sexta-feira, 27 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8333: As mulheres que, afinal, foram à guerra (13): O papel da CASA - Comissão de Assistência ao Soldado Açoriano, com sede em Lisboa e delegações nos Açores (Carlos Cordeiro)


Açores > São Miguel > Ponta Delgada > Fevereiro de 1964 > Chegada da Companhia de Caçadores Especiais 274 (1962/64), depois de ter regressado da Guiné (embarque a 17 de Janeiro de 1964). "Na Foto, o Tenente Silva".



Açores > São Miguel > Ponta Delgada > Regresso da Companhia de Caçadores Especiais 274 (Bissau, Fulacunda,  Jan 1962/ Jan 1964). Quartel General de Ponta Delgada,  4 Fevereiro de 1964 > "Na foto, Leite Melo, Fernando Faria, Dinarte Teixeira".


Fotos (e legendas do mural do nosso camarada Durval Faria, no Facebook (Reproduzidas aqui com a devida vénia...)





1. Comentário. com data de 19 do corrente,  de Carlos Cordeiro ao poste P8295:

Luís,

Só uma curiosidade: para além do MNF [ - Movimento Nacional Feminino], a única instituição autorizada a editar aerogramas foi a CASA - Comissão de Assistência ao Soldado Açoriano - com sede em Lisboa e delegações nos Açores.

Os aerogramas da CASA são raridade filatélica, muito apreciada pelos coleccionadores.

A CASA foi constituída ainda em 1961 por açorianos - sobretudo senhoras - residentes em Lisboa. Ali tinha por missão acolher os militares açorianos que por lá passavam (nos embarques e desembarques, na IAO, etc.), mas, sobretudo, na visita aos militares açorianos que se encontravam hospitalizados no continente.

As delegações dos Açores tiveram um meritório papel de apoio social às famílias dos que se encontravam em campanha, incluindo até a concessão de casas.

É uma história que está por fazer, pois as senhoras ou já faleceram ou estão numa idade muito avançada e doentes. Uma colega e amiga minha é filha de uma senhora que teve importante papel na CASA,  aqui em S. Miguel, mas disse-me que a situação da mãe não permite colher muitas informações.

Uma investigação nos jornais diários e semanários da época é uma via que, muito lenta e espaçadamente, estou a explorar. Mas ao ritmo a que levo a "exploração"...

Um abraço,
Carlos Cordeiro

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Nota do editor

Último poste da série > 26 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8330: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (12): Tão sinceras e tão ingénuas as minhas cartas de madrinha de guerra, entre os meus 15 e 19 anos (Felismina Costa)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8332: Convívios (344): Festa Anual da CART 6250, Mampatá, 1972/74, próximo dia 9 de Julho em Santo Tirso (António Carvalho)


1. O nosso camarada António Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250/72,
Mampatá, 1972/74, solicita-nos a divulgação do programa da próxima festa anual da sua Companhia.


Convívio anual da CART 6250/72
9 de Julho em Santo Tirso

Caro Luís,

Venho pedir-te que publiques, no nosso blogue, nestes termos ou noutros que julgues mais apropriados, esta notícia:

Vai realizar-se, no próximo dia 9 de Julho, na sede da Associação de Solidariedade Humanitária de Monte Córdova - Rua da Associação nº105 - Quinchães - Monte Córdova - Concelho de Santo Tirso, o convívio anual da nossa companhia.

São organizadores os nossos irmãos Manuel Campos: Tlm – 937 435 845 e Joaquim Rodrigues: Tlm – 962 312 755.
Como sabem, nos nossos convívios, não há hora de chegada nem ementa e o restaurante serve a refeição de borla.
Enfim, coisas dos malucos de Mampatá.
Já sei que vão lá aparecer, no meio da confusão, gajos sem bilhete e de mãos a abanar mas, cuidado que, desta vez, estaremos atentos aos penetras.

Um Grande Abraço
Carvalho de Mampatá
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Nota de M.R.: 

Guiné 63/74 - P8331: O Alenquer retoma o contacto (6): Velhas recordações (Armando Fonseca)

1. Mensagem de Armando Fonseca* (ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64), com data de 25 de Maio de 2011:

Caros amigos da Tabanca Grande
Cá estou de novo com um grande abraço para todos os camarigos e em especial para os editores destes magníficos trabalhos que decerto lhes ocupa muito do seu tempo, que poderia ser utilizado em outras digressões mas, como diz o velho ditado, quem corre de gosto não cansa.


O Alenquer retoma o contacto (6)

Velhas recordações

Li ontem mesmo os depoimentos da senhora enfermeira Arminda Santos**, e isso trouxe-me à ideia velhas recordações. Como disse anteriormente, muito do tempo que passei na Guiné foi a fazer segurança ao aeroporto de Bissalanca e lembro-me perfeitamente da chegada dos DOs e dos helicópteros com feridos vindos do interior, mas o que mais me chamou a atenção foram duas descrições que ainda hoje relembro com emoção.

Quando o F86 se despenhou no fundo da pista, eu estava lá. Toda a assistência se deslocou de imediato para o local, bombeiros e corpo médico, não esquecendo os curiosos, e, quando todo o mundo procurava o piloto dentro do avião que já se encontrava em chamas, apareceu ele, que tinha saltado momentos antes do embate, a sair de dentro de um monte de terra mexida que provinha das obras de ampliação da pista. Esta ampliação permitiria receber aviões comerciais a jacto, que antes das mesmas não dispunham de espaço de manobra. Então, todo empoeirado e um pouco combalido, foi socorrido pela equipa de saúde enquanto os bombeiros acorriam ao incêndio a fim de evitar uma possível explosão.

Também quando os dois T6, um dos quais pilotado pelo sargento Lobato***, se despenharam e em que o outro piloto, um Alferes recém-chegado, foi encontrado junto dos destroços do avião, não havendo mais notícias do sargento Lobato. Eu vivi de perto esse episódio, até me lembro de o seu pai se ter deslocado à Guiné para tentar ir ao Senegal para ver se tinha noticias de seu filho. Entretanto o tempo passou, a esposa apareceu vestida de escuro e para nós, que assistíamos de fora, convencionou-se que ele estaria morto.

Qual não foi o meu espanto quando anos mais tarde vejo na televisão a chegada do sargento Lobato a Portugal, agora graduado em tenente, o que me causou algum conforto por saber que afinal ele não tinha morrido.

Caro camarigo Vinhal e outros, se acharem que este meu depoimento tem algum interesse em ser publicado muito bem, caso contrário ignorem-no.

Despeço-mo com mais um grande abraço para toda a tabanca.
Armando Fonseca (O Alenquer)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8109: O Alenquer retoma o contacto (5): O ataque de 23 de Março de 1964 a Sangonhá (Armando Fonseca)

(**) Vd. poste de 23 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8314: Tabanca Grande (286): Maria Arminda Lopes Pereira dos Santos, ex-Ten Grad Enf.ª Pára-quedista, 1961-1970

(***) Vd. postes de:

26 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3244: Bibliografia de uma guerra (32): Liberdade ou Evasão, de António Lobato (Carlos Vinhal)
e
7 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6945: Notas de leitura (145): Liberdade ou Evasão, de António Lobato (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8330: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (12): Tão sinceras e tão ingénuas as minhas cartas de madrinha de guerra, entre os meus 15 e 19 anos (Felismina Costa)

1. Comentário, ao poste P8295, assinado pela nossa amiga, alentejana e poetisa, ex-madrinha de guerra, Felismina Costa,  que vamos ter o grato prazer de conhecer pessoalmente em Monte Real, no nosso próximo encontro, a 4 de Junho:

Boa-noite, Luís Graça!

Escusado será dizer que o assunto me toca profundamente, ao ponto de me sentir emocionada.


Vivi intensamente aquele tempo!

Fui madrinha de guerra, desde os meus 15 aos 19 anos, muito jovem, muito preocupada, muito sincera.

Era meu apanágio o incentivar a força, a coragem, com o amor à Pátria, com o dever de "defender o que era nosso", com o agradecimento pelo vosso esforço em nome de todos nós.

Ignorante de tantas realidades, mas acreditando na vossa coragem, na vossa valentia, orgulhosa de todos vós.

Hoje, tenho comigo, as cartas que escrevi ao meu afilhado Joaquim, entre 66/68,  e que comprovam isso mesmo, que acabo de dizer. É um prazer ouvi-lo dizer que as minhas cartas foram uma ajuda preciosa naquele tempo difícil, tão preciosa que as decorou, que fixou datas e o texto, que fala delas de uma forma, como que realmente tenham sido uma ajuda importante, para a superação de dias difíceis.

Tão ingénuas e tão sinceras,  as minhas cartas de madrinha de guerra, compenetrada no seu papel, que ignorava saber cumprir.

Contudo, reconheço a minha profunda ligação a esse tempo, a esse acontecimento, que marcou a nossa Juventude de uma forma drástica, matando e mutilando tantos dos nossos Jovens, apesar dos testemunhos de muitos de vós, serem de amor àquelas terras e aquelas gentes, "vitimas igualmente da mesma tragédia",  e que me apraz registar.

Foi realmente um tempo de esperar ansiosa a chegada do correio, um tempo de acreditar, de ter esperança, de saber que chegaram bem.

Continuo,  como então, agradecendo a Deus os que voltaram sãos e salvos, e triste, muito triste, pelos que não conseguiram voltar como partiram.

Sei, que nenhum voltou como foi...moralmente...era impossível ser assim, mas os que regressaram bem, tiveram uma experiência, que os tornou "maiores, mais fortes, mais homens".

Reafirmo o que sempre disse: sinto por todos um carinho especial, como se todos fossem meus irmãos. Acompanhei o sofrimento das mães e pais, que ficaram esperando os seus meninos voltarem, longe ainda de saber quão profundo é o sofrimento de uma mãe perante tal situação.

Escreveram-se e cantaram-se no tempo canções de amor e valentia, como por exemplo uma que começava assim, mas que não recordo autor e intérprete:


(...) Vais para longe,  meu amor,
Deixas de estar a meu lado,
Partes com fé e ardor,
Sabes lá o que é temor,
És Português e soldado (...)

Enquanto os mais letrados se manifestavam com as suas músicas de intervenção, rebelando-se contra os referidos acontecimentos e não só...

Cada geração tem as suas recordações, cada um o seu caminho a percorrer.

Os grandes feitos não são intemporais, e regra geral, são conseguidos à custa de grandes sofrimentos.

Para todos o meu abraço fraterno.
Felismina Costa  (**)
 ___________

Notas de L.G.:

(*) Será uma criação da fadista Ada de Castro (n. 1937, Lisboa) ? (Ver aqui no sítio do Museu do Fado a sua biografia)


A letra, dos anos 60,  poderia ser esta:

Vais pra longe, meu amor,
deixas de estar a meu lado,
partes com ar sonhador,
sabes lá o que é temor,
és português e soldado.

Mas se eu fico só, rezando,
podes ter uma certeza,
não importa estar chorando,
estou com firmeza,

pensando  que também sou portuguesa.

Adeus [palavras ilegíveis],
são saudades são iguais,
água do mar imenso
que me leva o meu amor,
voltarás, eu bem o sei.


Sempre assim tenho pensado,
pelo que sonhei,
pelo muito que rezei,
hás de voltar para meu lado,
quando o barco [palavra ilegível].

Fonte: Blogue Santos da Casa > Novembro 15, 2004 > Vais para longe, meu amor" (Com a devida vénia... Revisão / fixação de texto: L.G.)

(**) Último poste da série > 26 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8329: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (11): Como fui parar à Guiné (Maria Dulcinea)

Guiné 63/74 - P8329: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (11): Como fui parar à Guiné (Maria Dulcinea)

1. Mensagem da nossa tertuliana Maria Dulcinea (NI)*, esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira) que esteve em Bissorã nos anos de 1973/74, com data de 24 de Maio de 2011:

Olá Carlos Vinhal
No seguimento do tema "As nossas Mulheres de Guerra", vou tentar o mais sintetizado possível descrever como fui parar à Guiné para me juntar ao meu marido.
NI


COMO FUI PARAR À GUINÉ

Tudo começou em 25 de Agosto de 1968, dia de Festa do São Bartolomeu na Foz do Douro.

Aí conheci o Henrique e jamais nos separamos. Casamo-nos em 1970 e em 1971 o Henrique foi para a tropa.
Quando ele estava nas Caldas da Rainha em Setembro desse ano nasceu o nosso Miguel Nuno.
Logo depois o Henrique foi para Tavira de seguida para Elvas e antes da Guiné foi para Évora.

Em Junho de 1972 e vésperas do seu aniversário, recebo um telefonema do meu marido para passar o fim de semana em Évora (já o nosso filho tinha 10 meses) .

Lá fui para Évora saltando de comboio em comboio, isto porque antigamente ir do Porto a Évora era uma autêntica odisseia.

Em Évora lá estava o Henrique e até aí tudo bem. O pior foi no Domingo, quando juntamos alguns camaradas para um almoço a festejar o aniversário do meu marido, embora com uma antecipação de um dia, pois que ele embarcaria no dia seguinte, dia do seu aniversário, o que eu não sabia.

Durante o almoço um dos camaradas disse:

- Então amanhã a esta hora já estamos longe.

Olhamos uns para os outros em silêncio e foi aí que percebi que embarcavam com destino à Guiné no dia seguinte.

Fiquei sem fala porque já sabia que ele iria para a Guiné, só que não sabia quando, mas não chorei.

No dia seguinte (19/06/1972) pela manhã e aproveitando uma boleia dum alferes nosso amigo e que era de Lisboa, fomos todos de automóvel até ao aeroporto e o resto da malta foi toda em viaturas do Exército. E assim, após a partida do avião, fiquei de novo só.

Fui para Santa Apolónia onde apanhei o comboio para o Porto e, deixando transvasar a minha tristeza, chorei toda a viagem.

Passou um ano e o Henrique ainda veio gozar férias em Junho do ano seguinte. Voltou à Guiné e passado uns tempos convida-me para ir ter com ele. Eu nem hesitei.

Entretanto o nosso amigo Alferes Santos veio a Portugal casar com a Zinha. Combinamos fazer a viagem para a Guiné juntos, levando o nosso Miguel que tinha feito já dois anos em Setembro. Embarcamos em Outubro de 1973.

Quando o avião sobrevoava a Guiné, achei aquela terra linda me parecendo "Um Jardim rodeado de Rios".

Quando desembarcamos o calor sufocante, a terra seca e poeirenta foi uma desilusão. Para agravar, o Henrique estava irreconhecível de tão magro, fumava, coisa que eu desconhecia, mas passado essas impressões menos felizes e após a alegria do reencontro, fizemos uma ida a Bissau para embarcarmos no transporte que o meu marido arranjou, que foi viajarmos todos dentro de uma Ambulância Militar que ia nesse dia para Mansoa. Vieram depois de Bissorã nos buscar pois que já era quase noite quando chegamos a Bissorã. Pelo vistos foi um pouco complicado arranjarem coluna de protecção, mas os amigos ajudaram.

Quando chegamos a Bissorã e entro na nossa "CASA" fiquei espantada pois estava decorada com assentos dum carocha, as camas eram da tropa, tínhamos um frigorifico a petróleo, a casa de banho eram dois bidões de chapa. Tínhamos chuveiro pois o Henrique conseguiu ir buscar água bem longe (daí a explicação do seu estado de magreza pois que arranjou casa, fez uma abrigo, decorou a casa e sempre fazendo a sua actividade militar, porque na CCAÇ 13 não se mandriava.

Quanto à nossa alimentação, foi organizada do seguinte modo: as refeições dos adultos vinham duma espécie de restaurante (O LABINAS) que tinha um acordo com a tropa, mas as refeições do nosso Miguel era eu que as confeccionava com artigos comprados na messe e outros sempre que possível na população.

Entretanto eu e o Henrique tiramos a Carta de Condução no mesmo dia em Bissau. Não pensem que nos facilitaram a vida, não, pelo contrário, foram bem exigentes no exame em Bissau.

Para além de ter tido um Natal muito especial em 1973, com pinheirinho (uma folha de palmeira enfeitada), rabanadas e aletria, tudo isto foi enviado pela família da metrópole. Mas o que mais gostei foi ter partilhado esse Natal com outros soldados que invadiram a nossa casa que até se esqueceram que havia algures por ali uma Guerra.

Entretanto veio o 25 de Abril, e tive a oportunidade de ir cumprimentar o pessoal do PAIGC ainda no seu estado de combatentes inimigos. Uns dias antes os "patifes" tinham-nos bombardeado com foguetões, porque pareciam não estarem satisfeitos com o susto que me pregaram em Dezembro, ao infligirem-nos um bruto ataque que foi o meu baptismo de fogo. Logo lhes perdoei, até porque depois eram todos simpatia. Enfim eram contingências de uma situação que a nada nos dizia em termos de futuro, mas isso são outros "Quinhentos".

Em Junho regresso a Portugal com o Miguel, e em Julho regressa o Henrique, e uma vez mais fui ter com ele a Lisboa ao RALIS onde foi  (fomos) definitivamente desmobilizado.

Depois disto tudo, continuamos juntos, com mais um filho e um neto que é filho do Miguel.

Pronto, terminei. Foi longo eu sei, mas é assim, as recordações são muitas e há sempre tanto para escrever.

Antes de acabar, lembro que em Bissorã viviam mais senhoras, esposas de militares, ou seja dum soldado, dum furriel e de um capitão que tinha uma menina linda de quem vou tomar a liberdade de publicar a foto, junta com o meu Miguelito.

Um beijinho para todos os tertulianos e em especial para algum que tenha estado em Bissorã nessa altura e tenha sido nosso amigo.

Maria Dulcinea (NI)



Ni com fato Mandinga em pose nos aposentos da nossa casa. Tínhamos camas, secretária, mosquiteiro para o Miguel e quintal. Além da cozinha (não tenho fotos), abrigo à porta, cavado no chão e protegido com troncos.


Ni de costas com o Miguel e outra esposa de soldado numa visita a Mansoa




Ni e Miguel no centro de Bissorã

O Miguel com amizades na população masculina de Bissorã



Miguel no nosso quintal com linda filha de um Capitão da CCS

Miguel a brincar com a nossa macaca "Gasolina", de seu nome

Ni e Miguel ao pequeno almoço

Ni e Miguel na Pensão Central de Bissau

[Fotos e texto de Maria Dulcinea]
[Edição de fotos, revisão e fixação do texto de Carlos Vinhal]

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8291: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (7): Agradecimento pelas palavras simpáticas que me foram dirigidas (NI)

Vd. último poste da série de 25 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8324: As mulheres que, afinal, foram à guerra (10): O pungente testemunho da irmã do nosso malogrado camarada Martinho Gramunha Marques, morto em Madina do Boé, em 30 de Janeiro de 1965

Guiné 63/74 - P8328: Tabanca Grande (288): José Manuel Carvalho, Fur Mil Trms da CCS/BCAÇ 4612/74 (Cumeré, Mansoa e Brá, 1974)


1. É com grande satisfação pessoal e alegria redobrada, que hoje apresento à tertúlia bloguista mais um elemento do meu batalhão, ainda por cima da minha Companhia, o Camarada José Manuel Carvalho, que foi Fur Mil Trms da CCS do BCAÇ 4612/74, Cumeré, Mansoa e Brá, 1974.

Caros Camaradas e Amigos,

Quero com a presente associar-me ao Blogue dos membros da Tabanca Grande e, para o efeito, envio os elementos possíveis de momento.

Integrei, com o posto de Fur Mil Trms, a CCS do BCaç 4612/74 que foi, como já foi referido em anteriores postes do blogue, o último batalhão que partiu para a Guiné e também o último que de lá saiu, em 15 de Outubro de 1974. Passei pelos aquartelamentos no Cumeré, Mansoa e Brá

Atendendo ao tempo de permanência no território da Guiné, não tenho muito a relatar, contudo não quero deixar de anotar algumas recordações daquele tempo, que ficaram e nunca esqueci. Posteriormente, se me for permitido, enviarei algumas “notas” sobre os acontecimentos vividos no Trem Auto em 16 de Março de 1974, no BCaç 5 em 25 de Abril e nas outras Unidades em Lisboa onde estive colocado.

Sobre o tempo passado na Guiné relembro a chegada ao aeroporto com a elevada humidade sentida na atmosfera aquando da saida do avião da TAM, a consequente partida para o Cumeré onde tive a minha primeira grande batalha e que se arrastou por quase todo o tempo em que estive no CTIG: “A luta contra os mosquitos.”

Passados alguns dias fomos deslocados para Mansoa onde tivemos uns tempos em sobreposição com a unidade que fomos render, a CCS do BCaç. 4612/72. Relembro a recepção dada pelos “velhinhos” na nossa chegada ai quartel com uma chuva de “pius-pius” e muitos outros “mimos” dedicados aos “periquitos”.

Aqui não quero deixar de evocar o triste acontecimento, que a todos muito marcou, ocorrido junto à arrecadação de material de guerra quando os elementos da 3ª CCAÇ do 4612/72, após cerca de 2 anos de comissão, procediam à entrega definitiva do armamento a seu cargo. Um disparo inopinado de uma G3 originou 2 feridos com muita gravidade que foram, de imediato, evacuados para Bissau. Vim a saber mais tarde que, infelizmente, o soldado Oldegário Libório não sobreviveu ao acidente tendo falecido no HMP, em Lisboa, a 18OUT74.

A minha actividade em Mansoa, além de uns petiscos e jogos de cartas, ficou-se pelo proceder à destruição total (queima) de toda a documentação existente no Centro de Cripto, trabalho “árduo” executado em colaboração com o 1º Cabo Albino Marques Serrano, para quem mando um forte abraço e peço aqui que me contacte logo que puder.

Após a desactivação e entrega do aquartelamento em 09SET74 (acontecimento muito bem relatado e documentado com fotos nos postes do Eduardo Magalhães Ribeiro), fomos para o Batalhão de Engenharia, em Brá, onde se reintegraram as outras duas Companhias do Batalhão, entretanto vindas de outros pontos do território. Aqui tivemos por missão assegurar a segurança e protecção das instalações da área do sub-comando de Brá, então constituído, i. e., Batalhão de Engenharia e Depósito de Material.

Neste quartel tivemos alguma dificuldade em conter vários elementos da população local que, de uma forma por vezes hostil, se concentravam e manifestavam junto à porta de armas da Unidade, protestando contra o súbito culminar dos apoios que eram o seu sustento de vida e de que estavam completamente dependentes (económica, alimentação, trabalho, etc.) resultantes da actividade militar, desenvolvida entre 1963 e 1974.

Também nós, os militares do batalhão, estivemos quase sempre circunscritos às instalações do quartel, porque à nossa volta a independência era já uma realidade.

Ressalvo algumas deslocações em grupos para idas ao cinema nas instalações da BA 12 - Bissalanca e a Bissau, embora aqui já pouco ou nada houvesse que fazer tendo em conta que o comércio e os estabelecimentos de restauração, aos poucos, tinham vindo a deixar de funcionar, tornando assim a vivência e actividade na capital praticamente diminuta.

Neste período, em Brá, tive oportunidade de colaborar numas sessões “de relembrar conhecimentos” ministradas a alguns elementos do batalhão, cuja formação escolar não tinha permitido concluir a 4ª classe e que nelas se inscreveram.

Ocupámos, assim, algum do nosso tempo e creio que foi uma experiência muito gratificante para todos. Faço notar que o aquartelamento do Batalhão de Engenharia era “cinco estrelas”, com um bom campo de jogos, cozinha com excelentes instalações, equipamentos e todo o espaço envolvente muito cuidado.

O regresso a Portugal foi efectuado no Navio Uíge com chegada a Lisboa em 20 de Outubro.

Fur Mil periquitos no Cumeré (acabadinhos de chegar). Eu estou em 1º plano, em baixo
Nas imediações do CIM, Cumeré, em exploração do perímetro envolvente

Psico em Mansoa. O Fur Mil João Faria (de camuflado) e eu

Idem foto anterior. Ao centro também um Fur Mil de quem não já não lembro o nome (as minhas desculpas)
Graduados de Trms da CCS: Fur Mil João Faria (à esquerda), Alf Mil Florêncio e eu

1º contacto pessoal de militares da CCS com 3 elementos do PAIGC
___________
 
Notas de M.R.:

Amigo e Camarada Carvalho em nome do Luís Graça e demais Camaradas desta Tabanca Grande, como é habitual sempre que mais um Homem da Guiné se junta a nós, nesta Unidade cibernética, apresento-te os nossos melhores cumprimentos Amigos e votos de boas vindas à nossa tertúlia.

Também aproveito a oportunidade para desejar que nos contes, daquilo que te lembrares, mais alguns passagens sobre o modo pacífico, expedito e eficaz como foi retirado o dispositivo de tropas que se encontrava estacionado naquele território, os contactos com o PAIGC e da transição de poderes.

Creio que, então, se demonstrou bem ao mundo a capacidade portuguesa de organização e planeamento de recursos humanos e materiais para, que, em cerca de 6 meses, se evacuassem para a metrópole, uns 27 mil militares, viaturas e diversos equipamentos.
Vd. último poste desta série em:

24 de Maio de 2011 >
Guiné 63/74 - P8317: Tabanca Grande (287): Carlos Alberto Duarte Prata, Coronel Reformado, ex-Capitão, CMDT das CCAÇ 4544/73 (Cafal Balanta) e CCAÇ 13 (Bissorã), 1973/74

Guiné 63/74 - P8327: Parabéns a você (263): Camaradas: Jorge Narciso, ex-1.º Cabo Especialista da FAP; Carlos Nery, ex-Cap Mil CMDT da CCAÇ 2382; Gabriel Gonçalves, ex-1.º Cabo Cripto da CCAÇ 12 e jovem amigo João Santiago (Tertúlia / Editores)

Com os parabéns e um abraço dos seus camaradas Giselda e Miguel Pessoa



PARABÉNS A VOCÊS

26 DE MAIO DE 2011







NESTE DIA DE FESTA, A TERTÚLIA E OS EDITORES VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR AOS NOSSOS CAMARADAS JORGE NARCISO, CARLOS NERY, GABRIEL GONÇALVES E JOVEM AMIGO JOÃO SANTIAGO, AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.
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Notas de CV:

- Jorge Narciso foi 1.º Cabo Especialista de MMA na Guiné nos anos de 1969 a 1970

- Carlos Nery foi Cap Mil, Comandante da CCAÇ 2382 que esteve em Buba nos anos de 1968 a 1970

- Gabriel Gonçalves foi 1.º Cabo Cripto na CCAÇ 12 e esteve em Bambadinca nos anos de 1969 a 1971

- João Santiago é filho do nosso camarada Paulo Santiago. Acompanhou o seu pai numa visita de saudade à Guiné-Bissau em Fevereiro de 2005.

- Vd. último poste da série de 20 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8305: Parabéns a você (262): José Manuel (...), ou Adilan, o meu menino da Guiné, fez 50 anos em Janeiro deste ano (Manuel Joaquim)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8326: Da Suécia com saudade (29): O nosso blogue e o risco do pensamento de grupo (groupthink) e do politicamente correcto (José Belo)


Imagens retiradas e editadas, com devida vénia, do blogue do José Belo  Lappland to Key West, com um lead muito poético, muito bonito (em português): "As viagens são os viajantes, o que vemos não é o que vemos, senão o que somos"... (Mais uma vez o génio do Fernando Pessoa, poeta de cabeceira do nosso camarada luso-sueco, que já não sabe se é mais tuga, se é mais lapão)... 

Escolhemos estas duas fotos para ilustrar o risco aqui abordado pelo J. Belo  de criação, na nossa Tabanca Grande,  de um pensamento de grupo (em inglês, groupthink)... Este fenómeno (grupal) tem sido estudado pelos cientistas sociais, incluindo os politólogos. Basicamente, ocorre em grupos demasiado homogéneos e coesos (como são por exemplo, os "homens do Presidente", o "comité central" dos partidos políticos ou os grupos de combate de forças especializadas)...  Os membros do grupo tendem a  minimizar  os conflitos, as existência de diferentes perspectivas e opiniões, valorizando o consenso a todo o custo, passando por cima, escamoteando, ignorando ou criticando as saudáveis divergências  individuais (opiniões, valores, conhecimentos...). Em situações-limite, como a frente de batalha, a coesão grupal e o "espírito de corpo" são fundamentais.  Mas o pensamento de grupo pode ter (e tem) consequências negativas, a nível psicossocial e cognitivo:   a pressão para a conformidade e o alinhamento ideológico e comportamental levam, muitas vezes ou quase sempre,  à perda de criatividade individual,  da idiossincrasia de cada um, da autonomia, da liberdade de pensamento e de expressão... Muitas decisões (políticas, militares, económicas...) acaba(ra)m em "desastre" devido possivelmente a este fenómeno... (LG)


1. Mensagem de José Belo (*), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia, com data de 10 de Maio de 2011:

Caros Amigos e Camaradas:
Como emigrante de muitas décadas, os termos correctos em português começam, estranha e inapropriadamente, a faltar-me de quando em vez. Consequência de todos estes anos sem sequer umas pequenas bacances  na Lusitânia? Daí que, ao tentar descrever alguns companheiros, ainda procurar termo apropriado.

"Guardiões do Templo" será obviamente exagerado. Garantes de purismos ideológicos d'antanho? "Barões" do intelecto entre plebe menos dotada? "Controleiros"? (Isso,  não! Lembra demasiado coisas... de um passado pré-histórico!).

De qualquer modo lá pairam, com autoridades ideológicas várias, procurando sempre... paternalmente (uns mais que outros)... corrigir desvios a umas linhas de pensamentos, e maneiras de estar na vida, para eles mais ou menos centrais. Poucos já se atrevem a, em postes ou comentários, algo escrever que possa vir a provocar estes "puristas do correcto". E para quê? Algumas das controvérsias e debates já foram, desnecessariamente, desagradáveis. ( E, aqui não me refiro aos que sempre procuram, mais ou menos conscientemente, SAIR FORA DOS PARÂMETROS PARA OS QUAIS ESTE BLOGUE FOI CRIADO).

Quem se der ao trabalho de "folhear" páginas antigas do blogue, ficará surpreendido com a continuidade com que alguns destes "guardiões" sistematicamente procuram corrigir as tais opiniões menos... ortodoxas.

E é pena, porque há sempre o perigo de se acabar por cair em monotonias cinzentas de unanimidades sempre obtidas nas sociedades de... "pensamento d' Estado".

Para a existência saudável de um Blogue-Documental,  tão importante como este, terá sempre que ser...VIVO. Haverá que haver o cuidado de permitir aos que não pensam exactamente da mesma maneira a liberdade de se não perfilarem sempre (!) pelo pautado.

Esta tendência de alguns (imbuída?) de corrigir o... "diferente"... torna-nos a todos mais limitados. Alguns destes meus pensamentos poderão parecer a uns quantos como exagerados, injustos e inapropriados, mas surgiram após muitas longas horas de leituras atentas às sucessivas páginas (antigas) do blogue. (As vantagens de se viver na Lapónia Sueca?)

Um grande abraço amigo do
José Belo

Estocolmo / 25 de Maio/2011 (**)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de > 13 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8263: Controvérisas (123): A guerra. As realidades locais e as bajudas de mama firmada (José Belo)

(**) Último poste da série > 15 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6991: Da Suécia com saudade (28): Da Lapónia à Flórida, mas voltando sempre à nossa querida pátria lusa: As viagens são os viajantes... (José Belo)

Guiné 63/74 - P8325: Blogpoesia (149): Hino à Terra (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa tertuliana Felismina Costa , com data de 23 de Maio de 2011:

Caro Editor e Amigo Carlos Vinhal:

Antes que a Primavera termine e o meu Alentejo deixe secar as flores campestres que agora o invadem e embelezam, envio este modesto hino, que compus em sua honra.

Grande espaço telúrico, que abracei encantada e onde aprendi com as aves a palavra Liberdade.

Onde aprendi a gostar da chuva por sabê-la necessária.
Onde o calor do Sol amadurece e cria.
Onde as noites de luar são um espectáculo maravilhoso.
Onde os cheiros das ervas se elevam nas madrugadas e perfumam todo o espaço.
Onde os grilos e as cigarras cantam até amanhecer.
Onde o silêncio... tem mil sons!...

Se entender publicar... o meu obrigada.
Felismina Costa



Primavera em Panóias
Foto de João Costa


Hino à Terra

Ainda um dia vamos voltar para o Alentejo…
Meu Amor!
O infindável espaço da planície… espera-nos!
Vamos voltar a semear as searas.
Criar os rebanhos.
Olhar o horizonte sem muros
E plantar muitas árvores…
Que na Primavera… abrirão em flor…

Queres ir,  meu amor?

Vamos voltar a amanhar as quintas,
Plantar roseiras de armar,
Fazer jardins junto às noras,
Sentir o cheiro da terra molhada,
Aspirar o cheiro das laranjeiras floridas…
Esquecer as horas!..

Queres ir, meu amor?

Vamo-nos sentar nos tanques, olhar a água,
Observar as aves, escutar as fontes.
Vamos ver o sol nascer, qual bola vermelha
A elevar-se.
Vamos assistir aos ocasos do Rei
Pintando o poente, sempre diferente,
Em telas tão lindas
Que mais belas não sei.

Queres ir, meu amor?

Vamos esperar a noite, que vem devagar,
Cansada do dia, de tanto esperar…
Noites de luar, pejadas de estrelas,
Brilhantes, douradas… noites de encantar!
Vamo-nos calar…
Que os grilos e as cigarras
Já se ouvem cantar
E durante a noite não se vão calar.

Vem, meu amor, vamo-nos amar!

Sem que ninguém veja…
As searas crescem, na terra vicejam,
E o tempo a passar
Faz com que amadureçam,
E os grãos dourados
São de novo a semente para continuar…

Vem… meu amor, a terra é um hino,
Que quero cantar!..

Felismina Costa
Agualva, 9 de Abril de 2011
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8188: As Nossas Mães (9): À minha Mãe, lembrada a cada momento (Felismina Costa)

Vd. último poste da série de 20 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8306: Blogpoesia (148): A vida e a morte na ponta de uma vara (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P8324: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (10): O pungente testemunho da irmã do nosso malogrado camarada Martinho Gramunha Marques, morto em Madina do Boé, em 30 de Janeiro de 1965









Guiné > Zona Leste > Pirada > 1965 >  "O meu grande Amigo Gramunha Marques", nas palavras do António Pinto... Poucos dias antes de morrer, em Madina do Boé, heroicamente, em grande sofrimento... "Janeiro de 1965. Em primeiro plano, o Alf Mil Martinho Gramunha Marques,  eu [António Figueiredo Pinto, Alf Mil, BCAÇ  506, Nova Lamego, Beli, Madina do Boé, 1963/65] e o Sarg Piedade. Foto tirada em Pirada" (AP)...


Segundo pesquisas feitas pelo nosso camarada José Martins, o Martinho Gramunha Marques, Alferes Miliciano Comando, natural de Cabeço de Vide / Fronteira, inumado no cemitério de Cabeço de Vide, tombou em Madina do Boé em 30 de Janeiro de 1965 (É também essa data que consta na lista dos mortos do ultramar, da Liga dos Combatentes). Pertencia à 3ª Companhia de Caçadores Indígenas.

Foto: © António Pinto (2007). Todos os direitos reservados.





1. Pode ler-se no blogue Quem Vai à Guerra, o seguinte, como "sinopse" do filme de Marta Pessoa, a estrear no cinema comercial a 16 de Junho, em Lisboa, Porto e Aveiro:

"Passados 50 anos desde o seu início, a guerra é, ainda hoje, um assunto delicado e hermético, apoiado por um discurso exclusivamente masculino, como se a guerra só aos ex-combatentes pertencesse e só a eles afectasse. 

"QUEM VAI À GUERRA é um filme de guerra de uma geração, contado por quem ficou à espera, por quem quis voluntariamente ir ao lado e por quem foi socorrer os soldados às frentes de batalha. Um discurso feminino sobre a guerra".

2. A pretexto ou a propósito deste filme do papel (invisível) das mulheres na guerra colonial (***), fomos recuperar a mensagem, de Junho de 2007, enviada por Adelaide Gramunha Marques, nome de solteira, irmã do nosso camarada Martinho Gramunha Marques, morto em combate (*)... Este é mais um testemunho pungente, de mais uma mulher que só 42 anos soube, através do nosso blogue, das circunstâncias em que morreu, exangue, o seu irmão (**):

[...] Luís Graça

Estou a escrever-lhe porque através de um dos meus sobrinhos veio parar-me às mãos um blogue que fala da Guiné, daqueles que por força do destino ou da cegueira de um homem, se viram envolvidos em lutas que não provocaram e cujo desfecho final nem sempre foi o mais agradável.

Deixe que me apresente primeiro: o meu nome é Maria Adelaide Gramunha Marques Sales Crestejo, irmã do falecido Martinho Gramunha Marques.

Quero que saiba que a minha primeira reacção quando vi o blogue, foi de expectativa pois fiquei entusiasmada com a ideia de que aqui podia finalmente encontrar alguém, que durante aquele período de tempo em que ele esteve na Guiné, conviveu com ele, quem sabe assistiu aos seus últimos momentos, o confortou, lhe deu apoio enfim, não o deixou morrer sozinho.

Quando vi a mensagem do  [...] António Pinto e vi o nome do meu irmão ali escrito com todas as letras (**), nem parei para pensar e foi então que um murro me atingiu em cheio o estômago, a cabeça começou a girar e as lágrimas não paravam de brotar dos meus olhos.

Ali à minha frente estava aquilo que durante anos e anos eu tentei saber e nunca tive ninguém que mo dissesse. Como foi a morte do Martinho Gramunha Marques ? O meu coração pedia a Deus que tivesse sido rápido, que ele não tenha sofrido.

Agora sei que isso não foi assim. Agora que já passaram 2 dias desde que tive conhecimento da vossa existência, e tendo lido com mais calma alguns dos comentários e narrativas, acho que foi bom, esta revelação aproximou-me mais dele.

Há no entanto tanta coisa que eu gostaria de saber, por essa razão lhe escrevo este email, pois gostaria se isso fosse possível, entrar em contacto directo com o [...] António Pinto, seja através de telefone ou email.

(...) Luís Graça, não quero terminar este email sem antes mandar para si e para todos os que de uma maneira ou doutra tornaram este cantinho uma realidade, um BEM HAJAM e as maiores felicidades.

Adelaide Gramunha Marques


[ Revisão / fixação de texto / cor a bold: L.G.] (***)


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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1862: 42 anos depois, com emoção e revolta, sei das circunstâncias horríveis em que morreu o meu irmão... (Adelaide Gramunha Marques)


(***) Último poste da série > 24 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8315: As mulheres que, afinal, foram à guerra (9): Maria Arminda Santos, a decana das enfermeiras pára-quedistas, participante do filme Quem Vai à Guerra (a estrear no cinema comercial, a 16 de Junho, em Lisboa, Porto e Aveiro)

Guiné 63/74 - P8323: Agenda cultural (126): IV Jornadas de Memória Militar, dia 31 de Maio de 2011 no Palácio da Independência

1. No dia 23 de Maio recebemos do nosso camarada Mário Beja Santos, uma mensagem dando conta das IV Jornadas de Memória Militar.


IV JORNADAS DE MEMÓRIA MILITAR

ECOS

NA MEDICINA, NA LOGÍSTICA E NA ARTE


No âmbito dos 50 anos da Guerra de África, a ter lugar no dia 31 de Maio de 2011 no Palácio da Independência, Largo de S. Domingos, 11.


(Clicar nas imagens para ampliar e permitir a leitura dos textos)

Do programa destacamos, às 16 horas, o III Painel - Arte, que tem como moderador o Tenente-Coronel Abílio Lousada

- "Guerra Colonial - a literatura e uma geração de escritores" pelo Cor. Matos Gomes

- " A singularidade das nossas literaturas de guerra: os figurantes ainda não disseram a última palavra - Um relance sobre a literatura da Guerra Colonial" pelo Dr. Beja Santos

- "Fazer a guerra é uma coisa; escrever sobre ela é outra coisa" pelo Cor. Paraquedista José Alberto de Moura Calheiros

A entrada é livre, mas os interessados em estar presentes devem contactar a Dra. Clara Dias Marques através do telefone 213 465 120.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8322: Agenda cultural (125): Odivelas, Biblioteca Municipal, 25 de Maio, 18h30: Apresentação do livro Amílcar Cabral (1924-1973): Vida e morte de um revolucionário africano, da autoria do guineense Julião Soares Sousa

Guiné 63/74 - P8322: Agenda cultural (125): Odivelas, Biblioteca Municipal, 25 de Maio, 18h30: Apresentação do livro Amílcar Cabral (1924-1973): Vida e morte de um revolucionário africano, da autoria do guineense Julião Soares Sousa



1. Mensagem do historiador e nosso amigo guineense, Julião Sousa:

Data: 23 de Maio de 2011 14:16
Assunto: Pedido de divulgação

Caro amigo.

Peço a divulgação do lançamento de meu livro intitulado: Amílcar Cabral (1924-1973): Vida e morte de um revolucionário africano.

Com os melhores cumprimentos.

Julião Soares Sousa



2. Comentário do editor:


Julião Soares Sousa foi o primeiro guineense a doutorar-se pela Universidade de Coimbra. Historiador e investigador guineense, especialista em História Política da Guiné e de Cabo Verde, Julião Soares Sousa defendeu,  em  11 de Janeiro de 2008, em provas públicas,  a sua tese de doutoramento, intitulada “Amílcar Cabral e a luta pela independência da Guiné e Cabo Verde 1924-1973”.

Desde 1999 que vinha a preparar o seu doutoramento, em História Contemporânea. A sua principal área de investigação é a construção do Estado nos PALOP. Porém, revela ainda particular interesse por outras áreas científicas afins, tais como: História de África, História e Cultura dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, História da Expansão, Colonialismo e Anticolonialismo.

Natural de Bula, Guiné-Bissau, vive e, Portugal,  sendo colaborador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20), da Universidade de Coimbra.

Em 1991 concluiu a Licenciatura em História, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC). Seis anos depois, em Janeiro de 1997, torna-se mestre em História Moderna, também pela FLUC.

Em 2003 lança a sua primeira obra, intitulada, “Os movimentos unitários anticolonialistas (1954-1960). O contributo de Amílcar Cabral”. Faz parte da revista Estudos do Século XX, do (CEIS20).

Publicou, ainda, “Amílcar Cabral: do envolvimento na luta antifascista à manifestação de tendência autonomista no Portugal do pós-Guerra (1945-1957)”. A publicação resultou de comunicações e discursos produzidos no II Simpósio Internacional Amílcar Cabral realizado na Cidade da Praia, Brasil, entre 9 e 12 de Setembro de 2004.

Também escreve poesia e está ligado à Casa da Guiné-Bissau em Coimbra. Foi, além disso, um dos oradores do Simpósio Internacional: Guiledje na rota da independência da Guiné-Bissau (Guiledje e Bissau, 1 a 7 de Março de 2008).

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Nota do editor:
 
Último poste da série > 21 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8307: Agenda Cultural (124): Na Kontra Ka Kontra, a blogonovela de 49 episódios, passada na Guiné, em Portugal, no Brasil, entre 1969 e 2010, agora publicada em livro, a apresentar em Monte Real (4 de Junho) e no Porto, Espaço Vivacidade (7 de Julho) (Fernando Gouveia / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P8321: (Ex)citações (139): Comentário ao Post 8318 - Notas de Leitura - Porque Perdemos a Guerra, de Manuel Pereira Crespo (José Manuel M. Dinis)

1. Mensagem de José Manuel Matos Dinis* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 24 de Maio de 2011:

Carlos,
Este comentário é capaz de ser grande para exigir duas remessas. Assim, se não te importas, envio-o para colocação no blogue.

Um grande abraço
JD

Mais uma vez, vem o Mário fazer a apresentação de um livro, desta feita "Porque Perdemos a Guerra", da autoria do Almirante Pereira Crespo. E como é costume, suscita comentários que, entre o espírito de contradição ou a colagem política, estão a criar-lhe uma confusa ideia de rejeição ou cansaço. Há alguns leitores que a advogam, mas não prescindem dessas leituras, quiçá, atrevo-me a referir, ainda colhem muita informação com as iniciativas do recensor.

Dos comentários em presença ressaltam três ideias principais: a de que não se extrai matéria condizente com o título; que o livro contém contradições, e não fomos derrotados na guerra colonial.

O Mário terá incidido a atenção, pelo menos por ora, nos tão proclamados ensejos do General Spínola para chegar a um acordo de paz na Guiné. Foi exaustiva a exploração dessa matéria aqui no blogue e, de um modo geral, chegou-se à conclusão de que a solução para a guerra seria política (mas sem a conclusão de que sem uma forte acção armada, não seria possível alcançar uma solução política vitoriosa).

Para dar aconchego ao título, o que implica um reconhecimento de derrota, o Autor também fez considerações pertinentes e, tratando-se de pessoa que desempenhou cargos de grande responsabilidade, fê-lo com a competência e dose de conhecimento privilegiado, que o projectaram ao respeito dos seus pares.

Assim, refere que nas três frentes de África, o inimigo evitava o contacto que o dizimasse, tendo em conta o baixo número e dispersão de guerrilheiros, e preferia acolher-se nos países vizinhos, de onde penetrava em territórios nacionais para acções de guerrilha, para onde regressava em seguida, dificultava a nossa acção de represália, e recomeçava a luta quando lhe fosse mais favorável. Os portugueses sempre ponderaram as circunstâncias, pois para o destruir, seria necessária a invasão dos países vizinhos. Acrescenta o Almirante:

"Se assim procedermos, a guerra subversiva que nos era movida poderia evoluir para uma guerra internacional de tipo convencional e, da circunstância, resultariam consequências militares e diplomáticas de quase impossível previsão.
Não tínhamos, portanto, solução militar para vencer a guerra.
O inimigo também não podia alcançar a vitória por meios militares, enquanto actuasse no âmbito da guerra subversiva"
.

E mais adiante:

"O inimigo também não podia vencer por meios diplomáticos".

E prossegue:

"...tínhamos que adoptar uma solução política, baseada na guerra de desgaste de longa duração, que levasse o inimigo, pela fadiga, pelas divisões internas e pela descrença na vitória, a afastar-se das potências que o apoiavam e a procurar, de novo, integrar-se nas estruturas portuguesas.
O nosso conceito estratégico pode assim definir-se:
a) Mostrar uma vontade firme de resistir e de vencer. O inimigo teria de acreditar que a luta em que estávamos empenhados era para nós vital e de que nunca desistiríamos por fadiga ou por traição;
b) Acelerar o desenvolvimento económico e social dos territórios ultramarinos, aumentando os portugueses de raça negra na administração dos negócios públicos. O inimigo teria de optar entre os sacrifícios de uma luta de guerrilha e a sua integração numa sociedade em pleno desenvolvimento, na qual poderia participar;
c) Receber, como irmãos e sem qualquer preconceito, aqueles que, tendo lutado contra nós, desistissem de tal luta"(Pg.53).

Noutro passo, o Autor refere em síntese citada por Eduardo F. Costa, se uma guerra, arrastando-se por largos anos, se transforma numa guerra de desgaste, só pode haver solução militar quando um dos adversários, "num dado momento e por qualquer razão, alcança a superioridade militar. Quando tal solução não se verifica, será derrotado aquele que primeiro desistir de lutar".

Ora, a superioridade militar não se reflecte pelo número de efectivos ou equipamentos, mas pelo uso que deles se possa fazer. Quanto ao conceito estratégico anunciado, parecia aplicar-se com perfeição no caso angolano (e talvez no moçambicano), mas não tinha comparação com o que se passava na Guiné, onde praticamente não havia assalariados. E sobre a "desistência" estamos conversados, apesar das grandes confusões que persistem na maioria dos porugueses. Quero ainda referir que não tive qualquer conhecimento de que as autoridades alguma vez tivessem adoptado o conceito estratégico do senhor Almirante.

Por agora, ficam os críticos mais esclarecidos sobre o livro e a capacidade do Autor.
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Notas de CV:

(*) Vd. ultimo poste de 23 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8312: Convívios (336): Encontro do pessoal da CCAÇ 2679 e Pel Caç Nat 65, dia 29 de Maio de 2011 no Fundão (José Manuel M. Dinis)

Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8269: (Ex)citações (138): Ainda o caso das fotografias das bajudas (Joaquim Mexia Alves)