos os riscos numa Bissau em chamas. Pretendemos elaborar um levantamento documental intitulado “Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau: Um roteiro”. Uma investigação pacífica, nada de sobressaltos para o coração.

Agradeço antecipadamente o bom acolhimento que possam dar ao meu convite.

Um abraço do
Mário
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 26 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9948: Agenda cultural (204): Convite ISCTE-IUL, para o Lançamento do livro digital sobre "Militares e sociedade, marinha e política

Guiné 63/74 - P9970: Efemérides (99): Guidaje foi há 39 anos: Relembrando a primeira trágica coluna, dos dias 8 e 9 de maio de 1973 (Manuel Marinho, 1ª CCAÇ / BCAÇ 4512., Nema, Farim e Binta, 1972/74)




A fatídica picada Binta -Genicó - Cufeu -Ujeque - Guidaje...



1. Oportunos esclarecimentos do Manuel Marinho em relação ao poste P9961 (*):

Esta coluna parte para Guidaje a 10 [de maio de 1973] e regressa a 13 a Farim, o camarada Amílcar Mendes até publicou as cópias dos relatórios da 38ª Ccmds referentes a esta coluna.

Quanto às baixas mortais das 1ª e 2ª colunas, são estas.

1ª – Coluna Dias 8 / 9 Maio:

1º Cabo Mil Bernardo Moreira Castro Neves,  1ª/Bcaç 4512

Sold António Júlio Carvalho Redondo,  3ª/Bcaç 4512

Fur Mil Arnaldo Marques Bento,  Ccaç 14

Sold Lassana Calissa,  Ccaç 14


 2ª – Coluna Dia 10:

Manuel Maria Rodrigues Geraldes, 2ª/ Bcaç 4512 (enterrado em Guidaje).

Baixas mortais da Ccaç 19ª, que saem ao encontro desta coluna:

1º Cabo Abdulai Mané, Ccaç 19

Sold Jancon Turé,  Ccaç 19

Sold Mamadu Lamine Sanhá,  Ccaç 19

Sold Sadjó Sadjó,  Ccaç 19

Sold Suleimane Dabó,  Ccaç 19

Estes corpos ficaram no terreno, portanto contam-se 9 desditosos camaradas das NT, o que não contradiz o testemunho do Amílcar, porque as baixas do IN foram em número superior, e presumo que não tivessem sido todos levados.

Dias 12 e 13 no aquartelamento de Guidaje > Baixas mortais:

Sold Cond Auto David Ferreira Viegas,  Comando Agrup Op nº 1/CTIG

Sold José Luís Inácio Raimundo,  38ª Ccmds

Sold Cond Auto Ludjero Rodrigues Silva, CCS/Bcaç 4512.

Por último, lembro que tenho o P4957 (**), que descreve o que foi a 1ª emboscada.
E correspondendo ao teu pedido, estou a ultimar uma descrição das colunas de e para Guidaje, valem o que valerem, mas quero apenas deixar uma nota: O meu Batalhão 4512 teve 9 baixas, 6 são pela luta por Guidaje. 

2. Em relação à constituição da coluna do dia 10, não são 5 Gr Comb do Bcaç 4512, mas apenas 2, um de Nema (2º) e um de Jumbembem (2º). Mas se juntarmos os 2 Gr Comb da Ccaç 14, mais 1 Gr Comb da Ccaç Afr de Cuntima, dá 5 Grcomb, embora estejam sob o Comando do Bcaç 4512, o Cmdt desta coluna foi o Cmdt do Bcaç 4512, Ten Cor Inf [António] Vaz Antunes.

No dia 10 a 2ª coluna é assim constituída:

-1 Gr Comb (2º) da 1ª /Bcaç 4512,  de Nema
-1 Gr Comb (2º) da 2ª/ Bcaç 4512,  de Jumbembem
-2 Gr Comb da 14ª Ccaç, de Farim

-1 Gr Comb da Ccaç Afr Eventual, de Cuntima

-2 Gr Comb da 38ª Ccmds, [de Mansoa, CAOP1]

-1 Secção do Pel Mort 4274, de Farim. 

Abraço

Manuel Marinho
ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512,
Nema, Farim e Binta, 1972/74  [, foto à direita].

_____________


(...) GUIDAJE - A PRIMEIRA GRANDE EMBOSCADA
por Manuel Marinho


A nossa Companhia [, 1ª CCAÇ / BCAÇ 4512,] estava sediada desde meados de Janeiro em Nema, aquartelamento avançado de Farim, com dois Gr Comb, o 1.º e o 2.º os outros dois, 3.º e 4.º em Binta.

No dia 8 de Maio, o 1.º Gr Comb recebe ordens para juntamente com um Grupo da CCAÇ 14,  de Farim, escoltar uma coluna de abastecimento, 2 Berliet mais 2 Unimog com armamento e mantimentos para socorrer um aquartelamento que era Guidaje, e do qual apenas sabíamos que era flagelada com bastantes ataques de morteiros. De noite, em Nema avistavam-se os clarões dos rebentamentos e ouviam-se, ainda que remotamente, os estrondos das explosões.

Deslocámo-nos de tarde para Binta, fortemente armados, escoltando as viaturas carregadas. O trajecto foi feito sem problemas e quando começava a findar o dia, a ordem de avançar para Guidaje foi dada,  já começava a anoitecer, quando esperávamos seguir apenas ao raiar o dia seguinte. Havia apreensão, porque escoltar viaturas de noite era complicado já que nos retirava a mobilidade necessária em caso de ataque.

Avançamos com os picadores na frente da coluna para a detecção de minas enquanto foi possível, depois foi dada ordem para a subida para as viaturas, porque já não se via para fazer a picagem, e foi a primeira viatura a fazer de rebenta-minas.

O roncar dos motores das viaturas, com as luzes acesas, fazia-nos temer o pior, até que aconteceu o rebentamento da mina na primeira Berliet, cerca das 19 horas [...] , causando desde logo dois feridos, entre os quais o nosso Alferes que comandava a coluna.

Depois dos saltos para o chão dos que seguiam nos Unimogs após o rebentamento da mina, ficamos emboscados, e apenas víamos o camarada à nossa esquerda e o outro à direita. Cerca de 10 a 15 minutos depois, o restolhar de passos no mato, vindo do nosso lado esquerdo,  obrigou muitos de nós a fazer a respectiva rotação, porque de imediato começou o primeiro ataque, e único desse dia.

O IN avançou até à picada, disparando rajadas curtas e, dada a proximidade, chegando eu a divisar na noite a silhueta dum IN de tão próximo eles se aproximaram, provavelmente esperando o efeito de desorientação da nossa parte, (posteriormente soubemos que estavam emboscados mais à frente com a picada cortada por abatises), o rebentamento da mina A/C, apenas precipitou os acontecimentos, a julgar pelo que aconteceu depois, ainda podia ser pior. Também RPG,  LGFOG e MORT foram utilizados no ataque.

Depois de intenso fogo de resposta da nossa parte, houve a retirada estratégica do IN para logo de seguida lançarem very-lights e granadas que iluminaram a picada, no sentido de medirem a extensão da nossa coluna.

Este primeiro contacto foi de 15 a 20 minutos. Tivemos de pernoitar no local sem possibilidades de retirada, pois não era possível retirar as viaturas, ficando com a desvantagem de o IN ter tempo de montar a sua estratégia de ataque durante a noite para nos emboscarem, com mais precisão.

Ao raiar o dia 9 de Maio somos novamente atacados, sofremos logo o primeiro morto, e durante cerca de 4 a 5 horas os ataques foram ininterruptos, atacavam-nos revezando-se, ora do lado direito, ora do esquerdo da picada, causando-nos mais 3 mortos e bastantes feridos e, como no local o mato era denso, os estilhaços dos RPG e LGF fizeram-nos muitos estragos.

Era um cenário desolador e trágico o que nos rodeava, até pelo facto de estarmos rodeados de camaradas feridos, alguns com gravidade, eu apenas fui carimbado com pequenos estilhaços sem gravidade, mesmo perante esta situação limite, resistíamos, já tínhamos experiência de combate, mas isto era inimaginável.

Nem o apoio de fogo aéreo conseguiu aliviar a pressão. Sem munições e muito desgastados física e psicologicamente, e já no limite, fomos socorridos por forças de Binta que nos ajudaram a retirar e resgatar os feridos, aguentamos até onde foi humanamente possível, e é com mágoa que relembro a impossibilidade da retirada dos nossos mortos, 1 do meu Grupo, 1 da 3.ª CCAÇ do meu Batalhão, e 2 da CCAÇ 14.

Hoje tenho a impressão que o IN, já nesta fase, esperava a nossa retirada para o saque das viaturas.

A demora na chegada de reforços contribuiu, na minha opinião, para que tal acontecesse, e a prioridade eram os feridos, a ordem de destruir as viaturas, de imediato (?)... é ainda hoje um mistério para mim, porque havia feridos junto às viaturas.

Mas é a agonia e o sofrimento atroz do meu camarada, que atingido gravemente, por duas vezes, acabou por morrer, mau grado todos os esforços, feitos debaixo de fogo do IN pelo nosso enfermeiro para atenuar o seu sofrimento, e perante a nossa impotência para o retirar. É o meu maior pesadelo de guerra até morrer, honra à sua memória.

Infelizmente fomos nós a sofrer esta emboscada que.  se não foi a maior, seguramente foi das piores que aconteceram na Guiné, e deu início ao fatídico mês de Maio de Guidaje.

Mais tarde se o entenderem, direi o que penso sobre o resgate dos corpos.
Omito os nomes dos meus camaradas mortos por razões de respeito.

Algumas clarificações que valem o que valem a esta distância quando a memória começa a falhar, mas este testemunho é o de quem viveu praticamente todas as incidências de e em Guidaje, que apenas e só pretende dar mais um passo na reconstituição dos factos.

Depois falarei sobre a minha chegada a Guidaje integrado na última coluna, do dia 29 [de maio], e de alguns episódios que ocorreram nesse mês. (...)


Guiné 63/74 - P9969: Em busca de... (190): Contactos de pessoal da CCAV 1662 (Manuel Fonseca) )




1. Com data de 19 de Maio último recebemos a seguinte mensagem do nosso leitor (e camarada) Manuel Fonseca. 

Contactos da malta da
CCAV 1662 

Amigo e senhor Luís: 

Apresento-me como ex-combatente em Moçambique, pertencente ao BCAÇ 2914 do qual este ano sou o organizador do convívio do respetivo pessoal, que se realiza amanhã, dia 20, em Tomar. 

Eu tenho um irmão que esteve na Guiné, com a CCAV 1662, e queria ter contatos, para efeitos de convívios, com ex-camaradas.

Agradeço-lhe a possível ajuda desse blogue.

Nome - António Azevedo Fonseca, mais conhecido por o Viseu, soldado condutor [Está emigrado na Alemanha e vem cá passar férias no verão]. 

Um abraço e os meus agradecimentos 
Manuel Fonseca
Tlm: 917 529 096

Emblema e Mini-guião: © Colecção de Carlos Coutinho (2012). Direitos reservados.
___________ 
Notas de M.R.: 
  • A CCAV 1662 foi mobilizada pelo RI7. Partiu para o TO da Guiné em 1/21967 e regressou a 19/11/1968. Esteve em Nova Lamego e Piche. Comandante: Cap Mil Art António de Sousa Pereira. 
Vd. último poste desta série em: 



Guiné 63/74 - P9968: Convívios (441): 2.º Encontro do pessoal da CCAÇ 6 - Bedanda - dia 9 de Junho na Mealhada (António Teixeira)







1. O nosso camarada António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 -Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 - Bedanda, 1971/73 dirige a seguinte mensagem a todos os "bedandenses": 

CCaç 6 (Bedanda) 

2º Encontro 


Meus caros amigos: 

Estamos na recta final. 

Todos os preparativos para a montagem da emboscada no próximo dia 9 de Junho, estão a ser ultimados. 

Como devem calcular, torna-se necessário muito em breve (durante esta semana que hoje começa) fornecer ao restaurante o número o mais aproximado possível de pessoas que vão estar presente. Claro que um a mais ou um a menos não vai fazer grande diferença... o problema está se forem muitos uns. 

Assim, vou passar a transcrever aqui a lista do pessoal que está confirmado. 

Peço-vos então que, com a máxima URGENCIA entrem em contacto comigo (mail to: ahoct@netcabo.pt, TM: 917 803 681) caso haja alguma alteração e só se houver alguma (caso não possam ir ou queiram levar mais alguém). 

Fica também aqui uma chamada de atenção: há amigos que vão levar familiares, como filhos ou esposa. Claro que não há problema nenhum. Se houver mais alguém que queira levar também a legítima, que mo diga, por favor: 

A lista neste momento é a seguinte: 

Teixeira 
Hugo Moura Ferreira 
Vasco 
Carlos Azevedo 
Naia 
Mário Bravo 
Joaquim Carvalho 
Nuno Nunes Ferreira 
Luís Nicolau 
Jorge Pires 
Amaral Bernardo 
Mário Oliveira 
Rui Santos 
Enfermeiro Dias 
Amigo Dias 
Meira 
José Fragateiro 
António Fernandes Ribeiro 
Mário Azevedo 
Carvalho (Fur. do grupo do alf. Carvalho-Famalicão) 
António Augusto Gens 
Vermelho 
Filha Vermelho 
Filho Vermelho 
Licineo Cabeça 
Cândido Monteiro 
Fernando Carvalho 
José Figueiral 
Fernando Sousa 
José Guerra 
Vitor Luz 
Gualdino Silva 
Joaquim Silva 
Pedro Dinis 
Amará Camará 
Carlos Carronda 
Capitão Mateus Trindade 
Esposa 
Acílio Godinho 
Artur Ferreira (enfermeiro) 
Aníbal Marques 
Esposa 
Filho 
Renato Vieira de Sousa 
José Caetano 

Ainda existem uns casos pendentes, que quer eu, quer o Hugo Moura Ferreira (que tem também desempenhado um papel importantíssimo na organização deste encontro e que muito tem ajudado), resolveremos em breve. 

Agradeço portanto que confiram esta lista, e se houver alguma alteração ma comuniquem com a máxima urgência. 

Creio francamente que não me esqueci de ninguém, mas não me admirava se tal acontecesse... a cabeça já não é a mesma. 

Se alguém não estiver na lista, o que desde já peço as minhas desculpas, entre logo em contacto comigo. 

E por hoje é tudo... 

Um grande abraço 

António Teixeira 
___________ 
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

                                                                                                                                         

Guiné 63/74 - P9967: Parabéns a você (427): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1970/72)

Para aceder aos postes do nosso camarada Mário Beja Santos, clicar aqui
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 29 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9957: Parabéns a você (424): António Vaz, ex-Cap Mil Art, CMDT da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69)

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9966: Efemérides (98): Guidaje foi há 39 anos: Operação "Mamute Doido" (4): O Regresso (António Dâmaso)

1. Quarta e última parte da narrativa da "Operação Mamute Doido", de autoria do nosso camarada António Dâmaso* (Sargento-Mor Pára-quedista da CCP 121/BCP 12, na situação de Reforma Extraordinária)  que participou nesta operação levada a efeito no fatídico mês de Maio de 1973.

Fotografia de alguns elementos do 3.º Pelotão da CCP 121, tirada dias antes de partir para Guidage

Legenda:
1 - Cabo Gonçalves, foi ferido no ataque ao Navio Patrulha em 20MAI73
2 - Soldado António das Neves Vitoriano, morto em combate na emboscada de Cufeu em 23MAI73 (a) (b)
3 - Soldado José de Jesus Lourenço, morto em combate na emboscada de Cufeu em 23MAI73 (a) (b)
4 - Soldado A Ferreira Carvalho, morto em Combate em 22JUL73 em Cubonge
5 - Soldado Manuel da Silva Peixoto, morto em combate na emboscada de Cufeu em 23MAI73 (a) (b)
6 - Soldado Fernando Jorge Ferreira Dias, morto na Operação «Gato Zangado I» Nova Lamego em 05FEV74

(a) Ficaram sepultados em Guidage
(b) Os restos mortais foram resgatados e entregues às famílias em Julho de 2008


OPERAÇÃO ”MAMUTE DOIDO” (4)

 O REGRESSO

No dia 30 de Maio pelas 06H30 saímos do Guidage, saí com um misto de alívio por me ver livre daquele inferno e uma tristeza enorme por deixar para trás aqueles três Bravos rapazes que abnegadamente tinham dado a sua vida pela Pátria. Ao sair deitei um último olhar para as campas desejando paz às suas almas, mesmo armado em “duro”, senti um nó na garganta e um ardor nos olhos, foi como se tivesse deixado ali três irmãos mais novos que não consegui proteger, o Lema dos Pára-quedistas “NINGUÉM FICA PARA TRÁS” tinha sido quebrado.

A minha Companhia ia em guarda de flanco esquerdo no sentido Guidage-Binta, os Fuzileiros iam no flanco direito, estávamos arrasados, alguns dos meus homens estavam mesmo em baixo. Antes da saída pedi-lhes que fizessem um esforço, pelo que acederam e lá nos dispusemos a palmilhar os quase 20km de distância, mas depois de passar a zona mais perigosa, ordenei aos que estavam com maior dificuldade para subirem para as viaturas, mas eu como tinha de dar o exemplo, fiz um esforço para aguentar.

Ao passar pela última vez pelo Cufeu lá estavam os esqueletos espalhados comidos pelos bichos, dando uma imagem fantasmagórica, um dos meus homens ia a olhar para a esquerda, de repente olha em frente, depara-se com dois esqueletos junto a uma árvore, fez uma ligeira paragem repentina, mais de respeito do que medo e no momento lembro-me de lhe ter dito para não se preocupar que aqueles já não lhe faziam mal. Ao todo passei pelo Cufeu quatro vezes. Desta vez os guerrilheiros do PAIGC, optaram por não nos incomodar, fiquei com a impressão que eles gostavam mais de atacar pessoal que passava lá pela primeira vez, pelo que chegamos a Binta sem incidentes. Ficámos a aguardar por uma lancha que no dia 01JUN73 nos transportou até Farim, nessa noite fomos dormir no Kapa3, no dia 02JUN73 seguimos em escolta a uma coluna de viaturas de Farim para Bissau, na estrada entre o Kapa 3 e Mansabá, que eu quatro anos antes tinha por lá andado a fazer segurança à construção da mesma. Viam-se algumas viaturas na berma que tinham sido incendiadas, no trajecto entre Mansabá e Mansoa, reconheci os pontos críticos por também ter feito segurança a várias colunas quatro anos antes. Chegamos a Bissalanca pelas 15 horas depois de 15 dias de martírio.

Era fim-de-semana, depois de proceder à operação de recolha do material e do entregar na arrecadação, deixei os homens na camarata e dirigi-me aos meus alojamentos, como o bar de sargentos ficava em caminho, fui lá para matar a longa sede. Ao chegar ao jardim fronteiriço dei uma cambalhota em frente e soltei um grito estridente, deixando escapar toda a raiva e emoções contidas naqueles dias, os presentes já estavam informados do que tinha acontecido, as más notícias sabem-se logo, entreolharam-se e pensaram: "Este tipo vem apanhado de todo, este não é o primeiro-sargento que nós conhecemos". Não se enganaram porque nunca mais fui o mesmo que tinha de lá saído quinze dias antes, noutras circunstâncias ter-se-iam fartado de gozar mas a situação era grave, soube disto por confidência de um deles mais tarde em conversa.

Resumindo, naquelas duas Operações, “Ametista Real” e “Mamute Doido”, sofremos ataques/flagelações em Bigene nos dias 18 e 19 de Maio à noite; na noite de 20 quando érammos transportados no Navio Patrulha que navegava no rio Cacheu, este foi atacado, tendo o meu Pelotão sofrido um ferido que teve ser evacuado. Na noite de 21 fomos atacados no Cais de Binta; no dia 23 sofremos uma emboscada na Zona do Cufeu, onde o meu Pelotão teve três mortos e o 2.º teve um ferido grave que acabou por morrer mais tarde, das seis vezes que passamos na zona de Ujeque, fomos flagelados três; não contabilizei as vezes que fomos flagelados em Guidage nos oito dias que lá estivemos onde num desses ataques uma só granada provocou sete vítimas.

“Diz-se que foram quinze dias para esquecer” mas o pior de tudo é que não se consegue esquecer, têm-me dado muitos pesadelos e tirados milhares de horas de sono.

Curiosamente, apesar de ter tomado notas há muitos anos, tenho uma “branca” desde o espaço de tempo que passei por Genicó e desembarquei em Farim, dizem-me que fomos pernoitar em Binta mas não me lembro de nada

Um Ab
Dâmaso
____________

Notas de CV:

- Sobre a a batalha de Guidaje (ou Guidage), é obrigatório ler o livro de José de Moura Calheiros - A Última Missão (Lisboa, Caminhos Romanos, 2010, 638 pp) e em especial as pp. 437 - 491: cap 31 (A batalha de Guidage) e cap 32 (Como morrem os soldados)...
- Há referências sobre Moura Calheiros (que era na altura o Segundo Comandante e Oficial de Operações do BCP 12) (Guiné, 1971/73)
(http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Moura%20Calheiros%20%28Cor%20P%C3%A1ra%29)

Vd. postes anteriores da série de:

 27 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9951: Efemérides (60): Guidaje foi há 39 anos: Operação "Mamute Doido" (1): Estadia em Binta e saída até Cufeu (António Dâmaso)

28 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9954: Efemérides (61): Guidaje foi há 39 anos: Operação "Mamute Doido" (2): Desenrolar da emboscada na zona do Cufeu (António Dâmaso)
e
29 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9963: Efemérides (63): Guidaje foi há 39 anos: Operação "Mamute Doido" (3): Permanência em Guidaje (António Dâmaso)

Guiné 63/74 - P9965: (Ex)citações (180): Defendendo a honra do BCAV 8320/72, Bula, 1972/74, que foi acusado de rebelião, em agosto de 74, e cujo pessoal vai fazer sábado, dia 2 de junho, na Trofa, o seu XXVI Encontro anual (Zeca Pinto)

1. Comentários, de 29 do corrente, do nosso leitor (e camarada) Zeca [Pinto], que tem entre outros o blogue zecapinto:

(i) Muita coisa que aqui é dita (*), não é verdadeira. É mentira que se tenha hasteado qualquer bandeira, com foice e martelo. É verdade que na viagem para o cais,  vindos do Cumeré, muitos vinham com panos vermelhos e lenços da mesma cor. 


Que o comandante do batalhão[, ten cor cav Alfredo Alves Ferreira da Cunha,]  tenha negociado, nunca tivemos conhecimento disso, manifestávamos a nossa indignação, pelo facto de [haver tropa] muito mais nova do que nós e que vinha nos TAM, nos aviões militares, e nós por lá estávamos...

Quando fomos para a Guiné,  fomos uma companhia de cada vez, e o regresso tinha que ser de barco, daí não aceito que nos considerem indisciplinados. Por vezes é fácil falar, eu por mim, em minha defesa, fazia o que necessário fosse, mas não reconheço autoridade a ninguém para nos classificarem como o fazem, para mim injustamente. A História, o Exército pode fazer a que quiser, eu digo a verdade e só a verdade.
Como já disse noutro comentário, a tal História não diz que militares regressados da Guiné desembarcaram como civis, certamente não interessava para a História que o Exército quer contar. Eu sei que o Comandante era o Spínola, que foi substituído aquando da publicação do famigerado livro [Portugal e o Futuro,], pelo Bettencourt Rodrigues, e este por sua vez pelo Carlos Fabião. 

Esta é uma de muitas situações vividas na Guiné, no próximo [sábado, dia 2, em Santiago do Bougado, Trofa], devamos festejar o XXVI encontro do tão falado batalhão, rei da insubordinação, muitos colegas meus já faleceram e por isso peço respeito pelo que lá sofremos

(iI) Não é verdade que tenhamos embarcado de madrugada, pois foi à meia noite, por isso não nos viram, certamente contaram mais essa história de muitas outras. O [ten-cor] Cunha, depois da 3ª refeição,  não foi para Bissau, nós é que fomos, pois ele não nos queria deixar sair, mas nós desobedecemos e deu-se até um episódio que podia resultar em tragédia, pois nós caminhávamos em fila indiana, uns de cada lado da estrada, e uma Mercedes do tipo das Berliet, virou-se e, por sorte, não apanhou ninguém, e fomos nós que a colocamos novamente na estrada a pulso. 

Mais uma vez digo que podia ter sido uma tragédia o que felizmente não aconteceu, esta é uma de muitas histórias pelas quais passei. 

Abraços a todos e muita saúde mas não se diga BATALHÃO da indisciplina, haja respeito.

(iii) O referido Batalhão [, BCAV 8320/72,] do qual eu fazia parte, não se pode dizer que era indisciplinado, pois não o era... Mas com 26 meses e companhias com 13 e 14 meses a virem embora e nós a ficarmos por lá não se sabia a fazer o quê... foi essa a razão da indignação,  não revolta. 

O comandante não teve nada a ver com a tal indignação, pois ele tentou impedir a nossa saída, do quartel, sem êxito. Ele quando teve conhecimento da nossa intenção disse que só saíamos por cima do seu cadáver, e nós respondemos que,  se isso fosse o motivo para nos virmos embora, então passávamos. 

E foi quando caminhamos para Bissau, e fomos parados por uma força militar, já não me lembro se foi em João Landim, sei que era um cruzamento para Bula, e estava uma companhia aí instalada que se solidarizou connosco, e disseram que se algo nos fizessem teriam que se haver com eles, pois nós tínhamos razão.

Depois de conversações vieram os carros dos Adidos, para nos levarem de regresso com a promessa de embarque, o que veio a acontecer. Nós fomos colocados dentro do barco e,  como tinha sido uma semana muito chuvosa, quiseram reter-nos no cais em Bissau. Foi quando nós ameaçamos que tudo que estava no cais ia para a água, e o Carlos Fabião deu ordens, para partir. 

Podem dizer que isto era indisciplina, eu digo INDIGNAÇÃO. 

Quanto às ditas bandeiras, foi no transporte do Cumuré até ao cais de embarque. E falta dizer que em Lisboa desembarcámos à civil, pois o espólio foi feito ao largo de Lisboa dentro do barco.

Muitas mais estórias tenho para contar, mas fico-me por aqui com a certeza que esclareci uma estória que está (ou estava)  mal contada. 

Abraços a todos quantos por lá passaram. 

2. Comentário do editor:

A honra e o bom nome dos nossos camaradas estão acima de todas as considerações. Uma coisa são os factos e outra a sua leitura ou interpretação. O nosso blogue não é tribunal de nada nem de ninguém. Interessa-nos apenas a partilha de histórias e memórias da guerra colonial na Guiné. O vosso embarque foi notícia. Até agora só tínhamos uma pequena versão dos acontecimentos. Obrigado pelos teus esclarecimentos. Gostaríamos de saber mais coisas sobre ti e sobre os teus camaradas. Fica aberta a porta da nossa Tabanca Grande (e do nosso blogue) para esse efeito.  Desejamos  a todos os camaradas do BCAV 8320 um feliz e alegre convívio no próximo sábado. Volta sempre.

_____________

Notas do editor:

(...) Bissau, 22 de Agosto de 1974

"... História do Batalhão de Cavalaria nº 8320  do Tenente-Coronel Ferreira da Cunha, que se pôs a andar do CUMERÉ, depois da 3ª refeição, em direcção a Bissau, a pé, sob chuva inclemente. Minha actuação [...]. "

(...) Bissau, 23 de Agosto de 1974

"... Durante o dia, as 'resistências' do Batalhão indisciplinado vieram ao de cima [...] e não teve remédio (o Comandante Militar) senão [...] ceder!, fazendo embarcar o pessoal amanhã à tarde! Eu não desisti e chamei sempre à atenção para a gravidade da situação. ..."

(...) Bissau, 24 de Agosto de 1974

"... O UIGE com o Batalhão do Cunha, o 'famigerado' Batalhão de Cavalaria nº 8320 de Bula, partiu a princípio da madrugada para Lisboa. Estive atento no Cais a vê-los partir! Disseram-me que até hastearam uma bandeira vermelha com a foice e o martelo!..." (...).


(...) BCAV 8320/72: Mobilizado pelo RC 3, partiu para a Guiné em 21/7/1972 e regressou a 25/8/1974. Esteve sediado em Bula. Comandante: Ten Cor Cav Alfredo Alves Ferreira da Cunha. Constituído por 1ª Companhia (Bula, Pete, Nhamate, Bissau), 2ª Companhia (Bula, Nhamate) e 3ª Companhia (Bula, Bissorã, Catió, Pete). Todos os comandantes de companhia eram capitães milicianos. (...)

Guiné 63/74 - P9964: Tabanca Grande (341): Adriano Moreira (Admor), ex-Fur Mil Enf, CART 2412 (Bigene, Guidaje e Barro, 1968/70), grã-tabanqueiro n.º 560

1. Há muito que o nosso camarada Adriano Moreira (Admor) (ex-Fur Mil Enf.º da CART 2412, Bigene, Guidaje e Barro, 1968/70) intervém no nosso Blogue, do qual é leitor diário.
Sabendo disso resolvi endereçar-lhe um convite para ele se instalar com armas e bagagens na nossa Tabanca Grande, sabendo que o seu coração pende para aquele grupo de bandalhos pertencentes ao Bando do Café Progresso - Das Caldas até à Guiné, capitaneado pelo nosso outro camarada e tertuliano Jorge Teixeira, também este da 2412.

Porque os amigos são para as ocasiões, para poupar trabalho, fomos ao Blogue do Bando do Café Progresso e, com a anuência do Presidente Jorge Teixeira, copiamos, com a devida vénia, a apresentação do Admor, como segue:


Apresenta-se o Soldado Recruta do CSM,  em 12 de Setembro de 1966,  na EPC, Santarém, Adriano Moreira.
 
Quem é que lhe perguntou o nome? Você aqui é um número! 

Em 3 de Janeiro de 1967 fui para Lisboa para o BSCF, em Campo de Ourique, como pensionista (dormir e comer) para tirar o Curso de Enfermagem na ESSM onde estive até Maio para fazer também o pré Estágio no Hospital Militar Principal.

Depois regressei ao velho burgo do Porto,  ingressando no HMR1 onde estive até junho de 1968, altura em que fui para o RAP2  integrar a CART 2412 com destino à Guiné.

Embarquei em 11 de Agosto no Uíge e lá desaguei na Foz do Geba,  com as trouxas às costas para um batelão que me pôs em terra firme de Bissau.

Após tudo isto e as praxes militares, seguimos para Brá onde ficamos instalados no Depósito de Adidos até 31 de Agosto. No dia seguinte fomos de LDG até Ganturé, onde saímos e dirigímo-nos para Bigene onde ficamos até 14 de Outubro a fazer treino operacional sob o comando do COP3 do Major Correia de Campos e com a CART 1745.

No dia 15 chegamos a Binta para render a CART 1648, tendo seguido quase de imediato o 2.º Pelotão da nossa Companhia para Guidaje a fim de substituir o Pelotão da 1648 que estava lá.

No dia 17 seguiu o 1.º Pelotão mais o Comando da Companhia para Guidaje por este destacamento ter sido considerado mais importante do que Binta em termos operacionais. Assim, a partir desta altura um pequeno destacamento que vivia com a população dentro do arame farpado ficou a rebentar pelas costuras com 3 Pelotões de brancos e um de naturais da CCAÇ 3 que nos apoiou sempre enquanto lá estivemos.

Em 9 de Março de 1969 fomos outra vez Cacheu abaixo em direcção a Ganturé para trocarmos com a CCAÇ 3 de Barro onde ficamos até finais de Abril de 1970.

Regressamos a Bissau onde embarcamos no Carvalho Araújo em 5 de Maio. Ainda passamos pela Ilha de S. Vicente em Cabo Verde, tendo aportado em Lisboa a 14 do mesmo mês. Já nessa altura o barco fez o percurso a cambar para a esquerda. Não sei se era defeito ou premonição.

Um grande abraço para todos
ADMOR - Adriano Moreira


2. Comentário de CV:

Caro camarada Adriano Moreira, estás oficialmente apresentado à tertúlia. Já por cá andas há muito, mas só agora resolveste, a meu convite, fazer parte desta imensa família de ex-combatentes da Guiné.

Foste um dos poucos a fazer o percurso inverso, ou seja vir de uma Tabanca dita mais pequena para a nossa, já que a esmagadora maioria dos camaradas começou a frequentar as que foram surgindo de norte a sul de Portugal, inspiradas pela do Luís Graça & Camaradas da Guiné. É um sinal de vitalidade e capacidade de associação que os ex-combatentes da Guiné demonstram, discutindo e registando as suas memórias em Blogues, livros e redes sociais.

Queremos continuar a contar contigo e com a tua colaboração activa dando, por que não notícias das vossas andanças enquanto bandalhos do Café Progresso.

Não te dou as boas vindas porque já és da casa, mas deixo-te um abraço em nome da tertúlia onde ficas com o número 560. Nem aqui escapaste a um número. Não leves a sério,  é apenas uma referência que amanhã estará esquecida.

O teu camarada e amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série:

20 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9928: Tabanca Grande (340): Lázaro Ferreira, ex-fur mil art, GA 7 (Bissau, Gadamael e Ingoré, 1974), hoje advogado em Braga 

terça-feira, 29 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9963: Efemérides (97): Guidaje foi há 39 anos: Operação "Mamute Doido" (3): Permanência em Guidaje (António Dâmaso)

1. Terceira parte da narrativa da "Operação Mamute Doido", de autoria do nosso camarada António Dâmaso* (Sargento-Mor Pára-quedista da CCP 121/BCP 12, na situação de Reforma Extraordinária)  que participou nesta operação levada a efeito no fatídico mês de Maio de 1973.


OPERAÇÃO ”MAMUTE DOIDO” (3)

Permanência em Guidage

Vista parcial do Quartel de Guidage em DEZ1973
Foto: © Cortesia de Albano Costa, com a devida vénia

Os dias que permaneci no Aquartelamento de Guidage foram os mais dolorosos de toda a minha vida. Chegamos lá na noite de 23MAI73, com três mortos e um ferido grave, famintos, sedentos, desidratados e com o moral em baixo.

Quando entrámos cheirava a cadáveres em decomposição, recebi ordem para colocar o meu pelotão, nas traseiras da cozinha, perto dos balneários, numa vala debaixo de umas árvores de grande porte. Vim a saber depois que naquele lugar tinham, dias antes, morrido dois militares e que estavam à espera dos caixões que deviam ter vindo na coluna que não chegou, sendo a causa do cheiro que se fazia sentir. Não sei bem onde estes mortos se encontravam, lembro-me da existência de um abrigo na parada e que servia de enfermaria, donde vinha um cheiro insuportável.

Na primeira noite só eu e mais uns quantos dormimos junto da vala, os restantes foram para um abrigo que estava perto, não sei como cabia lá tanta gente, eram beliches com camas sobrepostas, até havia militares a dormirem debaixo das camas, estavam militares do Exercito, Fuzileiros e Pára-quedistas, era tudo ao molho, pensei que se caísse lá uma granada perfurante fazia uma razia. A vala em questão estava bastante arrasada, “ficado” dois militares dias antes, daí o sentimento de insegurança de lá permanecer.

Vista parcial da “parada” de Guidage com viaturas de uma Coluna
Foto: © PC Radiotelegrafista Janeiro


Quando espreitei à porta estavam a ouvir uma rádio pirata, a voz da libertação não sei quê, entre outras coisas foi lá que ouvi pela primeira vez que o Quartel de Guileje tinha sido abandonado.

No dia 24 MAI73, foi lá o Héli em missão arriscada em voo rasante, segundo se disse na altura pilotado pelo Comandante da Base, dizia-se que os pilotos não queriam levantar, o que eu acho que não correspondia à verdade, porque estiveram na operação “ Ametista Real” e quando em 23 a CCP 121 esteve cerca de 50 minutos debaixo de fogo numa emboscada em Cuféu, eles foram lá salvar-nos o “coiro”. Esse Héli levou-nos correio e dois pares de meias novas que nos deram muito jeito, dizem ter lá ido o Gen. Spínola mas não me lembro do ter visto, vi sim, o Major Pára Calheiros, o ferido grave do 2.º Pelotão, o Melo, foi evacuado para o Hospital Militar de Bissau acabando por falecer também.

Ainda no mesmo dia manhã cedo, o chefe da Tabanca de Guidage, deslocou-se à bolanha do Cufeu e disse ter lá visto três guerrilheiros mortos, mas que não tinham as armas, ficámos assim a saber que eles também sofreram pelo menos três baixas.

Parte do quartel de Guidage estava construído já no Senegal, até diziam que metade da pista era no Senegal, uma coisa era certa é que os DO 27 para aterrarem ou levantarem, tinham que voar por cima do Senegal, isto antes de terem abatido num só dia três aviões na zona, a pista era pouco mais que o campo de futebol, era um ponto alto de onde se avistava no Senegal, relativamente perto, uma estrada com movimento de viaturas.

Como vi o meu pessoal tão por baixo, eu não estava menos mas tinha o sentido da responsabilidade de comando, pedi ao Comandante da Companhia para falar com eles. Ele assim fez e para fazer ver que ainda éramos pára-quedistas, no dia 25MAI73, saímos pela estrada que ia para Barro, mais à frente derivamos para a esquerda, a corta-mato e fomos ao Cufeu, estivemos no local onde tínhamos sofrido a emboscada, quando vi o local onde nós tínhamos estado “abrigados”, ao ver tudo arrasado deduzi que tivemos sorte por não ter havido mais baixas, viam-se espalhados pela zona alguns cadáveres abandonados, já só as ossadas por terem sido comidos pelos bichos.

Aquela saída foi muito positiva para levantar o moral, porque tanto na ida como no regresso, na zona de Ujeque fomos alvo de tentativa de flagelação, como mais tarde alguém escreveu, “que não se saía nem entrava no quartel sem haver tiros”.

Não sei se aquela saída foi ordenada pelo Comandante do COP 3, apesar de estarem lá militares de outras armas mais descansados do que nós, coube-nos a missão e ficou aqui demonstrado que naquelas condições, as Tropas sitiadas devem fazer segurança próxima e afastada, é dos livros e tem-se verificado na prática que existindo grandes abrigos fortificados, mas, se não existir segurança próxima e afastada, correm o risco de com uma simples granada lacrimogénea, os saquem de lá “pelas orelhas”.

Entretanto já tinham sepultado os dois mortos que estavam lá quando chegamos, agora eram os nossos que já estavam em decomposição o cheiro era insuportável, eu ia comer perto da enfermaria onde os nossos três mortos tinham sido depositados sobre camas sem colchões, não existiam sacos para cadáveres, a refeição era um arroz aguado, espécie de canja temperada com um sal dum chispe de porco enlatado, que eu vi desenterrar na “parada”, para lhe ser aproveitado o sal, estava comer e o cheiro que vinha da enfermaria interferia-me com o paladar.

Mais uma vez falei com o Comandante de Companhia no sentido de acabar com aquela situação, dando-lhes sepultura, tendo em conta a meu ver, que nada mais se podia fazer por eles. Não sei se o meu pedido teve alguma influência, mas foi assim que eles foram sepultados em “campas individuais, enrolados num lençol e pano de tenda ao lado dos outros dois que já lá estavam.

Foi uma tarefa dificílima, eu que sempre evitei situações complicadas, mas há alturas em que por muito complicadas que sejam, temos de dar um passo em frente e voluntariei-me juntamente com o maqueiro/enfermeiro do meu pelotão Carvalho (1), mesmo com mascaras embebidas em álcool, foi difícil de suportar, estavam irreconhecíveis, se não fossem as etiquetas que tinham no dedo do pé, não sabia quem eram, fez-me alguma confusão como é que tinha entrado em decomposição em tão pouco tempo.

Tive conhecimento que num alojamento dos oficiais ou dos sargentos havia vaga, sei que um tenente da minha Companhia dormia lá, não me fiz rogado e fui para lá dormir, pelo menos sempre dormia num colchão já que o risco era iminente em qualquer lado.

Não me lembro de ver sentinelas enquanto lá estive, se as havia eu não as vi, também não as fui procurar.

Enquanto lá estive, deambulei por lá sem grandes curiosidades, até porque a minha condição psico-física não mo permitia, apenas estava preocupado para que em caso de ataque iminente, teria de defender a zona que me tinha sido distribuída, nesse contesto analisei o terreno envolvente, vi onde estavam todos os meus homens, porque a segurança não podia ser descurada. Assim fui à sala de Transmissões onde funcionava o Comando e troquei impressões com quem lá estava, já tinha tido três baixas e queria fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para não ter mais, em virtude de estar consciente do perigo que todos corríamos.

As flagelações eram frequentes, numa delas houve uma granada perfurante que entrou num abrigo de um obus matou seis ou sete numa assentada, ficaram pendurados nos beliches. Naquela zona morria-se em emboscadas, dentro do quartel em valas e abrigos, a morte espreitava em qualquer lugar.

Lá foram mais uns quantos sepultados no cemitério improvisado, assim continuámos no antro de morte, o ar que respirávamos cheirava a morte. No dia 29MAI73 recebemos ordem de ir ao Cufeu fazer segurança para que não fossem emboscar uma coluna que vinha de Farim, desta vez tiveram o bom senso de trazer um Caterpillar a abrir picada nova, mesmo assim foi mais uma viatura pelos ares, na zona de Genicó, tendo provocado um morto e um ferido grave. A coluna no lado direito vinha escoltada pela CCAV 3420 do Cap. Salgueiro Maia e 38.ª de Comandos, nós saímos para ir fazer segurança ao Cufeu e o Destacamento de Fuzos saiu atrás de nós para ir para Ujeque.

Quando estávamos a entrar no Cufeu captei no meu rádio uma transmissão entre o Cap. Salgueiro Maia (?) ou o CMDT da Força que vinha à frente e o meu Comandante de Companhia, em que o primeiro perguntava qual a nossa localização porque estavam a avançar para ele em linha, cerca de cem militares/ guerrilheiros com boina verde, o segundo respondeu que não éramos nós porque estávamos na Tabanca do Cufeu e não usávamos boina no mato. Da conversa fiquei a saber que se conheciam da Academia Militar onde o Comandante da minha Companhia era conhecido por “Vietcongue”, aqui que ninguém nos ouve, nos Pára-quedistas tinha a alcunha de “Cara de Aço”, talvez devido ao seu ar grave, (com o devido respeito).

Quase de imediato ouviu-se um forte tiroteio na posição dele, desta vez o PAIGC foi tentar a sorte mais para frente, ao que parece ainda fizeram mais duas tentativas, mas a CCAV 3420 bateu-se bem e chegou para eles, apenas tenho algumas dúvidas se o contacto foi com CCAV 3420, ou se foi com a 38.ª de Comandos, se foi com a última esta já estava feita ao terreno porque já lá tinha passado.

Até que chegaram à nossa posição, depois da travessia da bolanha, uma viatura Unimog saiu fora do trilho e acionou uma mina, mais um ferido grave. Depois de passarem por nós, a minha Companhia seguiu atrás em protecção à retaguarda, mesmo assim ainda perto da zona de Ujeque, fizeram uma tentativa de nos flagelar, desta vez coube à minha Companhia repeli-los. Já de noite lá chegamos a Guidage.

A única coisa boa de que me lembro de ver enquanto lá estive, foi haver sempre água corrente.

(1) - O Carvalho,  mais conhecido por Carvalhinho, veio a falecer em combate na Operação Topázio Poderoso, na Região de Cubonge em 22JUL73.

Saudações Aeronáuticas
Dâmaso
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 28 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9954: Efemérides (61): Guidaje foi há 39 anos: Operação "Mamute Doido" (2): Desenrolar da emboscada na zona do Cufeu (António Dâmaso)

Vd. último poste da série de 29 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9961: Efemérides (62): Guidaje foi há 39 anos: a coluna que rompeu o cerco, em 10 de maio de 1973 (Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Cmd, 38ª CCmds, 1972/74)

Guiné 63/74 - P9962: O Nosso Livro de Visitas (137): Nelson Cerveira, ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAV 8320/73 (Bissorã e Bissau, 1974)

1. Mensagem do nosso camarada Nelson Henriques Cerveira, ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAV 8320/73, Bissorã e Bissau, 1974, com data de 23 de Maio de 2012:

Numa das descrições do seu blogue sobre saída dos últimos militares da Guiné "os últimos militares portugueses a abandonar o território da Guiné" feita por Luís Gonçalves Vaz, refere que o navio Niassa navegava já à frente, na realidade navegava mais à frente por ainda não ter chegado a águas territoriais da Guiné, pois vinha mais atrasado que o navio Uíge, e como não tinha hipótese de chegar ao largo de Bissau antes da meia-noite do dia 14/10/1974, data limite acordada para o abandono dos militares portugueses da então Província da Guiné, ficou à espera dos últimos militares ainda em pleno oceano Atlântico. Estes últimos militares, dos quais fazia parte o meu Batalhão de Caçadores, embarcou no porto de Bissau, em LDG (lancha de desembarque grande), vindos da Amura, poucos minutos antes da meia-noite e eram perto das 6 horas da manhã do dia 15 quando passaram das lanchas de desembarque para o Niassa, subindo por uma escada estreita colocada encostada ao casco do navio, num local onde a ondulação era pronunciada.

Passo de seguida a descrever esse embarque nas LDG. Eram cerca das 22 horas do dia 14, quando os militares formados no aquartelamento da Amura se começaram a deslocar para o porto de Bissau. Logo à saída da porta do aquartelamento encontrava-se uma segurança formada de cada lado da estrada feita por militares do PAIGC e Fuzileiros Navais Portugueses, espaçados cerca de 1 a 2 metros e alternando um militar do PAIGC com um Fuzileiro Português, até ao cais onde se encontravam as LDG. À medida que o último militar português da formatura ia passando por um Fuzileiro este ia-se integrando no fim da formatura. Tudo correu sem problemas e como já referi, os últimos militares a entrarem na LDG fizeram-no poucos minutos antes da meia-noite, tendo estes avançado, sem qualquer tipo de represália, nem tentativa, em direção ao navio, que nos esperava como já disse em pleno oceano Atlântico.

Devo também referir, que não temíamos qualquer represália por parte dos militares do PAIGC, mas sim por parte de alguns civis. Os militares do PAIGC, pelo contrário, protegeram alguns militares portugueses contra os civis, como aconteceu com alguns militares do meu Batalhão nos últimos dias que estivemos em Bissau. Esses militares foram vítimas de tentativa de agressão por parte da população civil negra, valendo-lhe nessa altura os militares do PAIGC que mal apareciam os civis fugiam de imediato temendo represálias por parte desses militares.

O meu posto era Furriel Miliciano Enfermeiro, pertencia à CCS, dum Batalhão de Caçadores, que não me lembro o número, pois todas as referências que tinha em relação à minha estadia na Guiné, e que eram muitas, inclusive grande número de fotografias, perdi-as numa mudança que fui obrigado a fazer de residência, numa altura que não me encontrava no país. No entanto vou deixar alguns dados sobre o meu Batalhão e espero que alguns dos meus colegas leiam o seu blogue e me possam indicar o número do Batalhão.

O meu Batalhão formou-se em Estremoz, nos primeiros meses do ano de 1974. Estávamos em Santa Margarida a tirar o IAO quando se deu o 25 de Abril. No dia 24 de Abril foi-nos comunicado que tínhamos sido desmobilizados, mas que tínhamos de entregar todo o armamento que nos tinha sido distribuído até à meia-noite desse dia. Esta ordem ficou sem efeito após o 25 de Abril e fomos para a Guiné, nos primeiros dias de Junho de avião. O nosso Batalhão foi render um batalhão cuja CCS estava estacionada em Bissorã, de onde saímos depois de fazer a entrega ao PAIGC em fins de Agosto de 1974.

Agradeço a hipótese de colaborar no seu blogue e fico à espera de respostas de companheiros meus desse Batalhão.

Muito atenciosamente
Nelson Henriques Cerveira
nelcerveira@gmail.com


2. No mesmo dia foi enviada a mensagem que se segue ao camarada Nelson

Caro camarada Nelson
Pelos elementos que forneces, poderás ter pertencido ao BCAV 8320/73 formado em Estremoz e não a um BCAÇ como referes.


1.º CMDT - Maj Cav Luís Manuel Lemos Alves
2.º CMDT - Cap Cav Nuno António Amaral Pais de Faria
OInfOp/Adj - Cap Cav João Luís Adrião de Castro Brito
CMDT da CCS - Cap SGE Sizenando Silva Lampreia
CMDT da 1.ª Comp - Cap Mil Grad José Feijão Leitão de Castro e Cap Art.ª Vítor Manuel Barata
CMDT da 2.ª Comp - Cap Mil Grad José Manuel Santos Jorge e Cap Inf.ª António dos Santos Vieira
CMDT da 3.ª Comp - Cap Mil Grad João Pedro Melo Martins Soares e Cap QEO Valdemar Nogueira dos Santos

Partidas:
Em 20JUN74 - CMD e CCS,
em 21JUN74 - 1.ª Companhia
em 22JUN74 - 2.ª Companhia
em 23JUN74 - 3.ª Companhia

Regresso em 14OUT74

Confirma-se que este Batalhão assumiu a responsabilidade do sector de Bissorã substituindo o BCAÇ 4610/72.

Se achares que estou correcto, mando-te cópias das folhas do livro que possuo, onde está a actividade resumida das diversas Companhias.

Recebe um abraço
Carlos Vinhal


3. No dia 24 recebemos resposta do camarada Nelson Cerveira

Caro Carlos Vinhal,
Tem toda a razão, só quero reteficar uma coisa. O Major Luís Manuel Lemos Alves, conseguiu ser desmobilizado pouco antes de termos partido por não haver espaço de tempo suficiente entre a sua última mobilização e esta, tendo assumido provisoriamente o Comando o Segundo Comandante Capitão Nuno António Amaral Pais de Faria, mas não chegou a ser nomeado novo Comandante, passando o Capitão a Comandante efetivo.
Agradeço a sua informação e fico a aguardar os documentos que refere.

Receba um abraço amigo
Nelson Cerveira


4. Comentário de CV:

Analisando os dados fornecido pelo nosso camarada Nelson e consultando a Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, concluímos que este Batalhão tinha como 1.º Comandante um Major quando o usual era o cargo ser ocupado por um Tenente Coronel. Pasme-se que por impossibilidade de o Major Lemos Alves ocupar o lugar de 1.º CMDT, foi substituído pelo Capitão Pais de Faria. Competências à parte, tivemos pois um Capitão a comandar um Batalhão. Terá sido porque a guerra estava em fase terminal? Já não havia Tenentes Coronéis e Majores disponíveis para dotar as Unidades mobilizadas?

Outra coisa que não se percebe nas afirmações do nosso camarada, a não haver confusão nas datas, é o facto de o Batalhão ter sido desmobilizado no dia 24 de Abril de 1974. Premonição? E por que foi "reactivado" no dia da Revolução?

Poderá o nosso camarada explicar?

Caro camarada Cerveira, convido-te em nome da tertúlia a fazeres parte da família do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné onde há sempre lugar para quem quiser contribuir para a memória futura da história da guerra colonial, e da Guiné em particular. Viveste não o período da guerra declarada, mas meses de tensão e de indefinição, e a fazer fé no que dizes, de alguma hostilidade da população de Bissau para com a tropa portuguesa.

Manda-nos uma foto actual e outra do teu tempo de Guiné e considera a tua mensagem de 23 de Maio como o início da tua colaboração, narrando as tuas experiências e aquilo que viste e sentiste em Bissorã e Bissau, até àquela inesquecível noite de embarque no Niassa.

Recebe um abraço do camarada
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9894: O Nosso Livro de Visitas (136): António Martins Alves, Regimento de Cavalaria 8 - Castelo Branco, 1967/70

Guiné 63/74 - P9961: Efemérides (96): Guidaje foi há 39 anos: a coluna que rompeu o cerco, em 10 de maio de 1973 (Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Cmd, 38ª CCmds, 1972/74)


02 Novembro 2005

Guiné 63/74 - CCLXV: Apresenta-se o 1º Cabo Comando Mendes (38ª CCmds, 1972/74)

Caro Luis Graça, camarada comando Briote:

Vou-vos falar um pouco de mim. Assentei praça no longínquo ano de 1971 no antigo RAL 1, em Outubro. Ofereci-me para os Comandos onde cheguei em Dezembro de 1971 (CIOE/ Lamego). Completei o curso em Junho de 1972, mês a que cheguei à Guiné, a 26. Iniciei a 2ª parte do curso em Mansoa, na mata do Morés, onde tive o primeiro contacto com o IN. Recebi o crachá de Comando em Agosto, com o posto de 1º cabo.

Em Fevereiro de 1974 terminei a comissão mas só regressei a Portugal em Julho de 1974. As histórias pelo meio ficam para outra altura, e tambem as fotos, neste momento tenho o scanner fora de serviço.

Se quiserem saber mais alguma coisa é só perguntarem.

Um grande abraço para todos os ex-combatentes, em especial os Comandos.

Só mais um pormenor, a minha companhia foi a 38ª Companhia de Comandos, os Leopardos.A. Mendes
1. Amílcar Mendes é um dos nossos mais antigos 
grã-tabanqueiros. Publica-se acima uma cópia do poste de 2 de novembro de 2005 em que ele se apresentou ao pessoal do blogue, que na altura ainda só eram umas escassas dezenas de "tertulianos", como então chamávamos aos membros da nossa "tertúlia", hoje Tabanca Grande.  

O  ex-1º Cabo Comando,  depois de ter estado na 38ª CCmds (Guiné, 1972/74), ficou no Regimento de Comandos da Amadora até 1980, dando instrução.  Hoje tem um táxi na Praça de Lisboa. Há tempos confidenciou-nos: "Enquanto estive na Guiné fui escrevendo uma espécie de diário que, com muito gosto, irei aqui partilhar com toda a tertúlia, porque sei que muito do que escrevi apenas fará sentido para aqueles que trilharam os mesmos caminhos nesses longínquos, difíceis e já saudosos anos".


São o seu caderno de notas e as memória ainda bem vivas da sua atividade operacional no TO da Guiné que lhe permitem falar com autoridade da coluna que "rompeu" o cerco a Guidaje, em 10 de maio de 1973. Há questões de pormenor que ele pode ainda esclarecer, com a ajuda de outros camaradas "que estavam lá"... Por exemplo,  no portal da Liga dos Combatentes não há registo de mortos, em combate, no dia 11 de maio de 1973, por que ao que parece o PAIGC estava também ocupado em tratar dos seus mortos e feridos (,segundo a versão de Moura Calheiros).  Por outro lado, os cadáveres em decomposição na zona do Cufeu (o A. Mendes diz que contou 15 quando lá passou em 10 de maio de 1973, a caminho de Guidaje) (*) tanto seriam das NT como do PAIGC (, já que a zona fora bombardeada antes pela FAP, possivelmente a 8). 

Por outro lado, confirma-se que os 2 gr comb da valorosa 38ª CCmds regressaram a Mansoa, ao CAOP 1, não a 13, ao fim da tarde.  

Sobre esta coluna, vd. o que o Moura Calheiros escreveu no seu livro, A Última Missão, pp. 444/445; este autor diz que esta coluna, com 8 grupos de combate - incluindo os 2 da 38ª CCmds - partiu de Binta a 10, de madrugada; o mesmo diz o José Manuel Pechorro e a história da 38ª CCmds; o Amílcar também já me confirmar a data, que é 10 e não 11, como aparece por lapso nos postes de outubro de 2006. A 12, morrem  o Raimundo e o Viegas morrem a 12...).

De resto, só com a triangulação de fontes e uma aprofundada pesquisa de arquivo podemos esclarecer pontos sobre os quais pode haver pequenas divergências factuais (por ex, nº e data das colunas; nº total de baixas, mortos e feridos; forças que integraram as escoltas às diversas colunas). O objetivo da publicação destes postes sobre os 39 anos da batalha de Guidaje (uma das mais duras da toda a história da guerra colonial nos três teatros de operações) é também a de suscitar o aparecimento de novos depoimentos, de colmatar lacunas de informação e de sobretudo de homenagear os vivos e os mortos, todos os nossos camaradas que deram melhor de si  (algumas dezenas, a sua própria vida) no "inferno de Guidaje".

Juntamos aqui os 4 postes do A. Mendes sobre o "inferno de Guidaje" (*), publicados em outubro de 2006. Foram feitas correções de datas.







38ª CCmds (1972/74) > História da unidade > Excertos (documento disponibilizado pelo Amílcar Mendes)


 A CAMINHO DE GUIDAJE

por Amílcar Mendes
Resumo:

9 de Maio de 1973 > O 2º e o 4º grupos [da 38ª Cmds] vão hoje fazer uma escolta a uma coluna de Mansoa para Farim.

13 de Maio de 1973 > Regressei hoje a Mansoa. Cinco dias fora. Meu Deus, foram os piores dias da minha vida. Irei tentar descrever tudo o que passei. Os horrores da guerra! Nunca pensei que fosse possível acontecer o que vi. Terrível de mais para ser verdade.  




9 de Maio de 1973

Saímos de Mansoa [, sede do CAOP1,]  com destino a Farim, com uma coluna que leva abastecimentos para a fronteira. Íamos só com a missão de chegar a Farim e voltar. Passámos a noite em Farim, mas fala-se já que não iremos voltar. A coluna que viemos acompanhar, destina-se a Guidaje.


Guidaje, onde nenhuma coluna consegue chegar. Fala-se aqui que da útima coluna que tentou passar: ficaram pelo caminho mais de 20 mortos. Guidaje onde a situação é caótica, onde a aviação já não dá cobertura. 

Em Farim assisti à chegada do que restou da última coluna que tentou passar. Vi militares chegarem a pé, sozinhos, completamente aterrados com o que passaram.

Continuamos em Farim e com a chegada da noite ficamos a saber que somos nós quem vai seguir com a coluna para Guidaje.



pelido  Nome  Posto  Ramo  Teatro de operações  Data  Motivo  
GERALDES MANUEL MARIA RODRIGUES GERALDES SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
MANÉ ABDULAI MANÉ 1CabExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
REDONDO ANTÓNIO JÚLIO CARVALHO REDONDO SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
SADJÓ SADJÓ SADJÓ SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
SANHÁ MAMADU LAMINE SANHÁ SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
TURÉ JANCON TURÉ SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
ApelidoNomePostoRamoTeatro de operaçõesDataMotivo

 Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar













10 de Maio de 1973

Saímos de madrugada de Farim com destino a Guidaje. Primeiro a Binta, onde os picadores se irão juntar aos nossos grupos. Daí entramos na maldita da picada. Os picadores seguem na frente.

Nota-se na picada o efeito das minas, autênticas crateras. Serão 16 km de picada até Guidaje. Um pelotão de Binta irá conosco até meio do percurso, depois iremos sós. Na frente os picadores lá vão detectando e rebentando minas, a cada hora apenas andamos para aí 2 km. Sabemos que de Guidaje saiu a CCAÇ 19, africana, para vir ao nosso encontro.


Passar na bolanha do Cufeu é impossível descrever o que encontramos sem sentir um aperto na alma: dezenas de viaturas trucidadas pelas minas. Os cadáveres pelo chão são festim para os abutres. É uma loucura. Pedaços das viaturas projetadas a ezenas de metros pela acção das minas. Estrada cheia de abatizes. Tentamos não olhar. Nunca vi tanto morto, nossos e do IN, deixados para trás ao longo da picada.

A coluna, à saída da bolanha do Cufeu, pára. Ouve-se ao longe tiros e rebentamentos. A companhia que vinha ao nosso encontro [, a CCAÇ 19,], caiu numa emboscada na ponte. Pelo rádio ouvimos o oficial que comanda a companhia emboscada pedir apoio aéreo, porque o IN é em muito maior número e ele diz que está a ser dizimado. Chegam dois Fiats e tentam dar cobertura à companhia emboscada mas dizem que é impossível porque o IN esta demasiado próximo.


Ouço então o apelo mais dramático, ouvido em toda a minha vida: Pela rádio o oficial que comandava a companhia emboscada apela à aviação:

- BOMBARDEIEM TUDO! A NÓS, INCLUINDO! A SITUAÇÃO É DESESPERADA! ESTAMOS A SER TODOS MORTOS, POIS OS GAJOS SÃO EM NÚMERO MUITO SUPERIOR!

A aviação nega-se a cumprir o apelo. Nós estamos a cerca de 3 km da emboscada. Nem pensar em lá chegar para ajudar. Demasiado longe num local cheio de minas e outros obstáculos. Os Fiats sobrevoam-nos e avisam-nos de que o IN está próximo. Faz isso para evitar ser bombardeado.



Continuamos a caminho de Guidaje. Quem ainda seguia nas viaturas salta para o chão. Ouve-se um rebentamento! Foi uma mina! O 1º cabo Filipe ao saltar pisou uma mina! Ficou logo ali sem um pé! Recebe os primeiros cuidados na picada e é posto numa viatura.

Seguimos, seguimos a um ritmo alucinante para chegar antes da noite.

Mais um morto na picada. Pisou uma mina. Ficou irreconhecível, metade do tamanho. É enrolado num poncho, posto no estrado de uma viatura. E continuamos (Esse morto mais tarde iria ser sepultado em Guidaje onde ficou).


Uma viatura pisa uma mina mas só ficou sem o rodado e continua assim mesmo.

Chegamos ao local da emboscada da CCAÇ 19 (**). Só encontramos mortos. Mortos e mais mortos. Nossos e do IN. Ficam para trás. E ali irão ficar para sempre. Já andámos há cerca de 10h na picada e Guidage já não está longe.

Já com Guidaje à vista subimos para as viaturas e eu sigo naquela só com três rodados, e onde segue o morto.

Chegamos a Guidaje! É a primeira coluna a chegar de há três semanas a este tempo. A população vem receber-nos com gritos de alegria, dá-nos água, trata-nos com carinho, sentem que o isolamento acabou.


Assim que entramos no destacamento, somos brindados com um ataque de morteirada. Com a noite vamos para as valas, que é onde se vive em Guidaje! O Filipe está num abrigo a soro, fui vê-lo e ele delirava a chamar pela família.

Durante a noite iremos sofrer mais 4 ataques e um deles será mortal.

Chega a noite. Mais um ataque. Desta vez e canhão sem recuo e morteirada. O IN sabe que esta uma Companhia de Comandos na vala e vai tentar a todo o custo causar-nos baixas, o que infelizmente vai conseguir. Nas valas, em estado de alerta, é impossível dormir. De bom em Guidaje só o facto de não haver mosquitos.

[No dia 11 de Maio de 1973, não há registo de mortos no portal da Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar. ]

12 de Maio de 1973

Cerca das três horas da manhã rebenta um violento ataque ao destacamento que é de meter medo. O IN deve ter as coordenadas das valas pois o fogo acerta todo dentro das valas. O barulho rebenta com os ouvidos. Dura cerca de 30 m. São centenas de projécteis. É de dar em doido!

A nossa artilharia [, Pel Art 24, de Guidaje] (**) responde ao fogo e lá se consegue parar o ataque. Terminado o ataque vamos fazer a contagem e duas vozes não respondem. Um, o Soldado Comando Raimundo, meu camarada de grupo, um moço da [Azambuja], a quem nunca mais ouvirei a sua voz; outro, um soldado condutor [, o Viegas, do CAOP 1] que tinha vindo connosco. Ficaram os dois desfeitos na vala com morteirada 120 mm.



Apelido  Nome  Posto  Ramo  Teatro de operações  Data  Motivo  
RAIMUNDO JOSÉ LUIS INÁCIO RAIMUNDO SoldExércitoGuiné12/05/1973  Combate  
VIEGAS DAVID FERREIRA VIEGAS SoldExércitoGuiné12/05/1973  Combate  
ApelidoNomePostoRamoTeatro de operaçõesDataMotivo

Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar  









Ainda durante a noite iremos sofrer novo ataque mas mais ligeiro. Com a chegada da manhã os rostos de tristeza vão-se descobrindo mas é preciso reagir. Com um ano de guerra, o factor morte já não nos afecta assim tanto, já aprendemos a conviver com ela de perto, só temos de arranjar maneira de a ir iludindo.

Recebemos ordens para sair para a mata. Vem outra coluna a caminho, escoltada pelo Fuzos [ 1 gr comb da DFE 1 e um gr comb do DFE 4, comandados pelo 1º ten Meireles de Amorim, mais um gr comb da CCAÇ 3,] e nós vamos ao seu encontro para lhes dar apoio até  Guidaje. 

Antes de sair, fui ao abrigo-enfermaria (?) ver o Filipe: continua inconsciente, a perna começa a gangrenar e tem que ser evacuado com urgência, mas isso está fora de questão pois os misseis Strela estão à espreita da nossa aviação.

Fomos ao encontro da coluna e,  assim que chegamos ao destacamento, novo ataque. Pelas minhas contas tera sido o 6º. Com a noite voltamos para as valas.


O estado psicológico era tal que quando no silêncio se ouvia um barulho de alguma coisa a bater corríamos logo para a vala. No ataque à chegada dos fuzileiros, o furriel Marchão do meu grupo ficou crivado de estilhaços mas sobreviveu.

 
Amanhece em Guidaje. Logo ao alvorecer sofremos mais um ataque (o 8º). Recebemos ordem de saída para a mata. Vamos montar uma emboscada nos trilhos, já dentro do território do Senegal. Parece uma auto-estrada este trilho tal é o movimento de população. Revistamos ao acaso. Numa mulher encontramos documentação militar que apreendemos. Depois de cerca de três horas de controlo, retiramo-nos para o quartel.

A coluna vai hoje [, 13,] regressar a Binta-Farim. Ao meio do dia mais um ataque ao destacamento. A meio da tarde começa-se a organizar a coluna para o regresso mas durante os preparativos sofremos mais dois ataques e é a confusão, com as viaturas paradas no meio do destacamento e a morteirada a cair.


Assisti durante os ataques a um espectáculo insólito: enquanto durava o fogo, um oficial, nesta caso o Comandante, caminhava sereno pelo meio da confusão dando ordens e tentando manter a calma, alheio aos ataques e aos gritos. Esse senhor era o [Tenente-] Coronel Correia de Campos, que comandava o COP 3, ao qual a minha companhia ficou dependente enquanto esteve em Guidaje.

O Comandante achou perigoso a coluna seguir nesse dia [, 12,] pois fazia-se noite e concerteza o IN iria estar emboscado à nossa espera. Durante a noite sofremos mais ataques. Creio que no total e no curto tempo que aqui estivemos, sofremos pelo menos 15 ataques ao destacamento.

13 de maio de 1973


Logo ao alvorecer [, pelas 6h00,] a coluna põe-se a caminho. Fazemos a picada de volta e à medida que avançamos, voltamos a passar pelos cenários de morte. Os corpos estão a caminho de esqueletos, devorados pelos jagudis. O cheiro é insuportável, por vezes dá náuseas. Acho que pelo resto da minha vida nunca mais vou esquecer este local maldito!

Ao fim da manhã já estamos a chegar a Binta quando surge mais um acidente: um militar da tropa da Província pisa uma mina, dá por ela e fica com o pé lá em cima... É uma mina de descompressão e poucas hipóteses tem de lá sair com vida.

Põe-se areia a volta. Cobre-se o corpo de roupa mas ele salta rápido. Não morre mas fica sem o pé. Durante a minha viajem de regresso na Berliet que seguia à minha frente, ia o Filipe com a perna já em adiantado estado de gangrena. Irá sobreviver. Somos amigos, ele vive no Porto e ainda hoje recordamos esse tempo, o que nos dá vontade de chorar!


Chegamos a Binta e o Filipe é logo evacuado! A coluna não pára. Seguimos para Farim e daí logo em direção a Mansoa.

É a alegria geral! Que saudades da rapaziada! Chegamos a casa!...
- FORAM OS PIORES DIAS DA MINHA VIDA!- Pensava eu. 


A malta faz perguntas mas a nós não nos apetecia responder, só para não voltarmos a pensar naquele inferno. Ao diabo com Guidaje!~(Como eu estava enganado, mas ainda não o sabia!). [O Amílcar Mendes voltará lá em 29 de maio, na escolta a uma outra coluna logística].

Comentário: Ainda hoje sonho com Guidaje! Algumas coisas do que aconteceram foram tão reais que iriam ficar gravadas na minha memória até chegar ao STRESS!

Sentir na carne não é o mesmo que me sentar a escrever sobre um acontecimento. Isso é ficção e, pelo que vou lendo, há muitos ficcionistas que se arvoram em paladinos da verdade. Paz à sua alma!... (**)

A. Mendes


Texto e fotos: © Amilcar Mendes (2006). / Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. este e os postes anexos a este > 4 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2719: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos (Amílcar Mendes)

(**) Segundo informação do nosso camarada José Manuel Pechorro, o pessoal da CCAÇ 19, do recrutamento local, era de etnia mandinga. O Pel Art 24, por sua vez, era constituído sobretudo por pessoal balanta.

Do José Manuel Pechorro, vd. também os seguintes postes:

19 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)

21 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5310: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - II Parte (José Manuel Pechorrro)

16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5479: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - Agradecimento e algumas informações (José Manuel Pechorro)

4 de Abril de 2010 Guiné 63/74 - P6105: (Ex)citações (63): O Ten Cor Correia de Campos foi um dos heróis de Guidaje (José Manuel Pechorro)


(***) Último poste da série > 28 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9954: Efemérides (61): Guidaje foi há 39 anos: Operação "Mamute Doido" (2): Desenrolar da emboscada na zona do Cufeu (António Dâmaso)