segunda-feira, 17 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6410: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (10): O saco do Zé Paz D'Almas

1. Mensagem de Torcato Mendonça, ex-Alf Mil AT Art da CART 2339, Mansambo, 1968/69, com data de 10 de Maio de 2010:

Caro Carlos Vinhal
Obrigado pela info do comentário da 2404.
Como é o teu tempo? Dilata?

Posso estar equivocado. Posso mesmo estar a ler mal. Posso o que quiseres... certo é que resolvi enviar um escrito diferente. Depois de guerras, depois de controversias (não da Série do Blogue), depois disto e daquilo, lembrei-me de algumas "coisas" que dizem.

Desopila, alivia o enjoo, pode ser mezinha e vai em anexo.
Tenho outro anexo. Não vai agora. Um dia segue como Estória de Mansambo que é. Facto a marcar-me para sempre e que escritos de Bolha ou mezinhas do Zé Paz d' Alma, coisa séria e acredita quem quer, não podem aliviar. Quanto mais curar.

Um abraço amigo do
Torcato


AO CORRER DA BOLHA - X

O SACO do ZÉ PAZ d’ALMAS


O Paulinho… Paulito… ou Paulocas. Não era este seu nome. Lá por casa e por alguns amigos, era assim chamado.

O padrinho, homem de posses e mau génio, tinha-o baptizado por Paulino. Nem mais, Paulino como o avô do padrinho. Homem velho, bigodes retorcidos, corrente de oiro na jaqueta, olhar a bater fundo e, ainda a custo, montador de alguma das incautas donzelas que, de quando em vez, para a família Paulino iam trabalhar nas artes domésticas.

Por mor disso acontecia, raramente agora, a interrupção do ciclo de alguma. Raios e coriscos se levantavam pela Maria, a olheira de tudo, velha que já fora donzela e tudo topava. A governanta-mor Maria, antes de o inchaço aparecer, falava de pronto com o avô do padrinho do Paulinho, Paulito ou Paulocas que, como o afilhado, se chamava Paulino.

- Patrão Paulino aquela moça coitada, a filha da Alzira lavadeira, parece que devia consultar o Dr. Leónidas.

- Trata disso e eu logo falo com ele. Respondia, enrolando as pontas da farta e já alva bigodaça, o velho.

Foi crescendo o Paulinho, Paulito ou Paulocas e era tratado como se fosse filho do padrinho, solteirão empedernido, com mulher de casa posta na vila, mais amante, contudo, das cartas e de festanças do que de donzelas.

Cresceu rápido o afilhado Paulino e nos estudos nada deu. Nada.

Um dia foi às sortes e passado um ano, nem tanto, abalou para um quartel.

Por lá andou aos saltos, cambalhotas e “desenfianços”. Só que quartel militar é diferente e foi apanhando “porradas” como diziam, em violação às regras ditas e impostas por oficiais e sargentos, mais estes que aqueles, com caras escanhoadas e marmóreas, modos bruscos e que berram de pronto. Até pareciam terem olhares na nuca.

Não estava, a isso, habituado o Paulino afilhado. Tanta levou que um dia se viu despachado para uma colónia, não penal mas de lugar, de lugar ou província que diziam ser o ultramar. Como era franzino ou fraco de aspecto, ficou logo na que mais perto se encontrava: - Guiné.

Tenta o padrinho a cunha, o pedido, a troca mesmo em paga a outro e nada. Nada livra o afilhado da ida até terras distantes.

Abalou num barco, o Paulino e uns centos de mancebos Tejo abaixo, com muitos lenços, deles e de quem em terra ficava, a abanarem despedidas e a lançarem desejos de regressos rápidos.

Lá se foi o Paulinho, Paulito ou Paulocas como a velha Maria ainda o tratava.

O avô do padrinho, para mais um desgosto deste, finou-se pouco depois. Não de desgosto. Não. Finou-se de esforço de “caça”, num final de quente tarde, a meio do Verão em pleno Agosto.

Por lá, pela Guiné, andava o Paulino, o soldado Paulino, esperto e desenfiado, mesada certa ida da Metrópole. Talvez isso tenha contribuído para mais uma ou duas “porradas” a cortarem vinda de férias. Fartou-se, definitivamente, daquela gente da tropa, daquele calor e mosqitagem de ferroada fácil.

Fartou-se daquilo tudo e tudo fazia para esquecer.

Um dia voltou. Finalmente.

Voltou diferente o Paulino. Mais magro, macilento, olhar afundado e ausente, sorriso apagado.

O velho Dr. Leónidas tentou tratá-lo mas desistiu.

- O tempo cura isto, sentenciou.

Não curou nada. Certas noites, levantava-se em sobressaltos e em muitos dias com toda a gente praguejava.

O padrinho aguentou, aguentou e um dia despachou-o para clínica recomendada. Passam uns tempos e as notícias eram ou pareciam ser boas. Diziam os clínicos: - O Paulino recupera bem. Estas eram as noticias que acompanhavam a conta mensal.

O padrinho e a Maria, já a andar de tripé e bengala, acreditavam.

A Antónia, já entrada na idade e substituta de Maria governanta-mor, não acreditava. Tanto assim que foi falar, em segredo claro, com o Zé Paz d’Almas. Agradeceu a visita e confiança nele depositada, benzeu, lançou água benta, fez rezas, mezinhas e disse:

- Aquilo acontece Tóina. Acontece. Tenho visto casos assim. Passa. Passa de certeza e eu vou tratar dele. Se não passar há a corda e o saco.

- A corda e o saco? Diz aflita, benzendo-se a Antónia.

- Sim mulher.

Se ele voltar a ter aflições, falar sozinho, pesadelos no sono, tens que o convencer a usar o saco.

A Antónia olha desconfiada, ouve com atenção o Zé Paz d’Almas e, antes de sair deixa-lhe um cesto com uns mimos.

Passa o tempo e volta a Antónia.

Conversa com Zé Paz d’Almas. Retorna a casa com o cesto, a corda, o saco benzido e todas as recomendações de convencimento do curandeiro.

Anos depois, não muitos, o Paulino, o Senhor Paulino, quando sente qualquer aflição, tormento ou contrariedade a virem, desce à cave, abre a porta, ao lado da porta da adega e agarra o saco.

Calmamente abre um pouco a boca do dito e mete lá a sua. Fala então, desabafa os tormentos e, diz a Antónia, por vezes até urra.

Rapidamente ata-o com a corda e volta a pendurá-lo.

Sai aliviado, sorridente mesmo.

Zé Paz d’Almas morreu recentemente e a Antónia está velha demais. Dizem.

Também parece haver muitos sacos e substitutos. Dizem.

Zés Paz d´Almas parece que não. Dizem.

Dizem cada uma… mas dizem.


NOTA: qualquer comparação, de alguém com o Paulino é pura maldade. Não sei dele. Não deve ter telemóvel e não sei onde vive.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6404: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (9): Páscoa de 1968

Guiné 63/74 - P6409: Notas de leitura (106): Bissau Em Chamas, de Alexandre Reis Rodrigues e Américo Silva Santos (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Abril de 2010:

Queridos amigos,
No estrito cumprimento do dever, li “Bissau em Chamas” num recanto de Maiorca, à espera de sol que chegou prazenteiro a anunciar o Verão.
Peço licença para voltar a importunar os tertulianos, preciso da ajuda de todos aqueles que têm bibliotecas onde constem autores que escreveram sobre a Guiné nos anos 80 e 90. Será que me podem dar notícias desses autores e desses títulos? A todos ficarei reconhecido, é público e notório que só pretendo proceder ao inventário que facilite a vida aos estudiosos de amanhã.

Um abraço do
Mário


Nota introdutória:

“Bissau em chamas”
tem a ver com uma dolorosa guerra civil que devastou a Guiné-Bissau, cindiu a sua classe política, deixou a população moralmente desfeita. O blogue não fica indiferente a todos os seus amigos guineenses, vivem na Guiné-Bissau tertulianos e muitíssimos leitores.

Trata-se de um relato da participação portuguesa nos acontecimentos, enumera as diligências diplomáticas e o auxílio prestado a todos os refugiados. O ex-presidente da República, Jorge Sampaio, enaltece o comportamento das forças militares e civis intervenientes e a capacidade da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa prestarem solidariedade nas horas sombrias da vida de um dos seus irmãos.


Bissau em chamas:
O golpe de Estado e a guerra civil na Guiné-Bissau em 1998


por Beja Santos

Em Junho de 1998, Portugal vivia momentos de grande euforia, sobretudo a Expo 98 provocara uma onda de entusiasmo e autoconfiança com a nossa capacidade de organizar um grande empreendimento. Logo a seguir às comemorações do 10 de Junho, alguns dos navios incluídos na parada em frente à Expo partiram para um pequena grande aventura: seguiram para a Guiné para resgatar todos os portugueses que viviam angustiados o tumulto de uma sanguinolenta guerra civil, desencadeada no dia 7 de Junho. Em complemento desta operação de resgate, nos canais diplomáticos, procurou-se promover a reconciliação das partes envolvidas em conflito. A história desta crise política, e a resposta portuguesa, política e militar, na sequência do golpe promovido por uma Junta Militar chefiada pelo brigadeiro Ansumane Mané é a razão de ser do livro “Bissau em Chamas”, por Alexandre Reis Rodrigues e Américo Silva Santos (Casa das Letras, 2007).

“Bissau em Chamas” relata a acção das Forças Armadas e da diplomacia portuguesa a várias vozes. É uma narrativa centrada na acção empreendida por Portugal, de colaboração com outros países que procuraram mediar o conflito. Tudo começou a 7 de Junho de 1998 e durou até 7 de Maio de 1999, dia em que Nino Vieira se recolheu à Embaixada de Portugal em Bissau e daqui seguiu para o exílio em Portugal.

O pretexto para o levantamento de Ansumane Mané foi a acusação pelo presidente Nino Vieira de incúria no controlo dos paióis de material de guerra do Exército guineense, o que teria permitido o desvio de material para o movimento independentista de Casamansa. Mas o pano de fundo desse pretexto passava por um descontentamento estrutural: agravamento das condições de vida, profunda crise económica, tensões internas nas Forças Armadas, atraso na organização das eleições legislativas, entre outras dificuldades. O PAIGC dava sinais de grandes divisões que se foram transferindo para o campo militar. Quando eclode o golpe de Estado, em escassas semanas, demarcaram-se os apoios aos partidários de Nino e aos da Junta Militar. Nino pediu ajuda internacional ao Senegal e à Guiné Conacri. Em Bissau, irão combater ao lado de Nino tropas senegalesas e conacri-guineenses e ao lado de Ansumane Mané Bissau-guineenses sublevados, as populações puseram-se em fuga, ninguém ignorava que o conflito estava para durar.

O embaixador português, Henriques da Silva, foi confrontado com o problema imediato com a protecção dos portugueses residentes na Guiné-Bissau. A partir da manhã do dia 7, a embaixada portuguesa foi se enchendo de refugiados. A obtenção de informações era vital para a protecção de todos que se refugiavam na embaixada, havia que retransmitir tais informações às autoridades portuguesas ao mais alto nível. Por último, havia que tentar negociar com as partes beligerantes a segurança das pessoas, incluindo os estrangeiros e procurar abrir canais para negociações entre as partes em conflito.

Felizmente, e relacionado com as comemorações do 10 de Junho, que a embaixada tinha encomendado mantimentos em quantidade apreciável. Como mais tarde escreveu Henriques da Silva, quem se refugiou na embaixada passou a comer “arroz com 10 de Junho” ou “massa com 10 de Junho”, tudo servido em pratos de cartão com dois croquetes, pastéis de bacalhau ou rissóis de camarão. O cargueiro “Ponta de Sagres” chegou no dia 11 de Junho e trouxe um alívio momentâneo a estes problemas, mesmo com o porto de Bissau bombardeado com mísseis katyushas e morteiros pesados. Ao longo de dois meses de conflito, com o contributo de navios nacionais e navios franceses, foram evacuadas 2450 pessoas.

O governo português accionou os mecanismos de solidariedade e consulta com a CPLP, em 27 de Junho iniciaram-se as tentativas de mediação, muitíssimo muito mal aceites pelo governo de Nino. De Julho para Agosto, o processo evoluiu, se bem que precariamente, e só com a Paz de Abuja, em 1 de Novembro de 1998 é que a Junta Militar obteve reconhecimento internacional. Nessa altura, Nino estava reduzido ao Bissauzinho e algumas ilhas dos Bijagós. O resto é bem conhecido: a Junta Militar venceu de armas na mão; as tropas da Guiné-Conacri e do Senegal tiveram um comportamento de inépcia e derrotismo inesperados; depois os dirigentes da Junta (Ansumane Mané, Veríssimo Seabra e Lamine Sanhá) foram assassinados; Kumba Ialá ascendeu ao poder e depois foi deposto, seguindo o retorno triunfal de Nino que viria a ser chacinado depois de abandonado pelo seu círculo de sicofantas e até pela sua guarda pessoal.

“Bissau em Chamas” relata as operações de resgate, colhe os depoimentos dos cooperantes que andaram transviados, o general Espírito Santo descreve a Operação Falcão no âmbito do Plano Crocodilo, múltiplos comportamentos briosos e anónimos são passados em revista, bem como a cobertura noticiosa através do olhar de alguns jornalistas. Igualmente a mediação diplomática é descrita ao pormenor até ao momento dos acordos que eram considerados indispensáveis para a reconciliação nacional. O prefácio é da responsabilidade de Jorge Sampaio.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6361: Notas de leitura (105): Guiné, Sempre!, de Piçarra Mourão (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P6408: (Ex)citações (72): A dolce vita de Bambadinca: Os lagostins do Zé Maria, pescados pelo barqueiro do Enxalé em "zona vermelha"... (Luís Graça)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1969 > Na tasca do Zé Maria, comendo lagostins do Rio Geba e bebendo umas bazucas... A dolce vita dos nharros de 1ª classe da CCAÇ 12 (ou tugas de 2ª classe, como a gente depreciativamente se classificava a nós próprios): na ocasião, o Alf Mil Cav Rodrigues (já falecido, há uns anos) e os furriéis milicianos Tony Levezinho e Humberto Reis, meus queridos amigos e membros desta Tabanca Grande. A chapa foi batida - salvo erro - por mim, membro assíduo desta tertúlia gastronómica.

O barqueiro do Enxalé, celebrizado por Spínola,  apanhava estes magníficos lagostins de rio, que depois o Zé Maria comprava e que a gente pagava a peso de ouro (50 pesos o quilo!)... O preço era justificado pelo risco...  (50 pesos era o equivalente a dois dias de alimentação de um militar na Guiné, ou uma noite no Pilão ou a uma garrafa de uísque novo...).

Lembras-te, Humberto Reis ? Lembras-te, Tony Levezinho ? Ao Alferes Rodrigues já não posso perguntar, por que já não está entre nós (Paz à sua alma!, fizemos operações conjuntas, foi também vítima - tal como eu e o Marques - da mina A/C em Nhabijões, em 13 de Janeiro de 1971).

E a propósito, o que será feito do tuga Zé Maria, que tinha fama (e se calhar proveito) de rezar a Deus (as NT) e ao Diabo (o PAIGC) ? Ainda estará vivo ?  Sei que era amigo do nosso alfero... que parava lá,  para o  último copo, antes de atacar a bolanha de Finete a caminho de Missirá (a partir de 19 de Outubro de 1970, trocara Fá Mandinga por Missirá...) (*).

O pobre do Zé Maria, que era tuga, tinha fama de ser turra... e fazia-nos pagar caro os lagostins, "pescados em zona de grande risco" (sic) ... entre o Enxalé e o Mato Cão, muito possivelmente pelo barqueiro do Enxalé que o Spínola, em visita ao Destacamento, em 19 de Dezembro de 1970, achava que "pescava em zona vermelha" , e que com isso o tornara famoso... (**).

Foto: © Humberto Reis (2006)

1. "Mas ainda melhor que as mulheres, é o vinho que faz esquecer as mulheres" (Luís Pacheco) ... E da água de Lisboa, camaradas ? Que me dizeis ? Muitos hectolitros de cerveja (bazuca), vinho verde (!), vinho a martelo, água do Poço do Bispo, surrapa, uísque escocês, uísque de Sacavém , cuba livre, água suja do imperialismo (coca-cola), a gente bebeu, do Cacheu ao Rio Grande Buba, passando pelo Geba e o Corubal !!!

 Parafraseando esse poeta maldito, Luís Pacheco (que nos deixou há uns tempos),  bem podíamos dizer que melhor que as bajudas, era a água de Lisboa que nos fazia esquecer as bajudas, todas as bajudas do mundo, as de Lisboa e as de Bafatá, Bolama, Barro, Bambadinca, Guileje, Bigene, Binta, Guidage, Xitole, Mansambo (não havia!!!), Candamã, Afiá, Satecuta, Xime, Fá, Missirá, Sare Gana, Geba, Banjara, Cantacunda, Contuboel, Olossato, Empada, Buba, Mampatá, Quebo, Cansissé, Canjadude, Cheche, Madina do Boé, e por aí fora...

Eu costumo lembrar aos filhos e aos meus amigos mais íntimos que fui para a Guiné com uma mala cheia de livros (à espera de umas férias tropicais!) e ao fim de seis meses havia dias que era capaz de beber uma garrafa de uísque por dia... com água de Perrier.  (Bom, agora que já me confessei, espero que o meu fígado me perdõe)...

Na Guiné, em Mansambo ou em Madina, o que fazia mal ao fígado fazia bem à alma... Não sei o que teria sido a guerra sem a nosso uisquinho com duas pedras de gelo e um bocado de Perrier... O nosso bendito Scotch... "For the Portugese Armed Forces from Scotland with love"... 

Ainda diziam que não tínhamos amigos e aliados! Todos nos ajudavam. Até o Zé Maria1 Até o barqueiro do Enxalé! Até os camaradas do PAIGC que deixavam o barqueiro apanhar lagostins  no Geba Estreito, antes da Foz do Corubal... e, claro, ao Zé Maria comprá-los ao barqueiro, cozê-los e servi-los, esplêndidos, vermelhos, bem temperados com um toque de jindungo q.b., na esplanada do seu bar com vista para o Rio...  Ah!, a dolce vita de Bambadinca!...   
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Notas de L.G.:

(*) Sobre o Zé Maria, há uma deliciosa estória cabraliana, que é obrigatório ler ou reler:

18 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1534: Estórias cabralianas (19): O Zé Maria, o Filho, Madina/Belel e um tal Alferes Fanfarrão (Jorge Cabral)

(...) Bambadinca era então para o Alferes, feito nharro de Tabanca, a Cidade. Para lá ir, fazia a barba, aprumava o seu único camuflado apresentável, munia-se de alguns pesos e, acima de tudo, preparava o relim verbal sobre ficcionadas aventuras operacionais, que iriam impressionar o Comandante.

Antes de entrar no Quartel, habituara-se a abancar no Gambrinus local, o tasco do Zé Maria, bebendo, petiscando e conversando. Um dia encontrou o Senhor Zé Maria, muito preocupado. O filho adolescente que estudava em Lisboa, ia chumbar.

Claro, logo o Alferes, prometeu interceder.
- Como se chama o rapaz? Que colégio? E o nome dos Professores?

Apontadas as respostas, descansou-o. 
– Amanhã mesmo já escrevo para Lisboa. (...)


(**) Vd. poste de 15 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6396: O Spínola que eu conheci (21): Fiquei com óptima impressão do subalterno Comandante do Destacamento do Enxalé (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

domingo, 16 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6407: Álbum fotográfico de Daniel Matos - I

1. Começamos hoje a publicar o Álbum fotográfico do nosso camarada Daniel Matos* (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1971/74), autor do trabalho "Os Marados de Gadamael e os dias da Batalha de Guidaje".


Álbum fotográfico de Daniel Matos (1)

Foto 6 > 26 de Dezembro de 1971, o General António de Spínola passando revista ao 2.º Pelotão da CCaç 3518, no Cumeré.

Fotos 7, 7A, 7B, e 7C > No Posto Escolar Militar n.º 23 (PEM-23, Gadamael) frequentaram as aulas da instrução primária algumas dezenas de jovens alunos (também alguns adultos da população). Não era fácil dar aulas a muitos que não falavam português (nem em crioulo se exprimiam), mas registaram-se muitos casos de bom aproveitamento, concluindo a 4.ª classe.

Foto 8 > Imagem exterior do PEM n.º 23, Gadamael, que ficava ao lado da pista de aviação nova, junto à tabanca.

Foto 9 > Dois dos melhores soldados milícias que nos acompanharam em Gadamael. O da direita, Camisa Conté, viria a falecer em 1973 quando das batalhas de Guileje e Gadamael.

Foto 12 > O autor, junto às águas do Rio Sapo, afluente do Rio Cacine, que banhava Gadamael Porto.

Foto 12A > Iana Abú, mulher respeitada em Gadamael e que foi lavadeira de muitos de nós. Aqui, à porta da sua morança, acompanhada do filhote mais novo.

Foto 19 > Uma das muitas equipas de futebol que formámos ao longo da comissão. Esta representou a Companhia num torneio disputado em Bafatá, em Janeiro de 1974. Em cima (da esquerda para a diteita): 1.º Cabo Escriturário Alexandre Castro; Fur Mil Lopes Silva, Alf Mil José Cavaco, Fur Mil Enf.º Augusto Morais,
Fur Mil Ranger Hélder Calvão, 1.º Cabo Rodrigues, Fur Mil Hélder Novíssimo e o Fur Mil "treinador" António Guerreiro. Em baixo (pela mesma ordem): 1.º Cabo Américo, Fur Mil Daniel de Matos, Fur Mil Mec Auto José Alberto Durão, Alf Mil António Monteiro e Fur Mil TRMS Domingos Pinto.

Foto 23 > O autor, à entrada dos quartos de Sargentos em Gadamael; já quando lá chegámos se chamava "Cozinha Económica" ao edifício, e nós, com intensa actividade a condizer no átrio de entrada, soubemos conservar a tradição... O edifício seria completamente destruído nos primeiros dias de Junho de 1973.

Foto 26 > Jovens alunos hasteando a bandeira portuguesa.

(Continua)
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(*) Vd. poste de 11 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6371: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (17): Devolver os corpos às famílias e Bibliografia

Guiné 63/74 - P6406: CCAÇ 3477, Gringos de Guileje: Op Muralha Quimérica, 27 de Março a 8 de Abril de 1972 (Amaro Samúdio)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (1971/73) , Gringos de Guileje > Oráculo, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres... Na imagem, o Amaro Munhoz Samúdio, ex-1º cabo enfermeiro, está a pegar ao colo um bébé chimpazé que ele comprou a um caçador local por 500 pesos...Na foto pode ler-se ainda a oração em verso: "Santo Cristo dos Milagres / Nesta capelinha oramos / Para sempre sorte dares / Aos Gringos Açorianos". 


Sabemos, através do Samúdio, que o monumento foi contruido pelos Gringos (que estiveram em Guileje entre Nov 71 e  Dez 72)  e inaugurado pelo então Ministro da Defesa Nacional, general Sá Rebelo e também pelo então governador, general Spínola, em 12 de Junho de 1972. 

Esta lápide assim como a estatueta e diversos outros objectos de uso corrente, foram encontrados por ocasião das escavações arqueológicas feitas pela AD - Acção para o Desenvolvimento, sob a orientação  do Domingos Fonseca, engenheiro técnico agrícola, membro da nossa Tabanca Grande...
 
Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.





1. Operação Muralha Quimérica (Guileje,  27 de Março a 8 Abril de 1972) 
por Amaro Samúdio

[Texto enviado em 15 de Junho de 2007 e que, por lapso, não chegou a ser publicado. Revisão / fixação de texto: L.G.]

No seguimento do transmitido, e bem, pelo nosso camarada Victor Tavares, 1º Cabo Pára-quedísta do BCP 12 sobre esta operação (*),  creio, também , ser útil transmiti-la pela parte das forças sitiadas nessa altura em Guileje, a CCAÇ 3477.

Em 28 de Março de1972 chegam a Guileje as Tropas Pára-quedistas afim de participarem na operação.

Pelas 7 horas da manhã desse dia vão para a mata dois grupos de combate da CCAÇ 3477 para emboscar e fazer protecção à coluna na estrada Gadamael Porto/Guileje que trazia as referidas tropas.

Não foi feita uma coluna mas duas pelo que nos fomos levar água e sandes de forma a estarmos 11.00 horas emboscados.

Em 29 de Março dois Grupos de Combate da CCAÇ 3477 efectuam uma patrulha de reconhecimento na zona de Sinchuro,  conjugada na Op Muralha Quimérica.

No dia seguinte outros dois Grupos de Combate da Companhia efectuam nova patrulha na mesma zona.

Chega nesse dia, 30 de Março, a Guileje a 2ª Companhia de Comandos Africanos para participar na operação.

Em 1 e Abril a CCAÇ 3477 efectua uma patrulha de reconhecimento e protecção à coluna de reabastecimento Gadamael / Guileje, colocando um Grupo no Cruzamento e outro no Bendugo. Nesta patrulha, no Cruzamento, um camarada nosso cai numa armadilha montada pelo IN.

Como os rádios não funcionavam para pedir auxilio,  foram os açorianos, com o espírito de voluntarismo, normal neles, que vieram ao quartel buscar socorros.

Era o açoriano, um miúdo de 18 anos, Luís Alberto Carneiro Monte, não resistiu aos ferimentos,  sendo transportado pelo héli, como ferido, embora já estivesse morto.

Muito embora andar na mata fosse o nosso dia a dia, em 2 de Abril, integrados nesta operação, saímos para o mato com ração de combate para um dia, afim de nos emboscar no  Corredor de Guileje  (vulgo,  para nós,  Corredor da Morte).

Este Corredor, refiro, era a estrada que fazia fronteira com a República da Guiné. O IN circulava, a pé ou com viaturas, absolutamente à vontade. Em Guileje, ouvíamos, regularmente,  o ruído das viaturas.

Atingimos o Corredor cerca das 16,15 horas procedendo à montagem da emboscada. Começava a escurecer e não existiam indícios do IN. Sendo o local de emboscada uma zona de capim, montou-se no corredor uma armadilha artesanal improvisada com um cordão de dolman e uma granada de mão defensiva m/963, retirando cerca 40 metros e mantendo-nos à espera da passagem de elementos do IN que era certa.

Pelas 22,00 horas ouvem-se ruídos no Corredor, não se sabendo, pela escuridão da noite, se seria animal ou o IN. A armadilha rebentou, silêncio de segundos que pareciam horas, ouviram-se gritos e vozes e à ordem de fogo, com a surpresa com que foram apanhados num local onde habitualmente andavam á vontade, não conseguiram responder. Eram cerca de 15 elementos.

Alguns minutos depois,  outro grupo IN de Enora começou a bater zona no local onde estivemos. Recuámos cerca de 2 km para a mata do rio Machampo.

Durante toda a noite o IN bateu a zona. Os rebentamentos eram permanentes e próximos.

Com os rádios, como era habitual, avariados, não era possível contactar o quartel para as pças 11,4 responderem para Kandiafar e Simbeli. .Resultava sempre em paragem dos ataques porque eram duas Aldeias já na República da Guiné.

No dia seguinte, pela madrugada, voltámos ao local da emboscada onde foi encontrado um elemento do IN, fardado,  morto e mais três pares de botas. Foram montadas novas armadilhas e estivemos emboscados durante todo o dia sem que nada se passasse.

Para comer já nada havia mas o principal problema era a água,  pelo que  fomos buscá-la a uma bolanha, onde os animais bebiam, e filtrámo-la com gazes e ligaduras.

À noite voltamos a retirar para um rio tendo durante toda a noite, o IN, batido toda a zona.

No dia 4 de Abril pelas 10,30 chegamos ao quartel saindo, nesse mesmo dia outros 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3477 para o Corredor afim de emboscar e montar armadilhas na zona de Babacambune.

Em 5 de Abril pelas 19.00 horas Guileje é atacado com morteiro 120 e canhão s/r.

Em 6 outros 2 Grupos saem para o Corredor para patrulhar e emboscar.

Em 7 Guileje é atacado da direcção da Fronteira com morteiros 120 e canhão s/r durante cerca de 50 minutos,  com cerca de 150 rebentamentos.

Em 8 de Abril de 1972 termina a Operação Muralha Quimérica.

A operação terminou mas nós continuámos em Guileje e,  passados dois dias, no dia 10,  fomos, pelas 19,15 horas, atacados de seis posições diferentes, nomeadamente das direcções de Simbali e Sibijá,  situados em território da República da Guiné, com canhão s/r,  vários morteiros 82 e 120, durante mais de uma hora,  com cerca de 400 rebentamentos.

Durante o ataque um avião sobrevoou Guileje na direcção Sudeste-Nordeste.

É dado como certo que, após a Operação Muralha Quimérica, o IN reforçou, na zona, os efectivos e sua actividade operacional efectuando sobre o aquartelamento várias e violentas flagelações até finais de Abril, diminuindo no mês de Maio devido ao início das chuvas.

A partir dai ia ser o isolamento durante três meses.

Reconheço a maçada que é ler isto mas o que se pode fazer. Foi assim. Por favor, Luís,. aproveita o que entenderes. Um abraço. Samúdio.

Fontes:

História da Companhia Independente CCAÇ 3477. Gringos de Guileje

 Caderno Diário, Exclusivo Casa Mendes, Guiné, Edição aprovadsa pelos Serviços Provinciais de Eduação ( A que eu pomposamente chamo "O MEU DIÁRIO DE GUILEJE” e que me custou 3.50 escudos).

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(...) "Acção desenrolada entre 27 de Março e 8 de Abril de 1972, no sul da Guiné (Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael).

"Esta operação, na qual participaram as CCP 121, 122, 123 e outras forças, com resultados excelentes, nas zonas operacionais de Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael Porto, foi uma das muitas operações importantes em que intervieram os Paraquedistas do BCP 12 durante o ano de 1972. (...)  A zona de acção situava-se numa região que o PAIGC considerava libertada e onde os guerrilheiros se movimentavam com relativo à-vontade conforme se viria a constatar.

"O rio Balana separava o corredor de Guileje, que se estendia a sul entre a fronteira e ia até Salancaur Jate. A outra, a norte do mesmo rio, onde se movimentavam os grandes efectivos do Primeiro Corpo do Exército do PAIGC e que se incluía no troço do corredor de Missirá.

"Para esta operação, além das Companhias de Pára-quedistas, também fizeram parte duas Companhias de Comandos Africanos assim como duas Companhias do Exército, as CCAÇ 3399 e 3477, mais a CCAÇ 18 além de um grupo especial do COE. Todas estas forças estavam sob o comando do Tenente-Coronel Pára-quedista Araújo e Sá, Comandante do BCP 12 tendo como adjunto o Cap Pára-quedista Nuno Mira Vaz" (...) 

Guiné 63/74 - P6405: Do meu álbum fotográfico (Arménio Estorninho) (1): Bissau - Um olhar de turista

1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2010:

Com cordiais saudações a Carlos Vinhal e a todos “Os Tertulianos Tabanqueiros.”
Dando um ar de lembranças pela minha passagem por Bissau, onde aliviei o meu stress e mais parecendo um turista na procura de souvenirs.

Recordando com saudade, com um bloco de imagens de referências sobre a cidade de Bissau que achei interessantes, obtidas de Janeiro a Março/70.

Bissau, como a conheci, era uma cidade pequena, em que a parte urbana (casario de alvenaria) seria idêntica à da minha Lagoa (hoje tembém cidade). Era suficientemente perceptível que a grande maioria dos que se apresentavam como civis eram militares “camuflados à paisana” e/ou seus familiares e parecendo uma cidade cheia de movimento.

Aquando do aproximar do regresso à Metrópole dos militares em fim de comissão de serviço, era ver um movimento inusitado nos estabelecimentos comerciais. Pela minha parte e bem informado, fui comprando muito antes da chegada do navio para o embarque, regateando aqui e além, o que me favorecia obter preços mais acessíveis.

Na baixa de Bissau, tanto de noite como de dia, era ver em grupos os “camuflados à paisana” nos diversos estabelecimentos similares e de restauração, de uma forma geral tudo se movimentava com os militares. Lembrando entre outros: O Noé (dos pombos verdes e ostras), O Solar dos 10 (Restaurante), O Pelicano (na cave, as francesinhas e as inglesinhas), Cervejaria Império, Cervejaria Sol Mar e Esplanada do Bento (locais onde não faltavam as cervejas e os mariscos)

Do meu álbum fotográfico, recordando com um olhar sobre Bissau (1)

Foto 1> Bissau> Bandim> Sacor> (Av. Unidade da Guiné e Cabo Verde)> 1970> Local de paragem de viaturas militares e públicas, para transportes de passageiros.

Foto 2> Bissau> Zona de Brá> Estrada do Aeroporto> 1970> Mulheres grandes “Mindjeres garandis,” levando à cabeça grandes feixes de lenha.

Foto 3> Bissau> Parque Teixeira Pinto> Praça Combatentes da Liberdade> 1970> Parque infantil, as crianças divertiam-se sob a vigilância das mães e/ou amas.

Foto 4> Bissau> Praça Teixeira Pinto> (Praça Combatentes da Liberdade> 1970> Trecho do Parque e Estátua Teixeira Pinto (à esquerda estrada para Alto Crim e à direita para Bandim-Brá).

Foto 5> Bissau> Praça Teixeira Pinto> (Praça Combatentes da Liberdade> 1970> Árvore exótica em floração e fazendo um belo quadro.

Foto 6> Bissau> Av. Teixeira Pinto> (Av. Francisco J. Mendes)> 1970> Avenida urbanizada e tendo ao fundo o monumento na Praça do Império.

Foto 7> Bissau> Pilão (Cupelon de Cima> Mercado de rua> 1970> Vendedoras de farinha de mandioca (fuba) e outros.

Foto 8> Bissau> Pilão (Cupelon de Cima> 1970> Bando de jagudis (abutres) aguardando alguma rapinagem e/ou equilíbrio ambiental.

(Continua)
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6373: De Empada a Bissau (Arménio Estorninho) (2): Algumas aventuras em Bissau

Guiné 63/74 - P6404: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (9): Páscoa de 1968

1. Do nosso Camarada Torcato Mendonça, ex-Alf Mil AT Art da CART 2339, Mansambo, 1968/69, mais um Ao correr da bolha, desta feita lembrando a Páscoa de 1968:


AO CORRER DA BOLHA - IX

PÁSCOA de 1968

Abril, Domingo de Páscoa de 68


Ao certo a data não sei. A agenda diz catorze de Abril como a data do Domingo de Páscoa. Irrelevante para nós pois lá não haviam dias de semana.

Na melhor das hipóteses seria celebrado entre quinta-feira e domingo ou segunda-feira.

Recordo, isso sim, o que aconteceu.

Estávamos em Fá de Cima. Havia messe de oficiais e sargentos. Os soldados tinham refeitório e comida diferente. Em Mansambo a comida era igual para todos e, como vivíamos em abrigos, todo o resto era semelhante. Foi assim que nos ensinaram, à maioria dos graduados, que tiraram a especialidade em Vendas Novas.

Estávamos pois em tempo de Páscoa, tempo importante para a maioria dos militares da Companhia, tempo onde a família é mais fortemente recordada, tempo a ter cuidado com a quebra psicológica de muitos.

A maioria, mesmo os pouco ou nada dados à religião católica, gostaria de comemorar aquele dia.

Assim, mesmo na Guiné, resolveram comemorar e eu estava de acordo.

Só que isso viria a trazer-me mais um aborrecimento com o Comandante da Companhia (o segundo, dos seis que tivemos - quatro capitães – dois do QP felizmente - e dois alferes).

Não comento mais:

- O 1.º Sargento já faleceu;

- Esse capitão só lá esteve mais uns dois ou três meses.

Os militares do meu Grupo, com a conivência dos furriéis, compraram para a festa dois ou três cabritos. Disseram-me e, por mim, tudo bem.

Havia o espírito do Grupo de Combate mas, logicamente neste caso o espírito de união da Companhia prevalecia. A comemoração iria ser conjunta certamente. Penso eu pois era um dia festivo, dia de estar com a família e amigos. Ali, naquela terra distante, local de perigo, essa necessidade seria maior. Acresce ainda a vontade de esquecer, por breves momentos a guerra.

A Companhia era de intervenção ao BART 1904, logo fazia Operações, patrulhamentos, rusgas, montava emboscadas, seguranças a Mato de Cão e toda a actividade operacional do Batalhão.

Antes da Páscoa, fizemos um patrulhamento e emboscada. Segue-se uma segurança a Mato de Cão. Chegamos já tarde a Fá e disse para os militares descansarem até mais tarde no dia seguinte.

Desconhecia que o Comandante da Companhia tinha regressado de uma das suas saídas. Esta a Bissau creio eu.

A meio da manhã do dia seguinte, talvez por volta das nove ou mesmo dez horas, um dos furriéis veio falar comigo.

- O Capitão suspendeu tudo o que a Companhia tinha preparado para o dia de Páscoa. Os nossos chegaram atrasados à formatura e há problema.

Respondi que ia tratar do assunto.

Falei com o Capitão, disse o que se havia passado e o porquê do atraso. Do resto nada disse. Ele é que comandava e o assunto era com ele.

Tudo resolvido. Fui falar com o Grupo e trocamos breves palavras. As suficientes. Tudo esclarecido e cada um foi à sua vida.

O almoço no refeitório dos soldados era normal.

Na messe havia comida diferente a querer dizer: - É Dia de Páscoa.

Recusei-me a almoçar. Troca de palavras menos próprias e abandonei a mesa.

Passado um pouco, um dos alferes veio falar comigo ao quarto. Estava triste. Homem casado sofria certamente mais do que eu. Mostrei-lhe “ O Meu Diário”.

Folheou e disse:

- Não escrevas. Destrói isto. Na porta tens “I’m free” e com isto ainda tens problemas. Hoje sinto-me deprimido e desabafou um pouco…

Segui o conselho de uma pessoa mais calma, menos sanguínea. Ficou a recordação e os cabritos que nos acompanharam para Mansambo. Um deles, não comprado, a levantar problemas… coisas de bodes.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6388: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (8): Promessas

Guiné 63/74 - P6403: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (29): Do Inferno ao Paraíso

1. Mensagem de Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 10 de Maio de 2010:

Caro Vinhal
Mais um pouco da “Viagem…” da 2791 por terras da Guiné, assumindo um dever a que foi chamada e cumprido com dedicação e orgulho por todos os que dela fizeram parte.

Um abraço
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (29)

Do Inferno ao Paraíso


À conta e força de vários, variados e sofridos “passeios ecológicos” (dir-se-ia hoje?!) pela Natureza e natureza das matas “Balangreanas”, começámos a conhecê-las minimamente e aos seus meandros imprevisíveis.

Diga-se em abono da verdade que havia zonas de Paraíso e de Inferno, onde numas e noutras, se “passeavam” gentes diabólicas”. Quando a linha dos “azimutes” calhava de se interceptar, … suavam as “trombas” e soavam as trompas. As espadas e os tridentes enfrentavam-se com fogo, em nome e defesa de uma “verdade”(?) comum a ambos os contendores: aquela terra era considerada ser de sua pertença! Estávamos a ter tempos complicados.

A trinta de Julho a CCAÇ 2791, FORÇA, a 3 GCOMB sai de Teixeira Pinto com “guia de marcha” para Bissau, onde vai tomar parte e ajudar na segurança de proximidade das chamadas “gentes do ar condicionado”, das suas “comodidades civilizacionais” e não só, já que corria à boca pequena que o Amílcar Cabral estaria disposto “sentar-se” na cadeira do Governador Spínola ?!?!

Já não tenho a certeza, mas creio que com o mesmo objectivo de segurança, também se deslocaram para lá efectivos dos Comandos,Páras e Fuzos à mesma estacionados em Teixeira - Pinto.

Devo confessar que sentimos um certo orgulho por nos ter sido atribuída essa missão, que julgámos ser sinal de reconhecimento meritório do nosso passado de intervenção activa.

A par de sentirmos esse orgulho, ficámos contentes e aliviados por nos terem dado esse ”trabalho”, já que em princípio ele seria sinónimo de “não porrada” naquelas matas meias lixadas em que por dá cá aquela palha se “apanhava nos cornos” (salvo seja!). Um gajo nem uma “mijadela” descansado atrás de uma árvore podia dar sem estar sujeito a que nos mandassem uns tiraços aos “tomates”!! Para fazer uma “evacuação fisiológica” era precisa a presença de um “bi- grupo de assistentes”…!! Que o diga quem por lá andou!

Esse orgulho ficou patente aquando da apresentação do Pessoal. A disciplina, o porte e o garbo traduziu-se espectacularmente nos batimentos e movimentos às ordens em Parada, não deixando os créditos por mãos alheias e pouco ou nada ficando a dever à Tropa Especial, comparativamente e nessa matéria, salvaguardando claro, a diferença de estilos.

Para além do mais, todo aquele armamento que usávamos dava na vista por sermos tropa “macaca”, tendo para mim que despertámos a curiosidade em muito boa gente que nos observou. O nosso Capitão Mamede, ”Miliciano de gema”, ficou ufano, ao que recordo! A sua Rapaziada da 2791 - FORÇA era assim e sei que ele se orgulhava e confiava nela e na sua homogeneidade de comando.

Aqui na cidade Capital, tudo seria na certa muito melhor! Umas “férias” sem contar eram um belo prémio. Tínha-nos saído a sorte grande!

A base da CCAÇ 2791 passa a ser o AGRBIS e os seus objectivos serão os patrulhamentos, escoltas, vigilância, emboscadas… assim como assumir posição de destaque em serviços de Bissau, como policiamento, segurança e guarda de instalações consideradas objectivos estratégicos.

Para concretizar estas directivas, os três GCOMB actuaram ao nível de GR ou de secção, conforme a necessidade. Ao meu 2.º GRUPO coube basicamente a segurança e defesa das instalações dos serviços de distribuição de água, na “Mãe de água”; “Central Eléctrica”; ”Emissora de Rádio”, para além de policiamento de Bissau. Para tal fraccionou-se em secções que alternavam creio com as do 4.º GCOMB. O meu Comando fixou-se, ao que recordo, na esquadra (?)da “Mãe de Agua” onde a Polícia, se a memória me não atraiçoa, me ficou subordinada. Daí fazia as inspecções às instalações onde a segurança era feita pelo meu Pessoal, uns patrulhamentos em viatura pela cidade permitindo-me conhecê-la um pouco melhor.

Nas “folgas”, que também as tínhamos, aproveitava-se para mergulhar mais fundo no “banho de civilização” inesperado e as capelinhas em lugares mais ou menos “esquisitos”, com maior ou menor chamamento à sensatez, não eram evitadas,…pelo menos em grupo, não tendo havido ao que sei, quaisquer tipos de incidentes “carnais” à conta de venais “criaturas” insinuantes, de diversas belezas e colorações!!

Na esplanada do “Bento” descansava-se a vista à fresca de umas loirinhas com “camarão - tremoço” observando o bambolear corporal feminino passeante que, coisa estranha, naquelas coordenadas e para mim, tinha outro “sabor”, vá-se lá saber porquê!!

“Pira” que aparecesse por lá era quase de imediato detectado e posto à prova com conversas vizinhas não directas mas audíveis, sobre acontecimentos bélicos terríveis e desastrosos que punham na certa o “desgraçado” com vontade de dar corda aos braços e nadar de volta a casa!! Depois vinha a intromissão:

- Donde és?

- …

- Para onde vais?

- …

É pá, calhou-te um dos piores sítios. É uma zona f…, estão sempre a “embrulhar”!Tiveste um azar do car… pá! F… pá nem queiras saber… ainda ontem…!!!”

As “conversas” do fiz e aconteci narrando feitos guerreiros dignos de filme também eram por vezes audíveis, emanadas por bocas em rostos não tisnados, prendendo a atenção de recém-chegados e não só!

Enfim, ditos “moralizadores” deste estilo “ajudavam à adaptação“ e punham um “Pira” a ver “turras“ em tudo o que era sítio!!!

No entretanto, as “loirinhas”… iam-se acumulando em cima da mesa!! Era uma parte da vida no dia-a-dia de uma cidade em que as fardas eram omnipresentes, fazendo pressentir uma guerra que se passava lá mais para longe. Para mim(nós) era o Paraíso!

Um abraço para todos

Luís Faria

Bissau > Esplanada do Bento

Bissau > Av da República

Fotos: © Luís Faria (2010). Direitos reservados.

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6231: O 6º aniversário do nosso blogue (26): Parabéns Luís Graça por este Espaço de Memória Futura (Luís Faria)

Vd. último poste da série de 14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6156: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (28): Teixeira Pinto - O Bolo

Guiné 63/74 - P6402: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (20): O Nosso Veterano... do Rugby, Paulo Santiago, a jogar em casa, no dia 12 de Junho próximo


Inserido do programa da 7ª edição da Feira da Vinha e do Vinho de Anadia, vai realizar-se no dia 12 de Junho próximo, em Moita, Anadia, o 6º Torneio Internacional de Veteranos, para comemoração do 35º aniversário do Moita Rugby Clube da Bairrada (1975-2010)...


1. Quem havia de dar a cara ao cartaz (promocional) e à iniciativa ? O nosso mui querido camarada Paulo Santiago, que é natural do concelho ao lado (os de Anadia e de Águeda são bons vizinhos, melhores amigos mas também terríveis rivais, eles mais os da Mealhada, em matéria de... leitão da Bairrada!... Em contrapartida têm em comum o rugby, a paixão pelo rugby)...

Parabéns ao Paulo não só pela veterania como sobretudo pela invejável juventude que ele respira (e transpira) por todos os poros. E a propósito deixem-me dizer-vos que o blogue do Moita Rugby da Bairrada transcreveu, em 14 de Janeiro, último o hilariante texto, da autoria do Miguéis, publicado no nosso blogue no dia de anos do Paulo (*). À guisa de introdução, faz-se uma pequena homenagem ao Paulo, jogador veterano e dirigente desta modalidade

"O blog do nosso clube é essencialmente um espaço para divulgação do rugby. Privilegiamos, como é natural, temas relacionados com o clube da Moita e de tudo o que, de uma ou de outra forma, esteja relacionado.

"Por isso mesmo, não podiamos deixar de publicar neste nosso espaço, um maravilhoso texto que encontramos num blog de antigos combatentes portugueses na Guiné, http://www.blogueforanadaevaotres.blogspot.co/ , que virtua um nosso antigo atleta (hoje veterano e ex-presidente do clube) Paulo Santiago, personagem muito querida para todos nós, sempre disponível para o que quer que o clube necessite. É inclusíve o actual Presidente da Assembleia Geral da nossa colectividade.


"Foi escrito por um colega seu de armas e presta também uma homenagem interessante ao rugby, tendo em conta a época a que se refere (anos 60)"...





2. Comentário do Paulo, com data de 14 de Janeiro, ao referido poste:

Esta história do meu camarada e amigo Mário Miguéis foi uma agradável surpresa que ele e o blogueforanadaevaotres, resolveram fazer-me no dia 6 de Janeiro, dia em que fiz 62 anos.

Esta história é ficção, mas existe alguma verdade... da primeira vez que vim de férias, passados nove meses de mato, já bastante apanhado pelo clima, comprei em Coimbra uma bola, ADIDAS, o melhor que havia na altura, e transportei-a para a Guiné.

Esclareço, os meus soldados eram negros guineenses, jamais tinham ouvido falar num desporto chamado Rugby, a única bola que conheciam era redonda, e no futebol tinha uns craques, agora imaginem os tipos a olharem para uma bola que parecia uma papaia... não havia melões na Guiné.

Após uma palestra explicativa, houve um treino... o Saltinho, grande azar, seria dos poucos locais na colónia onde existiam bastantes afloramentos de rocha, não existia um campo pelado, existia um campo pedrado.

Ninguém partiu nada, mas houve umas escoriações e uns encontrões mais ou menos violentos... o Alferes Médico, o tal Dr. Faria, aconselhou-me a meter a bola no saco...

Abraço aos amigos do Moita,

Paulo Santiago
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Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5598: Parabéns a você (63): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Mário Migueis / Editores)

Guiné 63/74 - P6401: Blogoterapia (149): Com os Gringos de Guileje, e com o nosso blogue, mantendo viva a chama de uns velhos, ontem miúdos, combatentes (Amaro Samúdio, CCAÇ 3477)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477, Os Gringos de Guileje (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) > O Munoz Samúdio, que era 1º cabo enfermeiro, junto à peça de artilharia 11, 4 cm . Ao fundo vê-se a fiada de arame farpado. E, em primeiro plano, "a nossa cadela Lolita que veio de Gadamael", como fez questão de me chamar a atenção o Samúdio.

Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.


1. Mensagem, de hoje, do Amaro Samúdio, a propósito do 4º Encontro da CCAÇ 3477 e de uma mensagem de Junho de 2007 que andava para aí "perdida" (enviada para a minha caixa de correio pessoal), relativa à Op Muralha Quimérica (Guileje, 27 de Março a 8 de Abril de 1972), em que participaram forças do BCP 12, do Batalão de Comandos Africanos e da CCAÇ 3477).

Luís: Mas o que interessa isso... É mais uma estória ou história no TO da Guiné de uma Companhia, neste caso de Açorianos, que tem, como todos os anos em que nos encontramos, situações que só é possível contar por quem lá passou.

Luís Graça, eu sempre fui um anti-regime. Os Gringos sabem-no. Hoje, depois do 25 de Abril, como Ex-Combatente, com letra grande, sou-o também.

Não posso admitir, e permanente tento fazer ouvir a minha revolta, que quem perdeu anos de vida, anos de juventude, anos de convivências com os seus filhos, como foi o meu caso, não tenha direito à paz e à medalha que lhe é devida. À Reforma e ao Louvor, por ter sido ANTIGO COMBATENTE, que lhe são devidos.

Fico-me por aquí.

Um Grande Abraço e um sincero agradecimento por manteres viva a chama de uns velhos, ontem miúdos, Antigos Combatentes.

Amaro Samúdio (**)


2. Comentário de L.G.:



Amaro: Ficou feliz por saber que vocês continuam a encontrar-se todos os anos, desde 2007, ano em que, em parte devido ao nosso blogue, e sobretudo graças aos teus esforços, do Fernandes Mendes e do Amândio Pires, foi possível juntar os Gringos de Guileje, pela primeira vez, depois do regresso da Guiné, em 1973...


Fico feliz por saber que continuas a visitar o nosso blogue. Espero voltar a reencontrar-te em Matosinhos, um dia destes. 


Entendo a tua revolta e frustração, como antigo combatente. Conto contigo e com os demais Gringos para manter, activo e produtivo, este espaço de diálogo e de convívio que é o nosso blogue. Irei publicar, em breve, o teu texto sobre a Op Muralha Quimérica.

Um Alfa Bravo. Luís


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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio).

(...) Em 19 de Maio do corrente ano Os Gringos, como se intitularam, encontraram-se em Montemor-O-Velho. Já lá vão 33 anos que não sabíamos de ninguém. Hoje cerca de 50 já sabem que não morremos. Dos diversos Distritos da Metrópole e dos Açores, de França, da Alemanha,dos EUA, estamos ligados.

Naturalmente temos tido algumas más notícias. São 33 anos. Sentí que devia falar desta estória. Dois camaradas no mesmo dia foram feridos. Com um estive a almoçar. Outro morreu.

Imaginas, certamente, quanto difícil foi escrever estes acontecimentos mas há alturas em que contar, transmitir, falar, faz bem.

Isto de falar, e ouvir falar, da Guiné está a mexer com quem por lá passou e também com a ideia de, passados 35 anos, encontrar amigos que connosco estiveram nas longínquas terras da Guiné, nomeadamente em Guileje. Tm as partes boas mas também as más. (...)

(** ) Amaro Munhoz Samúdio, que vive em Matosinhos,  foi 1º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 3477 (Nov 1971/ Dez 73) , a companhia de açorianos que ficou conhecida como Os Gringos de Guileje: estiveram em Guileje entre Novembro de 1971 e Dezembro de 1972); foram a penúltima unidade de quadrícula de Guileje, sendo rendidos pela CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) - Piratas de Guileje.

Guiné 63/74 - P6400: Convívios (240): 4º Encontro da CCAÇ 3477 “Os Gringos de Guileje”, Águeda, 8 de Maio de 2010 (Herlânder Simões / Amaro Samúdio)


1. Os nossos Camaradas Herlânder Simões (ex-Fur Mil At Inf) e Amaro Munhoz Samúdio (ex-1º Cabo Enfermeiro), da CCAÇ 3477, "Gringos de Guileje” - Guileje - 1971/73, enviaram-nos notícias e fotos da festa da sua Companhia:


4º Encontro da CAÇ 3477 “Gringos de Guileje”
Camaradas,
Realizou-se ontem 8 de Maio, o 4º Encontro dos “Gringos de Guileje”, em Sangalhos, nas Caves Aliança.
A organização do evento, que foi excelente, esteve a cargo do ex-Fur Mil Manuel Albano Abrantes da Costa.
Foi um encontro bastante emotivo onde estiveram presentes, pela primeira vez, alguns camaradas dos Gringos.
Esteve ainda presente o ex-Alf Mil Manuel Reis dos “Piratas de Guileje”, a Companhia que rendeu os Gringos, em Guileje.

Uma boa cabidela de leitão e um excelente leitão bem regado, para além de uma colectânea de excelentes slides de Guiléje, que nos foram trazidos pelo Abrantes Costa.

Ficou já marcado o próximo encontro, que será organizado pelo nosso comandante o ex-Cap Mil Abílio Delgado, com a preciosa colaboração do ex-Fur Mil Parreiras.
O Amaro com o seu neto nas Caves e na Exposição do Berardo e, ao fundo, o ex-Capitão dos Gringos Abílio Delgado
Um Abraço,
Herlander Simões
Fur Mil At Inf, e
Amaro Samúdio
1º Cabo Enf da CCAÇ 3477

P.S. - O Herlander aproveita esta oportunidade, para agradecer publicamente ao seu Amigo e Camarada Amaro Samúdio, por ser um dos principais responsáveis pelos reencontros dos Gringos.
Miniguão de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
15 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6398: Convívios (154): 1º Encontro/Convívio das 3ª CCAÇ e CCAÇ 5 “Gatos Pretos” (José M. Martins)

Guiné 63/74 - P6399: Parabéns a você (114): Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAÇ 8351, Cumbijã, 1972/74 (Carlos Vinhal / Belarmino Sardinha / Giselda e Miguel Pessoa / JERO / Manuel Maia)

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Figura notável da História de Portugal, Vasco da Gama,  o navegador, tem na actualidade um homónimo que não o desmerece.

Falamos do nosso, também temos um, Vasco da Gama, igualmente Capitão, mas de uma Companhia de Infantes do Séc XX.

Quis o rumo da História que fosse necessário que Vasco da Gama, o nosso, tivesse de servir Portugal, combatendo na Guiné, na vã tentativa de manter intacto o Império que Vasco da Gama, o outro, ajudou a construír.

Hoje, dia 16 de Maio de 2010, está de parabéns o ex-Capitão Miliciano, Vasco da Gama, Comandante da CCAV 8351, que andou por terras de Cumbijã nos idos anos de 1972/74.

A tertúlia, os editores e os camaradas intervenientes neste poste, vêm desejar ao nosso Capitão, que hoje seja um dos melhores dias de aniversário da sua vida, já que tem com ele mais de quatrocentos amigos a torcerem para que tenha uma longa vida, junto das pessoas que mais ama.


Mostramos agora duas fotos de Vasco da Gama distanciadas no tempo 36 anos:


Nesta foto (Aldeia Formosa, 1973), Vasco da Gama, com ar intrigado, pensando que não faz mesmo parte deste filme porque não está a entender a cena.

Nesta situação (Ortigosa, 2009, no IV Encontro Nacional do nosso blogue), como peixe na água, em conversa amena com um outro ilustre tertuliano, José Brás.


2. Vamos dar a palavra a três amigos do Vasco da Gama


Belarmino Sardinha

Aniversário do, não de, Vasco da Gama


Uma pequena diferença.

Comecei por ouvir falar de Vasco da Gama era ainda miúdo pequeno... Não pensei nunca vir a conhecê-lo pessoalmente...

Diziam-me que tinha feito uma descoberta… Desconhecia que era a de fazer amigos.

Pelo que sabemos hoje, terá conquistado os seus subordinados e as populações locais.

Com o seu bigodinho fino e porte altivo, este capitão miliciano só não tinha monóculo, talvez óculos escuros.

Hoje, com mais idade, bastante mais idade, não sei se o Vasco, ou o Vasquito, perdoem-me o abuso na familiaridade, tornou-se um amigo do peito, daqueles que sabemos serem-no,  mesmo quando tudo se desmorona à nossa volta.

Andámos por alguns dos mesmos locais. Nessa altura não tivemos o prazer ou a sorte de nos conhecermos, mas também não sei se teria sido bom, os tempos, a situação, o meio, as funções e a patente eram diferentes, poderiam ter sido um estorvo. Conheci-o através deste espaço muitos anos passados, mas não tenho dúvidas em afirmá-lo, hoje com mais experiência de vida do que na altura, que lhe confiaria o meu destino nas decisões que escolhesse.

Homem de princípios, por vezes com o sonho como meta de vida, torna-se intransigente, mas é essa a sua originalidade e a sua maneira de estar e obrigar os outros a partilharem com ele.

Honesto e dedicado,  tem dois estados que alternam na sua vida, a euforia e o desânimo.

Com todos estes predicados, mesmo subtraindo os aspectos menos positivos, é claro que encontramos um amigo.

Vale a pena ter amigos assim.

Obrigado, Vasco, por seres meu amigo.
BSardinha
16Mai2010

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José Eduardo Oliveira

Meu Caro Capitão Vasco da Gama


Como é que se pode sentir tanta proximidade por uma pessoa que, em passado recente, eu não sabia que existia!!?E como é que esse “desconhecido” do ano passado passou a ser tão importante na minha vida?

Não sei mas… ia jurar que esse é um dos “milagres” do blog do nosso Luís Graça.

Depois de tantos anos a falar sozinho – que era quebrado uma vez por ano nas reuniões da minha CCaç 675 – encontrei mais “irmãos” que me entendem e com quem posso falar a mesma língua de ex-militar.

O Vasco da Gama é um dos “pilares” nesta nova fase da minha.

E faz anos…  O que é que eu lhe hei-de oferecer que ele não já não tem?

Por uma destas coincidências que acontecem uma vez na vida estive recentemente uma conversa com o Presidente Cavaco Silva que visitou Alcobaça, e… falei-lhe no Vasco.

Vou resumir o diálogo com o PR.

Pedi para o Vasco da Gama uma comenda. E dei-lhe as minhas razões. E fui ouvido.

Vamos ter o nosso Vasco da Gama,  Comendador.

E com direito a uma Rua com o seu nome em Buarcos.

A placa está pronta e vai seguir pelo SPM.

Parabéns,  Grande Vasco. E não me agradeças.  Tu mereces tudo.

Um grande abraço cisterciense do teu amigo dedicado,
JERO

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Manuel Maia

Caro Vasco,


Nesta fase derradeira, neste ocaso das nossas vidas, somos confrontados, amiúde, com dias menos bons em que nos chamam velhos, cotas, eu sei lá que mais, umas vezes em tom de chalaça, outras nem por isso, se hipoteticamente "salta a tampa" em chatice da bola ou do trânsito, ou porque os olhos são desviados para uma silhueta de mulher à moda antiga com curvas em "su sítio", e há alguém que não gosta do ar misto de admiração e fome que nessas alturas, sem nos apercebermos, espelhamos no rosto...

Noutras situações somos nós próprios, por esta ou aquela razão, quantas vezes relacionadas com saúde nossa ou de familiares muito próximos, e, momentâneamente, deixámo-nos ir abaixo...

Foi pois neste sentido de contrariar essas situações por que todos passamos, às vezes, que optei por duas sextilhas algo satíricas, para darem alento, e outras duas mais sérias.

Quero finalmente desejar-te um domingo de aniversário prenhe de saúde e alegria extensivo aos teus, que te "aturam" nos bons e maus momentos e enviar-te um grande abraço de parabéns por esses 64 na corrida para os 100.

Do amigo reconhecido

Manuel Maia


Deixemo-los "gozar com a velhice"
dizendo que as barrigas são "chatice",
não ligues às bicadas dessas vozes...
Que interessa que o cabelo vá cair,
se sentes ser capaz d`inda partir
co`a dita, à martelada, muitas nozes?

Que importa que te chamem velho, cota,
que o peso desta idade já se nota,
porquê te incomodares sem razão?
A idade está na tola, sabes bem,
se a gatilhada vem e se mantém,
que interesse tem aquela afirmação?

Se um Gama, Vasco, foi navegador
das Índias, via mar, descobridor,
catando especiarias e riqueza...
um outro, capitão de igual valia,
as terras da Guiné demanda um dia,
em quadro de alta guerra e de pobreza.

Em ombros de esperança e fé, não nega,
responsabilidade em si carrega,
das vidas de que foi então tutor...
fiável, culto, dado, "camarigo",
maralha que levou, trouxe consigo,
proeza que engrandece o seu autor.


Manuel Maia
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Notas de CV:

Vd. postes no marcador Vasco da Gama e CCAV 8351

Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6358: Parabéns a você (113): Henrique José de Matos Francisco, ex-Alf Mil, 1.º CMDT do Pel Caç Nat 52, 1966/68 (Os Editores)