quinta-feira, 17 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7956: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (85): Na Kontra Ka Kontra: 49.º e último episódio




1. Quadragésimo nono e último episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 16 de Março de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


49º EPISÓDIO

O miúdo que a foi chamar, talvez lhe tenha dito que género de pessoa a procurava. Talvez a arranjar-se demorou algum tempo, o que a Magalhães Faria pareceu uma eternidade. Sentado debaixo do alpendre lateral da oficina do Tchame não a viu chegar. Só deu por ela quando já estava junto dele.

Cedeu-lhe a cadeira e ficaram a olhar um para o outro como se nunca tivesse acontecido KA KONTRA, ela sorrindo, ele admirando talvez a forma impecável como vinha vestida e o rosto sem uma ruga. Conversaram tanto que, quando deram por isso, já tinha ido embora todo o pessoal que se tinha juntado com a chegada do visitante. Ela chegou a dizer-lhe que andava com alguns problemas de saúde e que ali em Bafata não sabiam o que ela tinha. Ele foi-lhe dizendo que se sentia muito só.

Asmau e Magalhães Faria.


EPÍLOGO

Asmau acaba por contar a Magalhães Faria tudo o que passou naquilo que, a seus olhos, foi uma longa existência: Desde que o Alferes a comprou por “vaca e meia”, tinha ela dezasseis anos, até agora com cinquenta e seis. Ou seriam cento e cinquenta e seis como diria Teresa Batista (Jorge Amado)?

Bafata tinha sido o seu destino quando, cansados de guerra, ela e a família, fugiram de Madina Xaquili. Não tinham ido por Galomaro para a tropa não os detectar. Em Bafata tinham familiares que os acolheram, até recomporem as suas vidas. O pai Adramane era parente do Régulo de Canquelifá, pai de Ibraim. Este ajudou a nova família a instalar-se. De imediato iniciou o relacionamento com a Asmau que conduziu, mais tarde, ao casamento dos dois. Tudo se encaixava, pensa Magalhães Faria: O Ibraim logo tinha sabido o que se tinha passado em Madina Xaquili, entre a Asmau e ele próprio.

Cada um sabia o que se tinha passado até à fuga para Bafata. Ela conta o que se passou daí para a frente. Refere que enquanto o Alferes esteve em Bafata, pouco saía das imediações da morança, por não querer encontrar-se com ele. O Ibraim levou-a pela primeira vez ao cinema só após o Alferes ter ido embora de vez. Logo a seguir casaram.

Demoram algum tempo a ter o primeiro filho mas logo vieram mais seis, ao todo quatro rapazes e três raparigas. Mas não demorou muito até morrer um, logo o mais velho. O Ibraim sofreu, talvez mais do que ela, com a morte desse filho por se tratar do primogénito e logo macho.

Ela, com vinte e tal anos, já tinha passado por muita adversidade: O divórcio do Alferes aos dezasseis anos, a morte trágica do marido Samba, a fuga para a nova vida e agora a morte de um filho.

Faltava ainda descrever muitas mais adversidades: O Ibraim, que já tinha tido um pequeno ataque de coração, não sobreviveu ao segundo. Sobreviveu ela. Sobreviveu ao divórcio do Alferes, ao Samba e agora ao Ibraim. Desgraças sucessivas. Só africana passa pelo que ela passou. Mais tarde, com a morte de dois outros filhos, com SIDA, carregou o fardo quase sozinha. Os pais pouca ajuda lhe deram antes de morrerem. Tudo suportou. Difícil diz ela, “foi aprender a chorar”, tal como diria Teresa Batista (Jorge Amado).

Gosto da maneira como vem vestida, interrompeu ele, tanto para fazer esquecer as tristes lembranças dela, como para mudar a conversa para assuntos mais prosaicos. E continuando:

Hoje, Asmau, já não vai haver tempo para irmos ao hospital ver o que se passa com a sua saúde, mas amanhã volto aqui e trataremos disso. No dia seguinte, bem cedo, chegava a Bafata, dirigindo-se directamente à morança da Asmau, aonde a tinha acompanhado no dia anterior.

Ir a um qualquer hospital procurar tratamento, pode ser muito complicado quando não se conhece ninguém, porém no de Bafata trabalhava lá uma médica portuguesa que muito facilitou o atendimento. À custa de um pequeno “óbolo” ao hospital por parte Magalhães Faria, tudo ficou à disposição para o tratamento de Asmau.

Já eram horas de almoço quando os dois se despacharam. Sem a convidar para almoçar, quando deram por eles estavam sentados no restaurante do seu amigo Dionísio Castro, situado no prédio da sede dos “Médicos do Mundo”. Talvez não tivessem reparado no que comeram mas o que é certo é que a conversa se prolongou por toda a tarde.

KA KONTRA foi o que cada um prometeu ao outro não mais acontecer. Ela estava a viver sozinha: O único filho vivo estava a trabalhar em Portugal e as três filhas estavam com os maridos, duas em Bissau e outra para os lados do Gabu.

Logo ali combinaram, que dada a mútua solidão, ele a viria buscar passados dois dias, o tempo necessário para ela reunir alguns pertences a levar para a que iria ser a sua nova casa.

Mas definiram bem que ela iria ter o seu quarto, que o que ambos precisavam era de afecto, que ela iria ter um ordenado para justificar o pouco trabalho que iria ter na empresa dele, como orientadora do pessoal menor. Também teria sempre um carro com condutor à disposição, para a levar quer a Bafata, quer a qualquer lugar, sempre que se quisesse encontrar com amigos e familiares.

Nem sempre ele a levava a Bissau. Lá tinha negócios e “negócios”, como homem que era. Quando a levava não se coibia de a “mostrar”. Compra-lhe os melhores vestidos, perfumes e algumas jóias embora para ela “qualquer latão fosse ouro”, mais uma vez como diria Teresa Batista (Jorge Amado).

O aeroporto fascinava-a por causa dos aviões. Quando ele ia esperar amigos de Portugal sempre ela o acompanhava. Pressentindo que ela gostaria de um dia voar, depressa programa uma viagem, num táxi aéreo, até aos Bijagós. Felicidade dos dois. Ele deliciou-se só de ver as expressões de felicidade dela ao contemplar, lá do alto, matas, tabancas, rios, ilhas, ilhotas. Viu pela primeira vez o mar aberto, com que ficou deslumbrada, como deslumbrado estava ele só de a contemplar.

Para recordar os velhos tempos, um dia, fizeram uma refeição em que a “bianda “ foi confeccionada por ela, agora com sal, tendo comido sentados numa esteira no chão, debaixo do grande mangueiro. Muito se riram, muitos olhares trocaram. Momentos de muita ternura.

Quando ao fim da tarde ele se senta sozinho debaixo do mangueiro desfilam na sua memória todos os casos “amorosos” e profissionais, mas agora, numa paz de espírito não supostamente alcançável, mas alcançada. A sua ex-bajuda torna-se numa fonte de ternura não antes imaginável. Paixão. Um amor casto.

Renovam-se os afectos expressos na ternura de palavras, sorrisos, olhares, gestos, como se de um casal de namorados se tratasse.

Sexo é coisa que agora, ele e também ela, sabem separar do amor e da ternura. Ele raramente a trata por tu, talvez por não querer recordar a intimidade que outrora houve mas que agora é outra, sublimada.

Todos os fins de tarde, sentados ou na varanda ou debaixo do mangueiro, ele não se cansa de olhar para ela. Muitas vezes ela faz o mesmo. Gosta muito de a ver dormir na cadeira de lona, especialmente encomendada por ele de Portugal.

Um dia descobre que o sexo o impedira de amar. (como diria a personagem do velho jornalista num dos últimos livros de Gabriel Garcia Márquez). Como que descobre a vida novamente. Desperta nele o amor julgado perdido. Os negócios passam a uma fase de excelência e os amigos regozijam-se ao vê-lo prosperar.

Vários anos se iriam passar. O Dionildo deixaria de vir África abaixo a trazer as carrinhas. A sua coluna ressentir-se-ia da vida agitada que sempre levou. A Sextafeira há muito que tinha deixado de lhe dar atenção.

Whisky ele, e ela uma “fanta”, era o que invariavelmente tomavam quando à noite ficavam até tarde na varanda da casa. Ela recostada na cadeira de lona portuguesa.

Xilogravura no tronco do mangueiro com um coração e as letras A e MF traduz um amor que tinha parecido inatingível.

Y(e, em crioulo), numa ida a Bissau, não se esquece de por em favor dela a sua apólice de seguro de vida.

Zumbidos de mosquitos era a única coisa que se iria ouvir naquela noite serena de fim da época das chuvas, com os dois dormitando sentados na varanda daquela casa para os lados de Safim. Notando ela que ele não se levantava para se irem deitar foi tocar-lhe ao de leve para lhe lembrar que já era tarde. Os dois, trôpegos, amparando-se mutuamente, dirigem-se para o quarto que agora já compartilham.


FIM de NA KONTRA KA KONTRA

**********

Agradecimentos:

Ao “Blog Luís Graça e Camaradas da Guiné” em particular ao próprio Luís e ao editor Carlos Vinhal que me tem aturado todo este tempo.

A António Pimentel:
Por ter sido quem “provocou” tudo isto, na visita que ambos fizemos à Guiné-Bissau em Março de 2010, ao apresentar-me ao empresário que estava interessado em produzir a primeira telenovela guineense. Pelo apoio que deu ao longo destes meses de escrita.

A Francisco Allen pelo apoio dado na Guiné-Bissau e Artur Rêgo pelo seu apoio.

Ao verdadeiro Alferes:
Cuja sua história serviu de base para este seriado.

À verdadeira Asmau:
A “bajuda “ mais espectacular da Guiné Portuguesa.

Ao verdadeiro Dionildo:
Que pela sua maneira de ser proporcionou muitas dicas ao autor.

Ao verdadeiro Ibraim:
Grande amigo do autor, já falecido.

A João:
Que em Madina Xaquili muito ensinou ao autor.

À verdadeira Bobo:
Que sempre tinha um sorriso para com o autor.

A Sadjuma:
O milícia mais aprumado do seu Pelotão.

A Braima:
Que na “Tabanca” deliciou o autor com os seus acordes.

A Ibraim:
Que, além de dar o nome a uma personagem, muitos ensinamentos transmitiu ao autor, sobre os costumes do povo guineense.

Ao povo guineense:
Que pela sua afabilidade conquistou e motivou o autor para esta escrita.

À minha mulher com quem aprendi a gostar de ler.


Porto e Portugal: Agosto de 2010
Até sempre camaradas.
Fernando Gouveia
____________

Notas de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7950: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (84): Na Kontra Ka Kontra: 48.º episódio

Vd. postes da série Na Kontra Ka Kontra:

P7583, P7589, P7598, P7605, P7612, P7624, P7630, P7637, P7643, P7648, P7664, P7667, P7673, P7680, P7687, P7698, P7701, P7707, P7713, P7719, P7739, P7743, P7748, P7755, P7763, P7779, P7787, P7794, P7801, P7809, P7830, P7837, P7847, P7854, P7861, P7875, P7882, P7885, P7890, P7896, P7905, P7910, P7915, P7919, P7926, P7939, P7944, P7950

Guiné 63/74 - P7955: O Nosso Livro de Visitas (108): Homenagem ao Marechal Spínola e ao 2º Sargento Leandro Vieira Barcelos, morto em Cufar (Padre Frei Nélio Leandro Barcelos / Mário Fitas)




Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66), Os Lassas  (abelhas selvagens) > A Secção de cães ... A esta subunidade pertencia o 2º sargento Barcelos, madeirense, morto na sequência de um ataque de abelhas (por trágica ironia) no decurso da Op Trovão, em 19 de Julho de 1965.

Foto: © Mário Fitas (2008). Todos os direitos reservados. 





1. Mensagem, com data de ontem, enviada pelo Padre Frei Nélio Leandro Barcelos

Prof. Luís Graça

Sou sobrinho de Leandro Vieira Barcelos, 2º Sarg Guiné, que morreu em Cufar (*). 


Vários sendas me ligam à Guiné: meu tio morreu lá, minha mãe deu-me o nome dele.
O meu avô comprou a casa que pertencera aos pais e, sobretudo, aos
avós do Marechal Spínola. Meu avô chegou a brincar com ele em criança quando veio à casa dos avós, no Porto da Cruz. Tenho contacto com duas primas legítimas de Spínola na Madeira e possuo fotos únicas do mesmo.

Sou franciscano e já tive um convite para ir à Guiné-Bissau em serviço, como padre.
Penso que este ano ou talvez no próximo poderei lá ir. Estive antes em Moçambique.
Vivi também na Madeira, com o Padre Francisco Rodrigues Macedo que viveu
cerca de 50 anos na Guiné. Trabalhou, sobretudo, no Ministério da Educação e foi Director do Liceu de Bissau, antes e após o 25 de Abril. Organizei uma bela homenagem na sua terra, Ponta do Sol, Madeira. 
Espero levar as fotos da exposição à Guiné-Bissau quando lá for.
Na Ponta do Sol, a Câmara financia livro sobre o mesmo.


No Porto da Cruz, a Junta de Freguesia também mostrou interesse em patrocinar livro sobre a ligação do Marechal Spínola àquela freguesia do norte da Ilha, onde passei os
melhores momentos da minha infância. Um dia gostaria de prestar um tributo à terra dos meus avós, resgatando estas memórias dos antigos. Tenho algumas entrevistas que realizei às pessoas mais antigas da freguesia.

Junto envio texto sobre o meu tio, se houver alguém que o tenha conhecido ou que tenha
fotos do mesmo gostaria que me contactassem.

Seria interessante se pudesse publicar algo nos 50 anos da morte do meu tio. Só por curiosidade, acabo de concluir redacção da tese de mestrado em bioética, com a temática: «O luto como questão bioética». Deverei defendê-la nos próximos meses em Braga. 

Grato pela atenção dispensada,
Fr. Nélio Leandro Barcelos, ofm

PS. Poderia fazer um resumo com foto do meu tio para colocarem no vosso blogue (**)



2. Segundo mensagem de do Padre Frei Nélio Barcelos:


 Assunto: Mário Fitas

Prof. Luís Graça:  Se possível, agradecia que me facultasse email do Mário Fitas que integrou companhia onde estava o meu tio. Creio que até dedica um dos seus livros, entre outros, ao meu tio. Gostava muito de contactar com ele para tentar reconstruir o puzzle. 
Muito agradecido, 


Fr. Nélio Leandro Barcelos, ofm


3. Comentário de Mário Fitas [, foto à esquerda quando jovem], a quem dei conhecimento do mail do nosso amigo Nélio:


Luís,


Fiquei chocado, pois o Barcelos fazia parte do meu grupo de combate.


Estou um pouco fragilizado, pois para além da idade me tornar bastante sensível, tenho um problema de visão no olho esquerdo o que me leva a grandes dificuldades a escrever e trabalhar com o computador.


O Barcelos era uma jóia de homem. Com um relacionamento extraordinário tanto com os colegas como com os soldados. Era daqueles que não deveria morrer, mas, para quem acredita Nele, só Deus sabe porque os chama para junto d' Ele.


Irei escrever ao Nélio Barcelos, a quem darei conhecimento deste e-mail e que se pode orgulhar do tio que teve.

Um abraço,

Mário Fitas
_____________



Nota de L.G.:


(*) Vd.  12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4018: As abelhinhas, nossas amigas (3): As lassas e os Lassas: a colmeia-armadilha, a morte do 2º Srgt Madeira... (Mário Fitas)

(...) Pag. 94

Voltamos a Cabolol. O guia enviado pelo Batalhão garante-nos haver um novo Acampamento na mata de Cabolol.

Não encontramos nada, leva-nos ao antigo que verificamos continua destruído, desde a Operação Saturno de 10 de Junho. Dirigimo-nos para Cantumane que verificamos se encontra deserta.

Quando procedíamos à sua destruição, fomos violentamente atacados pelo IN que se encontrava emboscado na mata. Três ataques sucessivos, e aqui entramos em contacto com outro truque da Guerrilha: a utilização de abelhas.

Colocam os cortiços em locais estratégicos, fazendo fogo sobre eles, à nossa passagem. As abelhas lassas saem enfurecidas e desarticulam completamente as NT, ficando muita gente incapacitada para o combate.

A CCAÇ [763] sofre mais um ferido grave que não resiste. O sargento Madeira [, Leandro Vieira Barcelos, natural da Madeira, Porto da Cruz, Machico] não se aguentou e morreu no dia seguinte no Hospital Militar de Bissau [, em 19/7/1965]. Com picadas de abelhas e em estado grave, foram evacuadas mais três praças para o HM de Bissau. Acaba assim a operação Trovão. (...)

(**) Último poste da série > 16 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7953: O Nosso Livro de Visitas (107): Alguém desse tempo (1972 a 1974) se lembra do Cap Mil Joaquim Manuel Barata Mendes Correia?

Guiné 63/74 - P7954: Parabéns a você (228): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil Trms da CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72 (Tertúlia / Editores)


PARABÉNS A VOCÊ

17 DE MARÇO DE 2011

JOSÉ ARMANDO ALMEIDA

Caro camarada José Armando Almeida, mais conhecido como o Zé Armando,  a Tabanca Grande solidariza-se contigo nesta data festiva.

Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia,  desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.

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Notas de CV:

(*) José Armando F. Almeida foi Fur Mil Trms na CCS do BART 2917, Bambadinca (1970-1972), tendo privado com vários membros da nossa Tabanca Grande, a começar pelo nosso Luís Graça e outros camaradas da CCAÇ 12, como o Humberto Reis, o Tony Levezinho, o António Marques, o Joaquim Fernandes, o Arlindo Roda, o José Vieira de Sousa, o Fernando Almeida (que também era Furriel de Trms),  o Abel Rodrigues,  o Gabriel Gonçalves... e outros de outras unidades adidas, para além dos seus camaradas da CCS, como Benjamim Durães, o Abílio Machado, o Luis Moreira, etc. 

Faz hoje 64 anos, está aposentado da PT, onde trabalhou na Direcção de Aveiro, na área da Gestão de Recursos Humanos. Casado, com uma filha (licenciada em Design), reside em Albergaria-A-Velha, e costuma aparecer nos encontros de convívio da malta de Bambadinca (e também da nossa Tabanca Grande).

Vd. último poste da série de 15 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7943: Parabéns a você (227): António da Silva Batista, ex-Soldado da CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74), prisioneiro de guerra em Conacri (Tertúlia / Editores)

quarta-feira, 16 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7953: O Nosso Livro de Visitas (107): Alguém desse tempo (1972 a 1974) se lembra do Cap Mil Joaquim Manuel Barata Mendes Correia?


1. A Senhora Manuela Carona, viúva do Cap Mil Joaquim Manuel Barata Mendes Correia, deixou o seguinte apelo através de um comentário publicado no poste datado de 24 de Junho de 2010: Guiné 63/74 - P6638: Lista alfabética dos 24 capitães que morreram em campanha no CTIG, dos quais 10 em combate, todos comandantes de companhias operacionais (9 Cap QP, 1 Cap Mil) (Carlos Cordeiro) :
“Sou a viúva do Capitão Miliciano Joaquim Manuel Barata Mendes Correia, comandante do aquartelamento de Encheia, que pertencia ao comando de Bissorã.
Vivi uns meses com ele lá no aquartelamento.
Gostava de saber se alguém desse tempo (1972 a 1974) se lembra dele.

Lembro-me de o alferes Bártolo, grande amigo dele. O meu email é caronamanuela@hotmail.com
Muito obrigado
Manuela Carona”



2. No mesmo dia o nosso Camarada Joaquim Mexia Alves, que foi Alf Mil Op Esp / RANGER da CART 3492, (Xitole / Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma / Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa) - 1971/73 -, publicou, no poste indicado em epígrafe, o seguinte comentário:

Manuela Carona
Não estive com o Joaquim Mendes Correia no mesmo lugar na Guiné, mas fiz a recruta em Mafra com ele, e éramos então amigos.
Fizemos várias viagens de Mafra para Lisboa e vive versa juntos, bem como fomos sempre que podíamos em Mafra, jantar á Ericeira.
Julgo que não o cheguei a encontrar na Guiné, mas tenho a impressão que ainda estive com ele em Lisboa uma das vezes que vim de férias da Guiné.
Éramos um grupo na recruta em que estavam o Xico Lino, o Francisco Machado, o Luís Nagy (se não me falha a memória), o Hélder Martins, o Tó Zé Nogueira e sei lá mais quem.
Tenho a impressão que nós próprios nos conhecemos, mas posso estar enganado.
Só tive conhecimento do falecimento do Joaquim, já em Lisboa depois da Comissão.
Curiosamente também sou Joaquim Manuel.
Um abraço amigo
__________

Guiné 63/74 - P7952: Notas de leitura (219): A PIDE/DGS na Guerra Colonial 1961-1974 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Março de 2011:

Queridos amigos,
Depois de ler o trabalho de Dalila Mateus (ainda há outro para fazer recensão) fica-se com a ideia que é totalmente inglório propor uma história consolidada da guerra de África sem passar a pente fino os arquivos da PIDE, hoje na Torre do Tombo, afinal há mesmo informação sobre aqueles anos ainda na penumbra, entre 1960 e 1962. Os historiadores que não ignorem este caudal informativo.

Um abraço do
Mário



A PIDE/DGS na guerra da Guiné (2)

Beja Santos

A tese de doutoramento de Dalila Cabrita Mateus continua a ser o documento mais completo que se possui sobre as actividades da PIDE/DGS na guerra colonial (“A PIDE/DGS na Guerra Colonial, 1961-1974”, por Dalila Cabrita Mateus, Terramar, 2004). No texto anterior, procurou-se, de acordo com a organização da investigação, sumariar e implantação e o modo de funcionamento da PIDE em África, quais os métodos de repressão utilizados e como estes se conjugavam com o aparelho judicial e, por último, passou-se em revista a natureza das linhas de actuação ao nível de assassinatos, operações militares, sabotagem e desmantelamento de redes. O capítulo 4 aborda as informações, é o prato de substância das implicações das actividades da PIDE na Guiné. A investigação de Dalila Mateus também se debruça sobre as relações externas da PIDE/DGS, mas que muito pouca influência teve no seu funcionamento na Guiné e as representações desta polícia política em escritores portugueses, mas nenhum deles combateu na Guiné.

As informações, estima a autora, terão sido o principal contributo da PIDE para a guerra colonial. A notícia das origens do PAIGC encontra-se nos apontamentos elaborados pelo inspector José da Costa Pereira e remontam à presença de Amílcar Cabral, em 1952, na Guiné, e à tentativa de se criar uma associação recreativa e desportiva. A massa de informações acompanha, no essencial, o que já é conhecido, no entanto há que reconhecer que este material carece de ser carreado para a história da Guiné, naquilo que são apontamentos substantivos do pré-anúncio da guerra. Regista que a propaganda do PAIGC apareceu em 1962 e que a polícia logo procurou capturar os responsáveis, o que veio a acontecer com as prisões de 13 de Março desse ano, foram detidos o presidente do partido e um membro do Comité Central. Nesse ano houve ataques violentos à aldeia de Morés, foram efectuadas muitas prisões, 250 africanos foram enviados para o Tarrafal. Bissau viveu o recolher obrigatório em certas épocas. No âmbito destas informações, aparecem registados os diferentes endereços do PAIGC em Conacri e em Dakar. Igualmente os arquivos guardados na Torre do Tombo contém informações sobre divisões no seio do PAIGC. Por exemplo, a referência em Setembro de 1972 de um grande descontentamento reinante entre os elementos guineenses, por estarem a combater enquanto os cabo-verdianos ocupavam lugares de destaque em Conacri, vivendo com desafogo.

Quanto à organização militar do PAIGC, há o registo da criação das FARP – Forças Armadas Revolucionárias Populares, da Guerrilha Popular e da Milícia Popular e há notícias sobre a divisão em áreas, zonas e regiões, dados que vieram a demonstrar-se serem fidedignos. A relação das bases do PAIGC é bastante detalhada no que toca àquelas que estavam implantadas na República da Guiné. No interior da Guiné-Bissau, de acordo com a documentação existente, há dados sobre as bases na Inter-Região Sul e na Inter-Região Norte. Na primeira, há elementos sobre Madina do Boé, Injassame, Caboxanque, Calambante, Canhamina e outras, o hospital de Incamar, as bases de Banta e Uname, perto de Buba, Baranson na área de Tite. Refere-se concretamente que na base de Queneba, na área do Boé, o PAIGC teria dois lança-mísseis e na base de Cassacá um canhão sem recuo. Quanto à Inter-Região Norte, a base de Morés era a posição principal mas são referidas muitas outras. Há igualmente dados sobre as rotas de abastecimento, como o material chegado a Conacri era encaminhado para diferentes campos e bases, todos estes relatórios dão também conta da evolução do armamento. A partir de 1973 há informações alarmantes: a chegada de tanques de guerra e veículos anfíbios, carros blindados, canhões D-44 de 85 mm, etc. A pedido do Secretariado de Defesa Nacional, a PIDE fornece dados sobre os meios navais e aéreos do PAIGC: três vedetas rápidas do tipo P6, três a sete lanchas de desembarque, um barco de transporte, um estaleiro de reparação; e a informação de terem vindo da União Soviética vários pilotos de avião e apontadores de armas antiaéreas. A PIDE também informa que o PAIGC tencionava utilizar em breve pistas de aviação em Madina de Boé para os aviões MIG que possuía em Conacri. E afirma que o PAIGC pretendia efectuar bombardeamentos aos principais centros urbanos. Permito-me duvidar desta informação, não só não é credível a possível utilização de pistas de aviação em Madina de Boé como todos os depoimentos dos altos dirigentes do PAIGC têm ido em sentido contrário, não há nenhuma notícia de que os aviões MIG iriam ser utilizados sobre o território guineense. É facto que estes aviões chegaram a Bissau depois da independência, mas não há nenhum relatório indiciador da sua utilização durante o conflito.

A PIDE registou informações sobre cursos de dirigentes, mesmo com o pormenor dos centros de instrução militar estrangeiros em que se efectuaram. Toda a situação militar na Guiné é acompanhada com detalhe, a partir de 1963.

Em jeito de conclusão, a autora recorda a reorganização da polícia política no início da década de 60, observa que o quadro legal desta polícia em Angola, na Guiné e em Moçambique cresceu exponencialmente até ter atingido um total de 2222 elementos em 1972, não deixando apontar que os lugares do quadro estavam longe do preenchimento. “Mais de metade do pessoal da polícia tinha apenas a 4.ª classe, embora nos seus quadros superiores existissem licenciados. Cerca de um terço dos efectivos viera de corpos policiais e militarizados, como a GNR, a PSP e a Guarda Fiscal. A guerra colonial atraiu à PIDE bastantes militares e agentes de outras polícias. Os grandes contributos da PIDE para a guerra colonial foram: a repressão, o desenvolvimento de um muito variado tipo de operações e a recolha e tratamento de informações. Está registada a sua violência, a sua acção repressiva, a sua actuação nas prisões e campos de concentração e o acervo de informações é de um valor indiscutível para o estudo mais aturado dos três teatros de operações. O registo sobre o moral das tropas não pode ser ignorado, sobretudo no caso da Guiné.

“A História da PIDE”, de Irene Flunser Pimentel, é oferecida à biblioteca do blogue.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7946: Notas de leitura (218): A PIDE/DGS na Guerra Colonial 1961-1974 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7951: Lançamento do novo livro de Beja Santos, Mulher Grande (Temas & Debates / Círculo de Leitores, 2011) (1): Livraria Bertrand Chiado, 10/3/2011, Fotos






Lisboa > Livraria Bertrand Chiado > 10 de Março de 2011 > 18h30 > Sessão de lançamento do novo livro do nosso camarada e amigo Mário Beja Santos, Mulher Grande, editado pela Temas & Debates e pelo Círculo de Leitores.  A apresentação esteve a cargo da escritora Lídia Jorge (temos gravação em vídeo, a  divulgar oportunamente). Na mesa, da direita para a esquerda (1º foto de cima), Guilhermina Gomes, a representante da editora, directora editorial do Círculo de Leitores), a escritora Lígia Jorge (autora, entre outros, do conhecido romance A Costa dos Murmúrios, 1988, que já a tela, num filme, com o mesmo título,  de Margarida Cardoso, 2004), e por fim  o autor, Mário Beja Santos.    


Fotos: ©  Luís Graça (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




1. A sala foi manifestamente pequena para acolher todos os amigos e leitores do Mário, incluindo vários membros da nossa Tabanca Grande: assim de repetente, lembro-me de ter vista e saudado o Belmiro Sardinha (que, recorde-se, trabalhou muitos  anos na Sociedade Portuguesa de Autores), o José Vermelho - e a filha, que trabalha na Bertrand, na área do Marketing / Relações Públicas, se não erro -, o Jorge Cabral, o José Brás, o António Marques (o meu infortunado camarada da CCAÇ 12), o Humberto Reis (o nosso cartógrafo-mor), e outros... 


Tive, por exemplo, oportunidade de conhecer pessoalmente o António Duarte Silva, autor de Invenção e Construção da Guiné-Bissau (Almedina, 2010), bem como outros camaradas que estiveram na Guiné e manifestaram interesse pelo nosso blogue e inclusive vontade de ingressar na Tabanca Grande,  como é o caso do Francisco Feio, de Alhos Vedros, com quem há tempos já tinha falado ao telefone sobre o caso do malogrado Cap Mil Médico José Joaquim Marques de Oliveira). Tive ainda a oportunidade de conhecer um camarada nosso, leitor do nosso blogue, meu conterrâneo, natural da Ventosa, Lourinhã, mas de que infelizmente não fixei o nome. A todos os outros camaradas que reconheci e que cumprimentei mas que não menciono aqui por lapso de memória, peço as minhas desculpas.


Acabei por não poder estar mais tempo, no fim da sessão. Mas ainda cumprimentei a Lídia Jorge e falei-lhe do nosso blogue. Não a conhecia pessoalmente: é uma mulher afável,  bonita, elegante e inteligente. Gostei da sua originalíssima "leitura" do livro... O Mário, pro seu turno, estava visivelmente satisfeito pela presença de tantos amigos e pela calorosa recepção ao seu livro (que ele dedicou a três grandes mulheres que marcaram a sua vida, incluindo a mãe e a madrinha).   O livro, de 344 pp, tem como preço de capa € 19,90. Na Livraria Virtual Wook tem um desconto de 10%



Mulher Grande
Narrativa 
Edição/reimpressão: 2011
Páginas: 344
Editor: Temas e Debates
ISBN: 9789896441371


Sinopse: "No crioulo guineense, mindjer garandi (mulher grande) é a mulher idosa, sábia e destemida, predicados que Benedita Estêvão acumula, naturalmente, ao longo dos cerca de noventa anos de vida. Foi educada na moral salazarista, numa atmosfera familiar excepcional; preparou-se para a sobriedade, quando chegaram os primeiros revezes; depois partiu para África e cumpriu o seu sonho de amor; assistiu ao último acto do colonialismo; quando regressou, embrenhou-se no trabalho e triunfou; quando tudo se perdeu, preparou-se para uma vida de rotinas e modéstias; mais uma vez foi surpreendida por um grande amor que culminou numa tragédia; chegada a reforma, pôs em andamento novos projectos e não deu tréguas a uma doença terrível. 'A minha vida dava um romance', foi o que ela disse quando conheceu o escrevinhador das suas memórias"...


O nosso blogue teve o privilégio de divulgar, em primeira mão, há um ano atrás, largos excertos desta narrativa (*). Ao nosso camarigo Mário Beja Santos e ao nosso novo livro deseja Tabanca Grande as maiores alegrias e venturas. (LG)
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Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 25 de Fevereiro de 2010 > Guiné 67/74 - P5881: Pré-publicação de Mulher Grande, de Mário Beja Santos (6): Tinha prometido a mim mesma não voltar mais àquela terra onde passei dez anos que mudaram a minha vida, e onde assisti ao início de uma guerra

Guiné 63/74 - P7950: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (84): Na Kontra Ka Kontra: 48.º episódio




1. Quadragésimo oitavo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 15 de Março de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


48º EPISÓDIO

Depois de tirar uma fotografia, despede-se e promete voltar para recordar os velhos tempos. Já no jeep, com ar condicionado, resolve definitivamente ir procurar a Asmau, quanto mais não fosse para a ajudar em alguma coisa que precisasse, caso ainda fosse viva. Pensa que será junto de algum africano que poderá obter informações do paradeiro duma mulher grande, de quem só sabe o nome. Lembrou-se do ourives de Bafata, de nome Tchame, que conhecera há quarenta anos na Tabanca da Ponte Nova. Ouvira dizer que na oficina, estava agora um filho. Para lá se dirigiu. Disse ao actual ourives que tinha conhecido o seu pai e que nesse tempo lhe tinha comprado umas peças. Achou a oficina igual à que conhecera quarenta anos atrás. Finalmente perguntou:

- Conhece uma mulher grande chamada Asmau?

Em dois segundos obtém a resposta.

– Conheço, mora aqui perto, se quiser mando-a chamar. O marido chamava-se Ibraim.

Asmau, Ibraim, podia apenas ser uma coincidência. Ibraims haveria muitos, por Ibraim ser o nome de um dos filhos do Profeta. Magalhães Faria, por momentos, fica paralisado. Como antigo guerreiro reúne forças e reage. Tinha que fazer uma pergunta:

– Tchame, esse Ibraim foi empregado do Cinema?

– Sim, foi.

Magalhães Faria como que mudou de cor, teve tremuras, pediu para se sentar, foi-lhe oferecida água. Esteve mudo por largos momentos. Ainda sem nada dizer começou a pensar:

- A Asmau foi casada com o meu melhor amigo guineense. Asmau era com certeza a namorada que o Ibraim nunca me quis mostrar. E isso teria acontecido por o meu amigo Ibraim sempre ter estado a par do que se passou em Madina Xaquili. Incrível, pensou.

Viria a saber ainda que o Ibraim tinha morrido com um ataque de coração, o que não deixou de relacionar com o não ingresso nos Pára-quedistas.

- Tchame, por favor mande-a chamar.

O miúdo que a foi chamar, talvez lhe tenha dito que género de pessoa a procurava. Talvez a arranjar-se demorou algum tempo, o que a Magalhães Faria pareceu uma eternidade. Sentado debaixo do alpendre lateral da oficina do Tchame não a viu chegar. Só deu por ela quando já estava junto dele.

Asmau recebeu Magalhães Faria com um sorriso.

Cedeu-lhe a cadeira e ficaram a olhar um para o outro como se nunca tivesse acontecido KA KONTRA, ela sorrindo, ele admirando talvez a forma impecável como vinha vestida e o rosto sem uma ruga. Conversaram tanto que, quando deram por isso, já tinha ido embora todo o pessoal que se tinha juntado com a chegada do visitante. Ela chegou a dizer-lhe que andava com alguns problemas de saúde e que ali em Bafata não sabiam o que ela tinha. Ele foi-lhe dizendo que se sentia muito só.

Asmau impecavelmente vestida.

Asmau e Magalhães Faria.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7944: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (83): Na Kontra Ka Kontra: 47.º episódio

terça-feira, 15 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7949: Memória dos lugares (147): Enxalé, a desilusão... Onde está a arquitectura colonial ? (Henrique Matos / João Crisóstomo)




Guiné - Bissau > Região do Oio > Mansoa  > Enxalé >  Novembro de 2010 > "Este edifício cheira a instalação do comando, seja para tratar do expediente ou local de convívio. Aqui também se ouviram opiniões díspares, houve quem argumentasse que era a casa de um antigo comerciante, nada da Casa Gouveia ou Ultramarina, um comerciante que ali viveu. Seja como for, tem função e está preservada. Agora, os antigos habitantes do Enxalé que se pronunciem."


Foto (e legenda): © Mário Beja Santos (2010). Todos os direitos reservados. 




1.  Troca de mensagens, com data de 29 de Dezembro último,  entre o Henrique Matos, o João Crisóstomo  o Beja Santos, comentando fotos do Enxalé,  publicadas depois no poste P7557 (*)



Caro Mário:

 Que desilusão o Enxalé, aliás como o resto... que é feito da casa tipo colonial onde cresceu a D. Helena, aquela senhora que esteve connosco em Coruche [, filha do Pereira do Enxalé] ? Nessa casa ficava a secretaria, o capitão, a messe de oficiais e sargentos, o posto rádio, etc. Do outro lado da parada havia várias instalações: Bar, casernas, oficinas, sei lá....

A "avenida de poilões" na entrada do Enxalé já no meu tempo era bem bonita. A foto 2 é aparentemente uma parte da oficina. O Crisóstomo confundiu a foto 4; trata-se realmente da saída do Enxalé para a bolanha em direcção ao Xime, aquele poço era um dos locais onde as lavadeiras faziam o seu serviço. A foto 5 é o memorial construído pela CCaç 1439 (tenho uma foto)ao lado havia o memorial da Companhia antecessora,  a 556.

Grande abraço Henrique


(ii) João Crisóstomo (para Henriques Matos, c/c Beja Santos)


 Assunto: Operação Tangomau


Meus caros,


Tem razão o Henrique. O local que lembrei ( #4) embora parecido e por isso me fez recordar o que mencionei não pode ser este; lembro-me que demorou-nos bastante tempo para chegar ao quartel e este pela descrição fica bem perto, embora francamente não me lembro dos pormenores ( poço das lavadeiras? ) mencionado pelo Henrique. ...


Depreendo pelo feedback do Henrique Que desilusão o Enxalé, aliás como o resto... que é feito da casa tipo colonial onde cresceu a D. Helena, aquela senhora que esteve connosco em Coruche? Nessa casa ficava a secretaria, o capitão, a messe de oficiais e sargentos, o posto rádio, etc. Do outro lado da parada havia várias instalações:Bar, casernas, oficinas, sei lá... que há uma outra foto ( #1) que não recebi . Eu apenas recebi a #2 e seguintes. Podem mandar-me essa primeira?


Abraço grande,


João Crisóstomo



(iii) Beja Santos:

Assunto: Operação Tangomau: João Crisóstomo, da discussão nasce a luz. O fundamental é comunicarmos entre nós até se chegar à identificação. Haverá mais imagens na Operação Tangomau de hoje. Grande abraço, Mário (**)
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Notas de L.G:


(*) 5 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7557: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (10): O dia no Enxalé, em Madina e Belel

(**) Último poste da série > 13 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7938: Memória dos lugares (146): Bedanda 1972/73 - Natal de de 1972 (António Teixeira)

Guiné 63/74 - P7948: (In)citações (27): O Cherno Aliu Djaló, actual Califa de Quebo-Forreá, agradece aos nossos camaradas Vasco da Gama e Arménio Estorninho as fotografias do Cherno Rachide, seu pai e antecessor (Pepito)


1. Mensagem acabada de chegar do nosso amigo Pepito, juntamente com a foto que se publica acima, do Cherno Aliu Djaló:

Assunto: Fotografias do Tcherno Rachid


Amigo Luís


Mando-te uma foto do Tcherno Aliu Djaló, filho do Tcherno Rachid, o qual é o actual Califa de Quebo-Forréa. No momento desta foto entregava-lhe as fotografias que os nossos amigos Vasco da Gama e Arménio Estorninho me deram quando eu aí passei, [, em Lisboa,] em Fevereiro.

Ficou muito sensibilizado e pediu que lhes transmitisse que teria muito prazer e honra em recebê-los em sua casa e na terra do Tcherno Rachid.

Aqui fica o convite, e a certeza de que tudo farei para que eles se desloquem para o ver, quando regressarem a Bissau.

Um grande obrigado para eles.
pepito   
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Nota de L.G.:


Último poste da série > 22 de Fevereiro de 2011 >  Guiné 63/74 - P7836: (In)citações (29): A morte de Salifu Camará, rei dos nalús, e pai espiritual adoptivo do nosso amigo Pepito

Guiné 63/74 - P7947: Convívios (300): 10.º Encontro da Tabanca do Centro, dia 30 de Março de 2011 em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

1. Conforme o solicitado pelo nosso camarada Joaquim Mexia Alves, CMDT da Tabanca do Centro, dá-se notícia do 10.º Encontro daquela Tabanca, desta vez, no dia 30 de Março pelas 13,30 horas, no local habitual, Pensão Montanha de Monte Real.



10º ENCONTRO DA TABANCA DO CENTRO


O 10.º Encontro da Tabanca do Centro irá ter lugar no dia 30 de Março, pelas 13.30 horas, na Pensão Montanha, claro, em Monte Real.

Continuaremos com... o Cozido à Portuguesa!

O local de reunião continuará a ser, como sempre, no Café Central de Monte Real, pelas 13.00 horas.

As inscrições terão de ser feitas no Blogue Tabanca do Centro (na caixa de comentários) ou para o endereço tabanca.centro@gmail.com impreterivelmente até às 12.00 horas do dia 28 de Março.

Precisamos de ideias para aplicar os "dinheiros" já existentes.

NOTA:
A fotografia é de um encontro da Tabanca do Centro, algures em Mato Cão!!!

JMA
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7941: Convívios (215): 28.º Encontro Nacional do pessoal do BENG 447, dia 9 de Abril de 2011 em Aveiro

Guiné 63/74 - P7946: Notas de leitura (218): A PIDE/DGS na Guerra Colonial 1961-1974 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Março de 2011:

Queridos amigos,
Ainda hoje não entendo como se demorou tanto tempo a investigar os arquivos da PIDE/DGS para encontrar a natureza das suas actividades na guerra colonial. Melhor ou pior, estas delegações iam informando Lisboa, na fase inicial do desencadeamento da luta armada, da evolução da guerrilha, tipos de armamento, recrutamento, processos de intimidação, material de propaganda, etc. Como veremos mais adiante, a PIDE foi explicando para Lisboa com algum detalhe o que se estava a passar na Guiné, logo em 1962. Estas informações necessariamente que precisam de ser equacionadas com os relatórios dos governadores, dos comandos militares, testemunhos civis, etc. Importa não esquecer que os arquivos dos guerrilheiros também contam. Isto só para alertar que ninguém pode dar-se por satisfeito e poder dizer que o essencial sobre a guerra está escrito.

Um abraço do
Mário


A PIDE/DGS na guerra da Guiné

Beja Santos

Reconhecido pela crítica e pela investigação científica, “A História da PIDE”, de Irene Flunser Pimentel, Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2007, é o tratado fundamental sobre a polícia política do Estado Novo. Irene Pimentel, que veio a ser galardoada com o Prémio Pessoa [, em 2007,], é uma investigadora indispensável sobre algumas instituições do Estado Novo e também obra de referência a sua fotobiografia do Cardeal Cerejeira bem como o seu trabalho “Judeus em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial. Em Fuga de Hitler e do Holocausto”.

Na sua obra “A História da PIDE”, é-nos dado é relato minucioso da repressão exercida, os seus métodos, desde a vigilância, passando pela captura e pelo interrogatório até à investigação e instrução dos processos; ficamos a conhecer o perfil dos detidos políticos, a vida nas prisões, os julgamentos políticos, as relações entre a polícia política e o aparelho judicial e de igual modo é aflorada a relação entre a PIDE/DGS e as Forças Armadas, isto para já não falar sobre a vigilância sobre todos aqueles que, fora dos inimigos figadais do regime, revelavam qualquer dissidência social, política e até religiosa. Irene Pimentel declara taxativamente que não investiga este domínio da participação da PIDE na guerra colonial na justa medida em que fora feita uma tese de doutoramento sobre este tema: “A PIDE/DGS na Guerra Colonial, 1961-1974”, por Dalila Cabrita Mateus, Terramar, 2004.

É sobre este trabalho que nos vamos debruçar, exclusivamente na orientação das actividades da PIDE/DGS no território da Guiné.

A autora dedica o seu trabalho “À memória do meu irmão, Raúl [Evaristo]dos Santos Cabrita, primeiro-sargento[, SAS,] da Força Aérea, morto em Março de 1967, na Guiné. E à memória dos angolanos, cabo-verdianos, guineenses, moçambicanos e portugueses, vítimas do terror e da guerra colonial”. Dalila Mateus procurou três objectivos: conhecer tão profundamente quanto possível a organização da PIDE/DGS nas colónias; descobrir os contributos dados (em repressão, em informações para os militares e operações de natureza diversa) durante a guerra colonial; estudar as relações externas e internas da polícia política. Dentre as suas fontes, veio a revelar-se como mais preciosa os arquivos da PIDE na Torre do Tombo, estão ali depositadas informações estratégicas de valor incalculável para o estudo de toda a guerra.

No primeiro capítulo (“A PIDE/DGS nas Colónias”), há três matérias circunstanciais que nos interessa para o estudo da Guiné. O primeiro, tem a ver com a Operação Mar Verde, era responsável da PIDE/DGS na Guiné o inspector Matos Rodrigues que terá afirmado que “havia uma grande dificuldade no trabalho de informação”, os militares não disporiam de um serviço de informações credível e a delegação não tinha organização, não havia rede de informações internacional, não era possível exercer uma aturada vigilância sobre os guerrilheiros. Era tudo débil. Narra-se seguidamente a história de M, agente provocador na Guiné. M estabeleceu contactos com Rafael Barbosa e outros, apresentou-se como membro da Acção Revolucionária Armada (ARA), procurou recrutar “rapazes evoluídos” para a luta na Guiné, propôs-se mesmo ser o elo de ligação entre o PAIGC, a ARA e o PCP, arvora propaganda da União Revolucionária marxista-leninista. Com tanto espavento, ninguém lhe deu crédito.

Fragoso Allas virá a revelar-se a figura predominante da PIDE na Guiné. De 1968 a 1971, é adido comercial na missão de Portugal em Kinshasa, de 1971 a 1973 foi chefe da delegação em Bissau onde terá sido “mais fiel a Spínola do que à hierarquia da PIDE”. Um colaborador directo de Spínola disse de Allas: “Na Guiné, era o homem das missões delicadas, que estava dentro das coisas todas. Do Allas, tudo era possível.

No segundo capítulo (“A Repressão”), há uma referência ao campo de trabalho da Ilha das Galinhas, nele teriam estado mais de uma centena de presos políticos. Segundo a autora, em meados de 1969, foram transferidos do campo do Tarrafal para aqui 58 presos guineenses. Um dos transferidos, Bruno Dantas Pereira, considera o campo da Ilha das Galinhas ainda pior que o Tarrafal e nele morreram, segundo afirma, alguns detidos, vítimas de espancamento.

No terceiro capítulo (“As Operações”), cresce o número de referências à Guiné. Falando do assassínio de Amílcar Cabral, refere os planos de 1967, de 1969, 1970, 1971 e 1973. Começando pelo primeiro, diz Dalila Mateus que “Em 1967, na Guiné, o então chefe da delegação da PIDE, inspector Miguel António Cardoso, propõe ao director-geral um plano para suprimir Amílcar Cabral e furtar os arquivos do PAIGC em Conacri”. Ao que parece o projecto não tinha pés para andar e depois da substituição do inspector Cardoso o plano foi abandonado.

A “Operação Chèvre” data de 1969, envolveu várias colaborações, terá tido inclusive a participação de um diplomata senegalês. Fica-se sem perceber se é esta a tentativa de assassinato que Luís Cabral refere nesta data e que deu circunstância para várias execuções sumárias na região do Boé. Na Operação Mar Verde (Novembro de 1970) segundo Alpoim Calvão, se Cabral estivesse em Conacri, teria sido “seguramente eliminado”.

A questão no essencial continua nebulosa. No entanto, sabe-se que caíram obuses no Bairro onde vivia Amílcar Cabral. Spínola, no entanto, afirmou que dera ordem a Alpoim Calvão para trazer o líder do PAIGC vivo. Também não dá para entender como é que a autora diz soberanamente “Temos de concluir que o marechal Spínola faltou à verdade. Tal como terá faltado quando afirmou nada ter a ver com o assassínio de Amílcar Cabral”. O que acontece é que não há nenhuma prova, absolutamente nenhuma, de envolvimento da PIDE no assassínio de Amílcar Cabral, nenhum investigador encontrou qualquer documento probatório, manda o rigor histórico que o investigador não especule quando não pode provar.

Voltando aos factos, em 1971, a PIDE/DGS em Cabo Verde voltou a planear o assassínio de Amílcar Cabral, a polícia política contava com um antigo membro do PAIGC, um cabo-verdiano residente em Monróvia, na Libéria. Esta tentativa também não resultou. A PIDE, entretanto, vai coligindo informações sobre descontentamentos interétnicos e sugere a exploração de todas estas divergências.

Em Março de 1972, Cabral apresentou à direcção do PAIGC um documento contendo um plano de Spínola para decapitar o PAIGC, com três fases, trata-se de um documento incontornável na história do PAIGC.

Quanto ao assassinato de 20 de Janeiro de 1973, continua cheio de incógnitas. Não vale a pena invocar o testemunho de alguns conjurados, sabe-se hoje que todos estes interrogatórios decorreram numa atmosfera de horror, no todo ou na parte comparáveis aos mais sinistros que ocorreram em atmosferas totalitárias. Os testemunhos dos autores do crime valem o que valem. E não serve pôr em confronto o que sempre disse Spínola quanto ao seu não envolvimento e o que terá dito Fragoso Allas a Otelo Saraiva de Carvalho quando foi apresentar despedidas pelo fim da sua comissão de serviço na Guiné (“os tipos tinham ido longe de mais, porque a missão era só raptar e conseguir trazer Amílcar Cabral para Bissau como refém”).

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7934: Notas de leitura (217): Jardim Botânico, de Luís Naves (3) (Mário Beja Santos)