terça-feira, 15 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2763: Bibliografia de uma guerra (27): A geração do fim e a CCAÇ 555, Cabedu, Cantanhez, 1963/65, do Cap António Ritto (Miguel Ritto)

Quando os nossos filhos falam


1. Mensagem do Miguel Ritto, filho do então Capitão António Ritto que esteve a comandar a CCaç 555 em Cabedú, Cantanhez, entre 1963 e 1965.

12 de Janeiro de 2008

Caro Luís Graça,

Já há bastantes dias que não visito o seu blogue (caso não se recorde, eu sou o filho do Capitão António Ritto que foi um dos oficiais que escreveu no livro Infantaria - A Geração do Fim um capítulo sobre a sua experiência a comandar a CCaç 555 de 1963 a 1965 na mata do Cantanhez).


Tenho muito pouco tempo livre, e por isso em tempos pedi-lhe para me retirar da sua lista de difusão de e-mails. Solicito que assim continue, pois tenho muita dificuldade em dar vazão a toda a sobrecarga de trabalho que me leva frequentemente a ter que passar umas 3 horas à noite a tratar de assuntos de trabalho... porque as 8 ou 9 horas na empresa não são suficientes.

No final de Dezembro o meu pai foi a Oeiras a uma apresentação do livro Milicianos-Os peões das nicas que espero vir a ler em breve.

Também vi no seu blogue que o Beja Santos vai lançar um livro, e informei o meu pai.

Voltei a olhar para o seu blogue porque o meu pai me pediu para rever um excelente texto que convenceu o Sargento Norberto Gomes da Costa a escrever,  contando a sua experiência na CCaç 555 na Guiné entre 1963 e 1965. O texto foi escrito para divulgação no encontro anual dos elementos desta Companhia.


Não sei se posteriormente será proposto para publicação em livro, juntamente com crónicas de outros autores, mas se não for esse o caso, não hesitarei em sugerir que lho apresentem para incluir no blogue, se assim o entender.

Em questões de história, sempre adorei conhecer os relatos de ambos os lados...

Recordo-me de uma vez ter dito a um espanhol que na História apresentada em programas televisivos se constatava que eles foram impiedosos ao chacinarem as populações índias... e ele perguntou-me o que é que os Portugueses foram quando adaptaram os porões dos barcos para transportarem escravos africanos em camadas, acorrentados em viagens de 1 mês ou mais... morrendo uma elevadíssima percentagem, que era deixada nos porões acorrentada aos que sobreviviam...

Realmente temos tendência para afirmar que os Ingleses é que eram racistas, e que nós Portugueses nos demos sempre bem com todos os povos, mas provavelmente estamos iludidos pela desinformação lançada pelo Estado Novo.

Provavelmente o que nós tínhamos era uma percentagem muito maior de analfabetos, e de situações de extrema pobreza, e esses integraram-se bem com as populações indígenas, fosse na Índia, em Macau, ou em África...

Não precisávamos de ter autocarros para brancos e para negros em separado como na África do Sul... Bastava termos comboios com carruagens de 1ª, de 2ª e de 3ª classe.

Vivi em Moçambique de 1967 a 1969 (quando tinha 5 a 7 anos) durante uma comissão do meu pai ainda como capitão (em Marrupa, para os lados de Moeda, e no Fingoé, entre Tete e Cabora Bassa).

Só fomos à civilização (Tete, Nampula, ou Beira) nas poucas férias do meu pai, e depois da longa viagem em coluna militar até Tete, penso que já se apanhava o comboio (ou então ainda tínhamos mais uma jornada de autocarro)... Ainda me lembro que para irmos ao bar no wagon-lit tínhamos que atravessar muitas carruagens de 3ª...


Antes de abrirmos a porta eu enchia os pulmões e tentava correr até à porta do outro lado, sem ter que inspirar, porque o cheiro era terrível entre as galinhas, as pessoas com falta de sabão, e a má ventilação... Tenho a ideia de que haveriam carruagens de 2ª em que se encontravam negros mais abastados, e também brancos. Mas não me recordo de ver negros em 1ª classe (embora a memória me possa atraiçoar, pois já lá vão 40 anos e eu só tinha 6 anos).

É verdade que a média dos africanos continua a viver em más condições (ou piores) e agora, em vez de o rendimento ser canalizado para os cofres do país colonizador, passou em muitos casos a ir para o bolso dos governantes locais...


Mas também é um exagero dizer-se que os portugueses tratavam muito bem os africanos, porque qualquer família de classe média branca tinha lá em casa 3 ou 5 africanos a tratarem da lida da casa... Também há muitos que acham que não éramos racistas porque até tinham um negro lá em casa a servir à mesa... mas esquecem-se de dizer que usava luvas brancas e uma farda branca...

Voltando à importância de ver a Guerra dos 2 lados, dei noutro dia com a seguinte publicação que também faz referência a várias outras publicações:

http://links.jstor.org/sici?sici=0899-3718(199807)62%3A3%3C571%3ATLWIGR%3E2.0.CO%3B2-G

Um abraço

Miguel
__________

Nota de vb: fixação e adaptação do texto da responsabilidade do editor.


Artigos relacionados em

21 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2121: Questões politicamente (in)correctas (33): Dulce et decorum est pro patria mori ? (J.A. Lomba Martins)

23 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1624: Bibliografia de uma guerra (17): A geração do fim ou a palavra a 21 oficiais de infantaria, de 1954/57 (Miguel Ritto)

Guiné 63/74 - P2762: PAIGC: Instrução, táctica e logística (11): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XI Parte): A máquina logística (A. Marques Lopes)

Guiné > Região, possivelmente do sul, controlada pelo PAIGC > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 14 > TRasnporte de sacos de arroz ... As autoridades militares portugueses subestimaram, inicialmente, o génio organizativo de Amílcar Cabral e dos demais dirigentes e militantes do PAIGC. Em 1971, num documento produzido pela inteligência militar do Estado-Maior de Spínola, reconhecia-se a real importância da logística do PAIGC, mesmo não tendo os meios (navais, aéreos e terrestres) das NT...

Guiné > Região do interior (possivelmente, no sul) controlada pelo PAIGC > Visita de uma delegação escandinva às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 19 > Uma pequena enfermaria ou hospital de campanha, com camas e lençóis brancos. Na foto, vê-se uma enfermeira.

Guiné > Região (no interior, possivelmente no sul) controlada pelo PAIGC > Visita de uma delegação escandinva às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 31 > A piroga era uma dos meios de transporte mais adequados à guerrilha, nomeadamente no apoio às colunas logísticas. Contrariamente à ideia que se fazia, na época, as colunas de reabastecimento do PAIGC eram compostas por cerca de 30 elementos civis. Julgo que por razões de segurança e dificuldades de recrutamento de carregadores. A estes elementos deveria acrescentar-se a escolta, presume-se.


Guiné > Região controlada pelo PAIGC > Novembro de 1970 > Foto nº23 > Uma consulta médica, ao ar livre. Em primeiro plano, um enfermeiro (presume-se) e a "farmácia ambulante".

Guiné -Conacri (?) > Base do PAIGC em Kandiafara ? > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 30 > Uma sala de esterilização de um hospital do PAIGC

Guiné > Região controlada pelo PAIGC, possivelmente no sul > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 25 > Progressão, na savana arbustiva, por meio do capim alto, de um grupo de guerrilheiros. Presume-se que as colunas logísticas do PAIGC tivessem segurança por parte da milícia ou do exército populares...


Guiné > Região controlada pelo PAIGC , possivelmente no sul > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 7 > Uma aldeia, possivelmente no Cantanhez (onde a tropa portuguesa não entrava desde 1966)


Guiné > Região controlada pelo PAIGC > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 29 > Aproximação de guerrilheiros a uma aldeia

Guiné > Possivelmente numa base do PAIGC, no sul, na região fronteiriça > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 28 > Transporte de sacos de arroz em viaturas soviéticas. Segundo a inteligência militar portuguesa, o PAIGC dispunha, na Guiné Conacri, de cerca de 4 dezenas de camiões russos (havia dois modelos, o Gaz e o Gil) , que faziam o transporte dos abastecimentos de Conacri até a Kandiafara e, depois de queda de Guileje, em 22 de Maio de 1973, até mesmo para lá das fronteira... Recorde-se que o corredor de Guiledje (também chamado Caminho do Povo e Caminho da Liberdade) estendia-se de Kandiafra, Simbel e Tarsaiá (Guiné-Conacry) a Gandembel, Balana, Salancaur e Unal (na Guiné-Bissau).

Este corredor foi, para o PAIGC, o maior e mais importante corredor de infiltração e de abastecimento ao longo de toda a guerra. A sua função estratégica potenciou-se consideravelmente após o assalto ao quartel de Guiledje em Maio de 1973 até sensivelmente depois do 25 de Abril, quando se instituíram as tréguas entre os contendores. Depois do 25 de Avril e das tréguas estes camiões passaram mais vezes a transpor a fronteira desde Kandiafara, passando por Gandembel e parte importante do Carreiro de Guiledje no sentido Gandembel-Salancaur e Porto de Santa Clara.

Guiné > Região controlada pelo PAIGC, possivelmente no sector de Bedanda ou Cacine > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº35 > Magnífica imagem de uma bolanha, com produção de arroz. Parte da população controlada pelo PAIGC tinha que ser reabastecida, em arroz, alimentação-base, por não ser autosuficiente. Como se pode ler no Supintrep, "este reabastecimento não se processa, no entanto, de igual modo para as duas Inter-Regiões, pois que (...), enquanto a Inter-Região Sul (à excepção da Frente Bafatá/Gabú Sul) é auto-suficiente na produção do alimento base, o arroz, a Inter-Região Norte não produz hoje o necessário para se abastecer, pelo que, além das colectas efectuadas às populações controladas, se torna necessário enviar para as bases da fronteira e interior quantidades muito apreciáveis deste produto".

Guiné-Bissau > PAIGC > Novembro de 1970 > Imagens obtidas algures, nas bases sediadas na Guiné-Conacri, e nos regiões libertadas do sul (possivelmente, Cantanhez), pelo fotógrafo norueguês Knut Andreasson. Recorde-se que o fotógrafo norueguês acompanhou uma delegação sueca (tendo à frente a antiga líder do parlamento sueco, Birgitta Dahl) na visita às regiões libertadas da Guiné-Bissau, em Novembro de 1970.

Segundo o sítio da
Nordic Africa Institute (uma agência dos países nórdicos, com sede na Suécia, em Upsala ), esta visita deu-lhe oportunidade de falar com Amílcar Cabral, em pleno palco da luta pela independência, e ficar a conhecer melhor o PAIGC, a guerrilha e a sua implantação no terreno.

Andreasson e Dahl publicaram mais tarde um livro em sueco sobre essa viagem. Andreasson, por sua vez, realizou uma exposição fotográfica e publicou um álbum fotográfica sobre esta visita. A maior parte das fotos deste período foram doadas ao Nordic Africa Institute pela viúva de Andreasson. A exposição foi , por sua vez, doada à
Fundação Amílcar Cabral pelo Nordic Africa Institute, sendo apresentada por Birgitta Dahl, a antiga líder do Parlamento Sueco, por ocasião das celebrações do 80º aniversário de Amílcar Cabral, em Setembro de 2004.

A Suécia foi o país ocidental que mais apoio deu ao PAIGC, no plano político, diplomático, humanitário e financeiro. Os manuais escolares eram impressos na Suécia. Este país escandinavo, nomeadamente sob a liderança do social-democrata Olof Palme (1927-1986), também fornecia gratuitamente ao PAIGC material médico e sanitário, como se reconhece no Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, que temos vindo a publicar.

As fotos acima ilustram alguns aspectos da máquina logística do PAIGC de cuja grandeza e complexidade muitos de nós, combatentes portugueses, no terreno, não tínhamos uma ideia exacta... Ao ler este documento, insuspeito, ficamos a saber que a população e a guerrilha do PAIGC, no interior do TO da Guiné, era abastecida regularmente (em alimentos, medicamentos, armamento, equipamento, etc.). Ficamos a saber que havia evacuações (incluindo por meios aéreos) de feridos graves para os hospitais de rectaguarda (Ziguinchor, no Senegal; Conacri, Koundara e Boké, na Guiné-Conacri). Devo, no entanto, acrescentar que foi recentemente desmentida, por uma histórica e mítica dirigente do PAIGC, Carminda Pereira - no Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008) - que houvesse helicópteros ("O PAIGC nunca teve helicópteros ou outras aeronaves"). Agora também é verdade que foi fundamental para o PAIGC o apoio, sem reservas, dado pelo regime de Sékou Touré. Já no Senegal, o PAIGC não se movimentava tão à vontade.


Ficamos também a saber que havia evacuações de feridos graves, em tratamento, para outros países estrangeiros (nomeadamente, da Europa de Leste). Que nesses hospitais, na rectaguarda, havia médicos, estrangeiros, tanto ocidentais (por exemplo, holandeses) como do bloco soviético (cubanos, jugoslavos e russos). Curiosamente não se faz menção do português, natural de Angola, o Dr. Mário Pádua, médico, que desertou das fileiras do nosso exército, Angola, e dedicou parte da sua vida, como médico e como militante, ao PAIGC, no Hospital de Ziguinchor, Senegal)(Vd. o seu depoimento no filme-documentário de Diana Andringa e Flora Gomes, As Duas Faces da Guerra, 2007).

Este excerto do Supintrep sobre a logística do PAIGC deve ser lido em complemento do que já aqui escrevemos sobre a importância estratégica que tinha o corredor de Guileje e o significado da queda de Guileje (1).

Fonte:
Nordic Africa Institute (NAI) / Fotos: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a competente autorização do NAI) (2) (As fotografias tem numeração, mas não trazem legenda. Legendagem de LG).


Continuação da publicação do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado na época como reservado, de que nos foi enviada uma cópia, em 18 de Setembro de 2007 pelo nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, Cor DFA, na situação de reforma, e a quem mais uma vez agradecemos publicamente (3):

PAIGC - Instrução, táctica e logística (11): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (Parte XI) > Logística


LOGÍSTICA

a. Generalidades


Para satisfação das necessidades resultantes da actividade desenvolvida, o PAIGC organizou nos países limítrofes (República do Senegal e República da Guiné) um “complexo logístico” com a finalidade de introduzir no nosso território os meios indispensáveis à manutenção do seu esforço de guerra. Os órgãos centrais dessa “máquina” – armazéns de víveres, depósitos de armamento e munições, de combustíveis, medicamentos, oficinas e fardamento – encontram-se em Conakry, om órgãos de menor capacidade em Boké, Kandiafara, Kambera, Foulamory e .

É pois a partir de Conakry que cerca de quatro dezenas de viaturas de fabrico soviético (marcas Gas e Gil) estabelecem a ligação entre os pontos atrás referidos, transportando pessoal, material e víveres.

Para Boké e Kandiafara e também Bissamala, onde o PAIGC dispõe de um complexo logístico de apoio ao Quitafine, é aproveitada ainda a navegabilidade dos rios Nunez e Kandiafara, os quais são percorridos por um conjunto de barcos de carga de que se destacam:

AROUCA (BI 72 L) – ex-SAGRES, é uma lancha a motor, casco de aço, casa de motor, porão e escotilhas, um mastro. O motor é Diesel Kelvin K3, n.º 26927, de 3 cilindros de 66HP e 750 RPM; tem 15,40 m de comprimento, 4,10 m de boca e capacidade para 19,700 tons. de carga.

MIRANDELA (BI 112 L) – ex-SADO, é um batelão a reboque, casco de ferro, alojamento para a tripulação com seis beliches, duas escotilhas, um porão de carga com duas coberturas de ferro corrediças que lhe servem de tampa, um mastro de ferro com dois paus de carga, motor com potência de 95/105 HP, 24,40 m de comprimento, 4,82 m de boca e capacidade para 65,054 tons. de carga.

2 BARCAÇAS – tal como são denominadas, que se julga tratar de duas embarcações tipo lancha de desembarque, talvez semelhantes às LDM da nossa marinha.

Os abastecimentos são enviados mensalmente de Conakry para as bases logísticas de apoio, sendo destinados ao mês seguinte, com níveis que se julgam bastante baixos, pois que, quando o reabastecimento se atrasa, que é frequente, logo as bases do interior insistem na sua falha. São polivalentes, incluindo géneros alimentícios, gasolina e óleos, material e munições.

Estas remessas são feitas nos últimos dias do mês, dando origem a concentrações de viaturas em Conakry.

Efectuados que são os reabastecimentos, algumas viaturas e embarcações regressam a Conakry, fazendo no retorno o escoamento dos produtos agrícolas cultivados nas “regiões libertadas” (arroz, milho, coconote...) e ainda evacuações, quer de feridos ou doentes, quer de material inoperacional.


b. Apoio exetrior à actividade logística


Em 21 de Março de 1966 foi celebrado um “protocolo” entre o Governo Senegalês e o PAIGC que estabelecia as modalidades de cooperação entre as autoridades senegalesas e os responsáveis do PAIGC, o qual, fundamentalmente, assenta nos seguintes pontos:

- Serão fixados pontos de reagrupamento obrigatórios pelas autoridades senegalesas para o estacionamento prolongado dos militantes combatentes. Os militantes combatentes detentores de armas e de munições deverão entregá-las obrigatoriamente nestes centros nas mãos das autoridades senegalesas. Toda a entrada de armas ou material destinado ao PAIGC em território senegalês deverá fazer-se com o acordo das autoridades encarregadas da segurança, que tomarão posse e assegurarão a entrega nas condições a definir.
- Para permitir aos militantes e combatentes do PAIGC abastecerem-se em território senegalês, os responsáveis designados pelo PAIGC devem dirigir-se às Autoridades Administrativas que se esforçarão para satisfazer os pedidos em toda a medida do possível. Este fornecimento de mercadoria e artigos diversos não são gratuitos.
- Os militantes e os combatentes do PAIGC doentes ou feridos beneficiam, como no passado, dos cuidados dispensados pelas formações sanitárias senegalesas.
- Para permitir a identificação dos militantes, os únicos beneficiários destas medidas, os responsáveis do PAIGC comprometem-se a entregar-lhes os documentos de identidade com fotografia e a remeter às Autoridades Senegalesas encarregadas da segurança a lista completa destas pessoas com os talões.
- Estas facilidades concedidas aos militantes e combatentes do PAIGC são susceptíveis de serem anuladas unilateralmente pelas Autoridades Senegalesas devido a factos imputáveis ao PAIGC ou devido a circunstâncias particulares.

Como se verifica analisando o teor do acordo, este, a ser cumprido, implicaria uma série de restrições que, em boa verdade, e com excepção de algumas alíneas, nunca foram totalmente impostas, continuando o PAIGC a proceder quase como se o referido acordo não existisse e com liberdade de acção em todo o Casamansa, muito provavelmente até pela força do Partido naquela região.

Muito mais amplo, no entanto, é o apoio incondicional dado pelo Governo de Sékou Touré ao PAIGC, que tem na Rep Guiné, como já se referiu, além dos órgãos de direcção central e de apoio logístico de base, uma total liberdade de circulação nos itinerários, as mais amplas facilidades de instrução militar das FARP e de educação dos futuros quadros, assistência sanitária e hospitalar, instalações e até empréstimos de material de guerra, quando o PAIGC dele carece.

Salienta-se, no entanto, que, dada a excentricidade de determinados “departamentos” fronteiriços, o que os liberta de certo modo do controle eficaz dos Governos Centrais, o apoio concedido ao PAIGC depende muitas vezes das Autoridades Civis e Militares que superintendem esses Departamentos, embora não o afectando e sendo este aspecto mais palpável na Rep Senegal.

O apoio concedido por outros países africanos não fronteiriços não tem significado, traduzindo-se apenas em manifestações de “solidariedade política”, o que, aliás, sucede com a maioria dos países e organizações internacionais, à excepção dos referidos em 3.a [do Supintrep].

c. Fabrico, confecção e manutenção


Muito pouco tem sido assinalado sobre o “fabrico, confecção e manutenção” presumindo-se, por isso, que, neste capítulo, o PAIGC está ainda numa fase muito incipiente. Admite-se que, nas oficinas referenciadas em Conakry, Boké, Kandiafara, Koudara e Ziguinchor, execute diversos escalões de manutenção do seu material auto, a qual se julga eficaz, dado que as dificuldades neste campo decorrem normalmente da quantidade e não do aspecto funcional. Igualmente se admite que as oficinas instaladas em Conakry para o efeito procedem a determinadas beneficiações no seu material de guerra, dadas as “evacuações” detectadas.

Em Boké está referenciado um estaleiro naval onde se procede a reparações nos barcos que o PAIGC possui.

Quanto ao “fabrico”, além da execução e arranjo de alfaias agrícolas e utensílios domésticos por processos rudimentares, há a referir, ligada aos Serviços de Economia e Produção e dentro do âmbito das actividades do Comité da Inter-Região Norte, a existência, algures na região do Morés, de uma pequena fábrica de sabão (marca Lolo), aproveitando a abundância da matéria prima utilizada, o óleo de palma. Muito embora não detectadas, admite-se a existência de outras fábricas deste tipo.

d. Alimentação


Mensalmente, tal como acontece com a generalidade dos reabastecimentos, são enviados de Conakry para as bases de apoio às Inter-Regiões géneros alimentícios, nomeadamente arroz, açúcar, sal e conservas, os quais são depois distribuídos pelos efectivos estacionados ao longo da fronteira e interior.

Este reabastecimento não se processa, no entanto, de igual modo para as duas Inter-Regiões, pois que, como veremos, enquanto a Inter-Região Sul (à excepção da Frente Bafatá/Gabú Sul) é auto-suficiente na produção do alimento base, o arroz, a Inter-Região Norte não produz hoje o necessário para se abastecer, pelo que, além das colectas efectuadas às populações controladas, se torna necessário enviar para as bases da fronteira e interior quantidades muito apreciáveis deste produto.

Em quase toda a Província o IN procede a colectas de arroz nas tabancas sob o seu controle. Estas colectas são feitas por tabancas ou por áreas e delas se encarrega o chefe da tabanca que faz a cobrança junto de cada morança, ou um delegado da área que tem por missão reunir o arroz colectado pelos cobradores distribuídos pelas tabancas da referida área.

Depois de reunido o arroz colectado é aguardada a chegada dos grupos que o vão buscar a cada uma das áreas ou tabancas. Estes grupos têm um efectivo de cerca de 10 elementos armados de maneira a poderem reagir a possíveis encontros com as NT. Por vezes vão efectivos maiores, cerca de 30 a 40 elementos, que se admite seja devido ao conhecimento que o IN possa ter da presença das NT na região.

A colecta exigida varia com a época do ano, razão por que na época seca as colectas são maiores que na das chuvas.

Do estudo feito a documentos bem como de declarações prestadas por elementos IN capturados pelas NT, é possível concluir da maneira como se processa o reabastecimento de géneros alimentícios às unidades IN sediadas ao longo da fronteira, bem como aos efectivos no interior. Assim:

Para as Unidades da Fronteira

Ao longo da Fronteira, as populações refugiadas encontram-se organizadas político-administrativamente, pelo que encontramos entre elas os comités de tabanca e de secção, órgãos primários da estrutura político-administrativa do PAIGC. As bases e acampamentos IN que se situam nesses locais apoiam-se nessa organização, do que resulta serem os referidos órgãos os encarregados de proverem aos reabastecimentos, efectuando colectas e, de seguida, a entrega dos géneros obtidos. Por outro lado, as unidades em deslocamentos ao longo da fronteira e em contacto com as referidas populações vão também efectuando, por sua vez, colectas.

Para as Unidades do Interior (só Inter-Região Norte)

Só a partir do corrente ano passaram a ser detectadas colunas de reabastecimento de arroz que, idas das bases logísticas do Casamansa, se destinem a prover as necessidades do interior.

Assim, a partir de Koundara o arroz é canalizado especialmente para a base de Cumbamore em colunas de viaturas, sendo depois transportado para o interior por colunas de carregadores através dos corredores de infiltração, como oportunamente se referirá.

e. Saúde

(1) O Desenvolvimento do Serviço de Saúde no PAIGC

Vencendo inúmeras dificuldades, resultantes muito especialmente da falta de quadros logo após a eclosão da luta armada, o PAIGC começou a instalar pouco a pouco em diversos pontos das Regiões Libertadas alguns postos de saúde, onde colocou os poucos enfermeiros que o Partido à data dispunha.

Sendo este número, porém, insuficiente, e segundo directivas da Direcção do Partido, estes enfermeiros procuravam dar a outros elementos recrutados nas escolas na Milícia Popular uma preparação mínima que lhes permitisse auxiliá-los no seu trabalho. Foram assim iniciados no serviço de enfermagem muitos elementos que, muito embora carecendo de preparação teórica, foram solucionando o problema até à formação e Escolas de Enfermagem no interior, entre as quais se destaca a Escola de Ajudantes de Enfermagem do Morés.

Entretanto, e dada a insuficiência a que estas escolas ainda conduzem, o Partido, no sentido da formação o pessoal qualificado necessário a um funcionamento mais eficaz dos centros de saúde, tem enviado para o estrangeiro muitos jovens que aí seguem estudos práticos de enfermagem e medicina, de modo a poder dispor, a curto prazo, de um número sempre crescente de pessoal capaz, o que irá permitir uma progressiva melhoria da actividade do Partido no domínio da saúde.

(2) O auxílio estrangeiro

Como já se referiu, o auxílio estrangeiro ao PAIGC no domínio da saúde reveste-se de uma importância muito grande, dado que é através do fornecimento de bolsas de estudo para a frequência de cursos médicos e de enfermagem que o PAIGC obtém elementos qualificados de cuja carência tanto se ressente. Assim, numerosos bolseiros do PAIGC cursam Medicina na Rússia e na Bulgária, enfermagem na Bulgária e Cuba e Profilaxia e Higiene Social na Checoslováquia.

Não termina, porém, aqui o auxílio estrangeiro ao Partido, pelo que se caracteriza também na cedência de pessoal médico, pelo que vamos encontrar médicos cubanos, jugoslavos, russos e holandeses nos principais estabelecimentos hospitalares. Este auxílio é completado com o fornecimento gratuito de medicamentos e material sanitário por parte de Cuba e dos países do Leste da Europa, revestindo-se também de particular importância a contribuição dada por particulares da Europa Ocidental, nomeadamente a Fundação Mondlane, com sede em Haia, e a Suécia.

(3) Como é prestada a assistência sanitária

A assistência sanitária aos combatentes e populações sob o controle IN é realizada através de enfermarias e hospitais existentes no interior do TO, formações sanitárias muito rudimentares, quase nunca dispondo de médico.

Os indisponíveis que denunciam casos graves são transportados em macas improvisadas desde essas enfermarias ou hospitais para as bases fronteiriças, onde normalmente o PAIGC dispõe de instalações mais apetrechadas, e daqui, em automacas ou viaturas de transporte, senão mesmo em meios aéreos, para os hospitais de Conakry, Ziguinchor, Koundara ou Boké.

No capítulo da assistência sanitária, mormente nos hospitais e enfermarias do interior, além da falta de pessoal qualificado surge ainda toda uma série de condicionamentos, nomeadamente o reabastecimento irrregular dos medicamentos, a conservação do sangue para transfusões e o transporte e feridos graves para o exterior, que muito afectam o funcionamento normal do serviço.

(4) Orgnização dos serviços de saúde (civil e militar) do PAIGC


Tanto quanto os elementos disponíveis o permitem, julga-se que estes centros sanitários (hospitais e enfermarias) se dividem em dois ramos, o civil e o militar, dependentes de entidades distintas.

No meio civil, ainda em estado incipiente de organização, compreenderá enfermarias ou mesmo hospitais existentes nas áreas libertadas, os quais se destinam a prestar assistência às populações controladas pelo IN. Estas enfermarias são accionadas nos escalões administrativos a que correspondem pelos responsáveis da Saúde dos respectivos Comités, e destacam, com o fim de efectuarem uma cobertura eficaz das respectivas zonas, brigadas sanitárias que percorrem as tabancas que não dispõem de serviço de saúde próprio. Julga-se que a saúde civil esteja dependente, a nível superior, da Direcção para os Assuntos Sociais do Departamento para os Assuntos Sociais e Cultura.

No ramo militar, o serviço de saúde encontra-se já num grau de desenvolvimento diferente, dispondo de estabelecimentos hospitalares (no exterior) de apreciáveis recursos. Julga-se que no topo de toda a organização sanitária militar se encontra o Serviço de Saúde do Departamento da Defesa, o qual acciona três Secções Sanitárias (Ziguinchor, Koundara e Boké) que abrangem todo o TO e zonas fronteiriças dos países limítrofes. Estas Secções Sanitárias corresponderam às três Frentes (Norte, Leste e Sul) em que o IN dividia o TO até à reorganização levada a efeito durante o ano de 1970, mas mantendo actualidade mesmo depois desta reorganização.

Cada Secção dispõe de um Hospital Central, dela dependendo os hospitais e enfermarias correspondentes aos Sectores e Frentes. As unidades, por sua vez, dispõem também de enfermeiros responsáveis pela assistência sanitária imediata aos guerrilheiros.

Continua

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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

2 de Fevereiro de 2008
Guiné 63/74 - P2499: Guiledje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (13): Enquadramento histórico (I): a importância estratégica de Guileje

3 de Fevereiro de 2008 >
Guiné 63/4 - P2502: Guiledje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (14): Enquadramento histórico (II): o significado da queda de Guileje

16 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2650: Uma semana involvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (6): No coração do mítico corredor de Guiledje

17 de Março de 2008 > Guine 63/74 - P2655: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (7): No corredor de Guiledje, com o Dauda Cassamá (I)

17 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2656: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (8): No corredor de Guiledje, com Dauda Cassamá (II)


(2) Mensagem anterior da
Webmaster do NAI:

Dear Luís Graça, I am glad to hear that you like the photos and that you use them. Best regards,

Agneta Rodling
Information/Webb
Nordiska Afrikainstitutet
The Nordic Africa Institute
Box 1703,
SE-751 47 UPPSALA
Tel +46-18 56 22 21

Mensagem enviada hoje pelo editor do blogue:

Dear Agneta:

I have written to you recently. My name is Luis Graca. I am the founder and main editor of the Portuguese blog Luis Graca & Camaradas da Guine, centred on the individual and collective experience of Guinea Bissau colonial war / liberation struggle, during the period of 1963/74.

Please notice that I have used again some photos from your album on Guinea-Bissau (see the text posted today, on my blog; subject: PAIGC logistics during the liberation struggle)… Blog members are war veterans, ancient fighters of both sides, or their relatives and friends of Portugal and Guinea-Bissau.

I have used, with your kind permission, the following photos, taken in November 1979, by Knut Andreasson: 07, 023, 025, 029, 030, 031, 032, 035 and 038.

Our blog has no commercial purpose, it intends to be a bridge of peace, reconciliation, co-operation and friendship and but also an information and knowledge database (research and dissemination, photo and paper documentation, poetry, life stories, fiction, scientific meetings, social events…). And my self, I appreciate very much your institutional support to the people of Guinea-Bissau.

Please feel free to use also our web materials.
Many thanks.
Luís Graça



(3) Vd. postes anteriores, desta série:

22 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte) (A. Marques Lopes)

24 de Setembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2126: PAIGC - Instrução, táctica e logística (2): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (II Parte) (A. Marques Lopes)

1 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2146: PAIGC - Instrução, táctica e logística (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte) (A. Marques Lopes)

8 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2164: PAIGC - Instrução, táctica e logística (4): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IV Parte): Emboscadas (A. Marques Lopes)

29 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2228: PAIGC - Instrução, táctica e logística (5): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (V Parte): Flagelações (A. Marques Lopes)

4 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2327: PAIGC - Instrução, táctica e logística (6): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VI Parte): Minas I (A. Marques Lopes)

17 de Janeiro de 2008 >
Guine 63/74 - P2446: PAIGC - Instrução, táctica e logística (7): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VII Parte): Minas II (A. Marques Lopes)

19 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2454: PAIGC - Instrução, táctica e logística (8): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VIII Parte): Minas III (A. Marques Lopes)

13 de Fevereiro de 2008
Guiné 63/74 - P2535: PAIGC - Instrução, táctica e logística (9): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IX Parte): Defesa anti-aérea (A. Marques Lopes)

7 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2730: PAIGC - Instrução, táctica e logística (10): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (X Parte): Organização defensiva (A. Marques Lopes)

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2761: Convívios (53): CART 2412, no dia 17 de Maio de 2008 em Paços de Ferreira (Afonso Sousa)

1. Conforme informação do nosso camarada Afonso M. F. Sousa, ex-Fur Mil Trms, damos notícia do Convívio da CART 2412, (Bigene, Binta, Guidage e Barro) a realizar no dia 17 de Maio em Paços de Ferreira


CART 2412 > Sempre Diferentes

Porto, 27 de Março de 2008

Caros Companheiros
É com a maior satisfação que temos a honra de organizar o nosso Convívio Anual, que se realiza no dia 17 de Maio próximo, na Freguesia de Ferreira, no Concelho de Paços de Ferreira; em homenagem ao nosso companheiro falecido, Brandão. (Último companheiro - 2007)

A chegada está marcada para as 11 horas no Mosteiro de Ferreira (Monumento Nacional) e daí se fará uma romagem ao Cemitério, ao túmulo do nosso companheiro.

O Almoço realizar-se-á na Quinta das Palmeiras em Figueiró, Paços de Ferreira; terá o preço de 25€ por pessoa

Agradecemos a confirmação até ao dia 9 de Maio para os telefones:

António Machado - 917 508 280
Bento Machado - 914 067 463
Godinho - 917 508 292

Um grande abraço, até lá!

Guiné 63/74 - P2760: Notas de leitura (8): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros... ou a guerra que não estava perdida (A.Graça de Abreu)

Mensagem do António G. de Abreu, de 7 de Abril:

Meu caro Luís,

Enviei-te o mail abaixo (1) em Dezembro passado. Podias ter aproveitado qualquer coisa para o blogue. Mas não é por isso que te escrevo.
Estou a preparar um texto sobre uma questão fundamental da História da Guiné-Bissau e da História das Guerras de África e esse texto, peço-te que publiques no blogue. Por uma questão de higiene, pela veracidade e rigor que a História deve ter.

Estive na Guiné de 72 a 74, num comando de operações, no norte (Teixeira Pinto), no centro (Mansoa) e os últimos onze meses no sul (em Cufar, até Abril de 1974.

A guerra não estava militarmente perdida, ao contrário do que muita gente afirma e referiu recentemente no blogue o Beja Santos na crítica infeliz ao livro do Manuel Bernardo, "em 1973/74 (...) o PAIGC passou a ter a total iniciativa entre o norte e o leste, em todo o espaço fronteiriço com a Guiné-Conakry."


A tese de que a guerra, no terreno, estava perdida, é uma tese falsa, não corresponde à realidade. A tese de que depois de Maio de 1973, quando foram abatidos os cinco aviões pelos mísseis do PAIGC, as NT passaram a não ter apoio aéreo e por isso a superioridade do PAIGC passou a ser evidente e esmagadora, também é falsa.


Sei do que falo, e comigo muitos camaradas que estiveram nessa altura na Guiné. A partir de Julho de 1973 até Abril de 1974, os aviões continuaram a voar, com muito mais cuidado, é verdade, a "rapar", etc., mas continuaram a bombardear, continuaram (os helicópteros) a fazer evacuações directamente no mato, a levar géneros e frescos, a transportar carga, pessoal e armamento, sobretudo os Nord-Atlas, estes para Cufar, Bafatá e Nova Lamego.

Quem controlava a esmagadora maioria das cidades vilas e aldeias, com as suas populações, era ou não era o exército português?

É preciso demonstrar a falsidade de algumas teses. Sem nenhum patriotismo ou nostalgia de um passado bolorento quando um regime autocrático e cego nos enviou para África.

Vou fazê-lo num texto que te enviarei dentro de dias.

Um forte abraço

António Graça de Abreu
________________________

Notas: adaptação do texto e sublinhados da responsabilidade de vb.

(1) Mensagem que o António G. Abreu nos enviou em 3 de Dezembro sobre a Companhia 4740 mais o médico Bagulho, camarada e amigo (e que não publicámos...sem perdão, Caro António):

Meu caro Luís
Não tenho dito nada, mas estou, dia a dia, atento ao blogue e há uma imensidade de camaradas com imenso para contar!

Eu contei quase tudo no meu livro Diário da Guiné 1972-1974.
O livro continua a circular com sucesso e fico sempre satisfeito por sentir que aqueles textos correspondem à vida de muitos de nós por terras da Guiné.

Estive sábado passado, dia 1 de Dezembro, em Fátima com o pessoal da Companhia 4740, os Leões de Cufar.

Reuniram-se pela primeira vez, ao fim de 33 anos e 161 dias. Foi uma festa!

Metade do meu livro tem a ver com a minha estadia em Cufar (Junho de 1973 a Março de 1974), vivências partilhadas com aqueles camaradas e amigos. Do cap mil João Gaspar da Silva (actualmente advogado em Alcobaça) aos alferes, furriéis, soldados, éramos trinta companheiros, quase irmãos, a recordar, por bem, tempos tão importantes, inesquecíveis da nossas vidas.

Esta é a Companhia do Enfermeiro António Manuel Salvador, que anda lá por Amesterdão e de vez em quando entra no blogue a falar de injecções sem dor dadas em Cufar a majores com vinte e poucos anos (não seria um tenente?...).

Eu não pertenci à 4740, mas ao CAOP1 (Comando de Agrupamento Operacional 1) e foi através do teu blogue que o pessoal que organizou este 1º convívio me descobriu. Ainda faltam mais homens da companhia 4740 e do meu CAOP 1.

Quem dá uma ajuda para nos descobrirmos e engrossarmos o leque majestoso destes quase heróis do fim da Guerra da Guiné?

Perguntas-me pelo Bagulho, o médico, cirurgião de Teixeira Pinto. Falo nele no meu livro, conheci-o bem quando cheguei a Teixeira Pinto, em Junho de 1972. Estava lá com outro médico, outro grande senhor chamado Pio de Abreu que é hoje professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e um dos maiores especialistas portugueses em Psiquiatria. Foram duas pessoas que me orgulho muito de ter conhecido.
Do Dr. Bagulho, filho do almirante Tierno Bagulho, sei que faleceu poucos anos depois de voltar da Guiné. Afinal tu conheces a viúva, a Raquel.

Infelizmente não tenho nenhuma fotografia do Bagulho e do Pio de Abreu, apenas uma onde apareço com o outro médico, o Mário Bravo, que veio substituir um deles em Teixeira Pinto. Um abraço ao Mário Bravo.

Meu caro Luís, agradeço-te por tudo, o blogue, a amizade, a disponibilidade para, via Guiné, nos reencontramos com os outros camaradas e connosco próprios.

Mais um abraço,
António Graça de Abreu
__________

Artigos relacionados em:

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2713: Notas de leitura (7): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros: Resposta a um Combatente (M. Amaro Bernardo)

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2711: Notas de leitura (6): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de M. Amaro Bernardo (Mário Fitas)

31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2706: Notas de leitura (5): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo (Mário Beja Santos)

30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2318: Notas de leitura (4): Na apresentação de Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80 (Virgínio Briote)

28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2308: Notas de leitura (3): Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, de Manuel Amaro Bernardo (Jorge Santos)

19 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P886: Terceiro e último grupo de ex-combatentes fuzilados (João Parreira)

31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXII: Mais ex-combatentes fuzilados a seguir à independência (João Parreira)

27 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVI: O colaboracionismo sempre teve uma paga (6) (João Parreira)

23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

6 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIX: Salazar Saliú Queta, degolado pelos homens do PAIGC em Canjadude (José Martins)

Guiné 63/74 - P2759: Convívios (52): BENG 447, Guiné (1964/74), dia 10 de Julho de 2008 em Fátima (Lima Ferreira)

1. A pedido dos nossos camaradas Lima Ferreira e Guedes Araújo, ex-Furiréis Milicianos do BENG 447, divulgamos o 25.º Encontro deste Batalhão.

BENG 447 - Que a Tamanhas Empresas se Oferece

2. É com o maior prazer que vimos convidar V.Exª. e Exma. família a participar num Almoço de Confraternização, a realizar no dia 10 de Maio de 2008, com o seguinte

PROGRAMA

07h30 - Porto - Partida da Rua Firmeza, 588
08h00 - Lisboa - Partida da Praça Dr. Francisco Sá Carneiro, 12-A

Viagem em moderno autopullman para Fátima

11h00 - Missa na nova Igreja da Santíssima Trindade
13h00 - Concentração no Restaurante Califórnia em Santa Catarina da Serra, seguida de Almoço de Confraternização com a seguinte

EMENTA:
Entradas - Martini, Vinho do Porto, Amendoins salgados, Pão, Broa, Azeitonas, Morcela, Linguiça assada, Queijo, Presunto e Salada de orelha de porco com grão.

Sopa - Creme de nabiças

Peixe - Bacalhau à Casa (posta) com batatinha assada no forno

Carne - Nacos de vitela com cogumelos, arroz e legumes

Bebidas - Vinho branco e tinto da Região, Águas minerais, Cerveja e Refrigerantes

Sobremesa - Delícia de maçã ou gelado

Digestivos - Café e Digestivo (Bagaço, Amêndoa amarga, Brandy e Whisky novo)

17h30 - Lanche - Caldo verde, Pão, Camarão cozido ao natural, Rolinhos de presunto, Salpicão, Fiambre, Frango assado, Rissóis de camarão, Pastéis de bacalhau, Caprichos do mar, Fruta e Café

Bolo e Champanhe

Animação - Conjunto musical
A instalação sonora estará à disposição de quem quiser relembrar os "Bons Velhos Tempos"

Pelas 19h00 - Despedida. Viagem de regresso ao Porto e Lisboa. Chegadas previstas para as 22h30 e 22h00, respectivamente.

Preço por pessoa

Só almoço - 22,50 euros
Viagem e Almoço - Porto - 45,50 euros
Viagem e Almoço - Lisboa - 45,50 euros

As crianças até 4 anos de idade nada pagam
Dos 5 aos 9 pagam 50%

Pela Comissão Organizadora,
Francisco Guedes Araújo

Guiné 63/74 - P2758: Blogoterapia (47): O tédio que às vezes nos invade (Torcato Mendonça / Carlos Vinhal / Virgínio Briote)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339, Os Viriatos (1968/69)> "Campo fortificado", chamava-lhe o PAIGC. "Colónia de férias", brincavam os tugas... E o tédio dos dias... que custavam a passar ?

"Uma clareira aberta no mato a golpes de catana e de motosserra, guarnecida de arame farpado, artilharia e abrigos-casernas à prova de canhão sem recuo (?), eis Mansambo. Os guerrilheiros chamam-lhe campo fortificado mas como este aquartelamento de mato há muitos – dizem-me – sobretudo no sul, e que são verdadeiros abcessos de fixação.

“Não há pista de aviação. Não há população civil, excepto meia dúzia de guias nativos com as respectivas famílias. Ora o isolamento nestas circunstâncias acarreta toda uma séria de perturbações psicológicas e até mentais. Apanhado pelo clima é a expressão que se utiliza na gíria deste universo concentraccionário em que se transformou a Guiné” (Luís Graça, Setembro de 1969).

Na Foto, um jovem turco tentando, em vão, vender peles de animais à porta de um abrigo-caserna... O tédio ? Usava-se a palavra em tempo de guerra ? Não sei, não me lembro... (LG)

Foto: ©
Torcato Mendonça (2008). Direitos reservados


1. Mensagem de 2 de Abril de 2008, do nosso amigo e camarada Torcato Mendonça:

Caros Editores:

Breve, muito breve, o suficiente para vos dizer que, o que venho sentindo alguma razão terá e não é mero fruto de alucinação.

Efectivamente ou este espaço caminha, de forma efectiva, para uma desejada pluralidade ou, pelo contrário, algo perturba alguns escritos (ou certas pessoas?)... Pensamos pela positiva, sempre pela positiva… mas!?... Para certos peditórios já dei… não é comigo e nisso não estou de modo algum interessado. Ou não tenho capacidade de entender… Que interessa isso? Nada, pode argumentar-se.

Sinto a memória a fechar-se, o tempo a regredir lentamente, o tédio a instalar-se. Problema meu, pois certamente há, felizmente, alguns ou muitos a pensar de forma diversa. Há ainda os de espírito mais esclarecido. Felizmente para eles, pois assim, melhor alcançarão o Reino dos Céus…

Bem hajam pela leitura e a todos um forte abraço do
Torcato Mendonça




2. Resposta do Carlos Vinhal, co-editor:

Caríssimo camarada e amigo Torcato:

A melhor maneira de combater o tédio é continuar interventivo, usando, como é teu timbre, ironia, sarcasmo e capacidade de crítica, sempre em doses correctamente servidas. Remédio indispensável para manter as massas activas.

Camarada, desistir nunca. Não podemos dar as costas ao inimigo.

Desculpa a brincadeira. É só para te animar, já que parece estamos todos carentes de algum ânimo. Não posso imaginar o Blogue sem determinadas participações. A tua é uma delas. Contamos contigo, não só com as tuas estórias, mas também com as tuas críticas sempre na hora.

Aquele abraço do
Carlos


OBS - Aprendi muito novo que aquilo que hoje parece importante, amanhã é nada, está esquecido. Por outro lado, em todos os lugares e em todas as funções, só faz falta quem está. Não me obrigues a particularizar.


3. Mensagem do Virgínio Briote, enviada ao Torcato, com conhecimento ao resto da equipa editorial, LG e CV.


Caro Camarada e Amigo (espero que não leves a mal por te tratar assim) Torcato:

Não sou do teu tempo, sou mais antigo na tropa e, como te habituaste a ouvir vezes sem conta (se calhar, vezes demais), a antiguidade naqueles tempos era um posto. Não quero com isto dizer que sou eu que tenho razão, já naqueles tempos nem sempre o era (como comprovámos vezes e vezes) quanto mais agora que nos fartamos de ouvir exactamente o contrário. Esta mistura de palavras é, ou quero com elas dizer, que o tédio não te pertence em exclusivo.

Depois de me ver obrigado a antecipar a reforma, por causa do aneurisma que me acompanha há meia dúzia de anos, vi-me pela primeira vez na minha vida sem objectivos. Aquela história que, com a idade que nos pertence, nos acontece.

E agora, que porra!, sem ter para onde olhar, a não ser para esta avenida com mais carros que gente, e agora? Papelada e livros arrumados e limpos dos pós, cinemas de Lisboa vistos, acompanhado do silêncio de uma pessoa só, PC à frente e sem grande vontade de o abrir, cansado por tantos dias e noites de o ver aberto no Excel, com os objectivos, as percentagens e o que faltava para os atingir, a cabeça às voltas, madrugadas, o PC na cama, acordar com ele ainda aberto, em rede com a sede em Lisboa e com a casa mãe em Basileia, nem vontade tinha de o abrir.

Público lido, anúncios classificados de casas para vender, alugar e trespassar, massagens e botões de rosa feitas por garotas sedentas, filmes, tudo lido, naquele dia abri-o mais por hábito e náusea do que por qualquer outra coisa. A olhar para o écrã, se calhar durante minutos (o tédio, o tal), lembrei-me da palavra Guiné.

Nem hoje sei porquê, escrevi-a no Google e, rápido como costuma ser, surgiram-me alguns locais para visitar. Pois que seja, não me lembro de o ter dito, mas deve ter sido assim que vim ter com o blogue do Luís Graça.

Guiné era uma palavra emprateleirada para mim, um caso arrumado há quase quarenta anos. À medida que fui lendo, o interesse foi aumentando, voltei a ver-me naqueles tempos e naquelas terras. Passei a ser um cliente diário, até que, vencida a relutância inicial, resolvi apresentar-me ao serviço outra vez.

Depois, é o que tens visto, continuo fiel à loja, embora nem sempre fique satisfeito com a qualidade do serviço. Estou, calculo como tu, numa fase de algum cansaço e saturação. Muitas vezes digo para mim que a Guiné foi chão que deu uvas, não há mais nada para dizer, toca mas é a fechar a porta e encerrar, o balanço já está feito por qualificados contabilistas. Por outro lado, dou também por mim a pensar que o que aconteceu comigo pode estar a tocar a outros Camaradas e isto tem-me obrigado a resistir e a ficar. E não falo agora do que se fala do blogue, que é comprometido com a esquerda, com a direita e com o centro, com os centros esquerdo e direito, com o rés do chão para já não falar de caves e sótãos. Como tu escreves, já dei para esse peditório.

O que me leva a abrir o blogue todos os dias é rebobinar os tempos que passei naquela terras e reviver a camaradagem que nunca mais a senti como naqueles anos. É isto que me leva a permanecer de sentinela no posto 4 em Cuntima, na companhia do s/r e de uma grade de bazookas, a contar as estrelas enquanto de muito longe, vindos dos lados do Senegal, toques de batuque soam ora muito nítidos ora esfumados.

Desabafei contigo, Caro Torcato, de rajada. Como se estivesse ao teu lado em Mansambo ou naquelas terras enlameadas que ninguém sabia se eram definitivamente do Corubal, como muitos dos que lá vivem hoje também não devem saber.
Um abraço,
vb

4. Novo comentário do Torcato, com data de 3 de Abril:

Citando António Lobo Antunes: Camarada, só quem esteve na guerra compreende inteiramente o sentido: não é bem irmão, não é bem amigo, não é bem companheiro, não é bem cúmplice, é uma mistura disto tudo com raiva e esperança e desespero e medo e alegria e revolta e coragem e indignação e espanto, é uma mistura disto tudo com lágrimas escondidas…

Não fui correcto por não ter respondido ao Carlos Vinhal, ontem ou hoje. Escrevi ao Virgínio Briote e não vou reler, nem o meu nem o texto dele. Martela, martela ainda como, há horas atrás, quando o li. Foi um entrar de ideias de coisas de vidas. É bom ler assim ou o de ontem, de forma diferente, mas a sentir porque ambos são sentidos… só nós sabemos porquê…ou por isso;

Vá-se lá saber porquê ou todos sabemos o porquê, a razão deste meu enfado, deste meu tédio, desta dispensável leitura de certos escritos (posts) de redondilha (não de verso mas de rabo na boca) …diz tu, direi eu, mete tu, meto eu…e mais...

Camaradas e Amigos: não posso, com as minhas emoções despoletar algo a que não tenho direito. Menos ainda gerar inquietações. Não. Isso não. Tranquilidade.

Tinha uma reunião que se foi. Ainda bem.

Martela o texto e ainda o vou reler. Ontem dizia o C. Vinhal: O que parece ter muita importância hoje, amanhã não. Referia-se à razão do tédio. Talvez.

Mas parece-me que regressei lá – ou nunca de lá saí? – é no que dá.

O Luis Graça é homem gerador de consensos em saberes sobre mentes perturbadas…a minha, claro. Não é, Camarada?

Boa noite e bom descanso. Fico por aqui. Sossegado, só, não desgosto, até gosto, mas…um período sabático até faz bem... De quanto? Bhá... de... ? Faz bem á bomba que não gosta de muita excitação... mas descansa na escrita e em certas leituras.

Recebam um abraço do,

Torcato Mendonça


5. Mensagem do V.B., respondendo ao L.G., que sugeriu que se publicasse estes nossos pensamentos em voz alta, tanto ao estilo do (ainda felizmente activo e nunca desactivado) blogue Tantas Vidas... [O blogue Guiné, Ir e Voltar, do Gil [Duarte], ou melhor do V.B.]... Um blogue intimista sobre a arte da guerra e do amor em tempo de guerra, da amizade, da camaradagem, da solidariedade, da cumplicidade, da alegria de viver, da recusa da lógica estreita do matar para não morrer, da memória, do retorno, do ir e voltar...


Caro Luís:

Há tipos que se podem ofender. É protagonismo em excesso. Não tenho coragem, tenho vergonha e já não tenho cão. Mas não me oponho a que tu ou o Carlos publiquem. Tirar o botão de rosa, é capaz de ser mais conveniente para não ofender a moral de alguns.

Um abraço,
vb

PS - Tive críticas negativas ao Tantas Vidas, quando o acabei. Da Maria Irene e dos meus filhos. Que nunca pensaram ter em casa um escritor de novelas erótico-pornográficas. Ri-me com eles e nunca mais falámos do assunto.


6. Novo comentário do Torcato Mendonça, de 6 de Abril:

Cheguei a casa e, por esquecimento meu, isto estava aberto. Antes de fechar cliquei no blogue e li…passei ao Outlook e zás, e zás…li em solavancos, entre limpidez e névoas, parando e lendo… parando e pensando, relembrando, cogitando: mas que gaita… a que puta de raça pertencemos nós… E ainda por cima, como diz o Abrunhosa, quem me leva os meus fantasmas, quem me leva os meus fantasmas, quem me faz ir não indo ou voltar…um pouco atrás…

É de facto o tédio, o escrito a puxá-lo… Ontem fartei-me e teclei e o Carlos Vinhal respondeu… e hoje dizes tu em escrita com leitura de solavanco e névoa…. Meus Amigos e Camaradas: eu fico agora brevemente na penumbra, a noite está a descer a mulher certamente a chegar. Cansada, stressada…e eu na penumbra espero... Só teclar no enviar… Abraços

Torcato Mendonça

Guiné 63/74 - P2757: Poemário do José Manuel (8): Nhacobá, 1973: Naquela picada havia a morte



Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > Proximidades de Nhacobá > Dois guerrilheiros mortos no decurso de uma operação, em finais de 1973, que envolveu, pelo lado das NT, diversas forças (Batalhão de Comandos Africanos, a CCAV 8351, aquartelada em Cumbijã, a CART 6250, a unidade de quadrícula de Mampatá, a que pertencia o José Manuel Lopes, Fur Mil Op Esp)...

Na primeira foto vê-se o Fur Mil Gomes, madeirense (hoje a viver no Canadá), do Pel Caç Nat que estava sediado em Mampatá (o José Manuel não se lembra do nº desta sub-unidade)... Foram os soldados e as milícias africanos que despojaram os cadáveres dos seus pertences (armas, roupa e haveres pessoais), uma prática que dificilmente os graduados conseguiam evitar, prevenir e muito menos reprimir...

Este é um dos lados brutais da guerra: já não basta matar, é preciso profanar o cadáver do Inimigo, destruir-lhe o resto de humanidade, de dignidade, que deve ter um morto, mesmo que seja um combatente inimigo... O José Manuel andava sempre com a sua máquina a tiracolo... Foi ele o fotógrafo... Chegou já tarde, depois da morte e do saque... Mas o fotógrafo esteve lá. Imagens que são raras, e que ainda hoje nos chocam... Põe-se a questão (ética) de as publicar ou não.- O meu entendimento editorial, é que as devemos divulgar neste blogue: têm interesse documental, sócio-antropológico, historiográfico e didáctico... Somos decididamente contra a exploração (comercial, mediática, ideológica ou outra) da estética da violência e da morte, o voyeurismo, a morbidez, mas somos também contra o falso pudor, o cinismo e a hipocrasia.(LG)


Gente do 1º e 2º Gr Comb da CART 6250, envolvidos na oeração acima referida...Na altura já a estrada em construção (que vinha de Quebo) tinha chegado a Nhacobá... O PAIGC procurou opôr-se, com tenacidade, à sua construção, já que ela atravessava o estratégico corredor de Guileje (que, vindo da Guiné-Conacri, passava por Guileje, Mejo, Salancaur...) (1).

Com o 25 de Abril, a estrada parou em Salancaur (vd. Carta de Guileje). Hoje o alcatrão desapareceu, depois de Quebo... Há uma amostra, esburacada, entre Quebo e Mampatá (vd. Carta de Xitole)... Na foto, um dos camaradas do José Manuel está deitado, sobre o ombro esquerdo, junto a uma arvore, com um pano branco sobre a coxa direita... Foi atingido por um estilhaço de RPG e aguarda evacuação por helicóptero...

O Capitão da companhia era um miliciano, Luís Marcelino, "um amigo, antes de ser capitão" (leia-se: amigo, apesar do posto, do cargo, dos galões...), um homem por quem o José Manuel ainda hoje nutre um sentimento de respeito e de amizade... Nesta companhia, é de assinalar a deserção do Alf Mil Fragata, em circunstâncias que o José Manuel um dia poderá contar, se assim o desejar e entender.

A CART 6250, que vai apanhar o 25 de Abril em Mampatá, sofreu um único morto em combate, numa mina A/P ou A/C... É esse morto a que se refere o poema do dia que hoje publicamos, em homenagem a todos aos muitos mortos, de um lado e de outro, que esta guerra provocou.

Temos falado aqui dos "nossos mortos", espalhados por centenas de cemitérios improvisados nas muitas matas e povoações da Guiné... É justo também lembrar os mortos do PAIGC, combatentes e população que ficaram insepultos ou enterrados, sem dignidade nem honra... Haverá milhares de sítios na Guiné, onde repousam os restos mortais de homens e mulheres, mortos ao longo dos anos da guerra colonial / luta de libertação, e que nem sequer estão sinalizados...

Alguma das ideias que estão agora em discussão entre os organizadores do Simpósio Internacioanld e Guiledje (Guiné-Bissau, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008) passam também por levar a cabo um conjunto de iniciativas que melhorem "a auto-estima dos Combatentes da Independência", incluindo:

(i) divulgação da a exposição “Amílcar Cabral, a Frente Sul e Guiledje”, da Fundação Mário Soares, nas escolas e agremiações culturais de todas as regiões do país, explicada directamente por Combatentes, visando fundamentalmente os jovens que nasceram no pós-independência;

(ii) construção da sede regional dos Combatentes em Farim (Cantanhez);

(iii) recenseamento dos Combatentes de Cubucaré;

(iv) Reabilitação da Base Central na zona de Daresalam;

(v) Identificação e sinalização de todas as barracas da luta [acampamentos temporários], na mata de Cantanhez;

(vi) Continuação da recolha em DVD de testemunhos dos Combatentes;

(viii) E, por fim, e não menos importante, Dignificação das campas dos Combatentes enterrados em Cubucaré... (Ideias pós-Simpósio, que me foram transmitidas pelo Pepito, e que estão em debate) (LG).

Fotos: © José Manuel (2008). Direitos reservados.

1. Texto e fotos enviados a 12 de Abril último, pelo José Manuel Lopes (2):

Naquela picada havia a morte
havia a morte naquela picada
de vinte e quatro
foi tirada a sorte
para um foi a desgraça
o diabo o escolheu
ou foi Deus que o esqueceu
havia a morte naquele caminho
naquela picada havia a morte.

Estrada de Nhacobá, 1973
josema
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2650: Uma semana involvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (6): No coração do mítico corredor de Guiledje

17 de Março de 2008 > Guine 63/74 - P2655: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (7): No corredor de Guiledje, com o Dauda Cassamá (I)

17 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2656: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (8): No corredor de Guiledje, com Dauda Cassamá (II)

(2) Vd. postes anteriores:

27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...

9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?

28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...

5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...

domingo, 13 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2756: Dia 14 de Abril de 1965, Domingo de Páscoa em Farim (Valentim Oliveira)

Mensagem do Valentim Oliveira, Soldado Condutor da CCav 489/BCav 490:

Caro amigo Virgínio


Hoje, dia 13 de Abril, e amanhã, dia 14, se a memória não me falha, vai fazer 43 anos que foi Domingo de Páscoa do ano 1965.

Foi um Domingo cheio de sol e também de rancho melhorado. Tenho a lembrança firme de que foi batata frita com BIFES EM LETRA GRANDE. Porque era muito raro aparecer uma coisa destas.
Estava nesta época em Farim, precisamente no local que servia de base à CCav 487 onde me instalei num canto da caserna juntamente com os meus colegas, Horácio, condutor 777, e o 783, o Pacheco.

Tudo correu na normalidade durante o dia. Claro que á noite não houve distribuição de rancho, mas como no rancho do meio-dia tudo foi avantajado, todos levaram um pouco mais para á noite continuar a festa. E a festa continuou.

Só de uma maneira diferente daquela que esperávamos. Precisamente já com o sol escondido a algumas horas, estávamos nós a saborear o resto dos bifes, quando fomos sobressaltados com explosões de granadas de morteiro 82, que neste caso o IN estava mais avançado, porque nós só tínhamos o 81.

O IN estava na outra margem do rio Cacheu. Felizmente as granadas começaram a cair uns 50 m à frente da caserna, mas houve duas que com a apontaria afinada rebentaram, uma em cima do posto de socorros e outra precisamente no canto esquerdo onde eu me encontrava, junto dos meus colegas Horácio e Pacheco.

Claro, todas as telhas a caírem e um grande estilhaço a passar entre nós e a fazer um grande furo numa mala que se encontrava encostada à parede. A que caiu no posto de socorros feriu um Furriel que agora não me lembra o nome e foi evacuado no outro dia para Bissau.

Responderam ao ataque o pelotão de morteiros que estava sediado a alguns 100m da margem do rio, juntamente com uma fragata de guerra estacionada no mesmo local.



Farim, edifício do comando do BCaç 2879 e anteriormente, entre outros, do BArt 733 e do BCav 490.
Fotos: © Carlos Silva (2008). Direitos reservados.

Antes da reacção das nossas tropas diversos locais foram atingidos, um deles o local onde estava instalado o comando do Comandante Ten Cor Fernando Cavaleiro. Valeu-lhe uma grande mangueira, que estava na frente do edifício onde rebentaram as granadas.
Esta é uma das passagens tristes que vivi na Guiné, mas muitas outras tenho para escrever.

Também quero dizer ao nosso amigo e camarada Teixeira, que a parte romanesca como ele terminou com a Fanta Baldé é de louvar, porque só pessoas com civismo e respeito pelos Valores Humanos, assim o fazem. UM ABRAÇO, TEIXEIRA!

Virgínio, já me pronunciei, que não estive em Cuntima, mas passei por diversos lugares da região de Farim.

Eu era soldado condutor 784/63 da CCav 489/BCav 490 e passei para a CCS, para condutor do Oficial de transmissões, Alferes Pires. Se alguém souber o contacto deste camarada, agradecia que mo dessem.

Um abraço para o comandante Luís, para ti e para o Vinhal e todos os que fazem parte da TABANCA GRANDE.

Até breve,

Valentim Oliveira

__________

Nota de vb: artigo relacionado em
10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2745: Tabanca Grande (61): Apresenta-se o Valentim Oliveira da CCAV 489 / BCAV 490 (1963/65)

Guiné 63/74 - P2755: O Acampamento Osvaldo Vieira, o meu GPS, o Google e a nossa excelente cartografia militar (Nuno Rubim)



A posição do Acampamento Osvaldo Vieira, perto de Iemberém, segundo as coordenadas obtidas pelo GPS do Nuno Rubim, assinaladas na imagem do Google Earth e na carta (militar) de Cacine (Escala: 1/50000).

Fotos: © Nuno Rubim (2008). Direitos reservados


1. Texto do Nuno Rubim:

Caro Luís

Eis o mapa do Acampamento do Osvaldo Vieira, baseado no Google e na Carta de Cacine (1:50000).

Realmente a saída para o Tarrafe vai ter ao Rio Bomane, afluente do Chaquebante, por sua vez afluente do Cacine (1).

Como se pode constatar, não só os nossos mapas eram excepcionais, como se vê que não houve praticamente mudanças nos leitos dos rios de há mais de quarenta anos para cá !

Se precisares de algo mais, apita ...

Um abraço

Nuno Rubim
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Nota de L.G.:

(1) Vd. poste de 7 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2731: Cantanhez, Acampamento Osvaldo Vieira: Coordenadas GPS (Nuno Rubim)

Guiné 63/74 - P2754: Fórum Guileje (15): Há ainda muita gente do PAIGC calada... Por medo? Por falta de domínio da língua de Camões? (Mário Fitas)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento Osvaldo Vieira, nas proximidades de Madina do Cantanhez, na picada entre Iemberem e Cabedu > Simpósio Internacional de Guiledje > Domingo, de manhã, 2 de Março de 2008 > Visita guiada e animada por antigos guerrilheiros e população local, ao Acampamento Temporário (Baraca) Osvaldo Vieira (1) > Um grupo de mulheres, nalus, que tomaram parte no espectáculo que foi oferecido aos convidados, nacionais e estrangeiros...Trinta e cinco anos depois da independência não é em português, a língua de António Lobo Antunes, de Pepeta, de Amílcar Cabral, de Craveirinha, de Mia Couto... que nos entendendos, mas em crioulo... Nós e a generalidade dos guineenses. Em menos de década e meia, os militares portugueses fizeram mais pela promoção da língua portuguesa do que cinco séculos de fraca ou reduzida penetração dos portugueses no interior da Guiné (outrora parte integrante da Senegâmbia)... Em audiência dada a um grupo de cerca de duas dezenas de portugueses, antigos combatentes da guerra colonial, participantes do Simpósio Internacional de Guileje (a que se h«juntaram a cieneasta Diana Andrunga e o jornalista José Carlos Marques), em 6 de Março de 2008, o presidente da República da Guiné-Bissau, João Bernardo Vieira, insistiu muito na importância da língua portuguesa e no envio, para o seu país, de mais professores portugueses ("com tantos professores desempregados em Portugal")... Estava a ser sincero ou apenas politicamente correcto o antigo comandante do PAIGC na região sul, agora com responsabilidades de representação máxima do povo guineense, a nível do Estado ? (LG).

Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Texto do Mário Fitas (ex-Fur Mil Inf Op Esp, CCAÇ 763 , Os Lassas, Cufar, 1965/66) (2):

Caro Luís,

Desculpa a minha inconveniente intromissão, neste interessante bate-papo de Guerrilheiros do PAIGC a quando da festa em Guiledje (1).

Admiro profundamente a paciência e a disponibilidade do nosso Homem Grande, o Pepito, para fazer de intérprete, naquela confusão toda.

Há que ter muita paciência, e ter gente no terreno, para como nós que aqui na Tabanca Grande nos expomos, contando aquilo que eu considero a 99,0% próximo da autenticidade, e aquilo que da outra face ou lado (o que quer que queiramos dizer), não ouvimos. É claro que não podemos comparar as nossas condições com as dos antigos guerrilheiros do PAIGC, sobre a narração da realidade dos acontecimentos.

É sintomático, e embora quarenta anos passados, os dados escritos que tenho - aliás que todos os Tertulianos possuem - venham eles a ser a História do próprio PAIGC.

Luís! Não podemos fugir, nem contar a vida dos outros. Há muita gente do PAIGC calada!... Por medo? Façam como nós! Contemos, rectifiquemos os erros, tenhamos pequenas questiúnculas, mas que olhos nos olhos rectifiquemos. É isso e que nos dá a honestidade de sermos nós próprios a contar a NOSSA PRÓPRIA HISTÓRIA.

Conheço alguma coisa sobre o PAIGC e sobre a GUINÉ, caso contrário não teria escrito Pami na Dondo a Guerrilheira. Mas também me custa sentir o trabalho extraordinário do Pepito, tradutor, duma realidade de há quarenta anos, e que se mantém.

Será que não somos dignos de CAMÕES? A Língua é o maior elo de comunhão entre povos irmãos! Saibamos sê-los!

Vivi em 1965/66 o Sul da Guiné, embora em Cufar. Percorri as margens do Cumbijam. Em Catió, a conversa de caserna funcionava. Por ser de caserna? Talvez! Abstenho-me de entrar em polémicas fúteis.

Mas quanto ao PAIGC?! Em termos de honra, exijo! Estive a duzentos metros do Sr. Presidente Nino Vieira, eu com 23 anos e ele com 25. Tive na mão uma foto dele, tirada em Pequim, na altura em comandava uma Secção do Exército Popular. Há portanto alguém da outra face, que deve ter a honestidade de também falar.

Se forem os que não fizeram a guerra a narrar e conjecturar sobre o que se passou, não vale, não vale a pena. Como se diz na minha linda Planície: "A conversa está coxa".

Falei em Camões! Que nenhum de nós esqueça que a Língua Portuguesa é hoje em dia a aglutinação de muitos povos, que serão grandes se souberem entender e conviver, como fala o Grande Craveirinha, filho de branco emigrante não colonialista.

Aquele abraço de sempre do tamanho do Cumbijam para toda a Tabanca.

Mário Fitas
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Notas dos editores:

(1) Vd. 12 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2752: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (14): Acampamento Osvaldo Vieira (II)

(2) Vd. poste de 28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2593: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (11) - Parte X: O preço da liberdade (Fim)

Guiné 63/74 - P2753: O Nosso Livro de Visitas (12): À procura do meu amigo Germano Santos (Eliseu dos Santos Gomes, Holanda)

1. Em 10 de Abril de 2008, recebemos esta mensagem de um nosso leitor residente na Holanda

Sr. Luis Graca

Desculpe de me dirigir desta forma perante o Sr.

À procura de meu amigo Germano Santos, entrei no seu Blog que me surpreendeu muito como antigo combatente em Angola, ainda vou retornar a ler esse bom blog.

Caro Sr. se por acaso for o meu amigo que tento contactar agradecia, se não fosse muita maçada o endereço electrónico dele.

Eu joguei com ele no Atllético Clube Moscavide, e tinhamos bom contacto de amizade, moravamos em Moscavide, e ele pelo que li no blog do Sr. António Gouveia enviou-me um abraco e mais, e por esta assim tento contactar com ele que já lá vão uns 36 anos que eu não o vejo.

Fico-lhe imenso agradecido e mais uma vez minha desculpa de assim contactar com o Sr.

Com saudações de grandes combatentes
Eliseu dos Santos Gomes

2. No dia 12, enviei esta mensagem ao nosso camarada Germano

Caro Germano Santos
Vê se conheces este camarada que procura alguém com o teu nome.
Um abraço
Carlos

3. Hoje mesmo, dia 13 de Abril, o Germano repondeu

Caro Luis Graça,

O nosso (teu) blogue é fantástico.

Só por ele o meu amigo Eliseu, que vive na Holanda há muitos anos, acaba de chegar a mim.

Agradeço-te reconhecidamente a ponte que serviu para o Eliseu me reencontrar.

Vou escrever-lhe.

Recebe um grande abraço.
Germano Santos

4. Comentário de C.V.

Temos que ter muito orgulho no nosso Blogue, já que ele contribui, e muito, para o conhecimento da Guerra Colonial e em particular para a Guerra na Guiné.

Por outro lado, quem lê o nosso blogue procurando as nossas estórias, acaba por reconhecer entre os tertulianos mais activos, alguém que julga ser o seu amigo e companheiro.

Mais um caso aconteceu, desta vez com este nosso amigo, antigo combatente em Angola, que encontrou nas nossas páginas o Germano, seu companheiro de juventude.

Ao Germano e ao Eliseu, desejamos muitos anos de convívio após este reencontro.