sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9254: Notas de leitura (314): Recortes da História da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Novembro de 2011:

Queridos amigos,
Estes “recortes” são de indiscutível interesse no que toca à história da Guiné-Bissau pós-independência. Não se conhece outro compêndio, na actualidade, com tão basta informação quanto às décadas mais recentes.

Quando encomendei a obra, a Fundação Fé e Cooperação, a organização não-governamental portuguesa operante nas áreas de educação para o desenvolvimento na Guiné-Bissau, enviou-me documentação referente às suas actividades e sugere a presentes solidários. Por 7 euros receberá um postal solidário que tem a ver com uma maleta de documentos para a Guiné-Bissau. Menciona-se concretamente: ofereça medicamentos às cerca de 19 mil crianças e 1600 mulheres grávidas atendidas nos centros de recuperação nutricional e casas da mães na Guiné-Bissau. Este presente irá contribuir para a significativa melhoria da saúde das mulheres e crianças guineenses.

Para mais informações contactar www.presentessolidarios.pt.
Para comprar os recortes, o ideal é fazê-lo através do email geral@fecongd.org.

Um abraço do
Mário


Recortes da história da Guiné-Bissau

Beja Santos

“Recortes da história da Guiné-Bissau 1900 - 2005” é um apanhado de dados históricos que podem ajudar a compreender cerca de um século da Guiné-Bissau. A obra foi coordenada por Catarina Lopes, numa edição da FEC – Fundação Fé e Cooperação, uma organização não-governamental vocacionada para actuar nas áreas da educação para o desenvolvimento e advocacia social (www.fecongd.org). A FEC trabalha estreitamente com a CIEE – Comissão Interdiocesana de Educação e Ensino, que é um organismo da Igreja Católica responsável pela coordenação da educação nas escolas geridas directa ou indirectamente pelas Dioceses de Bissau e Bafatá.

A obra tem dois prefácios, da autoria do escritor Abdulai Silá e do jornalista José Pedro Castanheira. O primeiro apela a que se decomponha o mito a favor do senso ou da consciência histórica, enaltece estes “recortes” por proporcionarem o momento de reflexão sobre o passado histórico da região, considerando que a publicação refere abundantemente os factos da história recente da Guiné-Bissau sem nódoas nem mágoas. O segundo considera esta iniciativa uma magnífica surpresa, ela preenche um vazio quase absoluto, aparece como um valiosíssimo e utilíssimo compêndio da história recente da Guiné-Bissau, de consulta obrigatória.

Depois de um enquadramento sinóptico que vai desde o Império do Mali até à conferência de Berlim, somos mergulhados na definição das fronteiras do território da Guiné, nas campanhas de pacificação e num aceso de lutas em torno do imposto de palhota. Na época, o comércio externo da Guiné aparece dominado por sete casas comerciais, com destaque para franceses, alemães, belgas e franco-ingleses, os portugueses estão francamente minoritários. Com a República, a Guiné é dividida em dois municípios e sete circunscrições civis.

Os grandes acontecimentos da segunda década giram à volta das campanhas de Teixeira Pinto e da obra deixada pelo governador Velez Caroço, a ele se deve o mérito de transformar um território meramente fluvial em terrestre. Os anos 30 ficaram marcados pelo regime de indigenato, pela Casa Gouveia ter ser sido entregue à CUF, em quem se delegou, em 1927, o monopólio da exploração dos recursos económicos da Guiné. Com os anos 30, emerge a mística imperial e conclui-se o trabalho da pacificação. Em 1945, a colónia tem um governador de grande categoria, o comandante Sarmento Rodrigues, entrou-se numa nova fase da colonização da Guiné por intervenções em diversas áreas: sanitária, científica, cultural, económica e social. De acordo com o primeiro recenseamento populacional da Guiné, em 1950, a população “civilizada” era composta por 8320 indivíduos e a restante população, os indígenas, eram cerca de meio milhão. É uma década em que vai vibrar uma onda de descolonização, Amílcar Cabral vai trabalhar no recenseamento agrícola e em 1955 um grupo de civilizados criou um movimento de independência, que teve uma vida efémera. O PAIGC tem usado a data de 19 de Setembro de 1956 como o momento da criação do PAIGC, a historiografia moderna contesta tal facto, mas no fim da década assiste-se à independência de muitos estados africanos e em 3 de Agosto de 1959 ocorre o massacre do Pidjiquiti, acontecimento emblemático que irá acarretar uma nova estratégia de actuação do movimento de libertação.

As décadas 60 e 70 estarão centradas na luta armada e na independência. Estes “recortes” têm muitas entradas de 1976 a 2005: fracasso do modelo pós-independência, golpes de Estado ou seus simulacros, afundamento económico, a chegada do multipartidarismo, a estruturação da dependência crónica da ajuda externa e em Junho de 1998 inicia-se um doloroso conflito político-militar tendo em campos opostos Nino Vieira e a Junta Militar dirigida por Ansumane Mané. Em Janeiro de 2000, Kumba Ialá foi eleito presidente, os conflitos militares não desapareceram, Ansumane Mané acabará executado, entrara-se numa nova era de instabilidade que culminará com o afastamento do presidente graças a um golpe militar tendo à frente o general Veríssimo Seabra. Sempre a viver na transitoriedade, e numa segunda volta de eleições presidenciais, Nino Vieira, que regressara depois de um exílio em Portugal é empossado na presidência. Mas não se fechou o ciclo das turbulências em que se encontra a Guiné-Bissau, um dos seis países mais pobres do mundo e em que dois terços da sua população vivem com menos de dois dólares americanos por dia.

Concluído este repertório de recortes, o compêndio agrega biografias de figuras representativas, desde Honório Pereira Barreto, passando por Amílcar Cabral e Vasco Cabral, até Malã Bacai Sanhá. Outra secção contempla figuras proeminentes das artes, cultura e sociedade, temos ali Berta Oliveira Bento (à frente da lendária Pensão Central), Braima Galissá, Carlos Lopes, Flora Gomes, José Carlos Schwartz, Odete Semedo, Tabanca Djazz e Tony Tcheka. O leitor é também brindado com uma importante bibliografia, indicação de sites e de organizações não-governamentais com inequívoco trabalho no terreno. Como em todas as obras deste tipo, aqui e acolá há algumas imprecisões que certamente irão aparecer corrigidas em nova edição.

Estes “recortes” passarão a ser propriedade do nosso blogue.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9231: Notas de leitura (313): Três Tiros da Pide, de Oleg Ygnatiev (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9253: Parabéns a você (357): Albano Costa, ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74), Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS/STM/QG (Guiné, 1968/70) e amiga Felismina Costa

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9236: Parabéns a você (356): José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp da CCAV 8350 e CCAÇ 11 (Guiné, 1972/74)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9252: O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho... (6): Mensagens dos nossos camaradas Augusto Silva Santos, Fernandino Vigário, Luís Fonseca, Manuel Resende, Ernesto Duarte, António Graça de Abreu e José Barros

MENSAGENS DE NATAL DOS NOSSOS CAMARADAS

1. Do nosso camarada Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73:

Com votos de Feliz Natal

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2. Do nosso camarada Fernandino Vigário, ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 1911, Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69:


Camaradas e amigos,
Que o espírito de Natal permaneça no coração de todos vós todos os dias do ano junto dos vossos familiares.
Saudações Natalícias.
Fernandino Vigário.

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3. De Luís Fonseca, ex-Fur Mil Trms, CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana Varela , 1971/73:

Com os meus mais sinceros votos de óptima Quadra Festiva


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4. Mensagem de Manuel Resende, ex-Alf Mil da CCaç 2585, BCaç 2884, que esteve em Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71:

Caros amigos e camaradas,
Como já todos devem ter recebido imensos postais com muitas luzinhas a piscar e muita neve, eu apenas quero desejar a todos que tenham um bom Natal no aconchego das famílias, e que o próximo ano seja o melhor possível, apesar do desconforto da crise.
Que o Menino não se esqueça dos nossos amigos camaradas que mais precisam.

Um Santo Natal para todos
Manuel Resende

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5. Do nosso camarada Ernesto Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67:

Caro Amigo Carlos Esteves Vinhal
Dirijo-te mais duas linhas, antigo camarada, não de glórias, mas de cumpridores de imposições desagradáveis!

Eu fiz a minha vida, mas nunca consegui esquecer e convivo mal com o depois de tantos apelos à paz, ver guerras nascerem todos os dias, o homem é hipócrita, logo eu sou hipócrita.

Mas tentar esquecer, e é Natal e já que o homem em dois mil anos, não conseguiu criar mais que um, pois que se apele às nossas forças, para que se viva esta quadra em espírito de Natal com paz e amor.

Através de ti bom amigo envio um grande abraço de Natal para toda a malta militar e principalmente os antigos militares que ainda andam dando vida a esta terra que os viu nascer e eles tanto amaram e amam.

BOM NATAL
FELIZ ANO NOVO
Ernesto Duarte

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6. Mensagem do nosso camarada António Graça de Abreu, CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74, apresentando ao Blogue o Menino Jesus chinês:


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7. Mensagem do nosso camarada José Ferreira de Barros, ex-Fur Mil At Cav, CCav 1617/BCav 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato, 1966/68:

Caro amigo e camarada Carlos:
Tenho andado um pouco arredio da escrita no blogue, mas o trabalho de encenação de uma peça num grupo amador tem-me trazido bastante ocupado.

Esta quadra natalícia não podia deixá-la passar sem desejar aos editores, co-editores e a todos os tabanqueiros e de uma forma especial a ti, que é quem mais me atura, um SANTO NATAL E UM NOVO ANO COM MUITA SAUDE E ALEGRIA para enfrentar tanto aperto de cinto.

Porque dois Natais foram passados Além-Mar, com alguma alegria e muita amargura, aqui deixo um poema de Cabral do Nascimento que se intitula:

NATAL DE ALÉM-MAR

Não há pinheiros, não há neve,
Nada do que é convencional,
Nada daquilo que se escreve
Ou que se diz…Mas é Natal.

Que ar abafado! A chuva banha
A terra, morna e vertical,
Plantas da flora mais estranha,
Aves de fauna tropical.

Nem luz, nem cores, nem lembranças
Da hora única e imortal.
Somente o riso das crianças
Que em toda a parte é sempre igual.

Não há pastores nem ovelhas,
Nada do que é tradicional.
As orações, porém, são velhas
E a noite é de Natal.

Um grande abraço
José Barros

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9251: O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho... (5): Mensagens de Albino Silva, José Mussá Biai e Tabanca de Matosinhos

Guiné 63/74 - P9251: O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho... (5): Mensagens de Albino Silva, José Mussá Biai e Tabanca de Matosinhos

MENSAGENS DE NATAL DOS NOSSOS CAMARADAS

1. Do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70:


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2. Do nosso tertuliano José Mussá Biai:

Chove. É dia de Natal

Poema de Fernando Pessoa

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.


UM NATAL FELIZ E UM ANO NOVO MUITO PRÓSPERO

José C. Mussá Biai

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3. Da Tabanca de Matosinhos

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9234: O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho... (4): Mensagens dos nossos camaradas Raul Albino, Ricardo Figueiredo, Carlos Rios, Henrique Cerqueira, Manuel Alheira, Rui Silva, Valentim Oliveira e Manuel Maia

Guiné 63/74 - P9250: Bibliografia de uma guerra (58): Pequenas partes do Lugares de Passagem aqui juntas com algum sentido (José Brás)

1. A propósito do Poste de Cherno Baldé (P9243*) recebemos do nosso camarada José Brás (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68) estas


Pequenas partes do "Lugares de Passagem", aqui juntas com algum sentido

Tenho visto que choras
Filipe, de vez em quando.
Tenho visto e não entendo o teu chorar.
Choras quando te julgas só, perdido no andar apressado entre o bar e o teu quarto, sentado na cama, cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos na cara, abertas, cobrindo-te o rosto quase todo e deixando os olhos na sombra dos dedos.
Sei que choras porque fungas forte, e limpas os olhos às costas da mão direita, retomando logo a postura de antes e deixando ver as marcas húmidas na mão, reflectindo a luz forte que entra pela porta entreaberta.

E não entendo,
de novo o digo. Não entendo porque te sei corajoso e paciente, e que esperas da vida coisa melhor do que esta que aqui tens, voltando à tua terra, à tua gente, à tua luta.

Não estou
a queixar-me, juro, tenho a minha sina feita, filho pequeno, homem na guerrilha que tu não conheces, de ver próprio na figura, mas conheces da minha fala sobre ele, sobre falta que me faz, pessoa bondosa e valente, enfilado na mata há dois ou três anos na nossa luta por nossa terra.

Conto a ti
porque te conheço já, porque te confio certo, nos olhos de verdade. Só homem grande de Tabanca é que sabia antes, que saímos de Bissau naquele tempo, justo para ingressar na luta do Amílcar Cabral, e agora sabes tu, também.

Sabes que
voltou três vezes a visitar morança, chegando aqui na luz do dia, ficando dentro de casa deitado, puxando eu na cama para brincar, olhando, olhando cansado, fazendo sem vontade este meu filho pequeno que se alimenta do que ganho lavando roupa de soldado.

E tu sabes
que soldado é abusador, sempre querendo meter mão em perna, subir em cueca. Não digo por raiva a eles, aqui nesta terra longe de mulher esposa ou amásia, tudo novo, idade de querer brincar, saudade de outro sol, de outro vento, de caminho velho e de brincadeira com branca no pinhal.

Tu é diferente.
Gosto. Não tens brutidades como outros gajos. Não vieste de mão a mexer em braços, em seios, em catota. Demoraste tempo, tratando-me sempre bem, pagando lavagem melhor que outros, ajudando filho com lata de leite.

Quando vinhas
e trazias que comer na minha morança, ou pano novo, ou remédio que te pedia, eu pensava é hoje que ele quer brincar, açúcar, sal, farinha é paga de cama, como fazem outros, soldados e até alferes e capitão.

E ficava descansada
no princípio, vendo-te apenas olhar meu trabalho, uma luzinha aguada nos olhos, parecia que querias mas afastavas-te de volta ao quartel, sem a ofensa que eu queria que fizesses, deixando dúvida, achando que talvez nem fosses homem inteiro, que não gostasses de mulher.

Comecei a esperar
que chegasses com roupa para lavar ou com ajuda ou mesmo sem nada como vinhas muitas vezes, apenas para partir conversa, para perguntar coisas. Não notícias de marido ou informação da luta, antes outras coisas simples de vida, para dizeres só, bem, vou embora, até amanhã, escondendo teus olhos de água e teu pau gordo dentro de calção fechado.

Ia eu no quartel
e não deixava tua roupa sobre a cama, como outras faziam, sem que viesses recebê-la tu e às vezes inventava uma coisinha como desculpa para ficar contigo um pequeno tempo em quarto, desejando que partisses acanhamento e me empurrasses para dentro de mosquiteiro, sabendo que teus companheiros se iam logo para o bar.

Num dia
disseste, Mominato, ficaste tempinho calado, e avançaste a mão no meu rosto, afagando, pedindo desculpa querendo retirar a mão que eu agarrei logo e não queria que retirasses.

Olhaste-me
por dentro e encostaste teu peito. Olhavas minha cara e sentia-te nervoso mas cheio de vontade de brincar, abraçando-me e deitando meu corpo sobre tua cama, desatando meus panos com pressa e me tendo nua por debaixo.

Passaste
a ser meu homem de verdade todos os dias e quando marido visitou, encontrou-me doente porque pediste a doutor remédio que fingisse eu tomar, querendo não melhorar de doença que não tinha até que partisse de novo na luta armada.

Sabia que irias partir,
deixar este quartel. Ou que poderias ser morto ou ferido que eram outras formas de partires e nessas horas de pensar mal, sentia pernas fracas e desejo de chorar o choro que não via em ti. E ria. Ria por dentro de mim, também como tu no choro, mas ao contrário, do gosto que me davas então e de desejo que não partisses nunca.

E agora tenho
visto que choras sozinho, escondido dos outros e até já te vi olho vermelho que escondes de toda a gente, fazendo-te o que não és, partindo teu sentimento, afogando teu sentir recto de ser gente, nessa tua forma de ser humano como deve ser.

Teu amigo
João morreu de mina na picada de Xamarra e tu não choraste. Vi-te preso por dentro, cheio de raiva, a ira a rebentar e a rebentar-te, a alma atada na fraqueza de remediar coisas, de pôr tudo como antes. Mas não choraste, ou pelo menos não te vi chorar.

E não choraste
por teu amigo Sebas, como lhe chamavas e me disseste ser nome pequeno de Sebastião, morreu de tiro na perna, furinho só, que mal se via e o matou pouco a pouco, helicóptero a querer vir a chão para evacuar e rajadas de PAIGC, quem sabe se de meu homem guerrilheiro, a não deixarem, o Sebas a morrer devagar, em teus braços, sobre tuas pernas, como vela, dizias depois, como vela que arde e se apaga lentamente gastando a cera.

Tenho fé que
choravas de verdade, à noite, sozinho no escuro do quarto, mais que esse choro que te via sem sair. Choravas de verdade porque não pode um homem abrigar só dentro de si, tamanha dor, tão enorme solidão, sem a soltar, manso e só como julgo que fazias, ou bravo e gritando, dando murros no ar e nos tampos de mesas como fazia Vilar, alferes do terceiro.

E também choraste,
eu sei, quando notícia chegou sobre morte de marido de mim, e aí te vi lágrimas querendo rebentar, segurando mãozinhas de Adulai, meu filho, e meu filho agora só de mãe, pequeno e tão perto de mortes já, das mortes tuas de companheiros brancos e de mortes tuas também, de pai de meu filho, de guerrilheiros negros de PAIGC, guerrilheiros da liberdade, como dizias e eu acreditava serem.

Percebi, então
que mundo não era assim pequeno como morança de tabanca, como lavra de mancarra, como estrada de Buba, como caminho de batelão para o Bissau, teu mundo era maior que diferença entre tropa branca e tropa guerrilheira, maior que Lisboa, maior que mar de navio para Lisboa e era isso que te trazia tão de raiva contra mortes de brancos e de pretos, contra os dias abafados, contra as fomes que vias no povo da tabanca, nos pratos pequenos dos soldados, no quartel do Quebo e nas suas mesas de aldeia portuguesa.

Nesse tempo
de alegria triste, muito queria eu abraçar teu corpo branco e preto, deitar tua cabeça em meu colo, consolar tua fraqueza de homem, deixar que entrasses em mim dorido, chorando, me molhasses de lágrimas tuas, e de mim saísses inteiro e novo porque sei, desde que conheço minha vida, que mulher tem esse dom, essa força de terra que germina e pare filho e dá força a homem quando vacila e sofre.

Agora estou aqui,
de cabeça maluca esperando teu chegar em minha casa, de manhã, de tarde, ou eu ir no quartel mesmo sem roupa lavada, só para me tirares panos, deitares comigo, fazer amor, como dizes e eu não sabia o que era mas agora sei porque faço como nunca fiz em Umaru, e penso em ti sempre e tenho medo que vás.

Descobri que
essas palavras de filha de senhora de sentir paixão por homem, de querer um só, de desejo de brincar sempre, não é só de gente branca mas é também de gente negra, de mulher negra com branco ou com negro, também, de homem branco por negra.

Ensinaste-me
querer brincar sem obrigação, só de vontade, de vontade de sentir corpo todo na tremura, de quase morrer cansada e de voltar à vida devagar, devagarinho, recuperar forças e querer mais, de novo, voltar ao desmaio e reanimar, tu comigo, sem querer acabar.

Só acontece
a mulher, bajuda ou grande, se não é fanada em criança, dizes tu, crime grande se faz nessa prática que mata parte de espírito de ser humano, desejo e prazer, e eu acho também, agora, ser verdade por conversa de fonte com mulheres de aldeia.

E mesmo que
branca, muitas, sem fanação, dizes que sofrem dessa falta também por homem ser egoísta e querer só gozo de seu corpo, sem respeitar direito de mulher, gostando só de si próprio e não de esposa ou de amásia, conforme caso.

Não sei que
vai ser de minha vida quando fores. Dizes que estarei um tempo sem homem e como se fosse viúva, agora viúva de verdade sentida, e depois outra gente branca virá e eu serei lavadeira de outro e amásia de vontade se ele for bom pessoal e à força se for besta.

Pode ser
que sim, como dizes agora com essa mágoa que te vejo nos olhos, e se a vejo, fico triste como se fosse hoje o dia de saíres, o dia de chorar muito por não te ver amanhã, ficando eu no choro que eu disse tu tens e não entendo.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9243: Memórias do Chico, menino e moço (32): Havia lavadeiras e... lavadeiras: o caso das minhas duas irmãs (Cherno Baldé)

Vd. último poste da série de 13 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6727: Bibliografia de uma guerra (57): Estranha Noiva de Guerra, de Armor Pires Mota, a publicar em Setembro de 2010 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9249: À margem da história oficial ou oficiosa (1): Revolta, em Guidaje, da martirizada CCAÇ 19 (Manuel Marinho, 1ª C/BCAÇ 4512; José Martins, CCAÇ 5)


Guidaje > Maio de 1973 >A caminho de Guidaje, os comandos da 38ª CCmds deparam-se com um espectáculo macabro... Cadávares de combatentes das NT e do IN abandonados, na sequência da batalha de Guidaje... Nesta imagem, brutal embora de má qualidade, vê-se dois  cadáveres de elementos das NT (provavelmente da CCAÇ 19), perto da bolanha do Cufeu.


 Foto: © Amílcar Mendes (2006). Todos os direitos reservados




1. Comentário, com data de 18 do corrente, ao poste P6612 (*),

A história aqui contada tem alguma falta de informação.

Era eu o comandante da Companhia [, a 1ª C/BCAÇ 4512,] e tinha vindo a Lisboa. Quando cheguei, e regressei, a 27 de Julho [de 1974], deparei-me com uma situação explosiva.


Estive cercado com os meus alferes e furriéis durante dois dias. Até que os soldados da CCaç [19] me deram um prazo para falarem com um capitão dos Comandos Africanos. Se isso não acontecesse até às 15 horas, eles fuzilar-me-iam na parada.

Chegou um helicóptero às 13h, com um capitão dos Comandos Africanos. Se bem me lembro, era o Cap Sisseco, acompanhado de um Major do Estado Maior.

Os soldados africanos, quando souberam que tinham que sair em Agosto [de 1974], não aceitaram e acharam que nós tinhamos sido uns traidores. Depois da minha ida a Bissau, chamado pelo Comandante Chefe [Brigadeiro] Fabião, conseguiu-se que eles recebessem o pré até fins de Dezembro. 


2. Comentário de José Marcelino Martins, nosso colaborador permanente (*):




O autor do comentário efectuado às 12h03 esqueceu-se de se identificar. No entanto, pelo texto deduzo ser o Capitão Miliciano de Infantaria Francisco da Silva Oliveira. Era bom confirmar esta informação. 



O Capitão Sisseco... seria o Ten Graduado Comando Adriano Sisseco, que foi um dos comandantes da 2ª CCmds Africanos ?!


Quanto aos pagamentos a efectuar aos militares africanos... estavam consignados no artigo 24º do Anexo ao Acordo de Argel, assinado em 26 de Agosto de 1974. Previa-se o pagamento do pré [dos militares africanos] até ao final do ano de 1974. 


Porém, não foi nesta data que o mesmo foi acordado. Teria de vir de reuniões anteriores, uma vez que, na CCaç 5 (Canjadude), desactivada em 24 de Agosto (antes da assinatura do Acordo), o Comandante na altura pagou esses valores aos seus subordinados africanos, tendo para tal de deslocar-se a Bissau o seu 1º Sargento para proceder ao levantamento da verba necessária e proceder ao transporte da mesma.


Renovo que os meus votos de que o subscritor do comentário a que me refiro, além de se identificar, nos faculte mais elementos sobre este período que não está muito documentado "oficialmente".


Também me permito convidá-lo para integrar esta Tabanca, onde todos partilhamos as nossas memórias daquela terra que "odiámos" e, posteriormente, a adoptamos como nossa.

3. Comentário do editor:

Segundo informação adicional do J.M., este Cap Oliveira comandava a 1º CCAÇ do BCAÇ 4512/72. A CCaç 19, presume ele, era comandada na altura pelo Cap Mil Inf António Eduardo Gouveia Carvalho. A CCAÇ 19 foi extinta em Agosto de 1974, como todas as demais companhias africanas.



É contra as normas do nosso blogue aceitarmos comentários anónimos e, menos ainda, darmos visibilidade (e legitimidade), através de um poste, ao anonimato. Abrimos aqui uma exceção, dada o excecional interesse do testemunho, lacónico, mas seguramente autêntico, do comandante da 1ª C/BCAÇ 4512/72. São histórias "à margem da história oficial ou oficiosa". Ora, precisamos de interrogar o silêncio dos arquivos da história da guerra colonial. E já não temos muito tempo para recolher testemunhos dos protagonistas dos acontecimentos.


Reforço o convite do meu camarada José Martins (também ele um homem que lidou, tal como eu, com soldados do recrutamento local) para que o ex-Cap Mil Inf Francisco da Silva Oliveira se junte a este já numeroso grupo de camaradas da Guiné quie lutam para que a memória não se apague


 Boa saúde e longa para o nosso camarada Oliveira. Saudações natalícias.


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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 18 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 – P6612: Estórias avulsas (89): Guidaje em revolta após Abril (Manuel Marinho)



(...) Manuel Marinho (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), dá-nos conta de um momento de tensão em Guidaje, já depois do 25 de Abril, resolvido à custa do regresso da sua Unidade ao local onde jamais pensariam voltar (...)


(...)  Em finais de Julho, (ou princípios de Agosto) recebemos ordens para levantar novamente o armamento, para fazer face a uma insubordinação que acontecia em Guidaje, onde o nosso Gr Comb estava como que refém dos camaradas africanos que estavam relutantes na entrega do seu armamento, face à falta de garantias mínimas que não existiam para eles.


A apreensão tomou conta de nosso pessoal que de imediato quis saber em que consistia a nossa ida a Guidaje, e a nossa recusa terminante em tomarmos alguma medida que pusesse em causa camaradas nossos, o pessoal militar africano de Guidaje [ a CCAÇ 19,]teria que resolver o problema já que nada poderíamos fazer, e em nada contribuíramos para a situação criada.


A operação consistia em se utilizar os meios necessários incluindo a força (confrontação armada?) para que os revoltosos entregassem as suas armas a fim de permitir a entrega pacífica do aquartelamento ao PAIGC.


Na fronteira do Senegal estavam forças do PAIGC, atentas ao evoluir da situação, e a pressionar com a sua presença os revoltosos. Lá seguimos mais uma vez para Guidaje, novamente armados e a querer parecer que os ecos de Abril ali não tinham chegado, a minha HK-21 voltou às minhas mãos depois de me ter “despedido” dela, parecia que o “divórcio” amigável não se queria consumar.


Avançamos pela estrada que tinha sido construída e durante a deslocação fomos confrontados com uma viatura militar vinda de Guidaje com dois soldados africanos (Comandos?), a ordem era para não deixar passar ninguém, mas depois da paragem da viatura e de breve diálogo, nada questionaram e voltaram para trás.


Estávamos assim numa situação que além de perigosa, não deixava de ser bizarra e irónica, a “alinhar” com o PAIGC para desarmar camaradas africanos que tinham combatido a nosso lado.


Ao entrarmos no quartel, somos rodeados de Milícias e Militares da CCaç 19 que nos insultam e nos culpam pela situação existente, chamando-nos f… da p… e traidores entre outros “mimos”, e muito exaltados,  culpando-nos da situação existente.


Antes de lá irmos já nos tinham alertado para a calma que teríamos de ter para resolver a questão e levar a bom termo com a máxima persuasão possível a questão da entrega do armamento por parte das forças de Guidaje, embora a tensão existente não fosse a mais favorável.


Embora o conhecimento mútuo das nossas Ccaç  pudesse ajudar, foi complicado e teve que haver muito discernimento, e muitas conversas isoladas com este e aquele mais exaltado, já no interior do quartel, e evitando qualquer sinal de animosidade.


Entre as nossas 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 e a CCAÇ 19, apenas havia ocorrido um episódio menos agradável entre Grupos de Combate de ambos os lados em Binta depois de uma coluna, mas tinha sido um caso pontual, embora tenso para ambos os lados.


É evidente que não se vislumbrava o PAIGC embora eles já tivessem tido encontros bilaterais com a  CCAÇ 19, pelo menos a nível superior, mas alguma coisa tinha corrido mal, e nós teríamos de ajudar a sanar o problema, agora era connosco, era caso para citar o velho ditado, 'quem vier atrás que feche a porta'. (...)


Não sei o que foi tratado a nível superior, mas a deposição das armas,  por parte da tropa africana existente em Guidaje, foi conseguida, mas fiquei sempre com a triste imagem dum camarada africano perfeitamente fora de si olhando para nós e gritando-nos na cara que éramos traidores. (...)

Guiné 63/74 - P9248: In Memoriam (101): Faleceu o Capitão Eurico de Deus Corvacho (CART 1613, Guileje, 1966/68) (Eurico Corvacho, filho)


1. Este poste destina-se a informar todos os Homens que serviram sob as ordens do então Capitão Eurico de Deus Corvacho, que dele guardam as melhores recordações e a todos os restantes Camaradas que se solidarizaram em acompanhar a evolução das notícias sobre o seu melindroso estado de saúde, que recebemos as seguintes tristes mensagens do seu filho. 


Eurico Corvalho comandou a CART 1613, "Os Lenços Verdes" (Guileje, 1966/68). 

O capitão Corvacho e os seus homens no regresso de mais uma operação
Caros Amigos,
Apenas uma linha para o informar de que o nosso Coronel baixou a guarda.
Estou em Luanda e ainda não sei mais detalhes, sei que faleceu hoje (dia 21) pelas 20:00 no IASFA em Oeiras.
Agradeço passa a palavra pelo seu blogue a todos os companheiros de armas.
Um abraço
Eurico Corvacho
GSM +351 917 250 371
+244 923 589 738
Skype eurico.corvacho

Bom dia,
Para conhecimento, o meu pai estará amanhã, dia 23, em câmara ardente na igreja da Estrela. A missa será pelas 12h00 e seguirá para o cemitério do Alto de S. João cerca das 13h00 e ali será cremado às 14h00.
Um Abraço
Eurico Corvacho



Camaradas do meu pai,
De acordo com o que eu e a minha mãe aqui escrevemos ontem [, comentário de hoje, 22, deixado às 11h, no Poste P6520,] , venho fornecer as informações sobre o velório e o funeral. Ambos realizar-se-ão na Basílica da Estrela, sendo que o velório é hoje a partir das 6h30 e o funeral amanhã [, dia 23,] às 12h, sendo que depois se seguirá para a cremação.

Eduardo de Melo Corvacho  
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Nota de M.R.:


Vd. Também o último poste desta série em:

15 DE DEZEMBRO DE 2011 > Guiné 63/74 - P9205: In Memoriam (100): O pessoal da CAÇ 1686 do BCAÇ 1912 está de luto (Aires Ferreira) 

Guiné 63/74 - P9247: Em busca de ... (177): Procuro camaradas da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, Cancolim, 1971/74 (Manuel Moura, Fur Mil, 2ª CCAÇ/BCAÇ 4518, Jan/Set 1974)


 
1. O nosso Camarada Manuel Moura, ex-Fur Mil AP da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4518 – Cancolim -, 1974, enviou-nos por e-mail o seguinte pedido:

Olá,

Sou o ex-Fur Mil AP Manuel Moura, da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4518, que esteve em CANCOLIM desde final de Janeiro de 1974 até ao início de Setembro desse mesmo ano.

Gostava, se possível, de poder contactar alguém, via e-mail, da companhia que fomos render, que penso ter sido a CCAÇ 3489 do BCAÇ 3872.

Atentamente,
Manuel Moura


Fur Mil AP Manuel Moura
2ª CCAÇ/BCAÇ 4518

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________


Notas de M.R.:

Camarada Manuel Moura, o único camarada da unidade por ti indicada (CCAÇ 3489 do BCAÇ 3872 - Cancolim -, 1971/74), que pertence a esta nossa tertúlia virtual é o Rui Baptista, que foi Fur Mil At Inf. O seu e-mail é: ruimbaptista@netcabo.pt

Em contrapartida, não temos ninguém do teu batalhão, o BCAÇ 4518. É uma boa ocasião para ficares connosco, integrares a nossa Tabanca Grande e contar-nos as tuas peripécias em Cancolim, nos últimos meses da guerra.


Vd. Também o último poste desta série em:


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9246: O meu Natal no mato (39): Mejo, 1- Guileje, 0 (José Brás)

1. Comentário, ao poste P9238, escrito por José Brás (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68),


Nem sei,[, Torcato,]  se sinto tudo o que sugerem a tuas palavras para além delas próprias.


Ainda assim, eu que fiz o primeiro Natal [, em 1966], no Paraíso que era Aldeia Formosa, onde havia cozinha e refeitório, duas messes, bar, comer que chegava, indo a Buba buscá-lo,com carnes e tudo no comércio com os locais; eu, gerente das messes que me aventurava por aqueles caminhos entre Aldeia e Xitole nesse comércio de trocar sal petróleo, açúcar, lata de leite, por cabrito, galinhas, ovos, e até leitões, caprichando na cozinha e na mesa, chegado o primeiro Natal, pensei que ali chegava também o Pai, sem farpela pesada mas bem carregado.

O pior foi o Medjo, [em 1967,] sem nada disso e com muito da outra comida indigesta que chegava de Salancaur, de Xim-xi-dari, do corredor [da morte ] e não nos deixava dormir 10 minutos seguidos nessa noite que devia ser de bacalhau e fora de plicas de macaco com aquela verdura liofilizada. Ainda assim, deu para ir dois dias depois a Guileje, sete quilómetros danados, para uma jogatana com a tropa local.

O Pai Natal jogou do nosso lado porque não tivemos maus encontros no caminho e ganhámos um zero com um golo meu,  se a memória não me atraiçoa já.

Mas, ler-te, é ainda o melhor de tudo, porque nesse tempo de crença exageradamente materialista, nem acreditava em Pais Natais.

Abraço

José Brás
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9238: O meu Natal no mato (38): Mansambo, 1968: O Pai Natal não passou por lá ! (Torcato Mendonça)

Guiné 63/74 - P9245: Agenda cultural (180): RTP1, hoje, 4ª f, 21, às 21h: Programa Linha da Frente: Histórias de quem combateu...A RTP mostrou a alguns ex-combatentes do Ultramar, pela primeira vez, as suas mensagens de Natal, Adeus, até ao meu regresso!...


N/M Ana Malfada > Abril de 1970 > Malta da CART 2410 >  Legenda do fotógrafo: "Porão do Ana Mafalda. Assim viajaram os soldados"...


Foto (e legenda): © José Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Sugestão para o serão desta noite:


RTP 1 > 4ª Feira, 21, às 21h>  Programa Linha da Frente > Histórias de Quem Combateu




A  RTP mostrou a alguns ex-combatentes do Ultramar, pela primeira vez,  as mensagens que enviaram às famílias...


Histórias de quem combateu


Sinopse:  "Há 50 anos, mandaram-nos lutar pela pátria em África. Nos intervalos da guerra, mandavam,  por altura do Natal, mensagens para a família. Breves palavras ditas à pressa, em tom monocórdico, que ficaram no imaginário nacional. ['Adeus, até ao meu regresso']...


"Mais de oito mil não tiveram essa sorte. E os outros? Que fizeram no regresso e que fizeram com esse regresso? Que vão fazendo ainda? 


"O país mudou, a guerra de África mudou-lhes a vida e a RTP mostrou,  a alguns ex-combatentes do Ultramar, pela primeira vez,  as mensagens que enviaram às famílias. Histórias de quem combateu na LINHA da FRENTE.


"Reportagem de Elsa Marujo, com imagem de Ricardo Mota e edição de António Nunes".


Sobre este tema, ver também, no nosso blogue, a série Os Nossos Regressos.
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Nota do editor:


17 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9221: Agenda cultural (179): Descerramento de placa toponímica em Ponta Delgada, em homenagem aos combatentes caídos em campanha, dia 19 de Dezembro pelas 16 horas (Carlos Cordeiro)

Guiné 63/74 - P9244: Em busca de ... (176): Pedido de informação sobre o ex-Cap SGE Adelino António Gomes, natural de Viana do Castelo; comandou a CCS/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74) (Armando Impôm & Francisco Grosso, CESPA / José Martins)


 Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCAÇ 15 > 1973 > Ponte sobre o Rio Mansoa.

Foto (e legenda): © Joaquim Mexia Alves (2008). Direitos reservados


A. Mensagem do nosso leitor Francisco Grosso, da empresa CESPA:


Data: 20 de Dezembro de 2011 16:35

Assunto: Pedido de informação sobre o Sr. Cap SGE Adelino António Gomes, de Viana do Castelo

Boa tarde

Ex.mo Sr.

Serve o presente mail para lhe solicitar uma informação. Sendo responsável de exploração para a empresa identificada [, CESPA], giro contratos e pessoas, entre as quais se encontra um colaborador nosso, de nome Armando Impôm, natural da Guiné Bissau.


Este colaborador, após conversa, pediu-me se eventualmente poderia ajudá-lo a encontrar uma pessoa que lhe era muito querida. Não possui internet e está temporáriamente em Portugal por motivos pessoais com uma filha sua. 

Após me ter dado algumas referências sobre a pessoa que pretende encontrar, fiz uma pesquisa e encontrei o seu blog, para o qual eu dou desde já os meus parabéns. 

A pessoa em causa é o Sr. Cap SGE Adelino António Gomes, natural de ou com residência em Viana do Castelo, segundo o Sr. Armando. São estes os dados disponíveis. Referiu ainda que viveu com este senhor até aos 14 anos de idade na Guiné, antes da partida do Sr. capitão para Portugal, o qual o ajudou e queria que viesse com ele para Portugal. A família opôs-se e o contacto foi interrompido para sempre. 

De volta a Portugal por motivos pessoais e a trabalhar para a nossa empresa, o Sr. Armando Impôm gostaria de saber algo sobre o Sr. capitão ou sobre a sua família. 

Em nome dele peço-lhe alguma informação caso seja possível. Devo referir que o nome dele aparece referenciado no seu blogue. 

Os nossos agradecimentos. 

Com os melhores cumprimentos.

Francisco Grosso
Responsável de Exploração
francisco.grosso@cespa.es
CESPA
Av. Severiano Falcão, Edifício Ambiente, Lote 2 - 1.º
2685-378 Prior Velho
T.: +351 217542030
Fax: +351 217542039
www.cespa.pt



B. Informações recolhidas pelo nosso blogue, através do nosso colaborador permanente José Martins, sempre solícito, prestável, eficiente e eficaz,  a quem se pediu que pusesse "os seus detectives em marcha", e que nos  respondeu de pronto, no mesmo dia:



Caro Luis, os meus detectives informam:


1 - Um Capitão SGE [, Serviços Gerais do Exército,] só poderia ser Comandante de uma CCS [, Companhia de Comando e Serviços,] ou então, prestar serviço no QG, em Bissau. Porém, este camarada de armas, Adelino António Gomes, foi o Comandante da CCS do BCAÇ 4612/72 (, mobilizado pelo RI 16 - Évora), que esteve em Mansoa, desde 28 de novembro de 1972 até 21 de agosto de 1974, tendo embarcado [, de regresso à metrópole,]  em 27 de setembro de 1974.


Eis aqui a lista com os nomes dos Comandantes de Companhia do BCAÇ 4612/72:

CCS: Cap SGE Adelino António Gomes
1ª Comp: Cap Mil Cav João António Dias Pereira
2ª Comp: Cap Mil Cav Álvaro Almada Contreiras
3ª Comp: Cap Mil Inf João Manuel de Matos e Silva Mendonça; Cap Art José Manuel Salgado Martins; Cap Mil Inf Fernando Correia da Silva Cardoso.


2- Apesar de pertencerem às companhias operacionais, pertenceram a esse batalhão os tertuluianos Agostinho Gaspar e o Jorge Canhão, que escreveu sobre o batalhão, no blogue. Talvez eles tenham contactos. [Ambos pertenceram à 3ª C/BCAÇ 4612/72, e estiveram uma boa parte do tempo em Mansoa; mas há mais camaradas nossos que estiveram em Mansoa, nesse tempo, como por exemplo o Joaquim Mexia Alves].


3. Outro contacto possível pode ser Liga dos Cambatentes, núcleo de Viana do Vastelo:


Presidente: Joaquim da Rocha Martins
Secretário:  Manuel Meira da Silva
Tesoureiro:  José Casimiro Jácome Martins, Tenente-coronel
1º. Vogal: Luís Jorge de Araújo Gandra
2º. Vogal: José Agilberto Barreiros Branco
1º. Vogal Suplente: Manuel Martins Borlido Laranjo, Dr.
2º. Vogal Suplente: Salviano Pereira de Pinho Vitoriano, Dr. 


Morada: Rua de S. Pedro, 39 - 1.º
Localidade: 4900-538 VIANA DO CASTELO
Telefone: 258 827 705 


4 - Contactar também as Juntas de Freguesia do concelho.


5 - Porém, permito-me alertar para que, quando foi mobilizado, já devia rondar os 40 anos, ou mais, pelo que hoje deverá ter os 80, caso ainda o tenhamos entre nós. (E oxalá que sim, com um abraço para ele, se nos estiver a ler).


Desta forma, desejo bons êxitos não só ao "nosso miúdo" Armando Impôm, como ao Francisco Grosso que se interessou pelo caso. 


Um abraço. José Martins
___________________


Nota do editor:


(*) Último poste da série >  1 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8977: Em busca de ... (175): 1.º Cabo Corneteiro Albino da CCAÇ 3326, Mampatá, 1971/72 (José Barros Rocha)

Guiné 63/74 - P9243: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (32): Havia lavadeiras e... lavadeiras: o caso das minhas duas irmãs (Cherno Baldé)

1. Comentário do Cherno Baldé ao poste P9226:

Assunto - Lavadeiras e lavadeiras...

Eu tive duas irmãs,  lavadeiras, filhas do meu tio,  com carácter e comportamentos bem diferentes.

A mais nova era muito esquisita, secreta, escorregadia, não gostava que ninguém (dos mais pequenos) lhe seguisse os passos e não dava boleia para entrar no quartel com sentinela à porta de armas. Não posso confirmar, mas entre nós, ela era suspeita de andar a fazer maquinações e prestar serviços extras aos seus patrões brancos, do tipo "lava tudo". Felizmente nada aconteceu de pior.

A mais velha e, também, mais bonita era a nossa preferida, pois nunca se aventurava dentro do quartel sem a nossa companhia e, ainda mais, levava sempre consigo, nas costas, uma criança emprestada de propósito para o momento. Quando entrava, nós também entravamos atrás dela, senão nada feito, e as sentinelas já a conheciam de sobra, não gostavam dela mas também não lhe podiam obstruir a entrada.

Seguíamos directamente para a caserna dos Furriéis. Sem cerimónias, e dentro dos quartos, a nossa missão era ficar junto da nossa protegida e gritar caso fosse necessário. Os patrões olhavam para nós com olhos de espantar crianças. As vezes, na vontade de nos afastar um pouco, havia quem nos oferecesse um pedaço de pão ou uma lata de conserva. Mas mesmo um pouco distanciados pelo engodo, ainda ouvíamos a voz inconformada da nossa irmã resistindo às apalpadelas:
- Dixa Furriel, dixa! Djubi mininu tchora!... (Deixa, Furriel, olha a criança a chorar).

Ela era, frequentemente, despedida por um e logo contratada por outro e invariavelmente eram Furriéis.


Era estranho esse comportamento das minhas irmãs, porquanto nas noites de luar, em grupos de idades,  cantariam louvando essas aventuras com os Furriéis em ritmos e letras herdadas de outras idades e de outros tempos:

"Capiton-ho Doktor-ho!
Firiel-ho pingarram-me!"


(O Capitão pode ser o chefão
mas é o Furriel que me injecta a agulha/seringa).

E não é que os Furriéis tinham mesmo jeito com as agulhas?! Dos filhos deixados na minha terra, mais da metade seriam de Furriéis.

Muito obrigado à Maria Dulcineia por esta homenagem bem merecida às lavadeiras de todos os tempos e de todos os lugares. 


Um abraço natalício a todos,
Cherno Baldé


2. Comentário de Maria Dulcinea (NI)  (*)


 Amigo Cherno Baldé

Li o seu comentário com muita atenção, aliás li todos os comentários e desde já agradeço as palavras simpáticas que todos escreveram. No entanto queria comentar as palavras do Cherno e lhe dizer que,  quando li o seu artigo no P9085 "Memórias do Chico",  e em que publica a foto da sua mãe,  eu senti uma ternura imensa por ela, pois que aquilo que você descreve é precisamente o modo de vida que admirei nas mulheres da Guiné da altura com todas as dificuldades inerentes de um país em guerra, mas em que as pessoas se adaptaram tanto à presença constante dos militares como à sua constante rotação, pois que os militares ora estavam nas localidades, oram iam embora para a Metópole ou outros locais de serviço.


Em relação às suas irmãs serem "assediadas", eu considero que é uma situação triste, mas sem querer arranjar desculpas para esses actos dos militares, reconheço que era mais uma das situações provocadas pela estúpida situação em que os nossos Homens foram,  ao serem mandados para um território desconhecido sem terem tido um mínimo de formação sobre os usos e costumes das Gentes da Guiné.

Sei que os militares que foram para Companhias Africanas tiveram alguma formação de "Acção Psicológica" antes de ingressarem nas CCAÇ Africanas. Como disse e sem querer "branquear" maus comportamentos de alguns Homens,  eu tenho a certeza que hoje a maioria carrega as suas "culpas" e que valoriza de certeza todas as mulheres da Guiné tal como tem sido aqui comentado.

Cherno Baldé,  não estou aqui a ajuizar qualquer tipo de comportamento, estou isso sim a agradecer as suas palavras e a desejar uma vez mais um Santo Natal, a si, à sua Mãe, às mulheres da Guiné e a todos os tertulianos e TERTULIANAS desta Tabanca que,  como me diz o meu marido,  são uns tipos ainda "muito malucos" mas que é tão bom ter alguém que escreva, comente, ralhe... Quer queiram ou não, estão todos ligados uns aos outros pelo mesmo "cordão umbilical" que foi a GUINÉ.

Um beijinho para todos e Bom Natal


Maria Dulcineia (Ni)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 18 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9226: Memória dos lugares (167): As nossas lavadeiras da Guiné, a nossa Amélia de Bissorã (Maria Dulcinea)

(**) Último poste da série > 23 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9085: Memórias do Chico, menino e moço (31): A minha Mãe Cadi representa a mãe africana em particular e as mães de todos nós em geral (Cherno Baldé)

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9242: Blogues da nossa blogosfera (48): O sítio do Ministério da Defesa Nacional: Encerramento, pela ADFA, da evocação dos 50 anos do início da guerra colonial...


Folha do sítio do Ministério da Defesa Nacional, à data de hoje, 20 de dezembro de 2011, 19h00.


1. Destaque para a notícia sobre o encerramento, pela ADFA,  da evocação dos 50 anos do Início da Guerra Colonial... Se não fora esta cerimónia, a efeméride ("os 50 anos do início da Guerra Colonial") passaria completamente à margem do Ministério da Defesa Nacional...

(...) 19.12.2011 - A Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA) assinalou, no dia 19 de Dezembro, o Encerramento da Evocação dos 50 anos do Início da Guerra Colonial e celebrou o 3. º Aniversário da Atribuição da Ordem da Liberdade, numa Sessão Solene que teve lugar na sede desta Instituição, em Lisboa, pelas 15h30.

A cerimónia foi presidida pelo Ministro da Defesa Nacional, José Pedro Aguiar-Branco e contou com as presenças do Secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional, Paulo Braga Lino, do Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas, Luís Araújo, do Presidente da Direcção Nacional da ADFA, José Arruda, e do Professor Doutor Eduardo Lourenço.

Após uma apresentação de boas vindas, conduzida por José Arruda, Eduardo Lourenço proferiu uma alocução evocativa dos 50 anos do Início da Guerra, relembrando este “momento doloroso e de complexidade”, “particularmente dramático” da história portuguesa. Dissertando sobre os conceitos de colonização, colonialismo, império e imperialismo, o ensaísta referiu-se aos acontecimentos de 1961 como “uma tragédia” que alguns “escreveram no seu corpo, até hoje”, relembrando ainda “os heróis sacrificados dessa aventura imperial”. (...)

O Ministro da Defesa Nacional, por sua vez, iniciou a sua intervenção relembrando o 6 de Setembro (dia em que recebeu em audiência a ADFA) e anunciando a sua deslocação aos Teatros de Operações das Forças Nacionais Destacadas, nos dias 24, 25 e 26 de Dezembro, em solidariedade para com os militares portugueses.

Prosseguiu com uma saudação ao Professor Eduardo Lourenço, pela atribuição recente do Prémio Fernando Pessoa, e referiu-se à Guerra Colonial como “um dos conflitos mais longos do último século e que arrastou centenas de milhares de homens”. Acerca da “vergonha da guerra”, em que “vivemos mal com as razões que nos levaram para África”, Aguiar-Branco considera que é necessário fazer “a paz com a história” e que o papel da ADFA, “neste processo, tem sido essencial”.

O discurso do Ministro está aqui disponível em formato pdf.


 Eis um excerto das suas decalarações:

(...) Encerramos hoje a evocação dos 50 anos do início da  Guerra Colonial. Poucos factos foram tão relevantes na história de um país, ou de um povo, como a Guerra  Colonial.

E olhando com a distância que a história permite, os  números parecem ainda mais marcantes. Mais impressivos.  Treze anos de guerra, a meio mundo de distância. Foi um  dos conflitos mais longos do último século e que arrastou centenas de milhares de homens. Centenas de milhares de  portugueses.

A verdade é que neste nosso pacato e sereno país poucas pessoas não têm uma história de guerra.  Poucas pessoas não têm um ex-combatente nas suas  famílias. Alguém que sabe manejar uma arma.  A verdade é que este Portugal, sereno e pacato, foi um  dos países mais militarizados do Mundo. Tudo isto a menos  de uma geração de distância.

A guerra, que hoje evocamos, marcou muito mais do que  uma geração. Marcou o país que somos. Politica, social e  economicamente.  Até a própria democracia está intimamente ligada a este  conflito. E nesse sentido, somos todos muito mais filhos da Guerra Colonial do que estamos dispostos a admitir. 

 É por isso extraordinário ou não, que seja a ADFA, a organização que mais se empenhou em evocar os cinquentas anos da guerra colonial.  Não foram as Universidades por interesse sobre este  período histórico. Não foi sequer o Estado por interesse  sobre a sua própria responsabilidade. Foram os deficientes das Forças Armadas que uma vez  mais garantiram que esta página da nossa história não fosse rasgada ou votada ao esquecimento.

Com razão ou sem razão, a verdade é que temos vergonha  da guerra. Vivemos mal com as razões que nos levaram para África. Vivemos mal com o que lá se passou e consequentemente com quem por lá passou.

Percebo, por isso, este esforço da Associação dos  Deficientes das Forças Armadas. A guerra acabou há 37 anos. Mas falta a outra paz. A paz  com a história.  E o papel da ADFA, neste processo, tem sido essencial. Nesta procura da paz com a história e com a qual também se constrói a democracia.

Ou como oportunamente o manifesto da Associação  lembra, a ADFA é também um capitão de Abril. A sua perseverança ao serviço dos combatentes, muitas  vezes contra a própria inércia do Estado exige, todos os dias, que estes homens não sejam esquecidos. (...).

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8982: Blogues da nossa blogosfera (47): Ilha do Como, do Valentim Oliveira (CCAV 489 / BCAV 490, 1963/65)

Guiné 63/74 - P9241: Recortes de imprensa (54): No DN, declarações do Ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, na Associação dos Deficientes das Forças Armadas: Temos que fazer a paz com a História

Com a devida vénia ao DN - Diário de Notícias, transcrevemos declarações do actual Ministro da Defesa, proferidas na ADFA durante uma cerimónia evocativa dos 50 anos da Guerra Colonial.



O ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, afirmou hoje que Portugal "vive mal" com o tema da Guerra Colonial e defendeu que 37 anos depois do fim do conflito é preciso "fazer a paz com a História".

Por Lusa (Ontem)

"Com razão ou sem razão, a verdade é que parece que temos vergonha da guerra. Vivemos mal com as razões que nos levaram para África, vivemos mal com o que lá se passou e consequentemente com quem por lá passou", disse Aguiar-Branco.

O ministro, que discursava numa cerimónia na Associação de Deficientes das Forças Armadas (ADFA) de evocação dos 50 anos do início da Guerra Colonial, considerou ser responsabilidade do seu ministério "fazer a paz com a História" e assegurou que irá pessoalmente "conduzir o processo" e que nos próximos quatro anos tudo fará "para que isso seja possível".

"Somos todos muito mais filhos da Guerra Colonial do que estamos dispostos a admitir", continuou, apontando a ADFA como "a organização que mais se empenhou em evocar os cinquenta anos da Guerra Colonial". Aguiar-Branco considerou que "a perseverança" desta associação "ao serviço dos combatentes, muitas vezes com a própria inércia do Estado, exige, todos os dias, que estes homens não sejam esquecidos".

O ministro da Defesa defendeu ainda que "a manutenção da isenção das taxas moderadoras e a manutenção dos subsídios aos deficientes das Forças Armadas" é "uma questão de Justiça" e que "o contrário seria sempre imoral".

Já aos jornalistas, no final da cerimónia e depois de ter sido descerrada uma placa evocativa, afirmou que a valorização do papel Forças Armadas na Guerra Colonial se faz realçando o que a instituição "significou no nascimento da nossa democracia" e reconciliando "esse período com os exemplos vivos". Aguiar-Branco reforçou que "serão sempre prioritárias as medidas que puderem ir ao encontro da reparação que estes portugueses merecem". [...]
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9159: Recortes de imprensa (53): Em, A Semana - Opinião, África no tempo das belas Signares, de Arsénio Fermino Pina (Nelson Herbert)