sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7341: Memória dos lugares (113): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (1) (Constantino Neves)

1. Mensagem de Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego (Gabu), 1969/71, com data de 23 de Novembro de 2010:

Camaradas
Já vai algum tempo que não vos envio uma das minhas histórias, pois, chegou a altura de o fazer.

Não é nenhuma das minhas histórias, mas sim algumas das fotos do espólio do meu irmão, Sérgio Neves, tiradas em Fajonquito nos anos 1964/66.
Vou tentar comentá-las, pois o meu irmão não tinha o costume de escrever no verso delas, nalgumas apenas escrevia Fajonquito 1964/65/66.

Há muito que as queria enviar, pois o nosso Amigo e Tertúliano Guineense, Cherno Baldé tinha feito o apelo para quem tivesse alguma coisa de Fajonquito, o enviasse.

Também o Camarada Beja Santos comentou no poste P2244, sobre os burros da Guiné.


MEMÓRIA DOS LUGARES

FAJONQUITO (1)

Localização de Fajonquito


Foto 1 > Foto tirada com camaradas. Em todas elas está um grande amigo dele, chamado Faria, que residia em Sobral do Monte Agraço, tão amigo, que pôs ao filho o nome de Sérgio. Há já algum tempo que perdi o contacto dele. Gostava muito de o rever.

Fotos 2; 3 e 4 > Alguma semelhança com a Feira do Cavalo Lusitano em Santarém, é só isso, semelhança, pois é o meu irmão Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto/Burros da CCaç 674, a montar um dos famosos Burros (R) [marca Registada] da Guiné, mais propriamente de FAJONQUITO.

Foto 5 > O meu irmão com o dono do único carro de Fajonquito, na altura, [Simca] seu amigo, que lhe emprestava o carro para ele dar umas voltinhas.

Fotos 6 e 7 > Sérgio Neves, durante as visitas às Tabancas
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7280: Memória dos lugares (111): Mondajane, a sudoeste de Dulombi, tabanca fula em autodefesa que ameaçámos queimar no princípio de Setembro de 1969 (Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil, CART 2339, 1968/69)

Guiné 63/74 - P7340: Bibliografia de uma guerra (58): Opúsculo da Bibliografia sobre o Fim do Império (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Novembro de 2010:

Queridos Amigos,
Durante o lançamento de "Tempo Africano", de Manuel Barão da Cunha (16 de Novembro), distribuíram pelos participantes o opúsculo "Bibliografia sobre O Fim do Império", editado por DG Edições, com o patrocínio da Liga dos Combatentes, Comissão Portuguesa de História Militar e Câmara Municipal de Oeiras.
O coordenador declara liminarmente que há lacunas a preencher e pede a todos os interessados a competente colaboração.
Conviria que se examinasse o opúsculo e se fizessem propostas.
Por exemplo, vejo falta de referência a obras de Álvaro Guerra, Hélio Felgas e Luis Sanches de Baêna, isto para falar de autores cujas recensões apareceram recentemente no blogue.

O coronel Barão da Cunha disponibiliza, por envio digital, a todos os confrades que queiram apreciar a referida bibliografia, ficando à espera de todas as vossas sugestões (mbaraocunha@gmail.com).

Um abraço,
Mário

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7326: Notas de leitura (176): Tempo Africano, de Manuel Barão da Cunha (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 13 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6727: Bibliografia de uma guerra (57): Estranha Noiva de Guerra, de Armor Pires Mota, a publicar em Setembro de 2010 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7339: In Memoriam (62): Por quem os sinos dobram hoje, 40 anos depois: Fernando Soares, Joaquim de Araújo Cunha, Manuel da Silva Monteiro, P. Almeida, Rufino Correia de Oliveira e Seco Camará, os bravos do Xime, mortos na Ponta do Inglês (Op Abencerragem Candente) (Luís Graça)


Portugal > Caldas da Rainha > 1968 > O futuro furriel miliciano Guimarães, de minas e armadilhas, está a tocar viola, rodeado de camaradas que, como ele, estavam a fazer a recruta no RI 5 das Caldas da Rainha. "Lá ao fundo, à direita e em último plano, uma carinha pequenina, é o Cunha".... Viria a morrer em combate, na região do Xime, na Op Abencerragem Candente, em 26 de Novembro de 1970, às 8h50 da manhã, pertencia à CART 2715, unidade de quadrícula do Xime.  O Cunha,  mais quatro camaradas. E mais o nosso guia e picador Seco Camará.  Assisti aos últimos minutos de vida do Cunha e fechei-lhe os olhos. Cinco horas antes tínhamos bebido o último copo, no aquartelamento do Xime.  Nessa época eu estava integrado no 4º Gr Comb da CCAÇ 12.   Simbolicamente, em homenagem aos bravos do Xime, edito este poste exactamente às 8h50 do dia 26 de Novembro de 2010. 40 anos depois... dessa descida ao inferno da guerra no Xime. (LG)

Foto: © David J. Guimarães (2005). Todos os direitos reservados.



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Legenda do fotógrafo: "O milícia e guia das NT, Seco Camará: 56 minas detectadas e muitas guerras"...

Foto (e legenda): © Torcato Mendonça (2007). Todos os direitos reservados.



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BART 2917 (1970/72) > Monumento aos mortos do batalhão e unidades adidas (este monumento foi destruído a seguir à independência da Guiné-Bissau).

Quanto aos da CART 2715 (Xime, 1970/72), recordo que assisti aos últimos momentos do Fur Mil Cunha, morto na Op Abencerragem Candente, juntamente com mais 4 militares da sua unidade, além do guia e picador das NT, o Seco Camará, que estava ao serviço da CCAÇ 12 e da CCS do BART 2917. E ajudei a recuperar e a trazer os cadáveres (ou o que restava deles).

Eis os nomes completos dos camaradas da CART 2715, mortos em 26 de Novembro de 1970 Fernando Soares, Sold;  Joaquim de Araújo Cunha, Fur Mil;  Manuel da Silva Monteiro, Sold;  Rufino Correia de Oliveira, Sold; há um camarada cujo nome desconheço (e que não consta da lista dos mortos do ultramar da Liga dos Combatentes, tal como o Secio Camará). Mas por exclusão de partes (em relação ao resto dos mortos do batalhão) só ser o P. Almeida, Sold. (O Alf Mil Op Esp Ribeiro também pertencia à CART 2715 mas morrerá mais tarde, em Ponta Varela, em 3 de Outubro de 1971; o Fur Mil Quaresma pertencia á CART 2716, era amigo e camarada do David Guimarães, morreu na explosão de uma armadilha). O 1º Cabo Ribeiro julgo que pertencia à CCS.

Foto: © Júlio Campos / Sousa de Castro  (2007). Todos os direitos reservados.


Excerto do desenrolar da acção (Op Abencerragem Candente, 25-26 de Novembro de 1970) (*)

(...) Três horas depois, pelas 8.50h, [do dia 26], já perto da Ponta do Inglês, o IN desencadearia uma violenta emboscada em L sobre a direita, precedida por um tiro isolado que foi confundido com um sinal de aviso duma eventual sentinela avançada, e que apanhou na zona de morte os 3 Gr Comb do Agr C [ CART 2715] e 1 Gr Comb (4º) do Agr B [CCAÇ 12].

Os primeiros tiros do IN, especialmente de LRockets, atingiram mortalmente o picador e guia do Agr B, Seco Camará, que ia na frente, e os quatro homens que o seguiam, incluindo um graduado [furriel miliciano Cunha], tendo ferido gravemente outro. Com rajadas sucessivas de LRockets e armas automáticas o IN, fixando as NT, lançou-se ao assalto sobre os primeiros homens, mortos ou gravemente feridos, conseguindo apanhar-lhes as armas, e só não os levando devido a pronta reacção das NT.

É de destacar aqui a acção heróica dos soldados Soares (CART 2715), que veio a ser mortalmente ferido, Sajuma (apontador de bazooka do 4º GR Comb/CCAÇ 12) que ficou ferido numa perna, e Ansumane (apontador de dilagrama, também do 4º Gr Comb/CCAÇ 12, ferido ligeiramente nas costas), que se lançaram ao contra-ataque, juntamente com outros camaradas e alguns graduados, a fim de quebrar o ímpeto do IN e de recolher os mortos e feridos.

0 ataque durou cerca de 20 minutos, sendo a retirada do IN apoiada com tiros de mort 82 e canhão s/r que incidiram sobre a estrada, e especialmente sobre os 2 últimos Gr Comb (l° e 2º) da CCAÇ 12, assim como rajadas enervantes de pistola metralhadora, de posições que ainda não se haviam revelado, nomeadamente de cima das árvores.

(...) Em consequência da emboscada IN, uma das mais violentas de que há memória na região do Xime, pelo seu impacto sobre as NT, a CART 2715 [Xime] sofreu 5 mortos (l Furriel Mil) e 7 feridos, e a CCAÇ 12 teve 2 feridos (dos quais 1 grave, o Sold Sajuma Jaló), e 1 morto (o picador e guia permanente das NT Seco Camará, na altura ao serviço da CCS do BART 2917, e que do antecedente já tinha dado provas excepcionais de coragem e competência, tendo participado com a CCAC 12 em quase todas as operações a nível de Batalhão no Sector Ll).

Sob a protecçãodo helicanhão (que seguia para Mansambá no momento em que foi pedido o apoio aéreo), os 2 Agr regressaram ao Xime, com 2 Gr Comb do Agr B [1º e 2º da CCAÇ 12] a abrir caminho por entre a mata densa, 1 Gr Comb do Agr C [ 2715] a manter segurança à rectaguarda e os restantes empenhados no transporte dos feridos e mortos, tendo as heli-evacuações sido feitas numa clareira já perto de Madina Colhido e depois de percorridos mais de 5 Km, em condições extremamente penosas [No helicóptero vinha uma ou mais enfermeiras-paraquedistas].

Notícias posteriores [ não se indica a fonte...] admitiam que nesta emboscada o IN tivesse sofrido 6 mortos. Entretanto, desta reacção do IN contra a penetração das NT num dos seus redutos, concluiu-se que aquele foi excepcionalmente bem comandado porque:

(i) escolheu um local que por ser muito fechado dificultava a manobra;

(ii) utilizou pessoal em cima de árvores para ter uma melhor visão e comandamento sobre as NT;

(iii) tinha a retirada preparada com armas colectivas (morteiro, canhão s/r) que só se revelaram na quebra de contacto;

(iv) fez fogo de barragem, especialmente de LRockets, sobre o Gr Comb que seguia na vanguarda, permitindo lançar-se ao assalto. (...) (*)
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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

25 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - VII: Memórias do inferno do Xime (Novembro de 1970) (Luís Graça)

26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1317: Xime: uma descida aos infernos (1): erros de comando pagam-se caros (Luís Graça)

26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1318: Xime: uma descida aos infernos (2): Op Abencerragem Candente (Luís Graça, CCAÇ 12)

Guiné 63/74 - P7338: Parabéns a você (178): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art.ª da CART 2412 (Tertúlia / Editores)

1. Neste dia 26 de Novembro de 2010, está de parabéns o nosso camarada Jorge Teixeira* (ex-Fur Mil Art, CART 2412, Bigene - Guidage, Barro, 1968/70).

Aqui estamos a felicitá-lo por mais este aniversário e a desejar-lhe a continuação de uma vida com saúde, junto de seus familiares e dos muitos amigos que tem na Tabanca Grande, Tabancas do Grande Porto, e não só.

Recebe, caro Jorge, um abraço colectivo de parabéns, ficando desde já marcado encontro para o próximo ano, neste mesmo "local"

Pela Tertúlia e Editores
CV
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4417: Tabanca Grande (148): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil da CART 2412, Bigene, Guidage e Barro (1968/70)
e
26 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5342: Parabéns a você (45): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil da CART 2412 (Editores)

Vd. último poste da série de 24 de Novembro de 2010 > Guiné 63774 - P7325: Parabéns a você (177): Tony Levezinho, um grande camarada, um amigo do peito (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Santa Margarida, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) (Luís Graça)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7337: Blogpoesia (89): Peregrinação (Manuel Maia) (1): Recruta e Especialidade



1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  24 de Novembro de 2010:

Caro Carlos,
Seguem umas quantas sextilhas para editares se assim o entenderes...
Abraço.
manuel maia




PEREGRINAÇÃO - 1

Nas Caldas da Rainha fiz recruta,
três meses de canseiras, de labuta,
nas armas me envolvendo sem prazer...
No 5 éramos seis as Companhias
pejadas de instruendos cujos dias
penavam, ansiosos de os vencer...


Depois d`almoço, um sol impiedoso,
suor encharca o corpo, já oleoso,
do esforço matinal da instrução...
Foi pórtico, foi galho e foi corrida,
p`ra além da repetida ordem unida,
há malta a desmaiar de insolação...


Por toldo protegido está o famoso,
com seu discurso vago, até pastoso,
chefão a quem chamávamos Meirim...
Conversa era a da treta, a debitada,
repetitiva, tão cheia de nada
p`ra nós suplício enorme, sem ter fim...


De todos conhecido é o palanfrório,
uma arengada p`ra iludir simplório
de pouca consistência, a cegarrega...
A acção psicológica exercida
é treta demagógica embutida,
p`ra impor autoridade surda e cega...


De lá para Tavira, no C.I.S.M.I.
atirador então me fiz ali,
uns tempos bem passados, estupendos...
Com obras de restauro, o ex-convento,
quartel a carecer de tratamento,
não tem lugar p`ra tantos instruendos...


Em conta são os quartos lá de fora,
p`la malta alugados, bem na hora,
com tratamento às roupas, incluído...
Sistema p`ro Exército é perfeito,
onde alguém "se orienta", p`ro efeito,
a história, vista hoje, tem sentido...


Será que havia verba definida
p`ra um terço da maralha ali "perdida"
ser instalada algures p`la cidade?
Ao estado caberia a obrigação
de dar àqueles "filhos da Nação",
um tratamento justo, de equidade...

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7311: Blogpoesia (88): Resorts Guinéus (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P7336: Blogoterapia (167): Manhãs de Outono (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa tertuliana Felismina Costa* com data de 24 de Novembro de 2010:

Boa noite amigo Carlos Vinhal,
Resolvi enviar mais um texto.
Este da minha vivência actual, aqui nos subúrbios da capital, onde há muitos anos resido.
Nas manhãs dos fins de semana, levanto-me e vou até à ribeira das Jardas onde costumo tomar o pequeno almoço, na cafetaria desse espaço, e onde observo o que descrevo.
Garanto-vos, que em dias de sol, e sobretudo nesses dias lindos de Outono, vale a pena descer a Rua Cidade de Paris e ir a procura deste espaço.
Durante algum tempo, estou ali. Depois escrevo, viajo no tempo, regrido... mas sou sempre eu.

Obrigada pela atenção.



Manhãs de Outono

O verde das árvores e da relva, o curso sinuoso da ribeira, e o Sol reflectido nas águas que correm mansas com destino ao mar, são um espectáculo agradável, nesta manhã fresca de Novembro, contudo, soalheira e límpida.

Como sempre, o meu fascínio pela Natureza e o interesse por tudo o que me rodeia, faz com que dê atenção aos pormenores.

Observo que as pessoas que por ali circulam, são na sua maioria, cidadãos já na idade da reforma, mais disponíveis portanto, e que procuram aqui uma forma de ocupar o tempo, convivendo uns com os outros, circulando, porque "circular é viver".

Alguns adolescentes utilizam as pistas existentes e andam de patins, skate e bicicleta.

Calmo e tranquilo, é um lugar excelente para se estar só, ou acompanhado.

Faço muitas vezes o caminho que medeia entre a minha casa e a dita ribeira, na procura do sossego, da tranquilidade, que sempre encontro no meio da Natureza:
À minha volta, as árvores moldadas pela imposição do vento Norte, inclinam-se na posição oposta e parecem vir ao meu encontro, descendo da sua altura e quase roçando a minha cabeça.
Sorrio-lhes.
Acaricio alguns ramos a que chego, e falo com elas do tempo que as faz crescer e tornarem-se robustas, e da sua beleza.
Às vezes, até parece que me sorriem.
Conheço-as, e divido com elas a ternura que tudo me merece.
Lesta, subo e desço o parque linear, procurando manter a forma, e depois faço o caminho ao longo da ribeira, até à antiga Melka.
Observo as espécies cinegéticas que a ribeira abriga, e paro por vezes, encantada e agradecida.
Umas vezes… apetece-me cantar!
Outras… choro saudades.
De qualquer das maneiras, vivo o tempo e o momento.
Vivo… a vida!

Emoldurado pelas barreiras arquitectónicas dos prédios subjacentes, o espaço fica por essa razão, afastado do bulício da cidade, mas dentro dela.
Caminho a sós com os meus pensamentos. Regrido muitas vezes, e vou até ao passado, aos meus tempos de menina.
Ali, permanecem os grandes espaços e a Paz que os envolve.
As pequenas grandes coisas a que me sinto sempre ligada, e que valem, porque me enchem a alma:
O Sol Majestoso do meu Alentejo.
A terra da labuta e da alegria, da juventude onde entoava as canções em voga, e as milhentas lembranças das vozes, das presenças amigas, dos cheiros que ficam para sempre, dos sonhos sonhados!

Muitas vezes são as buzinas dos carros que me trazem à realidade.
Viajo no tempo, mais que no espaço!

Deixo o sonho, percorro o espaço deste tempo real, palpável, visível.
Volto à realidade.
Caminho segura sabendo para onde quero ir.

Adultos, crianças e adolescentes… circulam… falam… brincam!
Sorrio-lhes!
E continuo a caminhar, esperando a realização dos sonhos, que ainda me atrevo a sonhar.

Felismina Costa
Agualva, 23 de Novembro de 2010
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7166: Blogoterapia (163): Recordações da infância (Felismina Costa)

Vd. último poste da série de 10 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7260: Blogoterapia (166): Virar as costas sem se despedir (José Eduardo Alves)

Guiné 63/74 - P7335: Kalashnikovmania (5): Passados tantos anos sobre a guerra, continuo fã incondicional da G3 (Mário Dias)



Lisboa, Belém, Forte do Bom Sucesso > 10 de Junho de 2009 > Mini-encontro do pessoal da Tabanca Grande > Da esquerda para a direita, João Parreira (comando da Guiné), Piedade (nfermeira pára), Miguel (pilav), Giselda (enfermeira pára), Mário Fitas (lassa) e Mário Dias (o comando e instrutor dos comandos da Guiné de 1964/66, que hoje nos dá... música, celestial!... Há 35 anos atrás, em 25 de Novembro de 1975, estava de sargento de dia, no Regimento de Comandos da Amadora... E a música era outra!).

 
Foto: © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS/BART 2917 (1970/72) > O Fur Mil Op Esp Benjamim Durães, do Pel Rec Inf, numa tabanca do regulado de Badora, com um milícia, junto  a uma  metralhadora ligeira Degtyarev


Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os  direitos reservados




Segundo o nosso especialista em balística e armamento, Luís Dias, trata-se de um Degtyarev DPM que teve origem no modelo DP (Degtyarev Pechotny/Degtyarev de Infantaria), desenhada na URSS depois de 1917 e que veio a ser adoptada como metralhadora ligeira  do Exército Vermelho, em 1927. Em 1943/44 veio a ser modernizada, passando a ser o modelo DPM (modernizirovannyj). Após o fim da IIª Guerra Mundial irá ser substituída, primeiro pela PK-46 e depois pela RPD. 

Estas armas (nomeadamente metralhadoras ligeiras e LGFog que eram apanhadas ao PAIGC) eram, muitas vezes, distribuídas às companhias de milícias... Já a Kalash, por ser considerada uma arma de elite, era muito disputada pela tropa especial, comandos africanos e oficiais de unidades de quadrícula...

Seria interessante pesquisar as razões desta... kalashnikov-mania que, de resto, chegou ao cinema: veja-se o filme  Lord of War / O Senhor da Guerra (2005)...


Kalashikovmania pode ser definido como uma forte atracção pelo armamento do... IN. No TO da Guiné, inclui kalash e outras armas.Trata-se de um neologismo, inventado pela Tabanca Grande, que paga direitos de autor; um dia irá figurar nos novos Dicionários da Língua Portuguesa, como muitos outros termos que usávamos na guerra: por exemplo, dila=dilagrama, LGFog=lança-granada foguete, ameixa=granada...

Curiosamente só hoje (!) dei conta que a bandeira de Moçambique [, imagem acima], na actual versão (que vem de 1983), contem uma estrela (que "representa a solidariedade entre os povos"), mas também a... AK-47 (símbolo da luta armada e da defesa do país), a par de outros símbolos sugerindo desenvolvimento (livro=educação; enxada= agricultura). É, ao que parece, a única bandeira no mundo  a ostentar uma espingarda moderna... Singularidades da lusofonia... Dessa, ao menos, livraram-se os nossos amigos guineenses. 


Lord of War, com Nicolas Cage, filme norte-americano de 2005, passou em Portugal com o título O Senhor da Guerra (no Brasil, O Senhor das Armas). Cage interpreta a personagem de Yuri Orlov, traficante de armas perseguido pela Interpol,  que no filme faz o elogio da AK 47 (confesso que não o vi):

"Of all the weapons in the vast soviet arsenal, nothing was more profitable than Avtomat Kalashnikova model of 1947. More commonly known as the AK-47, or Kalashnikov. It's the world's most popular assault rifle. A weapon all fighters love. An elegantly simple 9 pound amalgamation of forged steel and plywood. It doesn't break, jam, or overheat. It'll shoot whether it's covered in mud or filled with sand. It's so easy, even a child can use it; and they do. The Soviets put the gun on a coin. Mozambique put it on their flag. Since the end of the Cold War, the Kalashnikov has become the Russian people's greatest export. After that comes vodka, caviar, and suicidal novelists. One thing is for sure, no one was lining up to buy their cars"...

Traduzindo: "De todas as armas do vasto arsenal soviético, nada foi mais lucrativo do que o modelo Avtomat Kalashnikova de 1947, mais conhecido como AK-47 ou Kalashnikov. É a espingarda de assalto mais popular do mundo, uma arma que todos os combatentes amam. Um amálgama elegante de quatro quilos de aço e madeira prensada, que não quebra, emperra ou sobreaquece. Dispara sempre mesmo que esteja coberto de lama ou de areia. É tão fácil de usar que até uma criança é capaz de o fazer (e com frequência há crianças que o fazem). Os soviéticos cunharam uma moeda com a sua efígie; Moçambique colocou-a na sua bandeira. Desde o fim da Guerra Fria, a Kalashnikov tornou-se o maior produto de exportação dos russos. Só depois dela vem o vodka, o caviar e os romancistas suicidas. Uma coisa é certa: ninguém fazia bicha fila para comprar os carros soviéticos"...
 (LG).




1. Texto de Mário Dias, enviado em 15 de Janeiro de 2008, publicado dois a seguir sob o título Em louvor da G3. Face duelo AK 47 / G3 (e à onda de... kalashnikovmania que atingiou as NT), justifica-se a repescagem e republicação deste poste.  

O Mário Dias ou M. Roseira Dias é um Sargento Comando Reformado, membro do nosso blogue (desde a 1ª hora), e também um conceituado arranjador e compositor musical, a par de maestro de coros. No TO da Guiné, foi comando e instrutor dos primeiros comandos da Guiné (1964/66), entre os quais alguns dos nossos camaradas da Tabanca Grande, como o Virgínio Briote, o João Parreira, o Luís Raínha, o Júlio Abreu, etc.



2. Passados tantos anos sobre a guerra, continuo fã incondicional da G3

por Mário Dias [, foto à esquerda, com o Domingos Ramos, hoje herói nacional da Guiné-Bissau; foram camaradas e amigos, tendo frequentado o 1º Curso de Sargentos Milicianos, Bissau, 1959]

Foto © Mário Dias(2006). Todos os direitos reservados.


É muito vulgar e frequente tecerem-se comentários depreciativos à espingarda G3, quando comparada à AK47. Em minha opinião, nada mais errado. Analisemos, à luz das características de cada uma e da sua utilização prática, os prós e contras verificados durante a guerra em que estivemos empenhados em África:

(i) Comprimento: G3 - 1020mm; AK47 - 870mm
(ii) Peso com o carregador municiado: G3 - 5,010Kg; AK 47 – 4,8Kg
(iii) Capacidade dos carregadores: G3 – 20 cartuchos; AK47 – 30 cartuchos
(iv) Alcance máximo: G3 – 4.000m; AK47 – 1.000m
(v) Alcance eficaz (distância em que pode pôr um homem fora de combate se for atingido): G3 – 1.700m; AK47 – 600m
(vi) Alcance prático: G3 – 400m; AK 47 – 400m

Passemos então a comparar.(A) No comprimento e peso:
 A AK47 leva alguma vantagem. A capacidade dos carregadores, mais 10 cartuchos na AK47 que na G3, será realmente uma vantagem?

Se, por um lado, temos mais tiros para dar sem mudar o carregador, por outro lado esse mesmo facto leva-nos facilmente, por uma questão psicológica, a desperdiçar munições. E todos sabemos como o desperdício de munições era vulgar da nossa parte apesar de os carregadores da G3 serem de 20 cartuchos.

O usual era, infelizmente, “despejar à balda” sem saber para onde nem contra que alvo. 
Sem pretender criticar a maneira de actuar de cada um perante situações concretas, eu, durante todas as acções de combate em que participei ao longo de 4 comissões, o máximo que gastei foi um carregador e meio (cerca de 30 cartuchos). 
Por tal facto, em minha opinião, a dotação e capacidade dos carregadores da G3 é mais que suficiente, além de que os próprios carregadores são mais maneirinhos e fáceis de transportar que os compridos e curvos carregadores da AK47.(B) Quanto ao poder balístico:
Também aqui a G3 leva vantagem pois, embora na guerra em matas e florestas seja difícil visar alvos para além dos 100/200 metros, tem maior potência de impacto e perfuração sendo a propagação da onda sonora da explosão do cartucho muito mais potente na G3, o que traz uma maior confiança a quem dispara e muito mais medo a quem é visado. 
A G3 a disparar impõe muito mais respeito.


Porém, os principais motivos que me levam a preferir a G3 à AK47 (creio que a fama desta última é mais uma questão de moda) são as que a seguir vou referir ilustradas, dentro das possibilidades, com gravuras:


(C) A importância do silêncio e da rapidez de reacção

Deixem-me, então, começar a vender o meu peixe em louvor da G3. Todos sabemos a importância do silêncio e da rapidez de reacção numa guerra de guerrilha e de como o primeiro a disparar leva vantagem.

Normalmente o combatente numa situação de contacto possível em qualquer lado e a qualquer momento leva geralmente a arma com um cartucho introduzido na câmara e em posição de segurança. Eu e o meu grupo tínhamos bala na câmara e arma em posição de fogo desde a saída à porta de armas do aquartelamento até ao regresso e nunca houve um único disparo acidental. Mas, partindo do princípio que nem todos teriam o treino necessário para assim procederem, a arma iria então com bala na câmara e na posição de segurança.

Quando dois combatentes se confrontam, o mais rápido e silencioso tem mais possibilidades de êxito e, nesse aspecto, a G3 tem uma enorme vantagem sobre a AK47. Talvez poucos se tivessem dado conta dos pequenos pormenores que muitas vezes são a diferença entre a vida e a morte.



Um caso concreto:

Vou por um trilho no meio do mato e surge-me de repente um guerrilheiro. Levo a arma em segurança e tenho rapidamente de a colocar em posição de fogo. Do outro lado o guerrilheiro terá de fazer o mesmo. Em qual das armas esta operação é mais rápida e fácil? Sem dúvida alguma na G3.

Se olharmos para as gravuras observamos que na G3, levando a arma em posição de combate, à altura da anca com a mão direita segurando o punho dedo no guarda mato pronto a deslizar para o gatilho, utilizando o polegar sem tirar a mão do punho com toda a facilidade e de forma silenciosa passo a patilha de segurança para a posição de fogo e disparo.

E o portador de AK47? Sendo a alavanca de comutação de tiro do lado direito da arma e longe do alcance da mão terá que, das duas uma: ou larga a mão do punho para assim alcançar a alavanca de segurança ou então tem que ir com a mão esquerda efectuar essa manobra. Em qualquer das soluções, quando a tiver concluído já o operador da G3 terá disparado sobre ele.

Suponhamos agora que o homem da G3 vê um guerrilheiro e não é por este detectado. A passagem da posição de segurança à posição de fogo, além de rápida, é silenciosa pois a patilha de segurança é leve a não faz qualquer ruído ao ser manobrada. O guerrilheiro não se apercebe de qualquer ruído suspeito e mais facilmente será surpreendido. Ao contrário, um guerrilheiro que me veja sem que eu o veja a ele e tenha que colocar a sua AK47 em posição de fogo para me atingir, de imediato me alerta para a sua presença pois a alavanca de segurança dá muitos estalidos ao ser accionada. Assim, não é tão fácil a um portador de AK47 surpreender alguém a curta distância.



Outro caso concreto:

Todos certamente estaremos recordados de quantos vezes era necessário combinar o fogo com o movimento nas manobras de reacção a emboscadas ou na passagem de pontos sensíveis. Nessas ocasiões, em que fazíamos pequenos lanços em corrida para rapidamente atingirmos um abrigo para o qual nos teríamos de lançar de forma a ficarmos automaticamente em posição de podermos fazer fogo (a chamada queda na máscara), a G3, devido à sua configuração era de grande ajuda,  pois, não tendo partes muito salientes em relação ao punho por onde a segurávamos, (o carregador está ao mesmo nível) permitia que de imediato disparássemos com relativa eficácia.

E a AK47? Reparem bem naquele carregador tão comprido e saliente do corpo da arma. Como fazer manobra idêntica? Impossível. Mesmo colocando a arma com o carregador paralelo ao solo para facilitar a “aterragem”, isso faz com que tenhamos que perder tempo a corrigir a posição de forma a estarmos aptos a disparar. E em combate cada segundo é a diferença entre a vida e a morte.





(D) Defeitos

Um defeito geralmente apontado à G3 é que encravava facilmente com areias e em condições adversas.

Quero aqui referir que ao longo dos muitos anos da minha vida militar, tanto em combate como em instrução ou nas carreiras de tiro, tive diversas armas G3 distribuídas e nunca nenhuma se encravou. A G3 possui de facto um ponto sensível que poderá impedir o seu funcionamento se não for tomado em conta. Trata-se da câmara de explosão, onde fica introduzido o cartucho para o disparo, que tem uns sulcos longitudinais (6 salvo erro)* destinados a facilitar a extracção do invólucro.

 Acontece que se esses sulcos não estiverem limpos e livres de terra ou resíduos de pólvora não se dá a extracção porque o invólucro fica como que colado às paredes da câmara. Se houver o cuidado em manter esses sulcos sempre livres de corpos estranhos nunca a G3 encravará. Outra coisa que poderá levar a um mau funcionamento é as munições estarem sujas ou com incrustações de calcário ou verdete.

Nós tínhamos por hábito, como forma de prevenir este inconveniente, untarmos as mãos com óleo de limpeza de armamento, para esfregarmos as munições na altura de as introduzirmos nos carregadores. E resultou sempre bem.

São pequenos pormenores que deveriam ter sido ensinados na recruta mas, pelos vistos, nem sempre havia essa preocupação bem como muitas outras que foram, a meu ver, causa de algumas (muitas) mortes desnecessárias.



CONCLUSÃO

Depois de passados tantos anos sobre a guerra, continuo fã incondicional da G3. Se voltasse ao passado e as situações se repetissem, novamente preferia a G3 à AK47.


Mário Dias


[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
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Nota de L.G.:

Guiné 63/74 - P7334: Kalashnikovmania (4): O fetichismo da G3... Há amores que não se esquecem (Torcato Mendonça)




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69) > Fotos Falantes II > O Alf Mil Torcato Mendonça e a sua G3...


Fotos: © Torcato Mendonça (2010). Todos os direitos reservados




Olá,  Virgínio Briote.


Que bom ver-te,  vb. Sodade...sodade!




Também eu gostei da minha G3 (*). Era quase uma peça de arte, coronha de madeira polida pelo uso, ronco com mesinho na parte mais estreita, meiga e sentia-se certamente estimada. Tanto assim que respondeu sempre ao que lhe pedi.


Só para nós, vb, também passaste por aqueles momentos de solidão da emboscada montada ou a ansiedade do assalto e, nesse momento, eu e ela éramos um, falava com ela, um afago, uma palmada de carinho. Nada me dizia,  claro,  mas a resposta era dada no tiro, na rajada curta ou do empurrar do dilagrama... Disso talvez gostasse menos,  era violento e os roletes tinham maior esforço.


Há aí mais que uma foto com ela. Era a minha defesa, a minha defensora. Deixei-a em Bissau com ronco e tudo. Já aqui perguntei por ela. Certamente julgaram-me louco. Não. Há amores que se não esquecem.
Volta mais vezes. Agora um abraço do T.
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Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 24 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7329: Kalashnikovmania (3): A minha namorada, a G3, que me foi fiel durante toda a comissão (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P7333: Dando a mão à palmatória (26): A reparação, moral, que é possivel fazer, neste momento, aos camaradas de Copá (Virgínio Briote)

1. Mensagem do nosso querido amigo, camarada e co-editor deste blogue, Virgínio Briote (que tem estado de licença sabática) [ na foto à direita, Alf Mil Comando, Café Bento, Bissau, Maio de 1965] :

Data: 24 de Novembro de 2010 18:58
Assunto: Copá


Caros Luís, Carlos e Eduardo,
  
(...) Em relação ao caso de Copá (*) tenho, antes de mais, que referir que o Amadu Djaló é totalmente alheio às notas de rodapé. Essa foi por mim acrescentada com base na informação escrita no livro do Fernando Henrique.

Na grande maioria das notas que fiz recorri a mais do que uma fonte. Lamentavelmente não o fiz neste caso de Copá e causei danos a Camaradas de uma forma injusta. E neste momento não me é possível reparar o erro (todos os exemplares da 1ª edição foram vendidos). No caso de vir a ser feita uma 2ª edição prontifico-me a corrigir em nota de abertura. A outra possibilidade é de o fazer no próximo livro do Amadu, que está em preparação.
Da minha parte quero pedir desculpa ao António Rodrigues e a todos os Camaradas de Copá que não se revêem na forma como a nota foi, por mim, redigida.

Um abraço
vbriote

Guiné 63/74 - P7332: Agenda Cultural (91): Lançamento do livro Os Anos da Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, dia 30 de Novembro de 2010 na Bertrand Picoas Plaza, Lisboa (Carlos Matos Gomes)

1. Mensagem de Carlos Matos Gomes, Coronel Cav COMANDO na situação reserva, com data de 24 de Novembro de 2010:

Meus caros amigos,
A Quidnovi apresenta no dia 30 de Novembro, pelas 18,30 horas, na livraria Bertrand do Centro Comercial Plaza, nas Picoas, o livro “Os Anos da Guerra Colonial”.
É o resultado, em livro, da reunião revista dos fascículos vendidos com o mesmo título pelo Correio da Manhã. Eu e o Aniceto Afonso teríamos o maior prazer em ter os nossos amigos e amigas presentes para falarmos destas coisas da nossa história.

Recebam os nossos melhores cumprimentos
Do Carlos Matos Gomes e do Aniceto Afonso


AGENDA CULTURAL

CONVITE

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7323: Agenda Cultural (90): Lançamento do livro A Última Missão, de José de Moura Calheiros, dia 29 de Novembro de 2010, no Aquartelamento da Academia Militar (António Dâmaso)

Guiné 63/74 - P7331: Em busca de... (149): Pedido de informação sobre a naturalidade de Vitorino António Marques (José Sampaio/José Martins)


1. Em 23 de Novembro de 2010, recebemos do nosso Camarada José Martins, uma mensagem transmitindo-nos a reposta a um pedido de informação de um nosso Camarada de armas - o José Sampaio -, sobre a correcta naturalidade de um terceiro Camarada nosso morto em combate na Guiné:

2. A mensagem/pedido, com data de 22 de Novembro, era a seguinte:

Pedido de informação do José Sampaio

Caro Luís Graça

Nos meus esforços para recuperar a memória dos combatentes do concelho de Monchique/Algarve mortos em África já consegui reunir 23 nomes que irão constar no memorial que será brevemente inaugurado nesta terra, paralelamente a uma brochura e quem sabe se também a transladação de alguns corpos que por lá ficaram e que o seu blogue oportunamente tem recordado.
Este e-mail vem a propósito de o combatente Vitorino António Marques, 1.º Cabo / Pel Rec 42 / 02.07.64 / Cumbijã / Ferimentos em combate / Monchique / Cemitério de Bissau, Campa 956, Guiné.
No seu blogue diz-se que é natural de Monchique, mas no Terra Web vem como natural de Sabóia/Odemira. Como esta freguesia alentejana confina com o concelho de Monchique, será que ele moraria em Monchique?

Porque, se de facto tivesse ligação com Monchique, o seu nome constaria também no memorial, como vai acontecer com o António João Alves Manuel Sold da CCav.352/BCav.350, que embora fosse de Aljezur viveu desde criança em Marmelete/Monchique onde está enterrado.

Se me puder ajudar ficava-lhe imensamente grato.

Um abraço do José Rosa Sampaio

PS: Se gostar de História do Algarve mando-lhe o meu livro sobre a República em Monchique, lançado no dia 5 de Outubro

3. No mesmo dia 22, o nosso Camarada José Martins, a quem voltamos a agradecer a sua pronta disponibilidade para nos ajudar neste tipo de solicitações, respondeu assim ao pedido de informação do José Sampaio:

Caro José Sampaio

Em resposta ao seu pedido, ao nosso editor Luís Graça, passo a dar as informações constantes dos dados oficiais, que consta no 8º Volume - Mortos em Campanha - Tomo II Guiné - Livro 1 da Resenha Histórico Militar das Campanhas de África (1961-1974), na página 65, indica:

VITORINO ANTÓNIO MARQUES, 1º cabo nº 247/61, com a especialidade de AM (Apontador de Metralhadora) Panhard, mobilizado no Regimento de Cavalaria nº 8 em Castelo Branca, para integrar o Pelotão de Reconhecimento Fox nº 42, solteiro, filho de António Domingos Marques e de Maria Jacinta, natural da freguesia e concelho de Monchique. Faleceu em 2 de Julho de 1964 vitima de ferimentos em combate, numa operação em Cumbijã (Fulacunda), tendo sido inumado no cemitério de Bissau, campa nº 956.

O Pelotão de Reconhecimento nº 42 chegou a Bissau em Junho de 1962, onde se manteve até Fevereiro de 1964, altura em que foi deslocado para Ganturé até Julho de 1964, altura em que terminou a sua comissão de serviço.
Na mesma operação em que morreu o Vitorino Marques, também foi morto em combate o Soldado José Carlos Firme Pires, com a mesma especialidade e do mesmo pelotão, natural de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa.

Julgando ter dado satisfação ao seu pedido,

José Martins
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

22 de Outubro de 2010 >
Guiné 63/74 - P7155: Em busca de... (148): Aurino Barbosa Medeiros, ex-Fur Mil Operações Especiais/RANGER da 2ª CART do BART 6523

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Guiné 63/74 – P7330: Humor de caserna (20): Estamos aqui ao pé de uma árvore grande! (Martins de Matos (ex-Ten Pilav da BA12, Bissalanca)


1. O nosso Camarada António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74, hoje Ten Gen PilAv Res), enviou-nos, em 23 de Novembro último, a seguinte hilariante e bem conseguida postal:
Camaradas,

Nunca contribuí para a série do "Humor de Caserna".
Numa tentativa para remediar a coisa, mando-vos uma composição que atesta das dificuldades que por vezes os aviadores encontravam.
Estamos aqui ao pé de uma árvore grande!

Um abraço,
António Martins de Matos
Ten Pilav da BA12
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Guiné 63/74 - P7329: Kalashnikovmania (3): A minha namorada, a G3, que me foi fiel durante toda a comissão (Virgínio Briote)





Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Fotos do álbum do Jacinto Cristina... Os nossos soldados tratavam a G3 como uma verdadeira "namorada"... Neste álbum fotográfico há meia dúzia de fotos destas... Não sei se as namoradas, de carne e osso, que ficaram para trás, não teriam ciúmes da G3... 


Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Texto do nosso co-editor Virgínio Briote (*):

Meu Caro Furriel Mário Dias,

Não é o Luís, sou eu, o Briote,  que assumo o encargo de publicar a tua (minha também) defesa da G3, essa namorada que, tanto quanto me lembre, me foi fiel durante a minha comissão na Guiné.


Não dei muitos tiros em combate. Ainda hoje me lembro que foram 22, em toda a comissão. Só que de uma vez, logo no início da comissão, quando me encontrava ainda em Cuntima, na CCAV 489, despejei o carregador até ao fim numa emboscada entre Faquina Fula e Faquina Mandinga.

Depois nos Comandos, a minha história com a G3 quase dava um romance. Na carreira de tiro que havia lá para os lados do aeroporto (lembras-te?), esvaziei um cunhete. Há quem diga que foram cinco, não acredito. Certo é que o cano, sem tapa-chamas, rachou. E o Saraiva obrigou-me a pagar a asneira.

Achei, na altura, que ela me tinha sido ingrata, pela vergonha que me fez passar. E que o Cap Saraiva era um exagerado. Troquei-a por uma FN, também sem tapa-chamas (ainda estou para saber porque é que eu as preferia assim).

Meses depois, reconciliámos-nos, fizemos as pazes e foi a minha namorada até ao fim. Custou-me tanto a liquidação da dívida que, a partir daí, passei a ser eu a tratar dela. Como tu dizes, com as mãos na massa.

Mário, foste um dos instrutores que me ensinaste a pegar nela. A pôr os meus olhos no cano, a usá-la o estritamente necessário, a trazê-la no colo, com meiguice.

Não vou aqui falar de outras coisas que me ensinaste, que a hora é de honrar a G3. Mas é sempre tempo para publicamente reconhecer que foste um instrutor que nos deixou marcas muito positivas, nomeadamente pelo teu saber e conhecimento daquela terra e daquelas gentes que, eu sei, tanto apreciavas.

vb

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Nota de L.G.:

(*) Vd. 17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2445: Em louvor da G3, no duelo com a AK47 (Mário Dias)

Guiné 63/74 - P7328: Kalashnikovmania (2): AK 47 versus G3 (Luís Dias)







Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > CCAÇ 3491 (1971/74) > "Chegada a Galomaro da CCAÇ 3491 [, pertencente ao BCAÇ 3872,]  no dia 9 de Março de 1973. No jipe podemos ver o Alf  Luís Dias, atrás o Fur Baptista,  do 1º Gr Comb,  e ao lado, a sorrir, um guerrilheiro do PAIGC que, no dia anterior, se tinha entregado a uma patrulha nossa na área do Dulombi. A arma é uma Shpagin PPSH 41, no calibre 7,62 mm Tokarev, mais conhecida por "costureirinha" e com a particularidade de ter um carregador curvo de 35 munições, em vez do habitual tambor de 71". (Foto do Luís Dias, reproduzida com a devida vénia, do seu blogue, Histórias da Guiné, 71-74:  A CCAÇ 3491, Dulombi.




1. Texto do nosso camarada  Luís Dias (ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e  Galomaro, 1971/74) que, na vida civil, é  Consultor/Formador em Ciências Criminais e de Segurança (Texto organizado a partir de um comentário ao poste P7322) (*):




Caro Luís Graça


Em primeiro lugar os meu parabéns pelo artigo sobre o armamento (*).


Em relação ao diferendo entre a Kalash (**) e a G3,  devo dizer-te o seguinte: 


(i) A Kalash tem uma ergonomia fantástica e nisso bate a G3;


(ii) É uma arma simples, barata, que trabalha em más condições, possivelmente devido às folgas propositadas no material com que é feita;


(iii) Leva mais munições no carregador, como dizes (30 para 20);


(iv) Mas a cadência de tiro é semelhante (sensivelmente 600 tpm para a Kala e 600 a 700 tpm para a G3);


(v) É uma arma mais curta e portanto mais manobrável;


(vi) Não é tão fiável no tiro de precisão como a G3;


(vii) E no tiro automático (rajada) não é tão equilibrada como a G3 (isto nos modelos AK-47 e AKM, porque a partir do Modelo AK-74, a situação mudou);


(viii) A HkG3A3 era uma arma cara, de mecanismo elaborado, embora também trabalhasse em condições de pouca limpeza e muito comprida para o nosso tipo de guerra;


(ix) A nossa munição era mais poderosa, mas o 7,62mm M43 soviético possuía um filamento 
de aço no núcleo do projéctil que o tornava terrível ao entrar no corpo humano;


(x) Por fim e não menos importante, um dos pontos a favor da HK-G3, em relação à Kalash era a passagem da patilha da posição de segurança, para tiro a tiro: enquanto na G3 o movimento era de um clique (silencioso), da arma dos guerrilheiros era dois cliques (a primeira posição era a de fogo automático e só depois se passava para a posição de tiro a tiro) que não eram silenciosos,  o que na mata podia fazer toda a diferença.

No caso dos dilagramas e no meu tempo, os nossos Gr Comb  usavam-no muito porque percebemos que os rebentamentos eram mais eficazes numa reacção a uma emboscada do que propriamente os tiros de G3. 


Os elementos que transportavam os dilagramas usavam um carregador só com munições apropriadas, devidamente identificado com uma fita de cor berrante (amarelo ou vermelho) e nunca, nunca, usavam só uma munição para atirar um dila e depois tinham a seguir bala real. 


Os lançamentos eram efectuados ao ombro, com arma a 45%, e depois do disparo, contando rapidamente até 12/15, dava-se o rebentamento.


Sobre a bazooka, que nós deixámos de usar no mato (só em colunas e em defesa do aquartelamento), já tínhamos granadas energa (de ponta de mola) que eram anti-pessoaL e que davam um coice terrível, sendo normalmente atiradas com a arma apoiada à anca.


Fiquei muito satisfeito de saber que o meu poste sobre armamento foi muito lido.


Um abraço


Luís Dias


[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
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Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 23 de Novembro de 2010 >Guiné 63/74 - P7322: A minha CCAÇ 12 (8): O armamento do PAIGC no meu sector L1 (Bambadinca, 1969/71)


(**) Vd. poste anterior desta série > 29 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6909: Kalashnikovmania (1): Foi o Alf Graduado Comando João Uloma quem me emprestou uma Kalash (António Inverno)