quarta-feira, 23 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3086: Memória dos Lugares (10): Gadamael, CART 2410, 1968/69, Parte I (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá)

Luís Guerreiro, Ex-Fur Mil, CART 2410 e Pel Caç Nat 65 (Gadamael e Ganturé, 1968/70 )












Guiné >Região de Tombali > Gadamael - Porto > s/d > Tabanca, reordenada pelas NT.
Foto: Autores desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual.
Gentileza de: © AD -Acção para o Desenvolvimento (2007).


(Continua)

terça-feira, 22 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3085: Convívios (77): Pessoal da 3.ª CART/BART 6523, 9 de Setembro de 2008, Vilar do Pinheiro, Vila do Conde (Américo Marques)


Estandarte da 3.ª CART/BART 6523, Nova Lamego, 1973/74, cuja divisa era Honra e Dever.



1. No dia 15 de Julho, recebemos do nosso camarada Américo Marques, ex-Soldado de Transmissões da 3ª CART/BART 6523, com sede em Nova Lamego (Gabu), destacado em Cansissé (Julho de 1973 / Setembro de 1974) (1), uma mensagem dando conta do próximo Convívio da sua Companhia:


Boa tarde Caro Luis Graça! Depois de longa ausência, envio um contributo! Ou estou enganado? E este símbolo já te foi enviado? De qualquer modo, é-me grato dar notícias (do alto da montanha de Stª Luzia).

Agora, que estou perto de me reformar (43 anos de contribuição), poderei com mais facilidade enviar qualquer contributo para a nossa obra de História Humana e estórias. Pois quem conta histórias, mesmo sem H, pratica o bem. Por conseguinte, como fundador que foste de tal empreendimento, envio-te os meus aplausos a esta iniciativa, de elevado sentido emblemático, no espaço e no tempo!

Data do Convívio: 6 de Setembro de 2008

Ponto de Encontro: Igreja de Vilar do Pinheiro, Vila do Conde

Hora: 09h30m

Local do Almoço da 3.ª CART/BART 6523: Quinta das Silveiras, Vilar do Pinheiro – Vila do Conde

Missa às 11 horas na igreja de Vilar do Pinheiro

N.º dos telefones dos Organizadores: 223755339 / 938011596

Cumprimentos,
Américo

___________

Nota de Carlos Vinhal:

(1) Vd. postes de:

27 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1705: Em 25 de Abril de 1974 eu estava lá (1): Em Cansissé, região do Gabu (Américo Marques, 3ª CART do BART 6523)
8 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P946: Destacado no Gabu, em Cansissé, de Julho de 1973 a Setembro de 1974 (Américo Marques)
23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P901: De Viana do Castelo a Cansissé (Américo Marques)
21 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P891: Recordando o Xime do Sousa de Castro (A.Santos)
12 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXVI: Américo Marques, o último soldado do Império (Cansissé, 1974)

Guiné 63/74 - P3084: Poemário do José Manuel (21): O recordar dos sentidos: como é bom ver, sentir, ouvir, cheirar, saborear, falar...

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Vista aérea de Quebo (Aldeia Formosa)" (JML)...

De acordo com o Antero Santos, Aldeia Formosa tinha uma pista de aviação asfaltada. E dali seguiam duas estradas, também asfaltadas: (i) uma que passava por Áfia, Mampatá, Uane, Nhala e terminava em Buba, numa extensão de cerca de 40 Kms; construída em 72/73, estava totalmente alcatroada; e (ii) outra que partia de Mampatá em direcção a Nhacobá, passando por Ieroiel, Colibuia, e Cumbijã, que em Junho de 1973 já estava totalmente construída numa extensão de 14,2 kms (até Cumbijã); possivelmente em Janeiro de 1974 já estaria em Nhacobá...

O Antero Santos foi Fur Mil Atirador/Minas e Armadilhas, CCAÇ 3566 (Março a Dezembro de 1972 – Empada; CCAÇ 18 – Janeiro 73 a Junho 1974 – Aldeia Formosa ou Quebo).

Foto e poema © José Manuel (2008). Direitos reservados.

O recordar dos sentidos (1)
Como é bom ver
as flores das amendoeiras
as cerdeiras (2) a florir
as flores das laranjeiras
as vinhas a rebentar
as flores dos pessegueiros
e as rosas do quintal
como é bom ver

como é bom sentir
o tacto duma pele macia
debaixo da nossa mão
o aconchego duns seios
para matar a solidão
como é bom sentir

como é bom ouvir
quem nos faça sorrir
o som da água a correr
o vento a soprar nas canas
como é bom ouvir

como é bom cheirar
o doce aroma do mosto
que se solta do lagar
ou o cheiro do fumeiro
naquela lareira a secar
como é bom cheirar

como é bom saborear
uma sopa quente do pote
uma sardinha na brasa
ou carne fresca a grelhar
como é bom saborear

como é bom falar
numa roda de amigos
ou num serão ao luar
cantar canções e poemas
até a noite acabar
como é bom falar

Mampatá 1973
josema (3)
________

Notas de L.G.

(1) Vd. poste anterior desta série > 9 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3039: Poemário do José Manuel (20): Mãe, se eu não regressar, lembra-te do meu sorriso...

(2) Na região de Entre Douro e Minho, cerdeira é sinónimo de cerejeira...Este regionalismo não vem no grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa...

(3) Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

GUiné 63/74 - P3083: Os Nossos Regressos (12): Vagabundo e os outros fantasmas dos Lassas que lá ficaram na Região de Tombali (Mário Fitas)

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Vila >Foto 36 > "Militares [?] na esplanada do Bar Catió, em fundo, a casa do Sr. José Saad e as lojas deste".

Foto e legenda: © Vítor Condeço (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Mário Fitas, com data de 5 de Julho: (Recorde-se que o Mário Fitas - de seu nome completo, Mário Vicente Fitas Ralhete, - foi Fur Mil da CCaç 763, connhecida pelo nome de guerar Os Lassas, Cufar, 1965/66; natural de Elvas, é autor de dois livros sobre a guerra colonial da Guiné, misto de memórias e de ficção; criador de uma notável personagem, uma mulher guineense, balanta, exemplo de grande coragem e dignidade, a quem ele deu o nome de Pami Na Dondo) (1).

Assunto - Os nossos regressos!


Caro Luís:

Tenho dúvidas se esta minha ideia se coaduna com o tema. Mas julguei ser o momento próprio, para prestar homenagem a três Homens (Irmãos). Eu e eles sempre estivemos juntos. Dois já partiram mas deixaram muito: Luís Manuel Tavares de Melo –Açores, Micaelense de Raça; António Pedro dos Santos Garcia Lema - Matosinhense (de quem a minitertúlia lá de riba se pode orgulhar) não só como Homem, mas pelo que a Pátria lhe pôs no peito.

O outro, Francisco José Gameiro Pedrosa, um homem da Vieira de Leiria, amigo comum, julgo eu, meu e do Joaquim Alves Mexia. Vamo-nos telefonando e encontrando conforme as oportunidades.

Por eles, vai muito da vontade com que humildemente participo no Blogue.

Caro Luís, Briote e Vinhal para vós e toda a Tabanca, aquele abraço de sempre do tamanho do Cumbijã!

Mário Fitas





Capa do livro de Mário Vicente, Putos, Gandulos e Guerra (2000).

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Transcrição do livro Putos, Gandulos e Guerra, de Mário Vicente > Capítulo XV- Adeus à Guerra

Fixação do texto: L.G.


A 10 de Novembro de 1966, completamente rota, a CCAÇ 763 começa a ser rendida para regressar a casa. Os primeiros dois grupos de combate partem para Catió, no dia em que é inaugurada oficialmente, pelo Rev Capelão do Batalhão, a Capela construída exclusivamente por elementos da CCaç. Assiste à cerimónia a maioria da Companhia. O restante pessoal seguirá dois dias depois.

Não sabemos quando embarcaremos, mas já estamos desarmados. Resta saber se ainda vamos para Bissau, ou como será?...

Finalmente sabemos que as lanchas nos vêm buscar no dia 18 e que faremos a viagem directamente para o barco, que mais tarde viemos saber, ser o “Niassa”.

Bem nos fornicaram! Tiraram-nos tudo e, para não recordarmos, nem um bibelô de madeira ou outra bugiganga qualquer de missanga podemos adquirir. Temos de nos cingir ao mercado de Catió onde os preços sobem em flecha imediatamente. Compram-se alguns tapetes pelo dobro e triplo do preço normal, ficando os militares desorientados sem saberem o que levar para pais, esposas, familiares e amigos.

Vão eles! Que melhor recordação se pode levar? Foi a melhor prenda que Francisca Fitas e António Vicente receberam: o regresso de seu filho.

O regresso de uma guerra é fim de drama que geralmente ocasiona problemas. Os soldados, festejando o regresso à sua terra natal, e desfazendo-se dos “pesos” que não lhe servirão para nada, encharcam-se e esgotam os stocks de cerveja e whisky.

São bebedeiras colossais! Começamos a tentar controlar, não vá haver problemas. Os soldados não largam a casa da Libanesa, e pressente-se que vai haver bronca. Felizmente as coisas não correram muito mal, uma dezena de blenorragias e embarcamos em Catió directamente para o “Niassa”.

Nas lanchas que transportam o pessoal, há um misto de alegria e tristeza, reflexo do estado de espírito que antecede os grandes momentos. Incrédulos, os soldados olham-se num sonho de abandono ou retorno à guerra?!

Vagabundo vai olhando para as margens com o tarrafe e a floresta, entrando rio dentro em maré cheia. A Natureza pode agora ser admirada na sua plenitude, e verificar-se como é linda esta terra.

África! Mistério! Tu que prendes o homem e o fazes ligar-se por um feiticismo indefinível, fazendo-o sentir uma atracção especial por esta terra!... O Sol esconde-se e podemos continuar apreciando-te sob o teu feiticeiro luar como se dia foss, todas as tuas estranhas e selvagens belezas.

Embalado pelo ronronar do barco, o furriel Vagabundo puxou por um cigarro, e deixou-se escorregar suavemente, e o seu cérebro começou deambulando no sonho ou realidade!?

Vagueando a sua mente navegou a seu belo sabor.
........

Vagabundo está encarcerado nas paredes da sua prisão, com falsas janelas e portas, símbolos de ilusões e indefinidas perspectivas. Está encarcerado nos seus limites, sendo um homem completamente livre. A sua alma está tão ligada à de Tânia que não necessita dela só para se abrir, mas mais… muito mais para existir. Mas vê-se caminhar só, numa turbulência de sobe e desce. O vazio escurece-lhe a alma e desce mais do que sobe.

No amolecimento deslizar da lancha, encostado ao saco de lona verde, sente-se livre da Guerra, mas… olhando para as suas mãos, estas apresentam-se sujas de sangue, vazias, cheias de nada. Nestes últimos anos tudo tentou, mas nada encontrou. Maria de Deus? Não! Apenas a dor e a Guerra! Quem o ajudará a encontrar a tão necessária estabilidade de que tanto carece? Puxa novamente outro cigarro instintivamente, sem o pensamento se lhe ir. Se ao menos uma companheira, amante e amiga, lhe estendesse a mão e apenas pronunciasse:
- Vem! O tempo é agora todo nosso, repousa no meu ombro, e varre da mente toda a lama da Guerra!

Não, não será assim! Apenas sua paciente mãe Francisca o ajudará e sofrerá a sua recuperação de homem, esquecendo a máquina de guerra em que se transformou.

Se a morte existisse neste momento, a união seria perfeita. Há duas coisas que merecem ser desejadas: o impossível e a realidade, mas sente-se por desconhecimento, desejo do impossível.

A fama da Guerra na Guiné alastrou cedo entre os militares e não só! Ao próprio Povo incógnito também chegou essa informação, como ao tio Chico da Camioneta. Só quem não queira, se faz ignorante de que a simples mobilização para a Guiné era condenação pura próximo de vinte e dois, ou vinte e três meses de apodrecimento, enraizados na lama das bolanhas, pântanos, e rios de maré, piores que quatro anos de meio barril às costas, subindo a ladeira da Fonte do Marechal ao Forte da Graça em Elvas!...

Resta, após a partida, o desejo que o regresso não seja entre tábuas, de muletas, carrinho de rodas ou completamente cacimbado.

Só quando se chega à Guiné, se conhecem os nomes assombrados das matas do Cantanhez no sul e do Oio-Morés no norte. Recordando, o furriel faz mais uma vez a comparação das matas com a solidão.

Solidão!... Degradação de existência não compartilhada!... Dementação de espírito que se destrama no escorregadio carreiro da mata, inspirando o seu nauseabundo odor a morte. Neste estádio, apenas as figuras sombras dos companheiros da frente, e a pressentida presença dos que nos precedem. Momentos cruéis de stress, sentindo olhares de seres invisíveis trespassando-nos em minuciosa tomografia computorizada, esperando o momento ideal para clicarem o botão (gatilho) que nos queimará a carne.

São estes os momentos em que a mente, em louco desprendimento, se desapega do corpo e vagueia em sonhos de realidade distante. Mortificando, são estes os momentos que nos trazem os mais excêntricos pensamentos da vivência existida e daquela que é túnel escuro do amanhã que se espera...

Cansado o guerreiro, esgotado o cérebro, o homem duro adormeceu. Vinte e quatro anos! Quanto pesarão estes dois últimos dois na sua vida!?...

Chegada a Bissau, ao princípio da tarde do dia seguinte. Há que embarcar e distribuir o pessoal pelas camaratas _colchões colocados nos porões. Os oficiais e sargentos ocuparão os camarotes. O “Niassa” largará na maré cheia que acontecerá pela madrugada. Os oficiais e sargentos, que não estejam de serviço, são autorizados a sair até à meia noite impreterivelmente.

Chico Zé, Vagabundo, Jata e António Pedro saem juntos e abancam no Tropical. Camarão de Quinhamel, ostras e cerveja até encharcarem. Fartos como brutos, bêbedos que nem cachos, cada um sonha com a chegada a Lisboa. Próximo da meia noite, António Pedro, já amparado por Chico Zé e Jata, sobem as escadas do "Niassa", mas o peso de António Pedro é cada vez maior. Vagabundo, a meio das escadas, manda sentar o pessoal e diz para Chico Zé:
- Porra! Não cantamos um fado à despedida desta Terra? - Silêncio! Os camaradas não respondem.
- É, cambada!... ninguém diz nada, cabrões?... Senão falam então ouçam a minha Florbela! (2)

Parecendo que o álcool lhe tornava a voz suave e profunda, recitou:

"Almas de Vagabundos
Onde há charcos e lagos
Pântanos e lamas…
Onde se erguem chamas
Onde se agitam mundos,
E coisas a morrer…
E sonhos… e afagos…

Almas sem Pátria,
Almas sem rei,
Sem fé nem lei!
Almas de anjos caídos,
Almas que se escondem para gemer
Como leões feridos!”


- Merda! Já acabou tudo!?... Amen!

Jata pede a Vagabundo que dê uma ajuda, este estende o braço mas escorrega e cai para dentro do portaló. Dois vultos indefinidos rolam no escuro pelas escadas do "Niassa". Um mergulha nas águas do Geba, o outro dilui-se.

Silêncio absoluto. Nenhum marinheiro gritou:
- Homem à água!...

Na sua voz pastosa e alcoolizada, António Pedro perguntou:
- O Queeee… foooi?

Calças de Palanco, agora já em pé, respondeu:
- Foi o Mamadu que não quis abandonar a sua terra e preferiu ficar nas águas e lama do Geba!
- Que fique em paz na lama, a sua sombra!

Saiu em uníssono da boca dos quatro militares.
- E o Vagabundo?

Voltou para Cabolol para recomeçar a Guerra.
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2593: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (11) - Parte X: O preço da liberdade (Fim)


(2) Vd. poste de 12 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2043: Bibliografia de uma guerra (22): Putos, Gandulos e Guerra, de Mário Vicente, aliás Mário Fitas (CCAÇ 763, Cufar)

(3) Vd. Vidas Lusófonas > Florbela Espanca (Vila Viçosa, 1894; Matosinhos, 1930). Poetisa trágica, pôs termo à vida no dia em que fez 36 anos. Justamente em Matosinhos, onde vivia.

Guiné 63/74 - P3082: Convívios (76): Ainda o 18º encontro dos bravos da CCAÇ 726 (Nuno Rubim)

Arados, Benevente, 24 de Maio de 2008 > 18º Almoço/Convívio dos bravos da CCAÇ 726(1)... Devidamente assinalados, da esquerda para a direita: na segunda fila, o Teco e o Nuno Rubim; na terceira fila, o Guedes e o Cavaleiro (este último, tenente general, na situação de reforma, tendo antecedido o Rubim no comando da Companhia).

Foto : © Nuno Rubim (2008) . Direitos reservados.


1. Mensagem do Nuno Rubim, de 14 de Julho:

Obrigado. Pois já vi [a notícia do Convívio da CCAÇ 726] ... Mais vale tarde do que nunca.

Junto uma foto do convívio. Estou à direita, 2ª fila, e atrás, com uma camisola vermelha, o Ten Gen Ref Cavaleiro que substituí no comando da CCaç 726. À esquerda está o Teco ( 2ª fila ) e quase por detrás o Guedes, de camisa azul.

Resumindo [e respondendo à tua pergunta]: comandei a CCaç 726 (2) desde o final de Jan 66 e de Jun até Dez 66 a CCaç 1424. Antes tinha, como sabes, comandado a CArt 644 ( Mansabá) e a CCmds.

O convívio foi excelente e a malta gostou muito de ver as fotos da ida à Guiné que levei, sobretudo a do diorama de Guileje ... e a do rol das lavadeiras do dito-cujo ! (3)

Um abraço
Nuno Rubim

_______

Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 14 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3060: Convívios (74): CCAÇ 726 (Guileje, 1964/66), em 24 de Maio de 2008, Arados, Benavente (Nuno Rubim)

(2) Vd. também o poste de 17 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2360: A CCAÇ 726, a primeira Companhia a ocupar Guileje (2): 10 mortos e mais de metade do pessoal ferido em combate (Virgínio Briote)

(3) Em Guileje e em Mejo, o Nuno Rubim [, hoje Cor Art Ref, ] era conhecido como o capitão fula... muito querido entre a população local (e nomeadamente a feminina). Fui testemunha da grande recepção que por lá teve em Março de 2008. Essa alcunha - a de capitão fula - é uma história que ele ainda um dia nos há-de contar, se os seus muitos afazeres de investigador o permitirem...

Guiné 63/74 - P3081: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (4): Os meninos à volta da fogueira...


"Encontrei esta fotografia num Boletim Cultural da Guiné Portuguesa de 1972. Lembrei-me logo dos meninos de Missirá educados por Lânsana Soncó,lembrei-me das tábuas com os versículos do Corão que se podiam comprar ao pé de Fá Mandinga.Em Missirá e Finete tínhamos acordado que estas aulas eram complementares às do professor da primária,foi assim que os meninos tinham uma boa parte do dia preenchido"(BS).

Foto (e legenda): ©
Beja Santos (2008). Direitos reservados.


Guiné > Zona Leste > Cidade de Bafatá > Finais de 1969 > Vista aérea da mesquita de Bafatá. A Zona Leste da Guiné (região de Bafatá e Gabu) é aquela onde se pratica mais a Mutilação Genital Feminina (MGF)... As populações islamizadas representam quase metade dos guineenses.Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).


Foto: ©
Humberto Reis (2006). Direitos reservados


1. Mensagem do Alberto Branquinho, com data de 8 de Julho (Recorde-se que o nosso camarada Alberto Branquinho, hoje jurista de formação e profissão, foi alferes miliciano na CART 1689 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69) (1).


Caro Luís Graça

Junto vai o texto do UMBIGO nº. 4, que fala de religiões. Tem matéria meramente de facto. Não tem juízos de valor. Assim, espero que não levante polémica.

Um abraço e os meus agradecimentos.

Alberto Branquinho
Ex-alferes miliciano
CART 1689 /BART 1913



2. NÃO VENHO FALAR DE MIM … NEM DO MEU UMBIGO (4) > UMA ESCOLA MUÇULMANA
por Alberto Branquinho


Sempre que havia necessidade de fazer colunas auto para abastecimento do quartel, situado a noroeste, o pessoal saía pela porta norte, com os picadores à frente e com instruções para irem ficando abrigados ao longo do itinerário a percorrer, fazendo segurança ao vaivém das viaturas. O movimento da tropa começava somente quando havia já alguma luz, com o sol a tentar romper entre a folhagem da mata e os troncos das árvores.

Isto era o habitual em qualquer aquartelamento, em circunstâncias idênticas. A diferença estava no facto de, no lado norte e nordeste deste aquartelamento, haver uma grande tabanca de população fula e de, junto a essa porta norte, haver uma escola ao pé da casa do padre.

Os alunos, entre (talvez) os sete e os dez anos, com vestes compridas e cabeça coberta, estavam sentados em esteiras à volta de uma fogueira, com labaredas baixas, para afugentar o frio e o cacimbo da madrugada. Cada um empunhava uma tábua de cerca de trinta a quarenta centímetros por uns vinte centímetros, onde estavam escritos textos em caracteres arábicos (excertos do Corão?). A configuração das tábuas era idêntica à das tábuas dos desenhos bíblicos em edições juvenis, que representam o Senhor a entregar a Moisés as tábuas da lei no Monte Sinai, quando o povo judeu transgrediu no peregrinar pelo deserto.

A cena que se nos deparava era um círculo de garotos à volta da fogueira, entoando, em uníssono e a média voz, uma cantilena cheia de aa, acompanhados de sons guturais ou aspirados, enquanto o fumo da fogueira, no centro, subia, se dispersava e os envolvia, misturando-se com o cacimbo. Tudo isto era batido pelos, ainda, fracos raios de sol, rasante, fazendo um quadro quase irreal. Era belo e quase místico, não fosse a perturbação introduzida por alguns soldados que, passando em fila de um, opunham à cantilena:
- Há… há…há… há…
- Gá… gá… gá… gá…
- Olarilálá… olarilálá… olarilálá…

Apesar de os graduados os mandarem calar, o contraponto feito pela tropa continuava, à socapa.

Os garotos, inicialmente divertidos ou espantados, levantavam os olhos das tábuas para observar os intrusos e voltavam à leitura.

Só o padre, postado atrás, em pé, hierático e digno, de boné de lã na cabeça, com uma barbicha que lhe alongava o rosto, olhava fixamente o fogo e, com as mãos dentro das vestes, desconhecia a tropa que passava (2, 3).

_______

P.S. - Este "Post Scriptum" vem a propósito de um "POST ante" (POST 3025 de 5 de Julho último) do Jorge Cabral, para esclarecer que:

(i) O Branquinho que ele refere no nº. 1 desse POST sou eu, que tenho o nome próprio Alberto;
(ii) O Branquinho mencionado no nº. 2 do mesmo POST é meu irmão, de nome próprio António, como o Jorge Cabral sabe.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3011: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (3): Fornilhos e despojos humanos

(2) Esta cena é-nos familiar a todos nós, camaradas da Guiné, que andámos pela Zona Leste, em pleno chão fula... Os meninos à volta da fogueira, decorando versículos do Corão... O contexto é outro, mas lembrei-me do célebre poema e música, belíssimos, do angolano Rui Mingas (Manuel Rui Monteiro), interpretado entre outros pelo nosso Paulo de Carvalho

Com fios feitos de lágrimas passadas
Os meninos de Huambo fazem alegria
Constroem sonhos com os mais velhos de mãos dadas
E no céu descobrem estrelas de magia

Com os lábios de dizer nova poesia
Soletram as estrelas como letras
E vão juntando no céu como pedrinhas
Estrelas letras para fazer novas palavras

Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade

Com os sorrisos mais lindos do planalto
Fazem continhas engraçadas de somar
Somam beijos com flores e com suor
E subtraem manhã cedo por luar

Dividem a chuva miudinha pelo milho
Multiplicam o vento pelo mar
Soltam ao céu as estrelas já escritas
Constelações que brilham sempre sem parar

Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade

Palavras sempre novas, sempre novas
Palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo

Assim contentes à voltinha da fogueira
Juntam palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo

(3) Também evoquei esta cena, num poema em falo do ao Iero Jaló, o primeiro homem (da CCAÇ 12) que morreu ao meu lado:

(...) Nascemos meninos,
Mas fizeram-nos soldados.
Azar o meu e o teu,
Por termos nascido
No sítio errado,
No tempo errado.
Imagino-te puto
À volta da fogueira,
Na morança do marabu ou do cherno
Da tua tabanca,
Decorando o Corão.
Uma das cenas mais lindas
Que eu trouxe da tua terra,
E que eu guardo na minha memória,
São os meninos à volta da fogueira,
Soletrando tabuínhas em árabe (4).
Lembro-me de quereres aprender
As letras dos tugas
Para poderes ser soldado arvorado
E um dia chegares a cabo. (...)

(4) Há tempos o António Santos (ex-soldados de transmissões, Pelotão de Morteiros 4574/72, Nova Lamego, 1972/74), mandou-me imagens dessas famosas tabuínhas... Não as localizo, de momento. Recordo-me de lhe ter prometido que ia pedir a alguém (um aluno meu, médico, muçulmano, de origem argelina) para as traduzir, o que nunca consegui... Se ele, António, me estiver a ler, que me mande essas imagens em 2ª via...

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3080: Pensar em voz alta (Torcato Mendonça) (14): Que vidas, que merda!

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Mansambo > O Torcato Mendonça, lui-même, há 40 anos atrás, noutra encarnação... Era então Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69)...


1.Foto e mensagem de Torcato Mendonça, ex-Alf Mil, CART 2339 (Mansambo, 1968/69)... Mensagem enviada em 14 de Julho:


PENSAR em VOZ ALTA – G (*)

Leio certos escritos, no blogue, aprovo ou desaprovo mas, em nome da liberdade de expressão e da diferente maneira de pensar, aceito e respeito.

Reli agora um texto meu mas no bloco. Os olhos acabaram por atrapalhar a leitura. Porque escrevi assim? A recordação, a saudade é forte demais. Sofro?! Escrevo pouco agora, para envio. Talvez certas memórias, se trazidas à escrita, se tornem dolorosas e me impeçam de escrever. O prazer da escrita, do alinhar letras em tecla corrida, fique, talvez, devido àquele escrito e outros, de pena e tecla, como em auto flagelação.

Impensável. Isso não!


Por vezes certas situações, motivam a vinda de recordações ou desejos de mudança. Surgem dúvidas estarei certo ou errado? Não sei!

Eu conto:


1 – Manuel

- Uma moedinha... uma moedinha é para o café, um euro, só um euro…
- Estás com pior aspecto, Manuel. A barba, o cabelo sem ver água há dias e as botas sem cordões.
- Vá lá um eurosito. Estou bem, estou bem…é assim…ah…

Dou ou não? Não é mendigo e só pede aos amigos ou conhecidos. Olha-me com aquele olhar vazio e baço:
- Vieram buscar-me o cão, uns tipos dos animais e a GNR; não era meu, andava atrás de mim. Gostam de mim, os cães…
- Vai tomar o café ali, que eu pago.
- Ali não, não me deixam entrar.
- Pronto, toma e vai a outro lado; foste pára-quedista Manuel, esqueceste-te?
- Não, não. Fui Furriel pára-quedista, instrutor de… - e conta, com um brilho nos olhos e um sorriso a aflorar nos lábios uma série de especialidades. Ponho a mão no ombro e dou-lhe pequena palmada.
- O que mudou, Manuel? Porquê?- Volta ao olhar triste e diz:
- Foi psicológico… foi psicológico. Não aguentei.

Encolhe os ombros e afasta-se, bamboleante, a arrastar as botas sem cordões. Não sei bem a história dele. Foi furriel pára-quedista, por uma razão de bebida ou outra saiu. Dizem ter uma pequena pensão. Mas é um homem destroçado, a necessitar de amparo e de tratamento. É, para mim, pessoa estimável.

Vagueia no centro da cidade, vagaroso no andar, descansando num ou noutro banco de jardim, esperando o nada.

Entro no café, sento-me e trazem-me a bica. Talvez como o Manuel, estou ali não estando. Nem abro os jornais. Olho o nada e penso:
- Quantos Manuéis?

Este não fez a guerra colonial, terá quarenta e muitos anos, cinquenta não, perdeu-se por outros motivos. Não sei ao certo.

Lembro-me de ter lido, no blogue Luis Graça e Camaradas, um poste de um Zé da Desordem, antigo combatente e encontrado morto numa madrugada.

Quantos? Quantos Zés ou Manuéis, viraram “corpos vazios”, fartos da vida dita normal, vivendo hoje no seu mundo. Em comum têm o serviço militar, neste caso. Outros - quantos ? - foram antigos combatentes.

Porquê? Porque tardam em ser ajudados, tratados? Aos poucos são menos…pois pela ordem natural…
- Uma moedinha… um euro para o café… - Palavras que me martelam na cabeça. Tento abrir o jornal e os olhos caiem no café por beber…Merda, levanto-me e saio, para lado nenhum… Prefiro apanhar o calor da tarde…
- Quantos?

E ando e penso. E sai em voz alta e cai num papel qualquer, leiam ou rasguem e se passado à tecla é mais fácil, basta delete


2 - VERDES ANOS

- Quantos?

Não sei! Sei, isso sim, que milhares e milhares de jovens, nos seus verdes anos, durante década e meia, tiveram a juventude interrompida.

Milhares e milhares, cá, ou pior ainda, lá, numa qualquer parcela do Império, em nome da Pátria, em nome do Dever, foram empurrados adiando vidas. Regressaram um dia, diferentes, fartos, jovens em corpo e mente de velhos, endurecidos, amarrotados, enxovalhados. Alguns vieram não vindo e, ainda hoje, vagueiam vida fora, mais lá do que cá, em vapores de álcoois e destroço de vidas a serem encurtadas em cada dia que passa. Outros ficaram lá ou vieram em caixão de pinho. Quantos? Lá ou cá? Quantos?

Muitos não iam. Geralmente os mais acérrimos defensores do Regime autista de então, ou alguns “em desculpa ou mesmo do contra” a preferirem viagem até uma Europa aqui mais perto. Ainda os que o poder do favor ou o dinheiro, em minoria é certo, do Império se libertavam… mas o mesmo glorificavam.

Aos poucos a “Evolução Natural da Humanidade” pôs fim à sangria.

Regressaram muitos, então, dessas europas, palmas batendo, cânticos e gritos de ordem lançando e ensinando as regras de uma vida melhor e democrática. Alguns, rápido, ocuparam os lugares dos antigos Senhores pois muitos deles estavam em viagem apressada até aos brasis ou mais perto, para retorno mais rápido após a acalmia dos desmandos da populaça.
- Alguns com razão, pois tanto desmando, não! E tanta repressão passada, sim?

Ficou uma nova clique em mistura com gente que queria um País… Aos poucos, os que obrigados vaguearam pelo Império, ficaram com a raiva contida, a recordação, a frustração, as maleitas, a velhice precoce. Memórias...e Honra. Só, ou sós, em grupos nostálgicos…

Os de Sonho fácil ainda acreditam no dia de justiça reposta. Qual?

E volto lá sempre. Por vezes nem sei quanto de mim lá ficou.

Sonhos, tormentos, recordações dolorosas como a morte do Uro Baldé. Ali deitado, destroçado pela estúpida da mina. Eu a apanhá-lo aos poucos, raiva contida, soluço a embargar a respiração.

E o sonho, sempre o sonho a vir de quando em vez, a carne destroçada, o esparguete do almoço antes tomado, a sair e a misturar carne, sangue e massa…e a raiva a vir: - Cabrões… Vão pagar-me, cabrões… - e rio e a G3, em rajada curta fá-los saltar, torcerem-se de dor...
- Turras de merda… - o riso é abafado pelas rajadas curtas, certeiras, sempre na barriga… o riso louco... cabrões...

Acordo a escorrer água, a cabeça a apertar, boca seca, respiração descontrolada. Lentamente volta ao normal, lentamente. Ainda bem que estou só naquela “tabanca”, ainda bem. Tormentos de periquito.

O tempo, o hábito, tantos Uros… geraram rotinas normalidades… Quem me leva os meus fantasmas… como diz a canção. A Vida???


3 – VIDAS


O Calor ainda aperta, a chuva cai e formam-se pequenos regatos entre as tabancas. Ruídos de vida vêm das outras tabancas, em redor de sua, habitadas pelos picadores africanos e famílias.

Vidas partilhadas. Bebe mais um longo gole de uísque, acende um cigarro e olha os ponteiros luminosos do relógio. Tão cedo.

Não quer adormecer e, menos ainda, beber mais um comprimido daqueles.

Em caso de ataque está mais desperto.

Vidas! Ali, sem luz, sem nada, só, a poder encontrar-se com ele mesmo. Tem todo o tempo. Isso não falta até Mansambo ser aquartelamento. De dia, os militares, na mão direita pá ou pica e na esquerda a G3. Tretas! Mas era duro.

Que vidas. Os novos “aguentadores” do Império. Até quando?

Ali está, só, meio deitado, tronco nu, fumando, pensando e, por estranho que pareça, resignado. O objectivo é manter vivos os camaradas e ele. A missão: construir o aquartelamento, fazer operações, aguentar os ataques IN. Para isso fora treinado e outros treinara. Mais um “beijo” na garrafa de uísque.

Que vida! O pensamento voa para o País dele, tenta logo contrariar. Mas pensa:
- O meu País é enorme, vai do Minho a Timor, “uno”, desenvolvido. Ou não?

Será pequeno, “paroquial”, bafiento, pleno de medos e temores, de vénias, de classes de benesse e favor. De ajuda a pobres? Pára. Volta a concentrar-se na chuva e nos ruídos.

Sem querer sente-se pobre, coitado, a precisar de ajuda. Sem querer, é levado a pensar naquelas Senhoras que ajudam os pobres soldados. Muitas bem intencionadas, algumas com filhos ou familiares lá. Outras menos, a matarem o tempo, a viajarem pelas “províncias”, pouco pela Guiné, e a voltarem a Lisboa, felizes com “os nossos rapazes”. Depois de breve descanso, promovem reuniões, chás e canastas, récitas e outras, possíveis, fontes geradoras de angariação de fundos para os rapazes.

Há tarde, a meio da tarde, reúnem-se, falam, combinam, dão pequenos goles no chá, diminuta dentada no bolo com creme que, quase directo, lhes vai aumentar as adiposidades derramadas no veludo das cadeiras.

Depois partem alegres, comedidamente risonhas e sentem-se mais frescas, menos afrontadas, nas menopausas há muito iniciadas.


Ele pensa será justo assim pensar? O País dele é assim? Uísque ou loucura?


Que Vidas!... Aos poucos sente o sono a chegar e deixa-se ir com ele…
- Morfeu, olá…

Lentamente, ele vai… espera, é sono sem sonhos ou tormentos…

Quantos estarão assim? Quantos… ? Que vidas !

___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. alguns dos postes mais recentes do T.M., relacionadOs com a série Blogoterapia... Pensar em Voz Alta:

23 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2978: Blogoterapia (57): A Guerra estava militarmente perdida...o 10 de Junho. (Torcato Mendonça)

9 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2925: Blogoterapia (55): Pensar camarada...! (Torcato Mendonça)

16 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2851: Blogoterapia (52): Pensar em voz alta... De quantas mentiras é feita a verdade ? (Torcato Mendonça)

17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2768: Blogoterapia (48): Pensar em voz alta... A nossa por vezes difícil mas sempre boa con(v)ivência (Torcato Mendonça)

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2758: Blogoterapia (47): Pensar em voz alta... O tédio que às vezes nos invade (Torcato Mendonça / Carlos Vinhal / Virgínio Briote)

1 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2597: Blogoterapia (45): Pensar em voz alta (Torcato Mendonça)

19 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2558: Blogoterapia (44): Pensar em voz alta (Torcato Mendonça)

Guiné 63/74 - P3079: Recortes de imprensa (8): Ex-combatentes batalham para sair da rua (Torcato Mendonça)

1. Mensagem do nosso camarada Torcato Mendonça:

Assunto - Ex-Combatentes batalham para sair da rua

É o título de um artigo saído hoje no JN Jornal de Notícias, Sociedade, página 28.

Leio e sinto a revolta, uma revolta a ser contida e um agradecimento ao JN, á jornalista (da Lusa) e à Comunidade Vida e Paz. Cito, talvez, abusivamente. Mas são três casos a juntar a tantos que desconhecemos. Talvez não desconheçamos assim tanto, talvez encolhamos mais os ombros, talvez… e nada mais digo e, menos ainda, adjectivo como queria. Leiam o artigo. Menos, vós, meus caros Editores, mais outros que por lá passaram ou outros que, não tendo lá ido, e responsabilidade tendo ou hipótese de influenciar, sintam ser assunto menor.

Leiam e olhem as duas fotos…um banco e um homem sentado pensa e fuma…ou na outra alguém de costas, muleta amparando coto da perna esquerda, olhos no chão ou no vazio, como o outro ao lado em cadeira de plástico, sentado, cigarro esquecido, olhar para onde? E penso… eu penso e vem-me à memória um escrito que fiz e enviei, nos poucos envios que há meses faço.

Em conversa telefónica, meu caro Luis Graça, falando de outro assunto, disse-te: Enviei um escrito, deve ser “pesado”. Agora leio e lembro os nossos camaradas, são os nossos camaradas que País fora a sofrer continuam. Pesado ou leve…a realidade ede ontem e de hoje…Até quando?

Anexo o escrito e a mensagem enviados. Tentem ler o artigo do JN.

Noutra altura podemos tratar do sexo do S. Gabriel e do S. Rafael…assexuados…? Podemos tratar disso!

Ainda bem que há espaço na Net, este e outros blogues e pessoas a preocuparem-se com os nossos camaradas, na Comunidade Social e Comunidades como esta citada no artigo.

Abraços do,

Torcato Mendonça
Apartado 43,
6230-909 Fundão


2. Ex-combatentes viraram sem-abrigo

HELENA NEVES, JORNALISTA DA AGÊNCIA LUSA
in JN - Jornal de Notícias, de 21 de Julhp de 2008 (com a devida vénia...).

Henrique, Eduardo e Francisco sobreviveram à guerra colonial. 30 anos depois travam uma nova batalha: reconstruir a vida perdida nas ruas do álcool e das memórias de combates que os fizeram sem-abrigo.

Na quinta-feira fez um ano que Henrique Castro entrou para o centro de reinserção social da Comunidade Vida e Paz, em Sobral de Monte Agraço, pondo fim a seis anos nas ruas de Faro em que a sua companhia diária foram "pacotes de vinho".

Com uma voz pousada e olhar cabisbaixo, Henrique, 59 anos, recordou com amargura esses tempos que o separaram da família, falou do sonho de reatar a relação com a mulher.

Os dias de Henrique na comunidade são ocupados a fazer pinturas em tecido - "antes pintava automóveis e electrodomésticos" - e a pensar na carta de amor que vai escrever à mulher para a pedir de novo em casamento, depois de já ter reconquistado a amizade dos dois filhos. "Sobrevivi a uma guerra e agora tenha outra pela frente: conquistar a minha mulher e retomar a minha vida perdida há 14 anos", sublinhou com um sorriso rasgado.

O percurso de Henrique assemelha-se ao de Eduardo, 57 anos. Também combateu em Angola e o vício do álcool arruinou-lhe a vida. "Já bebia antes de ir para a guerra", contou este homem magro e com o rosto marcado pelo sofrimento.

Durante anos, a rua foi a sua casa. Um dia teve um acidente, partiu a clavícula e foi parar à cama de um hospital. "Não sei como vim parar à comunidade e já cá estou há quatro anos. Se não fosse isto já estava morto", disse Eduardo, enquanto dava os últimos retoques numa jarra de barro na olaria, onde trabalha diariamente.

Da vez em quando visita os amigos em Alfama, o bairro onde nasceu. A irmã é a família mais chegada que tem, mas já não a vê há 10 anos.

O combate na Guiné-Bissau deixou também marcas profundas em António Pereira, 57 anos. "É o sistema nervoso", comentou, contando que teve de abandonar um tratamento de desintoxicação de álcool no Júlio de Matos porque não conseguia aguentar o barulho dos aviões a passar por cima do hospital.

"Aqui é mais sossegado", frisou. Os dias de António são passados a tratar da roupa da comunidade, mas já tem em vista um emprego em Lisboa. "Já fui a uma entrevista de emprego em Lisboa para motorista através do centro", disse, com um sorriso de orgulho.

O director da Comunidade Vida e Paz, em Sobral Monte Agraço, Alfredo Martins, adiantou à agência Lusa que é "muito importante que as pessoas que vivem na comunidade se sintam activos, produtivos e estimulados".

A maioria destas pessoas foram recolhidas da rua pelas equipas do centro e outras foram indicadas por várias instituições. As pessoas chegam com vários problemas psicológicos, de alcoolismo, droga e têm 30 técnicos para os acolher e tratar, disse Alfredo Martins, acrescentado que cada caso merece uma "atenção diferenciada".

O tempo máximo que um utente deve estar no centro é 13 meses, mas há muitos que ultrapassam esse tempo. "Nós não somos um lar, mas as pessoas precisam de paz", comentou o responsável, admitindo que é difícil "romper os laços" com estas pessoas. "Fazemos uma caminhada de relacionamento e depois é difícil a separação. Temos de garantir que as pessoas não saem daqui para o desamor", concluiu.

Guiné 63/74 - P3078: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (39): Adeus, até ao meu regresso

Guiné > Zona leste > Sector L1 > Regulado do Cuor > Missirá > Março de 1970 > Esquartejamento de uma peça de caça grossa, abatida caçado na zona de acção do Pel Caç Nat 54 (que em Novembro de 1969 tinha vindo render o Pel Caç Nat 52, comandado pelo Alf Mil Beja Santos, e tranferido para Bambadinca). Na foto vê-se o comandante do Pel CaÇ Nat 54, o Alf Mil Alves Correia, referido no texto a seguir e, por detrás dele, o Queba Soncó, picador das NT. Meses mais tarde, o Pel Caç Nat 54 será substituído pelo Pel Caç Nat 63, do Alf Mil Cabral. (LG).

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.

"A Cristina e eu visitámos no bairro da Ajuda Nhima, a mulher de Quebá, gravemente sinistrada numa flagelação ,em Julho de 1969, em Missirá. Quebá pede para eu falar com o novo batalhão( será o Bart 2917)acerca da sua posição de picador.Fiquei-lhe a dever inúmeras atenções, foi um colaborador exemplar, nada afoito mas cumpridor" (BS).

Fotos (e legendas): © Beja Santos (2008). Direitos reservados.


Texto do Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1), enviado em 16 e 17 de Abril de 2008:

Luís, o resto das ilustrações seguirá amanhã. Nunca supus que este combate corpo a corpo que é o final da minha comissão me estivesse a abalar tanto. Foi uma época morna em Bambadinca, era um compasso de espera, era o cansaço de quem partia, a CCaç 12 e nós aguardávamos novo dono. Não foi um tempo feliz ou construtivo. E logo a seguir apanhei os Nhabijões e as obras na estrada Xime-Bambadinca, de manhã à noite. Coisas insípidas, onde o factor humano, felizmente, ganhou realce. Recebe um abraço do Mário.


Operação Macaréu à vista > Episódio XXXIX > ADEUS, ATÉ AO MEU REGRESSO!
por Beja Santos (1)


(i) Com lágrimas nos olhos, deitamos contas à vida

Insidiosamente, os temas militares, até aí praticamente adormecidos na lua-de-mel, começam a vir à tona da água, a entrar na nossa vida comum. Tentações não faltaram, dia após dia. Ainda em casa da Elzira e do Emílio Rosa, os soldados em férias vinham até cá partir mantenha, julgavam-se na obrigação de informar que se desmatava à volta da ponte de Udunduma, que Taibatá fora flagelada, tal como o Xime e o Enxalé, que finalmente se encontrara uma solução para cambar o gerador eléctrico destinado a Missirá.

Nessas idas e vindas o régulo Malã manda caju e um bordado para a senhora de alfero, Quebá Soncó, o meu devotado e sempre temeroso picador, mal soube que tínhamos visitado a sua mulher no bairro da Ajuda, mandou carta que não resisti a ler à Cristina. Dizia, no essencial, o seguinte:

“Cá vou indo bem na graça de Deus. Mando dizer que é para me desculpar que não apareci no casamento, é que tinha a roupa toda suja, o alferes me faz este grande favor de me desculpar, fiquei muito contente com a prenda que a sua mulher deu à minha mulher, sempre faço orações que meu alferes consiga o seu futuro e a sua mulher. Estou aqui só tenho a confiança em ti, e o meu alferes vê nessa companhia nova que vem para Bambadinca se me pode ajudar, estou na sua espera. O alferes em Missirá chama-se Mário Beja Soncó, toda a malta conta consigo como irmão e parente unidos, e assim queremos unir a nossa Fé com a sua mulher como unimos com alferes. Nhima Soncó vive no bairro da Ajuda, pode ir até lá visitar-lhe, chega ao pé da Mesquita e pergunta pela mulher que veio de Missirá”.

A Cristina fez perguntas sobre Quebá Soncó, Nhima, a que nova companhia que ia para Bambadinca ele se referia. Reencetei a minha narrativa com um tom acalorado à volta de Missirá, falei das flagelações e da sua reconstrução, a certa altura chegou o momento de descrever uma flagelação em que a pobre Nhima perdeu um braço que o Quebá enterrara, eu sabia ter escrito sobre estes acontecimentos em aerogramas de Julho passado.

A nova companhia, expliquei, tinha a ver com a partida do BCaç 2852, previa-se que no fim deste mês [de Maio de 1970], Quebá Soncó queria continuar a ser tratado como picador, a ser economicamente apoiado, contava com a minha intercessão. Sinto perfeitamente que esta conversa é um corpo estranho, angustiante, impróprio para uma vida de recém-casados, a despeito de todos os dias, ou quase, ter escrito de Missirá para Lisboa falando da guerra e dos seres humanos à minha guarda.

É então que a Cristina percebe, penso eu, que chegámos ao limite, as nossas existências estão profundamente divididas, ou cerceadas, há um calendário que não pode ser iludido, tenho ainda pelo menos três meses de guerra à minha espera, o internamento psiquiátrico foi o remendo possível, não só o David Payne não pode fazer mais milagres como não devemos estar dispostos a passar da amabilidade para a indignidade. Aliás, a Cristina tem exames à porta, acertamos igualmente nos projectos mais imperativos que são, o aluguer de uma casa com três divisões, de preferência perto de casa dos seus pais, faço planos para mudar de trabalho, gostaria de acabar o curso em dois, dois anos e meio. A Cristina fala em dar aulas, precisamos de dois pequenos salários para começar.

É a acalentar estes sonhos que vamos à TAP tratar da passagem e, nesse mesmo dia, com a guia de alta dada pelo David Payne vou ao QG tratar da minha viagem para Bambadinca. Toda a ternura a que nos oferecemos não esconde os amargores da separação, afinal ainda há uma guerra para concluir. A esconder o sofrimento a custo, a Cristina parte de Bissalanca quase um mês depois de ter chegado, era o princípio da tarde de uma dia sem nuvens, a pista suava com o calor tórrido, olhámos um para o outro sem mais palavras, siderados pelo livro aberto que nos espera. Prometo escrever a toda a hora, poupar-me, pensar mais em Lisboa, fazer entrar a Guiné num limbo. Eu sei que é tudo mentira, a Cristina também. No mesmo voo vai o príncipe Xisto Bourbon-Parma, que já visitara Bambadinca, acabámos por almoçar juntos no Grande Hotel, não sei qual o seu grau de importância, é muito gentil e apurámos que ele tem consciência do que é que se está a passar na Guiné.

(ii) A penúltima visita ao Centro de Estudos da Guiné Portuguesa

Na véspera de partir, a Cristina e eu fomos em romagem até ao museu. A Cristina já folheou o meu caderno com apontamentos, acredita a sério que um dia irei escrever sobre este mundo que mudou a minha existência. Enquanto ela folheia revistas científicas recentemente chegadas, tiro notas de uma conferência de Marques Mano efectuada na Sociedade de Geografia de Lisboa, em Maio de 1946, na sessão solene comemorativa do V Centenário do Descobrimento da Guiné. Marques Mano encanta-me pela embriaguez das suas sonoridades, pela riqueza do léxico, pela apoteose da descrição dos fenómenos tropicais quase romanceados. Veja-se o macaréu:

“Para ir tão longe, a maré não encontra à sua frente leitos abertos e vazios; encontra, nos dois rios doces que convergem na testa do estuário central, leitos onde, de margem a margem, corre uma toalha de água doce que desce com rapidez. Deste modo é obrigada a subir em macaréu. A maré cheia, empurrada do largo estuário para o rio estreito, encontra-se com aquela corrente contrária que lhe trava os filetes de água inferiores e os que, correndo livremente sobre esses, vão cair sobre ela. Deste modo a maré é continuamente represada ao longo do percurso do rio, a água que chega galga a represa, para ser também travada, e a altura da enchente sobre a vazante aumenta deste modo incessantemente, até que a enchente se enrola numa vaga grossa e poderosa que corre sobre e contra a vazante... O trovejar da enorme vaga ouve-se a alguns quilómetros de distância ainda lá no fundo da floresta. Calam-se os homens e os animais bravios para escutar o monstro que sobe o rio correndo. Quando chega, as cordas de água precipitam-se em vertiginosa desordem contra a vazante, contra as margens, contra as árvores ribeirinhas, espadanando, enrolando-se em remoinhos, arrastando à sua frente quanto se lhe oponha. Passa, e o corpo líquido, sinuoso e rápido do monstro, enche o leito do rio e continua correndo e rugindo”.

E não resisti também a registar o que Marques Mano diz sobre os tornados:

“Desde os meados de Abril que o imenso forno azul que é o céu do território vem aquecendo até sufocar. Altos e esguios funis de pó, cujo vértice, se as toca, remove as telhas, correndo em redemoinho, levam aqui e além o primeiro anúncio das chuvas, depois confirmado por algumas reacções ciclónicas ainda secas. Por estes dias, o ar imobiliza-se, o estuário é um espelho sem fim, o calor no ar imóvel causa uma angústia que não se poderia prolongar. Sobre o mar, mas mais longe do que o horizonte, firma-se uma longa banda preta, por debaixo da qual faíscam relâmpagos, e é formada pela tempestade que espera ao largo da costa. A volta da maré desencadeia o ciclone. A banda preta sobe vigorosamente no céu, arrastando consigo um amplo manto negro em que fulge e rola uma trovoada contínua... Então, o ar vivo, fresco, fortemente ozonizado que chega a atingir a velocidade do tufão, cai sobre a terra como a pancada de um martelo. A violência da rajada estende nas estradas lençóis de pó que correm velozmente e não deixa erguer, despoja as copas de folhas, esgalha ramos, derruba fragorosamente as árvores, lança as folhas de zinco a voar como folhas de papel, e até, a algum pequeno barracão de construção menos previdente, levanta e transporta o telhado inteiro. A longa pancada do vento é seguida por uma poderosa muralha de chuva que avança mais vagarosamente contra a terra. É tão espessa que absorve na sua espessura as coisas que vai alcançado; absorve ilhas, embarcações, casas... A massa de água passa demoradamente, inunda a vila, continua a marcha para o interior. Uma hora depois, talvez menos, o calor ardente, o céu limpo, o ar imóvel, preparam o tornado da maré seguinte”.

Rendo-me à musicalidade, mas não deixo de me interrogar se tais descrições não têm por detrás um escritor que falhou na ficção e toma aqui a desforra. Gostei muito do que li e da sinceridade deslumbrada de quem descreveu o macaréu e os tornados. Fecho o meu caderno a meditar sobre o que pensarão as próximas gerações desta prosa grandiloquente.

1ª Edição em português, capa de Bernardo Marques, Edição »Livros do Brasil», sem data, desapareceu a 1ª página, não se pode mencionar o tradutor.

É um livro indispensável para falar das utopias do século XX,das preocupações com o geneticismo, o condicionamento das massas,os tranquilizantes,por exemplo. Nunca ninguém o considerou uma grande obra literária, as personagens são, por regra, estereotipadas.

É uma paródia subtil e cultíssima do optimismo no progresso científico.Aliás, parte da ideia que a revolução científica pode moldar as sociedades. Huxley relecte admiravelmente no prefácio de 1946 sobre as servidões instaladas, sob o disfarce do progresso científico.


(iii) O BCaç 2852 de abalada, há muitas mexidas no Pel Caç Nat 52


Encontro as tropas em Bambadinca numa grande expectativa. O BCaç 2852 aguarda a chegada de novo batalhão [, o BART 2917], a actividade operacional está muito reduzida, são as colunas ao Xitole, as emboscadas nas imediações, escoltas, patrulhas nocturnas, idas às tabancas na periferia, as obras intensas nos Nhabijões, o suplício na ponte de Udunduma. O PAIGC também parece estar mais calmo: flagelações rápidas, algumas minas, ataques mitigados em tabancas em autodefesa, pouco mais. Na CCS fazem-se inventários, na messe suspira-se pelo regresso e pela passagem à disponibilidade, a bem dizer já poucos têm ânimo sereno para continuar a viver a missão que aqui começou em Setembro de 1968.

Nº162 da Colecção Vampiro, tradução de Lima da Costa, capa de Lima de Freitas. Não é a primeira vez que o potencial assassino se revela imediatamente ao leitor, mas a configuração é original.O único filho de um escritor de livros policiais é mortalmente atropelado à porta de casa.Começa uma investigação metódica em estado de vingança por parte do pai que tudo perdeu, à margem da polícia.Rapidamente se descobre quem e como atropelou a vítima inocente. Começa a congeminação de um plano para executar um motorista imprevidente. É como se o leitor estivesse no cinema, os olhos vêem e lêem o sofrimento de alguém, na maior expectativa. Depois, executor e vítima confrontam-se verbalmente, é a ruptura e, imprevistamente, a vítima aparece morta por envenenamento. Um detective é convocado e descobre que todo o diário que lemos inicialmente do potencial executor está ardilosamente forjado. É uma pedra preciosa do romance policial, assinado por um dos maiores nomes da literatura britânica.

Vou ter mais esta separação, mas, falando dos meus soldados, partiram ou estão para partir o Teixeira das transmissões, o Domingos Silva, há evacuados, há trocas, leio atónito que Jolá Indjai já regressou da metrópole, curado da sua tuberculose, ainda está em Bissau. Envolvo-me nas patrulhas, acompanho a picagem da estrada até Amedalai, de Demba Taco seguimos até Taibatá, percorremos a corta-mato até Moricanhe, de onde gente do Buruntoni tem flagelado as tabancas em autodefesa do regulado do Xime. Converso com o Pires sobre a Gato Irritado, operação sem contactos e sem vestígios, mas os de Missirá detectaram um grupo de Madina perto de Mato de Cão, era uma coluna de reabastecimento, abandonaram as esteiras e os panos para fugir mais lestos. Parece que está tudo na mesma, com a agravante de estar diluído o nosso pendor ofensivo, é o compasso de espera que me vai levar a propor aulas aos soldados, o Benjamim Costa aceitou colaborar, vejo o espanto em muitos rostos quando proponho ginástica, lembro a todos que nos tempos de Mato de Cão fazíamos vinte e cinco quilómetros diários, pelo menos, havia as obras, os patrulhamentos, as actividades de manutenção. Eles concordam, amanhã de manhã iremos surpreender quem vem de Sare Ade, Ieró Nhapa e Queroane quando passarmos em marcha acelerada e em tronco nu, lustrosos graças ao primeiro calor do dia.

N.º 178 da Colecção Vampiro. Tradução de Mascarenhas Barreto e capa de Lima de Freitas. Só um inglês podia ter escrito este livro, é pícaro como um filme de Alfred Hitchcock. Como um baile de máscaras, o dono da casa quer divertir os seus amigos e monta uma tripula forca onde balouçam três figuras. Roger Sheringham, um detective muito querido a Anthony Berkeley, comparece e é confrontado por alguma bizarria da cunhada do anfitrião. Esta estranha senhora desafia um médico, e coloca-se em posição de ser enforcada, tudo aos olhos do leitor, mais evidência não pode existir. Começa o inquérito, é um suceder de suspeitos e só no final é que aparece uma confissão informal sobre o verdadeiro desenrolar dos acontecimentos, que o leitor recebe com uma gargalhada. Simplesmente notável.

(iv) Leituras admiráveis e leituras divertidas

Chegou o momento de ler Admirável Novo Mundo, de Aldous Huxley. Já ouvira falar desta utopia e das advertências formuladas por Huxley no início dos 30. Existe um Estado Mundial pautado pelos princípios de Comunidade, Identidade e Estabilidade. O livro começa quando o Director da Incubação e do Condicionamento visita a Sala da Fecundação. Ele fala para um auditório de estudantes junto das incubadoras, fala das vantagens da conservação do ovário, dos Alfas e dos Betas. É um mundo novo onde se formam seres melhorados aptos para a estabilidade social. Segue-se uma visita ao infantário mas antes passam pela Sala de Decantação. As crianças estão fortemente condicionadas, nunca mais vão precisar da literatura ou da botânica. Foi decidido abolir o amor à natureza, fala-se de Ford, de Marx e até de Lenine, por entreposta pessoa, até mesmo do Dr. Wells (uma clara alusão a H. G. Wells, o autor de O Homem Invisível e A Guerra dos Mundos).

O livro é uma paródia sobre o progresso, tal como ele era possível nesses anos 30, com a ficção científica que era disponível à luz dos conhecimentos da época: selecção da espécie, precauções anticoncepcionais, medicamentos anestesiantes e euforizantes, há seres superiores e há selvagens, a ciência está a procurar soluções para o sofrimento, para a dor dos moribundos, o progresso é uma coisa deliciosa. Não é uma grande obra literária, mas percebe-se agora por que é que esta ideia do optimismo progressista fez escola num momento em que a revolução científica trouxe melhoramentos consideráveis e o nazismo inventou a manipulação das massas ao mais alto grau e a selecção racial levou ao Holocausto. É uma paródia sobre uma sociedade feliz que aceita o condicionamento colectivo. Esses anos 30 são os tempos das massas humanas subjugadas por ideais comunitários, pela genética, pelo espectáculo, pela busca de sentido. Daí perceber-se como esta sociedade do admirável novo mundo está estratificada e os selvagens são colocados em campos fortificados. A morte deixou de ser traumática e é vantajoso que as massas falem com um reduzido número de palavras. A servidão totalitária era a preocupação de Huxley, ele quer denunciar a tirania-providência da utopia. Felizmente que esta tirania foi derrotada nos campos de batalha.

A Festa da Enforcada, de Anthony Berkeley, é um policial magnífico, ajuda-me a sair das previsões terríficas de Huxley. Podia ter dado um filme de Alfred Hitchcock. Há um baile e os anfitriões resolvem pôr na sala uma forca onde estão pendurados bonecos. É o mórbido dos enforcados por cima de gente mascarada, de gente que se embebeda e que guerreia verbalmente e onde uma cunhada dos anfitriões está a provocar uma mal estar terrível. Ela vai aparecer enforcada e a investigação aponta em direcções contraditórias, suspeitos são todos os que estiveram no baile. Em directo, às escâncaras, Berkeley descreve ao leitor o que se passou, como ocorreu o homicídio. Mas o que se passou efectivamente fica para descobrir no fim depois de uma investigação descrita de forma sufocante e literariamente empolgante. O desconcertante fica mesmo para o fim, é uma investigação que parece passar pelas câmaras do cinema ou da televisão, parece estar tudo a descoberto, a literatura também se faz de ilusões ou omissões, Berkeley é um mestre em criar uma atmosfera social deixando para o fim a mais imprevisível das confissões, entre o horror a anedota.

Para a semana volto para a guerra a sério, entregam-me a concepção e a execução de um patrulhamento ofensivo, regresso à região do Xime. Haverá tiros, uma emboscada com resultados e um desfecho inacreditável, pois a coluna que iremos surpreender é de reabastecimento e vem do Xime.

Eu sei que vou demorar quarenta anos a convencer-me que afinal eram muito mais íntimas as relações entre as populações no mato e as sob o nosso controlo que eu supusera, tudo um somatório de equívocos, semiverdades, produto da força do sangue estar muito acima das contigências dos partidos tomados por Portugal ou pela independência ou pela libertação da Guiné. Será em Madina Colhido, naquele final de Maio, que irei pela primeira vez hesitar sobre os campos demarcados, amigos e inimigos. Afinal, não estavam nem podiam estar demarcados. Só que eu não sabia. Eu e as tropas que chegavam e partiam dois anos depois.

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Nota de L.G.:

(1) Vd. último poste da série > 11 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3048: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (38): No HM241, em Bissau, voando sobre um ninho de jagudis

Guiné 63/74 - P3077: A Guerra estava militarmente perdida (27)? Reacções a nível internacional. Os efectivos das NT. (A. Marques Lopes).


Não entro nessa polémica... (III)

A. Marques Lopes (1)


Reflexos e reacções a nível internacional (alguns dados)

1962

Dezembro – Amílcar Cabral apresentou-se como peticionário perante a Comissão de Curadorias da ONU, onde, além de pedir a independência da Guiné, declarou que os seus partidários deveriam ser considerados soldados da ONU pois desempenhariam funções semelhantes às dos "capacetes azuis" que se encontravam no Congo. No final do ano, o PAIGC tinha assegurado o apoio de praticamente toda a África. Mas foi da URSS que veio o maior auxílio em material, formação e apoio diplomático. Independências em África: Argélia, Burundi e Ruanda.

1963

4 de Fevereiro – Início da 3ª Conferência de Solidariedade Afro-Asiática no Tanganica, presidida por Julius Nyerere, em que foi pedido o boicote económico e diplomático a Portugal.
10 de Março – Declaração de Amílcar Cabral em Paris sobre a disponibilidade de o PAIGC suspender a luta, se Portugal quisesse solucionar pacificamente o problema colonial.
13 de Março – Contestação do Governo português à competência da Comissão de Descolonização da ONU para decidir sobre os territórios ultramarinos de Portugal.
9 de Abril – Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto comunicado ao Conselho de Segurança da ONU.
11 de Abril – Publicação da "Encíclica Pacem in Terris" do Papa João XXIII com referência explícita à independência de todos os povos.
25 de Maio – Fundação da Organização de Unidade Africana (OUA) pelos chefes de 30 Estados independentes de África reunidos em Adis Abeba.
Junho – Corte de relações diplomáticas da República Árabe Unida com Portugal devido à política colonial portuguesa.
7 de Junho – Declaração do secretário de Estado para os Assuntos Africanos dos Estados Unidos, segundo a qual os interesses estratégicos dos EUA exigem a continuação da cooperação com Portugal.
Julho – Corte de relações diplomáticas do Senegal com Portugal, com proibição de circulação de pessoas e mercadorias na fronteira com a Guiné.
1 de Julho – Início da Conferência Internacional de Instrução Pública, em Genebra, em que é aprovada uma moção que pede a exclusão de Portugal por causa da sua política colonial.
10 de Julho – Início dos trabalhos de uma comissão de boa vontade nomeada pelo Comité de Libertação Africano no sentido de tentar unir os esforços dos movimentos de libertação angolanos.
27 de Julho – Exclusão de Portugal da Comissão Económica para África (CEA), organismo da ONU.
31 de Julho – Oposição dos Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, no Conselho de Segurança da ONU, à aplicação de sanções contra Portugal. Resolução do Conselho de Segurança da ONU que rejeita o conceito português de "Províncias Ultramarinas", decidindo que a situação perturbava seriamente a paz e a segurança em África, apelando a Portugal para reconhecer o direito à autodeterminação e independência.
12 de Agosto – Discurso de Salazar sobre o problema do ultramar, que teve grandes repercussões internacionais e levou os nacionalistas a reafirmarem a continuação da luta.
23 de Agosto – Interdição do espaço aéreo do Senegal a aviões procedentes ou destinados a Portugal e à África do Sul.
29 de Agosto – Início das conversações de George Ball, representante americano, com Franco Nogueira e Salazar, em Lisboa, em que se evidenciam as divergências relativamente aos conceitos de autodeterminação e do factor tempo no problema africano.
30 de Agosto – Encontro de George Ball, subsecretário de Estado americano, com Salazar, sendo debatida a atitude americana face à política colonial e a presença dos EUA nos Açores.
Setembro – Condenação pelo VIII Congresso Internacional Socialista, dos países que persistem em oprimir os povos coloniais, como Portugal.
16 de Setembro – Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto comunicado ao Conselho de Segurança da ONU.
Outubro – Realização da XVIII Assembleia-Geral da ONU, em que os países afro-asiáticos atacam a política colonial portuguesa.
16 de Outubro – Início de conversações entre Portugal e alguns países africanos, sob a égide da ONU, que incidiram, sem acordo, no sentido e no alcance do conceito de autodeterminação.
8 de Novembro – Debate na Comissão de Curadorias da ONU, sendo pedido ao Conselho de Segurança que se ocupe com urgência da situação nos territórios portugueses.
Dezembro – Intervenção de Henrique Galvão na ONU sobre a "questão ultramarina portuguesa".
3 de Dezembro – Resolução da Assembleia-geral da ONU, a solicitar ao Conselho de Segurança a adopção das medidas necessárias à execução das suas resoluções relativas aos territórios sob administração portuguesa.
6 de Dezembro – Declaração pública dos Estados africanos participantes nas conversações com Portugal, em que se lamenta o facto de não ter modificado minimamente os princípios fundamentais da sua política, tornando impossível qualquer conversação séria.
11 de Dezembro – Resolução do Conselho de Segurança da ONU, a confirmar o conceito de autodeterminação da Declaração Anti-colonialista e a deplorar a inobservância da resolução de 31 de Julho de 1963.

1964

Fevereiro – Reportagem da revista "África Report" sobre a história e evolução do PAIGC, focando a sua organização, objectivos, relações e formas de actuar.
Maio – Declaração de Mennen Williams, secretário-assistente dos Estados Unidos para os Assuntos Africanos em Dacar, sobre o apoio do seu país à politica de autodeterminação da Guiné Portuguesa.
25 de Maio – Sessão comemorativa do Dia da Libertação Africana em Adis Abeba, primeiro aniversário da OUA, tendo os chefes de Estado de vários países africanos afirmado a continuação da ajuda aos movimentos de libertação.
Junho – Condenação da administração colonial portuguesa durante o 48º Encontro da OIT em Genebra. Comentário da BBC sobre a politica portuguesa: "Os portugueses não podem pregar aos quatro ventos que estão a difundir os ideais do cristianismo e a cultura ocidental, se continuam a recusar aos africanos a independência, direito humano fundamental".
3 de Junho – U'Thant, secretário-geral da ONU, não aceita o convite de Portugal para visitar Angola e Moçambique, "uma vez que, nas presentes circunstâncias, tal visita não servirá objectivo útil".
Julho – Conferência de alto nível de 34 chefes de Estado africanos no Cairo, em cuja ordem do dia se salienta a apreciação do relatório do Comité de Libertação de África e o exame da situação nas colónias portuguesas. Os movimentos de libertação adaptam a sua propaganda à realidade e visam atingir os militares portugueses, convencendo-os de que a guerra em África lhes é imposta, devendo os seus esforços voltarem-se contra o Governo português. Declarações do assistente do secretário de Estado americano para os assuntos Africanos sobre o desejo de ver Portugal reconhecer publicamente o princípio da autodeterminação, devendo-se encorajar ambas as partes às cedências.
6 de Julho – Aprovação de uma lei pela Câmara dos Lordes britânica concedendo a independência à Niassalândia, que passa a chamar-se Malawi e cujo primeiro presidente é Hastings Banda.
17 de Julho – Garantias de apoio do cônsul de Portugal na Rodésia a Ian Smith no caso de declaração unilateral de independência da minoria branca.
1 de Agosto – O Congo-Leopoldville toma a designação de República Democrática do Congo (RDC).
25 de Setembro – A França anuncia a entrega a Portugal de oito navios de guerra, como contrapartida pela cedência da base das Flores.
5 de Outubro – Inicio da II Conferência Plenária dos Países Não Alinhados no Cairo, com a presença de Holden Roberto, em cujo comunicado se apela ao apoio material, financeiro e militar aos combatentes da liberdade dos territórios sob domínio português.
2 de Dezembro – Visita do Papa Paulo VI à Índia, que o governo português considera "uma afronta gratuita, inútil e injusta contra Portugal". O Conselho de Segurança da ONU decide ouvir em audiências os movimentos de libertação de Angola, Guiné e Moçambique.
9 de Dezembro – Independência da Zâmbia (ex-Rodésia do Norte). Independência da Tanzânia (ex-Tanganica).
21 de Dezembro – A Assembleia-Geral da ONU reconhece a legitimidade da luta que os povos sob dominação portuguesa travam para alcançar a sua liberdade e independência.
31 de Dezembro – Declaração de Franco Nogueira sobre o abandono da ONU por parte de Portugal.

1965

Janeiro – Portugal põe em causa a legalidade da constituição do Conselho de Segurança da ONU, pelo que declara não se considerar obrigado por qualquer decisão sua Sétima Sessão do Comité Executivo do Secretariado Permanente de Solidariedade Afro-Asiática, sendo um dos principais objectivos discutir as medidas a tomar para solucionar os problemas de Angola, Moçambique e Guiné. Declaração da Comissão Central do Conselho Mundial das Igrejas sobre a necessidade de ser apressada a concessão da autodeterminação aos territórios coloniais ainda existentes em África.
1 de Janeiro – Corte de relações da Indonésia com Portugal.
2 de Janeiro – Abertura da base aérea alemã em Beja.
Fevereiro – Posição do ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha Ocidental de que só venderia 60 aviões militares de origem canadiana a Portugal na condição de eles serem exclusivamente utilizados na área NATO.
Março – Aumento das pressões dos líderes negros americanos no sentido de um endurecimento da política americana em relação às posições portuguesas em África. Visita do rei Hassan ao Cairo, sendo condenada, no comunicado final, a guerra de extermínio em Angola, Moçambique e Guiné, e a recusa de Portugal em conceder aos povos dos territórios africanos a autodeterminação. Proibição de todas as trocas comerciais com Portugal por parte do Governo tanzaniano. Seminário Económico Afro-Asiático em Argel, com a presença de delegados de 40 países, constando da plataforma de acção aprovada, o fornecimento aos movimentos nacionalistas de ajuda em armas, equipamentos, finanças e formação militar de quadros. Reunião da Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP) em Rabat, com a presença de representantes da FRELIMO, MPLA, PAIGC e Comité de São Tomé e Príncipe.
Abril – Entrevista de Amílcar Cabral ao Le Monde, confirmando que pretende preservar as oportunidades de uma futura colaboração com o Estado Português não colonialista, não escondendo as dificuldades da luta na Guiné. Afirmação do apoio da política argelina aos movimentos nacionalistas de Angola, Moçambique e Guiné e aos patriotas que lutam contra o fascismo de Salazar.
21 de Maio – Condenação unânime de Portugal, pelo Conselho de Segurança da ONU, devido a incursões armadas no Senegal.
Junho – Aprovação pela 49ª Conferência Anual da OIT, de uma resolução final que condena a política de trabalho forçado praticado pelo Governo português nos territórios sob sua administração. Declaração da delegada dos Estados Unidos na Comissão de Descolonização da ONU, reunida em Dar-es-Salam, sobre a autodeterminação dos territórios portugueses em África. Reunião da Comissão de Descolonização da ONU em Dar-es-Salam que, na resolução final, pede a todos os Estados para darem apoio moral e material a Angola, Moçambique e Guiné, e aos países da NATO para se absterem de fornecer armas e munições a Portugal
10 de Junho – Resolução da Comissão de Descolonização da ONU, em que pele primeira vez se deixa de falar em "territórios sob administração portuguesa" para se referirem "territórios sob dominação portuguesa".
10 de Julho – Início da reunião do Congresso Mundial da Paz, em Helsínquia, que aprova uma proposta para a realização de solidariedade com os combatentes da liberdade das colónias portuguesas.
20 de Julho – Início da publicação de um jornal em português em Acra (Gana), ao serviço da luta de libertação das colónias portuguesas.
Agosto – Visita de uma missão militar da OUA às regiões controladas pelo PAIGC.
Outubro – Reconhecimento pela OUA, do PAIGC como legítimo representante do povo da Guiné-Bissau.
3 de Outubro – Início da reunião CONCP em Dar-es-Salam, com a afirmação da necessidade de coordenação político-militar entre os movimentos nacionalistas, estiveram presentes Mondlane, Uria Simango e Marcelino dos Santos (FRELIMO), Amílcar Cabral, Vasco Cabral e José Eduardo Araújo (PAIGC), Agostinho Neto e Mário de Andrade (MPLA) e Tuleiro de Medeiros e António S. Nogueira (CLSTP).
4 de Outubro – Discurso do Papa Paulo VI na Assembleia-Geral das Nações Unidas com elogio da ONU e da sua dimensão universal.
21 de Outubro – Início da reunião de alto nível da OUA, em Acra, que pediu aos movimentos de libertação dos territórios sob administração portuguesa a intensificação da luta.
3 de Novembro – Moção do Conselho de Segurança da ONU, pedindo a todos os Estados para não prestarem assistência a Portugal "que lhe permita continuar a repressão" contra a população dos territórios africanos, em especial armas e equipamento militar.
11 de Novembro – Proclamação da independência da Rodésia por Ian Smith, com apoio da minoria branca.
23 de Novembro – Resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre o imediato reconhecimento do direito dos povos dos territórios sob administração portuguesa à autodeterminação e independência, referindo que a politica portuguesa "perturba seriamente" a paz e a segurança internacionais.
12 de Dezembro – Aprovação de uma resolução da Assembleia-Geral da ONU em que, pela primeira vez é reconhecida a "legitimidade da luta" que os povos sob dominação colonial travam para exercer o seu direito à autodeterminação.

1966

Janeiro – Inicio do bloqueio do porto da Beira pela Armada britânica, para impedir o fornecimento de petróleo à Rodésia.
3 de Janeiro – Início de uma reunião da Conferência de Solidariedade Tricontinental em Havana, com cerca de 500 delegados que adoptam uma linha dura contra o colonialismo, sendo criada a Organização de Solidariedade dos Povos da Ásia, África e América Latina.
21 de Janeiro – Reunião dos ministros africanos do Trabalho no Gana que pedem a expulsão de Portugal da OIT.
25 de Janeiro – Resolução da Assembleia-Geral das Nações Unidas que recomenda a aplicação de um embargo ou bloqueio a Portugal, proibindo o trânsito de aviões e navios e o comércio com Portugal.
Março – Visita a Moscovo de uma representação da CONCP chefiada por Victor S. Maria, acompanhado de Luís de Andrade, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos.
21 de Março – Celebração de um protocolo entre o Senegal e o PAIGC que estabelecia as modalidades de cooperação entre as respectivas autoridades.
31 de Março – Início de uma reunião de chefes de Estado e de Governo da África Central e Ocidental em Nairobi, em cujo comunicado final se inclui uma referência aos esforços a favor da libertação dos territórios portugueses.
5 de Maio – Início de um congresso da Internacional Socialista, em Estocolmo, com a presença da FRELIMO como "convidado fraternal" e em que se reafirma a condenação do colonialismo e se manifesta particular preocupação pela situação em Angola, Moçambique e Guiné.
18 de Maio – Apresentação de uma proposta da URSS na Comissão de Descolonização da ONU para conhecimento das medidas tomadas sobre a suspensão da assistência técnica a Portugal por causa da sua politica colonial, com a presença de Mário de Andrade e Amílcar Cabral. XIX Assembleia da OMS, em Genebra em que é aprovada uma resolução que afasta Portugal da sua Comissão regional para a África e suspende a assistência técnica ao Governo de Lisboa.
29 de Maio – Sanções do Conselho de Segurança contra a Rodésia.
18 de Junho – A Comissão de Descolonização da ONU ouve, em Argel, depoimentos de desertores portugueses acerca das guerras coloniais.
27 de Junho – Reunião da CONCP em Brazzaville, com a presença de Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos, decidindo-se uma mais estreita colaboração com a FPLN da Argélia e maior coordenação entre os movimentos de libertação das colónias portuguesas.
Setembro – Conferência geral da UNESCO em Paris, com a presença de 109 delegados, que decidem a exclusão de Portugal dos trabalhos da organização. Eleição de Amílcar Cabral como presidente da CONCP. Atribuição do 2º prémio do Festival de Veneza para filmes documentários à produção "Levanta-te Negro" de Piero Nelly, sobre as actividades do PAIGC na Guiné Portuguesa.
15 de Outubro – Abstenção de Portugal na ONU na criação do Dia Internacional para a Eliminação da Descriminação Racial.
13 de Novembro – Condenação pelo Conselho de Segurança da ONU da aliança entre os governos da África do Sul, Portugal e Rodésia, conhecida por aliança celerada.
17 de Novembro – Aprovação de uma resolução da Assembleia-Geral da ONU condenando a guerra colonial conduzida por Portugal, que constituía "um crime contra a humanidade e uma ameaça grave à paz e à segurança internacionais".
Dezembro – Resolução da Assembleia-geral das Nações Unidas que classifica a política Portuguesa como um crime contra a humanidade

1967

Janeiro – Entrevista de Mário de Andrade ao jornal "Afrique Nouvelle" em Dacar, com referências à actividade da CONCP e à situação das várias frentes e das relações dos movimentos com os países africanos.
26 de Janeiro – Apresentação da peça teatral de Peter Weiss em Estocolmo, "Canção da Máscara Simbólica", ataque frontal e com grandes repercussões, à politica colonial portuguesa.
23 de Fevereiro – Inauguração do Comando Ibero -Atlântico (Iberlant) da NATO em Oeiras
Março – Crescimento da posição crítica dos países escandinavos à política colonial portuguesa, reflectida nos órgãos de comunicação social. Condenação dos países que cooperam com a África do Sul, Rodésia e Portugal, pela Comissão dos Direitos do Homem da ONU.
31 de Março – Editorial do "Jornal do Brasil", reflectindo a posição oficiosa do governo brasileiro, e pedindo a Portugal que acene para as colónias africanas com uma esperança de independência, para abrir as portas a uma futura comunidade com raízes lusitanas.
Abril – O Hospital Militar de Hamburgo recebe 88 mutilados de guerra portugueses. Artigo do jornal "Horoya", publicado na Guiné-Conacri sobre "Uma consciência politica sólida na base de uma economia florescente na zona libertada" onde se referiam as actividades económicas nas zonas do PAIGC.
23 de Abril – Realização de uma conferência de solidariedade com os povos das colónias portuguesas por delegações de jovens de 64 países, em Conacry.
Maio – A Comissão de Descolonização da ONU, depois de visitar vários países da África e do Médio Oriente, decidiu reunir-se em Lusaka para tratar especificamente dos problemas dos territórios sob administração portuguesa.
Julho – Na 51ª Conferência do Trabalho da OIT, a Comissão de Verificação de Poderes decidiu incluir Portugal na lista especial dos países que não respeitam as convenções da organização. Protesto da FPLN pela presença da delegação oficial portuguesa na 51ª Conferência Internacional do Trabalho da OIT.
Agosto – Publicação em Argel de um volume contendo o conjunto das deliberações tomadas pela CONCP na sua reunião de Dar-es-Salam, em Outubro de 1965.
Setembro – Declaração do ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha na ONU, afirmando que o Governo de Londres apoia persistentemente o principio da autodeterminação em relação aos territórios portugueses. Início dos contactos da PIDE com sectores da oposição ao regime da Guiné-Conacry.
Outubro – Concessão de 100 bolsas de estudo aos movimentos de libertação de Angola pelo alto Comissariado da ONU para os Refugiados.
Dezembro – Aprovação de uma resolução da Assembleia-geral da ONU, condenando a exploração de territórios coloniais por interesses financeiros e económicos que impedem os processos de descolonização.

1968

Janeiro - 12ª Sessão da Comissão de Coordenação para a Libertação de África da OUA em Conacry.
13 de Agosto - Informação da ONU sobre refugiados, havendo 300.000 de Angola no Congo-Kinshasa, 61.000 da Guiné no Senegal e 122.000 de Moçambique na Zâmbia e Tanzânia
Novembro - Condenação pela ONU, da politica colonial portuguesa
27 de Novembro - Discurso de Marcello Caetano na Assembleia da República, onde declara que "a liberdade e independência dos países da Europa ocidental joga-se não só na própria Europa, como em África".
29 de Novembro - Aprovação de uma resolução da Assembleia Geral da ONU de tom moderado contra a politica colonial portuguesa.
Dezembro - Anúncio pelo Governo sueco, da concessão de ajuda aos movimentos nacionalistas das colónias portuguesas.
8 de Dezembro - Início em Paris de conversações com vista ao cessar-fogo no Vietname.

1969

18 de Janeiro - Início da Conferência de Cartum, que leva à constituição do Comité de Mobilização e Apoio aos Povos das Colónias Portuguesas.
Fevereiro - Plano de Paz de Léopold Senghor para a Guiné, propondo a independência no quadro de uma comunidade luso-africana.
Junho - Recomendação da Assembleia Geral da União da Europa Ocidental no sentido de ser prosseguida uma política comum tendente ao encaminhamento de Portugal para um governo democrático. Resolução da Comissão de Descolonização da ONU, depois de uma visita a vários países africanos, de denúncia da guerra colonial em que Portugal está empenhado, classificada como um "grave crime contra a humanidade e uma ameaça à paz e à segurança".
Julho - Realização do I Festival Cultural Pan-Africano em Argel, em cujo manifesto se salienta que os Estados africanos têm todos a obrigação de responder a uma colonização total com uma luta total pela libertação.
5 de Julho - Apelo dos lideres dos movimentos de libertação de Angola (MPLA), Guiné (PAIGC e Moçambique (Frelimo) à Conferência Episcopal Africana, reunida em Campala, para a visita de Paulo VI.
28 de Julho - Aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU, de uma queixa da Zâmbia, por ataques aéreos portugueses a povoações fronteiriças, em que os aliados portugueses se abstiveram, mas manifestaram discordância com a política colonial portuguesa.
18 de Agosto - Apresentação feita por Amílcar Cabral em Argel, de cinco desertores portugueses.
16 de Setembro - Apresentação do relatório do secretário-geral da ONU, em que U'Thant lamenta a decepção sofrida por muitos que alimentaram a esperança de que o Governo português alterasse a política colonial e reconhecesse o direito à autodeterminação e independência dos seus territórios ultramarinos.
Outubro - Estabelecimento de contactos de Senghor com o Governo português para exploração da possibilidade de conversações com os movimentos de libertação para a solução pacifica do problema colonial.
1 de Outubro - Anúncio por Olof Palme, novo primeiro-ministro da Suécia, da criação de um programa de auxilio económico à Frelimo e ao PAIGC, com desaprovação firme da politica portuguesa.
8 de Novembro - O ministro da Defesa Nacional informa a Cruz Vermelha sobre a existência de 23 militares "retidos" na República da Guiné-Conacry, cinco na República Democrática do Congo, quatro na Tanzânia e um na Zâmbia.
20 de Novembro - Acolhimento do Manifesto de Lusaka pela Assembleia Geral da ONU.
21 de Novembro - Aprovação pela Assembleia-Geral da ONU, de uma resolução de condenação da política colonial de Portugal, de um tom moderado, mencionando expressamente o Manifesto de Lusaka.
9 de Dezembro - Condenação de Portugal no Conselho de Segurança da ONU por violação do território do Senegal.
22 de Dezembro - Condenação de Portugal no Conselho de Segurança da ONU por violações do território da Guiné-Conacry.

1970

22 de Janeiro - Reunião preparatória da Conferência Internacional de Apoio aos Povos das Colónias Portuguesas realizada em Roma pela OSPAA (Organização de Solidariedade dos Povos Afro-Asiáticos), que decide realizar a Conferência em Roma, em 27 a 29 de Junho.
28 de Janeiro - Os Estados Unidos decidem fornecer a Portugal equipamento militar "não letal".
Fevereiro - Conversações secretas em Dacar entre delegações de Portugal e do Senegal, com vista a um cessar-fogo na Guiné.
Abril - Protesto de Portugal na ONU por a Assembleia Mundial da Juventude, realizada sob a égide da ONU, ter convidado directamente representantes de Angola, Moçambique e Guiné sem o conhecimento do Governo português.
Maio - Novo pedido de U'Thant aos países para acatarem as resoluções da ONU, o que não acontece com Portugal, frisando que "os Estados membros devem tomar cautela para não caírem na armadilha de se tornarem inimigos da ONU". Informação de Portugal ao secretário-geral da ONU de que não participaria na Assembleia Mundial da Juventude, a realizar em Julho. Visita de Léopold Senghor aos países escandinavos, declarando em Estocolmo que "tinha proposto um plano de paz aceite por Amílcar Cabral, residindo a dificuldade da sua aplicação na obtenção do acordo dos portugueses".
29 de Maio - Visita a Lisboa do secretário de Estado norte-americano, William Rodgers.
27 de Junho - Início da Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas, realizada em Roma.
1 de Julho - Recepção pelo Papa Paulo VI dos dirigentes dos movimentos de libertação das colónias portuguesas, Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos.
7 de Julho - Nota da Secretaria de Estado do Vaticano ao Governo Português sobre a recepção do Papa aos dirigentes nacionalistas.
9 de Julho - Início da Assembleia Mundial da Juventude, no âmbito das comemorações do 25º aniversário da ONU, com a presença de 110 países, em cuja mensagem final se denuncia a "guerra colonial empreendida por Portugal contra os povos de Angola, Guiné e Moçambique".
Agosto - Os presidentes da Zâmbia e do Senegal declaram a sua disposição de contribuírem para a resolução do problema colonial português.
12 de Agosto - Início das reuniões da Comissão de Descolonização da ONU, cujas moções contêm ataques mais sistemáticos contra os governos brancos da África Austral e seus aliados, reflectindo a preocupação por uma anunciada mudança da política externa britânica.
29 de Agosto - Rebentamento de um engenho explosivo na Embaixada de Portugal em Washington, sendo desmontado outro engenho no gabinete dos adidos militares.
Setembro - Artigo de Aquino de Bragança na revista "Afrique-Asie" intitulado "Dacar face a Lisbo" analisando as relações entre Portugal e o Senegal na sequência dos acontecimentos de fronteira e do plano de Senghor para a solução pacifica da questão colonial.
8 de Setembro - Inicio da III Conferência plenária dos Países Não Alinhados em Lusaka que pede um apoio mais eficaz e uma maior ajuda financeira aos movimentos de libertação africanos e convida todos os governos a absterem-se de financiar a barragem de Cahora Bassa.
15 de Setembro - Apresentação do relatório anual de U'Thant à Assembleia Geral da ONU referindo, em relação a Portugal, que "após nove anos de luta armada deve ter-se tornado evidente ao Governo português qual a política que poderá abrir a porta a negociações pacificas".
14 de Outubro - Aprovação pela Assembleia Geral da ONU dum programa de acção destinado a acelerar a obtenção da independência dos povos coloniais, sendo proclamado como documento comemorativo do 10º aniversário da Declaração de Descolonização e do 25º da ONU.
Novembro - Aprovação pela Comissão Política Especial da Assembleia Geral da ONU, constituída por 127 países, de uma resolução recomendando o aumento do auxilio aos movimentos de libertação, em cuja votação apenas Portugal foi contra.
23 de Novembro - Aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU, do envio de uma missão especial à República da Guiné para investigar as acusações de que as forças portuguesas haviam invadido Conacry.
8 de Dezembro - Aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU de uma resolução baseada no relatório da missão especial à República da Guiné, enviada para investigar a invasão a Conacry, que considera o colonialismo português uma séria ameaça à paz e segurança de África. Esta resolução condena também a construção da barragem de Cahora Bassa.
12 de Dezembro - Declaração do chefe da delegação americana na ONU, Charles Yost, revelando que os Estados Unidos não tinham qualquer razão para duvidar das conclusões da comissão especial da ONU que investigou os acontecimentos de Conacry e o envolvimento de Portugal.
14 de Dezembro - Resolução da Assembleia Geral da ONU censurando a politica colonial portuguesa e pedindo a Portugal que não utilizasse meios de guerra química e biológica contra as populações.

1971

Fevereiro - Participação do PAIGC na conferência ministerial para África do Conselho Económico e Social da ONU. Conferência sobre "Os Estudantes e o Movimento de Libertação Africano" em Helsínquia, com representantes de mais de 60 países e do PAIGC, MPLA, Frelimo e SWAPO.
Abril - Carta de Lord Gifford, membro da Câmara dos Lordes e presidente da Comissão para a libertação de Angola, Moçambique e Guiné, dirigida ao ministro dos Negócios Estrangeiros Português, no sentido de este receber os representantes da Frelimo antes da sua visita a Portugal.
22 de Abril - Início da Conferência Mundial da Juventude para libertação dos povos das colónias portuguesas, reunida em Brazzaville.
Maio - Portugal retira-se da UNESCO em virtude de esta organização apoiar os movimentos de libertação.
Setembro - Visita de uma delegação da OUA a vários países da NATO, com o objectivo de conseguir que estes deixem de apoiar a politica colonial portuguesa. Visita de Olof Palme à Tanzânia, onde declara que o colonialismo português constitui um obstáculo ao abrandamento da tensão mundial.
Outubro - Declarações de Amílcar Cabral numa visita a Inglaterra a convite do secretário-geral do Partido Trabalhista, afirmando o seu desejo de solucionar a guerra por meio de negociações com Portugal, sem condições prévias.
19 de Outubro - Cimeira da Comunidade da África Central e Oriental que aprovou a "Declaração de Mogadíscio", condenado as potências ocidentais pelo apoio dado a Portugal.

1972

27 de Janeiro - Convite ao Conselho de Segurança da ONU para enviar uma delegação às "áreas libertadas da Guiné-Bissau", feito pelo PAIGC.
1 de Fevereiro - Amílcar Cabral discursa no Conselho de Segurança da ONU, reunido em Adis Abeba, facto que ocorre pela primeira vez.
2 de Fevereiro - Aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU, reunido extraordinariamente em Adis Abeba, de uma resolução de apoio aos movimentos nacionalistas de Angola, Guiné e Moçambique.
4 de Fevereiro - Resolução do Conselho de Segurança da ONU que autoriza o envio de uma missão de visita às regiões libertadas da Guiné-Bissau.
27 de Março - Concessão pelo Governo norueguês, de um subsídio ao PAIGC.
2 de Abril - Início de uma visita efectuada por uma missão especial das Nações Unidas às zonas da Guiné-Bissau "controladas pelo PAIGC".
25 de Abril - Visita dos adidos militares dos Estados Unidos, Inglaterra, Venezuela e África do Sul à Guiné.
18 de Maio - Encontro de Spínola com Leopold Senghor, próximo da fronteira com a Guiné, no sentido de explorar as possibilidades de mediação entre as partes em conflito.
22 de Setembro - Atribuição pela Assembleia Geral da ONU, do titulo de observadores a representantes dos movimentos nacionalistas de Angola, Guiné e Moçambique.
2 de Outubro - Discurso de Rui Patrício na ONU, boicotado pela maioria dos delegados.
16 de Outubro - Reconhecimento pela Assembleia Geral da ONU, do PAIGC como legitimo representante do povo da Guiné-Bissau e condenação de Portugal como ocupante ilegítimo.
19 de Outubro - Intervenção de Amílcar Cabral na ONU, anunciando a próxima proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau.
20 de Outubro - Resolução do Conselho de Segurança da ONU condenando Portugal pelo ataque a uma aldeia no Senegal.
Novembro - Fim do mandato do embaixador americano em Lisboa, que se retira sem ser substituído, situação só solucionada em Janeiro de 1974.
2 de Novembro - Reconhecimento pela Assembleia Geral da ONU, da legitimidade das lutas armadas contra Portugal em África.
11 de Novembro - Aprovação por unanimidade, pelo Conselho de segurança da ONU de uma resolução pedindo a Portugal que inicie conversações com "interlocutores válidos" para uma solução das guerras.
13 de Novembro - Reconhecimento pelo Comité de Descolonização da ONU, dos movimentos nacionalistas como legítimos representantes dos povos de Angola, Guiné e Moçambique.
22 de Novembro - Resolução do Conselho de Segurança da ONU, aprovada por unanimidade, sobre a política colonial portuguesa, focando: reconhecimento da legitimidade das lutas travadas pelos movimentos de libertação e apelo ao Governo português para iniciar negociações.

1973

27 de Janeiro - Assinatura em Paris, do cessar-fogo entre os Estados Unidos e o Vietname.
1 de Fevereiro - Simpósio dedicado à memória de Amílcar Cabral em Conacry, com a presença de 680 delegados de vários países e organizações de todo o mundo.
Abril - Realização em Oslo da Conferência Internacional da ONU e da OUA em apoio das vitimas do colonialismo e do apartheid na África Austral.
3 de Junho - Anúncio pelo governo holandês, de um programa de apoio aos movimentos nacionalistas das colónias portuguesas, nas áreas da educação e da saúde.
Agosto - Condenação de Portugal na Comissão de Descolonização da ONU, pela sua política colonial.
Outubro - O Senado americano proíbe a Administração de conceder a Portugal qualquer ajuda que possa contribuir para a manutenção do regime colonial.
15 de Outubro - Pedido feito por 56 países da ONU de agendamento de um debate sobre a "ocupação ilegal pelas forças militares portuguesas de certas zonas da Guiné-Bissau".
Novembro - Saudação pela Assembleia Geral da ONU da independência recente da Guiné-Bissau e condenação da ocupação por Portugal de algumas áreas do território.
2 de Novembro - Resolução histórica da Assembleia Geral da ONU, única no direito de descolonização, reconhecendo a independência da Republica da Guiné-Bissau, a presença ilegal de militares portugueses naquele território e aprovação, com o voto de 93 Estados membros, de uma recomendação ao Conselho de Segurança para admissão da Guiné-Bissau.
11 de Novembro - Admissão da Guiné-Bissau na FAO.
16 de Novembro - Resolução da Assembleia Geral da ONU convidando, pela primeira vez, a Republica da Guiné-Bissau a participar na III Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.
19 de Novembro - Visita de uma delegação da Guiné-Bissau a Moscovo. Admissão da Guiné-Bissau como 42º Estado membro da OUA.
29 de Novembro - Resolução da Cimeira Árabe sobre o embargo total do petróleo destinado a Portugal.
17 de Dezembro - Resolução da Assembleia Geral da ONU aprovando os poderes da delegação de Portugal "tal como ele existe no interior das suas fronteiras na Europa", excluindo desses poderes os "territórios sob domínio português de Angola e Moçambique e a Guiné-Bissau, que é um Estado independente".

Conclusões

Caros camaradas, é preferível ter consciência de que a derrota já estava decidida desde a última semana de Maio de 1972 do que trocar argumentos sobre se a guerra estava perdida ou se poderia ser ganha.. A Guiné era já um apêndice cujo único interesse era a continuação da guerra em Angola, sobretudo.
Angola, mesmo já com a guerra nas três frentes, era ainda a perspectiva de riqueza, com os seus recursos, S. Tomé era o Cacau, Moçambique com os pagamentos do acesso ao mar e alguns recursos naturais, e Cabo Verde as pescas (?...). Mas a Guiné pouco dava (só à Casa Gouveia/CUF ou ao comércio libanês...):




De qualquer modo, os ganhos nesses territórios estavam muito em baixo relativamente aos custos das guerras que neles se travavam. Valiam os 50% do orçamento nacional nelas gasto, à custa da miséria num país. Mas até quando se aguentaria tal situação?




Quanto ao potencial humano a utilizar nelas, as perspectivas eram da sua diminuição ou da reutilização dos mesmos, ou de cada vez mais jovens... e cada vez mais mortos e mais feridos. Um horizonte sem futuro, com limites, obviamente. Já está lá mais atrás a situação das fugidas para o estrangeiro, legal ou ilegalmente. E vejo agora o reflexo disso, e não só, nas fugas ao serviço militar:



Mas os efectivos militares aumentavam progressivamente:






...E como dar resposta às cada vez mais necessidades de enquadramento dos efectivos? É verdade que "...em 1966 (...) o Exército teve de recorrer à formação de Capitães de origem miliciana", como diz o nosso camarada Manuel Godinho Rebocho na página 473 da sua tese de doutoramento, "A Formação das Elites Militares em Portugal de 1900 a 1975".

Mas estou com o coronel António Carlos Morais da Silva ao não concordar com as razões apontadas na tese: é que, diz o doutorando, "os Capitães de carreira pretenderam seguir outras funções que não as de combate". O próprio capitão Morais da Silva foi exemplo disso ao, depois de uma comissão em Angola, em Nucussa e Ninda, ter substituído em Gadamael Porto, em 1971/1972, o comandante da CCAÇ2796, morto em combate.

Eu próprio tive em Geba, em 1967, um capitão do QP, também morto em combate e tive dois capitães do QP quando estive em Barro em 1968/69. E houve o Vasco Lourenço (espero que as custas do processo não tenham sido muito elevadas, Rebocho... ), o Salgueiro Maia, o Matos Gomes... Cada um dos tertulianos há-de lembrar-se também dos capitães que teve.
As razões foram outras. O panorama na Academia Militar era este:






Procurando colmatar a falta de oficiais do QP, nomeadamente capitães, recorreu-se, em 1966, a tenentes milicianos em disponibilidade que, após um curso de promoção na EPI iam como capitães. Quando estive em Mafra, precisamente em 1966, a 3.ª do COM tinha cinco instrutores – o Cerveira, o Roque, o Mateus e o Diamantino André, que eram do QP, e o Chung, este é que tinha vindo de miliciano, mas foi no ano seguinte comandar uma companhia de comandos em Angola, onde fez duas comissões. O Diamantino André foi comandante da CCaç 2406, que, em finais de 1968, esteve em Mansabá primeiro, tendo um pelotão em Banjara até Janeiro de 1969, e foi depois para o Saltinho. Os outros não sei.



A partir de 1970 começaram a faltar alferes e tenentes para a formação de oficiais e sargentos milicianos, pelo que se recorreu aos milicianos para dar instrução nas escolas práticas, no CISM e no CIOE. Agravou-se também a falta de capitães do QP pelo que o Exército teve de "fabricar" os chamados "capitães de aviário", com cursos de formação de cinco meses na EPI, findos os quais estavam "aptos" a comandar companhias! Havia guerra que resistisse?... Era esta a situação na Guiné:



Uma outra questão que me importa ver: se nós dominávamos no terreno. Como já disse, foi limitada a minha experiência. Mas vou dizer o que me parece pelo que vi, especialmente na zona de Geba.
Antes de ser um subsector, passaram por Geba: 3.ª CCAÇ em 1961, CCAÇ 412 em 1964, CCAÇ 509 e CCAÇ 557 em 1965. Lendo o que pude das histórias destas unidades, a que teve alguma actividade na zona foi a CCAÇ 412. De 23Mai64 a finais de Ago64, a sub-unidade esteve colocada em Camamudo, com um destacamento em Cantacunda, a fim de efectuar acções de nomadização e batida naquelas áreas. Numa batida teve um morto em Mansaina, perto de Banjara. Procedeu à organização dos sistemas de autodefesa e segurança das populações, após o que recolheu a Bafatá, mantendo, no entanto, pequenos efectivos nas referidas localidades de Camamudo e Cantacunda.
Quando foi subsector do BCAV 757, em Outubro de 1965, ficou à responsabilidade da CCAÇ 1426, que ficou com destacamentos Camamudo e Cantacunda. Ficou em quadrícula, tendo bastante actividade a nível de pelotão, com operações de batidas e montagem de emboscadas, e outras em conjunto com outras unidades. Participou na operação "Aurora", creio que em princípios de 1966 (não vem a data na "história"), ocupou Banjara, referenciada como ponto de passagem dum dos ramais derivados do corredor de Sitató, destruindo na zona as tabancas de Tumania, Bantajã e Sambulacunda, segundo o relatório da operação. Fica desde essa altura com um destacamento em Banjara. Tenho a "História da Companhia", que o camarada Fernando Chapouto teve a amabilidade de me dar. Vou analisar algumas, na perspectiva da ocupação do terreno.
. Na op. "Iussuf", realizada em 14JUL66, 1 GrComb da CCAÇ 1426 com uma secção da CMil 3 e guias foi até Canhagina, atravessou o Rio Jago e entrou na zona de Sinchã Jobel. Antes tinham descoberto uma armadilha A/P e avistado um elemento IN armado e fardado. À entrada de Sinchã Jobel, "antiga tabanca, há muito destruída e abandonada, um forte tiroteio de PM e granadas de mão foi sobre nós desencadeada por um grupo IN, de efectivo e potencial de fogo apreciáveis, que se encontrava entrincheirado algures dentro da citada tabanca e ao abrigo de pequenos muros de pedra e adobe, últimos e únicos vestígios das antigas construções. Passados alguns momentos de fogo contínuo IN, cuja duração rondou 10 a 15 minutos, a nossa força começou a manobrar na direcção do suposto local do IN frontal e lateralmente, não tendo conseguido enxergar qualquer elemento IN, portanto aprisioná-lo ou abatê-lo, mas somente pô-lo em debandada para dentro do mato. Feita uma pequena batida à área da emboscada e suas imediações, nada de especial se apurou, apenas uma pequena chave presa a um farrapo foi encontrada. Recomeçando o andamento sobre o itinerário devido, na direcção de Dando, esta antiga tabanca foi atravessada sem qualquer novidade, tendo-se tomado o caminho para Ganhagina, donde a força regressou a Geba."
"l - SITUAÇÃO PARTICULAR - a. Inimigo: A região do OIO a sul de Banjara é considerada como zona sob o controle do IN. As várias acções levadas a efeito pelas NT assim levam a concluir. É natural que os seus efectivos não sejam numerosos em potencial de fogo e agressividade, pois há o conhecimento de que o grupo actuante não é muito numeroso nem tem um grande potencial de fogo pois tem-se manifestando em várias acções a Sare Medina, Sinchã Madia e Sare Banda onde causou apenas estragos em moranças e os ataques e ameaças que foram feitos às populações de Carbonol, Sinchã Madia e Camassirá foram bastantes ligeiros. As acções contra as NT têm sido sempre ligeiras, fugindo sempre ao contacto e os engenhos explosivos colocados na área tem sido sempre detectados. A FAP localizou um acampamento de cerca de 30 casas na região de Bebel-Curauele-Madina Banjara que REVIS efectuados em 17 e 20Jul confirmaram. As inúmeras lavras localizadas nesta região denotam bem a presença do IN ou de populações sob o seu controle."

Foram as razões para a realização da op. "Júpiter", em 23/24JUL66, com 2 GrComb da CCaç 1426, 1 GrComb da CCaç 1496, 4 secções da CMil 3, o EREC 1578, 1 Pel/CCS/Bcav757 e vários guias nativos.
Destaco o seguinte do relatório desta operação:

"A força A atravessou a bolanha e a Sudoeste de Curauele localizou o primeiro acampamento. O IN tentou resistir ao nosso avanço com tiros de PM e granadas de mão mas a acção das forças foi tão rápida que o acampamento foi cercado. Após revista nas casas do mato para um possível aparecimento de armas, munições ou documentos importantes, as 32 casas foram incendiadas. A força lançou-se à procura de mais acampamentos IN, tendo aparecido a Sul de Curauele 21 casas de mato e a Sudoeste da mesma foi encontrado novo acampamento com 20 casas, este situado dentro de árvores frondosas. Aqui o IN fez fogo sobre as NT mas a sua resistência foi vencida. Foram também apanhadas cinco mulheres e algumas crianças aqui coagidas pelo IN e que faziam parte da população. Já no regresso a Sul e na direcção do pontão da bolanha foi visto novo acampamento de oito casas que foi prontamente destruído. Após a travessia da bolanha e a cerca de 400 metros desta um grupo IN fez fogo intenso de PM, Gr. mão, Esp. e uma MP durante cerca de 10 minutos, mas foi posto em debandada em consequência da pronta acção das NT. Na parte final do trajecto o IN nunca mais apareceu e chegou-se a Banjara cerca das 16h00."

Nesta operação foi capturada uma "guia passada a favor de Sungar Fati e assinada por Lúcio Soares, como responsável do partido na região de Bafatá".
Em 08AGO66, op. "Jonas", voltou um grupo à zona de Ganhagina e Ponte do Rio Gambiel, porque, segundo a "Situação particular", "Embora o IN não se tenha revelado na região do Joladú, junto ao Rio Gambiel, pode no entanto ser esta uma via de infiltração para os elementos IN que pretendam infiltrar-se para o interior do Sector. A zona está totalmente despovoada mas poderão existir locais de refugio ou passagem, que convém detectar e destruir." Mas não foi encontrado nada.
A op. "Jasmim", porque "Durante a operação 'Lado a lado' o IN revelou-se na região de Danga e Sado (norte de Banjara, perto de Samba Culo), embora muito fracamente; todas as tabancas existentes na altura foram completamente destruídas, desconhecendo-se qual a situação no momento actual, se a mesma se mantém inalterável ou não", deu isto em 26/27OUT66: "Quando a vizinhança próxima da zona de actuação foi atingida, procedeu-se à formação do dispositivo de combate na perspectiva de iminência de acção do IN ou sua detecção. A progressão no interior do objectivo, sob a forma de batida, tomou-se difícil em virtude das culturas existentes, especialmente a do milho a qual cobria quase toda a área. Em dado instante, dentro de um campo de milho ouviu-se barulho de vozes que foi escutado pelos primeiros elementos das NT, pelo que se tentou um envolvimento tendente a capturar os elementos referenciados tendo-se conseguido o aprisionamento de duas crianças, de sexos opostos; outros elementos da população, em maior número mulheres e crianças, fugiram à nossa aproximação, não mais tendo sido vistos ou pressentida a sua presença. Recomeçada a exploração a toda a zona, dispensando-se mais atenção e cuidado aos locais mais fechados de arvoredo e vegetação, mesmo na orla da bolanha junto do Rio Cambaju, foi avistado um pequeno grupo de casas de mato situadas debaixo de um tufo de árvores de alto porte e densa copa que não permitia com certeza a observação aérea. Ao avanço desta parte das NT sobre estes meios de vida do IN, este, inesperadamente por se encontrar bem oculto das nossas vistas reagiu com tiros de espingarda e PM, tendo fugido ao contacto directo perante a pronta reacção das NT sobre a posição IN. Chegados ao local pretendido verificou-se serem três palhotas tipo casas de mato que serviam de abrigo, e lavoura, etc. Após a revista do interior e cobertura das casas estas foram completamente incendiadas e destruídas, tendo sido apreendido todo o material de guerra descoberto e destruídos todos os objectos que não apresentavam para nós grande interesse. Durante a restante batida efectuada à zona de Danga e Sado, nada mais de especial foi encontrado ou avistado. Verificou-se a impossibilidade da passagem ao longo do caminho que atravessa a bolanha do Rio Cambaju na sua ponta Sul, fez-se o regresso a Banjara através do trajecto da ida, durante o qual foram recolhidas as fracções emboscadas. A entrada em Banjara deu-se cerca das 16H30."
Na op. "Jejum", em 10/11DEZ66, por razões idênticas - "Embora o único conhecimento que temos do IN, seja dado pela sua fraca reacção durante a operação "LADO A LADO", há que admitir a possibilidade de se revelar com apreciável força uma vez que a região de CASA NOVA parece ser um dos pontos de apoio do corredor do SITATÓ. Admite-se no entanto que CASA NOVA seja um núcleo de população fora do nosso controle tal como sucedeu em DANGA e SADO."
- 2 GrComb da Ccaç1426, 1 GrComb da Ccaç1588, EREC1578, 3 SecCMil3 e 1 SecPelVol FURACUNDA foram novamente à região a norte de Banjara, perto de Samba Culo: "... em dado momento e muito perto da orla desta, foram avistadas duas palhotas, com sinais evidentes de abandono, abrigadas sob um tufão de árvores, tendo sido completamente destruídas. Apoiando-se neste pequeno indício de vida, se bem que nada recente, a força lançou-se novamente à procura de mais outros sinais que viessem a revelar a presença do IN ou de população. Assim a cerca de l km para a esquerda em relação ao objectivo, na direcção do ponto de cota 33, e em determinado instante, um grupo IN de razoável força, emboscado dentro do mato densíssimo, atacou grande parte das NT, utilizando em grande intensidade PM e GMO, julgando-se com quase inteira veracidade que tenham empregado LGrFog, ou outra arma semelhante, pois forte estrondo foi sentido muito perto de alguns elementos nossos. Decorridos os primeiros momentos de surpresa pelo ataque IN, prontamente se procedeu 'a manobra que a ocasião e natureza da acção mais aconselhava e que se traduziu do seguinte modo: enquanto uma fracção da força se empenhava do grupo rebelde, uma outra muito dificilmente protegida pela anterior rompeu o mato em direcção ao suposto mas sempre duvidoso local de abrigo do IN. Alguns instantes volvidos certa restolhada foi escutada pêlos primeiros elementos, significativa da fuga precipitada do IN, o qual deixou, abandonados no terreno, quatro carregadores de PM e bem mais algumas marcas de ferimentos deixados pelo nosso fogo, pois alguns rastos de sangue apareceram no terreno e em arbustos. Vencida esta resistência, era certo que algum acampamento se localizava perto da nossa posição, existência que de facto veio a comprovar-se cerca de 300 metros mais a frente e bem dentro do mato. Foi ocupado sem mais resistência, sendo constituído por 24 palhotas tipo casa de mato. Feita a limpeza do interior e batida nas imediações, algum material foi encontrado conforme consta da alínea c. do parágrafo 6.. Após completa destruição do acampamento, iniciou-se o movimento de regresso a BANJARA, através do trajecto de ida, durante o qual foram recolhidas as forças emboscadas. A entrada em BANJARA deu-se cerca das 16HOO."

Na op. "Jiu-Jitsu", a mesma força foi, a 21/22DEZ66, ao sul de Banjara, a Curauele, Bantajã, Belel e Sambulacunda. Nada encontrou, deixando apenas vários panfletos de rendição.
Mas foi diferente a op. "Joia 1", feita a 16/17JAN67 na mesma zona: "Na região de BANJARA, em todas as acções ali executadas, o IN revelou-se de maneira activa, com pouca potência de fogo, à excepção da última operação ali realizada ('JIU-JITSU') em que não houve contacto. Todas as moranças existentes na região BELEL/CURAUELE foram destruídas durante a operação "JÚPITER". Em REVIS efectuados na região verificou-se haver algumas casas e trilhos na região BAMBADINCA 3 G4 e BAMBADINCA 3 G5 onde se pode considerar a existência de populações fora do nosso controle. É de supor que o IN se encontra instalado fazendo vida com a população, exercendo sobre ela a sua acção e possivelmente realizando incursões através do mato de MANSOMINE."; "Alcançado BELEL sem anormalidade, as NT atravessaram a bolanha que ainda apresentava razoável caudal de água, de modo descontínuo e dirigiram-se a MEDINA BANJARA. Neste pequeno troço de caminho nos sítios mais fechados e susceptíveis de montagem de emboscadas por parte do IN foram lançados dois grupos, a nível de secção reforçada cada, que assegurariam a passagem das NT durante o regresso e tentariam surpreender quaisquer elementos rebeldes avistados. Em MADINA BANJARA, tabanca totalmente destruída e abandonada, após alguns esforços feitos em reconhecimento às vizinhanças, no sentido de ser descoberto o caminho que corre para Sul paralelamente ao Rio GAMBIEL, o mesmo foi tomado para, quando estavam percorridos cerca de 3 km, nas proximidades do ponto de cota 14, ser enxergado pelos primeiros elementos da força, um grupo de palhotas que se situavam fora do caminho, bem no interior do mato e sob grande tufo de árvores de densa e larga copa. Quando as NT se preparavam para entrar no acampamento, um grupo IN colocado na periferia abriu fogo com PM, Esp. algumas GMO, no intuito de impedir o nosso avanço, não o tendo conseguido e pondo-se em fuga mercê da nossa manobra tendente a superar essa mesma resistência oferecida pelo IN. Desta acção resultou terem sido abatidos 2 elementos comprovadamente IN. Um terceiro elemento foi ferido mas logrou escapar-se, deixando no terreno alguns respingos de sangue. Feita uma batida e exploradas as imediações nada mais de especial foi encontrado nem outro caminho foi visto. Após completa destruição e incendiado o acampamento IN e de alguns materiais que não mostravam interesse algum, iniciou-se o regresso através do mesmo itinerário, sendo recolhidos os grupos que permaneceram emboscados. A cerca de 100 metros do lado Norte da bolanha de BELEL - CURAUELE um grupo IN cujo quantitativo não foi possível estimar-se, atacou com certa força e inesperadamente com tiros de PM e Esp. posições muito perto do caminho, sensivelmente a parte central da coluna do que resultou ter sido morto um soldado nativo e ferido de ligeira gravidade um soldado europeu. Movimentada a manobra dentro do mato em direcção ao suposto, mas incerto local de concentração do IN, escapuliu-se para não mais aparecer. Alguns rastos de sangue foram detectados, pelo que se julga terem sido feitos feridos do lado adverso. Transportado o morto, primeiramente às costas e depois em padiola improvisada com ramos e cordas, a entrada em BANJARA, sem mais incidentes, registou-se cerca das 16HOO."
Nos dias 17/18/19FEV67, op. "Incógnica (?)", um grupo montou emboscadas e fez batidas na mesma zona, não encontrando nada. Mas dizia a ordem de operações que: -"Na região a Sul de BANJARA, em todas as acções ali executadas, o IN revelou-se de maneira activa, com pouca potência de fogo à excepção da operação 'JIU-JITSU', em que não houve contactos.

- Em 08JAN67 durante a operação "JÓIA", foram aprisionados sete elementos de uma povoação de BAMBADINCA 3B2, que revelaram existirem acampamentos IN a S e W, mas bastante afastados do local onde as NT se encontravam.

- Em 17JAN67 durante a operação "JÓIA l", foi destruído um acampamento em BAMBADINCA 3G4-6S tendo sido destruídas 17 casas de mato depois de vencida a resistência IN. O IN sofreu dois mortos e um ferido confirmados. Foi capturada uma espingarda MAUSER, alguns canhangulos, várias munições, l GMD e alguns documentos . No regresso um grupo IN em número não estimado emboscou as NT com razoável potência de fogo do lado Norte da bolanha de BELEL tendo-se furtado ao contacto perante a reacção das NT que sofreram um morto (soldado nativo) e um ferido ligeiro (soldado europeu).

- Em 04FEV67, durante a operação "JAVALI" no regresso de MANSONÁ um grupo IN estimado em 12 elementos armados de PM, Esp. Aut. E GM emboscou as NT em SINCHÃ BOEBE, sem consequências. O IN retirou perante a reacção das NT.

- Sabe-se que o IN tem vários acampamentos na região do CUOR.

- Não foram referenciados quaisquer acampamentos IN no SW do nosso sector sendo contudo de admitir que eles existam, até como pontos de apoio de grupos IN que se desloquem entre CUOR e CORLÁ".

Em 9/10MAR67 foram novamente à mesma zona a sul de Banjara mas nada encontraram.
A CCaç 1427 teve 1 morto em combate, um furriel, e 2 soldados mortos por acidente. Foram mortos em ataques 3 milícias e 1 foi morto em Madina Banjara. Sofreu ataques em Sare Madina, Sare Banda, Sinchã Sutu e Sincho. O Fernando Chapouto que me desculpe se há alguma falha, e corrija.

O Lúcio Soares já comandava naquela zona, como se viu, na altura da CCaç 1426, embora me tivesse dito, em Abril de 2006, quando nos encontrámos em Bissau, que tinham montado as "barracas" em Sinchã Jobel em Abril de 1966.
Em 17 de Abril de 1967 chegou a Geba a CArt 1690, em substituição da CCaç 1426. Claro que não me vou debruçar sobre esta companhia, de que fiz parte, pois tudo já está contado no blogue. Vou só lembrar-me que ficou com os destacamentos de Banjara, Cantacunda e Camamudo e foi-lhe acrescentado mais um: o de Sare Banda (que antes só estava em autodefesa). Lembro que teve dois mortos (o capitão e um soldado), primeiro, e mais 6 (milícias), depois, no itinerário para Banjara, 1 morto e 11 “retidos” durante um ataque a Cantacunda, 1 soldado morto no ataque a Banjara, 2 mortos no ataque a Sare Banda (um alferes e um furriel). Em seis ataques á, então já descoberta, base do PAIGC em Sinchã Jobel (a sul de Banjara, perto de Ganhagina e Ponte do Rio Gambiel), teve 5 mortos (um alferes e quatro sildados) e um soldado “retido”. Participou em duas operações a norte de Banjara (região de DANGA, SADO, CASA NOVA), tendo destruído a base, também então descoberta, de Samba Culo. Teve vários feridos, alguns com gravidade (entre eles dois alferes). Participou ou realizou, no total, 51 operações (14 com PCV), 1561 patrulhamentos, 36 emboscadas e 442 outras acções. Estiveram depois em Geba:
- a CCaç 2437, desde NOV68, que ficou sem o destacamento de Banjara; para aqui foi um pelotão da CCaç2406, a tal do Diamantino André e que estava em Mansabá; mas o destacamento foi abandonado em Janeiro de 1969; teve 1 morto em Dembo (zona de Samba Culo).
- a CArt 2743, desde AGO70; esta companhia teve um ataque em Cantacunda, de que resultaram 7 mortos (um cabo e seis soldados); teve 1 milícia morto em ataque a Sare Banda.
- CCaç 3548, desde MAI72 até ABR74; teve 1 cabo e 2 soldados mortos por acidente; o capitão e o 1.º sargento morreram por doença.
Várias companhias forneceram reforços, em certas alturas e em tempo limitado, às companhias do subsector de Geba. As CCaç 1685, 1689, 1791 e a CArt 2339, como companhias de intervenção para operações na zona. A CCaç 2590 (a do Luís Graça) teve efectivos como reforço em Sare Ganá e Sare Banda.
Não tenho pormenores sobre a actividade destas três últimas companhias com o sub-sector de Geba, porque não tenho as suas "Histórias"(hei-de tê-las, um dia). Mas creio poder tirar algumas conclusões, relativamente à zona de Geba (em Barro, zona de fronteira era diferente...)., com base naquilo que tenho.

O BArt 645, que esteve em Mansabá, diz, em seu relato, que em JUL64 abriu o itinerário Mansabá-Bafatá (passando por Banjara, Sinchã Sutu, Sare Ganá e Sare Banda, portanto). Creio que as unidades que antes estiveram em Geba tiveram liberdade de movimentos. Mesmo a CCaç 1426 terá tido no início, pelo que vejo dos seus relatórios, e o Fernando Chapouto confirmou-mo pessoalmente, Foram a Mansabá, Mansoa e até mais longe... O que já não sucedeu com a Cart1690.

É evidente que o PAIGC já estava bem implantado na zona em 1965 e 1966, movimentava-se pelas matas, tinha casas de mato para se acantonar, tinha populações que os alimentavam, tinha armamento para atacar a meia dúzia de tabancas que tínhamos em autodefesa. E procurava estabelecer pontos sólidos de apoio às suas acções nas zonas a sul de Banjara, para estabelecer seguras ligações à margem sul do rio Geba, e nas zonas a norte de Banjara, para ligações à margem norte do rio Camjambari.

O Luís Cabral disse-me pessoalmente que Banjara era um ponto de passagem. E os nossos cabeças também sabiam que era uma ramificação do corredor de Sitató. O papel da CCaç 1246 foi, naturalmente, destruir os seus pontos.de apoio, queimando casas de mato ou os chamados acampamentos, coisas que a guerrilha muda facilmente de um local para outro, mesmo dentro da mesma zona. É fácil na mata do Oio. Quando são apanhados de surpresa podem morrer alguns, quando não são podem furtar-se e reaparecer mais tarde no mesmo sítio. É a luta do gato e do rato, que pode durar eternamente ....ou até à morte de um ou de outro. Foi também a destruição dos seus meios e pontos de subsistência, queimando tabancas e destruindo culturas. Mas aquela são zonas extensas, com possibilidades de cultivar aqui ou ali, ou quando não há aqui ir buscar ali, mesmo com esforço.

Na altura da CArt 1690 a situação modificou-se. Não havia nenhuma tabanca activa a sul de Banjara, apenas as em autodefesa: Sare Ganá, Sinchã Sutu e Sare Banda (mais tarde foi destacamento), mais perto de Geba e do itinerário para Banjara, e Sare Madina, mais afastada e perto de Ganhagina (mas já com o cabo Mamadu, que era do PAIGC, soube-se depois, a comandar a milícia). Também nenhuma tabanca em pé a norte de Banjara. Camamudo esteve e estava sempre serena. Mais acima, no caminho para Cantacunda havia uma tabanca, Farancunda, que nos recebia sempre bem, mas que suspeitávamos que ajudava o PAIGC (lá mais acima, num relato de uma operação da CCaç 246, fala-se de um Pel Vol de FARANCUNDA que nela participou... mas nunca ouvimos falar dele...); mais ao lado e abaixo havia (e sempre houve!) o CAPÉ, onde o cabo-verdiano Carlos nos recebia de braços abertos, servia-nos aguardente de cana, mostrava-nos as filhas, mas toda a gente dizia que jogava com pau de dois bicos...).

O Lúcio Soares (foi do governo do Luís Cabral e esteve refugiado em Cabo Verde depois do golpe do Nino Vieira em 1980) montou mesmo uma base em Sinchã Jobel, a sul de Banjara. A norte formou-se a base de Samba Culo, comandada por Braima Bangura (o tal que já referi acima que foi fuzilado por Nino Vieira em 1986). O PAIGC, além de continuar a atacar as tabancas em autodefesa, começou a atacar também os destacamentos, a colocar minas nos itinerários, demonstrando um grande avanço no seu poder bélico na zona, em armamento e acção.
A CArt 1690 teve a sua mobilidade mais reduzida, as idas a Banjara e Cantacunda tornaram-se mais complicadas, com emboscadas e minas. Nunca houve "viagens" de Bafatá para Mansabá. E, como já disse acima, Banjara foi abandonada em Janeiro de 1969. Por isso Luís Cabral diz na "Crónica da Libertação": "O quartel de Banjara, entre Mansabá e Bafatá, tinha sido retirado devido aos ataques contínuos dos nossos combatentes. Os trilhos que, do mato, cortavam esta pista inteiramente controlada por nós, passaram por isso a dar mais segurança à passagem das pessoas que se dirigiam ao Sará". E o Sará era uma região entre Mansabá e Mansoa controlada pelo PAIGC.


Como disse, não sei da actividade das companhias que estiveram em Geba de 1969 a 1974. Mas cabe referir duas operações realizadas por duas companhias na margem norte do rio Camjambari (acima da zona norte de Banjara, portanto). São elementos do site do camarada tertuliano Carlos Silva.
CCaç2547 – 09/10/JUN71

–"... Na altura do ponto de cota 53 as NT deixaram o carreiro e inflectiram para Oeste a corta-mato para atingir a bolanha onde haviam sido referenciadas instalações. O grupo IN deve-se ter apercebido desta mudança de direcção e deslocou-se para Sul. Neste deslocamento foi detectado a cerca de 100 metros da rectaguarda. À manobra pelo fogo e movimento das NT reagiu com armas automáticas e lança-foguetes tendo debandado para Norte. Os elementos avistados usavam farda verde e um ou outro com roupa civil. O efectivo deste grupo foi estimado em 20/25 elementos. Continuando a progressão o mesmo grupo voltou a flagelar o flanco direito da coluna tendo sido repelido pelo GrComb da CArt 3331 de reforço à companhia. Continuou-se a progressão para Oeste, dificultada pela ausência de referências e por os guias terem hesitações e não quererem ir na frente da coluna ou por não estarem familiarizados com a zona. Até atingir a bolanha foram as NT alvo de 5 emboscadas. Nas duas últimas emboscadas verificou-se a existência de 2 grupos fazendo fogo de frente e de flanco e manobrando as suas forças de modo a: um fixar as NT e outro procurar envolver. Solicitada a presença do heli-canhâo o IN deixou de ser referenciado. Continuando a progressão verificaram-se várias manchas de sangue o que leva a concluir por baixas no grupo IN. Encontrado um velho mandiga, coxo e agarrado a um pau, interrogado, declarou que o chefe do IN da área era Quemo Darame e que o acampamento do material se encontrava em Tambicó (se tinham mudado de Samba Culo para Tambicó, é a táctica normal da guerrilha... quando fui a Samba Culo Tambicó estava desabitado), a Sul do rio Canjambari. Declarou haver sentinelas nesse acampamento e também em Samba Culo. Este não tem material e serve de protecção a Tambicó. Informou ainda que o único acampamento existente naquela zona era aquele para onde nos dirigimos. Encontrada a tabanca por alturas da região de Farim 6 e C 5.65, perto da bolanha foram destruídas numerosas moranças e um acampamento de guerrilheiros mais afastado, com 15 cubatas. Este acampamento já havia sido atingido com 3 bombas de avião e apenas se encontraram alguns artigos sem interesse militar. Nas moranças da população foram destruídos numerosos celeiros contendo cerca de 3 toneladas de arroz, vários recipientes com óleo de palma e outros mantimentos. Foram ainda destruídos outros artigos como panos, utensílios, livros de instrução primária, cadernos, lousas e um papel tendo escrito os nomes de Malan Mandja, Mamadi Mandja e Bucaro Danfa, do antecedente já referenciados."

Quer dizer que, em meados de 1971, ainda se andava no jogo do toca e foge a norte de Banjara. E também verifico que já não era companhia de Geba que lá andava. De Sinchã Jobel só sei que, após aquelas seis operações, foi considerada ZLIFA (Zona Livre de Intervenção da Força Aérea) para despejo de bombas (ainda encontrei lá uma em Abril de 2006). As coisas continuavam, mais destruição menos destruição de tabancas, mais apreensão menos apreensão de armamento. E eles continuavam a ter apoios para a sua sobrevivência, em alimentação, população e armamento. E nós não.



Acho que não íamos ganhar aquela guerra.

A. Marques Lopes


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Notas:

1. A. Marques Lopes, ex- Alf Mil Inf ( hoje Cor DFA, reformado), CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro)

2. Adapatação do texto da responsabilidade de vb;

3. artigos relacionados em:

13 de Julho > Guiné 63/74 - P3057: A Guerra estava militarmente perdida? A situação político-militar na Guiné (26). A. Marques Lopes.