quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7127: Descoberta do Senegal e da Guiné, pelos Portugueses (1) (Arménio Estorninho)

1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381,Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 22 de Agosto de 2010:

Caro amigo e camarada Carlos Vinhal, saudações guinéuas.

Escrevendo sobre o Infante D. Henrique, enaltecendo o homem que, vencendo o poder da superstição e dai advêm o iniciar das tentativas dos seus navegantes dobrarem o Cabo Bojador, assim como, as pretendidas chegadas ao Senegal e à Guiné.

Arménio Estorninho



Descoberta do Senegal e da Guiné, pelos Portugueses (1)

Parte 1

Em Novembro de 1960, presenciei na Baía de Lagos as Comemorações Henriquinas, o qual constou de um grande desfile naval (com navios mercantes e de armadas de imensas nacionalidades, e, em que se destacou a Esquadra Inglesa com o seu Porta-Aviões). O encerramento deu-se com um espectacular lançamento de fogo de pirotecnia. Das entidades oficiais que estiveram presentes, realço o Presidente da República, Américo Tomás e o Presidente da República Federal do Brasil, Kubitscheck de Oliveira. A fim de se deslocarem de Lisboa para o Algarve, estava previsto que seguiriam em Comboio Presidencial e por isso para a hora aprazada muito povo deslocou-se para a estação da CP em Estombar – Lagoa.

O Presidente do Conselho de Ministros Dr. Oliveira Salazar, quedou-se por ficar em Lisboa e ninguém noticiou qual o motivo. “Atão… atão… e era necessário saber-se?”

Foto 1 > Lisboa> Belém> Monumento Padrão dos Descobrimentos> em 1971. Inaugurado aquando das Comemorações Henriquinas, em 1960.

O Infante D. Henrique, a quem Portugal deve a iniciativa que lhe deu imortal renome entre as nações que mais concorreram para a civilização do mundo, nasceu a 4 de Março de 1394, numa quarta-feira de cinzas, na cidade do Porto. Era o quinto filho do casamento do Rei D. João I e Dona Filipa de Lencastre.

Sendo o Porto o mais velho reduto burguês de Portugal, senão de toda a Península.
A cidade que sempre repeliu com energia triunfante a tutela da nobreza e sempre olhou de soslaio a suberania dos bispos… tem qualquer coisa de simbólico.

Porquanto foi ele, D. Henrique que abriu à ambiciosa e oprimida classe burguesa dessa época as maiores perspectivas de progresso dentro da Nação.

Foto 2 > Gravura da cabeça de D. Henrique, que fazia parte do projecto original para a feitura do Monumento Padrão dos Descobrimentos. Fora extraída do Almanaque Bertrand, de 1939, e com a devida vénia.

Não deixa de ser curioso que tivesse sido o Porto o berço do Infante D. Henrique, que morreu em Sagres, na noite de 13 Novembro de 1460, no seu posto de gerência da obra comercial e industrial dos descobrimentos, antes de terem sido dados os seus frutos de ouro.

Foi D. Henrique bravo, generoso, perseverante, homem esclarecido e de muita alta inteligência. Foi o primeiro que, mergulhando a vista de águia nas profundezas do horizonte, descortinou, para além do Oceano, desconhecidos Mundos.

Deixou os negócios bem encaminhados, perfeitamente definido o objectivo máximo a atingir e de forma que os seus sucessores, apetrechados com a sua fecunda experiência.

Foto 3 > Lagos> Av. das Descobertas> Monumento do Infante D. Henrique> em 1973. Inaugurada aquando das Comemorações Henriquinas, em 1960.

Surge-me agora a oportunidade para comemorar também os 550 anos da morte do Infante D. Henrique, que foi o maior impulsionador das descobertas.

As minhas pesquisas circunscrevem-se ao período que abrange as navegações dos Portugueses, a partir do Bojador até aos descobrimentos do Senegal e da Guiné, e os primeiros contactos da Europa Branca com a África Negra. Que melhor assunto dada a próxima efeméride (13 de Novembro de 2010), senão transmitir alguns resumos de “estórias” vividas, assim como acontecimentos trágicos que agora são apresentados de forma sintética, com base em crónicas ordenadas de fontes narrativas, as quais querem dizer contadas em segunda mão.

Todos os anos se dava mais um pequeno passo no rumo desejado, de saber o que havia depois do Cabo Bojador, mas esses passos eram tímidos devido aos terrores dos rudes navegantes.

Foto 4 > Sagres> Fachada da Fortaleza de Sagres> em 1973. Paisagem agreste e comum no Promontório de Sagres.

Havia mais de dez anos que D. Henrique pretendia que os seus mareantes passassem para além do Cabo Bojador, começando a perder a paciência.

Chamou Gil Eanes, de Lagos, homem culto, que frequentara estudos universitários, em Lisboa, e experimentado nas lides do mar. Encarregou-o de levar a bom termo essa tarefa, tendo partido em 1433, velejou até às Canárias, não tendo ido mais longe.

Ignora-se que tipo de desculpa teria dado, talvez a mesma do costume o do temor de coisas diabólicas que iriam encontrar naquelas paragens inexploráveis.

Foto 5 > Lagos> Monumento de Gil Eanes e Fortaleza de Lagos;
Extraída da Colecção História de Portugal – Publicações Alfa, com a devida vénia.

D. Henrique teve uma conversa grave com Gil Eanes, antes de mandá-lo repetir a tentativa que parecia ter-se malogrado por culpa do navegador.

Com novos alentos, voltou Gil Eanes a partir no ano de 1434. Desta vez quando regressou trazia um punhado de plantas rasteiras e secas, chamadas de rosas de Santa Maria. O Infante mostrou-se mais contente com esta insignificância, por Gil Eanes ter dobrado o Cabo Bojador e ter navegado um pouco mais para além, por um mar calmo ao longo de uma costa desolada.

Foto 6 > Sagres> Fortaleza de Sagres> Rosa dos Ventos de 32 rumos, iniciada a sua utilização em 1434> Obtida em 1973.

D. Henrique não afrouxara as pesquisas no Atlântico, agora, que vencera a barreira da superstição. Queria malhar o ferro enquanto quente.
Logo no ano imediato, 1435, enviou Gil Eanes mais para Sul. Desta vez o mareante partiu alegremente, parece que a pedido seu acompanhado de António Gonçalves Baldaia. Mais ousados navegaram cinquenta léguas para lá do Bojador, descobrindo na areia de uma praia vestígios de homens e de camelos. O facto provocou-lhes enorme alvoroço. Grande notícia a dar a D. Henrique que vieram a todo o pano, trazer-lha.

Repare-se que, de começo, não era muita a iniciativa dos navegantes, que não sabiam que resolução tomar perante cada problema que se lhes deparava. Guiavam-se pelo cérebro do Infante e por vezes bem timidamente. Porque não decidiram logo explorar a região onde desembarcaram? Por temor de cometerem algum erro, certamente. Sobre cada facto era D. Henrique, no seu posto na direcção em Sagres, que raciocinava.

Foto 7 > Sagres> Gravura extraída de uma antiga História de Portugal, com narração até 1910; O Infante D. Henrique avista no horizonte a caravela de Gil Eanes.

Ao receber a boa nova de se encontrarem vestígios de homens e de camelos, deduziu:

Pois que assim é… bem parece que a povoação não é dali muito afastada ou porventura será gente que atravessa com as suas mercadorias para algum porto de mar… Porém é minha intenção de vos enviar lá outra vez em aquele mesmo “barinel” (barco à vela).

Vos encomendo que vades o mais avante que poderdes e que vos trabalheis de falar com essa gente, “filhando” (apanhando) algum porque certamente possais saber, que não seria pequena coisa e segundo o meu desejo disto possa tomar conhecimento.

Com as recomendações anteriormente dadas, a Gil Eanes e a António Gonçalves Baldaia, navegaram cento e vinte léguas mais para Sul do Cabo Bojador, encontrando uma baía onde se abrigaram (estamos no ano de 1436). Então dois moços de menos de vinte anos, foram enviados a terra, a cavalo, em missão de reconhecimento. Internaram-se sete léguas no deserto arenoso, até que “enxergaram” (descortinaram) dezanove negros armados de lanças. Em vez de tentarem falar-lhes, os rapazes de sangue na guelra atacaram-nos com as suas armas. Parece que menos receosos destas, que daqueles homens de rosto alvo que nunca tinham visto e os negros fugiram.

Na manhã seguinte, procuraram os homens, mas inutilmente porque se tinham sumido na vastidão do deserto e levando muito que contar daquele primeiro encontro da Europa Branca com a África Negra.

Partiram, acharam a foz de um rio a que chamaram rio do Ouro, supondo tratar-se do rio Senegal, a que os mercadores mouros davam esse nome e nesse local conseguiram apanhar muitos lobos-marinhos.

Regressaram com estas provas da sua aventura, com a novidade da existência daqueles negros e dos quais nada mais sabiam.

O Infante confiava em que o futuro havia de responder a todas as interrogações, desde que continuasse a procurar sempre com tenacidade e fé.

O Infante D. Henrique interrompera os seus trabalhos de exploração marítima em 1436, recomeçando com felicidade as explorações no Atlântico, em 1441.

Foto 8 > Lagoa - Praia da Marinha> Réplica de uma Caravela Portuguesa;
Extraída do Boletim Municipal de Junho de 2010, da C. M. de Lagoa, e com a devida vénia.

Recomeçaram no Atlântico as viagens de estudo, chamemos-lhes assim:

A primeira capitaneada pelo jovem Antão Gonçalves, levava uma missão específica de trazer do rio do Ouro óleo e peles de lobos-marinhos.

A segunda comandada por Nuno Tristão, cavaleiro de comprovada valentia, devia cumprir uma das ordens predilectas do Infante e ultrapassar o mais possível o último ponto Sul da costa de África até então atingido.
Mas a embarcação deste último era diferente de todas que, até essa data, haviam sulcado os mares, e ao seu modelo dera-se o nome de caravela. Não se parecia com a caravela veneziana nem com a mourisca, filiava-se mais no tipo de grandes barcos de pesca que se utilizavam na costa portuguesa e que, provavelmente, os antigos pescadores lusitanos, ainda sob o domínio árabe, tinham colhido dos barcos tradicionais mouriscos.

Esta que Nuno Tristão comandava, fazia a sua primeira viagem de experiência e logo provou maravilhosamente. O cavaleiro recebera ordem de, “se encontrar gente, fizessem paz com ela.” O Infante queria evitar o erro cometido pelos tripulantes de Afonso Gonçalves Baldaia, que, em vez de tratarem chegar pacificamente à fala com os negros que toparam no rio do Ouro perseguiram-nos às laçadas.

Nuno Tristão foi encontrar Antão Gonçalves, que partira primeiro, na praia do “Sara,” (Saara) perto do rio do Ouro e já com dois prisioneiros indígenas. Antão Gonçalves tinha desembarcado e, de noite, dando uma batida pelo deserto em redor no rasto de camelos, nada descobriram. Mas já de regresso ao navio deram com uma velha e um homem nu. Aprisionaram-nos para os levar ao Infante. Nuno Tristão que ia prevenido com um intérprete mouro, tentou por intermédio deste interroga-los e foi em vão, porque não se entendiam.
Contudo pretendiam era apanhar os primeiros homens que aparecessem. Juntaram forças dos dois navios, de noite foram até junto de uma praia descobrindo um acampamento de nómadas e pela manhãzinha viram uns homens que vinham a um poço para tirar água, alegres caíram de surpresa sobre eles, fizeram prisioneiros e levaram-nos para bordo.

Foto 9 > África> Um mouro> Cópia de um quadro de Fortuny, foi extraída do Almanach Bertrand, datado de 1933, e com a devida vénia

Tratava-se de dez berberes do Sara Ocidental, negros de vários tons, uns mais claros e outros mais escuros, uns vestindo túnica e calças de couro, outros nus, e as mulheres por pudor, usavam o rosto tapado mas deixavam todo o resto à mostra. Entre esta pobre gente, porém, destacava-se a figura imponente de um homem, em que os Portugueses julgavam reconhecer um nobre cavaleiro e trataram-no como tal. Chamava-se Adahu, era pessoa viajada e, por felicidade, falava o arábico, entendendo-se perfeitamente com o interprete mouro que Nuno Tristão levava de Portugal. Era exactamente o que o Infante tanto desejava, alguém daquelas paragens com quem se pudesse entender.

Nuno Tristão achou tão valoroso o feito que, ali mesmo na praia, armou cavaleiro Antão Gonçalves que não parecia muito convencido da importância do seu acto. Partiu imediatamente Antão Gonçalves, para Portugal, com a sua preciosa carga, enquanto Nuno, varando a sua caravela no areal, a calafetou e preparou para continuar a viagem, conforme ordens de seu amo. Percorreu ainda muitas léguas, cerca de cento e cinquenta, para Sul, até que encontrou um promontório estéril e esbranquiçado, ao abrigo do qual lançou ferro. Deu aquele local nu e “alvacento” o nome de Cabo Branco. Desembarcou, para todos os lados que a vista abarcava, apenas se descortinava o deserto desolado.

Receando que se lhe acabassem os mantimentos regressou Nuno Tristão a Portugal, trouxe ao Infante algo de muito valioso, o conhecimento de mais um ponto, a Sul, a acrescentar no mapa do contorno de África, que se ia esboçando no seu laboratório em Sagres.

(Continua)
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6918: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (18): Encerramento do mês do Ramadão

Guiné 63/74 - P7126: (Ex)citações (99): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (Carlos Cordeiro)

1. Comentário do nosso camarada Carlos Cordeiro* (ex-combatente em Angola, onde fez a sua comissão como Fur Mil Inf no Centro de Instrução de Comandos, nos anos de 1969/71) ao poste Guiné 63/74 - P7123: (Ex)citações (98): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (Hélder Sousa / Belarmino Sardinha):

Caros amigos,
Li com atenção os textos e comentários sobre as questões levantadas por José Dinis.

Reconheço que são preocupações legítimas, mas devo também dizer que tenho uma "opinião" muito optimista sobre o que se publica no Luís Graça & Camaradas da Guiné. Note-se que uma parte muito substancial dos postes (e ainda bem) é constituída por memórias.

E é evidente que a memória, por muito boa que seja, não é uma "fonte rigorosa". Mistura coisas que aconteceram em tempos diferentes, é selectiva, etc. Mas daí não vem mal ao Mundo. Haverá sempre algum camarada que, correctamente, chame a atenção para isto ou aquilo. Ou até nem chame, por se tratar de pormenor sem importância.
Um outro aspecto que é importante é que não se assiste, no blogue, a fanfarronices despropositadas. Os camaradas contam as suas experiências, manifestam as suas opiniões, muitas vezes com vigor apaixonado. Significa que estamos vivos e espera-se que de boa saúde.

Resolvemos, de facto, no quotidiano os nossos problemas com o senso comum e não com o conhecimento científico das coisas.

Um exemplo demonstra o que quero dizer: dois camaradas pilotos-aviadores apresentaram as estatísticas dos seus voos antes e depois dos Strella. Através de gráficos demonstravam que depois dos strella tiveram actividade de voo superior aos tempos anteriores. Conclusão minha e de muitos camaradas, certamente: fica demonstrado que quem disse que a FAP tinha deixado de voar pós-strella não tem razão. E, para mim, ponto final.

Só que esta minha opinião não é mais do que isto: "opinião". Outros camaradas, e com o mesmo direito à opinião, podem pôr em causa esta minha conclusão: onde está o documento oficial? São só dois, não sabemos se não foram excepções. No minha zona a experiência não foi esta... e por aí fora. Por acaso, ninguém (que me lembre) comentou neste sentido. Mas podia ter acontecido. E estaria muito bem.

Um outro exemplo: falando com um amigo, fiquei surpreendido com a sua opinião, contrária à da esmagadora maioria de todos os participantes no blogue. Dizia-me que era um erro afirmar que as NT estavam mal preparadas. Em países muito mais ricos e em guerras mais ou menos do mesmo tipo, a preparação era idêntica e o nosso comportaqmento nos diversos TO demonstrava que tínhamos tido a preparação adequada. Nem ele nem quem defende, aqui no blogue, o contrário têm conhecimentos profundos da ciência militar. Têm experiências de vida (e da guerra), sensibilidades, talvez até leituras mais ou menos especializadas diferentes.

O Torcato, aliás, levanta questões bem pertinentes: como se chega ao conhecimento se quem o tem e podia partilhar se fecha em copas? E os esquecimentos, nem sempre propositados?

Ainda há dias um camarada publicou o original do relatório de uma operação. Li-o com atenção e fiquei com dúvidas: parecia-me haver incongruência entre a "fraca intensidade" da acção como vinha relatada e o exageradíssimo gasto de munições. Veja-se só: que conhecimentos tinha eu do combate e que percebo eu de guerra? Mas não me coibi: opinei: ou o relatório estava mal engendrado e a acção teria mesmo sido muito violenta, o havia falta de munições na unidade e daí o relatório ter indicado aquela quantidade para reposição. Com muita simpatia, o camarada respondeu-me: o relatório não condiz com o que se passou na realidade.

Já foi rebatido numa opinião que manifestei. Um camarada, correctamente, corrigiu-me informando-me que no livro x vinha a informação y, que contrariava os pressupostos em que baseava a minha opinião. Fiquei eu e os restantes leitores mais esclarecidos.

Na minha perspectiva, desde que haja correcção e o cumprimento do livro de estilo, a opinião a partir de conhecimento profundo ou "ligeiro" ou do senso comum é salutar aqui nesta Tabanca.

Abraço,
Carlos Cordeiro
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6934: Memória dos lugares (88): Tavira, Quartel da Atalaia, CISMI (Carlos Cordeiro / Manuel Maia / Pereira da Costa)

Guiné 63/74 - P7125: Historiografia da presença portuguesa em África (39): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte III) (Carlos Cordeiro)




Guiné > Bissau >  Fortaleza da Amura >  1908 > Expedição enviada pela metrópole em 1908 . Foto do Arquivo Histórico Militar, Lisboa.  Fonte: Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira (ed. lit.), Nova História Militar de Portugal, Vol. 3.  Lisboa, Círculo de Leitores, 2004, p. 266

(Foto editada e reproduzida por L.G. , com a devida vénia... Digam lá se não parecem mesmo uns soldadinhos de chumbo, estes camaradas que combateram forte e feio no Oio, em 1908; estive em 7 de Março de 2008 na fortaleza da Amura, em Bissau,  e juro ter reconhecido o fabuloso poilão que aparece aqui na foto de 1908...).

Da cronologia constante da obra acima citada (e cuja leitura se recomenda), retira-se a seguinte informação: 

17 de Junho de 1913: "A campanha do Oio termina vitoriosa com a implantação de um posto militar em Mansabá e a captura de elevado número de armas!" (p.450)... 

Em relação ao ano de 1908, pode ler-se,  p. 490:  

(i) "O capitão José Carlos Botelho Moniz parte de Cacheu contra os felupes de Varela que se  negavam a pagar impostos, atacando e destruindo a povoação, quebrando o mito de os Brancos não entrarem em território felupe e desarmando os de Jufunco e Egim (10 a 16 de Março)";

(ii) "O governador Oliveira Muzanty, obtendo reforços da Metrópole, organiza a maior expedição efectuada na Guiné até 1963. vencendo a resistância biafada emcabeçada por Unfali Soncó em Cuor e Ganturé e restabelece as comunicações entre Bissau e Bafatá (5 a 24 de Abril)";

(iii) "A expedição enviada à Guiné no tempo do governo Muzanty regressa à metrópole (15 de Maio)".

Sobre o Arquivo Histórico Militar convirá dizer que é o fiel depositário do principal património documental do Exército, incluindo valiosos fundos e colecções, relativos às campanhas militares em Portugal, na Europa e nos territórios coloniais e ultramarinos, em especial dos séculos XVIII a XX. Para mais informações consultar Actividades/Serviço de Atendimento Público e também o Guia de Fundos. Horários: Seg a Sex: 10h30-18h (requisições até às 16h30h). Endereço: Largo dos Caminhos de Ferro, 2, 1100-105 Lisboa / Telefone: 218 842 563 / Fax: 218 842 514 / E-Mail: ahm@mail.exercito.pt. / Acessos: Autocarros: 9, 12, 28, 35, 39, 46, 90, 104, 107, 203, 206, 210. Metro: Santa Apolónia. (LG)
 














Lisboa > Câmara dos Deputados > Intervenção do deputado António Silva Gouveia, representante da Guiné  > Sessão de 19 de Junho de 1913  (Com a devida vénia... 

Fonte:  Direcção de Serviços de Documentação e Informação da Assembleia da República, a quem, na qualidade de ex-combatentes na Guiné,  estamos reconhecidos pelo trabalho de digitalização efectuado e pela sua divulgação na Net).


1. Continuação da publicação de excertos de intervenções do deputado António Silva Gouveia, empresário, fundador dsa Casa Gouveia, representante da Guiné na Câmara dos Deputados, na legislatura de 1911-1915.  Pesquisa de  Carlos Cordeiro, membro da nossa Tabanca Grande, Professor de História Contemporânea na Universidade dos Açores, São Miguel, Região Autónoma dos Açores  (foto à esquerda). 





Nota de CC

Nesta sua nova intervenção, também curta e directa como é timbre de um “prático”, como por vezes se autodefinia, o deputado Silva Gouveia trata de três assuntos. As dúvidas, que convosco partilho, dirigem-se sobretudo ao caso dos “grumetes”.

Os grumetes eram nativos mais ou menos cristianizados, de diversificadas origens étnicas. Como tinham familiares nas povoações, eram óptimos intermediários no comércio de Bissau e Bolama, além de servirem nas diversas tarefas ligadas ao comércio e à navegação. Viviam em Bissau, fora das muralhas, e em Bolama, misturados com a população local. Variavam de alianças conforme os interesses em jogo[1]

Em 1892, nas negociações para pôr termo a sangrentos combates entre as tropas fiéis a Portugal e os papéis auxiliados pelos grumetes, estes reconheceram­‑se súbditos de Portugal, devendo obediência aos administradores. A partir daí, os grumetes foram chamados a participar em campanhas de ocupação efectiva do território.

É possível que aquela “última guerra” de que falava o deputado se referisse aos combates contra os papéis para a conquista da ilha de Bissau. De facto, nessa campanha de 1908-1909, os grumetes afirmaram-se aliados dos portugueses, sendo pois natural que daí tivesse resultado a destruição, pelos papéis, das suas casas.

Compreende-se, assim, a posição do deputado relativamente aos grumetes: no fundo, além de serem essenciais à boa marcha dos negócios, demonstravam também fidelidade aos portugueses, partilhando com as nossas tropas as agruras e os dramas de campanhas bem violentas contra diversos régulos e suas tropas. Como homem de negócios, era natural que pretendesse a poupança nos gastos públicos, sobretudo os respeitantes à Guiné. Daí, talvez, o seu pedido para que não fossem enviadas tropas da metrópole, como tinha acontecido em 1908, com o desembarque de uma força metropolitana de cerca de três centenas e meia de oficiais e praças que se manteve na Guiné dois meses.

Só que… afinal nem António Silva Gouveia conseguiu antecipar o comportamento futuro dos grumetes, que tanto louvara. Em 1915, aliados aos papéis, os grumetes atacaram tropas portuguesas, comandadas por Teixeira Pinto. Com a vitória dos portugueses, dava-se por finda a “pacificação” da Guiné[2].
 


[1] Veja-se Wilson Trajano Filho, “O trabalho da Crioulização: as práticas de nomeação na Guiné colonial”, consultável em  www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/etn/v12n1/v12n1a06.pdf

[2] As informações relativas às campanhas militares na Guiné nesses anos foram retiradas de: Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira (dir.), Nova História Militar de Portugal, III vol., Lisboa, Círculo de Leitores, 2004, pp. 264-270.


[Continua]

[ Revisão / fixação de texto / título / edição de imagens: L.G.]


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Nota de L.G.: 


Ainda sobre a figura dos grumetes, acima referida :

"Os grumetes eram africanos que, vivendo nas povoações luso-africanas e adoptando com grande liberdade os hábitos cristãos e os modos lusitanizados de ser, operavam como remadores, construtores e pilotos de barcos, carregadores e auxiliares no comércio.

"Como categoria sociológica, eles desempenhavam um papel chave no frágil compromisso em que a sociedade crioula se fundava, sendo os intermediários que faziam a delicada mediação nos relacionamentos entre a minoria de comerciantes europeus e luso-africanos e os régulos das sociedades tradicionais africanas que produziam bens para exportação".  (Wilson Trajano Filho, da Universidade de Brasília, in Outros Rumores de Identidade na Guiné-Bissau)".



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7124: Blogoterapia (160): É com orgulho que passo a vossa palavra, a vossa lição de vida (Cátia Félix)

1. Mensagem da nossa amiga Cátia Félix, com data de hoje, 13 de Outubro de 2010:

Amigo Luís
Venho por este meio agradecer por não se terem esquecido de mim. Acreditem que vocês estão sempre no meu coração.
Transcrevo o meu comentário, como agradecimento...

Agora é a minha vez amigos...
Todas as noites clico no link do nosso "cantinho" (blog) e delicio-me com as vossas histórias...
Como devem perceber, ontem não o fiz porque cheguei tarde a casa (ai a malandreca eheh)...

Mas, meus queridos amigos(as) se ontem tive uma tuna académica a cantar-me os parabéns, HOJE ao chegar aqui recebi o meu maior presente: a lembrança, a amizade, o carinho, o calor, o abraço de todos vocês. Tudo o que sempre recebi desde o 1.º dia.

Mas acreditem mesmo, que nunca me esqueço de vocês, de tudo o que significam para mim e deveriam significar para o nosso país, este Portugal que neste momento se encontra em "guerra" mas ninguém tem agora a vossa coragem para o defender.

É com todo o orgulho que sempre que posso, passo a vossa palavra, a vossa lição de vida. A minha mensagem não vai parar de ser transmitida, assim como vos prometi.

Um beijinhos enorme e um xiii coração apertadinho em todos vós
Cátia Félix


Beijinhos
Cátia Félix
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Notas de CV:

Vd. poste de 12 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7114: Parabéns a você (164): Jovem tertuliana Cátia Félix (Miguel Pessoa / Tertúlia / Editores)

Vd. último poste da série de 6 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7090: Blogoterapia (159): Paradoxo e uma Orquídea (Torcato Mendonça)

Guiné 63/74 - P7123: (Ex)citações (98): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (Hélder Sousa / Belarmino Sardinha)

1. Incentivados pelo nosso camarada José Manuel Matos Dinis, alguns elementos do chamado Grupo do Cadaval propuseram-se a comentar o texto publicado no Poste 7117.

Vamos começar pelas contribuições dos camaradas Hélder Sousa e Belarmino Sardinha



2. Hélder Sousa

Caríssimo Zé Dinis
Enviaste-me um texto sob o título acima indicado e pedes colaboração pela leitura e apreciação do mesmo.

Não me recuso a fazê-lo, embora não alcance o que realmente pretendes.
O que escreves não tem oposição da minha parte.

No início, partes das tuas preocupações familiares para teorizares, e bem, sobre a 'formatação' das mentes, das opiniões, do sentir (ou até da ausência disso tudo), para concluíres sobre a 'perversão do conhecimento'. Nada a opor ao que dizes e te preocupa, a não ser o reforço da tua ideia referindo exemplos do dia-a-dia, até também no Blogue, o que é perfeitamente natural, pelo menos para mim, que teorizo ser o Blogue uma amostra relativamente representativa do universo nacional.

Segues depois com uma frase interessante, sendo até óbvia, e que é: Porque, na verdade, se não sabemos, não temos opinião própria. Apenas reproduzimos opinião, de sentido continuado, ou de sentido contrário. Isto depende de alguns pressupostos enquanto ouvintes, ou leitores, de opiniões. Isto leva-nos a considerar que a formação da opinião deve sempre ter por base uma sólida consistência, obtida por experiência própria ou por busca de conhecimento.

Aqui há um perigo.... que é "se não estavas lá, não podes falar, não tens conhecimento directo, não tens experiência disso que estás a falar", ou também um outro perigo que é o de se questionar sobre as "fontes" onde se vai adquirir o conhecimento 'não-directo'.

Quanto à primeira parte é muitas vezes um 'argumento' para 'calar' o interlocutor, mas é falácia. Então como se pode falar da viagem de Vasco da Gama? 'Não estavas lá'!. E da defenestração do Miguel de Vasconcelos? 'Também não estavas lá'! É claro que se pode 'falar' sobre esses assuntos, o que se tem é de ter a cautela de dizer 'segundo o meu ponto de vista', ou 'segundo a minha opinião', ou ainda 'de acordo com o que li sobre isso'. Torna-se de facto, dessa forma, uma opinião pessoalizada, mesmo tendo por base uma informação recolhida algures.

Quanto à escolha das 'fontes', pois isso é um outro problema. Uma atitude intelectualmente honesta é aquela que tenta fazer a prova do que lê, coloca a dúvida metódica e tem cautelas e reservas em 'enfileirar' desbragadamente na primeira corrente que aparece. Um pequeno exemplo: quantas vezes já lhes apareceu um pretenso (repararam? escrevi 'pretenso'!) documento 'oficial' do Rosa Coutinho a tornar 'público e notório' o seu comprometimento com o MPLA? E questionaram sobre a veracidade dele? Por um bocadinho que fosse? Pois, a tal dúvida metódica...

Calculo que os cuidados que atrás refiro podem ser aqueles que justificam a tua frase, que se segue: E como somos sociais, pode acontecer ocasiões em que, sem termos a sabedoria adquirida sobre certa matéria, apenas o conhecimento que resulta do contacto com ela, sem ocasião para reflectir interpretativamente, apesar disso, somos capazes de tomar posição, defendendo-a, ou atacando-a, com maior ou menor tenacidade. E o essencial, nessas alturas, não passará de uma treva. Mas pode-se formar correntes de opinião e conduzir as pessoas por caminhos errados, daí, que me pareça necessária alguma temperança antes de enfileirar em movimentos.

Segues depois referindo situações que frequentemente se encontram no nosso Blogue e parece-me que propões que nos documentemos o melhor e o mais possível para defender as posições que entendermos tomar.

Parece-me justo! Mas acho que, de um modo geral, é aquilo que fazemos.

Olha, há pelo menos uma questão que é bem notória e que acho se deve ter algum cuidado em abordar. Trata-se do velho 'cavalo de batalha' sobre a alegada tese da 'guerra perdida' e que tem sido sistemática e metodicamente colocado de modo a tentar ganhar cada vez mais adeptos para o combate a essa alegada teoria. Às vezes parece-me que se procura passar do combate à teoria da 'guerra perdida' para a tese da 'guerra praticamente ganha', captando as sensibilidades daqueles que conseguem convencer que estão a ser chamados de cobardes e depois....

Portanto, como vês, para comentar o teu texto acabei por me espraiar por diversas áreas pois não atinei com o teu objectivo concreto. Posso, em resumo, dizer que concordo com a sua substância, que comungo das tuas preocupações e que estou atento às tuas sugestões.

Um abraço
Hélder


3. Belarmino Sardinha

Meu caro Zé Dinis,
Respondo ao teu texto, começando por dizer que o vi já tarde e depois de ter lido a resposta que o Hélder enviou, estou assim beneficiado e mais rico na leitura que ambos me proporcionaram e mais ainda na reflexão a que fui obrigado. Ainda bem que existem amigos que nos levam a pensar, pela nossa cabeça evidentemente, caso contrário era uma vida muito menos interessante, digo eu.

Fiquei um pouco como o Hélder, sem perceber concretamente a razão ou o objectivo, mas é um desafio interessante e beneficiando da análise soberba do Hélder, com a qual concordo, parece-me compreender o que dizes e pretendes. Levantas uma questão pertinente, quando alguém fala de coisas que desconhece e/ou faz afirmações sem qualquer base de suporte, mas como já respondeu o Hélder e eu concordei, não vou aqui procurar outras palavras para dizer o mesmo.

Fazendo um pouco a comparação com o teu início de texto, sem querer fazer comparação com o teu neto, maravilhoso estou certo, tenho um pássaro “amigo” (digo amigo porque não é meu e morde ao dono, a mim não), papagaio, que responde ao que ouve, por vezes com elevada certeza, contudo não tem conhecimento, digo eu sem que o possa afirmar, falta-me a base científica para o provar, apenas o digo por que não foi à escola e não aprendeu pela cartilha em que todos aprendemos, mas, também esta afirmação me levanta dúvidas, não sei se fomos todos, afirmação que não posso fazer nem comprovar, mesmo sendo habitual e comum dizer-se isto…

Ficaríamos eternamente com exemplos de afirmações, frases feitas e tudo o mais, “vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar” podemos tecer opiniões e formular juízos sem, contudo, podermos fazer prova, limitámo-nos a acreditar no que alguém escreveu ou disse e serve de ponto de partida para a intervenção que, dependendo da receptividade, variável com o estado emocional na altura, com a atenção/dedicação dispensada, com a própria capacidade de apreensão/compreensão etc. etc. etc.

Também concordo com o Hélder ao lembrar que esta necessidade de esclarecimento, a que chamo bate-papo escrito, tem como base o blogue, é nele que normalmente comentamos ou escrevemos e onde é susceptível aparecerem coisas difíceis de provar, mas parece-me ter sido mesmo essa a razão da criação do blogue, se não estou errado, cada um contar a sua história para não serem os que nada sabem a contá-la, deturpando ou moldando os factos consoante os interesses. Esse é um risco que se corre, tal como diz o ditado “no melhor pano cai a nódoa”.

Pela minha parte, subscrevendo na quase totalidade o que já havia sido escrito pelo Hélder admito não estar isento de falhas. Mas atenção, não defendo nem reconheço qualquer valor a quem diz ou escreve tudo o que lhe apetece ou vem à cabeça sem uma base mínima de conhecimento ou informação considerada fidedigna.

Finalizo lembrando que o debate de ideias é saudável e salutar, desde que feito com regras de educação, medidas que a idade e experiência de vida nos conferem, sem certezas absolutas ou decisões inalteráveis e respeitando as opiniões divergentes, se não obrigados a segui-las.

É tudo por agora,

Um abraço
BS
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Nota de CV:

Vd. poste de 12 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7117: (Ex)citações (97): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P7122: Convívios (278): 40 anos depois... Pessoal do Comando de Agrupamento nº 2957, Bafatá, 1968/70 (António Rodrigues)














Vila Nova de Famalicão > 9 de Outubro de 2010 > Convívio do pessoal do Comando de Agrupamento nº 2957, Bafatá, 1968/70... Legenda da foto de grupo: Saavedra (1) e esposa (2), Manuel Rodrigues (3), Aristeu Tichas (4), Belmiro Moreira (5), Carlos Gomes (6), Carlos Cocho (7) e esposa (8), Esposa do António Rodrigues (9), Fernando Gouveia (10), Belmiro Santos (11), Avelino Resende (12) e António Rodrigues (13).


Foto: © António Rodrigues (2010). Todos os direitos reservados



1. Mensagem do nosso camarada António Rodrigues (ex-1º Cabo, Agrupamento nº 2957, Bafatá, 1968/70):


Amigo Luis Graça e camaradas do blogue, boa tarde a todos. É com enorme satisfação que volto a este lugar para dar conta de que, felizmente, e depois de 40 anos de pesquisa em pesquisa, sempre consegui reunir um punhado de bravos camaradas do CAGRUP 2957, como o meu amigo Hélio Felgas gostava de o tratar o Agrupamento como tal.

Como disse, depois dum aturado trabalho, de papéis para aqui, telefonemas para ali, eis que consegui reunir os amigos que as fotos juntas documentam. Peço desculpa desde já por este grande interregno, mas andei, ando, numa roda viva para encontrar todos, pois parte deles para meu desgosto, mesmo já depois de confirmada a sua vinda ao encontro, acabaram por inesperadamente falecer, e alguns mais, dado ainda os seus afazeres profissionais e ou familiares e saúde - como foi o caso do Major General Manuel Duarte Pedrosa, dada a idade avançada (89 anos) -   não se puderam juntar a nós.

Mas ficou prometido que quando um novo encontro se realizar mais ao centro, estará presente o ex-Sargento Heitor Varela, ausente desta vez também pelas mesmos motivos  -78 anos, muito debilitado das pernas, e dado se ter de deslocar do Algarve até V.N.Famalicão. Há o Miguel, sim o Miguel também se encontra debilitado,  foi-lhe amputada uma perna!!!... Bem fico-me por aqui...

Luis Graça, aproveito para junto enviar umas fotos do convívio [, realizado no dia 9 do corrente], das quais fazem parte o Fernando Gouveia, de quem sou amigo, me tornei, já que no CAgrup estivemos a trabalhar juntos... Agradeço a sua publicação e, se possivel for, faz referencia ao link em que as fotos todas e os videos vão estar disponiveis.

Aproveito para enviar também a minha foto à militar que nunca mais enviei, porque de todo não tinha mais passado por aqui. Vou fazer um novo percurso a partir de agora, espero ser mais pontual no aparecimento por aqui para ver se encontro o resto do pessoal em falta e obrigar os já encontrados a aderir a este nosso grande meio de nos encontrarmos. 

O meu muito obrigado pela atenção que, estou certo, me vais dispensar...
Desculpa toda esta ladainha, mas eu não sou capaz de parar depois de começar a escrever ou z falar. Se achares este escrito muito grande, por favor CORTA, o que entenderes estar a mais, uma boa reprimenda aos alunos mal comportados faz bem. E eu gosto de ser avisado que estou a exagerar, daí pedir me digas como, onde e como me devo portar na escrita, para não te ocupar tempo e espaço. Não quero estar a encher o blogue com coisas que não podem nem devem ser escritas para evitar problemas. O meu obrigado e as desculpas pelo exagero da minha parte... 




Guiné < Zona Leste > Bafatá > Comando de Agrupamento nº 2957 (1968/70) > O 1º Cabo António Rodrigues.




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Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 28 de Junho de 2008 > 
Guiné 63/74 - P2993: Tabanca Grande (77): António Rodrigues, ex-1.º Cabo do Agrupamento 2957 (Bafatá, 1968/70)
(...) Estive em Bafatá, Guiné, desde Outubro de 1968 a Abril de 1970 e como até esta data ainda não tive o prazer de encontrar nenhum camarada do meu tempo, nessa missão, e como já se passaram 40 anos, ou melhor, faz este ano os 40 anos da nossa partida para a Guiné, gostaria de encontrar os meus e outros camaradas de armas desse tempo, pois convivi com o pessoal do Agrupamento 2957.

Como estava na parte de Operações e Informaçoes, privei de perto com o Gen Spinola, Cap/Gen Almeida Bruno, Maj Carlos Saraiva/Lamego, Cor Teixeira da Silva e o meu grande amigo Cor/General Hélio Felgas.
Com ele tive a felicidade de no ano passado ter uma conversa ao telefone e hoje lembrei-me dele, mas como não sei da sua saúde, até tenho receio de voltar a ligar e já não o encontrar.

Gostava de poder fazer parte desta tertúlia, pois só agora disporei de algum tempo e gostava de falar convosco, se isso me for permitido, pois também tenho algumas boas/más recordações da Guiné, como por exemplo a Operação Lança Afiada, que foi por mim escrita e reescrita não sei quantas vezes, mas isso fica para mais tarde.

Vi o Spínola a chorar em Bafatá com a barba por cortar de cinco dias e o Hélio Felgas abraçado ao Teixeira da Silva, também a chorar. (...

 Pertenci ao COM AGRUP 2957, Bafatá-Guiné 1968/1970.

Estou a viver, como sempre, em Vila Nova de Famalicão e gostava de deixar o meu contacto, pois estou reformado e estou sempre disponível, até mesmo para os e-mails que possam aparecer, já que aprendi a lidar com estas coisas novas (...)

Antonio Azevedo Rodrigues (...)

Guiné 63/74 - P7121: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (22): Fotograma do Honório com o Cap Neto (Jorge Félix)



1. Mensagem do Jorge Félix, com data de 13 de Maio p.p.:

Assunto: Foto/frame do Honório

Caro Luís,

Sempre atento e leitor dos "nossos" postes, diariamente lá vou espreitando, pondo assim o tratamento das maleitas africanas no seu devido lugar.

Tenho na lembrança que pedias uma foto do Honório, figura lendária da "Guerra" da Guiné.

Não é uma foto, são uns fotogramas de um video que "rola" por aí. Não te envio uma lenda mas sim duas. Junto está o Cap Neto, que o pessoal de Nova Lamego, Bafatá, Bambadinca,  dos idos de 68/69, devem recordar.

Uma foto que cheira a Gin, mesmo sem tónica.

Abraço

Jorge Félix [, foto à esquerda].

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Nota de L.G.:

Último poste da série > 29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6276: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (21): Fotografias de pilotos em Cufar, Dezembro 73/Janeiro 1974 (António Graça de Abreu)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7120: Ser solidário (91): Sarau cultural para angariação de fundos a favor da Guiné-Bissau (José Teixeira)

1. No passado dia 25 de Setembro de 2010, a Tabanca Pequena levou a efeito, na Senhora da Hora, Concelho de Matosinhos, um Sarau Cultural* cujo fim era a angariação de fundos para os seus projectos de angariação de Sementes e abertura de poços de água potável na Guiné-Bissau.
Desse acontecimento damos notícia, publicando o Poste 492 da Tabanca de Matosinhos, de autoria do nosso camarada José Teixeira.



SARAU CULTURAL

Com o objectivo de angariar fundos para o nosso projecto “Sementes e Água Potável para a Guiné-Bissau", tendo em vista o pagamento das despesas contraídas com a abertura de um poço de água potável em Medjo no Sul da Guiné, o qual já se encontra construído, a Tabanca Pequena promoveu no passado dia vinte e cinco de Setembro um almoço seguido de Sarau Cultural em parceria com o Club Lions da Senhora da Hora e do CIVAS – Centro de Infância, Velhice e Acção Social da Senhora da Hora.

Esta Associação teve a amabilidade de nos ceder graciosamente as excelentes instalações que possui na Senhora da Hora.

O empenho das Associações intervenientes foi de tal modo elevado, que a participação no evento excedeu todas as nossas expectativas, tendo havido necessidade de encerrar as inscrições por falta de espaço para acolher todos aqueles (as) que mostraram vontade de estar connosco nesta Festa de angariação de fundos. Agradavelmente, muitos dos participantes não são ex-combatentes o que nos alegra profundamente.

Salientamos a presença de todo o executivo da Junta de Freguesia da Senhora da Hora, da Direcção do CIVAS, da Associação Serpa Pinto com Sede em Cinfães do Douro, e membros dos Clubes Lions da Senhora da Hora e da Trofa, liderados pelo nosso camarada “tabanqueiro” Jaime Machado, Presidente do Clube Lions da Senhora da Hora.
Registe-se ainda a agradável presença de duas senhoras “Lionistas”que se deslocaram do Algarve propositadamente para participar na festa, bem como dois ex-combatentes que se deslocaram de Cascais a Matosinhos. Outros vieram de Famalicão pela primeira vez, todos para dar mais força ao nosso projecto.

Depois do almoço, seguiu-se uma tarde cultural animada com fado, poesia e fado de Coimbra.
A jovem Francisca Silva deleitou-nos com a sua excelente voz de fadista, acompanhada à guitarra por Joaquim Martins e à viola por David Guimarães nossos camaradas e ex-combatentes da Guiné.
A primorosa guitarra do Prof. Pedro Pinto e a viola do nosso camarada Álvaro Basto, deliciaram os presentes com algumas belíssimas guitarradas de Carlos Paredes, Pedro Caldeira Cabral e Francisco Filipe Martins
O Conjunto ” Do Choupal até à Lapa”, que teve à guitarra o Almeida Ulisses e o Joaquim Martins e à viola o David Guimarães, para além de magníficas guitarradas que sabiamente souberam tirar dos seus instrumentos, acompanharam a voz do Carlos Costa, nosso camarada de tertúlia de velha data no fado de Coimbra que ele tão bem sabe interpretar com a sua excelente voz de tenor.
Na poesia, o Fernando Santos, deliciou-nos com alguns poemas do seu reportório acompanhado pelo djambé que seu filho tocou primorosamente.
O Zé Teixeira interpretou alguns dos seus poemas escritos durante Guerra Colonial.

Já era quase noite quando os participantes se dispuseram a seguir para suas casas, contentes e felizes por um dia bem passado.

Feitas as contas, verificamos com satisfação que os donativos recolhidos ultrapassaram os 1.300 €, o que quase garante o pagamento das obras do poço de Medjo.

A toda a equipa da organização, a todos os que quiseram participar e contribuir para a causa e sobretudo aos que nos deliciaram com a sua arte e engenho os nossos mais profundos agradecimentos.

Seguem-se algumas fotografias bem elucidativas da forma como a FESTA aconteceu.

Zé Teixeira

A Sede do CIVAS na Senhora da Hora, que nos acolheu amavelmente

Um pormenor da sala de jantar

Outro pormenor da sala

O Presidente da Tabanca Pequena na sua saudação inicial aos participantes

O Álvaro Basto no acolhimento das participantes oriundas do Algarve

Outro aspecto da Sala, vendo-se em primeiro plano o Presidente do CIVAS

O Salão Nobre do CIVAS, onde se realizou o SARAU CULTURAL

A fadista Francisca Silva acompanhada à guitarra pelo Joaquim Martins e à viola pelo David Guimarães

O Fernando Santos acompanhado pelo seu filho e outro amigo recitando poesias da sua autoria

Uma bela guitarrada do Prof. Pedro Pinto acompanhado à viola pelo Àlvaro Basto

O Conjunto " Do Choupal até à Lapa" e os seus fados de Coimbra
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6939: Ser solidário (84): Sarau cultural para angariação de fundos a favor da Guiné-Bissau (José Teixeira / José Rodrigues)

Vd. último poste da série de 9 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7104: Ser solidário (90): Missão a Dulombi. Vila do Conde > Guiné-Bissau, Outubro de 2010 (Fernando Barata)

Guiné 63/74 - P7119: História de vida (31): Monte Novo das Flores e a minha paixão pela natureza (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa tertuliana Felismina Costa* com data de 11 de Outubro de 2010:

Amigo Carlos vinhal
Espero que a história que tenho para vos contar valha a pena ser lida.
Para mim, ela é a realidade da minha adolescência, num espaço calmo e tranquilo, rodeada pelos meus pais e irmãos. Claro que a limitarei ao estritamente necessário, para que seja entendida a minha vivência, pacata e feliz, naquele espaço Alentejano onde nasci e cresci. Toda ela é real.


Monte Novo das Flores

Desde Menina que sou uma apaixonada pela Natureza.
Penso que deve ser uma herança dos quatro costados, como soi dizer-se, por aquelas bandas.

Nasci, e vivi, junto de meus avós maternos em Santa Luzia, no Concelho de Ourique, até aos onze anos.
Meu avô Carlos, pequeno agricultor, cultivava uma cerca, de uns cinco hectares, junto à casa onde vivia, e era igualmente um apaixonado pela terra. Desde muito pequena, que me encantavam aquelas lides. O cheiro da terra, o cheiro da erva, o orvalho matinal, e o expoente máximo daquele espaço, as flores campestres, que sempre aceitei como uma oferta Divinal, e que a Primavera me oferecia sem usura, cobrindo aquele chão moreno, a perder de vista.

Os tempos eram difíceis, o trabalho rareava, e meu pai achou por bem arrendar uma pequena quinta, de uns cinco hectares, (dividida por um pequeno ribeiro, que corria todo o ano), e que a troco de muito trabalho, nos proporcionava o sustento necessário.

Esse espaço, situa-se junto à estrada Nacional 263, que liga Beja a Odemira, insere-se num pequeno vale, num lugar de nome Vale Coelho, e o Monte, (porque cada casa tem o seu nome próprio), para além do pequeno aglomerado em que se insere, chamava-se, Monte Novo das Flores, e saindo de Santa Luzia, no sentido para Odemira, fica 2,5km a seguir.

Acho que foi das melhores prendas que a vida me deu!

Tinha onze anos quando os meus pais arrendaram esse espaço, e vivemos lá até aos meus 19 anos.
Era uma casa grande, e o Sol acordava dentro dela, espalhando os seus raios doirados, por todo o espaço circundante.

Tive a sorte de nascer no seio de uma família de grande sensibilidade, e de outros valores, que me fizeram crescer segura e feliz, valorizando a vida, no mais ínfimo pormenor.

Quando Março chegava, tudo floria.

As árvores nuas, cobriam-se de milhares de flores brancas e rosa, desenhando os meus livros de poesia.

A terra era preparada para as sementeiras de verão, e, dos braços do pai, saía a força e o saber, que transformavam aquele espaço inculto durante o Inverno, num tapete moreno e fofo, pronto a receber a semente, que em pouco tempo se transformava em alimento, em abundância, em prazer.

Terei que vos dizer que a nossa prol era formada por seis elementos: o pai, a mãe, e nós os quatro, eu sou a mais velha, a seguir dois rapazes e por fim outra rapariga, que teve o privilegio de nascer ali.

Os pais, já partiram há muito, mas permanecem, permanecem em nós, na nossa saudade, na nossa recordação, no nosso agradecimento, na nossa alegria, porque foram os nossos mestres, os professores da vida, da nossa vida: a seu lado, aprendemos a terra, os ciclos da vida, o prazer de semear e colher, saber que o esforço era recompensado, que à nossa volta tudo tinha o efeito das nossas mãos, moldava-se cada pé plantado, assistíamos ao seu crescimento, à sua floração, à sua fecundação, ao seu desenvolvimento, qual filho que ajudamos a crescer.

E, eu crescia encantada, saboreando o prazer do conhecimento daquelas lides em que participava activamente.

Para além disso, o ambiente era fantástico! A mãe educava-nos com poesias, a sua moral elevada, variava entre a atenção dada ao trabalho que não tinha fim, e à nossa formação que não descurava, quer pelo exemplo, quer falando connosco, testando as nossas capacidades, esclarecendo dúvidas, ensinando, formando. O pai, era como nós, um admirador da mãe e um ser extremamente sensível e ao mesmo tempo alegre e bem disposto, amigo!

A terra, dava tudo.

O trigo, as batatas, as favas as ervilhas, os frutos, uma imensa variedade de frutos, os vegetais, o azeite, enfim. O fim de cada dia, tinha o cheiro da Natureza pura e viva, os aromas misturavam-se e aspiravam-se a plenos pulmões, saudavelmente absorvidos. Chegávamos a casa cansados, mas felizes.

E as noites de Verão, magníficas, eram um encantamento para a minha alma simples e sonhadora de adolescente.

Em Julho, as cantigas das cigarras e dos grilos entoavam na noite, como caixas de música, cujo som recordo nitidamente.

O luar, claro e luminoso, iluminava a terra inteira, num céu de encanto, onde as estrelas brilhavam, onde a via-láctea se mostrava, qual estrada deserta, numa ascensão e queda, deixando-me a pensar, que por ela quantos milhões de anos teriam já passado.

Felismina Costa
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6881: Blogoterapia (154): Encontrei no Blogue seres humanos extraordinários, que admiro, preso e considero amigos, apesar de só os conhecer virtualmente (Felismina Costa)

Vd. último poste da série de 13 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6590: História de vida (30): O dever militar chamou-me: Joaquim Cardoso Veríssimo (1949-2010),ex- 1º Cabo At Inf, CCAÇ 5, Canjadude, 1971/73) (José Corceiro)

Guiné 63/74 - P7118: Cartas, para os netos, de um futuro Palmeirim de Catió (J. L. Mendes Gomes) (2): Oficial e cavalheiro: De trânsito por Tomar a caminho da Madeira



Tomar > Regimento de Infantaria 15 > Fachada do quartel > "O Regimento de Infantaria 15, no período de 1961 a 1975, torna-se uma das maiores unidades mobilizadoras de tropas que combatem na Guerra do Ultramar"...   Foto (e legenda) de Vitor Pessa, ex-Fur Mil, CCS/BCAÇ 3843 (Moçambique, 1971/73)... (Foto editada por L.G.)


Fonte: Blogue Batalhão de Caçadores 3843 (2009) (Com a devida vénia...)


1. Continuação da série Cartas, para os netos, de um futuro Palmeirim de Catió (*).  Autor: Joaquim Luís Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, repartindo actualmente o seu tempo entre Lisboa, Aveiro e Berlim e, por fim, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins, (Como, CachilCatió, 1964/66).




OFICIAL E CAVALHEIRO: Passagem por Tomar




Após breves dias, não de férias, como era costume, naquele ambiente de Pedra Maria, mas de descanso e espera pela designação da Unidade Militar onde iria ser colocado, se o resultado do curso em Mafra (COM) tivesse sido positivo, a carta com insígnias militares chegou. Surpresa. Aprovado ou não? Quando e para onde iria. Ia vê-lo, de seguida, mal o carteiro, chegasse à sua beira, depois do toque de corneta habitual, lá ao fundo da estrada.


Regimento de Infantaria nº 15, em Tomar, como Aspirante a oficial.


Óptimo. Uma sensação de segurança o invadiu, à mistura com a satisfação natural do resultado.


Durante os próximos anos, haveria rendimentos certos, para si e para sustentar o irmão mais pequeno. Era preciso  puxar por este, já que, andava arredio da escola primária. Onze anos e apenas na 3ª classe!… A guerra de África, essa, até podia  livrar-se de lá cair…quem sabe.


A guia de marcha, em 1ª classe de comboio até Tomar, para um dos dias primeiros de Janeiro, próximo, ali estava. Cama e mesa e um ordenado limpo de 1.500$00 ao fim do mês… uma  independência que nunca tinha sentido, até aí.


O futuro estava a começar… Mais cedo do que pensara. O curso superior tão desejado, ver-se-ia como, depois da tropa.


A notícia espalhou-se depressa por toda a família e lugar. Com alegria. A meia dúzia de ex-colegas seminaristas das bandas de Felgueiras estava em férias de Natal. Já não era seu colega, mas a ligação era muito forte. Não sabia girar ali sem eles. Havia que lhes dar conhecimento. Fariam muito gosto em saber.


Uma merenda em casa do Lemos, de Moure, ficou logo agendada como despedida. O Sebastião Hernâni, os 2 irmãos Simões e o Lemos. O vinho verde da adega dos pais do Lemos era uma maravilha. Estava ao dispor, como sempre. O presunto e o salpicão com broa, também…


Daquela vez, porém, era diferente. Além da alegria geral acompanhada das habituais cantilenas mais atrevidas, na escala seminarística…(a da caserna, essa, eles, não conheciam nem faziam ideia) só se lembra de ser tirado, para casa, ao colo, a partir do Morris Mini do Hernâni…


O resto ficou para eles contarem. Era a  primeira bebedeira da sua vida, a valer…


Chegou o dia da marcha. Vestido com farda cinzenta de cadete, de fino recorte, pôs os galões de aspirante nos ombros, que comprara, pelo sim, pelo não, em Mafra…. Uma fita dourada oblíqua sobre o fundo preto. Nem queria acreditar que já era um oficial como os seus instrutores de Mafra. Que iria fazer o mesmo que estes faziam, com os soldados recrutas. Vaidade e um sentimento de receio o invadia.


A mesma camioneta das 5 e meia da manhã para o comboio, em Paredes, até ao Porto. Daí até Santarém e depois no ramal de Abrantes.




QUARTEL DE TOMAR


Pela tarde desse dia, chegou pela 1ª vez a Tomar. Outros colegas conhecidos e desconhecidos de Mafra seguiam e desceram em Tomar. Uma camioneta militar aguardava-os, para transporte das malas.


Era o 1º quartel em que entrava, por direito próprio  e com um estatuto superior. A sentinela da porta de armas pôs-se e permaneceu em sentido enquanto os novos oficiais entravam.


Os aposentos dos oficiais e os corredores com um certo fausto abriam-se-lhes. A sala de oficiais, a biblioteca e o refeitório, tudo ficou ao dispor.


O  sentimento de dignidade que o envolvia recompensava todo o esforço que fizera nos 4 longos e duros meses de Mafra. Sentia-se bem. Sem esperar, atingira, enfim, um ambiente condigno como desejara nos tempos de seminário. Aqui, só ao cabo de mais uns 4 anos viria a encontrá-lo, se encontrasse…


Além disso, o mundo militar, embora diferente e despido de moralidades, era mais transparente e… são. Pão... pão..., queijo..., queijo… As beatices e hipocrisias do seminário surgiam-lhe, agora, mais ridículas que nunca… 


No entanto, este continuava a exercer uma influência perturbadora e permanente sobre ele. Como desejava  não ser reconhecido como ex-seminarista. E conseguiu-o, durante muito tempo, perante os colegas de pelotão em Mafra.


Só o Mendonça o sabia, porque era natural de Airães,  uma das muitas freguesias de Felgueiras. O seu pai era um conceituado médico da região…Os seus últimos anos de Coimbra foram de total quebra de relações com o rigoroso e preconceituoso pai, a censura parda das suas travessuras académicas e coimbrãs. Para sobreviver, teve de ir vender alfinetes e carrinhos de linha, nas feiras em redor de Coimbra, durante as férias.


Depressa reconheceu que a sua irreverência era só aparente. No fundo era um rapaz como outro qualquer. Com uma vantagem. Um óptimo colega, fixe e felgueirense. Com uma habilidade excepcional para lidar com os duros militares…sem os enfrentar, mas dando-lhe sempre a volta, com êxito. Apesar de ser o protóptipo do que um militar não devia ser.


No dia seguinte à chegada, seguiu-se a cerimónia da recepção aos novos oficiais, pelo corpo de oficiais superiores, general à frente.


Sentia-se um senhor. Os breves dias seguintes foram de organização e distribuição de tarefas, pelas várias companhias que iriam formar-se com os recrutas que haveriam de chegar.


Segunda companhia. Comandante do terceiro pelotão. Instrução de recruta. Ordem unida, preparação física, armamento e ética militar. Tudo constava de um programa perfeitamente definido e apoiado.


Dar instrução metia um certo medo. A primeira manhã começou com a preparação física, depois da apresentação própria ao pelotão. No fundo, estaria a repetir o que lhe fizeram em Mafra, numa escala de exigência muito maior.


Instrução física foi a 1ª aula que teve de dar naquela manhã gelada, como são as manhãs de Janeiro, em Tomar. Com o pelotão, em passo de corrida, em círculo, iniciava-se a sequência de exercícios que constavam do programa estabelecido e que tinha de ser cumprido.


Primeiro, exercícios de pernas, depois de tronco e a seguir de braços. A falta de experiência, porém, provocou o grande fiasco, de que nunca mais se haveria de esquecer.
Ao cabo de 20 minutos, estava esgotado todo o programa… Repetir, nem pensar.


Tomado do embaraço que lhe parecia espelhado na cara, teve de dar ordem de destroçar ao pelotão e correr para a casa de banho, no bar de oficiais, quase em pânico. Afinal, sentia a responsabilidade a pesar-lhe e, ainda estava no começo…


Apetecia-lhe desaparecer. Num esforço supremo de auto-controle, conseguido, não sabe como, pensou de si para si:
-Se os outros conseguem, também hei-de conseguir… 


Levantou-se e veio ter com os camaradas que já tinham chegado à sala de oficiais, com a aula dada. A semana passou-se a correr. Veio o 1º fim de semana. Deu para conhecer a cidade, pacata, de interior:


O centro, onde se encontrava todo o comércio e cafés; o rio Nabão, ainda com águas cristalinas; o largo e frondoso açude, onde laborava, em pleno, um moínho, aproveitando o escorrer das águas, em cataratas de espuma, para o leito fundo do estreito rio que, a seguir, se despedia da cidade, fluindo bucólico, rumo ao gordo Mondego; a igreja do convento de Cristo, lá no alto, a tal jóia do manuelino, com a sua rosácea enorme e a janela floreada, tudo ficou visto naquele fim de semana pelo grupo de novos oficiais, que se passeou à vista das gentes que os olhavam com visível veneração. As moças espreitavam, tímidas, atrás das cortinas.


Em Tomar, sem o quartel militar, morrer-se-ia de tédio…


Ao fim de duas semanas, com os passeios nocturnos, depois do jantar, já se começavam a sentir em casa. Estavam traçadas as perspectivas. Com o combóio, à porta, Abrantes e Coimbra ficavam ao pé.


O voto de obediência forçada a que estavam sujeitos, porém, assim o não quis. No início da 3ª semana a notícia espalhou-se com grata surpresa. Uma dezena dos novos aspirantes iriam partir para a Madeira e Açores. Faltava saber quem e para onde.


Começava a saborear os imprevistos e a reparar nas possibilidades que a vida militar é capaz de abrir. Nada que se comparasse à carreira anterior, a clerical, embora um tanto semelhante. Por isso, não lhe fora difícil a adaptação, ao contrário dos seus camaradas.


No dia seguinte, teriam de tomar o paquete Funchal, em Lisboa. Para a Madeira, uns; para os Açores, outros. O B.I.19, no Funchal seria o seu próximo destino, soube-o em pleno jantar. Da boca do comandante da unidade.


Que sorte. Os Açores estavam a braços com o drama da erupção súbita do vulcão dos Capelinhos. Muito trabalho aguardava os camaradas destacados para lá.


Ilha da Madeira?! Nunca lhe passara pela cabeça aquela grata eventualidade. Duma penada, antes de ir para a guerra do ultramar, deixaria a terra firme e sulcaria as águas do oceano rumo a uma realidade desconhecida, embora nacional. Sabia apenas que era muito bonita. Mas, como se viveria lá, ou como seria a cidade do Funchal, não fazia a mais pequena ideia.


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Nota de L.G.: