terça-feira, 26 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7175: Notícias dos Nossos Amigos da AD-Bissau (16): A imagem de Nossa Senhora dos Milagres de Guiledje e a reconstrução do oratório dos Gringos (Pepito)









Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > 2 de Março de 2008 > O ex-Cap Mil Abílio Delgado, que comandou a CCAÇ 3477 (sediada em Guileje de Novembro de 1971 / a Dezembro de  1972; também conhecida por Os Gringos de Guileje); foi,  aos 21 anos, o capitão miliciano, mais novo do CTIG.

O Abílio Delgado, membro da nossa Tabanca Grande, residente na Ericeira, foi  fotografado por mim, em Iemberém,  com a estatueta, em metal, da Nossa Senhora dos Milagres de Guileje, a  santa protectora dos Gringos de Guileje, encontrada nas escavações arqueológicas do antigo aquartelamento de Guileje... 

Fotos: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.




1. Mensagem, enviada em 8 do corrente, pelo nosso amigo Pepito, director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento (neste momento, num congresso no Japão, a discutir a biodiversidade e o desenvolvimento...):

Assunto: Nossa Senhora dos Milagres de Guiledje

Luís: Acabei de ler a notícia sobre o paradeiro da imagem da Nossa Senhora dos Milagres (*) e era para assegurar que ela está "religiosamente" guardada pela AD. Em breve mando uma fotografia do Domingos Fonseca com ela nas mãos (já pedi que me mandassem uma foto actual). É que ele "nacionalizou-a" e não a larga por nada deste mundo.


Em 2011 vamos reabilitar mais uma infraestrutura do quartel de Guiledje e que servirá de alojamento para o Domingos que passará a lá residir permanentemente. Também será reconstruído o oratório financiado pelo Grupo dos Amigos da Capelinha de Guiledje. (**)

A ida do Domingos para lá é para valorizar o Museu Memória de Guiledje, prosseguir a recuperação do quartel e incrementar as nossas actividades de gestão ambiental-desenvolvimento rural ao longo de toda a zona fronteiriça, desde Balana a Gadamael (onde eu irei amanhã). Vamos começar a "atacar" o quartel de Gadamael Porto.

Bom fim de semana.

pepito




2. Já em 23 de Junho de 2010 tínhamos feito circular pela rede interna da Tabanca Grande a notícia de que o Pepito queria agora reconstruir o oratório dos Grinjos de Guileje:

Assunto: Reconstrução do "oratório" dos Gringos de Guileje

Amigos e camaradas, em especial Gringos e Piratas de Guileje: (i)  A AD - Acção para o Desenvolvimento quer reconstruir o "oratório" de Guileje, construído no tempo dos Gringos: alguém tem mais fotos ? tem ideia das medidas do monumento (cumprimento, largura, altura)  ? tem mais informações sobre esta iniciativa ? outros dados sobre os aspectos construtivos (materiais usados, cores...) ? (ii) O termo correcto é "oratório" ? Ou "oráculo" ? Ou... ?

Obrigado pela vossa preciosa ajuda. Luís



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (1971/77) > Oráculo, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres... Na imagem, o Amaro Munhoz Samúdio, ex-1º cabo enfermeiro, está a pegar ao colo um bébé chimpazé que ele comprou a um caçador local por 500 pesos... Na segunda foto, julgo ver também o Samúdio, à civil, de óculos escuros. As fotos foram-nos disponibilizadas pelo Pepito, sem legenda.

Em ambas as fotos pode ler-se ainda a oração em verso, na base do monumento: "Santo Cristo dos Milagres / Nesta capelinha oramos / Para sempre sorte dares / Aos Gringos Açoreanos". A companhia era maioritariamente constituída por pessoal dos Açores.

Esta lápide assim como a estatueta e diversos outros objectos de uso corrente, foram encontrados por ocasião das escavações arqueológicas... Associado aos trabalhos de capela e ao núcleo museológico de Guileje, está incontornavelmente o nome do dedicado e incansável Domingos Fonseca, engenheiro técnico agrícola, quadro da AD, e o grande arqueólogo de Guileje. Peças como esta estatueta da Nossa Senhora forem encontradas por ele.

Segundo amável informação do Samúdio, que ele tive o prazer conhecer pessoalmente em Leixões, o monumento foi contruído pelos Gringos e inaugurado pelo então Ministro da Defesa Nacional, general Sá Rebelo e também pelo então governador, general Spínola, em 12 de Junho de 1972.

Fotos: © Amaro Samúdio (2006) / AD - Acção para o Desenvolvimento. Todos os direitos reservados.

3. Mensagem do Pepito, de 23 de Junho de 2010

Assunto: Reconstrução do "oratório"

Amigo Luís:

Venho fazer mais um desafio e pedido de apoio à Tabanca Grande, em especial aos que passaram por Guiledje, em particular aos Gringos.

Pretendemos reconstruir o oratório (não sei se é este o nome correcto) que os Gringos fizeram, mas temos dificuldade em fazer a respectiva planta e sobretudo dimensioná-la.
Tirámos as medidas do suporte: (i)  largura do corpo: 53 cm; (ii) espessura: 22 cm.

Talvez ajude a fazer a extrapolação para se determinar as medidas da parte superior (a capelinha propriamente dita), tanto mais que as fotos podem ajudar a estimar as dimensões.

abraço
pepito

__________


Notas de L.G.:


 (*) Vd. poste de 8 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7099: Patronos e Padroeiros (José Martins) (16): CCAÇ 3477 - Nossa Senhora dos Milagres



Ao montante de 590 € (quinhentos e noventa euros) recolhidos até Agosto de 2010, e já entregues à AD, na pessoa do Pepito, há que acrescentar mais dois donativos, que são bem vindos, embora já fora do prazo: um, de 20€, depositado pelo Silvério Lobo, nosso amigo e camarada de Matosinhos; e outro, de 30€, de um anónimo. Esta informação, sujeita a confirmação por escrito, foi-me dada oralmente pelo Manuel Reis, que é o tesoureiro do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje... 


O dinheiro está depositado na conta nº: 0372008355700, da Caixa Geral de Depósitos de Ílhavo, em nome de Manuel Augusto Ferreira Reis, conta essa que continua "aberta à generosidade" dos nossos amigos e camaradas da Guiné que queiram agora contribuir, adicionalmente,  para a reconstrução do oratório  mandado erigir pelos Gringos de Guileje.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7174: Convívios (279): Encontro do Grupo do Cadaval no Couço-Coruche (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem de José Manuel Matos Dinis, membro do Grupo do Cadaval, com data de 24 de Outubro de 2010:

Carlos, bom amigo,
Segue a pretensa reportagem de um encontro do Grupo do Cadaval.
Amanhã, provavelmente, o Henrique enviar-te-á as fotografias.

Um grande abraço
JD


O Grupo do Cadaval conviveu no passado fim de semana no Couço, Concelho de Coruche.
Segue a reportagem do acontecimento


Grupo do Cadaval
1.ª fila da esquerda para a direita: Pimentel, Rosales, Borrego e Fernando Marques.
2.ª fila pela mesma ordem: Belarmino Sardinha, José Brás, Lima, Joaquim Galvão, Hélder Valério, Dinis e Henrique Matos.


No último weekend ocorreu um festim muito badalado na pré-cidade do Couço, na extrema ribatejana, a calcar as canelas do Alentejo, na orla da maior cobertura chaparral da Europa, como nos relatou o feliz ex-presidente da Junta, o Joaquim Galvão, também ele ex-militar na modorrona Guiné, no final dos anos de paz, 1960/62. Foi uma iniciativa do segundo-comandante do Grupo do Cadaval, um homem sábio e generoso que, com ares de soba, gosta de reunir-se de mentes brilhantes e companheiros de fácil mastigação.

Possuidor de ampla propriedade, vasta de ares puros e frescos, ali organizou a concentração para demandarmos à mesa do cozido. O grupo apresentou dois reforços locais: o Joaquim Galvão, homem de linguajar fácil, tanto que referiu eu estar quase ao nível dele, que nos presenteou com lembranças da Junta a que esteve quase a eternizar-se na sabida presidência: saquinhos individuais, com material de escrita (entre outros mimos), pois sabia da presença de um dos nossos, escritor laureado, o Zé Brás, por sinal vizinho de concelho; e o Pimentel, também ex-combatente da época do Rosales, produtor de uma pomada sem aditivos, que se mostrou competente e de bom paladar, pinguinha que viria a acompanhar o lanche.

Mas ainda houve mais quatro reforços de grande mérito: O Lima e o Borrego, residentes na região, também eles companheiros do anfitrião em terras da Guiné, sendo que o Borrego já lhe era familiar do jogo da bola, pois se um capitaneava a equipe do Estoril, o outro exercia o mesmo mister nos Leões de Santarém. Para além deles, apresentou-se o sempre bem-disposto Fernando Marques que me conduziu com grande competência ao lugar do repasto, e o Henrique Matos, que fez a pequena distância de trezentos quilómetros para abancar connosco. É de se lhe tirar o chapéu!.

O grupo do Cadaval, porém, registou uma baixa de peso, o comandante Vasco da Gama impossibilitado por afazeres de ordem particular. Mas foi bastamente lembrado e ainda teve dedicatória posterior com o tal vinho puro de três castas.

Outras faltas a registar: o Graça de Abreu, empenhado num curso sínico que ministra em Lisboa, e o Jero, que tinha jurado pelas alminhas, lagarto, lagarto, lagarto, que se propusera a um sacrifício adicional só para partilhar da nossa camaradagem e, afinal, baldou-se sem razões, nem explicações, nem sacrifício, que isto de faltar à palavra perante os unidos do Grupo do Cadaval, também deixa marcas, e sobras alimentares.

Por dever de consciência recordo aqui aos eventuais leitores a restante composição do Grupo do Cadaval: o sub-comandante, é o já referido Jorge Rosales, homem sagaz, inteligente, comedido e de jurisdição simples, que revela amizade em cada momento e merece a admiração de todos. O Zé Brás, homem de mundos vários, com facilidade na escrita, através da qual expõe com mestria cenários, personalidades, emoções, sonhos e sofrimentos, com delicadeza e assertividade. Os restantes, a quem não dedico palavras especiais, porque são cidadãos simples, mas generosos e atentos ao mundo, são o Hélder Valério, o Belarmino Sardinha, e cá o escrevente que vos cumprimenta.

Concentrada a tropa à hora devida, que os horários são para cumprir, a coluna deslocou-se pela picada que liga o Couço à Courelinha, notando-se o corajoso Rosales a conduzir a viatura rebenta-minas, e os vultos da malta que o seguia a levar com a poeirada. Ali chegados, deparou-se-nos uma casa simples, sem recursos arquitectónicos, mas limpa e alva como só naquelas bandas encontramos. A mesa, para doze, já tinha as alfaias prontas. Tomámos posições, entre graças, fotografias e manifestações de apetite, face aos cheirinhos provenientes da cozinha aberta, no prolongamento da sala.

A abrir, uma sopa do cozido, com pão do forno e uma hortelã inspiradora.

Depois passámos ao conduto, numa sucessão de vegetais saborosos da tradicional cultura biológica, a que as carnes carregadas de paladar, mai-los enchidos caseiros, transportaram-nos para um céu de prazeres, estranhamente contraditórios com o pecado da gula. Pena tive eu de não possuir estômago tamanho que comportasse outro tanto, pois ainda salivo da belíssima lembrança.

À sobremesa foi servido um pudim que esteve à altura do acontecimento. O tintol era do Cartaxo e bebeu-se com agrado.

Passe a publicidade, o Café Barbeiro, com o telefone 243 650 180, não é propriamente um restaurante. No entanto, serve refeições por encomenda, sem lista, mas de qualidade e com fartura para que ninguém saia de mau humor. Esportulámos dez aéreos por bico, com a gratificação incluída.

Depois do café, incluído no almoço, e de mais umas achegas em discursos vários, despedimo-nos dos comparsas locais e do nosso escritor, que tinham outros afazeres, para demandarmos a casa do Rosales e mamarmos o lanche, antes que fosse tarde, e consistiu de dois peixes escalados, salgados na hora para assentarem praça na grelha, prateados e com a frescura necessária. Nos entretantos, petiscámos um queijinho de ovelha e um chouriço, tudo de boa confecção e temperos, coisas que se foram num ápice, dando a parecer que o almoço não teria sido farto e bom. Só que às coisas divinais não temos por hábito manifestar desprezo, e então continuámos a cumprir religiosamente.

Pronto, meus caros leitores, não vos prolongo o sofrimento, e declaro-vos superiormente autorizados a comer um pedaço de pão com manteiga para matar a fome que vos assola.
JD
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7122: Convívios (195): 40 anos depois... Pessoal do Comando de Agrupamento nº 2957, Bafatá, 1968/70 (António Rodrigues)

Guiné 63/74 - P7173: Tabanca Grande (250): Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG (STM/QG/CTIG, 1968/70)

1. Mensagem de Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70, com data de 23 de Outubro de 2010:

Camarada Luís Graça
Faz hoje 42 anos que embarquei para a Guiné.

Deu-me para recordar a data de embarque, relatando alguns pormenores desse mesmo dia.
Se entender por bem publicar o escrito que remeto em anexo, fico-lhe grato e se me quiser avisar da sua publicação, se assim o entender, ainda mais grato lhe fico.

As fotografias que vão anexas ao escrito são de Bissau daquele ano de 1968.

Nota - Chamo-me Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro, sou natural de Alcanena e resido em Torres Novas. Assentei praça na EPC em Santarém em 10 de Outubro de 1967, chumbei no CSM, como muitos outros naquele Curso, tirei a Especialidade no RTM no Porto, vim para o BT em Lisboa, fui colocado no QG da 2.ª RM em Tomar e depois acabei por ser mobilizado pelo RI 15 de Tomar.

Embarquei em rendição individual destinado ao BCAÇ 1911 que afinal veio no mesmo barco em que fui. Passei a minha comissão no Centro de Mensagens do STM no Quartel General de Bissau.

Fui o 1.º Cabo Op. Msg. 03015366

Fui funcionário dos Serviços Médico Sociais em Torres Novas, Alcanena e Santarém onde estive desde 1964 a 1972, ano em que entrei para a Banca, Crédito Predial Português, tendo passado à reforma em 31.12.01.

Sobre mim acho que disse o essencial.

Já para aí tenho escrito, mas gostava mesmo de pertencer a essa Grande Família.
Diga-me por favor o que devo fazer.

Um abraço
Carlos Pinheiro


Já lá vão 42 anos

É verdade. Parece que foi ontem e já lá vão quarenta e dois anos desde o dia do embarque para a Guiné.

Depois de uma noite muito mal dormida nos Adidos, na Calçada da Ajuda, logo de manhã lá estava ataviado a preceito para embarcar para a guerra.

Carlos Pinheiro junto à estátua de Honório Barreto

Dois dias antes, ainda no RI 15 em Tomar, a minha Unidade mobilizadora para o BCaç 1911 que nunca vi que veio no barco onde fui, apanhei uma boleia com um senhor da minha terra que lá foi buscar o filho, para também embarcar para a guerra, salvo erro era para Angola. Lá fomos os três no Volkswagen 1300 do senhor, a caminho dos Adidos em Lisboa. Almoçámos, já não me lembro onde, e lá chegámos.
 
Entrámos os dois pela porta de armas, cada um foi para o seu sítio, mas no dia seguinte deixei de o ver. Afinal ficou cá. Não chegou a embarcar. Tinha as suas mazelas certamente. Eu também tinha as minhas, mas embarquei e ele ficou por cá.

No dia do embarque, no dia 23 de Outubro de 1968, como disse, logo de manhã lá estava fardado como deve ser, de saco às costas com os meus pertences. Foi só esperar que as camionetas começassem a chegar para levar toda aquela malta de rendição individual para o cais de Alcântara. Éramos cerca de sessenta.

Quando chegamos ao Cais, o grosso dos expedicionários já estava devidamente formado; era o Batalhão de Caçadores 2856 constituído por quatro Companhias, mais um Pelotão de Polícia Militar que ia para Cabo Verde e ainda outras Unidade mais pequenas, género Pelotões de Canhão Sem Recuo, Pelotões de Apoio Directo, etc.

Nós ficámos livres da formatura e, certamente por isso, fomos dos primeiros a embarcar. Ao cima das escadas lá estavam as senhoras do MNF – Movimento Nacional Feminino a darem um maço de cigarros "Porto", um isqueiro e uns aerogramas. Também por lá se viam uns senhores de chapéu e de sobretudo que alguns mais vividos diziam ser da Pide.

Carlos Pinheiro junto ao monumento do V Centenário da morte do Infante D. Henrique

O UÍGE atracado à espera, com a tropa formada, depois de um General ter passado revista às forças ao som de uma Banda Militar, depois dos discursos da ordem, lá começaram a embarcar, sempre com a Banda a tocar marchas militares.

Os nossos familiares estavam do outro lado das barreiras e muitos nas varandas da Gare.

Os lenços brancos a acenar eram mais do que muitos. Da minha parte lá estavam os meus pais e os meus tios que moravam em Lisboa. Sabia mais ou menos onde eles estavam posicionados porque tínhamos combinado antecipadamente. A amurada do barco do lado do Cais estava repleta de militares o que provocava um relativo adornar do navio.

Entretanto, cerca do meio-dia, as máquinas do navio começam a fazer mais barulho e a silvar. Vêem-se já os rebocadores que o hão-de ajudar a largar e a ganhar o rumo da Barra do Tejo. Foram momentos difíceis de descrever. Adivinhávamos facilmente que os familiares no Cais choravam. Alguns até gritavam. Ouvia-se.

A bordo também havia lágrimas em muitos olhos. O barco ganha rumo, a ponte "Salazar", era assim que se chamava a que hoje se chama "25 de Abril", começa a ficar cada vez mais perto até que passámos por baixo dela. Dali até à Barra e depois ao mar alto parece que foi um momento.

Mal ou bem lá fomos encaminhados para os nossos aposentos, para largarmos o nosso saco e para tomarmos conhecimento dos nossos beliches. A esmagadora maioria, onde eu estava incluído, viajámos nos porões que noutras viagens transportavam tudo e mais alguma coisa. O cheiro era horroroso. As camas eram mesmo tipo beliche, mas em madeira de pinho, com colchões de palha e uma manta da tropa em cima. A estrutura das mesmas, porque em madeira, estava já cheia de dedicatórias de toda a ordem que se possa imaginar, fruto de outras viagens de idas e de regressos.

Edifício do STM em Bissau

Já no mar alto fomos para a primeira refeição, o almoço, numa sala grande, a sala de jantar do barco, e a comida era aquela que nos quiseram dar, porque os orçamentos naquela altura já eram apertados.

Depois foram cinco dias a ver-se só mar e céu, tudo azul, e de vez em quando uns peixes voadores a acompanhar o UÍGE e por vezes até golfinhos como que a desejarem-nos boa viagem. Raras vezes avistámos outros barcos, mas sempre ao longe. Passámos relativamente perto das Canárias. Disseram-nos que, como aquilo era um Transporte de Tropas, estávamos a ser a ser acompanhados por um submarino. Já era a psico a funcionar.

No convés havia uma espécie de um bar onde se vendia cerveja e Coca-Cola, sendo esta uma novidade autêntica uma vez que na Metrópole a mesma ainda era proibida. A cerveja era holandesa. Eram garrafas de meio litro, verdes, que nós nunca tínhamos visto. Claro que com estes estimulantes a viagem parece que custava menos.

Nos porões, logo no primeiro dia, foram montadas bancas para a batota, neste caso a lerpa, e os profissionais dessa jogatina lá assentaram arraiais e foram depenando os mais desprevenidos, que eram muitos.

E assim chegámos a Bissau no dia 28, ao final do dia, tendo o barco ficado ao largo e o pessoal desembarcado para barcaças que de imediato tinham rodeado o navio.

A todos os que vão sobrevivendo e que há 42 anos a esta hora viajavam comigo no UÍGE, um grande abraço e votos de muita saúde.

Carlos Pinheiro
23 de Outubro de 2010


2. Comentário de CV:

Caro Carlos Pinheiro, bem-vindo à nossa Tabanca virtual, onde os camaradas mais ou menos operacionais, mais ou menos graduados e mais ou menos doutores na universidade ou na vida, têm lugar sem distinção.

Lá "fora" ficam as mordomices e tratamo-nos por tu, porque todos os ex-combatentes da Guiné são verdadeiros camaradas, pisaram o mesmo chão avermelhado, sentiram o mesmo calor húmido insuportável, passaram a mesma sede, e a maioria pensou muitas vezes se o dia seguinte seria ser o último da sua vida.

Descreves os momentos finais da tua partida, em Lisboa, comuns à esmagadora maioria de nós. Quanta dor e incerteza no porvir. Quantas mães, esposas, irmãs e namoradas se despediram dos seus entes queridos, pela última vez, sem o suspeitarem.

Tempos difíceis, Carlos, documentados no nosso Blogue, mas que nunca é demais relembrar para que nunca mais voltem a acontecer. Ressalvam-se os tempos actuais, mas isso são contas de outro rosário. Nós sim, fomos os verdadeiros expedicionários, o resto é tempo de antena nas TVs.

Carlos, a partir de hoje assumes a responsabilidade nos contares as tuas vivências, mesmo em Bissau aconteciam coisas, que nós homens do mato, gostamos de saber. Estás apresentado à tertúlia, portanto começa a trabalhar.

Pessoalmente, quero dar-te os parabéns por vires engrossar o já numeroso grupo dos Carlos, todos boas pessoas como tiveste ocasião de me escrever, mas convenhamos que temos na tertúlia um numeroso grupo de homens de excepção, independentemente de se chamarem Carlos ou não. Lembremos também as "nossas" senhoras, operacionais ou amigas, que dão ao nosso Blogue aquele toque de beleza, inteligência  e sensibilidade, tão próprias delas.

Ao terminar deixo-te o indispensável abraço em nome da tertúlia e dos editores que terão muito gosto em publicar as tuas memórias.

Saudações do novo camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7150: Tabanca Grande (249): Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára (CCP 122, 1971/74) e ex-elemento do Grupo Os Vingadores, do Alf Grad Marcelino da Mata

domingo, 24 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7172: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (35): Teixeira Pinto - Enfiamento da morte

1. Mensagem de Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 23 de Outubro de 2010:

Amigo Carlos
Um abraço e tudo de bom.

Entre Deus, Destino e Sorte, sempre optei por Deus e Mãe Maria, como apoio e ajuda nos caminhos da vida, por mais difíceis que sejam.

Por achar que não devia entrar em alguns pormenores (?), esta passagem de “Viagem …” é um retrato condensado de um dos dias mais pesados da 2791 – FORÇA e por que passei, quer no plano físico com todo o esforço e tensão dispendidos, quer no psicológico por vezes numa luta de sentimentos contraditórios entre o Dever, Consciência, Responsabilidade, Dor, Instinto e Risco.

A quem ler, em especial aos que possam ter vivido estes momentos, o meu pedido de desculpa por poder ferir quaisquer sensibilidades ou fazer reviver esse dia.

Um abraço a todos
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (35)

Teixeira Pinto – Enfiamento da morte

Madrugada de Setembro e a rapaziada forma na parada, como habitualmente em boa disciplina, aprumo e com garbo.

Verificado o equipamento e transmitido o cuidado redobrado a ter, pela previsível dureza da operação em que não podia haver facilitismos, montamos nos Unimog que em bom andamento nos levam ao longo da estrada Teixeira Pinto - Cacheu.


Teixeira Pinto > Heliporto

Os quilómetros vão ficando para trás até que a coluna pára e o pessoal dos 1.º e 2.º GCOMB rapidamente se apeia, reúne e assume as suas posições, dando quase de imediato início ao andamento para entrada na mata, com azimute a um ponto mapeado como nosso objectivo nesse dia, algures na península do Balanguerês.

Ao que julgo lembrar, o tempo meio cinzento mas com abertas estava mais ou menos estável mas, as variações da vegetação nas matas por vezes dificultavam a progressão serpenteante, espaçada, atenta e silenciosa que procurávamos fazer, na esperança de não sermos detectados até ao objectivo, onde era suposto e quase certo, virmos a ter confronto.

Sob o comando do Alf Mil Barros (2.º GCOMB) - julgo que o Alf. Mil F. Pereira (1.º GCOMB) não participou – coadjuvado pelos Furriéis, o bi-grupo (?!) com cerca de trinta elementos com o armamento reforçado pelas MG e Lança-róquetes que usávamos, foi escoando as horas na marcha a corta-mato, intervalando com pequenos descansos para descompressão, escuta e perscrutação de pormenor, evitando o mais possível os trilhos, clareiras e matas de copas muito abertas, o que era normal fazermos por segurança.

A avioneta de PCV cedo nos começou a sobrevoar intervaladamente, fazendo-nos temer a detecção ou pior ainda, denunciar eventualmente o rumo do nosso andamento. Como consequência, a nossa vertical começou a ser viciada e os banana AVP-1 começaram a sofrer de interferências e perdas de sinal !?!!

Julgo que por o Mesquita ( Furriel do 1.º GCOMB) estar de férias, o Fur Mil Marques do mesmo GCOMB - há já uns meses afastado destas lides por ter ficado adstrito à secretaria – conhecedor da dificuldade da operação, oferece-se para fazer parte da força desfalcada de graduados. Como já não estava habituado àquelas andanças, o Castro e eu não concordamos em que ele assumisse esse risco, mas o Marques insistiu e insistiu, acabando valentemente por nos acompanhar.

Continuando a progressão, já próximos do objectivo começamos a entrar numa mata arbustiva que a cada passo ficava mais fechada. Paramos para análise da situação e descansar um pouco, fora de possíveis olhares indiscretos. Os que já lá estavam embrenhados deviam sair rapidamente dali, já que o tipo de mata quase só nos permitiria ripostar por tiro em caso de ataque e ficávamos muito permeáveis aos RPG e morteiro.

A dada altura começamos a ouvir vozes vindas ao que parecia, de um palmar a umas poucas dezenas de metros à nossa esquerda. É resolvido fazer por alguns de nós uma aproximação para observação e eventualmente desencadear uma espécie de golpe de mão, enquanto os restantes ficavam de cobertura e apoio à retirada, com instruções de só dispararem à vista e se fossem atacados, pois o grupo de observação poderia ficar entre fogos.

De novo o Marques se voluntaria para comandar, mas acaba por aceitar os argumentos da minha oposição incisiva e ficar.

Peço uma dúzia de voluntários com MG, HK, lança-róquete, dilagrama e restantes com G3 e avançamos agachados mas em passo rápido. A mata começa a rarear e o palmal está logo ali na frente, para lá de umas moitas. Várias vozes se ouvem agora distintamente, orientando-nos.

Em início de manobra de abertura, o fogachal rebenta com intensidade feroz, vindo de cima e de frente. Ouvem-se gritos e choros. O matraquear e os rebentamentos sucedem-se. Diante de mim depara-se me uma mulher e atiro-me para cima dela, só depois me apercebendo que traz um bebé às costas (vd. Post 3634 de 16 DEZ 2008 ).
…um impacto num carregador do cinturão e outro no guarda mão fazem-me em pensamento chamar pela Mãe em ajuda (curioso (?) mas verdadeiro). Na realidade foi um aperto do caraças.

O tempo abranda e parece parar em contraposição aos disparos… até que aquela escaramuça termina. São recuperadas quatro mulheres com dois miúdos bebés. Nenhum de nós foi ferido, felizmente não tendo o adversário tido a mesma sorte, pelos indícios.

O pessoal reagrupa e recomeça a progressão com moral em alta mas consciente da grande probabilidade de virmos a sofrer uma forte emboscada. O 1.º GCOMB vai agora na frente. Um dos miúdos volta e meia chora denunciando o nosso andamento e repara-se que é a mãe que o belisca nas pernas. Ameaça-se a mãe, mas os choros continuam com interrupções, denunciando-nos. A situação é gravosa e há quem lhe queira pôr fim. Intervenho e ameaço. A marcha continua.

Na frente segue o Fur Mil Rebocho (OE) e o 1.º Cabo Antunes (MG 42), ambos do 1.º GCOMB. A uma dezena de metros na orla de uma pequena clareira é avistado um elemento IN camuflado a apontar um RPG, que dispara de imediato no enfiamento da fila.

Há reacção mas o Antunes infelizmente não tem tempo de se esquivar e… cai. Estamos a 23SET71.

A emboscada desenvolve-se pela frente e pela direita. O tiroteio agiganta-se, uma das prisioneiras foge… o PCV volteia por cima de nós (Post 7067 - 01OUT10).

Os Enfermeiros Braga e Taia desdobram-se e fazem o que podem e sabem no apoio aos feridos. Valentes Homens.

Passado tempo que pareceu infinito, tudo fica calmo.

Nada bom de se ver… o malogrado Antunes tem uma granada de RPG que não explodiu (?) mas lhe causou a morte, enfiada no baixo ventre com a empenagem de fora. Digo que não explodiu porque penso que, se assim não fosse, pelo menos toda aquela zona do corpo teria desaparecido, o que não aconteceu .

Vem-me à cabeça a cena do miúdo e interrogo-me. Acabo por aceitar que procedi como devia, a consciência não me pesa e fico em paz.

Por momentos parece que vai haver algum descontrolo emocional perigoso e que é sustido com firmeza e segurança, com serenidade, ordens claras e incisivas .


Teixeira Pinto > Luís Faria junto a um helicanhão

Para além do Antunes, há seis feridos, alguns com gravidade. O voluntário Fur Mil Marques é um dos feridos, julgo que numa perna ou pé, felizmente com pouca gravidade, pelo que vai ser evacuado. Peço-lhe um carregador para substituir o que tinha ficado inoperacional e para trocar de G3 comigo, já que a minha passou a funcionar só tiro a tiro, talvez em resultado do impacto que apanhou, mas acabo por desfazer a troca.

Era a minha G3 que sempre me fora fiel, nunca me tinha deixado ficar mal, e até compartilhava com ela, amarrando-o junto do tapa chamas, um pequeno lenço vermelho que me tinham oferecido no Puto e que usávamos em operações e minas, entre outras ocasiões. Não iria ser por ela estar um tanto engasgada que a abandonaria. Superstições.

Efectuadas as evacuações e inspeccionada a zona ficamos a perceber que seriam uma vintena os convivas nefastos e que nem todos regressariam às suas lides normais!

O pessoal arranca em direcção à zona de recolha onde vai passar a noite, acabando por lá chegar sem mais contratempos. Teixeira Pinto e a nossa doce vivenda estão à espera, desta vez para carpir mágoas e procurar analisar o que se tinha passado.

Iria ser difícil esquecer esse dia.
Luís Faria
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7067: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (34): Em Teixeira Pinto, círculo quase fatal

Guiné 63/74 - P7171: (Ex)citações (102): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (Manuel Marinho / José Belo)

1. Caros Tertulianos, fazendo uma revisão à correspondência que se vai acumulando, encontrei e achei por bem dar a conhecer, embora a destempo, estes dois comentários dos nossos camaradas Manuel Marinho e José Belo, ainda a propósito do P7117 de autoria do nosso camarada José Manuel Matos Dinis:


2. Diz Manuel Marinho no comentário que publicou no Poste 7130* em 16 de Outubro de 2010:

Caros camaradas
Este meu comentário engloba todos os textos dos camaradas sobre este assunto.

No mínimo o tema não acrescenta nada ao comum dos ex-combatentes, é a minha modesta e sincera opinião.

O caso concreto destas opiniões que começa por um grupo de camaradas intitulados “Grupo do Cadaval”, camaradas esses que muito respeito pelos excelentes textos com que enriquecem este blogue.

Mas uma coisa é eu respeitar e enaltecer as vossas qualidades intelectuais e outra bem diferente é não tecer comentário acerca do que me preocupa neles, que pretensamente são para analisar e comentar o referido texto, a pedido do camarada que o escreveu.

Dou um exemplo simples.

Se eu estiver organizado num grupo de 10 camaradas, escrevo um texto peço-lhes de seguida para apreciarem o referido texto, eles concedem-me esse pedido e a seguir são publicados os 10 textos de apreciação no blogue.

Tenho algumas reservas nesta questão de “grupos” porque quer se queira ou não, acabam por arredar da discussão do tema a esmagadora maioria dos camaradas, que são membros colaboradores do blogue, até pela simples formulação.

Este assunto é lá com eles “Grupo do Cadaval”!

O tema e a forma como está escrito é no mínimo arriscado fazer considerações porque são um exercício de teorias, que pretendem levar-nos a ter na devida conta e medida o que é o rigor dos nossos escritos e a sensatez nas apreciações que fazemos das escritas e leituras.

Mas da forma como é exposto, parece-me que se pretende dar aulas de comportamento e isso na minha modesta opinião não fica bem.

Faço desde já um apelo, escolham outro assunto mais abrangente e até mais polémico e vamos formar mais saber e conhecimento, com o maior rigor possível e já agora com muita sensatez.

Um grande abraço para todos vós
Manuel Marinho


3. José Belo dirigiu-nos esta mensagem em 16 de Outubro de 2010:

Caros Camaradas e Amigos.
Em corridas de um lado para o outro do Atlântico, provocadas por um pretensioso regressar ao "trabalho" por parte de um Reformado em idade já Bíblica, procurei ao chegar a Estocolmo, actualizar as leituras (sempre interessantes) de algumas das trocas de opiniões no nosso blog.

A propósito do Poste 7117 do Camarada José Manuel Matos Dinis "Sensatez e rigor no Nosso Blogue", que provocou alguns interessantes comentários, fiquei com a ideia, talvez errada, de ter havido por parte de alguns, uma pequena mistura involuntária, entre "conhecimentos pessoais" (e portanto totalmente subjectivos), com os chamados "conhecimentos académicos".

É que, quanto a mim, estes últimos apesar de organizados, orientados, programados, e sempre dirigidos por alguém... para algo, acabam também por ser mais pessoalizados do que, talvez, seria de desejar.

As variadas capacidades intelectuais, somadas aos diferentes temperamentos individuais, levam sempre a diferentes observações das realidades envolventes, isto, somando-se a zonas menos conscientes de cada um. O resultado é uma diversificação na aparente rigidez dos conhecimentos "académico-programáticos"... para não referir os individuais.

Será sempre complicado falar-se de "sensatez" quando as nossas capacidades individuais de absorver sinais, e reagir aos mesmos, são de tal modo condicionadas por factores internos. Procura-se uma universalidade onde esta não é passível de existir.

O meu simpático, e tão amigo, papagaio pode, e certamente conhece, em profundo e absoluto detalhe, a gaiola em que nasceu, cresceu, e (como muitos de nós) sempre viveu. Terá, portanto, em relação a esta, uma sensatez e rigor aparentemente universal. Mas, para outros milhões de papagaios na selva, os parâmetros da tal sensatez e rigor adquiridos, e a adquirir serão... diferentes.

É claro que, neste tipo de comentários como o que acabo de escrever, não se deve esquecer o clássico - Ne sutor ultra crepidam - (sapateiro, não passes do chinelo!).

Um grande abraço Amigo do
J.Belo
Estocolmo 16/10/10
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7130: (Ex)citações (101): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (Vasco da Gama / José Brás)

Guiné 63/74 - P7170: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (8): Da Casa Gouveia aos Armazéns do Povo

1. Mais um texto do António Rosinha (, foto à esquerda), 




Data: 23 de Outubro de 2010 23:55
Assunto: A adaptação da Casa Gouveia (capitalismo)aos Armazens do Povo(comunismo)-Transformação muito imaginativa



A experiência socialista na Guiné com Luis Cabral, e a tentativa do mesmo socialismo com Vasco Gonçalves/Cunhal em Portugal, quase chegou a satisfazer a curiosidade daqueles que, como muitos de nós,  olhavam para as economias de leste, como fruto proibido pelo salazarismo.


A malta em África, sem televisão nem jornais, criou um hábito de fazer zapping no rádio transistor, que corria emissoras em português desde Argel, BBC, rádio Tirana, Praga, rádio Moscovo e Voz da América,  etc, mas dávamos muita preferência ao que vinha de leste.
De maneira que se adquiriu uma grande curiosidade e até alguma crendice no comunismo.
Um slogan que se ouvia muito dirigido contra Portugal nessas emissoras, em duplicado, uma emissão para Portugal e África e outra para Brasil e América, era chamarem "colonialistas, imperialistas e fantoches", que penso que seriam os brancos, os militares portugueses  e os africanos que estavam ao nosso lado.


Quando Norton de Matos em 1949 se candidatou a presidente da República, e desistiu in extremis, nas aldeias do interior a mesa de voto em geral era nas nossas escolas que hoje estão abandonadas. Os nossos velhotes, se não fossem comunistas ou do contra,  iam votar no Craveiro Lopes,  por aconselhamento do regedor, do presidente da junta, e do padre e talvez do professor.


Os que eram comunistas clandestinamente, que já tinham as melhores casas e as melhores propriedades classificadas e destinadas a ocupações por  eles próprios, votavam,  como se dizia naquele tempo, no contraPreviamente a PIDE encarregava-se de os engavetar e pô-los à sombra por uns dias se não acontecesse pior, como mais tarde vieram os relatos.
Em 1949, quem tivesse 10 ou 11 anos podia ficar com esta lembrança dos acontecimentos no mundo rural da metrópole.


Passados uns anos, em 1958, quem tivesse 20 anos, via os mais velhos votarem no Américo Tomás, aconselhados pela União Nacional, pelos chefes instalados, e pelos que tinham medo ao comunismo. Os que eram do contra, por exemplo,  uns colegas meus, votavam Humberto Delgado, porque aí o Salazar ia à viola e os funcionários que nunca eram aumentados, iam ganhar mais, diziam os menos politizados, e os mais politizados sonhavam que com o comunismo é que devia ser bom.


Falava-se que Humberto Delgado teve mais votos, mas houve falcatrua, e no caso de Angola onde se notava menos a presença da PIDE, havia euforia nítida a favor de Humberto Delgado. Mas uma ideia que ficou em toda a gente, em 1949 e em 1958, é que nem um general nem o outro eram anti-colonialistas declarados. Mas uma coisa hoje os livros confirmam o que se pensava nesse tempo, os socialistas/comunistas colaram-se a esses candidatos da oposição a Salazar. E já havia nos votantes do contra, muitos com ideias anti-colonialistas e pró-independência, no pessoal letrado das colónias.


Dizia-se que  essas eleições «abalaram os alicerces» do Estado Novo. Mas o grande abalo deu-se em 1968,  quando se partiu o pé da cadeira onde o Botas [, Salazar,] descansava , e passados poucos anos vimos, quem viu, a implantação do socialismo/comunismo na Guiné Bissau, com toda a naturalidade e sem a mínima oposição.


Em Angola e Moçambique não se pode dizer o mesmo, pois que o MPLA e FRELIMO tiveram os inconvenientes duma guerra bastante longa, e em Portugal deu-se o 25 de Novembro muito cedo, o que não deu a tranquilidade de que auferiu o PAIGC na Guiné e em Cabo Verde, onde o regime socialista se concretizou.








Guiné > s/d > Algures, em região sob controlo do PAIGC (ou "região libertada") > Um armazém do povo. Fonte: PAIGC. Segundo texto do Jorge Santos, membro da nossa Tabanca Grande, "O PAIGC promove a criação dos Armazéns do Povo por decisão tomada no 1º Congresso de 1964. O objectivo dos Armazéns do Povo, empresa geral de comércio de tipo estatal, era garantir o fornecimento de artigos de primeira necessidade à população das regiões libertadas e, por meio de troca, receber produtos agrícolas que deveriam em seguida escoar-se para o exterior, criando-se e desenvolvendo-se assim, progressivamente, a base de um comércio externo. O número de Depósitos dos Armazéns do Povo passou de 6, em 1964, para 16, em 1969". Fonte: PAIGC - História da Guiné e Ilhas de Cabo Verde. Porto: Edições Afrontamento. 1974

E aqui entram as teorias escritas de Amílcar Cabral, e a execução prática de Luis Cabral, implantando o regime socialista com o apoio dos países de leste e Cuba, mas também da anuição da cooperação portuguesa e de muitos países que não eram comunistas. E, quem tivesse vivido muitos anos à espera de ver o comunismo implantado em África, que fosse a Bissau, que ficava admirado como Luis Cabral adaptou o regime colonial-salazarista, ao regime que,  penso eu, era o regime marxista, ou soviético, ou resumindo, o regime que o Salazar combatia e Nossa Senhora de Fátima dizia que era mau.


Como Luis Cabral conhecia bem a Casa Gouveia e o semi-monopólio da mesma, apenas lhe passou a chamar Armazéns do Povo e passou a administração para o PAIGC. Todo o comércio que se praticasse, desde a mancarra exportada a tudo o que fosse importado, ou recebido por doações, passava pelos Armazéns do Povo.


Até parecia fácil como aquele regime (económico) funcionava, e Luis Cabral mostrava um àvontade na governação que parecia que tinha nascido para governar. No caso da produção agrícola interna e transportes fluviais, foi seguir simplesmente o procedimento do colon, que ele conhecia bem, e projectou um melhoramento dos acessos fluviais herdados do colonMandou reconstruir pontes cais de Caboxanque, Cadique, acostamento  de Impungueda, Binta, e várias rampas para canoas.


Fez acordos de cooperação com técnicos de meio mundo para melhorar a produção de arroz, cajú, etc, e uma fábrica de transformação de produtos agrícolas no Cumeré, e até já tinha uma estrada projectada de Antula para o Cumeré sobre o canal do Ipernal. Não havia produtos à venda nas lojas dos portugueses e libaneses, era só prateleiras vazias, e quando os Armazéns do Povo tinham produtos para venda, fornecia essas lojas de venda a retalho.
Mesmo a venda de porta a porta do produto das mulheres que apanhavam camarão, com uma pesca muito característica aproveitando as marés, essas mulheres estavam proibidas de vender esse camarão, porque era defraudar a economia guineense, pois só os Armazéns do Povo podiam pôr esse camarão no circuito comercial. Assim como também era proibida a venda na via pública de  cajú ou mancarra torrada  pelas mulheres e crianças,  pela mesma razão de ser um crime económico.


Pode haver alguem eventualmente que duvide desta minha afirmação, mas desde já aviso que assisti a polícias perseguir mulheres e garotas, que frente à UDIB vendiam pequenas medidas de mancarra e camarão,  que tinham que fugir para não perder o produto.
Tambem foram criados postos de controlo em pontos estratégicos de acesso às cidades, sendo que o mais célebre era junto a Safim, que controlavam a circulação de pessoas e bens.


Vendo  como o governo de Luis Cabral implantava o sistema comunista, num país em que o povo aceitava tudo o que lhe era imposto, inclusive as filas (formas) para adquirir o simples pão ou arroz, e até aceitava que os membros e famílias do PAIGC tivessem o privilégio de não ir para as filas do pão, era natural que houvesse algum tipo de revolta, mas tal não se manifestava. E até parecia não haver muita violência, pois que em cada fila, ou nas padarias, ou nas lojas, ou no mercado municipal, um único polícia  era o suficiente para manter a ordem.


O governo e o PAIGC, ao fazerem a adaptação do sistema colonialista/capitalista ao sistema comunista, de um momento para o outro, tinha que haver alguma capacidade quer de autoridade como de capacidade governativa. A autoridade, essa, facilmente se encontrava na força militar do PAIGC. Mas a capacidade governativa  donde vinha, se os guineenses eram na maioria sem escolaridade,  e os mais estudados como os antigos estudantes do império, eram em número muito reduzido? E uma grande parte de gente guineense com mais preparação, não se deixou engajar pelo projecto de Amilcar Cabral?


Sem dúvida, para mim evidentemente, que Luis Cabral baseou a equipa governativa em gente de Cabo Verde, que temos que reconhecer, pelo que acontece com a governação de Cabo Verde, estavam bem preparados. E com a saída dos caboverdeanos em 1980,  com o golpe de Nino vieira sobre Luis Cabral, foi o total descalabro. Porque com todos os problemas que houvesse com Luis Cabral e os caboverdeanos no governo, havia uma enorme credibilidade internacional que foi posta em causa, e a rotina governativa que já existia foi desfeita e não havia outra alternativa preparada.


Os caboverdeanos da maneira como vencem as dificuldades de governar uma terra como Cabo Verde, fariam coisas maravilhosas na Guiné, se não fossem as contradições que é evidente que existiam no interior do projecto do PAIGC. Vão morrendo alguns, Luis Cabral, Vasco Cabral, Nino Vieira, por exemplo, sem relatarem quais as virtudes e os defeitos daquele projecto, o que poderia explicar alguns acontecimentos antigos e modernos que se passam na Guiné, e poderia ajudar a resolver alguns problemas, se alguem publicasse a história dos bastidores de Conacri, Havana e Moscovo. Mas quem conhecesse o que pensavam os angolanos e caboverdeanos antes de a  luta armada de libertação começar, desde funcionários públicos, estudantes ou comerciantes, sabia que eles diziam e pensavam que se governavam muito bem se a Metrópole os deixassem governar. Isto no caso do PAIGC e MPLA, não me refiro à UNITA e UPA (FNLA).


Indepententemente de concordarmos ou não que os diversos países africanos deveriam ficar independentes das metrópoles naquelas circunstâncias da guerra fria dos anos 50/60 do outro século, penso hoje que Angola e Moçambique e a Guiné tinham gente capaz de fazer das suas terras uns países de fazer inveja e que sabiam governar. Claro que também se sabe que os que podiam fazer daqueles terras, países sem guerras e com harmonia e prosperidade poucos ficaram nessas terras, sendo que a maioria está na Europa, Brasil  e até na América e Canadá ou já morreram.


Menciono apenas Amílcar Cabral e Luis Cabral para dar o exemplo dos que podiam fazer coisas lindas. Mas em Angola e em Portugal conheci e conheço muitas figuras públicas que podia mencionar e que andam por aí no jornalismo e na política portuguesa.


Então quem há uns tempos atrás tenha trabalhado em empresas de construção civil em Portugal, via que era rara a empresa em que nas chefias não houvesse um engenheiro angolano ou moçambicano e técnicos de toda a ordem.


Mesmo na Guiné houve sempre muitos engenheiros e técnicos angolanos e moçambicanos nas empresas portuguesas que trabalhavam como portugueses porque fugiram da guerra e da política entre os movimentos vencedores(!) nas suas terras de origem. Poderia haver desentendimentos políticos e até algum tipo de ditadura como também houve em Cabo Verde, mas aqui entenderam-se sem haver guerra nem quente nem fria nem tiros nem assassinatos.


Mas sem dúvida que Luis Cabral quase conseguia realizar alguns dos sonhos de Amílcar: o socialismo e a unidade. Enquanto ele governou funcionava, pelo menos aparentemente, o socialismo/comunismo, penso que com todas as suas características, pelo menos no campo económico. Quanto à unidade que Amílcar falava, pelo menos etnicamente,  parecia alcançada, apenas a unidade com Cabo Verde se saberá o que se passou, quando a história dos bastidores for publicada por aqueles que viveram por dentro dos mesmos.


Como tive ocasião de ser cumprimentado em grupos de trabalho,  mais que uma vez pelo presidente da República da Guiné Bissau,  Luis Cabral, em que o ouvi falar e senti o entusiasmo com que estava dedicado à Guiné, acredito que por ele, todos os sonhos de Amílcar Cabral se concretizariam. 


Mas uma coisa que sem dúvida falhou no projecto do PAIGC, e de Luis Cabral, foi a falta de colaboração do povo, principalmente dos mais idosos que viviam de braços caídos durante todos aqueles primeiros anos de independência. Mas se com Luis Cabral o socialismo não entusiasmou, com Nino Vieira dilui-se bastante com gilas, industriais de madeira (madeireiros),  importadores de vinho, empreiteiros, etc., até que foi dado por findo mais ou menos em 1990, tranquilamente.


Este testemunho do que vi não é documentado nem quantificado, apenas fotografado de memória e que se não tivesse visto e estado nas filas de pão e de peixe, mais de meio ano sem comer batatas (das nossas), matar a fome milagrosamente na pensão da Dona Berta, e os guineenses da  Tecnil já não compareciam ao trabalho porque não tinham arroz (fome em familia), não é para condenar nem aplaudir o governo ou as ideias do PAIGC.

É mais uma tentativa para compreender que ideias e projectos se realizaram e/ou ficaram por realizar na luta tremenda do PAIGC, que fazendo juz a uma máxima  que se ouviu durante muitos anos "e a luta continua", e que parece que ainda hoje continua.
 
Até porque se a governação na Guiné é complicada, pessoalmente gostei de trabalhar e conviver com imensos guineenses, e apesar das dificuldades, a dividir por todos não custa nada, a Guiné é mais tranquila e viável que muitos países africanos e até se vive muito melhor (os guineenses são mais humildes) que em muitos países latino-americanos.
Eu, pessoalmente,  já trabalhei no Rio de Janeiro, junto à favela da Rocinha, em que,  chegando às cinco da tarde,  chegava junto a mim um segurança armado até aos dentes, e dizia: 
- Cara, si tu não larga tudo e vai, dentro de 5 minuto tu tá por tua conta!


Espero que um dia os guineenses oiçam a explicação porque tinha que ser como foi, e aí talvez aqueles que estão de braços caídos se entusiasmem.
Cumprimentos para todos,


Antº Rosinha


[ Fixação / revisão de texto / título: LG]

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Nota de L.G.:

Guiné 63/74 – P7169: Fichas de Unidades (8): Batalhão de Caçadores N.º 4514/72 (Guiné, 1973/74) (José Martins)

1. Mensagem de José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 22 de Outubro de 2010:

Caro Luís

Já me não recordo se dei as informações solicitadas no mail abaixo, de qualquer forma segue:

Estive no Arquivo Histórico Militar a consultar a pasta 2-4-113-4 referente à História do BCaç 4514/72, mas o que a mesma contem é muito reduzido e não contem dados relevantes.

Pelo que li, as Unidades tiveram os seus mortos e feridos, mas não indica quem, limita-se a indicar o número de mortos e feridos o que leva a pressupor que os evacuados, como é lógico, contam como feridos.

No caso em análise, o nosso camarada Francisco Ferreira dos Santos terá sido um dos feridos em operações, provavelmente antes de 25 de Abril, evacuado para o Hospital de Bissau, vindo a falecer, em consequência dos ferimentos, na data de 10/Maio/74.

Provavelmente os ferimentos não aconselhavam a sua transferência para Lisboa.
Anexo segue a história da unidade, nos moldes habituais.

Envio com conhecimento ao Sr. José Conteiro, informando que poderá contar com a nossa colaboração, caso necessite

Um abraço
José Martins


FICHAS DAS UNIDADES (8)

Batalhão de Caçadores n.º 4514/72


Divisa: “POR VÓS"


Mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 15, de Tomar, embarca em Lisboa a 3 de Abril de 1973, chegando a Bissau a 9 do mesmo mês.

Teve como Comandante o Tenente-coronel António Manuel Dias Falagueiro de Sousa Teles e Segundo Comandante o Major Eduardo César Franco Bélico Velasco, que viria a ser substituído no cargo pelo Capitão de Infantaria Jorge Xavier de Vasconcelos Mendes Belo, que era o Oficial de Informações e Operações/Adjunto da unidade.

O comando da CCS - Companhia de Comando e Serviços - foi desempenhado, sucessivamente, pelo Capitão SGE (Serviço Geral do Exército) José Augusto Dias Veloso, Capitão SGE Ponceano Alves Martins e Tenente SGE José João Morato Ferreira.

O Batalhão realizou o IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional) no Cento Militar de Instrução, no Cumeré, entre 11 de Abril e 6 de Maio de 1973, tendo seguido para o sector de Nova Lamego em 9 de Maio, para efectuar o treino operacional e a sobreposição com o Batalhão de Cavalaria n.º 3854. 

No entanto em 5 de Junho de 1973, no final do treino, é deslocado para a zona Sul onde sobrepõe e substitui o Comando Operacional n.º 4 (COP 4), instalando o Comando e a CCS em Cadique a 19 desse mês.

Assume a responsabilidade Sector S4 em 3 de Julho de 1973, em substituição do COP 4, tendo a sede em Cadique e com subsectores em Bedanda, Caboxanque, Cadique, Cafal, Cabedú, Chugué, Cobumba e Jemberem. Em 1 de Fevereiro de 1974 o sector é reduzido dos destacamentos de Chugué e Cobumba e em 9, desse mês, foi reduzido do destacamento de Jemberem.

Desempenhou a sua intensa actividade na área Sul, onde houve um recrudescimento de acções contra as nossas tropas.

Na actividade desenvolvida capturou, além de outro material, 1 pistola-metralhadora, 1 espingarda, além de detectar e levantar 19 minas.

Foi rendido em 23 de Maio de 1974 no Sector S4 pelo Batalhão de Artilharia n.º 6520/73, recolhendo a Bissau para posteriormente se deslocar para a zona Leste, para render o Batalhão de Caçadores n.º 3884, assumindo a responsabilidade do Sector L2, em 15 de Junho de 1974, com a sede em Bafatá. 

Na execução do plano de retracção do dispositivo milite português, desactivou e entregou ao PAIGC os subsectores de Sare Bacar em 20 de Agosto, de Fajonquito em 01 de Setembro, de Contubuel em 02 de Setembro e os aquartelamentos de Geba e Bafatá em 07 de Setembro, data em que recolheu a Bissau a aguardar embarque, que ocorreu em 08 de Setembro de 1974 (Comando, CCS e 3.ª Companhia).


Subunidades orgânicas:

1.ª Companhia – Comandada pelo Capitão Miliciano de Infantaria José Custódio Sanches Antunes e, depois de efectuar o treino operacional, em Cabuca, com a Companhia de Caçadores n.º 3401, assume, em 01 de Junho de 1973, a função de subunidade de intervenção e reserva do Batalhão de Caçadores n.º 3854, procedendo a várias actividades operacionais nos subsectores de Canjadude, Cabuca e Quibaba. 

Foi deslocada, provisoriamente, para Bissau em 11 de Julho de 1973 e seguindo para Cadique, no dia 22 de Julho, substitui a Companhia de Caçadores n.º 4540/72 assumindo a responsabilidade do subsector, integrada no comando e dispositivo de manobra do seu batalhão. 

Em 23 de Maio de 1974 é rendida pela 1.ª Companhia do Batalhão de Artilharia n.º 6520 e é deslocada para Contubuel, no Sector L2, onde rende a Companhia de Caçadores n.º 3547 e assume a responsabilidade do subsector em 15 de Junho de 1974. 

Em 30 de Agosto de 1974 inicia o deslocamento para Bissau, tendo permanecido no destacamento um pelotão que procede à entrega do mesmo ao PAIGC em 1 de Setembro. Regressa à Metrópole em 05 de Setembro de 1974, em conjunto com a 2.ª Companhia.

2.ª Companhia – Comandada pelo Capitão Miliciano de Infantaria Ramiro Filipe Raposo Pedreiro Martins e depois de efectuar o treino operacional, em Madina Mandinga, com a Companhia de Caçadores n.º 3406, foi deslocada para Farim, afim de substituir a 1.ª Companhia do Batalhão de Caçadores n.º 4512/72, assumindo a responsabilidade do subsector em 20 de Maio de 1973, deslocando para Cumtima um pelotão, para reforço da guarnição local.

 É substituída, em 14 de Setembro de 1973, pela Companhia de Caçadores n.º 4944/73 e segue para o Sector S4, substituindo a 2.ª Companhia do Batalhão de Caçadores n.º 4610/72, instalando-se em Cafine, subsector de Cafal, integrada no comando e dispositivo de manobra do seu batalhão, deslocando dois pelotões para reforço da guarnição de Cobumba. 

Em 23 de Maio de 1974 a 2.ª Companhia do Batalhão de Artilharia n.º 6520/73 substitui esta subunidade em Cafine e Cobumba, que se desloca para o Sector L2, indo assumir a responsabilidade do subsector de Fajonquito e destacando dois pelotões para Cambajá, onde substituiu a força ali instalado da Companhia de Caçadores n.º 3549. 

A 20 de Agosto de 1974 entrega ao PAIGC o aquartelamento de Cambaju, retirando a força para Fajonquito.

Inicia em 30 de Agosto o regresso a Bissau para aguardar embarque, regressando à Metrópole em 05 de Setembro de 1974, em conjunto com a 1.ª Companhia.

3.ª Companhia – Comandada pelo Capitão Miliciano de Infantaria Jorge Manuel Pedroso de Oliveira Martins, substituído pelo Capitão Miliciano de Infantaria Tiago Frederico depois de efectuar o treino operacional em Nova Lamego com a Companhia de Caçadores n.º 3405, assume, em 01 de Junho de 1973, a função de subunidade de intervenção e reserva do Batalhão de Caçadores n.º 4512/72, tendo sido deslocada para Guidage entre 10 de Junho até ao fim de Agosto de 1973, como reforço ao Comando Operacional n.º 3. 

Em 4 de Setembro de 1973 e rendendo a 1.ª Companhia do Batalhão de Artilharia n.º 6521/72, reforça a guarnição de Jumbemrem, integrada no dispositivo de manobra do seu batalhão. 

Tendo sido substituída pela 3.ª Companhia do Batalhão de Artilharia n.º 6520/73 em 23 de Maio de 1974, é deslocada, acompanhando o seu batalhão, para o Sector L2 onde, em 15 de Junho de 1974 rende a Companhia de Caçadores n.º 3548 e assume a responsabilidade do subsector de Geba. 

A 31 de Agosto inicia a deslocação para Bissau, ficando no local um pelotão para proceder à entrega do aquartelamento ao PAIGC em 7 de Setembro. 

Regressa à Metrópole em 08 de Setembro de 1974, em conjunto com o Comando e a CCS.


Tombaram em Campanha

Companhia de Comando e Serviços

Dinis da Conceição Marques, Soldado Atirador número mecanográfico 14842272, solteiro, filho de Eugénio Marques e de Maria José Conceição, natural do lugar de Vale de Tábuas, freguesia de Maçãs de Dona Maria e concelho de Alvaiázere, faleceu em 18 de Dezembro de 1973 no Hospital Militar de Bissau, vitima de ferimentos em combate em resultado de um ataque In na estrada entre Cadique e Jembemrem, aquando da protecção à reparação da estrada. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Maçãs de Dona Maria.
(Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África 1961-1964, 8.º Volume – Tomo II - Livro 2, página 235/2)

João das Neves Fernandes, Soldado Atirador número mecanográfico 13190572, solteiro, filho de Fernando Fernandes e de Conceição das Neves Tavares, natural do lugar de Moita, freguesia de Oliveirinha e concelho de Aveiro, faleceu em 18 de Dezembro de 1973, vitima de ferimentos em combate em resultado de um ataque In na estrada entre Cadique e Jembemrem, aquando da protecção à reparação da estrada. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Oliveirinha, no sarcófago exclusivo dos militares mortos no Ultramar.

(Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África 1961-1964, 8.º Volume – Tomo II - Livro 2, página 236/1)


1.ª Companhia

Alcino Dionísio Leal Rodrigues Gaio, 1.º Cabo Atirador número mecanográfico 11562572, solteiro, filho de Dionísio João Rodrigues Gaio e de Maria Zulmira Rodrigues Leal, natural da freguesia de São Félix da Marinha e concelho de Vila Nova de Gaia, faleceu em 19 de Novembro de 1973 no Hospital Militar de Bissau, vitima de ferimentos em combate em resultado de um ataque In ao aquartelamento em Cadique. Foi inumado no Cemitério de São Félix da Marinha.

(Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África 1961-1964, 8.º Volume – Tomo II - Livro 2, página 231/2)

Francisco Leite Costa, 1.º Cabo Atirador número mecanográfico 12269172, solteiro, filho de José Ferreira da Costa e de Leonor Leite, natural da freguesia de Vizela (Santo Adrião) e concelho de Felgueiras, faleceu em 02 de Janeiro de 1974, vitima de ferimentos em combate em Cadique. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Vizela (Santo Adrião).

(Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África 1961-1964, 8º Volume – Tomo II - Livro 2, página 249/1)

Manuel Carreira Eusébio, Soldado Atirador número mecanográfico 12306072, solteiro, filho de Albino Fernandes Eusébio e de Elisa Torres Carreira, natural da freguesia de Aguçadoura e concelho de Póvoa de Varzim, faleceu em 02 de Janeiro de 1974, vitima de ferimentos em combate em Cadique. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Aguçadoura.

(Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África 1961-1964, 8.º Volume – Tomo II - Livro 2, página 249/2)

Adriano Maria Alexandre, Soldado Atirador número mecanográfico 14182872, solteiro, filho de José Alexandre e de Maria Joaquina, natural do lugar de Moita, freguesia de Pataias e concelho de Alcobaça, faleceu em 25 de Fevereiro de 1974 no Hospital Militar de Bissau, vitima de ferimentos em combate em resultado de um ataque In ao aquartelamento em Jumbembem. Foi inumado no Cemitério Paroquial da Moita.

(Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África 1961-1964, 8.º Volume – Tomo II - Livro 2, página 263/1)


2.ª Companhia

João Moreira da Cunha, Soldado Atirador número mecanográfico 12653372, solteiro, filho de José Eduardo da Cunha e de Clarinda Moreira dos Santos, natural do lugar de São Gião, freguesia de Água Longa e concelho de Santo Tirso, faleceu em 07 de Fevereiro de 1974, vitima de ferimentos em combate em Cafine. Foi inumado no Cemitério da Paróquia de Água Longa – Lugar reservado aos combatentes.

(Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África 1961-1964, 8.º Volume – Tomo II - Livro 2, página 259/2)


3.ª Companhia

Henrique dos Santos Cabral, 1.º Cabo Atirador número mecanográfico 13916172, solteiro, filho de António Vicente Cabral e de Zulmira da Piedade Santos, natural da freguesia de Ponte de Penacova e concelho de Penacova, faleceu em 07 de Outubro de 1973 no Hospital Militar de Bissau, vitima de ferimentos em combate provocado pelo rebentamento de uma mina anti-carro em Jemberem. Foi inumado no Cemitério da Carvoeira – Penacova.

(Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África 1961-1964, 8.º Volume – Tomo II - Livro 2, página 225/2)

Augusto José Abreu, Soldado Atirador número mecanográfico 14342272, solteiro, filho de João da Silva Abreu e de Alda de Jesus, natural da freguesia de Agria Grande e concelho de Figueiró dos Vinhos, faleceu em 07 de Abril de 1974 no Hospital Militar de Bissau, vitima de ferimentos em combate em Jembemrem. Foi inumado no Cemitério Municipal de Figueiró dos Vinhos.

(Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África 1961-1964, 8º Volume – Tomo II - Livro 2, página 277/1)

Francisco Ferreira dos Santos, Soldado Atirador número mecanográfico 14246272, solteiro, filho de Francisco dos Santos e de Luísa Ferreira Eugénia, natural do lugar de Vale de Água, freguesia de Juncal e concelho de Porto de Mós, faleceu em 10 de Maio de 1974 no Hospital Militar de Bissau, vitima de ferimentos em combate. Foi inumado no Cemitério Paroquial do Juncal.

(Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África 1961-1964, 8.º Volume – Tomo II - Livro 2, página 285/2)

Manuel Tomé Ferreira, Soldado Atirador número mecanográfico 14420972, casado com Maria de Fátima Coelho Lourenço, filho de Manuel dos Santos Ferreira e de Maria Fernandes Tomé, natural da freguesia de Estela e concelho de Póvoa do Varzim, faleceu em 30 de Agosto de 1974, vitima de acidente de viação no itinerário Xime - Bafatá. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Estela.

(Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África 1961-1964, 8.º Volume – Tomo II - Livro 2, página 301/1)

José Marcelino Martins
22 de Outubro de 2010
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7163: Patronos e Padroeiros (José Martins) (18): Nossa Senhora do Cheche

Vd. último poste da série de 12 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 – P6581: Fichas de Unidades (7): Companhia de Artilharia 2673 - CART 2673 (José Martins)

Guiné 63/74 - P7168: Notas de leitura (161): Guerra na Guiné, por Hélio Felgas (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Outubro de 2010:

Queridos amigos,
Não é à toa que digo que a leitura deste livro de Hélio Felgas nos teria feito muito bem a todos, os que fomos para a Guiné depois de 1967.
Nada sabíamos, não havia uma base escrita sobre o estado da guerrilha e as suas motivações. Como é evidente, Felgas escreveu uma obra para ressaltar uma resposta militar portuguesa que foi muito menos briosa e consistente do que ele apregoa. Porém, nada se escreveu de mais abrangente e com tanto pormenor.
Não sei como é que é possível termos andado arredados deste texto capital.

Um abraço do
Mário


Guerra na Guiné, por Hélio Felgas (1)

Beja Santos

Era o livro que eu gostaria de ter lido quando fui para a Guiné. O tenente-coronel Hélio Felgas publicou através do SPEME – Secção de Publicações do Estado-Maior do Exército, a sua visão dos acontecimentos da guerra da Guiné, desde 1961 a meados de 1965. Escreve: “Do lado do inimigo procuraremos descrever como começou o terrorismo em 1961, no noroeste da Província. Como se reacendeu naquela área no princípio de 1963, altura em que também iniciou as suas actividades no sul, de onde, em Julho seguinte, alastrou para as florestas do Oio, ao norte do Geba. Como se estendeu à área de Farim em Janeiro de 1964 tentando depois infiltrar-se para leste e para oeste. Como penetrou no Gabu, no nordeste da Província, em Agosto de 1964 e apareceu no Boé, a sudeste, no final desse ano. Como procurou chegar à área dos Manjacos, a oeste, em Novembro de 1964.

Do nosso lado focaremos como, quer em 1961 quer em 1963, dominámos por completo o terrorismo no noroeste da Província. Como procurámos deter as suas numerosas infiltrações nas outras áreas da Guiné, enfrentando no final de 1963 e na primeira metade de 1964 uma situação de certo modo difícil. Como começámos assentando uma malha de ocupação militar apertada e eficiente. Como obtivemos o concurso da quase totalidade da população. Como no final de 1964 eliminámos fulminantemente a infiltração do inimigo no sector dos Manjacos. Finalmente, como pouco a pouco, fomos dominando a situação militar nos outros sectores, obrigando o inimigo a afastar-se cada vez mais para as áreas fronteiriças”.

Como não podia deixar de ser, trata-se de um livro apologético escrito por um oficial com provas dadas no terreno e na escrita (um elevado número de artigos sobre o Congo ex-Belga, problemas africanos em geral, Timor e outros). O primeiro capítulo é dedicado à apresentação da Guiné (esboço histórico, clima fauna e flora, terra e população, vilas e cidades, meios de comunicação, aspectos históricos). A obra ganha realmente interesse no segundo capítulo dedicado aos grupos políticos clandestinos. Pela primeira vez, um oficial do Exército registava num documento público a constituição de grupos políticos emergentes na Guiné, com os ventos da descolonização: Movimento de Libertação da Guiné (MLG), com sede em Dakar, foi de facto no Senegal que se acolheu este grupo como outros, caso da União das Populações da Guiné (UPG), a União Popular para a Libertação da Guiné (UPLG), o Rassemblement Démocratique Africain de la Guinée (RDAG) e a União dos Naturais da Guiné Portuguesa (UNGP). Como o tempo veio a demonstrar, a despeito das muitas tentativas de Senghor crer ver impulsionado um partido genuinamente guineense e não marxista, a generalidade destes grupos limitavam-se a um grupo directivo, decorativo e imaturo, tudo pequenos funcionários ansiosos por ter uma oportunidade de chegar ao poder. O que tinham em comum era crerem “a Guiné para os guineenses” e bastou este motivo central para entrarem em conflito insanável com Amílcar Cabral e o PAIGC. Hélio Felgas chega mesmo a falar em Benjamin Pinto Bull e a sua UNGP, mas não adianta nada sobre as conversações pessoais ditas com Salazar. Do conjunto destes grupos veio a distinguir-se a FLING que virá a funcionar como chapéu-de-chuva da maior parte dos grupos que com o tempo se irão dissolvendo. O MLG considerava-se como continuador da efémera Liga Guineense, constituída no início da República e que procurou zelar por condições de prosperidade e de impulso económico da região. O MLG era a favor de Guiné constituir um Estado federal de Portugal, ideia que não vingou. Na sua propaganda, o MLG manifestava um conflito permanente com os cabo-verdianos a quem atribuía o propósito de quererem dominar os guineenses. Não desprezando a ideia de uma cooperação com o PAIGC era radicalmente contra a união Guiné – Cabo Verde. O seu dirigente era um Manjaco que falava só francês, François Mendy. É o MLG quem irá praticar os primeiros actos de terrorismo em São Domingos, Susana e Varela, em Julho de 1961. Estas escaramuças não tiveram continuidade e aliás a população guineense recebeu-as, de um modo geral, com repúdio, quando assaltaram Varela tudo pilharam e vandalizaram.

A FLING teve núcleos na Guné Conacri, levando para aqui os seus conflitos com o PAIGC. Amílcar Cabral foi forçado a uma atitude de persuasão junto de Sekou Touré para retirar apoio à FLING. Chegou a participar em reuniões promovidas pela Organização da Unidade Africana, mas acabou por não ter continuidade e muito menos desenvolveu uma linha militar. Também Senghor quis apoiar a FLING, chegou mesmo a autorizar a instalação de um campo de treino em Kolda, a poucos quilómetros de Cuntima (Colina do Norte). A irresponsabilidade e a pesporrência liquidaram internacionalmente a FLING. O seu presidente chegou ao atrevimento de declarar que “de Bissau a Catió, de Mansoa a S. Domingos, de Bolama aos Bijagós, de Barro a Xitole, passando por Farim, Bafatá, Bambadinca, não há um palmo de terra guineense onde os habitantes não sejam um militante ou soldado da FLING”. Seja como for, a FLING teve audiência até 1965, entrou depois na obscuridade, isto enquanto o PAIGC era alvo de uma progressiva consideração nos fóruns internacionais.

O PAIGC teve um percurso distinto. Criado em 1956, dota-se de uma estratégia em 1960 (então ainda com o nome de PAI) prepara militares nas academias chinesas, mantém um elevado esforço de aliciamento ideológico graças a personalidades como Rafael Barbosa. O secretariado do PAIGC instala-se em Conacri, é nesta República que começam a chegar os primeiros armamentos que vão sendo transferidos para o interior do território. O PAIGC notabilizou-se por ter impulsionado uma federação de movimentos de libertação das colónias portuguesas. Aliás Cabral terá um papel preponderante na história do PAIGC. As tensões entre o PAIGC e o Senegal foram muito difíceis durante anos. Desde muito cedo que Cabral se lançou nos areópagos internacionais ido obter apoio não só em diferentes países africanos como junto da China comunista, primeiro, e da União Soviética e dos seus aliados, depois. Confundindo as autoridades militares portuguesas, as primeiras incursões do PAIGC na Guiné-Bissau não foram junto das fronteiras mas no interior. Tudo começa em Tite, em Janeiro de 1963, nessa altura a região Sul estava significativamente madura para apoiar o PAIGC, os seus grupos foram sistematicamente destruindo os meios de comunicação, isolando os quartéis portugueses.

O capítulo terceiro é dedicado aos actos de subversão até ao final de 1973. É um relato detalhado sobre tudo quanto se passou na região Norte, envolvendo o MLG. Hélio Felgas descreve a situação do Sul, a partir de 1963, deixando bem claro que os guerrilheiros se apropriaram do terreno. Descreve-os assim: “Estes bandos inimigos não diferiam essencialmente dos utilizados no noroeste da Província pelo MLG. Eram formados por um núcleo de uma dezena de indivíduos armados de pistolas-metralhadoras, pistolas, caçadeiras e granadas de mão, rodeado por uma centena ou mais de Balantas e Nalus dispondo apenas de armas gentílicas e de espingardas roubadas aos nossos cipaios. Cada um dos elementos do núvcleo tinha ao pé de si três ou quatro nativos com a missão de lhe apanharem a arma ou recolherem o corpo, caso ele fosse ferido ou morto”. Outros relatos posteriores levaram a desmentir este tipo de actuação, mas a verdade é que o PAIGC nesta altura não dispunha de bazucas e morteiros, iniciara-se com armamento ligeiro e com a implantação de minas.

Este importante livro foi-me emprestado pelo António Duarte Silva, a quem devemos alguma da melhor investigação que se faz presentemente sobre a Guiné.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7160: Notas de leitura (160): Descolonização Portuguesa - O Regresso das Caravelas, de João Paulo Guerra (2) (Mário Beja Santos)