quinta-feira, 28 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8179: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (15): Xelorico, um rapaz sui generis


1. Mensagem José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 26 de Abril de 2011:

Amigo Vinhal:
Junto nova história (Xelorico, um rapaz sui generis) para integrar o registo das "Memórias boas da minha guerra".

Um abraço do
Silva da Cart 1689



Patrulhamentos

Outras cambanças


Memórias boas da minha guerra (15)

O “Xelorico” – um rapaz “sui generis”

O Soldado José Ribeiro, minhoto de Celorico de Basto, foi mobilizado para a Guiné (1967/1969), integrado na nossa CART 1689. Para mim, que o seguia de perto, era um indivíduo inteligente, de comportamento exemplar e com características muito próprias, para além da pronúncia do nome da sua terra natal e de outras palavras idênticas.

Logo de início ficou marcado pelo nome de Xelorico. Quem o baptizou (e martirizava) foi o Silveira de Matosinhos. O Ribeiro esforçou-se tanto para corrigir o seu falar, que já não aceitava essa “provocação” e passou a gabar-se de falar melhor que os gajos do Porto.

Quando fizemos a Operação Inquietar II, estivemos sob uma emboscada do IN durante mais de três horas. Durante esse tempo foram-se esgotando as munições sem que víssemos saída para a situação. O ambiente era de péssima expectativa e as esperanças de solução iam diminuindo à medida que o tempo passava. Quando tentávamos avançar, logo obtínhamos resposta imediata e forte do IN, que nos obrigava a manter a mesma posição. Deitados pelo chão, cochichávamos com os mais próximos frases próprias de quem quer disfarçar o estado de espírito. O Silveira, acossado pelo remorso, diz para o Xelorico:

- Ó Ribeiro, desculpa lá por ter gozado com a coisa do Xelorico. E, num tom mais comovido, adiantou:

- Se escaparmos desta, nunca mais te vou chatear com isso. Tás a oubir, morcom? O Celorico, encolhendo os ombros:

- Afinal, não tens razão nenhuma, porque eu não falo assim.

Uns minutos depois, numa das reacções do IN, veio uma granada “rocket” embater contra uma árvore grande, que estava perto. Os estilhaços incandescentes espalharam-se em várias direcções e um deles rasgou a bochecha do Ribeiro, do lado esquerdo e entrou-lhe na boca. O Ribeiro, com a sua habitual serenidade, abriu a boca e apanhou um estilhaço, ainda quente, com dois dedos da mão direita. Virando-se para o Silveira, mostrou o achado e disse, com o ar e a voz a fugir-lhe pelo buraco ensanguentado:

- Flholda-lhe Slilbeila flholalam-me cum stilhalho. Estlhou flholhilho.

O Silveira, que ficou bastante preocupado ao ver o ferimento e a sangrar, ia repetindo para o encorajar:

- Tem calma Xelorico. Tem calma qu’ isso tapa-se. Bais ficar bom. Olha qu’ inda bais ficar a falar à moda de Lisbaua.

Outro aspecto que ilustra a personalidade do José Ribeiro era a ajuda que prestava aos camaradas na escrita de cartas e aerogramas para a Metrópole.

São umas 3 horas da tarde. O “Celorico” atravessa a parada de Cabedu e segue directamente para um dos postos de sentinela, onde está o Fernandes, que era analfabeto. Leva debaixo do braço um caderno de linhas, já parcialmente escritas. Senta-se perto do Fernandes, puxa umas folhas do caderno para trás e lê:

“Querida Maria, muito estimo que ao receberes esta, te encontres de perfeita e feliz saúde, na companhia do nosso Quinzinho, dos teus pais, das tuas irmãs, da tua avó Matilde e de todos os vizinhos. Eu por cá estou bem, graças a Deus...

Vira-se para o Fernandes e pergunta:

- Que é que queres que diga mais?

Responde-lhe o Fernandes:

- Olha, diz-lhe que ando a cismar na puta da vaca que fugiu ao meu sogro. Não sei se não será melhor vendê-la, se não qualquer dia foge outra vez e ninguém a apanha. Ó Celorico diz-lhe também que isto por aqui está bem e que quando eu for embora, não quero ouvir falar mais de feijão verde porque me faz lembrar a puta da farda da tropa. Não digas nada que ando a aprender a nadar, se não a família fode-me o juízo.

- Claro - diz o Celorico, que continuou: – E no fim, faço como o costume?... Com isto termino, muitas recomendações para os familiares, amigos e vizinhos, beijos e abraços para os teus pais, para ti e para o nosso querido menino, deste que tanto vos ama. José de Oliveira Fernandes.

- Porreiro, Celorico. Olha, já agora, podias acabar e entregar na Secretaria. Muito obrigado, pá. Logo pago-te a cervejita. Ó menos isso.

Quando se preparava para regressar, o Justino “Faquista”, de Fafe, aproxima-se e diz-lhe:

- Ó Celorico, já sabes que entro de sentinela às 6:00, no posto de lá de baixo. Não te esqueças de me dar uma ajuda para mandar um “bate-estradas”. Queres vir beber uma “granada”?

Outra façanha do “Celorico” era a capacidade de memorizar.
Já me tinham falado no assunto, mas eu não acreditava que fosse com tantos pormenores . Um dia cruzámo-nos na parada, em Catió.

- Bom dia Celorico, está tudo bem?

- Que remédio, meu Furriel Ranger, José Ferreira da Silva – respondeu ele.

- Ó pá, não me foda, deixe-se dessas merdas – observei eu.

-E não é verdade? Então quem é o Furriel de Artilharia, Ranger Silva, com o número mecanográfico 8500765, José Ferreira da Silva, natural da freguesia de Fiães, do concelho de Santa Maria da Feira, residente na Rua de S. António, ....

-Ei, páre, páre lá, a ladainha – interrompi eu. - Cum caralho, como é que decorou essa merda? Não me diga que é mais um bufo da Pide, a morder-me os calcanhares?

O Celorico, todo orgulhoso, a transmitir o seu gozo controlado, exclamou:

- Por mim, não tenha medo disso porque se os pudesse foder, também alinhava. E acrescentou:

- Sei o nome, o posto, o número mecanográfico e o endereço de todos os 153 militares da nossa Companhia de Artilharia nº 1689, pertencente ao Batalhão de Artilharia 1913, da Serra do Pilar, de Vila Nova de Gaia.
Não acredita? Olhe, o nosso Capitão chama-se Manuel de Azevedo Moreira Maia tem o numero....... e é natural de..., da Povoa do Varzim; o Alferes de Infantaria, Ranger Alberto Augusto Abrunhosa Branquinho, numero ....... vive na Covilhã e é natural de Vila Nova de Foz Côa......

- Chega, chega, eu acredito – gritei eu. - Não acreditava, mas agora até juro que é verdade.

Mas o “Celorico” também ouvia o que queria (ou imaginava).

Eram mais de 11 horas da manhã. O sol estava quase a pino e não havia ponta de vento que suavizasse aquele calor infernal. Além do zumbir dos insectos e de um ou outro pio de ave ao longe. Não se sentem energias para mudar de sombra. Naquela zona sul da Guiné, cercada de rios, matas e bolanhas, era muito difícil sintonizar qualquer estação de rádio. Por vezes, lá se ouviam alguns ruídos misturados com vozes e idiomas indefinidos. O gira-discos dos furriéis ainda estava empacotado, desde a vinda de Catió, pronto para nova viagem ou cambança (que foram de Fá a Canquelifá, passando por variadíssimos outros aquartelamentos e destacamentos).

Nesse aquartelamento de Cabedu existia, no extremo norte da parada, uma árvore muito alta, onde funcionava um posto de sentinela. Dessa árvore descia um arame directamente para o posto de transmissões, numa posição subterrânea, no outro extremo da parada.

Sentado no chão, encostado ao muro sombrio da caserna, faço um grande esforço para ler umas anedotas pela cagagésima vez.

Olho em frente e vejo o Celorico a tentar engatar um fio na antena das transmissões. Era conhecido pelo seu amor ao folclore e, muito particularmente, ao Grupo Folclórico de Celorico de Basto. Para ele a musica portuguesa era só dessa.

Já ele transpirava em bica, quando conseguiu engatar a sua antena privada na antena do quartel. Com um rádio do tamanho de um palmo, ligado, o Celorico tinha que o segurar um pouco acima do ombro, devido ao escasso comprimento da sua improvisada antena.

De repente, põe-se aos saltinhos de braços erguidos (uma mão com o rádio), a gesticular e a cantar alto:

- ... “Está nooooo pino do calor. Está nooooo pino do calor...”.

Como me viu, chamou-me para ir ouvir, como se tivesse descoberto algo de transcendente.

- Ouça aqui o Rancho Folclórico da minha terra. Que categoria! Como eu não ouvisse nada, encostou-me o rádio ao ouvido, sem interromper o seu acompanhamento: - Está noooooo pino do calor...!

Confesso que não ouvi nada, a não ser um zumbido enorme, carregado de “areia”, sem qualquer som musical ou palavras perceptíveis.

Todavia, passados mais de 15 minutos, ainda lá estava o “Celorico” sozinho, sob sol escaldante, aos saltinhos, a ouvir os discos pedidos (perdidos?) na Emissora Nacional e a cantar: - Está nooooo pino do calor”.

Fotos e texto
Silva da Cart 1689
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8078: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (7): Operação Inquietar II - Manga de Ronco

Vd. último poste da série de 10 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7921: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (14): Celebrando os meus 25 anos

Guiné 63/74 - P8178: Controvérsias (120): Spínola, Amílcar Cabral, o Tarrafal, o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, os guineenses e os caboverdianos, nós e o blogue (Torcato Mendonça / Pepito)





Fotograma do documentário, produzido e realizado por Diana Andringa, em 2009, Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta, que foi exibido pela primeira vez em televisão, ontem, na RTP1, às 23h00. Um dos ex-presos, caboverdiano, entrevistado (em 2009), comentando a notícia do assassinato de Amílcar Cabral, em 20 de Janeiro de 1973. Qual o eventual papel dos tarrafalistas, guineenses, libertados no  tempo do Gen Spíonla, na organização e execução do assassinato de Amílcar Cabral ? O documentário de Diana Andringa, baseado em entrevistas com antigos presos do Tarrafal (1 português, e cerca de 30 guineenses, angolanos e caboverdianos),  não aborda  explicitamente esta melindrosa questão. (LG)





1. Texto organizado com base num comentário de Torcato Mendonça ao Poste P8165, originando por sua vez um comentário do seu autor, o nosso amigo Pepito:



(i) Torcato Mendonça [, foto
a esquerda, tirada no Fundão em 27 de Janeiro de 2007] 
, em comentário de 25 do corrente, ao poste P8165:



Caro Carlos Schwarz:


Actualmente tenho dificuldades de comunicação. Consegui ler o P8165. De facto, este Blogue do Luís Graça [& Camaradas da Guiné] tem contribuído muito para se falar e debater a "guerra da Guiné". Com um senão: quem aqui escreve, na quase totalidade, são ex-combatentes portugueses (incluo os guineenses que combateram com a farda de meu País). 


O PAIGC pouco ou nada diz. O Simpósio foi importante. Uma ilha a pender para um lado...?? Não cabe aqui debatê-lo nem a questão da  "guerra  perdida" e isso o Marechal Spínola sabia, disse-o e tentou inverter o curso normal da história das ditas potências coloniais.


O assassinato de A. Cabral deve ser procurado dentro do PAIGC,não ? Como o esclarecimento das divergências entre guineenses e caboverdianos.


A Op Mar Verde é um caso a estudar, como outros,  e daria excelente debates.


Boa Sorte para a AD. Abraço Torcato



2. Resposta, não publicada, do Pepito [, foto à direita],no mesmo dia:


Caro Torcato:


Concordo consigo quando diz que o assassinato de Amilcar Cabral deve ser procurado (acrescento eu, também) dentro do PAIGC. Estou à vontade para o dizer, pois defendi sempre que o golpe de 14 de Novembro [de 1980]  foi o golpe conseguido que falhou no assassinato de Cabral.


Talvez por minha ignorância militar, mas não conheço nenhuma vitória militar de Spínola. A única vitória, que não lhe nego, é política: ter apostado forte e conseguido maximizar o ponto mais forte e mais fraco do PAIGC, a unidade entre guineenses e caboverdianos. Foi aí, nessa luta,  que ele ganhou, que ele minou o PAIGC, infiltrou os seus agentes, dividiu,  organizou o assassinato de Amílcar Cabral.


Sou o primeiro a reconhecer que foram "militantes" do PAIGC que mataram Cabral, mas quem o mandou matar e organizou a sua entrada,  a partir do Tarrafal, isso poderia ter sido esclarecido se os dossiers da PIDE referentes ao Spínola não tivessem sido mandados retirar da António Maria Cardoso [, sede da polícia política até ao 25 de Abril]. 



Mais. Muito do que ainda hoje estamos a viver na Guiné-Bissau tem as suas raízes profundas no assassinato de Amilcar Cabral. O que me espanta é ouvir dizer que o Spínola nada tem a ver com o assassinato de Cabral, tanto assim é que "ele sempre o elogiou". Caro amigo, já ouvi a alguns dos implicados guineenses dizer o mesmo... Hoje em dia, até o Alpoím Calvão que bombardeou a casa de Cabral em Conakry na operação Mar Verde, nega que o tenha querido matar. Pois....



abraço

pepito




PS - Quanto à ilha a pender para um lado...que lhe respondam os militares e historiadores portugueses que estiveram no Simpósio [Interncaional de Guiledje].  


(iii) Novo comentário de Torcato Mendonça, de 27 do corrente:


Luís Graça


Faz chegar, por favor, a minha breve resposta, a possivel para quem está limitado com a Rede TMN. O computador é da Ana e noutro sistema. Em breve escreverei. Melhor em e-mail.


Spínola sabia que tinha que actuar assim. O assassinato de Cabral é assunto a ser tratado de outro modo. Nada me mete medo sobre tal ou outros assuntos. Assumo ter admirado o Marechal enquanto Com-Chefe na Guiné. Sabes isso. Da parte restante falaremos. Aquela guerra nunca seria ganha militarmente... Houve grandes combatentes de ambos os lados. Nem sempre utilizando os meios suaves... nem sei como se definia isso ou que importância terá para esta conversa entre nós.


Só dois pontos:

- Portugal vivia sob uma ditadura feroz. Os ultras e certos interesses económicos nunca suportariam uma negociação política. Marcelo era um Chefe de um Governo de fachada.

- Li e ouvi os vídeos do Simpósio. Conheço pela leitura e não só o trabalho da AD. Vai, logicamente além do que aqui tem aparecido no Blogue. É natural em quem se interessa por estes assuntos.

A "ilha estava inclinada" foi um modo de dizer como certos dirigentes actuavam...ou actuam.


Agradeço que encaminhes isto, caro Luís, para o Carlos Schwarz. Não  tenho endereços e o resto falha. Só o gosto por vocês, pelo blogue, pela Guiné e pelo o meu País me levam a tentar, quando posso e o sistema funciona, a escrever assim e a vir aqui,  religiosamente.
Abraço os dois. Através de um todos os camaradas do blogue; do outro o Povo daquela Terra vermelha e ardente que a mim ficou colada.


Abraço do Torcato (a verdade tem sempre muitas inverdades... a verdade pura é utopia).



2. Comentário do editor:  


Tanto o nosso amigo Pepito como o nosso camarigo Torcato autorizaram a publicação destes comentários feitos em registo off.


Mais concretamente o Pepito acaba de me mandar a seguinte mensagem:


Luis: Se considerares que tem interesse para os nossos bloguistas, publica.
abraço
pepito


PS - Gostei muito de conhecer os filhos do Zé Teixeira [que acaba de regressar da sua viagem à Guiné, onde foi recebido com grande alegria, reconhecimento,  gratidão, esperança e entusiasmo pelas gentes do Cantanhez] . Há uma nova geração (com os teus filhos) fora de série....

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Nota do editor:



Último poste da série > 18 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8128: Controvérsias (119): 10 de Junho: Ainda, o Dia dos Combatentes (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P8177: Contraponto (Alberto Branquinho) (30): Teatro do Regresso - 5.º Acto - (Des)encontros imediatos

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 25 de Abril de 2011:

Caríssimo Carlos Vinhal
Neste "5º. Acto - (Des)encontros imediatos" do Teatro do Regresso a acção ("presente") passa-se no Café Bento ("5ª. Rep") em Bissau e "acção futura" no... mundo.

Um abraço
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (30)

TEATRO DO REGRESSO
(Peça em vários actos)

5º. Acto
(Des)encontros imediatos

Cenário

Guiné, nos tempos da guerra.
Esplanada da “5ª. REP.”, em Bissau.


Personagens

Vários furriéis e alferes milicianos, com a tez característica de quem fez muitas caminhadas por terras do interior.
Alguns fardados outros em traje paisano. Estão sentados à volta de três mesas juntas. Bebem e conversam.


Acção

Levanta-se um e diz:

- Eh malta! Eu e o Rodrigues vamos dar uma volta pela Europa. Há lugar para mais um ou dois. Aceitam-se voluntários. O carro já lá está à minha espera.

- Partes quanto tempo depois de a malta chegar?

- O tempo suficiente para conseguirmos o passaporte. O serviço militar já está cumprido…

- Ó Lopes, vamos?

- Não posso. Logo que chegue, vou começar a tratar dos papéis para ir para trabalhar para Angola.

Chegou um outro, vindo de fora de cena, encosta-se às costas de uma cadeira e, levantando os braços:

- Eh pessoal! Oiçam! Oiçam! O Uíge atraca amanhã logo de manhã. A gente deve começar a embarcar depois de amanhã pela fresquinha…

- Como é que tu sabes?

- O gajo é da PIDE… tem muitos informadores.

- P’ró c……!

- Porreiro. Amanhã ainda se pode fazer qualquer coisa.

- Zé! No primeiro Domingo depois de a gente chegar vou fazer-te uma visita a Vila Real.

- Não estou lá. Vou viver para o Porto. Casei-me nas férias e vou viver para o Porto.

- Este gajo vai para o Porto trabalhar com o sogro. Vai trabalhar por conta do sogro.

- É verdade? Vais mesmo?

- Vou trabalhar na fábrica do meu sogro.

- E vais fazer o quê?

O outro encolheu os ombros, como quem diz “não sei”.

- O gajo sabe lá! Tu sabes qual é o trabalho respeitante à profissão de genro.

- Fazer netos.

- Eu vou “meter o chico”. Quem me comeu a carne, agora que roa os ossos.

- Mal por mal, anda comigo para a África do Sul.

- Fazer o quê?

- Precisam de gajos com experiência de combate.

- Foda-se! Não estás farto?

O que foi interpelado levantou os braços e, acompanhando com um trejeito de lábios, concluiu:

- Não sei fazer mais nada.

As conversas continuaram, mas, a pouco e pouco, começaram a debandar: um a um, dois, depois outro e mais outro. Tal como iria a acontecer na vida (vida… finalmente!) que se aproximava.

(CAI O PANO)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8139: Contraponto (Alberto Branquinho) (29): Teatro do Regresso - 4.º Acto - Missa de Corpos Presentes

Guiné 63/74 - P8176: Notas de leitura (234): O Meu Testemunho, uma luta, um partido, dois países, por Aristides Pereira (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Abril de 2011:

Queridos amigos,


Vale a pena insistir na importância da panóplia de entrevistas incluídas em “O Meu Testemunho” de Aristides Pereira*, bem como o apenso documental, textos do maior relevo para a compreensão da história do PAIGC e também, por tabela, da política portuguesa.


A narrativa do secretário-geral do PAIGC é frustrante, há momentos em que nos questionamos quanto à péssima estruturação dos dados, a gravidade das omissões, a extensão dos silêncios. Não é difícil concluir que vamos esperar muito tempo até aparecer uma história do PAIGC suficientemente abrangente e elucidativa e que não seja alvo de uma contestação fundamentada.


Um abraço do
Mário


O testemunho de Aristides Pereira (2)

Beja Santos

Não devo esconder que sempre considerei este documento público como uma decepção. Um político que teve as elevadas funções como Aristides Pereira, sempre ao lado de Amílcar Cabral a partir de 1960, secretário-geral adjunto do PAIGC desde 1964, eleito secretário-geral em 1973, é obrigatoriamente conhecedor de eventos que a historiografia deste movimento independentista da Guiné tem omitido.

Em 2003, data da publicação desta obra, Aristides Pereira já dispunha de um distanciamento que lhe permitia ir muito mais além do que a elaboração de um modesto relatório de prestação de contas, com uns pozinhos apologéticos e a compreensiva admiração por Amílcar Cabral. O seu testemunho é tímido, está pejado de silêncios e até de omissões graves. Não consegue ter o voo a que se permitiu Luís Cabral que escreveu o seu depoimento numa prisão e certamente sem documentos para consultar. Vai escrevendo recorrendo a outros plumitivos, testemunhado com outros testemunhos. Incapaz de dar substância à doutrina então vigente da unidade Guiné-Cabo Verde, recorre a um texto inverosímil sobre o sistema colonial português em Cabo Verde, que é um verdadeiro tiro no pé, parece estar ao serviço de todos aqueles que sempre contestaram o projecto da união orgânica dos povos da Guiné e das ilhas de Cabo Verde.

Por absurdo que pareça, o seu testemunho passa a ser importante pela variedade das entrevistas recolhidas por Leopoldo Amado e o enriquecimento que traz o apenso documental. É por isso que recomendo a leitura de “O Meu Testemunho, versão documentada”, por Aristides Pereira, Editorial Notícias, 2003 (insisto que se trata da versão documentada, com quase 1000 páginas).

Retomando o fio da narrativa, entra-se na luta clandestina da Guiné, o autor dá-nos o ambiente das independências nos territórios limítrofes e a emergência de diferentes grupos norteados pelo espírito libertador: Movimento de Libertação dos Territórios Sob a Dominação Portuguesa, criado em 1959 na República da Guiné, com o enquadramento do médico são-tomense Hugo Azancot de Menezes, que estava em contacto com Rafael Barbosa, ainda muito activo em Bissau. Recorde-se que o PAI (Partido Africano da Independência) fora fundado em Setembro de 1956, na Guiné, e passara a dispor de células em Bissau, Bolama e Bafatá. Rafael Barbosa foi um dos impulsionadores do MLG – Movimento de Libertação da Guiné a que aderiram Inácio Semedo e Fernando Fortes.

É um período de grande mobilização e de grande turbulência ideológica, a situação só começou a clarificar-se quando o MLG e o PAI aceitaram a liderança de Cabral e de Barbosa, diferentes dissidentes tornaram-se acérrimos adversários do PAIGC ou aderiram a novos grupos, sediados em Dakar e Conacri. Em 1961, acontece uma grande vaga de prisões, os militantes foram desterrados para o Tarrafal, outros foram sujeitos a medidas administrativas de fixação de residência por 4 anos, uns na Ilha das Galinhas, outros no campo de São Nicolau, no deserto de Moçâmedes. A prisão de Barbosa leva a que a actividade política que todos aqueles que hostilizavam o PAIGC se tivessem transferido para o Senegal e para a República da Guiné. É em Conacri que Cabral é forçado a uma campanha de esclarecimento junto das autoridades para explicar a diferença de atitudes entre os movimentos de libertação, revelando mesmo os cadastros de alguns dirigentes como gente que tinha colaborado com administração colonial portuguesa, ladrões, fugitivos à justiça, provocadores a trabalhar para a PIDE, etc. Trata-se de um documento inédito depositado no arquivo do PAIGC, é digno de reflexão.

Ganha interesse e deve ser lido a par do depoimento de Luís Cabral o capítulo sobre a mobilização, acção directa e o início da luta armada na Guiné-Bissau. O massacre do Pindjiguiti fora assumido como uma lição, tal como disse Amílcar Cabral, “Nós fizemos asneira aqui. Fomos mexer onde o inimigo é mais forte, na cidade. Vamos sair daqui, vamos mobilizar os camponeses, lá o inimigo tem pouca força. Em Conacri é criado o lar dos combatentes, que acolhia voluntários, vinham receber explicações sobre os objectivos da luta. Rafael Barbosa ufanava-se de ter mandado para lá mais de 500 pessoas. Finda a preparação ideológica e política em Conacri, uns passaram directamente à mobilização dos camponeses, outros foram doutrinados em Nanquim, na China, caso de Nino Vieira. O PAIGC começa a ser pressionado de várias direcções: o MLG de François Mendy ataca no norte da Guiné e em Agosto de 1961 Amílcar Cabral anunciou a passagem à acção directa, a par de ter desencadeado uma ofensiva de sensibilização junto das Nações Unidas.

O capítulo sobre a mobilização e as perspectivas da luta armada em Cabo Verde tem utilidade para se entender o trabalho desenvolvido por Cabral e perceber como a rede clandestina do PAIGC em Cabo Verde foi sendo desmantelada e, com o tempo, houve o entendimento não haver condições para a luta armada em Cabo Verde. Aristides Pereira refere-se sumariamente à batalha de Como e ao congresso de Cassacá.

Vale a pena citar aqui um parágrafo para se perceber como o autor recusa aprofundar as situações de tensão e como estas eram totalmente desconhecidas pela direcção do PAIGC: “Numa digressão que Luís Cabral fez a Quitafine, no sul da Guiné, houve gente que se encheu de coragem e lhe deu conhecimento de comportamentos condenáveis da parte de certos sectores responsáveis que cometiam desmandos e abusos de poder, que iam desde o consumo exagerado de bebidas alcoólicas e castigos corporais até ao abuso sexual e fuzilamento de populares. Esses crimes estavam a provocar uma desconfiança cada vez maior das populações em relação ao PAIGC e à sua direcção”. Não deixa de inquietar a serenidade do escrito, há cerca de um ano, pelo menos, que se lutava e vivia em acampamentos, como é que era possível a direcção do PAIGC desconhecer estes desmandos.

A luta político-diplomática do PAIGC foi ganhando solidez, certificou o reconhecimento de uma luta cada vez mais intensa que logo em 1963 obteve posições muito fortes no sul, no leste e na região do Morés. Saltando para a chegada de Spínola, que introduziu um quadro novo de acções sociais e económicas com o chamamento das populações fiéis através dos chamados Congressos do Povo, o PAIGC viu-se obrigado a responder a uma acção psicológica devastadora intensificando os seus ataques.

E assim se chegou à proclamação da independência do Estado da Guiné-Bissau que Amílcar Cabral começara a anunciar desde 1965. Esta proclamação, escreve Aristides Pereira, só veio a revelar-se aceitável quando, a partir de 1969, o PAIGC reforçou a sua acção diplomática, com resultados nitidamente desfavoráveis a Portugal. Nesta fase, do ponto de vista militar, a situação ainda era estacionária. A missão especial das Nações Unidas à Guiné, de 1 a 8 de Abril de 1972, deu às Nações Unidas uma base concreta para conceder ao PAIGC novas formas de ajuda, aos poucos passou a ter acolhimento, mesmo com o estatuto de observador, junto de certas agências da Nações Unidas. Em 1971 Cabral produziu um documento intitulado “Para a criação da Assembleia Nacional Popular”, que serviu de guia ao referendo que levou à constituição da Assembleia Nacional e dos órgãos do Estado, iniciativas que Aristides Pereira descreve com algum pormenor.

E assim se chegou, em termos históricos, ao assassínio de Amílcar Cabral.

(Continua)
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Notas de CV:

(*) vd. poste de 20 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8141: Notas de leitura (230): O Meu Testemunho, uma luta, um partido, dois países, por Aristides Pereira (1) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 26 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8169: Notas de leitura (233): Triste vida leva a garça, de Álamo Oliveira (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8175: Convivios (318): O emocionante reencontro dos camaradas da CCAÇ 274 (Bissau e Fulacunda, Jan 1962/Jan 1964), organizado pelo Durval Faria, em Ponta Delgada, Arrifes, no RG 2, em 23 de Abril de 2011 (Carlos Cordeiro)


Região Autónoma dos Açores > Ilha de São Miguel > Ponta Delgada > Arrifes > RG 2 (Regimento de Guarnição 2, antigo BII 18) > 23 de Abril de 2011 > Convívio  de antigos camaradas da CCAÇ 274 (Bissau, Fulacunda,  Jan 1962/ Jan 1964) > Foto 92 > Foto de grupo (a primeira metade,   lado esquerdo)



Região Autónoma dos Açores > Ilha de São Miguel > Ponta Delgada > Arrifes > RG 2 > 23 de Abril de 2011 > Convívio de antigos camaradas da CCAÇ 274 (Bissau, Fulacunda, Jan 1962/ Jan 1964) > Foto 92 < Foto de grupo (a segunda metade, lado direito)



Região Autónoma dos Açores > Ilha de São Miguel > Ponta Delgada > Arrifes > RG 2 > 23 de Abril de 2011 > Convívio de antigos camaradas da CCAÇ 274 (Bissau, Fulacunda, Jan 1962/ Jan 1964)  > Foto do grupo...Veio pessoal do Canadá, EUA, Suécia, RA Açores e RA Madeira... Foto 91.





Região Autónoma dos Açores > Ilha de São Miguel > Ponta Delgada > Arrifes > RG 2 > 23 de Abril de 2011 > Convívio de antigos camaradas da CCAÇ 274 (Bissau, Fulacunda, Jan 1962/ Jan 1964) > "Foto 75: Ten Cor Viegas e General (reformado) Adérito Figueira prestando homenagem aos mortos do RG2, vendo-se o capelão militar, que proferiu uma Oração, e  os convivas".




Região Autónoma dos Açores > Ilha de São Miguel > Ponta Delgada > Arrifes > RG 2 > 23 de Abril de 2011 > Convívio de antigos camaradas da CCAÇ 274 (Bissau, Fulacunda, Jan 1962/ Jan 1964) > O antigo Cap Inf Adérito Augusto Figueira (hoje Gen Ref) presta homenagem aos mortos do RG2




Região Autónoma dos Açores > Ilha de São Miguel > Ponta Delgada > Arrifes > RG 2 > 23 de Abril de 2011 > Convívio de antigos camaradas da CCAÇ 274 (Bissau, Fulacunda, Jan 1962/ Jan 1964)  > Missa > "Foto 83: Na Oração dos Fiéis, o General Adérito Figueira dirige-se aos seus camaradas".


Fotos: © Carlos Cordeiro (2011). Todos os direitos reservados. 


1. Mensagem, com data de 25 de Abril, do Carlos Cordeiro (docente da Universdidade dos Açores, membro da nossa Tabanca Grande, irmão malogrado Cap Pára da CCP  123/BCP 12, João Cordeiro, e também ele antigo combatente em Angola como Fur Mil Inf):

Caros amigos editores:

Junto uma pequena notícia do convívio da Companhia de Caçadores Especiais 274. Fui convidado pelo camarada Durval Faria, o que muito me sensibilizou, pois nunca tinha estado num convívio de antigos combatentes. Foi uma experiência inesquecível, como digo no pequeno texto que vos envio, que, no fundo, transmite muito pouco do que verdadeiramente se passou.

Envio também fotografias.


Foto 75: Ten Cor Viegas e General (reformado) Adérito Figueira prestando homenagem aos mortos do RG2, vendo-se o capelão militar, que proferiu uma Oração, e os os convivas.


Foto 83: Na Oração dos Fiéis, o General Adérito Figueira dirige-se aos seus camaradas.


Foto 91: O grupo da CCE 274


Foto 92: Todos os convivas (com excepção do fotógrafo de ocasião).


Um abraço amigo do Carlos Cordeiro


PS - Só duas coisas:


(i)  Uma felicitação especial pelo aniversário do blogue, com um abraço ao Luís, extensivo a todos.


(ii) Agradecia o favor de, no local próprio, colocarem que a homenagem aos mortos constou da deposição de uma grinalda de flores e da sequência dos toques militares (esta parte não me lembro bem como se deve dizer: julgo que foi o toque de apresentação de armas, silêncio, alvorada e descansar - mas vocês farão o especial favor de colocar tudo como deve ser). Um abraço e bom 25 de Abril, Carlos Cordeiro.

2. Convívio da CCAÇ 274

por Carlos Cordeiro [, foto à esquerda]


No Sábado, 23 de Abril, e "sob a batuta" do camarada Durval Faria (*), reuniram-se em convívio os antigos militares da Companhia de Caçadores Especiais (CCE) 274, para evocar os 50 anos da sua incorporação militar. A reunião decorreu no antigo BII 18 (hoje Regimento de Guarnição 2), unidade mobilizadora daquela Companhia. Vieram camaradas de várias ilhas dos Açores, do Continente e do Canadá.

A recepção esteve a cargo do Ten Cor Viegas, 2.º Comandante do RG2, por ausência do Comandante. Depois dos cumprimentos, o Ten  Cor Viegas convidou os presentes a se associarem a uma simples, mas muito significativa, cerimónia de homenagem aos mortos da unidade, a que se seguiu uma visita às instalações militares.

A seguir, o capelão militar, Ten Cor Padre João Arlindo Monteiro, presidiu a uma celebração religiosa na capela do RG2. A oração dos fiéis foi lida pelo General Adérito Augusto Figueira, que, como capitão, comandou a Companhia. Numa evocação especial, relembrou o espírito de camaradagem e unidade que sempre marcara a vivência da CCE 274, pedindo a Deus as maiores felicidades para todos.

Seguiu-se o almoço-convívio na messe de Sargentos, num ambiente de sã camaradagem e de recordação dos bons e maus momentos por que haviam passado. Antes da distribuição do artístico bolo com o brasão da Companhia, Durval Faria entregou a cada um dos camaradas uma colectânea de reproduções de artigos dos jornais locais com as reportagens da partida e chegada da CCE 274 e de outros artigos referentes à Companhia.

Não há palavras para descrever as emoções da despedida.

Endereço uma palavra muito especial de agradecimento ao camarada Durval Faria pelo insistente convite que me dirigiu para participar no convívio – e a todos os restantes camaradas, famílias e amigos pelo modo carinhoso com que me receberam. Foi uma experiência inesquecível para quem, como eu, teve o seu "baptismo de fogo" num convívio de antigos combatentes da Guerra do Ultramar.

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Notas de CC:

(i) A Companhia de Caçadores Especiais 274 foi formada no Batalhão Independente de Infantaria 18, com oficiais e sargentos que receberam instrução no CIOE de Lamego. Partir de Ponta Delgada em 29 de Julho de 1961. Depois da IAO, na zona de Sintra, foi colocada no Campo de Santa Margarida, onde se manteve como unidade de reserva estratégica até Janeiro do ano seguinte.

Segundo me informou o General Adérito Figueira, a Companhia chegou a estar mobilizada para a Índia. Falou-me também nas deficientes instalações do Campo de Santa Margarida e na necessidade de inventar ocupação para os militares, pois não tinham qualquer missão especial, a não ser "estarem ali" sem poderem visitar a família, pois as passagens eram caras e só a viagem durava quatro dias para cada lado. Algum tempo era aproveitado para palestras sobre vários assuntos. De qualquer modo, e de acordo com conversas com diversos camaradas, foi um tempo difícil, pois havia a convicção de que seriam mobilizados e, no fundo, estavam a aumentar o tempo de serviço militar desnecessariamente e a grande maioria sem sequer ter dinheiro para poderem conhecer visitar pontos de interesse no Continente.

(ii) A CCE 274 partiu para a Guiné no navio Índia, em 17 de Janeiro de 1961, tendo estacionado inicialmente em Bissau, seguindo depois para Fulacunda.

(iii) Regressou a Ponta Delgada em 2 de Fevereiro de 1964, no N/M Lima.

(iv) Mortos (todos em combate):

- Fur Mil José do Rego Rebelo, em 6/2/63 [, Está sepultado na sua terra natal, Fajã de Cima, Ponta Delgada]
- Sold José Carvalho Carreira, em 6/2/63
- Sold João de Freitas Pereira, em 22/4/63 [, Foi inumado no cemitério de Fulacunda]

(v) Foram condecorados seis militares da Companhia: cinco com Cruz de Guerra e um (1.º cabo) com a Medalha de Cobre de Valor Militar com palma.   

(vi) (Nota do editor: Em 1962, as unidades moblizadas para o TO da Guiné foram as seguintes, para além da CCAÇ 274 (ou CCE 274):

BCAÇ 356: Mobilizada pelo BCAÇ 5, partiu em 17/1/1962 e regressou em 17/1/1964. Esteve em Bissau, Cufar e Catió. Comandante: Ten Cor Inf João Maria da Silva Delgado.

CCAÇ 273 (originalmente, CCE 273): Mobilizada pelo BII 17, partiou em 17/1/1962 e regressou em 17/1/1964. Esteve em Bissau, Catió, Cacine e Cabedu. Comandante: Cap Inf Jerónimo Roseiro Botelho Gaspar

EREC 385: Mobilizada pelo RC 8, partiou em 17/1/1962 e regressou em 17/1/1964. Esteve em Bissau e Fulacunda. Comandante: Cap Cav José Olímpio Caiado da Costa Gomes.

Fonte: Gomes, C.M.; Afonso; A.- Os anos da guerra colonial: volume 3: 1962: optar pela guerra. Matosinhos: QuidNovi, 2009, p. 126.
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Nota do editor:
 
(*) Vd. último poste da série > 27 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8173: Convívios (314): CCAÇ 274, uma das primeiras a partir para o CTIG, em Janeiro de 1962, comemorou os 50 anos da sua incorporação no BI nº 18, Ponta Delgada, Açores (Durval Faria)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8174: Em busca de... (159): Onde é que pára o pessoal da CCAÇ 462? (José Marques Ferreira)




1. O nosso Camarada José Marques Ferreira, ex-Sold Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Ingoré (1963/65), enviou-nos hoje a seguinte mensagem:

Olá camaradas,
O Domingos, cuja história já aqui contei em postes anteriores, contactou-me pelo Facebook.

Por intermédio desta mesma rede social, respondi-lhe e pedi-lhe algumas indicações mais, pois já há muita gente interessada em saber algo sobre ele.

ATÉ AO MOMENTO AINDA NÃO RESPONDEU… Porra!

Passando a outro assunto:

Como já afirmei por meia dúzia de vezes, não tenho grandes histórias para contar da nossa guerra na Guiné, mas lá vou encontrando algum material que penso ter interesse e, assim, aqui estou a enviar mais um texto, com três anexos, sobre o pessoal da minha CCAÇ, que embarcou no «Niassa» e depois de desembarcar nunca mais se juntou.

A LISTA DO PESSOAL DA CCAÇ 462 QUE EMBARCOU EM BISSAU, NO NAVIO «NIASSA», EM 7 DE AGOSTO DE 1965, E CHEGOU A LISBOA NO DIA 14 DAQUELE MÊS

Caros Camaradas, Amigos, Editores e Trabalhadores desta Tabanca Grande, como há muito não deambulava nestas paragens, trago hoje à colação um factor muito usual e frequente nos militares da guerra colonial. Os encontros e convívios que ainda se vão fazendo.

Precisamente para dizer que a subunidade de que fiz parte nunca aderiu, organizou, emparelhou pelo mesmo diapasão. Por outras palavras, nunca ninguém teve a ousadia de tomar a iniciativa para juntar meia dúzia de companheiros (alguns que cimentaram/construíram grande amizades), para realizarmos um encontro/confraternização.

Contra mim próprio viro a arma do comodismo, da indiferença, do deixa andar, do desinteresse…

Como já repeti aqui uma dúzia de vezes, em 1963 as zonas que calcorreámos, registavam grande actividade guerrilheira, atroz e de regulares «estragos» nas nossas tropas.

A esta minha subunidade, não sei porquê, nunca tiveram a ousadia de «chatear», fosse em ataques organizados, emboscadas, assaltos, ou sei lá que mais. Foi uma guerra santa a nossa…

Mas remexendo nos papéis (poucos) que trouxe comigo, encontrei a lista do pessoal que embarcou no navio «Niassa», que apresento em anexo.

Esta lista foi elaborada por mim, logo que nos chegou a informação de que iríamos embarcar, de regresso, no dia 7 de Agosto de 1965.

Neste navio – e sem sabermos um do outro –, vinha como é natural além de muitos outros, um militar que mais tarde se tornou um grande amigo meu – o Armor Pires Mota.

Com esta minha iniciativa, a publicação da lista, espero despertar as saudades em alguns ‘adormecidos’ e fico a aguardar, ansiosamente, que alguns deles me contactem.

Um outro pormenor é que quase toda esta malta é do Norte (carago…) e só meia dúzia é da zona sul (Lisboa a Setúbal).

Com alguns, poucos de Avanca, Cesar, Aveiro e não sei mais onde, já tive contactos. Outros perdi-lhes completamente o rasto… não sei onde param.

Como já disse em outras ocasiões, tivemos duas baixas: uma por acidente ao montar uma armadilha e outra por doença.

Alô! Há por aí alguém à escuta?

Se sim, comentem e informem aqui em baixo, no local reservado a comentários, ou escrevam-me para o e-mail: jmferreira@kanguru.pt

Para todos, nomeadamente os que entretanto ficaram “surdos” e “mudos” até hoje,
Um abraço,
J. M. Ferreira
Sold Apt Armas Pesadas da CCAÇ 462
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Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P8173: Convívios (314): CCAÇ 274, uma das primeiras a partir para o CTIG, em Janeiro de 1962, comemorou os 50 anos da sua incorporação no BI nº 18, Ponta Delgada, Açores (Durval Faria)

1. Informação recolhida da página do Facebook do nosso camarada Durval Faria:

A Companhia de Caçadores Especiais nº 274 comemorou no passado dia 23 de Abril as bodas de ouro da sua incorporação no BI nº 18, no RG2, Arrifes

Esta companhia esteve em teatro de guerra, na Guiné, de Janeiro de 1962 a Janeiro de 1964, na Guiné.

Programa

10h00 – Concentração dos antigos militares e suas famílias

10H30- Cerimónia militar alusiva aos mortos em combate na Guine

11h00 – Visita à unidade (RG2)

11h30 - Missa na capela do RG2

12h30 – Almoço no RG2

Presentes:

(i) O antigo capitão, hoje general, Adérito Augusto Figueira

(ii) Antigos militares, provenientes de Canadá, Estados Unidos da América, Suécia, RA da Madeira e RA Açores (Ilhas de Santa Maria e S. Miguel), num total de 70 pessoas.


Convidados especiais:

(i) Eng Fernando de Sousa Henriques, presidente da Liga dos Combatentes de Ponta Delgada,

(ii) e o Dr Carlos Cordeiro, docente da Universidade dos Açores

Guiné 63/74 - P8172: Agenda cultural (116): O documentário de Diana Andringa sobre o Campo de Chão Bom / Tarrafal passa hoje na RTP1, às 23h00: Entre 1962 foram deportados para lá 100 presos políticos guineenses, 60 foram libertados em 1964 e os restantes em 1969



1. Mensagem da cineasta Diana Andringa, membro da nossa Tabanca Grande:



Data: 22 de Abril de 2011 12:15
Assunto: Tarrafal


O "Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta" vai passar na RTP1, dia 27, às 23H00.
Abraços,
 Diana

Sinopse (Fonte: RTP1):

Voltamos a este campo de desterro que tem muitas histórias para nos confessar... Chamavam-lhe "O Campo da Morte Lenta"; os críticos, naturalmente. Quando os presos eram portugueses, as autoridades chamaram-lhe primeiro, entre 1936 e 1954, "Colónia Penal de Cabo Verde" e depois quando reabriu em 1961 para nele serem internados os militantes anticolonialistas de Angola, Cabo Verde e Guiné, "Campo de Trabalho de Chão bom". Trinta e dois portugueses, dois angolanos, dois guineenses perderam ali a vida. Outros morreram já depois de libertados, mas ainda em consequência do que ali tinham passado. Famílias houve que, sem nada saberem do destino dos presos, os deram como mortos e chegaram a celebrar cerimónias fúnebres.

A convite do Presidente da República de Cabo Verde, Pedro Verona Pires, os sobreviventes reencontraram-se para um Simpósio Internacional sobre o Campo de Concentração do Tarrafal, resultou deste encontro este documentário produzido e realizado por Diana Andringa com o apoio da Fundação Mário Soares e da Fundação Amílcar Cabral.



 2. Comentário de L.G.:

Já aqui nos referimos ao documentário de Diana Andringa sobre o Campo de Chão Bom, Tarrafal, Ilha de Santiago, Cabo Verde. Realizado em 2009, foi estreado em Lisboa, no IndieLisboa'10, 7º  Festival Internacional de Cinema Independente, Culturgest,  23 de Abril de 2010. 

Para o Campo de Chão Bom foram deportados, em 4 de Setembro de 1962, cem presos políticos guineenses, juntando-se aos angolanos que já lá estavam.  Muitos dos guineenses terão sido presos arbitrariamente pelo PIDE, não  tendo  qualquer ligação ao PAIGC, criado em 1956,  e que a partir de 3 de Agosto de 1961 irá passar à chamada acção directa ( sabotagens, corte de vias de comunicação, etc.), antecipando assim a luta armada, iniciada oficialmente (segundo a historiografia do PAIGC) em 23 de Janeiro de 1963, em Tite. 

Este período, de 1961 a 1963, de forte repressão por parte da PIDE (que não teria no território mais de 30 agentes metropoliitanos), é  ainda mal conhecido da maior parte dos portugueses e dos guineenses, incluindo os combatentes (do lado e do outro) da guerra colonial de 1963/74.  

Já foi feita, no entanto, referência à  figura do advogado e escritor Artur Augusto Silva (1912-1983), casado com a nossa amiga Clara Schwarz e pai do nosso amigo Pepito, e que se destacou nesta época na defesa de presos políticos guineenses:  Cidadão empenhado, grande africanista,  português e guineense, jurista corajoso,   amigo pessoal de gente ligada às letras e às artes, mas também de diversas figuras ligadas ao Estado Novo, a começar pelo Prof Marcelo Caetano, de quem foi aluno,  foi advogado de defesa em 61 julgamentos de presos políticos, acusados de sedição, um deles com 23 réus, tendo tido apenas duas condenações em todos esses julgamentos. Em 1966, acaba também ele por ser preso pela PIDE, à chegada a Lisboa, e mantido vários meses no forte de Caxias sem culpa formada. Acabou por ser solto, mas impedido de voltar à Guiné.

Os 100 guineenses, deportados em 4 de Setembro de 1962,  foram juntar-se  aos 107 angolanos que já lá estavam. Os guineenses foram alojados numa ala separada.  Em 1964 saíram cerca de 60 guineenses, sem qualquer culpa formada nem julgamento,  sendo os restantes libertados em 30 de Julho de 1969, no âmbito da política "Por uma Guiné Melhor", do Governador Geral e Com-Chefe António Spínola.  Recorde-se que, ao todo, Spínola mandou libertar 92 presos políticos, incluindo um dos históricos do PAIGC, Rafael Barbosa  (1926-2007), detido na colónia penal da Ilha das Galinhas, nos Bijagós.

Dos 238 presos angolanos, guineenses e cabo-verdianos que estiveram no Tarrafal, na 2ª fase (1961-1973), apenas menos de um quarto (cerca de 50) estavam ainda  vivos, em 2009. No 1º período do Tarrafa (1936-1954) , o número de presos foi de cerca de 340, todos eles portugueses, opositores ao regime de Salazar, literalmente desterrados, presos arbitrariamente, sem direito a defesa nem a cuidados de saúde... 

O documentário de Diana Andringa, com duração de hora e meia, foi feita basicamente com  três dezenas de entrevistas, feitas no interior do antigo campo, e inclusive nas antigas celas, por ocasião do Simpósio Internacional sobre o Campo de Concentração do Tarrafal, que teve lugar entre 28 de Abril e 1 de Maio de 2009. A realizadora preferiu concentrar-se na 2ª parte da história,   menos conhecida ou menos falada, deste campo de concentração, ou seja, o período em que foi reaberto, em 1961, e que vai até 1974.   
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Nota do editor:

Último poste da série >  11 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8085: Agenda Cultural (116): Conferência de António Graça de Abreu, Museu do Oriente, 3ª feira, 12 de Abril, 18h00, entrada livre > A megacidade de Xangai, um olhar de 30 anos

Guiné 63/74 - P8171: Memórias de Mansabá (24): Recordações de António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista - O baptismo de fogo na Guiné

1. Mensagem de António Dâmaso, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, com data de 23 de Abril de 2011:

Subordinado ao tema "Não deixes que sejam os outros a contar a tua história" aí vai mais um texto à vossa consideração.

Um abraço
Dâmaso


RECORDAÇÕES DE MANSABÁ (2)

O BATISMO DE FOGO NA GUINÉ

Depois de eu ir para a Companhia, às sextas-feiras faziam-se Operações relâmpago de heli-assalto na zona de Bula em Choquemone. Uma dessas operações calhou numa sexta-feira dia 13 de Junho que até era dia de Santo António, efeméride que no momento não me lembrei. Saímos de Mansabá  transportados em viaturas, passámos por Mansôa, seguimos pela estrada em direcção a Bissau e paramos numa Tabanca quase paralela a Encheia, local que conhecia por já ter transportado para lá Companhias de Páras. Era um local de eleição para lançar héli-assaltos na zona a partir dali.
Uma vez levei uma Companhia de manhã, e à tarde tive de ir buscá-la por falta de tecto (céu limpo) para actuar, outra vez fui mesmo pela picada junto ao rio Mansôa recolher uma Companhia, na margem do rio frente a Encheia, tendo de levar uma escolta de dois homens por viatura.

Zona de Jundum > Operação “Orfeu”

Fomos heli-transportados para o Objectivo que era a bolanha de Jundum-Choquemone

Ainda ia no ar já assistia ao bombardeamento de uma parelha de T6 e outra de FIAT G91.

Um avião T6 em voo na Guiné (Foto do Pára Albano Martins > Álbum de Memórias do BCP 12)

Uma parelha de aviões FIAT em voo. Na Guiné não voavam assim juntinhos

Uma largada Héli na Guiné, (Foto Mor S Rosa Álbum de Memórias do BCP 12)

Fui largado na ponta sul da bolanha, cujo efectivo era de 20 homens que correspondia a quatro Hélis, apesar de periquito naquelas andanças, era o mais antigo e como tal tive de assumir o comando. Recebi ordem do PCA, (Posto de Comando Aéreo) que andava lá em cima a comandar a Operação, para me dirigir para norte ao encontro do resto do pessoal da Companhia. Mandei o Cabo Oitenta com a sua MG para a frente, meti-me atrás dele e lá fomos, embora fosse um iniciado, sabia da competência daqueles homens que já tinham passado por Gandembel e por outros buracos idênticos e estavam endurecidos pela guerra. Sentia-me seguro e integrado.

Os que saltaram a norte entraram logo em acção e quando se deu a reunião já tinham alguns prisioneiros. Cheguei a tempo de ver sacar mais dois de dentro de uma vala cheia de água, onde se encontravam a respirar por uma cana de capim, um militar mais atento viu as bolinhas de ar à superfície e os guerrilheiros não escaparam.

Um DO em voo, um faz tudo (Foto Álbum de Memórias dos Pára-quedistas)

Já se encontravam alguns elementos a juntar o material apreendido, para depois carregar nos Hélis e eu recebi ordem para destruir as palhotas do acampamento. Andava por lá um casal de velhotes confusos com o aparato, a meu ver atendendo à idade, acho devia ter havido um pouco mais de condescendência na maneira de os tratar, fui educado a respeitar os mais idosos, os buracos causados pelas bombas largadas ainda fumegavam, preocupei-me primeiro em manter a segurança s só depois foi a destruição do acampamento pelo fogo.

Pára-quedistas na destruição de um Acampamento (Foto Álbum de Memórias do BCP 12)

O Comandante da CCP 121 a carregar armamento no Héli na Operação “Adónis” em 1969 (Foto H BCP 12)

Como a Operação foi resolvida num dia em poucas horas, fomos recuperados para João Landim, local onde eu já tinha ido muitas vezes levar e recolher Companhias de Páras e depois via auto para Bissalanca, ainda deu para fazer uma visita à família.

Héli em aproximação para recuperação (Foto Cabo Pára Lopes > Álbum de Memórias do BCP 12)

Recuperação Héli (Foto Cabo Lopes > Álbum de Memórias do BCP 12)

Dali em diante comecei a conhecer mais de perto alguns pilotos dos Hélis que até ali conhecia de vista e que nos transportaram, uma vez que ia sentado ao lado do piloto.

Alguns dos pilotos de Héli que me transportaram para as Operações e na recuperação (Foto cortesia do Alf  Mil Pilav Jorge Félix com a devida vénia)


Resultados da Operação “Orfeu”: 
 - 17 guerrilheiros abatidos,
- 12 capturados,

Apreensão do seguinte material:
- 1 metralhadora pesada Guryunov,
- 1 morteiro 60, 1 LGF RPG 7,
- 1 espingarda automática Kalashnikov,
- 1 espingarda semi-automática Simonov,
- 1 carabina Mosin Nagant,
- 1 espingarda Mauser,
- 2 carabinas Zbrojovska,
- 1 pistola matralhadora Beretta,
- 1 pistola matralhadora Schmeisser,
- 2 pistolas-metralhadoras M-25,
- 1 pistola matralhadora Thompson,
- 6 pistolas-metralhadoras PPSH,
- 36 granadas diversas,
- 5 minas A/P,
- 32.100 munições para armas ligeiras
- material diverso, fardamento, medicamentos, etc.

A CCP 122 sofreu 4 feridos ligeiros, eu não dei um único tiro porque não tive ninguém na mira de fogo, mas deu para verificar que a margem direita do rio Mansôa era perigosa e que a linha entre a vida e a morte era muito ténue o que obrigava a matar para não morrer. O comportamento dos militares tornava-se quiçá mais desumano em tal situação.

Saudações Aeronáuticas
Dâmaso
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Vd. último poste da série de 30 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8016: Memórias de Mansabá (12): Recordações de António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista - A minha estadia em Mansabá