quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3641: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (2): Aventura de Domingo

1. Mensagem de António Paiva, ex-Sold Cond no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 15 de Dezembro de 2008:

Caro Carlos
Ter sido condutor no HM 241 tinha, por circunstâncias do momento, variações de serviços.

Num domingo, vinha eu da caserna para a cantina, sou apanhado pelo Tenente Teixeira da formação, que me diz:

- Ó pá, já que aí estás, vai lá com eles levar o lixo.

Boa, lá fui eu fazer um serviço que nunca tinha feito, pois eram os africanos assim como o condutor que o faziam, todos bons rapazes, o condutor, creio que por motivos familiares, não estava.

Peguei no Unimog 404, carregado de lixo e lá fui eu para destino desconhecido com mais quatro africanos. Próximo dos Adidos, virou-se à esquerda por um caminho ou estrada de terra que ali havia, a distância era longa, lá para o fim do mundo a meu ver, mas os meus companheiros de percurso sabiam onde era.

Chegados ao local, despejado o lixo, fez-se o monte característico daquilo que não presta.

Pensei que despejado o lixo me vinha embora, mas não, tinham por hábito meter o Unimog numa bolanha ali próxima para o lavarem, tinha de ser metido de marcha atrás até meio da caixa. Não estava muito convencido, pensei, estes gajos estão malucos, mas tanto insistiram, porque era assim que faziam, que eu acabei por ceder.

Feita a lavagem, meto-me nele para o tirar, vai começar o inferno:

Começo a tentar tirá-lo lentamente… mas quê, sob as rodas de trás começa o terreno a ceder e ele a ir mais para baixo, penso cá para mim, estes cabrões lixaram-me. Tento rotores… e nada, tenho água a chegar à cabina e eu dentro dela a olhar o céu sem ter de levantar a cabeça.

Aflito e descontrolado tento sair, com certas dificuldades consigo pôr os pés em terra, logo lhes digo:

- Estão f..., enganaram-me, mas eu também os vou f…, agora metam-se dentro da bolanha e peguem nele às costas.

Gesticularam, resmungaram e não sei que mais diziam.

Não digo que o fizessem por mal, mas porra, eu é que estava em jogo. Ainda lhes disse:

- Agora vão a pé até ao Hospital e tragam ajuda.

Claro que não iam, era longe como o caraças, pensei muito mal da minha situação, sem apoio, sem nenhuma comunicação e perdido no deserto…, só me restava um milagre vindo do céu.

Passou tempo e o tempo não mais findava.

Olha, começamos aos saltos e a gesticular com os braços, o helicóptero vinha do lado de Bissau para a Base, bem alto lá longe.

- O gajo não nos vê, estamos feitos.

Mentira, vimo-lo virar à esquerda na nossa direcção, deu a volta e foi para a base.

As viaturas tinham escrito na frente Hospital Militar, o que levaria aquele piloto a pensar: - Olha, aqueles que pensam que só ajudam, também precisam dela. É verdade, todos precisavamos uns dos outros. Longo tempo depois vejo vir pelo caminho, onde tinha passado, um carrão da Engenharia que até metia medo. Lá se engatou ao, adormecido e fraco das pernas, unimog e o retirou de dentro de água.

Quero aqui, passados 38 anos, deixar o meu sincero agradecimento a esse piloto que lá do alto me deu a mão. Não sei quem foi, mas, entre os gloriosos, se vasculharem na memória feitos dos tempos passados, talvez o próprio se vá lembrar de ter visto o Hospital a olhar para o céu.

Um abraço a todos
António Paiva
____________

Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 13 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3615: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (1): Corrida com triste fim

Guiné 63/74 - P3640: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (4): 1973, Ano Novo... Vida Velha

1. Mensagem de Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74, com data de 11 de Dezembro de 2008, com mais um episódio da História dos Tigres (*).

Ano novo… Vida velha

Janeiro de 1973 inicia-se porco, feio, violento, e o primeiro aviso de que a Guiné era a sério acontece-nos a 10 de Janeiro.

Um dos nossos Grupos de Combate fazia patrulhamento em IEROIEL - SAMBA SEIDI - Rio Nafa, portanto na zona de Aldeia para a fronteira, quando o quarto elemento da coluna accionou uma mina antipessoal.

Contactado o quartel de Aldeia, logo saí a comandar um Pelotão reforçado, com a colaboração de um guia, e rapidamente chegámos ao local. Tomadas as devidas precauções, evacuei de imediato o ferido grave, de seu nome Francisco da Silva Ribeiro Mota, para Aldeia Formosa, de onde foi transportado para Bissau e, mais tarde, ainda no decurso do mês de Janeiro para Portugal. Fizemos o reconhecimento da zona e constatámos vinte e cinco abrigos bem cavados situados a cinco metros do trilho minado. Picámos cuidadosamente todo o trilho e encontrámos e levantámos duas minas anti-pessoais. Segundo o guia que me acompanhou e com quem tanto aprendi numa aula prática forçada, teria estado preparada uma emboscada por um grupo que havia abandonado o local cerca de duas horas antes, seguindo na direcção do rio Habi e flectindo depois para o sul.

Uma nota de apreço e louvor aos nossos guias

Uma pequena nota, para mim de importância fundamental, no sentido de elogiar o papel dos guias que comigo trabalharam, verdadeiros mestres de caminhar no mato e com um sentido de orientação apuradíssimo, sempre atentos a indícios que passavam despercebidos à grande maioria dos nossos soldados, e que eu exigia que eles me explicassem para que os homens que eu comandava pudessem mais tarde absorver.

Já que falo nos guias, foi com grande estupefacção que li há uns tempos atrás num poste da nossa Tabanca que o capitão de determinada companhia mandava matar os guias, finalizada que fosse a Operação em que estes participavam. Acabei por não saber se era ficção ou realidade.


Se era ficção dela ressalta o desprimor com que alguns conseguem aguiar (consultar dicionário) (**) com cores escuras e adjectivos caluniosos os que foram obrigados a combater; pelo contrário se foi realidade, não entendo o silêncio cobarde dos que não foram capazes de tornar público crimes de tal tipo no momento próprio. Nunca tive medo de nenhum superior hierárquico, sempre os respeitei, como respeitei todos os meus camaradas, mas a nenhum deles consenti que me pusessem o pé no cachaço. Nem a militares nem a civis.

Sou do tempo em que na Faculdade de Economia se fez greve a um ditador, enganei-me, a um professor muito antes do 25 de Abril! Exactamente, antes do 25 de Abril! Soube arcar com as consequências e ainda hoje aos sessenta e dois anos prefiro a fome do lobo à coleira do cão.

A minha modesta participação na Tabanca Grande, que em boa hora descobri, e que julgo ter também como fundamento um convite à vida participada, vai no sentido, atrevo-me a dizê-lo, de que as gerações que se nos seguiram, incluindo os que nos (des)governam, tenham o respeito por quem tanto sofreu e não se esqueçam de se curvar respeitosamente perante todos os camaradas que tombaram em combate numa guerra que não era a deles.

A esmagadora maioria dos ex-combatentes tem a humildade e a solidariedade, que são conceitos sem significado na vossa sociedade de senhores de anéis e de podres compadrios. Penso não conhecer pessoalmente nenhum dos camaradas da Tabanca (***), mas sinto-os como elementos da minha família; vocês, os que não nos conhecem, também não conhecem nem cumprimentem o vosso vizinho que mora no andar de baixo ou de cima.

Ex-combatentes, quem são esses gajos? Eram pedreiros, carpinteiros, médicos, engenheiros, padeiros, universitários, analfabetos, arrancados à família e ao emprego e obrigados, na sua esmagadora maioria, a partir para o desconhecido com a preparação militar, em muitos casos de pouco mais de seis meses, que dependiam uns dos outros para sobreviver. A amizade que se criou e que perdura há quase quarenta anos é algo que os senhores nunca vão conseguir descobrir…

Voltemos ao malfadado ano de 1973 e , se ainda não me perdi, estamos em Janeiro.

Segurança à construção da estrada Aldeia Formosa-Cumbijã

Volvidos quatro dias, portanto a 14 de Janeiro, estávamos em preparação para uma saída que consistia numa emboscada nocturna, seriam umas 15 horas, um camarada do mesmo grupo do Mota, por distracção, ao preparar a G3, deu um tiro que felizmente só lhe arrancou parte da falangeta. Teve no entanto de ir para Bissau curar-se dessa maleita.

A 19 desse mês os Tigres voltam a ser visitados pelo Sr. Comandante Militar, novamente para apreciar a nossa evolução. Pareciam visitas a mais dos Graúdos, mas elas continuaram como vamos ver e ilustrar.

Por esta altura a estrada ia caminhando a bom ritmo e a nossa Companhia, em conjugação com outras forças, picava a frente dos trabalhos. À noite emboscávamos na Zona do Cumbijã ou vínhamos dormir a Aldeia, tudo dependia da articulação com as outras Companhias. Quando dormíamos em Aldeia seguíamos na coluna militar que protegia centenas de capinadores e outros trabalhadores da Engenharia, bem como as máquinas. Os vestígios de passagem de grupos do PAIGC eram cada vez mais evidentes. Sabíamos que antes da estrada chegar ao Cumbijã as coisas iam aquecer.

No dia vinte avancei um pouco mais com a Companhia e detectámos um carreiro enorme por onde tinham passado havia pouco tempo um grupo estimado em mais de quarenta homens. Redobrámos os cuidados, apresentou-se um relatório detalhado dos movimentos na frente dos trabalhos e, curiosamente, a vinte e cinco de Janeiro, Aldeia Formosa é flagelada durante quinze minutos, tendo sido referenciados 60 rebentamentos. Digo curiosamente pois os ataques a Aldeia Formosa provinham de bases situadas do lado contrário ao da frente de trabalhos.

Na manhã seguinte, dia 26 de Janeiro, ainda comentando o embrulhanço da véspera, que mais uma vez não causara qualquer mossa, lá vai a malta toda para a frente da estrada em coluna auto quando em XITOLE 4G 7-21 (vd carta militar) levámos com uma emboscada a parecer bem.

Para além da minha Companhia seguiam também dois grupos da CCaç 18. As crónicas oficiais rezam que fomos emboscados por um Bigrupo IN com morteiros, RPG e armas ligeiras. Na reacção à emboscada a CCaç 18 teve dois feridos graves, um dos quais era um graduado, penso que furriel. A nossa Companhia não teve feridos. Passadas umas horas uma viatura do Batalhão de Engenharia accionou uma mina anticarro na região da Pedreira, mas o condutor saiu ileso.

No dia 29 dois Gr Comb dos Tigres em conjunto com um Pelotão da 6250 detectaram uma mina anticarro com dispositivo antilevantamento e 12 minas antipessoais.

A morte de Amílcar Cabral, chorada por uns, festejada por outros

Janeiro havia chegado ao fim, mas algo de muito importante não pode deixar de ser referido: O assassinato de Amílcar Cabral que ocorreu a 20 de Janeiro de 1973 em Conacri (e não no Senegal, como alguém por distracção postou no blogue).

Não vou entrar em considerações sobre a pessoa de Amílcar Cabral, não tenho capacidade para tal e os entendidos já publicaram literatura suficiente para todos os gostos sobre essa personalidade que, quer se queira quer não, foi o paradigma das lutas de libertação das ex-colónias.

Apenas dois pequenos registos, o primeiro para dizer que um amigo do meu pai, também homem do reviralho, mas bastante mais jovem e bastante mais contundente na forma como manifestava os seus ideais, fora colega do, também como ele, engenheiro Amílcar Cabral. A segunda nota é uma nota de tristeza para a alegria com que pelo menos duas pessoas festejavam, bebendo à saúde da morte do Cabral. O nome tinha outra terminação e os artistas eram oficiais. Curiosamente ou talvez não, nenhum dos dois era operacional.

Lembro-me de cena semelhante com outros personagens, era eu professor no Instituto Superior de Contabilidade e Administração, quando a morte do Dr. Sá Carneiro foi também comemorada, dizem-me que durante toda a madrugada de 4 para 5 de Dezembro de 1980. Lembro-me da data, pois eu havia casado a 5 de Outubro de 1970. Palavras para quê?

Fevereiro, dia primeiro, mais um ataque ao aquartelamento de Aldeia durante cerca de, cito, 50 minutos com cerca de setenta granadas de canhão sem recuo e 6 Foguetões 122. Nunca tinha ouvido o estrondo de um foguetão. Esses assustaram-me, mas foram um bom treino para o que nos aguardava no Cumbijã e posteriormente em Nhacobá. Houve sempre uma coisa que me intrigou durante todo o tempo em que estivemos em Aldeia, não me lembro de nenhuma granada ter caído dentro do quartel. Teria o PAIGC receio de acertar na população que se acantonava à volta do quartel?

O Cancioneiro de Cumbijã

Seria fastidioso enumerar todos os ataques que sofremos neste período sobretudo na protecção à estrada, como seria injusto não referir uma das Companhias do Batalhão que, já muito perto do final da comissão, foi fustigada por uma série de azares: a Companhia de Caçadores 3399, vulgarmente conhecida pela 99 e comandada por um capitão do quadro chamado Horácio Malheiro, de quem voltarei a falar mais adiante. Foi meu companheiro de longas conversatas, homem extraordinariamente simpático, com quem me identifiquei pouco tempo após a chegada a Aldeia, e era sobretudo solidário nos reveses que iam surgindo.

Não o vejo desde Julho de 1973, pois a partida do seu Batalhão coincidiu com a minha vinda de férias a Portugal. Deixou-me uma carta muito simpática que ainda hoje conservo, tendo também herdado alguns dos seus bens.

Neste período de Fevereiro/Março em que a guerra das minas era tremenda, pelas minhas notas registo, relativamente à 99, um ferido grave e dois ligeiros a 4 de Fevereiro, outro ferido grave a 26 de Fevereiro também por accionamento de mina e ainda um outro em finais de Março. Também um dos nossos camaradas de Mampatá, Companhia comandada pelo Marcelino, meu colega de curso e amigo, teve a infelicidade de accionar uma mina a 16 de Março na frente de trabalhos da estrada.

A CCav 8351 havia passado incólume a este vendaval de minas. Apenas uma pequena nota pessoal para o meu camarada Manuel Félix, o melhor pica da Guiné.

Os dados estavam lançados, o destino dos Tigres era... o CUMBIJÃ.

Termino mais um capítulo, desta feita com um poema premonitório que o meu camarada Tavares de Bastos, alferes da CCaç 3399 me dedicou

NA ESTRADA DO CUMBIJÃ

Vêm picadores
Incertos descobridores
da oculta traição
e deixam pedaços de si próprios
nas bermas alagadas.
Os camaradas raivosas lágrimas
a mata ri, quietamente.
Vêm também atiradores caçadores
naquelas viaturas
às centenas os negros descapinadores
e a engenharia.
Há calor de emboscada tiroteio estrondos
crepitam as armas infernais.
Berros caralhadas ais.
Sangue.
E alguém morre sozinho no chão estranho
E o irmão de longas horas não sente
Já não quer
Apaga a dor.
O hábito queima a dimensão do perigo.

Pela manhã
Há escura guerra
Nesta terra
Do Cumbijã.

Máquinas malucas ( orgulho da técnica )
Com fúria galgam bolanhas irrompem capim selvas;
As árvores tombam… amanhã levantar-se-ão… depois…
Poeira
suor
nuvens nos olhos
a terra é rasgada violentada.
Atrás o alcatrão arrasta-se
Mas os dias, os dias não fogem
nesta terra
do Cumbijã
onde logo pela manhã
há guerra.

Lá,
onde o rio solteiro (?!) alaga extensos arrozais,
Nhacobá,
longe da confusão,
promete rebelde vulcão
que não parará jamais.


Por esta altura estava desfalcado de dois alferes. Um tinha ido para a Chamarra, outro para Bissau.

Estou cansado, camaradas, deixo-vos com duas imagens do que era o Cumbijã.

Vasco da Gama (***)


Guiné > Regiãod e Tombali > Cumbijã > 1973 > CCAV 8351 (1972/74) >A triste paisagem de Cumbijã, na época seca...

Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > 1973 > CCAV 8351 (1072/74) > As minas, sempre as minas, as malditas minas...

Fotos: © Vasco da Gama (2008). Direitos reservados

___________

Notas de CV:

(*) Vd. último poste da série de 16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3638: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (3): Jan 73: Com o Cherno Rachide, em Aldeia Formosa

(**) Aguiar, o m.q. fazer tratantadas

(***) O que era verdade no dia 11 de Dezembro, mas não no dia 13: O Vasco apareceu na sessão de lançamento do livro do Coutinho e Lima e teve oportunidade de fazer novos amigos...

(****) Subtítulos e negritos da responsabilidade do editor

Guiné 63/74 - P3639: Blogues da Nossa Blogosfera (11): Do Cerro do Cão, em Peniche, ao Apocalipse Now (José Pedrosa / Luís Graça)



Cópia da folha de rosto do Blogue de José Pedrosa, Cerro do Cão ("Aqui só o vento muda, sem cumprir tempos ou vontades. Aqui só o mar bate: por ciúmes ou por vaidade !").

Imagem: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados



1. O José Pedrosa já apareceu aqui no nosso blogue, no Nosso Livro de Visitas, em data recente (*). É, além disso, um dos actuais 17 seguidores do nosso blogue (**).

Ele foi Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, na CCaç 4747. Esta companhia açoriana esteve na na Guiné em 1974: Cumeré, em Janeiro de 1974; Chugué/Bedanda, entre Fevereiro e Julho de 1974; e no Biombo, até Agosto de 1974.... "Depois, no mês de Setembro de 1974 andei a negociar com o Cap Eng Pires a entrega do campo de minas de Bissau ao PAIGC e regressei em 28 de Setembro de 1974. Foi por pouco tempo, mas deu para aprender muito daquilo que a guerra colonial ensinou às nossas gerações".

É bancário, aposentado, da Caixa Geral de Depósitos. Tem 56 anos e indica, no seu perfil, o Apocalipse Now, de Ford Coppola (1979), como um dos seus filmes favoritos.

[A propósito, a dantesca sequência do ataque da cavalaria helitransportadade, comandada pelo cow-boy do tenente-coronel Bill Kilgore, a uma aldeia vietcong, na bacia do Rio Nung , sob a inebriante música do Wagner, A Danças das Valquírias, está disponível no You Tube, num longo excerto de 18 minutos e 1 segundo; é uma das melhoras sequências de guerra de toda a história do cinema e uma das mais perturbadoras ilustrações, pela 7ª arte, da nossa pulsão assassina e da nossa condição de primatas predadores].

Este ano o José Pedrosa (Zé Pedrosa, para os amigos, penicheiros ou não, e que se autodefine como "ser humano, simplesmente") teve a felicidade de poder reunir todos camaradas, naturais de (ou residentes em) Peniche, que fizeram a guerra colonial / guerra do ultramar na Guiné. No seu blogue (que tem menos de um ano), escreveu um texto, singelo mas bonito, a marcar essa data, de 19 de Abril.

Espero, em breve, a sua companhia no seio da nossa Tabanca Grande. Espero também que ele nos possa relatar como foram os últimos meses da malta, no TO da Guiné, a seguir ao 25 de Abril. Gostaria, muito em particular, que nos ensinasse como é que se negoceia, com o inimigo de ontem, um campo de minas à volta de uma cidade...

Aqui fica um excerto do seu blogue, com a devida vénia... Devo acrescentar que não é um blogue centrado na experiência da Guiné, mas sim na sua condição de filho de Peniche, adoptado, e no exercício da sua cidadania.

Em troca deixo-lhe também, em roda pé, uma excerto de um poema (meu) sobre o meu pedaço de costa preferido, Paimogo, com as Berlengas, o Cabo Carvoeiro e Peniche à vista (***) (LG)

2. Blogue Cerro do Cão >José Pedrosa > Segunda-feira, 21 de Abril de 2008 > Memorial da Guiné

Reviver o passado é custoso. Dói-nos muito comparar o que somos e o que fazemos com o que fomos e o que fizemos. É uma dolorosa emoção: embarga a voz, humedece os olhos e faz com que a alma fique por ali, cataléptica, à espera de ordens do intelecto.


É sempre assim quando nos (re)encontramos com a história, a nossa história pessoal que, normalmente, tem episódios ou causas que nos ligam a outros como nós.

E depois dessa dor, do embaraço de rever dois, cinco, dez e mais companheiros duma causa comum - cruel e violenta, que involuntariamente fez parte da nossa vida - depois disso, vem a alegria contagiante com que cada um de nós quer partilhar o lembrar-se de si mesmo.

Foi assim, sábado passado (dia 19) no 1º Encontro dos Penicheiros Ex-Combatentes na Guiné; sem heroísmos nem falsos orgulhos, com humildade e respeitando tanto o passado como o presente.


Para a história de Peniche (se me é permitida a imodéstia) fica esta memória.

_______

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 9 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3590: O Nosso Livro de Visitas (48): José Pedrosa, ex-Alf Mil da CCAÇ 4747 (Guiné, 1974)

(**) Vd. poste anterior desta série > 16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3635: Blogues da Nossa Blogosfera (10): De Porto de Mós a Gandembel (Paulo Sousa / Luís Graça)

(***) Paimogo da minha infância

(...)

Quando eu era menino e moço,
No tempo em que ainda partiam soldados
Para a Índia, para Goa,
Havia uma princesa, moura, encantada,
Num das tuas grutas submarinas;
O corpo coberto de ágar-ágar,
Era fonte de água pura, quente e doce,
Donde bebiam os ofegantes cavalos alados,
Com as suas enormes narinas.

E o vento, a nortada,
Nas velas dos barcos e dos moinhos,
Falavam-me da tragédia antiga,
Mas ainda viva,
Da filha do teu capitão
Que se havia matado do alto da arriba,
Dizem que por amor e solidão.

No antigo reino mouro
E depois franco e fero da Lourinhã,
Também os búzios me diziam
Que à noite as luzinhas,
A sul das Ilhas Berlengas,
Eram as alminhas
Dos que morriam
No mar, sem sepultura cristã.

Pobres náufragos,
Marinheiros, pescadores,
Poetas loucos, errantes, noctívagos,
Imigrantes clandestinos,
Corsários, contrabandistas, pecadores,
À deriva, sem um ui nem um ai,
Agarrados às tábuas do barco Deus é Pai (****).

Hoje não acredito mais
Nessas lendas das alminhas
Que eu ouvia aos ceguinhos das feiras,
Vendedores de letras de fado
E do Borda-d’Água:
Afinal essas luzinhas,
Lá longe e ali tão perto,
São apenas as traineiras
Ao largo do Mar do Serro,
Atrás dos cardumes de sardinhas.


(****) O concelho da Lourinhã, donde eu sou natural, também tem a sua quota-parte na história trágico-marítima deste país. Há registo, entre 1968 a 2000, da ocorrência de pelo menos seis naufrágios de barcos de pesca onde morreram três dezenas de filhos da terra, com especial destaque para as gentes de Ribamar (fora outros acidentes de trabalho mortais, cujo número se desconhece).

Um desses naufrágios foi o do barco Deus é Pai, em 26 de Março de 1971, no Mar do Serro [ou Cerro, já vi as duas grafias), ao largo do Cabo Carvoeiro. Os restantes foram os do Certa (15 de Maio de 1968), Altar de Deus (6 de Novembro de 1982), Arca de Deus (17 de Fevereiro de 1993), Amor de Filhos (25 de Julho de 1994) e Orca II (antigo Porto Dinheiro) (19 de Julho de 2000).

Entre estes homens há parentes meus, da grande família Maçarico, de Ribamar, donde era oriunda a minha bisavó paterna (nascida em 1864).

Num comentário de boas vindas ao poste P3590, já tinha dito ao Zé Pedroso o seguinte:

Sei que fizeste de Peniche também a tua terra. Para além das relações de vizinhança, é o mar e a comunitária piscatória que me atraiem em Peniche e que dão o forte traço de personalidade a esta terra da costa estremenha. Ainda hoje, apesar das profundas mudanças do sector.

Parte dos meus antepassados, do meu lado paterno (os 'Maçaricos', de Ribamar), estão ligados de há séculos ao mar, à pesca e à marinhagem... Mais uma razão, para além da Guiné, um dia destes nos conhecermo-nos pessoalmente.

Vou quase todas as semanas à Lourinhã, onde tenho casa e de vez em quando dou um salto a Peniche, para almoçar e passear. Um Alfa Bravo (abraço) do Luís Graça

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3638: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (3): Jan 73: Com o Cherno Rachide, em Aldeia Formosa

1. Mensagem do Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã (Cumbijã, 1972/74) (*):

Camaradas e Amigos,

Após a minha leitura diária no nosso Blogue e quando há tempo e alguma dificuldade em escrever, exactamente o que nesta fase da história da Companhia me está a acontecer , busco em postes antigos, tudo o que tenha a ver com a passagem pela Guiné dos Tigres do Cumbijã.

Hoje li um poste do camarada Antero Santos sobre o chefe religioso Cherno Rachide (**), bem como um comentário sobre o mesmo, do nosso camarada L.G. (**)

A minha participação de hoje é mais de índole fotográfica. Vou enviar quatro fotos do arquivo da patroa e transcrever o que nelas escrevi em Janeiro de 1973. Por favor, se for caso disso corrijam algum lapso.

Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > Janeiro de 1973 > CCAV 8351 (1972/74) > Foto nº 1. "A população na sua maior parte constituída por homens grandes (velhos ) segue a missa (leitura do Alcorão) pelo Cherno Rachide. Todos estão descalços e sentados em esteiras ou panos. Os fatos que envergam não os usam habitualmente, mas só em dias festivos como o Ramadã ou a Festa do Carneiro que para eles significa o início de um Novo Ano".

Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > Janeiro de 1973 > CCAV 8351 (1972/74) > Foto nº 2. "Depois da degola do carneiro. O Cherno é o que tem a faca na mão. À sua esquerda está um dos filhos".

Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > Janeiro de 1973 > CCAV 8351 (1972/74) > Foto nº 3. "Festa Fula da matança do carneiro. A figura central é o chefe religioso Cherno Rachide, que neste preciso momento acabou de sacrificar o carneiro depois de ter rezado missa". [O periquito do Cap Mil Vasco da Gama, por detrás do Cherno Rachide, não perde pitada da cerimónia]

Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa (***) > Janeiro de 1973 > CCAV 8351 (1972/74) > Foto nº 4. "Festa do carneiro, Janeiro de 1973". [O Cap Mil Vasco da Gama segue atrás do Cherno Rachide.]

Um abraço para todos

Vasco da Gama

PS - L.G., o teu comentário merece a minha total concordância, e se não fossemos exagerados/revoltados aos vinte e poucos anos na Guiné, mal de nós. Acrescento apenas que as ofertas em dinheiro e em ouro e não digo mais, também são prática no nosso burgo...

Fotos (e legendas): © Vasco da Gama (2008). Direitos reservados

_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3581: A História dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (1): Apresentação e Chegada a Bissau

15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3624: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (2): Natal de 1972 em Aldeia Formosa

(**) Poste de 18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCX: O Cherno Rachid da Aldeia Formosa (Antero Santos, CCAÇ 3566 e CCAÇ 18)


Vd. também os seguintes postes:

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2714: Antropologia (5): A Canção do Cherno Rachide, em tradução de Manuel Belchior (Torcato Mendonça)
(...) "Cheguei à Guiné em 23 de Março de 1972 e fiz parte de CCAÇ 3566 - Os Metralhas [a mesma unidade a que pertenceu o Xico Allen]; a partir de 4 de Janeiro de 1973 e até ao fim da comissão passei a fazer parte da Companhia Africana CCAÇ 18 - Aldeia Formosa (Quebo para os africanos), tendo regressado [ à Metrópole] em 24 de Junho de 1974.
"De momento pretendo somente acrescentar uma nota acerca do chefe religioso Cherno Rachide que também conheci pessoalmente: faleceu em 1973 (dentro de dias informo a data exacta) durante o período em que estive em Aldeia Formosa.
"Na realidade o poder deste chefe religioso era enorme: a guerra parou para que um conjunto de autoridades religiosas dos países vizinhos se deslocasse a Aldeia Formosa para participar no seu funeral.
"Antero Santos, ex-furriel miliciano" (...)
4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1815: Álbum das Glórias (14): o 4º Pelotão da CCAÇ 14 em Aldeia Formosa e em Cuntima (António Bartolomeu)

16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVIII: Um conto de Natal (Artur Augusto Silva, 1962)

15 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LVII: O Cherno Rachid, de Aldeia Formosa (aliás, Quebo) (Luís Graça).
(...) "Tive hoje, aliás, a oportunidade de conhecer pessoalmente o Cherno Rachid e constatar o seu carisma e o poder de atracção que ele exerce sobre os africanos islamizados. Esteve vários dias em Bambadinca, de visita ao chão fula. Com avioneta ou helicóptero, às ordens, claro!
"Sentado numa esteira, de pernas trançadas, recebia nos seus aposentos privativos os fiéis que, descalços como na mesquita, o iam cumprimentar, trazendo-lhe presentes, sobretudo em dinheiro (às vezes mesmo somas importantes!) em troca duma oração, dum conselho ou dum objecto cabalístico" (...).

Sobre as possíveis ligações do Cherno Rachide ao PAIGC, vd. os postes de:

27 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3361: PAIGC - Docs (2): O grande marabu Cherno Rachide, de Aldeia Formosa: um agente duplo ? (Luís Graça)

28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3374: Controvérsias (8): Cherno Rachide Djaló: um agente duplo ? ( José Teixeira / Manuel Amaro / Torcato Mendonça)
(***) A Região de Tombali fica situada no Sul da Guiné-Bissau, fazendo fronteira com as Regiões de Bafatá, Bolama/Bijagós, Gabú, e Quínara. Tem uma superfície de 3.736 Km2, e uma população de c. 90 mil habitantes. Os sectores que compõem a Região de Tombali são:
Bedanda; Catió; Komo; Quebo; Quitafine. (Fonte: PAIGC)

Guiné 63/74 - P3637: Em busca de... (58): 2.º Sargento Coelho da 1.ª CCAÇ Africanos (Farim) (António Paulo Bastos)

António Paulo Bastos

António Paulo Bastos


1. Mensagem de António Paulo Bastos (*), ex-1.º Cabo do Pel Caç 953, Teixeira Pinto e Farim, com data de 15 de Dezembro de 2008:

Amigos da Tabanca Grande,
Já que se está em maré de pedidos aqui vai mais um.

Caro amigo, eu, ex-1.º Cabo do Pelotão Caçadores Independente 953, António Paulo Bastos, quando da minha estadia em Canjambari passou por lá nos meses de Abril e Maio 1965, um 2.º Sargento que nós conhecíamos só por Coelho. Pertencia à 1.ª Companhia de Caçadores Africanos sediada em Farim, sei que esse companheiro era da zona do Porto. Veio de licença a Portugal no mesmo vôo que eu, em Agosto de 1965, e também sei que em 1967 esteve no Depósito Geral de Adidos, em Belém, a fazer o espólio aos companheiros que desembarcavam.

Já fui para os Arquivos do Exército ver se encontrava alguma pista, mas como não sei o nome completo, é dificil.

Será que há algum companheiro que me possa ajudar?

Mais uma vez o meu muito obrigado, e um bom Natal.

António Paulo Bastos
Ex-1.º Cabo
Pel Caç 953

2. Comentário de CV:

Esperamos caro Paulo que encontres, não só o 2.º Sargento Coelho, mas também mais algum dos teus camaradas de Pelotão. Aqui ficam as tuas fotos na expectativa de que alguém te reconheça.
____________________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de > 14 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3621: Em busca de... (57): Ex-combatentes do BCaç 2928 (Bula...1970/72) (António Matos)

(*) Vd. poste de 12 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3610: Tabanca Grande (104): António Paulo Bastos, Pel Caç 953 (Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)

Guiné 63/74 - P3636: O meu Natal no mato (15): Salsichas com arroz na messe de Sargentos, na Consoada de 1968... (Jorge Teixeira/Portojo)

Noites de Natal

Mensagem do Jorge Teixeira:
Caro Luís.
Aqui vai mais um episódio. Mas esta coisa de andar a puxar pela cabeça para trás faz doer.


Catió, Noite de Natal de 1968

Como vago-mestre improvisado, quiz fazer uma noite comum a toda a malta. A coisa não resultou, porque no dia seguinte havia festa. Dei bacalhau, que embora não fosse de qualidade, servia para matar algumas saudades.

Saíram uns "pratinhos" extras para as messes. Na de sargentos, o Dias deu salsilhas com arroz. Sargentos revoltados, Furriéis assim assim, mas o Mendes da Artilharia espumava de raiva. Não era comida para aquela noite. Vi lágrimas em alguns olhos. Então para passar a noite há que improvisar. E nada melhor que uma cantoria com dança. Uma das muitas fotos dessa noite aqui vai junta.



Feliz Natal para toda a Tabanca Grande

Jorge Teixeira

PS: Da malta desta foto, segundo me disse o Vitor Condeço, o Mendes já não está entre nós. Uma saudade especial para ele.
Nota:- Nem tudo é ficção no livro de José Manuel Saraiva.
__________
Notas de vb:
1. Último artigo do Jorge Teixeira em
2. Espaços do autor:
3. Último artigo da série em

Guiné 63/74 - P3635: Blogues da Nossa Blogosfera (10): De Porto de Mós a Gandembel (Paulo Sousa / Luís Graça)


Vila Forte > Um blogue que já existe desde Outubro de 2006. "Como se numa mesa da esplanada estivessemos, a ver o Rio Lena e a debater a nossa terra e os nossos dias" (*)...

De repente, alguém, em Porto de Mós, distrito de Leiria, se lembrou - imaginem !- de uma velha foto e de um lugar que já não existe, a não ser na blosgosfera e na memória de alguns tugas: Gandembel, uma aquartelamento português, no sul da Guiné-Bissau, em pleno corredor de Guileje, construído e defendido durante menos de nove meses entre Abril de 1968 e Janeiro de 1969, altura em que foi definitivamente abandonado por decisão superior do comando chefe das tropas portuguesas... Nesse período de tempo, em que se gera, desenvolve e nasce uma criança, Gandembel sofreu mais de 300 ataques e flagelações por parte da guerrilha do PAIGC... Uma história que não vem nos livros de história que são lidos nas nossas escolas, pelos nossos professores, pelos nossos filhos, pelos nossos netos...

Imagem: ©
Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados


1. Mensagem de Paulo Sousa, com data de 8 de Dezembro:

Dr. Luís Graça,

Se tudo correr bem no próximo ano, em Março, participarei numa expedição de jipes até à Guiné Bissau. Ando a recolher dados sobre o país, assim como alguma cartografia.

Durante esse processo tropecei no seu blogue acima referido e li algumas da muitas histórias. Gostei em especial de uma que acompanha uma foto e que publiquei com comentário no blogue em que colaboro, o Vila Forte.

Aqui fica o link http://vilaforte.blogs.sapo.pt/52474.html

Agradeço as suas cartas militares da época que guardarei para a viagem.

Cumprimentos

Paulo Sousa

2. Vila Forte > Paulo Sousa > Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2008 > Gandembel (**)

A Guerra Colonial marcou muitos milhares de pessoas. Não só portugueses. Em termos históricos ainda não terá passado o tempo suficiente para a debater com isenção. Não quero aqui fazer qualquer juízo de valor, mas apenas partilhar um texto e uma foto que apanhei na net.

Gosto de ouvir as estórias dos soldados que combateram nas ex-colónias, sendo que a maior parte deles o fez contra a sua vontade. Acho que o país lhes deve, no mínimo, um agradecimento pelos anos perdidos e pelos sacrifícios passados.

Os relatos na primeira pessoa contados por muitos ex-combetentes será uma forma de perpetuar o que passaram, assim como um contributo para que as gerações mais novas de que faço parte, conheçam a sua história. Como se diz no excerto, muito do que se passou nesses tempos difíceis seria assunto para muitos livros e muitos filmes.


"Guiné > 1968 > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 > Início da construção do aquartelamento

«As grandes fotografias dispensam legendas. Esta é uma das fotos-ícones da guerra da Guiné. Tem uma tremenda força dramática! Está lá tudo: o homem-toupeira, o homem de nervos de aço de Gandembel/Balana, também tinha alma de poeta e sabia transformar a pá do trolha em viola de baladeiro, ou guitarra de fadista! Estamos lá todos nesta fotografia de um camarada, sozinho, no palco da guerra, no cu do mundo, enrodilhado num manta, dedilhando a sua viola ou a sua guitarra e cantando para um público imaginário as suas alegrias, as suas tristezas, a sua coragem, a sua solidão, a sua saudade, as suas esperança, os seus medos, os seus sonhos...

"Trata-se do nosso camarada Idálio Reis, na altura Alf Mil da CCAÇ 2317... Podemos imaginá-lo no intervalo de um dos 372 ataques e flagelações a que os nossos camaradas foram submetidos, entre 8 de Abril de 1968 até 28 de Janeiro de 1969, os nove meses em que, em tempo-recorde, construiram de raíz um aquartelamento, defenderam-no galharda e heroicamente e receberam ordens para o abandonar!... Um verdadeiro Suplício de Sísifo!... Noutro país, esta epopeia teria dado um grande filme, um grande livro, uma grande exposição fotográfica!... Gandembel, quer se queira ou não, faz parte da nossa história, dos portugueses e dos guineenses... É bom invoca-la para que não ouçamos amanhã a resposta dos nossos filhos e netos: 'Gandembel? Não, nunca ouvi falar'... Retirado daqui".


3. Comentário de L.G.:

Obrigado, Paulo, pelas referências simpáticas que faz ao nosso blogue e sobretudo pela sua homenagem aos homens da geração do seu pai que combateram, duramente em África, durante quase década e meia... Obrigado, em nome do Idálio Reis e dos outros anónimos heróis de Gandembel... Obrigado pela sua sensibilidade e carinho.

Se for à Guiné-Bissau, como planeia, em março próximo, não deixe de visitar o sul, o Cantanhez, o corredor de Guileje... e por que não Gandembel / Balana, onde foi tirada esta foto que é de facto uma foto-ícone... Podemos dar-lhe alguns contactos. Transmita-nos depois as suas impressões. Vai adorar os guineenses que são um povo fantástico, pacífico, amável, generoso, hospitaleiro...

Felicidades para o blogue onde você colabora e Bom Ano para as gentes, trabalhadoras, lhanas e frontais, de Porto de Mós.

PS - Espero que as nossas cartas lhe sejam úteis. Já em tempos tínhamos sido conatactados por grupo de escuteiros locais, que pretendiam o mapa de Quinhamel. Vd. poste de 8 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P856: Escuteiros de Porto de Mós descobrem o nosso blogue

__________

Notas de L.G.:

(*) O primeiro poste de 26 de Outubro de 2006, começava assim:

Bem Vindos

Caros amigos,

Uma vez aqui reunidos nesta esplanada, queria em primeiro lugar agradecer a vossa disponibilidade em participar nesta tertúlia de livres pensadores portomosenses.

Nestes dias em que Outubro está a terminar, o rio vai perdendo a fúria dos últimos dias, mas ainda assim corre cheio.

Aqui sentados, abrigados da chuva que vai caindo e do frio que se aproxima, convido-os a apurar o sentido de observação e a libertar a imaginação. Essas serão as ferramentas necessárias para a tarefa que vos proponho.

Espero que aqui, com o confortável aroma do café nas narinas, vejamos chegar a geada, os aromas da Primavera, o sufoco do Verão e que os ciclos da Natureza se repitam connosco por cá na conversa.

Bem vindos a todos.

O Barman


Em Setembro de 2008, o Vila Forte atingiu as 200 mil visitas e mudou de endereço:
Vilaforte.blogs.sapo.pt


(**) Vd. último poste desta série > 2 de Dezembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3552: Blogues da Nossa Blogosfera (9): CART 3494, Xime e Mansambo (Dez 1971 / Abr 1974), criado pelo Sousa de Castro

Guiné 63/74 - P3634: Estórias avulsas (6): Mulheres na guerra (Luís Faria)

1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 12 de Dezembro de 2008:

Vinhal,Luis,Briote

Que tudo esteja bem convosco

Segue a estória de uma vivência que não faço ideia se algo do género a alguém mais aconteceu.

Será que Mulheres em armas, nas frentes de combate é uma boa opção ?

Um abraço a todos
Luis S Faria


2. Mulheres!

Diz(ia)-se: A uma mulher não se bate nem com uma flor… só com um pau de marmeleiro!!, acrescenta(va)-se.

Ao ler o P3598 (*) do José Colaço que achei curioso e retratante das Gentes Lusas, veio-me à luz uma situação intrigante e julgo que um pouco absurda naquele contexto, que se passou comigo e que podia ter sido caso de análise psiquiátrica, digo eu!

Estava em Teixeira Pinto e como em muitas outras ocasiões o meu GComb juntamente com outro foi fazer uma Operação na zona do Belenguerez. Perto do objectivo começámos a ouvir vozes vindas de um palmal junto de uma bolanha. Estávamos em mata cerrada de arbustos e depois de ponderação, uma dúzia de rapazes, sob o meu comando desenvolveu uma espécie de golpe de mão.

De repente rebenta um fogachal do caraças e à minha frente depara-se-me uma mulher apavorada e a gritar.

Instintivamente (?) atirei-a ao chão e deitei-me por cima tentando protege-la. Só então vi que tinha um miúdo às costas.

Os tiros foram realmente muitos, de frente e de cima. Senti uma pancada forte. Um deles acertou num dos carregadores da cintura, outro na G3 que me saltou das mãos e a mulher grande apanhou com um estilhaço dessas balas (julgo) num pé. O puto nada sofreu, só chorava.

Graças a Deus nesse momento não tivemos quaisquer feridos.

Perguntei-me na altura, porque fiz aquilo… porquê? Resposta não tive, só uns talvez por…

Será que foi por ser mulher? E se ela trouxesse uma arma o que é que o instinto (?) me teria levado a fazer?!

Hoje, ao recordar o episódio matutei de novo… porquê??? E continuo com os talvez por…!

A Todos um abraço
_______________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3598: O segredo de... (4): José Colaço: Carcereiro por uma noite

Vd. último poste da série de 10 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3595: Estórias avulsas (23): O Cuco (Jorge Teixeira)

Guiné 63/74 - P3633: Dando a mão à palmatória (18): O meu reparo (Belarmino Sardinha)

1. Mensagem de Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, com data de 15 de Dezembro de 2008:

Caros Camaradas,

Costumo deixar à vossa consideração a publicação dos textos que envio. Embora este não seja diferente, gostaria que fizessem o favor de o publicar, compreenderão a razão depois de o lerem.

Com um abraço para todos,
BSardinha


2. O Meu Reparo

Fazer a leitura diária deste espaço, tem-me levado a fazer a minha segunda comissão, ao remexer nas coisas que os meus pais guardaram dessa minha estada na Guiné para as quais nunca mais me tinha dado voltar a olhar.

Mas à medida que vou separando e lendo vou descobrindo coisas que pura e simplesmente não me lembrava ou, constato-o agora, não cheguei a ter conhecimento.

O que a seguir refiro não terá qualquer importância para os acontecimentos na Guiné ou para os restantes membros da Tabanca Grande, mas tem-no para mim e para a pessoa que foi visada num texto que enviei e foi divulgado (*).

Estive de férias na Metrópole em Fevereiro/Março de 1974. Não podia vir depois dessa data por me faltarem menos de três meses para acabar a comissão.

Encontro agora uma carta, escrita em 19 de Março de 1974 pelo então 1.º Sarg.º Vasco, Chefe da Rede Interna do STM em Bissau, onde me diz para não lhe levar nenhum capacete por serem mais caros do que na Guiné.

Sem conhecimento desta carta, talvez por ela ter chegado numa altura em que eu já devia estar de regresso à Guiné, não evitou a animosidade que se gerou entre nós.

Passados todos estes anos, confesso que não deixaria de ajuizar este caso como o fiz se não visse esta carta, mas entendo, depois de estar conhecedor do seu conteúdo, ser devido o reparo. Está feito nas mesmas condições em que foi referido.

Um abraço para todos.
BSardinha

3. Nota dos Editores:

Dizia Belarmino Sardinha no P3377:

O então 1.º Sargento Vasco, Chefe do Posto Director do STM em Bissau, havia-me pedido, ou mandado, levar-lhe um capacete para se passear de mota, dizendo-me qual o modelo e inclusive onde o deveria comprar, na altura, na esquina da Rua das Pretas com a Avenida da Liberdade. Como não se tinha chegado à frente com o dinheiro, na altura entre 1.500$00 a 1.800$00, nem via nele grande interesse em o querer pagar, quando regressei disse-lhe que estavam esgotados. Não gostou. Daí a ter-me oferecido para ir substituir a Bolama o camarada que ia de férias foi um passo.
___________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3377: O meu baptismo de fogo (19): Como, porquê e não só (Belarmino Sardinha)

Vd. último poste da série de 13 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3611: Dando a mão à palmatória (17): Cumbijã fica entre Mampatá e Nhacobá, mapa de Guileje (Antero Santos / Vasco da Gama)

Guiné 63/74 - P3632: Álbum das Glórias (49): O meu ex-Cap Mil Abel Quintas, da CCAV 8350, os Piratas de Guileje (J. Casimiro Carvalho)

Maia > Maio de 2007 > O Cap Mil Art, DFA, Abel Quintas, na casa do José Casimiro Carvalho (*)... O Abel Quntas foi o primeiro dos quatros capitães que teve a CCAV 8350 (1972/74)... Depois da retirada de Guileje, na madrugada de 22 de Maio de 1973, foi gravemente ferido em Gadamael, em 1 de Junho 1973, e evacuado para o Hospital Militar de Lisboa, no dia seguinte. É uma importante testemunha dos factos ocorridos em Guileje entre 18 e 22 de Maio de 1973. Foi ouvido, em Lisboa, em auto de inquirição no âmbito do processo que foi instaurado ao então major Coutinho e Lima (Vd. as suas declarações reproduzidas por Coutinho e Lima, bem como os comentários feitos por este, no livro A Retirada de Guileje, 2008, pp. 251-271).

Foto: © José Casimiro Carvalho / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados

Álbum das Glórias (49) > O meu ex-Cap MIl Abel Quintas

por J. Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp, CCAV 8350 (1972/74) (**)


(..) Socorrendo o meu comandante, o Capitão Quintas (***)


Num dos ataques [a Gadamael ], o Capitão Quintas foi ferido muito gravemente; ajudei-o a chegar ao cais, debaixo de fogo, arranjei um Sintex e o mesmo não tinha depósito...! Corri, debaixo dum bombardeamento terrível, arranjei um depósito, tendo então levado o Sintex para Cacine, com ele e mais feridos.

O pessoal entretanto debandava para o mato, onde era mais seguro estar. Um deles morreu enterrado no lodo, outros foram recuperados numa lástima, por elementos da Marinha (julgo eu)...

Neste espaço de tempo - não sei precisar a cronologia -, chegou um Helicóptero com o Gen Spínola e o Cor Rafael Durão. Este, ao sair, fitou-me e vociferou :
- Quem é você ? - Eu trajava um camuflado com cortes nas meias mangas, calções e botas de lona e sem quico… Retorqui-lhe , em sentido:
- Apresenta-se o furriel Car.... - Ele interrompeu-me, de imediato e no meio daquele Vietname ordenou-me:
- Vá-se fardar correctamente e venha-se apresentar!...

Entretanto, reuniu as tropas (as que pôde) e chamou-nos tudo o que lhe veio à cabeça:
- Cobardes, ratos… Vocês mereciam que vos arrancasse a cabeça a pontapé!..

Mais tarde o Heli arrancou e passados uns três minutos caíram duas morteiradas no preciso local donde saíra.

Nestes espaços de memória lembro-me de chegarem os Páras, que começaram a varrer a zona. Lembro-me duma patrulha deles sair (um bigrupo, julgo) e, passados uns minutos, era tamanha a fogachada que se viam as explosões de granadas e dos RPG. Demorou uma eternidade, quando os páras regressaram traziam 16 feridos, um dos quais um sargento com um tiro numa perna e que ...sorria! Que tropa moralizada, meu Deus!...

Após um ataque de canhões sem recuo por parte do IN, vem um Fiat G 91 que picou, largou uma bomba enorme e roncou os motores numa subida louca, a bomba rebentou, estremeceu o quartel e os nossos corações, até os tomates abanaram.

Não havia condutores no quartel, tinham fugido para o mato ou desaparecido. Não havia munições nos canhões e morteiros, então eu peguei numa Berliet e um ilustre desconhecido (adorava saber quem foi!) acompanhou-me na odisseia de andar debaixo de morteirada na corrida aos paióis. Trazíamos granadas para as bocas de fogo e, claro, que, quando os tiros de bocas de fogo do IN saíam, nós não ouvíamos e só quando rebentavam é que nos apercebíamos e saltávamos em andamento. (...)

___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2007: Três homens de Guileje: Nuno Rubim, J. Casimiro Carvalho e Abel Quintas

(**) Vd. poste de 29 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3376: Álbum das Glórias (48): Paunca, CCAÇ 11: Maio de 1974: a rendição da guarda (J. Casimiro Carvalho)

(***) Vd. postes de:

14 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3623: Recortes de imprensa (11): A guerra do J. Casimiro Carvalho, pirata de Guileje e herói de Gadamael (Correio da Manhã)

16 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2949: Convívios (67): Pessoal da CCAV 8350, no dia 7 de Junho de 2008, na Trofa (J.Casimiro Carvalho/E.Magalhães Ribeiro)

18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1856: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (5): Gadamael, Junho de 1973: 'Now we have peace'

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho)
(4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!

25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)

2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael (Afonso M.F. Sousa / Serafim Lobato)

15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)

Vd. ainda post de 2 Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVIII: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73)(Magalhães Ribeiro)

(...) "Exmo Senhor Chefe do Estado Maior do Exército:

"Por, quando Comandante da Companhia Independente da Cavalaria 8350, em serviço na Guiné entre 1972 e 1973, sedeada em Guileje, ter sido ferido em Gadamael, nunca me foi possível propor uma homenagem pública ao Furriel de Operações Especiais CASIMIRO CARVALHO.

(...) "Quando fui ferido, foi este homem que me ajudou a deslocar para junto do Rio Cacine, pois eu mal me podia movimentar, deslocando-se em seguida debaixo de intenso fogo de morteiros e outra armas que, neste momento, não sei especificar, para conseguir um depósito de gasolina de forma a poder fazer movimentar a embarcação em que me evacuou para Cacine, como também outros militares que nesse momento já se encontravam junto ao pequeno cais.

"Nas reuniões anuais da nossa Companhia muitos falam dos actos de bravura deste furriel, desde, debaixo de fogo, conduzindo uma Berliet se deslocar aos paióis para municiar não só as bocas de fogo de artilharia, como para os morteiros, fazer ainda parte duma patrulha onde morreram vários militares ficando ele e outro a aguentar a situação, até serem socorridos, e ter sido ferido, evacuado para Cacine, o que não invalidou que passados poucos dias se tenha oferecido para voltar para junto dos camaradas no verdadeiro inferno em Gadamael.

"Esperando a maior atenção de Vª Exª para este assunto e agradecendo desde já toda a atenção que lhe possa dispensar. Abel dos Santos Quelhas Quintas, Capitão Miliciano de Artilharia na Reforma Extraordinária Nº Mec. 36467460, Deficiente das Forças Armadas" (...).

Guiné 63/74 - P3631: As Boas-Festas da Nossa Tabanca Grande (7): Votos de: R.Silva/V.Condeço/P.Neves/ V.Garcia/P.Raposo/A.Paiva/S.Fernandes



Para todos os camaradas da Tabanca Grande não esquecendo também os das tabancas médias e pequenas da Guiné-Bissau, expresso com o maior sentimento de amizade e consideração, o desejo de um Feliz Natal e um Novo Ano em que neste hajam 365 dias de Natal.

Com um abraço envolvendo todos os combatentes no Ultramar mais ainda para aqueles que sofrem de algum modo de sequelas daquela guerra fratricida.

Rui Silva


P.S. – A gravura do presépio trata-se de uma foto minha, pois não gosto muito de copiar (passe a imodéstia), de um presépio que tenho em casa.
____________



Caros Carlos, Luís e Virginio

Por muito que queiramos ou seja esse o nosso desejo, a quadra de Natal, nem sempre é para todos um dia de felicidade.

Mas como elemento da Tabanca Grande, quero desejar a todos os tertulianos e suas famílias, um Feliz e Santo NATAL.

Mando o postal que meus pais me mandaram em 1969.

Um abraço
António Paiva

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Olá Carlos e bom amigo.

Como é natural, os nossos testemunhos abordam essêncialmente o que passamos de pior e o que mais nos marcou na Guerra.

Desafio a rapaziada a refletir e dar o seu testemunho sobre:

1 - Quais foram os periodos mais felizes que passamos na Guiné?
2 - O que a experiência de guerra ajudou na nossa vida profissional?
3 - Como Soldado, foste honrado, como tal, no regresso?

Um Santo Natal para todos.
Paulo Raposo

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Camarada Vinhal

Para todos vós na Tabanca Grande, e através de vós para todos os ex Combatentes, desejo-vos um feliz Natal.

Um abraço
Victor Garcia

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Caros Tertulianos:
Em 1973, os meus votos de BOAS FESTAS e FELIZ NATAL, na Guiné, foram conforme ilustra a foto, que anexo.

Passados 35 (trinta e cinco!!!) anos, aproveito a oportunidade, para renovar os mesmos votos, a todos os camaradas, antigos combatentes e suas familias. Que o ano de 2009, seja o que nós desejamos e não o ano que nos querem "vender".

Com amizade:
Pedro Neves
ex-Fur Mil Op Esp
CCaç 4745-Águias de Binta

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Que a alegria do Natal ilumine os vossos espíritos trazendo a todos um sorriso.
E que a esperança que esta data nos traz, transforme em realidade todos os vossos sonhos de alegria.

São os meus votos sinceros para todos os amigos e camaradas da Tabanca Grande e suas famílias.
Victor Condeço

___________



Aos meus amigos Feliz Natal 2008 cheio de Paz e Amor

Beijinhos
Sá Fernandes

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3612: As Boas-Festas da Nossa Tabanca Grande (6): O Presépio do Movimento Nacional Feminino (José Martins)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3630: Banco do Afecto contra a Solidão (2): Ajuda ao João Santos, ex-combatente em Moçambique, que vive num contentor (Mário Fitas)

1. Mensagem de 13 de Dezembro, do Mário Fitas (ex- Fur Mil, CCaç 763, Cufar, 1965/66):

Meus caros,

Luís, Briote e Vinhal

(i) Estive com a máquina cheia de vírus, e depois uns dias na minha linda Planície onde convivi com os nossos camaradas (ainda vivos) da querida Guiné.

Não tencionava escrever ainda hoje, pois tenho alguns trabalhos em mãos. Estou a fazê-lo, porque recebi do nosso camarada e amigo José Brás que em Vindimas no Capim (*) descreve os arredores de Guiledge, e-mail que transcrevo:

“Mário

"Julgo que irás estar hoje no lançamento do livro do Cor Coutinho e Lima.
Através do contacto com o blogue recebi do Coronel, via correio electrónico, um convite.

"Planeei ir, por ele, pela justiça histórica e pela solidariedade que merece e, porque afinal depois do meu livro, nunca apareci nestas iniciativas ou na comunicação que se tem estabelecido entre camaradas desse tempo da história recente do jardim'.´

"A meteorologia aqui no Alentejo está péssima e nem sequer sairei do Monte onde estou sozinho com as minhas ovelhas, galinhas e patos.

"Se tiveres disponibilidade gostaria que entregasses ao Coronel o meu abraço.

"Um abraço também para ti. José Brás".


(ii) Infelizmente também eu não pude estar presente, embora como já escrevi no blogue esteja tecnicamente de acordo em termos da Guerra de Guerrilha na Guiné, com a actuação do Coronel Coutinho e Lima, e que reafirmo, como conhecedor daquilo que é uma guerra de Guerrilha.

Gostaria de estar presente, mas quem toca vários instrumentos, algum tem de desafinar. Portanto não é este meu escrito uma justificação, porque a presença noutro local julguei ser mais útil.

É verdade, há muitos problemas com todos aqueles que um dia (não importa a forma ou o porquê) tiveram de fazer a Guerra, por uma Pátria que os abandonou e atirou para o caixote do lixo.

Às 16hH30 de hoje, muito próximo do lançamento do livro do Coronel Coutinho e Lima, encontrava-me eu com o camarada João Santos, nascido em Moçambique onde cumpriu o serviço militar e pertenceu aos GEs. Tudo normal se... não fora o ex-militar Português viver num pequeno contentor, tendo como companhia apenas uma cadela que hoje debaixo da pseudo cama do João deu à luz uma quantidade de cachorros.

O João tem todos os documentos militares só que com a burocracia deste nosso querido País não conseguiu o BI.

É angustiante! Se todos os dias deveriam ser Natal, já que o próprio dia se aproxima, o João merece algo mais do que a indiferença de nós (alguns)que ainda conseguimos juntar a família.

Seria afronta à própria pessoa do João mandar a sua foto e da sua morada. Um amigo está tratando do assunto, se for caso disso, ao pessoal da Tabanca Grande pediremos ajuda.

Se algum camarada aqui de perto, quiser atenuar a solidão do João aí vai a morada:

João Santos
Rua das Rosas
Bairro dos Celões Lote 12 (contentor)
Bicesse – Estoril


Meus caros amigos, a vida é assim! Os caminhos que escolhi terão de ser percorridos. Espero ler o livro do Coronel Coutinho e Lima, e espero que o lançamento do mesmo tenha sido um sucesso.

Para Toda a Tabanca e hoje em especial para o Cor Coutinho e Lima, o abraço de sempre do tamanho do Cumbijã.

Mário Fitas

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Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 4 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3562: Banco do Afecto contra a Solidão (1): A última comissão do Coronel (Jorge Cabal)

(**) BRÁS, José: Vindimas no Capim. Lisboa : Publicações Europa-América, 1987.

(...) Um romance que o autor dedica "àqueles que todos os dias se perguntavam 'que é que eu ando aqui a fazer?', àqueles que se estoiravam, eles próprios, por dentro e por fora». Um relato que, afinal, diz respeito a todos os que, directa ou indirectamente, viveram a guerra do Ultramar. Mas também a todos os que, não a tendo vivido, sentem que não pode ser apagado da memória colectiva um período tão controverso da nossa História. Narrado na primeira pessoa, o relato caracteriza-se sempre por uma comunicabilidade imediata, directa, agarrando o leitor. Um excelente romance dum novo autor português" (...)

Vd. também o portal Guerra do Ultramar: Angola, Guiné, Ultramar > Livros > José Brás

Guiné 63/74 - P3629: Bibliografia de uma guerra (41): Escritor Combatente: Encontros em Oeiras (Manuel A. Bernardo / V. Briote)

ESCRITOR COMBATENTE: O FIM DO IMPÉRIO

Em Oeiras, em 2009, na Livraria-Galeria Municipal

Rua Cândido dos Reis, 90, no centro histórico de Oeiras, galeria.verney@cm-oeiras.pt
Tel: 21 440 83 91/2;
m.bcunha@sapo.pt
tel. 917 519 280

Às terceiras quartas-feiras de cada mês, de Janeiro a Maio de 2009, às 16h00

Estacionamento com entrada pela Av dos Combatentes em Oeiras.

Por iniciativa do Núcleo de Oeiras da Liga dos Combatentes
ligadoscombatentesoeiras@clix.pt, tel. 214 430 036,
e com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras

Serão realizados os seguintes encontros:

(i) 21 de Janeiro de 2009:

O Caçador de Brumas, de Bernardino Louro, com o autor Tenente-Coronel João Sena e o Coronel José Montez, Presidente do Núcleo de Oeiras e Cascais da Liga dos Combatentes.

(ii) 18 de Fevereiro de 2009:

A Geração do Fim, de 21 oficiais de Infantaria do Curso de 1954/1958, com o Tenente-Coronel José Aparício e o Coronel José Parente.

(iii) 18 de Março de 2009:Obra literária de Carlos do Vale Ferraz, com o Coronel Carlos Matos Gomes e Tenente-Coronel Aniceto Afonso.

(iv) 15 de Abril de 2009:

As Guerras da minha Guerra, de Coronel Rui Marcelino, e As guerras do Capitão Agostinho, de Carlos Gueifão, com os autores.

(v) 20 de Maio de 2009:

Tempo Africano, de Manuel Barão da Cunha. Com o autor e o Ten General Chito Rodrigues, Presidente da Liga dos Combatentes.

Informação coligida pelo Cor Manuel A. Bernardo. Editada por V. Briote
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Notas de vb:

Último artigo da série em

Guiné 63/74 - P3628: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (5): O sentido de uma sondagem (Joaquim Mexia Alves / Luís Graça)





Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref, Coutinho e Lima, A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos [ Linda-A-Velha: DG Editor, 2008, 469 pp, € 20 (*); pedidos do livro, directamente ao autor (**) ] > Diversos membros da nossa tertúlia (ou Tabanca Grande, como preferem uns, e outros não) deslocaram-se à Amadora, para assistir a este acto público. Entre eles, o Xico Allen (de Vila Nova de Gaia) e o Vasco da Gama (da Figueira da Foz) (terceira foto a contar de cima). Ou ainda o João Rocha (do Porto) ou o Nuno Rubim (do Seixal), aqui em conversa com o Xico Allen (segunda foto a contar de cima). Tudo isto num belo auditório de uma escola que formou muitos dos oficiais que nos comandaram, no TO da Guiné militar, escola essa guardada, não por imperiais leões de pedra, mas por velhos obuses da I Primeira Mundial, as peças 11.4cm T.R. m/ 917, mais conhecidas na gíria dos artilheiros por Bonifácios (primeira foto a contar de cima).
Nos postes anteriores esqueci-me de mencionar outras pessoas com quem estive a falar, por uma razão ou outra: (i) o nosso tertuliano Cor António Pereira da Costa (o único que ainda está no activo, sendo director da biblioteca do Exército, em Coimbra; falámos muito rapidamente sobre as últimas diligências relativas ao caso do António Batista, o morto-vivo do Quirafo); (ii) o jornalista Joaquim Furtado (que está a fazer investigações sobre a morte dos 3 majores no chão manjaco, e que se mostrou particularmente interessado no dossiê, organizado pelo nosso camarada Afonso M.F. Sousa)... Também cumprimentei e conheci pessoalmente o Eduardo Dâmaso. Reencontrei igualmente um antigo colega da DGCI - Direcção Geral das Contribuições e Impostos, o Torres, que afinal também passou por Guileje , no tempo do Cap Corvacho (CART 1613, 1967/68)...Convidei-o a integrar a nossa Tabanca Grande. Tive igualmente o prazer de estar por uns breves minutos com o Prof Eduardo Costa Dias, do ISCTE, um grande especialçista da Guiné-Bissau onde vai regularmente... Acabo de receber hoje um mail dele, que diz o seguinte:
"Como vais? Ontem acabamos por não nos despedirmos. Luis: achas que conseguirias meter na noticia que certamente farás no blog acerca do lançamento do livro, a informação de que vários homens grandes de Guiledge, sabendo do lançamento do livro, fizeram questão de enviar mensagens gravadas ao Coutinho e Lima e que essas mensagens foram entregues ao Coronel?"... Fica dada a notícia. Infelizmente, não tenho fotos de toda a gente...

Fotos: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves:

Caros Luís, Virgínio e Carlos

Embora a pergunta da sondagem [º 10, a decorrer de 12 a 18 de Dezembro] seja para mim muito perceptível, julgo que a mesma não está bem elaborada e poderá induzir em erro.

O discordo poderá muito bem estar a ser utilizado como apoio a uma decisão, de que afinal se quer discordar. E a inversa, claro.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

2. Resposta de Luís Graça:

Joaquim: É sempre complicado... A questão tem de ser clara, concisa e precisa... Agora já não posso mudar (a não ser anulando a sondagem)... Vou acrescentar uma nota, do tipo:

A questão é: Discordas ou concordas com a seguinte afirmação: "A posição de Guileje era tão defensável como a de Guidaje ou Gadamael [e não Gandembel, como por lapso ficou escrito...], pelo que a decisão de retirar em 22 de Maio de 1973 foi um erro".

Eu sei que mesmo assim é discutível: Posso achar que a posição era defensável e mesmo assim apoiar a decisão de retirar... O que o Coutinho e Lima procura demonstrar, apoiado em factos e documentos, é que a posição de Guileje tornara-se indefensável na noite de 21 de Maio de 1973 e que para poder continuar a defender a missão (a protecção de civis e militares ao cuidado do COP 5) só lhe restava retirar para Gadamael...

Este é o tipo de decisão clássico, em que o decisor está perante um dilema, não tem mais alternativas... Ou foge ou luta ("flight or fight"), ou retira ou resiste... Repara que a retirada podia ter-se transformado numa tragédia... Mas o mesmo podia ter acontecido caso o decisor optasse por ficar e resistir: sem comunicações, sem água, sem munições, sem reforços, sem apoio aéreo, com os abrigos superlotados (3 vezes mais do que a sua capacidade prevista)...

O PAIGC estava em condições de tomar o quartel, provocar muitas baixas mortais e aprisionar os militares (c. 200) e a população (c. 500)... A humilhação para o exército português teria sido muito maior; o PAIGC iria usar a conquista de Guileje (não o quartel mas os seus defensores) para efeitos de propaganda interna e externa...Uma coisa é conquistar um quartel vazio, outra é aprisionar (ou matar) 700 homens, mulheres e crianças, civis e militares...

Este é o raciocínio do nosso coronel, um homem que foi condenado antes de ser julgado. Mais: um homem solitário, sem apoios, nem à esquerda (MFA) nem à direita... Preso durante um ano, com redução do vencimento a metade, foram os seus amigos, em Bissau e em Lisboa, que se quotizaram (5 mil escudos / cada) para contratar os serviços de um bom advogado (João Palma Carlos)... Quatro advogados que cumpriam o serviço militar em Bissau, como oficiais milicianos, foram impedidos de o defender...

É importante ler o livro, para depois poder tomar posição...

De qualquer modo, eu não quero que a sondagem se transforme em acção de julgamento do comportamento do Coutinho e Lima, que é nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande... Não quero que os nossos leitores tomem uma decisão emocional, mas tão apenas que votem, apreciando os factos...

Obrigado pelo teu interesse e cuidado... Tive pena de não te ver no sábado... Temos que começar a pensar no IV Encontro... Um abraço.


3. Resposta de Joaquim Alves:

Caro Luís

Não me passa pela cabeça fazer um "julgamento" do Coutinho e Lima e nem sequer tornar ainda mais dificil a sua vida ou a sua memória.

A verdade é que também não fui eu ou tu, ou qualquer outro, que decidiu fazer um livro para defender a sua posição.

Quando decidimos tomar uma posição pública, como ele decidiu tomar em relação a este assunto, fica-se sujeito à opinião dos outros.

Claro está que este assunto terá sempre pelo menos duas opiniões distintas: os que concordam com a decisão e os que não concordam.

Mas mesmo entre uns e outros as razões para o apoio ou a rejeição podem ser diversas, razões que podem envolver a política e razões da política, razões sentimentais, razões de nacionalismo exarcebado, razões de simpatia, e tantas mais que não têm fim.

E, meu caro Luis, é uma discussão que não tem fim, porque não há nada que prove que poderia acontecer isto ou aquilo.

Verdade é que, tanto Gadamael, como Guidaje, apesar de cercadas e até por mais tempo e com mais baixas, resistiram e ganharam essa guerra "especifica".

E a dúvida sempre restará, ou seja, será que com um novo comandante, e tropas especiais Guileje não teria destino igual aos outros? Não se serviu de qualquer modo o PAIGC do abandono do Guilege para declarar a guerra ganha?

São assuntos muito delicados e que nos tocam ainda de um modo, quer queiramos quer não, apaixonado e eu, meu caro Luis, sofro um pouco disso, da emoção à flor da pele.

Terei todo o cuidado nas coisas que eventualmente possa escrever sobre o assunto.

Julgo que ficou mais esclarecida agora a pergunta da sondagem.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste anterior desta série > 15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3627: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (4): Apresentação do livro, 5ª F, 18, na Casa da Guiné-Bissau em Coimbra

(**) Para aquisição do livro, contactar o Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima

Rua Tomás Figueiredo, nº. 2 - 2º. Esq.

1500 – 599 LISBOA

Telefone: 217608243

Telemóvel: 917931226

Email: icoutinholima@gmail.com

Guiné 63/74 - P3627: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (4): Apresentação do livro, 5ª F, 18, na Casa da Guiné-Bissau em Coimbra



"A retirada de Guileje: A verdade dos factos" do Cor. Coutinho e Lima Apresentação em Coimbra 

Mensagem do Doutor Julião Soares de SousaO Coronel A. Coutinho e Lima na Academia Militar, Amadora, em 13 de Dezembro de 2008 na apresentação do seu livro, A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos. 

Convite: A Casa da Guiné-Bissau em Coimbra vem por este meio convidar V. Ex.ª a assistir ao lançamento do livro "A retirada e Guileje. A verdade dos factos", do Coronel Alexandre Coutinho Lima, e ao jantar da comunidade guineense, que terá lugar no próximo dia 18 de Dezembro, pelas 18 h 30, na Catina das Químicas da Universidade de Coimbra. Para qualquer confirmação, contactar: 967967748 (Julião Soares Sousa, Doutor - Presidente da Casa da Guiné. Por favor, reencaminhe para os seus contactos. Com os melhores cumprimentos e saudações amigas. 

Julião Soares Sousa

__________ 

  Notas de vb: 1. Julião Soares Sousa, guineense, investigador, doutorado em História Contemporânea, Presidente da Casa da Guiné em Coimbra. 2. Artigo relacionado em 15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3626: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (3): Tardia a nossa percepção do nosso próprio Vietname (Eduardo Dâmaso)

Guiné 63/74 - P3626: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (3): Tardia a nossa percepção do nosso próprio Vietname (Eduardo Dâmaso)

Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref, Coutinho e Lima, A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos (Linda-A-Velha: DG Editor, 2008, 469 pp, € 20) >

Excerto da apresentação do livro (*) pelo jornalista Eduardo Dâmaso (**).

Vídeo: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

Vídeo (9' 16'') alojado em: You Tube >Nhabijoes.

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Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 14 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3618: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (2): A festa ... e a solidão de há 35 anos (Luís Graça) e da série >

(**) Vd. trabalho de investigação do jornalista Eduardo Dâmaso (Público, 26 de Junho de 2005)

15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)

15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)

Vd. também poste de 27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2137: Antologia (62): Guileje, 22 de Maio de 1973: Coutinho e Lima, herói ou traidor ? (Eduardo Dâmaso / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P3625: História da CCAÇ 2679 (10): Um Natal atribulado (José Manuel Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, com data de 11 de Dezembro de 2008

Companheiros,
Antecipo este episódio, porque se enquadra na época natalícia e num assunto da moda, a ganância.

Para todos, vai aquele abraço
José Dinis

Um Natal atribulado

Corria o mês de Dezembro de mil novecentos e setenta. As picadas que levavam a Bajocunda apresentavam-se enrijecidas por via da seca e o capim amarelo, já aguardava pelas queimadas que antecediam o tempo das chuvas. A natureza não era desoladora, apesar disso, mas o aquartelamento local, esse sim, apresentava características desoladoras, com o material a monte, quer junto à enfermaria, aos quartos dos sargentos, em volta da oficina macânica e a cerca de arame um bocado desmantelada. As pinturas das construções também se apresentavam carcomidas pelo decorrer do tempo.

Algo revelava à chegada ao aquartelamento que ali não morava um bom ambiente. O pessoal deslocava-se com lassidão, troncos nús, curvados sob o peso do calor, sempre poucos à vista, a deslocarem-se como autómatos, sem se perceber bem uma motivação ou interesse. Era a pasmaceira. Animava-se pelas horas de refeição, quando, dos abrigos periféricos, afluiam os militares ao chamamento do rancho, mas sem entusiasmo, sem corresponder à vivacidade dos vinte anos. E compreendia-se, já que a ementa de arroz com estilhaços era quase servida em exclusivo. Dizia-se que era do gamanço e da falta de géneros. E da falta de interesse, pois iniciei uma horta e quando as ervas floresciam, comecei a ter problemas operacionais, e os dois militares a terem que integrar o pelotão, sem que da parte dos restantes houvesse qualquer compensação. Era o sistema.

Um dia surgiu a notícia: fora determinado um reforço de verba para o dia de Natal. A notícia em si, não causou muitas espectativas, pois logo começaram os dichotes sobre a medida, que não podia ser, pois se não havia géneros... e também para evitar a criação de maus hábitos. Alguns ainda acreditaram num bifinho, mas onde preparar os bifes, se apenas havia uma sertã para os oficiais e sargentos. Esperava-se qualquer coisa e teria sido tão fácil. O sistema, porém, não parecia contemplar alterações ao quotidiano.

A messe de oficiais e sargentos funcionava em parte da varanda da casa colonial que era ocupada pelos sargentos e pela enfermaria. Era um canto com mesas e bancos de correr, sem mais. Quando chovia, todos queriam ficar do lado da parede, pois do outro, caía água. Mas no dia de Natal, sobre a toalha de plástico colorida, colocaram umas latas vazias de refrescante, adornadas com flores. Manifestação naif de uma decoração possível e generosa. Sem custos.

O refeitório ficava a cerca de setenta metros, por detrás dos edificios do comando e das transmissões. Não passei por lá. Eu também não atribuía significado àquele Natal.

Pela hora de abancarmos, fiquei numa das extremidades. Servi-me do bife e do arroz. Acompanhei com a tradicional cervejola. Estávamos nestas tarefas, com conversas de circunstância com os mais próximos, quando me chamaram do exterior. Três militares. Que tinha que ser já. Levantei-me e fui inteirar-me das razões da urgência. Queixaram-se de que o rancho era a mesma coisa, arroz com estilhaços. Que ia um grande descontentamento. Não acredito, respondi.

Prometi-lhes chatice se a conversa não fosse verdadeira.
Lá fui. À chegada tive que me impor para que o barulho não nos tolhesse as ideias.
E o que eu vi foi uma companhia condenada às galés, pessoal com péssima apresentação, indignados com o que lhes davam a comer, reflexo da desconsideração. Não era uma questão de vida ou de morte. Era a dignidade, ou a falta dela, e o tratamento sobranceiro a que estavam sugeitos, Filhos da puta! A chicalhada não perdia pitada.

Considerei que podiam fazer levantamento de rancho ou que comessem o que ali estava, pois já sabiam o que era. Em qualquer dos casos gritei pelo Jesus, o cantineiro. Dei-lhe ordem para abrir a cantina e que todos se servissem do que houvesse.

No regresso à messe censurei a chicalhada, referi o que decidira, desafiei o capitão a dar-me uma porrada, depois, a título simbólico, peguei no meu prato e fui acabar de comer no quarto.

A ganância desta chicalhada, do mais vil e ordinário que me foi dado conhecer, indivíduos sem escrupulos, mereciam que se desse publicidade aos seus nomes, todavia, não me parece do âmbito do blogue estar a indicá-los. Como é que foi possível, juntar numa companhia, três aventesmas de tais quilates?
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3593: História da CCAÇ 2679 (9): Boas recordações da PIDE (José Manuel Dinis)