quarta-feira, 30 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1796: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (5): A(s) alegria(s) do(s) reencontro(s)


Guiné > Subsector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Mortos da companhia > Memorial executado pelo Furriel Timóteo > Vítimas mortais: António Jacinto da Conceição Carrasqueira (10/8/70, mina a/c); António Guimarães (18/2/71 / mina a/c); José Augusto Dias de Sousa (18/2/71; mina a/c); José Guedes Monteiro (1/10/71; combate); Rogério António Soares (1/10/71; combate); Luís Vasco Fernandes (5/10/71; mina a/c); Adriano Francisco (8/3/72, doença).





Fotos: Fernando Barata (2007). Direitos reservados.

V (e última) parte do resumo da história da CCAÇ 2700 (Dulombi, Maio de 1970/ Abril de 72), unidade que pertenceu ao BCAÇ 2912, e foi render a CCAÇ 2405 do BCAÇ 2852 (1968/70). O autor do texto é o ex-Alf Mil Fernando Barata, da CCAÇ 2700 (1).









Louvores


José Augusto Dias de Sousa (título póstumo)
Alfredo Lopes Ribeiro
Teodoro da Cruz Abreu
Francisco Teixeira Pinto
Arnaldo Seabra da Costa
Carlos Medeiros Barbosa
João dos Santos Henriques Veras
Luís Manuel Telha
Carlos Alberto Maurício Gomes (pelo Cmdt Batalhão)
Manuel Maria Cardoso Maricato
Ricardo Pereira Lemos
Manuel Pedrosa Costa
Alberto Jorge Seixas Pereira
José Maria Prata
José Rocha Carvalho
José Joaquim Queirós Fernandes
Vítor Manuel Rodrigues
Carlos Teixeira Santos
Fernando Costa Ramos
Alfredo Azevedo
Manuel Fernando C. Almeida
Vítor António Gonçalves
Augusto Pereira Rosa
José Silva dos Santos
Albino Almeida da Piedade
Bernardino Rodrigues Pereira
Luís Santos Silva
José Augusto de Sousa
Miguel Carvalho Teixeira
Manuel Fernando R. Brito
Domingos Magalhães Lemos
António Vasco Lopes Alves
Ramiro de Jesus Oliveira


Posfácio

Terminada esta dura campanha da nossa vida (1), igualmente dura e não menos importante fase haveríamos agora que enfrentar.

Para alguns era o retomar dos estudos então interrompidos, para outros o retomar duma profissão deixada a meio possivelmente na altura que se começava a potenciar o que o mestre havia ensinado, para outros, o iniciar de uma caminhada, pintalgada agora, aqui e além por outras minas e armadilhas.

Era o tempo para saborear avidamente junto dos familiares, amigos e conhecidos momentos mágicos de confraternização, de comemoração e até de alguma cumplicidade com os colegas mais chegados.

Foi também tempo para alguns tentarem a sua sorte noutras paragens, principalmente França e Alemanha, países que desde a década de 60 se tinham aberto à imigração.
Os anos foram passando e não imaginam a tristeza que eu ia sentindo, sempre que ao folhear quer A Bola quer o Jornal de Notícias, ia tomando conhecimento de mais um almoço/convívio da companhia x ou do batalhão y, sempre na expectativa que mais dia menos dia lá apareceria publicitado o almoço da 2700.

E não é que (quem espera sempre alcança) por meados de Maio de 1991, me aparece na caixa do correio uma convocatória para o 1.º almoço da Companhia.

Graças a dois Homens que – nunca será de mais realçar – foram os obreiros deste “saboroso mecanismo socializante” e que dão pelo nome de José Marinho e Fernando Ramos, como todos sabem. Sei que posteriormente têm sido ajudados por alguns camaradas (recordo-me do Quintas, do Ferreira, do Cunha, do Silva Soares), mas perdoem-me, sem eles o milagre não teria acontecido.

A 20 de Julho de 1991, apesar das dificuldades em divulgar o evento, pelo desconhecimento da morada de bastante camaradas, lá estava o Campo da Feira, em Barcelos, emoldurado com aproximadamente 60 ex-elementos da Companhia, a maior parte acompanhada pela respectiva cara-metade e alguns mesmo com os herdeiros.

Foram momentos inolvidáveis aqueles que se sentiram e que se prolongaram no restaurante, agora com o estômago já reconfortado, mas sinceramente isso foi o acessório.

A partir daqui e de forma ininterrupta todos os anos nos temos encontrado nos mais diversos locais.



Pelo seu significado não quero deixar de realçar o 7.º Encontro que se realizou no Regimento de Infantaria de Abrantes, quartel onde a nossa Companhia foi formada, tendo sido descerrada uma placa alusiva ao acontecimento e celebrada missa pelo capelão da Unidade. No ano seguinte foi escolhido o Regimento de Infantaria de Vila Real, pela razão de ter sido aqui que a maior parte das praças que formavam a Companhia ter feito a sua recruta.
É digno de registo, tanto em Abrantes como Vila Real, a forma exemplar como fomos recebidos pelas respectivas chefias.
Esperamos que estes convívios mantenham a sua periodicidade. Não tenho dúvida que enquanto, pelo menos o Marinho e Ramos forem vivos, eles realizar-se-ão (2).
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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

22 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'

26 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1550: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (2): A nossa gente

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1595: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (3): minas, tornados, emboscadas, flagelações e acção... psicossocial

11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1651: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (4): Historietas

(2) O próximo encontro, o 16º, será a 10 de Junho de 2007, em Braga: vd. post de 30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1795: Convívios (12): 16.º Encontro da CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), Braga, 10 de Junho de 2007 (Fernando Barata)

Guiné 63/74 - P1795: Convívios (12): 16.º Encontro da CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), Braga, 10 de Junho de 2007 (Fernando Barata)


Guiné > Zona Leste > Galomaro > BCAÇ 2912 > CCAÇ 2700 > Dulombi (1970/72) > Estandarte do batalhão e emblema da companhia.


Mensagem enviada pelo nosso camarada Fernando Barata, ex-Alf Mil, CCAÇ 2700 (Dulombi, Maio de 1970/ Abril de 72) (1)


16.º Encontro da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), Braga, 10 de Junho de 2007


10H30 - Concentração no Parque do Estádio 1.º de Maio, em Braga

11H30 - Missa na Igreja Paroquial de Trandeiras

12H30 - Romagem à campa de José Dias Ferreira, no Cemitério de S. Paio de Arcos

13H00 - Almoço no Restaurante Palace Club - Quinta das Rosas - Priscos - Braga


Confirmações para: 962497110 ou timoteomemoria@gmail.com

Um abraço do
Fernando Barata


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Nota de L.G.:


(1) Vd. posts de:








terça-feira, 29 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1794: Blogoterapia (21): Falar da guerra, com pudor... e com alegria do novo Doutor, Leopoldo Amado (Luís Graça)

Lisboa > Universidade de Lisboa > Reitoria > 28 de Maio de 2007 > Provas públicas de doutoramento do luso-guineense Leopoldo Amado, em História Contemporâena > Alguns minutos antes do início da defesa da sua tese (Guerra colonial 'versus' guerra de libertação: o caso da Guiné-Bissau). O Leopoldo e os seus amigos (incluindo a malta do nosso blogue): 

Da direita para a esquerda (sem qualquer conotação ideológica): Eugénio Alameida (angolano, viajante entre Angola e Portugal, editor dos blogues Pululu e Malambas), António Santos, Hugo Moura Ferreira, Leopoldo Amado, José Martins, António Lopes (jornalista, ex-Público), Luís Graça e João Tunes. Tirando o Eugénio Almeida e o António Lopes, os demais pertencem a esta tertúlia, de seu nome Luís Graça & Camaradas da Guiné. Na foto só não está... o fotógrafo que, na ocasião, foi o nosso Carlos Fortunato.



Universidade de Lisboa > Reitoria > 29 de Maio de 2007 > Provas públicas de doutoramento do luso-guineense Leopoldo Amado, em História Contemporânea > Depois da decisão do júri, os amigos e a família manifestaram o seus contentamento ao novo Doutor > Na foto, o Leopoldo com duas das suas manas, simpatiquíssimas (eles são oito irmãos, espalhados pelo mundo), mais o seu filho (à esquerda) e o marido de umas das irmãs, que é farmacêutica (à direita).

Fotos: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.


Comentário do editor do blogue, a propósito do poste anterior (1) e do doutoramento do Leopoldo Amado (2):

1. A nenhum dos membros desta tertúlia move, hoje, o espírito revivalista da guerra e muito menos o espírito belicista... É bom que isso fique claro.

Não somos um clube de veteranos, de guerreiros, mortos ou aposentados... Não somos uma tertúlia de gente saudosista, que perdeu o Império, o coconote e o pôr do sol nas praias dos Bijagós... Não somos muito menos um corja de neocolonialistas, à direita, ou de antiqualquer coisa, à esquerda, como já têm insinuado a nosso respeito... Somos apenas um grupo de amigos e camaradas da Guiné, com existência mais virtual do que real...

Se falamos da guerra, e dos seus factos brutais - os mortos, os feridos, de uma lado e de outro - é apenas porque a guerra (a colonial, a do Ultramar, a de Libertação...) existiu e prolongou-se, infelizmente, por demasiado tempo... Se falamos da Guiné, é porque aprendemos a amar a terra e o seu povo...

Não defendemos aqui a superioridade - moral, militar, cultural ou civilizacional - de ninguém... O Victor Tavares foi paraquedista e foi um bom paraquedista, ao que sei. Mobilizado para a Guiné, já com um ano de paraquedista, só podia ser paraquedista e um bom paraquedista... Tem escrito sobre as suas memórias, sobre as operações em que participou... Uma escrita simples, singela, escorreita, narrando os factos, sem grandes justificações e sobretudo sem desculpas nem alibis...

Infelizmente, continua-nos a faltar aqui o ponto de vista do combatente do outro lado, bem como das populações, sob o controlo do PAIGC, que sofreram os ataques da nossa aviação, da nossa artilharia ou das nossas tropas especiais... Ninguém aqui faz a apologia da guerra. 

Nenhum de nós, camaradas da Guiné, foi rambo ou cultivava o espírito rambo... A guerra é a actividade mais trágica a que o ser humano se pode dedicar... Quando evocamos, com letimidade e propriedade, a nossa experiência de guerra, de combatentes, fazêmo-lo com pudor... Falo em geral, por que às vezes as palavras atraiçoam-nos...

Alguns de nós - a começar pelo editor do blogue - não concordavam com aquela guerra mas também não desertaram... Não vale a pena retocar a fotografia, nem muito menos destruí-la: de Junho de 1969 a Março de 1971, eu por exemplo estive na Guiné... Não direi de corpo e alma... Estive objectivamente na Guiné, de corpo inteiro, às vezes com a morte na alma, como muitos outros camaradas meus cujo sofrimento não posso avaliar... Não tenho nenhum alibi histórico... Passei muitos anos a autojustificar-me. Em vão. Hoje só quero percebero verso e o reverso da mesma moeda, da mesma guerra, colonial, do ultramar ou de libertação...

De qualquer modo, um dos princípios fundamentais deste blogue é a recusa em fazer, publicamente, juízos de valor - condenar ou louvar - as acções de guerra, quer de um lado quer do outro, relatadas na primeira pessoa do singular ou do plural... Matámos e morremos, quer de um lado e outro, da Ponta do Inglês ao Quirafo, de Guileje ao Cufeu, de Missirá às colinas do Boé: alguém tem que contar, em primeira mão, estas histórias, para que os historiadores possam fazer a História...

Na blogosfera e fora dela, queremos contribuir para que a guerra (colonial, do ultramar ou de libertação) deixe de ser aquilo que ainda é na sociedade portuguesa (e na sociedade guineense, acrescento, eu) : um "tabu contornado", para usar as palavras certeiras do meu amigo e camarada João Tunes (2).

Atrevo-me, de resto, a fazer meus os votos do embaixador Manuel Amante, para "que as memórias, por mais dolorosas que possam ter sido, não sejam apagadas mas se possam erigir numa teia que envolva ainda mais a todos os que nasceram, viveram ou tenham passado pela Guiné" (3)...


2. E a propósito da História e da guerra da Guiné, o nosso amigo, lusoguineense, Leopoldo Amado acaba hoje mesmo de obter o grau de doutor, pela Universidade de Lisboa, em História Contemporânea. 

A decisão do júri foi por unanimidade e com distinção... A nossa tertúlia está mais rica... O mérito é do Leopoldo que, nascido em Catió, em 1960, teve que comer o pão que o diabo amassou para chegar até aqui (4)... 

Nem a arrogância intelectual de um dos senhores professores doutores do júri conseguiu estragar a festa e a boa disposição dos presentes, sempre atentos, críticos e solidários... De qualquer modo, é de sublinhar a cordialidade, a pertinência e a elegância do desempenho dos restantes membros do júri.

As provas disputaram-se em dois dias. No primeiro, 28, foi a arguição da tese, sendo o principal arguente o coronel Aniceto Afonso, ex-director do Arquivo Histórico-Militar. No segundo dia, 29, foram discutidas duas questões, previamente sorteadas: (i) o Islão e a Guiné-Bissau; (ii) Etnicidade(s) e identidade nacional...

Iremos dar-lhe, ao Leopoldo e à defesa da sua tese, o devido destaque, em próximos posts. (LG).

PS 1 - Ontem foi recebido uma mensagem de apoio ao Leopoldo, que passo a transcrever:

Bom dia! Quero desejar ao Leopoldo Amado as maiores felicidades nestes dias da sua tese de doutoramento!

Um abraço a todos os camaradas Tertulianos!

José Rocha
Ex-Alferes Miliciano - CART 2410 - OS DRÁCULAS


PS 2 - No blogue Amante da Rosa, escreve-se:

Terça-feira, Maio 29, 2007 > Um Post e uma Tese de Doutoramento

Há um dia ou dois que andava meio desconfiada com o número, cada vez maior, de visitantes aqui no blog. Isto sempre foi meio intimista (pouco conhecido - é mais correcto) e de repente passo a ter mais visitantes num dia do que numa semana inteira. 20, 30 e 40 visitantes! Wow!
Desvendei o mistério. Os novos visitantes vêm todos do blogueforanadaevaotres que fez um post sobre o meu post. É engraçado e espero que seja uma descoberta agradável para os visitantes que por cá passem pela primeira vez. 

Fiquei mesmo foi com muita vontade de ler a tese de Doutoramento em História Contemporânea - Guerra colonial 'versus' guerra de libertação: o caso da Guiné-Bissau - do Professor Doutor Leopoldo Amado. Quem sabe um dia... o lançamento... aqui em Cabo Verde, uh?

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os paraquedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)

(2) Vd. posts de:

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1782: O nosso doutorando Leopoldo Amado vai ter o seu 'baptismo de fogo' no próximo dia 28, na Universidade de Lisboa (Luís Graça)

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1783: Tese de doutoramento de Leopoldo Amado: Guerra colonial 'versus' guerra de libertação (João Tunes)

(3) Vd. post de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...

(4) Vd. post de 4 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P840: Curriculum Vitae do nosso doutorando Leopoldo Amado

Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os paraquedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)

1. Texto do ex-1º cabo paraquedista Victor Tavares , do BCP 12 / CCP 121 (1972/74) (1)


OPERAÇÃO MURALHA QUIMÉRICA

Acção desenrolada entre 27 de Março e 8 de Abril de 1972, no sul da Guiné (Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael).

Esta operação, na qual participaram as CCP 121, 122, 123 e outras forças, com resultados excelentes, nas zonas operacionais de Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael Porto, foi uma das muitas operações importantes em que intervieram os Paraquedistas do BCP 12 durante o ano de 1972.


Zona de acção: uma 'zona libertada' do PAIGC

A zona de acção situava-se numa região que o PAIGC considerava libertada e onde os guerrilheiros se movimentavam com relativo à-vontade conforme se viria a constatar.

O rio Balana separava o corredor de Guileje, que se estendia a sul entre a fronteira e ia até Salancaur Jate. A outra, a norte do mesmo rio, onde se movimentavam os grandes efectivos do Primeiro Corpo do Exército do PAIGC e que se incluía no troço do corredor de Missirá.

Para esta operação, além das Companhias de Paraquedistas, também fizeram parte duas Companhias de Comandos Africanos assim como duas Companhias do Exército, as CCAÇ 3399 e 3477, mais a CCAÇ 18 além de um grupo especial do COE. Todas estas forças estavam sob o comando do Tenente-Coronel Paraquedista Araújo e Sá, Comandante do BCP 12, tendo como adjunto o Cap Paraquedista Nuno Mira Vaz.

Todas estas forças estavam organizadas em vários agrupamentos operacionais.

A Operação iniciou-se no dia 27 com o deslocamento de parte dos efectivos a serem colocados por via aérea em Aldeia Formosa e Gadamael Porto, para no dia seguinte serem lançadas várias acções simultâneas na região.

Logo após a helicolocação de dois Grupos de Combate de Parquedistas, estes detectaram um grupo de guerrilheiros com quem tiveram um forte contacto, causando-lhe dois mortos e a captura de 1 Kalashnikov e de 1 LGF-RPG 7 assim como vários carregadores e 4 granadas de RPG 7.

Horas mais tarde este mesmo Agrupamento teve contacto com outro grupo IN, abatendo um dos seus elementos, capturando 1 Metralhadora ligeira Degtyarev e provocando alguns feridos conforme se veio a confirmar pelos vários rastos de sangue existentes no local das suas posições.


10 guerrilheiros e 4 civis mortos na sequência dos bombardeamentos dos Fiat


Entretanto os Paraquedistas que compunham este Agrupamento, vieram a emboscar durante a noite num local perto de uma picada e de uma zona bombardeada pela nossa aviação.

Manhã cedo, 5 horas e pouco, foi levantada a emboscada, seguindo a direcção do local bombardeado na véspera pelos Fiat 91. Nesse local detectámos um acampamento IN, parcialmente destruido. No seu interior encontravam-se 10 guerrilheiros do PAIGC mortos, todos fardados, e 4 civis da população.

O bombardeamento do dia anterior tinha sido feito com grande precisão e rapidez, não dando possibilidade de se protegerem nos vários abrigos subterrâneos que os mesmos aí dispunham.

Passada revista ao aldeamento foi apreendido o seguinte material de guerra,:

  • 1 canhão SB-10, com o respectivo aparelho de pontaria;
  • 1 morteiro 82 completo;
  • 1 bipé de morteiro 82; 
  • 1 espingarda semiautomática Simonov;
  • 1 pistola metralhadora PPSH; 5 granadas de LGF-RPG 7;
  • 4 granadas de LGF-RPG 2:
  • além de várias peças de fardamento e muitas munições de vários calibres.

Durante a revista, um grupo de guerrilheiros atacou as nossas forças, que prontamente responderam pondo-os em debandada e provocando-lhe mais 1 morto e a perda de 1 Kalashnicov.

No mesmo dia por volta das 14 horas este agrupamento foi visitado na zona de acção pelo Comandante Chefe [gen Spínola].


A actuação dos Comandos Africanos


A 1 de abril [de 1972] outro Agrupamento, formado por três Grupos de Combate de uma das Companhias de Comandos Africanos, detectou um grupo inimigo estimado em cerca de 35 elementos, que se deslocava em direcção à fronteira.

Foi então movida a perseguição, vindo a ter um forte contacto de cerca de 15 minutos, causando-lhe 4 mortos e a apreensão de 2 Kalashnikov assim como vários equipamentos destes elementos abatidos.

Por sua vez outro Agrupamento, este constituído por 2 Grupos de Combate também de uma das Companhias de Comandos Africanos, quando nesse mesmo dia procedia a evacuação de um militar doente, foi atacado por um grupo da força inimiga que, fazendo largo uso de morteiros e LGF-RPG 2 e 7, lhes veio a provocar 1 morto e 5 feridos, embora durante a reacção das nossas tropas os guerrilheiros do PAIGC tenham sofrido 3 mortos e vários feridos e perdido os equipamentos destes.

A 3 de Abril o Agrupamento Onça 0, formado por dois Grupos de Combate da CCP 122, detectou um acampamento na Região do Xitole, onde recolheu 4 granadas de canhão s/recuo e 12 granadas de RPG 2.

Continuada a batida, foi encontrada na zona do Corredor de Missirá, outro acampamento IN, este já abandonado à pressa, onde foram encontradas 5 granadas de RPG 2, 1 carabina Zbrojovska, além de 30 mochilas contendo artigos de fardamento e munições em grandes quantidades.

Foi ainda este Agrupamento que no dia 5 de Abril detectou outro acampamento do PAIGC na região de Guileje, onde foram apreendidas 22 granadas de morteiro 82, 3 de RPG 7 assim como diversos equipamentos com munições.

No dia 8 de Abril foi dada como terminada esta Operação, alcançando os seus principais objectivos, neutralizando a organização que o PAIGC tinha naquela região, pelo menos durante algum tempo, o que viria a acontecer, até porque o PAIGC já possuía algumas estruturas, tais como um hospital e uma Loja do Povo, destruídos pelas nossas tropas na região de Guileje.

Este cenário veio entretanto a ser alterado, porque as forças de guerrilha do PAIGC acabaram por se reorganizar e, passados alguns meses, estavam com uma dinâmica operacional incrível, bastará recordar o que se passou em Guileje e Gadamael um ano depois. Nnguém que passou por aquele sector operacional esquecerá o inferno porque passou...


Balanço das perdas do PAIGC

Nesta grande Operação as Tropas Paraquedistas tinham obtido os seguintes resultados totais: 30 mortos, 17 guerrilheiros feridos e capturados, além de muitos feridos causados durante os vários contactos tidos, capturando também o seguinte material:

1 canhão s/recuo B-10,
1 morteiro 82 completo,
2 metralhadora ligeira Degtyarev,
4 espingardas automáticas Kalashnikov,
2 espingardas semiautomáticas Simonov,
1 espingarda Mauser,
2 pistolas-metralhadoras PPSH (costureirinhas),
1 carabina Zbrojovska,
5 granadas de mão defensivas,
24 granadas de morteiro 82,
22 granadas de RPG 2,
14 granadas de RPG 7,
6 granadas de canhão s/recuo,
2 cunhetes de munições 7,62,
além de muito fardamento e equipamento militar.

Por seu lado a CCP 121 sofreu 2 feridos provocados pela explosão de uma granada da nossa artilharia que rebentou a boca do cano.

Quanto às restantes forças que participaram nesta operação, os Comandos Africanos tiveram 1 morto e 7 feridos.


Louvor ao Batalhão de Paraquedistas 12

O Comandante Operacional das Forças Terrestres Tenente-Coronel Paraquedista Araújo e Sá, no Relatório de Operações, fez uma destacada citação às tropas participantes não pertencentes ao BCP 12, designadamente às duas Companhias de Comandos Africanos e às Companhias de Caçadores 3477, 3399 e CCAÇ 18 pelo seu espírito de missão, assim como aos Pilotos da Força Aérea com saliência para o Alferes Trindade Mota, Piloto de Helicanhão.

Também relacionado com a Op Muralha Quimérica, o Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné concedeu ao Batalhão de Paraquedistas um Louvor que relevava a forma valorosa como, uma vez mais, as Tropas Paraquedistas do BCP 12 se tinham batido neste Teatro de Operações.(2)

Findo este período as nossas forças regressaram em LDG ao BCP 12 para retemperar forças e preparar-se para novas missões.

Victor Tavares


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Notas de L.G.

(1) Vd. posts do Victor Tavares:

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

20 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1616: O meu regresso a Guidaje (Victor Tavares, CCP 121)

19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista)(3)

18 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1610: Ao meu pai, Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista, CCP 121 (Osvaldo Tavares)

8 de Março de 2007 >Guiné 63/74 - P1573: O Victor Tavares, da CCP 121, a caminho de Guidaje, com uma equipa da TVI (Luís Graça)(4)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)

(2) Vd. poste  de  26 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19623: (In)citações (127): A Comissão Especial da ONU e outros embustes… (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)

Guiné 63/74 - P1792: Uma dívida de gratidão (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Mensagem do Gabriel Gonçalves (ex-1º cabo cripto da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71):

Camaradas e amigos, editores do blogue:

Foi com bastante satisfação que compareci ao nosso encontro de sábado (1), onde revi a rapaziada do nosso tempo de Bambadinca. Especialmente um deles, que na altura se manifestou para comigo de uma amizade e companheirismo sem par: O José Fernando Almeida, ex-Furriel Miliciano de Transmissões, da CCAÇ 12.

Sobre o Almeida, já em tempos enviei ao editor uma estória que não foi publicada, suponho que se tenha perdido ou então não mereceu esse estatuto. De qualquer modo, torno a enviá-la.

Um abraço

GG

Uma dívida de gratidão

por Gabriel Gonçalves (2)

Cada vez que navego no blogue há lembranças que despertam na minha memória. Uma das coisas que me atormentava era não me lembrar do nome do nosso furriel de transmissões que, em dada altura da comissão, já mais para o fim, me salvou de uma situação por que passei, bastante difícil, pois adoeci gravemente, baixando à enfermaria onde fui tratado pelo Dr. Saraiva e pelos nossos pastilhas.

Era o Almeida, grande amigo, reconheci-o numa foto do blogue. Nessa altura ele era o responsável pela messe de sargentos e oficiais.

Estando eu acamado na enfermaria, fui visitado pelo sargento Piça e pelo primeiro Brito, que chegaram à conclusão que eu estava muito magrinho e que precisava de comer melhor. Comer melhor...
- A comida do refeitório das praças é uma granda merda!!!
- Vamos falar com o Almeida - disseram eles e arrancaram!

Mais tarde voltaram na companhia do Almeida e anunciaram num tom cerimonioso: a partir de agora vais arranchar na messe.

Desde esse dia arranchei na messe e, passado algum tempo, elhorei e tive alta, era ver-me a engordar de dia para dia, ainda por cima comia na cozinha juntamente com os cozinheiros que é onde se come melhor.

São coisas que um gajo não pode esquecer, é nos momentos difíceis que se vê os amigos, jamais lhes poderei agradecer condignamente.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. pots de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1788: Convívios (10): Pessoal de Bambadinca 1968/71: CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12, Pel Caç Nat 52 e 63 (Luís Graça)

(2) Vd. outros post do Gabriel Gonçalves:

18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1377: CCAÇ 2590/CCAÇ 12: Apresenta-se o 1º Cabo Operador Cripto Gabriel Gonçalves

26 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1464: Oficiais, sargentos e praças: tropa é tropa, uísque é uísque (Gabriel Gonçalves / Luís Graça)

2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1485: Bambadinca revisitada... ou os azares de um operador cripto em fim de carreira (Gabriel Gonçalves, CCAÇ 12)

24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1695: Cancioneiro de Bambadinca: Isto é tão bera (Gabriel Gonçalves)

26 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1700: Bambadinca: Quando a cantiga... era uma arma (Gabriel Gonçalves)

Guiné 63/74 - P1791: Convívios (11): 32º encontro da CAÇ 12 (Bambadinca, 1971/73) (Victor Alves)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Finete, regulado do Cuor > 1969: Destacamento de milícias e aldeia em autodefesa de Finete, junto ao Rio Geba, frente a Bambadinca. 

Na foto, o autor (furriel miliciano Henriques) e dois dos soldados africanos da CCAÇ 12, do 4º Grupo de Combate, o Soldado Arvorado (mais tarde promovido a 1º cabo) Samba Só e o Soldado Umarú Baldé, apontador de morteiro 60 (na foto, de pé, de cachimbo)... 

Na época, quando o conhecemos em Contuboel, em Junho de 1969, na instrução da especialidade, o Puto não teria mais do que 16 anos... Ainda hoje me pergunto quem foi o inconsciente que o admitiu nas fileiras do exército português... O Umaru era uma criança... O Umaru, o Puto (assinalado com um rectângulo a amarelo), era uma espécie de mascote da companhia... 

Depois da independência, terá fugido para o Senegal e alcançado Portugal. Vivia na Amadora, trabalhando nas obras. Morreu há tempos, por doença. Soube-o há dias, com tristeza. O Puto teria hoje 53 ou 54 anos, se fosse vivo. 

 Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados. 

1. Mensagem do Victor Alves, que foi furriel miliciano vagomestre na CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/73), o periquito do Jaime, o primeiro vagomestre da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadina, 1969/71). 

 O Victor, que vive em Santarém, acaba, maravilhado, de descobrir o nosso blogue. Há 32 anos que os nossos periquitos da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/73) se reunem anualmente, sem a gente (a velhice) saber. 

O Victor Alves, o Jaime Pereira (ex-Alf Mil) e outros camaradas de que perdemos o contacto começaram a chegar a Bambadinca em Fevereiro de 1971 para nos render... (Cada um de nós, quadros e especialistas metropolitanos foi rendido individualmente). 

No dia 2 de Junho vão realizar o seu 32º almoço de convívio... Aqui fica o programa. 

Victor, aparece na nossa tertúlia e entretanto dá um grande abraço ao resto da malta. Diz-lhes que o Puto morreu. Provavelmente de doença ou de saudade do seu chão, Badora... L.G.

 Santarém, 14 de Maio de 2007 

 Companheiros, Vamos realizar o 32º Almoço da CCAÇ 12 - Dia 2 de JUNHO -Zona Setúbal 

EMENTA 

 - Entradas: Moscatel, Pão regional, queijo de ovelha, manteigas, azeitonas, etc… 

- Peixe: Polvo assado c/ batata a murro e alho c/ azeite da quinta-feira 

- Carne: Borrego Assado no Forno c/ batatinhas e Legumes 

- Nota: Servido em ½ Doses 

- Bebida: Vinhos Branco e Tinto da Casa, Refrigerantes e Águas 

- Digestivos: Excluídos 

 LOCAL: 

RESTAURANTE PÉ DE VINHO 
Rua dos Trabalhadores da Empresa Setubalense 10 
VILA FRESCA DE AZEITÃO 2925-495 AZEITÃO 
Telefone: 212 188 048 

 IMPORTANTE: Preço por pessoa: 20 € (euros)  

Contamos com a presença de todos. 

 Contactos: 93 581 08 98 (Victor Alves); 91 725 50 26 (Jaime Pereira) 

 Victor Alves R: Bernardim Ribeiro-38 r/c 2000-202 SANTARÉM

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1790: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (5): Protecção a uma coluna logística Bula/Có

Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Além de tecnologicamente ultrapassada, a Panhard era uma vitura blindada que se viria a mostrar completamente inadequada às condições do terreno no TO da Guiné. Noutras zonas havia outro de viaturas blindadas, não menos obsoletas e muitas inoperacionais, por falta de peças sobresselentes... O mínimo que se pode dizer é que, no tempo de Spínola, que era da arma de cavalaria, a nossa cavalaria era de... opereta!... Isto não implica qualquer juízo de menos apreço pela abnegação, competência e valentia dos nossos cavaleiros... Estamos só a constatar um facto: uma boa parte do nosso armamento e equipamento era ferro-velho...

A título informativo, recorde-se aqui a constituição de um Esquadrão de Reconhecimento Fox , como o 2640, que esteve em Bafatá (1969/71). Segundo o testemunho, em tempos já publicado, do nosso camarada Manuel Mata (1), este esquadrão era constituído por: (i) um Pelotão de Comando e Serviços; (ii) três Pelotões de Reconhecimento, equipados com as seguintes viaturas: três Auto Metralhadoras DAIMLER; duas Auto Metralhadoras FOX; um Granadeiro com blindagem lateral sendo a sua guarnição composta por atiradores; um Unimog cuja secção tinha um morteiro 81. (LG).



Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Coluna em deslocação de Bula para Có.


Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Apesar das frequentes desmatações das bermas das estradas ou picadas, o capim era quase sempre um elemento presente no cenário de guerra, facilitando as acções de aproximação, simulação e emboscada do IN.


Fotos: © Raul Albino (2007). Direitos reservados.



Quinta parte das memórias de campanha de Raul Albino, ex-alf mil da CCAÇ 2402, pertencente ao BCAÇ 2851 (, Mansabá, Olossato, 1968/70), que embarcou no Uíge, em finais de Julho, juntamente com o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) . Texto enviado em 3 de Maio de 2007 (2). (LG).

Caro Luís,


Após os agradáveis momentos de Pombal, é altura de voltarmos ao activo. Aqui vai o 5º texto das memórias da CCAÇ 2402.

Ainda sobre Pombal e depois de tantos comentários elogiosos e algumas chamadas de atenção, aqui fica um meu apontamento. Quando o Vitor indicou a seguir ao almoço que ia haver uma visita guiada com os automóveis a seguirem em fila, tive um presentimento de que não ia ser fácil o esquema resultar. É que no ano anterior no convívio da CCAÇ 2402 em Figueiró dos Vinhos, o Beja Santos conseguiu que a Câmara cedesse dois autocarros para uma visita semelhante e tudo correu às mil maravilhas. Uma coluna de viaturas não é a mesma coisa e os meus receios de dispersão, infelizmente, vieram a concretizar-se.

Foi uma iniciativa de periquito, que não afectou o global da optima organização do Vitor. Parabéns a ele pelo seu evento. Saudações a todos, Raul Albino.


Protecção a coluna de reabastecimento Bula/Có

por Raul Albino



Esta operação passou-se no dia 24 de Setembro de 1968, tendo como objectivo proteger a coluna de reabastecimentos vinda de Bula para Có. Só mais tarde viria a saber que nessa coluna viajavam também alguns colegas nossos que vinham render aqueles que, por doença ou outra qualquer razão, nos tinham deixado. Será curioso observar os seus relatos do contacto com o inimigo, sobre o ponto de vista de quem fazia parte da própria coluna que estávamos a proteger.

A protecção era constituída pelo 3º pelotão, mais outro pelotão que não recordo qual mas que detinha o comando da operação e ainda alguns milícias nativos. Deslocámo-nos pela manhã de modo a tomarmos posições de protecção. Escolhemos o local mais sensível a emboscadas do inimigo, pelas características do terreno, cheio de capim e mato, cujo historial antecedente apontava para ser um dos pontos preferidos de ataque do inimigo às nossas colunas.

Montámos a protecção colocando as tropas numa linha paralela ao trilho, como podem ver na figura (os desenhos com espinhos são árvores e não rebentamentos), não tão perto do trilho que tornasse a nossa acção inútil, nem tão afastado que se perdesse o contacto com a coluna de veículos.



Mais uma vez o inimigo mostrou uma especial inteligência para aquele tipo de guerrilha, pois às 11.25 h da manhã, quando a coluna de veículos se deslocava à nossa vista, o inimigo desencadeou um ataque com morteiro 60 e armas automáticas ligeiras.

O engenhoso deste ataque é que, devido à grande altura do capim naquela altura do ano, o inimigo conseguiu infiltrar-se entre as nossas tropas de protecção e a própria coluna, iniciando o tiroteio e mudando imediatamente de posição, esperando que a reacção da coluna incidisse sobre as nossas tropas, após a sua rápida retirada desse local.

Essa estratégia quase resultou e me fez passar um dos maiores sustos da guerra. Para minha surpresa vejo a Panhard que seguia junto aos camiões da frente da coluna, avançar ligeiramente pelo interior do mato, rodando a torre do canhão em direcção a mim e aos meus companheiros, pronta a fazer fogo. Logo que me apercebi da manobra, tive de tomar uma opção arrojada, levantei-me sujeito a ser baleado pelo inimigo, gesticulando para o blindado indicando em que direcção o inimigo estava e para onde devia direccionar o tiro.

O meu desespero consistia em saber se dentro da torre do blindado me estavam a ver e se entendiam os meus gestos. Para minha alegria, a torre voltou a girar, agora na direcção correcta e os seus disparos começaram a fazer debandar o inimigo, frustrando-lhes a esperança de verem as nossas tropas aos tiros entre si. Bem vistas as coisas, não me restava outra alternativa senão arriscar, pois entre um tiro do inimigo e uma granada da Panhard não ficava grande escolha.

A acção das Panhard também aqui se mostrou ser mais um elemento dissuasor do que verdadeiramente uma arma de grande efeito sobre o inimigo. Senão vejamos, era um blindado ligeiro, como podem ver na foto acima, com um pequeno canhão lança-granadas e uma ou duas metralhadoras, possuindo rodas grandes em pneu e aqui consistia a sua principal fraqueza. Os pneus davam-lhe ligeireza, mas não tinham sido concebidos para aquele terreno, impedindo-os de entrarem pelo mato dentro.

Quando deste ataque, as bermas do caminho tinham sido desmatadas, mas os tocos aguçados do mato cortado estavam por todo o lado e eram o principal inimigo para os pneus destas unidades, impedindo-as de ir muito longe. Aliás, esta fraqueza tornou-se rapidamente patente com a degradação dos pneus, levando à paralisação continuada de viaturas, para ceder os seus pneus às que se mantinham no activo. Devido à enorme dificuldade de reposição de peças de substituição para aqueles veículos de tecnologia ultrapassada, creio mesmo que com o tempo e uso, acabaram todos por ficar inoperacionais.

Mais tarde, pelas 13,45 horas, quando do regresso das viaturas a Bula, o inimigo efectuou outra emboscada à coluna, desta feita já sem protecção das nossas tropas no terreno. No entanto as nossas tropas, que acompanhavam a coluna, responderam ao fogo, continuando o seu avanço e pondo em fuga o inimigo, sem que este tivesse causado qualquer dano material ou humano.

Curiosamente, neste mesmo dia, seguiria o 1º Pelotão, comandado pelo Alferes Brito, com destino à Ilha de Jete [, ao largo de Caió, a sudoeste de Teixeira Pinto, ] para aí instalar um posto de protecção àquela zona geográfica da Guiné.


Visão (e texto) do militar Carlos Nascimento Silva Pereira que integrava a coluna atacada:

Eu fui para a Guiné alguns meses mais tarde do que a restante companhia, devido a ter sido sujeito a uma intervenção cirúrgica no hospital militar.

Lembro-me do dia em que cheguei e estava em Bula com uma escolta à minha espera e a mais dois colegas para seguirmos todos juntos para Có. Em Bula o 1º sargento deu-me a sua arma e cartucheiras. No trajecto para Có, fomos atacados pelos 'Turras'.

Eu ia em cima de uma viatura Unimog com mais alguns camaradas e atirámo-nos para o chão, tendo caído dentro de um buraco cheio de formigas enormes. Quando me apercebi que estava a ficar coberto de formigas, saltei fora do buraco e escondi-me por detrás de uma árvore, ficando os meus camaradas dentro a serem mordidos pelas formigas. Quando olho para o lado apercebi-me de outro camarada (condutor) escondido atrás da viatura às gargalhadas perante a nossa aflição.

No meio de tanta aflição procurei 'dar fogo' ao inimigo mas não conseguia, só mais tarde me apercebendo que tinha a arma em segurança. Como resultado de terem ficado dentro do buraco, os meus camaradas tiveram de receber tratamento.

Carlos N. S. Pereira

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Nota do autor (R.A.):

Nalguns textos que virei a enviar ao blogue, torna-se interessante observarmos os depoimentos de militares que, estando presentes no mesmo acontecimento, o viram com outros olhos e outra perspectiva, contribuindo para um relato mais rico e pormenorizado. Pena que nem todos tivessem respondido ao meu repto, uns por não terem jeito para a escrita, outros porque ainda temem tocar nestes assuntos que eles fizeram por esquecer. Imaginem um ataque ao quartel visto de vários ângulos e descrito por vários intervenientes … Parece um filme com várias câmaras.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (Manuel Mata) (3)
(2) V d. post anteriores:
15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira

6 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1343: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (2): O primeiro ataque ao quartel de Có, os primeiros revezes do IN

12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1516: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (3): Combatentes, trolhas e formigas bagabaga

13 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1658: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (4): Uma emboscada em Catora e um Lobo Mau pouco predador

Guiné 63/74 - P1789: Blogues que nos citam (2): Amante da Rosa ou a Geração das Flores da Revolução de Bissau

Amante da Rosa > "Meu Cabo Verde. História e Estórias. Minhas raízes, família e recordações. A Guiné. Pensamentos e Imagens. Sem ordem cronológica".


1. Um blogue no feminino. Carla. Cabo Verde. Ilha de Santiago. Praia... A Carla é filha do nosso amigo e camarada Manuel Amante (1) e, espero, futuro membro da nossa tertúlia ou Tabanca Grande....

Com a devida vénia, transcrevo este post recente que fala de nós, Luís Graça & Camaradas da Guiné (2):

Terça-feira, Maio 08, 2007 > Blogueforanada - sem palavras.


Muito ouvimos nós, a geração das Flores da Revolução de Bissau, falar da luta da libertação nacional que decorreu nas matas da Guiné e dos nossos bravos combatentes e libertadores da pátria amada que lutaram corajosamente contra os tugas colonizadores (assim era a linguagem, não há enganos). Enfim... Jovens cheios de ideais nobres que combateram contra outros jovens, alguns renitentes e outros "impregnados ainda dos ideais de um império moribundo" como alguém me disse.

A parte dos combates foi sempre muito abstracta e idealizada na minha mente. Uma de mistura de memórias de criança com imagens do filme "Mortu Nega" e uns salpicos daquelas elipses convenientemente cinematográficas, onde se leva o espectador directamente para o que interessa, sendo dispensado de ver a parte chata e, sobretudo, sem aflorar a tragédia que está por detrás da rotina dos acontecimentos. Gostaria de poder acreditar que, da minha parte, foi uma negação mascarada de ingenuidade.

Mas... e o concreto? O sangue, os massacres de populações civis indefesas, os fuzilamentos, as luta corpo a corpo? As situações mórbidas que poucos têm coragem de perguntar e que, muitos dos que levaram a cabo essas acções, não gostariam de se lembrar?

Há blogs engraçados, curiosos, originais e há blogs que me provocam, literalmente, uma reacção orgânica qualquer que não consigo explicar. O blogueforanadaevaotres editado por Luís Graça é um deles. Narrado quase sempre na primeira pessoa, relata o historial da guerra na Guiné e como foi vivido pelos portugueses. Está tudo lá! São descrições, factos e memórias impressionantes. Conforme ia lendo só me ocorria uma palavra - Catarse.

Não se consegue ler tudo de uma vez e o que se vai descobrindo arrepia. Arrepia a estória de Uloma, o comando africano “caçador de cabeças”. Sobressalta o alegado número de fuzilados que o historiador Leopoldo Amado avança e surpreende saber que o Supervisor da 1ª. Companhia de Comandos Africanos e Director de Instrução de Cursos de Comandos em Fá Mandinga, que se chamava Octávio Manuel Barbosa Henriques, nasceu em 18 de Novembro de 1938, na Freguesia de Nª. Sr.ª da Conceição, ilha do Fogo.É o outro lado e há muito a descobrir...

Já agora... Recomendo a visita a esta página, também no mesmo blog, que tem informações interessantes sobre a força expedicionária portuguesa em que passou por São Vicente durante a II Guerra mundial.

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2. Este post suscitou dois comentários: o primeiro é de alguém que, francamente, fez uma leitura muita apressada do nosso blogue (por onde já passaram mais de centena e meia de homens e mulheres e onde já se publicaram, em dois anos, cerca de 1800 textos, fora os milhares de imagens)... É de alguém que faz juízos de valor apressados e nem sequer leu (ou entendeu) as dez normas de conduta que norteiam o nosso blogue. Blogue que de resto não é dele, do tuga Luís Graça, é de um colectivo, de gente de grande generosidade, que ama a Guiné e o seu povo, que historicamente fez a guerra colonial, e que luta hoje pelo direito à memória... Ora ninguém pode viver sem memória, indivíduos ou povos... E a memória, tanto dos vencidos como dos vencedores, é sempre (re)construída...

É gente que tem nome, que pensa pela sua cabeça, que é cultural, ideológica e politicamente plural, e que até é capaz de pequenos gestos solidários como, por exemplo, estar hoje, às 10 hora da manhã, na Reitoria da Universidade de Lisboa, para apoiar, abraçar e escutar um dos seus, o lusoguineense Leopoldo Amado, a defender a sua tese de doutoramento em História Contemporânea > Guerra colonial 'versus' guerra de libertação: o caso da Guiné-Bissau... E muitos outros não puderam estar, porque vivem longe ou têm os seus inadiáveis afazares profissionais... Em representação da nossa Tabanca Grande estavam lá, além de mim, o João Tunes, o José Martins, o Carlos Fortunato, o António Santos e o Hugo Moura Ferreira (espero não ter omitido ninguém)... Sem contar os amigos e familiares do Leopoldo, pois claro... (LG)

hiena disse...

Por acaso passei há dias nesse blog (foranada...etc) , e fiquei sabendo algumas coisas - o outro lado... Claro que senti a escrita dele um pouco suspeita, naturalmente puxa a brasa pra sua sardinha, fiquei com a impressão que era americano que contava seus feitos heróicos no Vietnam, tipo foram os outros e não nôs, muito romântico... Ficou a dúvida mas essa sempre estará presente pois as guerras têm sempre duas verdades ! Qual será a mais verdadeira ? Nunca saberemos! By the way , continua ...

5/15/2007 11:37 AM

Anónimo disse...

É ainda mais difícil saber onde está a verdade porque um dos lados se recusa a falar sobre o assunto.

5/16/2007 8:23 AM

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...

(2) Vd. post anterior desta série > 22 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1777: Blogues que nos citam (1): Rumos e Culturas, de Carlos Palmeiro

domingo, 27 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1788: Convívios (10): Pessoal de Bambadinca 1968/71: CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12, Pel Caç Nat 52 e 63 (Luís Graça)

Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de Maio de 2007 > Encontro do pessoal de Bambadinca 1968/71 > A organização coube ao Fernando Calado (na foto, à esquerda), coadjuvado pelo Ismael Augusto, ambos da CCS/BCAÇ 2852 (1968/71).

O grupo (mais de 60 convivas) teve na Dra. Rosa Calado (na foto, ao centro), elemento da direcção da Casa do Alentrejo, uma simpatiquíssima anfitriã. O editor do blogue e fotógrafo, à direita, chegou tarde, mas ainda a tempo de constatar que a organização esteve impecável e o que o sítio não podia ser melhor, em pleno coração de Lisboa. O fotógrafo de circunstância foi o Ismael.

O ex-soldado condutor auto da CCAÇ 12 Alcino Braga (que vive em Lisboa), com dois homens marcados para sempre pela guerra: o ex-Fur Mil At Inf António Fernando Marques, gravemente ferido numa mina anticarro, em 13 de Janeiro de 1971 (1) (2); e o ex-Fur Mil Patuleia, meu vizinho, natural do Bombarral, e meu amigo (ficou cego na explosão de uma mina em Angola; é ex-presidente da ADFA). O Patuleia e o Marques conheceram-se no Hospital Militar Principal da Estrela.


Elementos da CCAÇ12 > O ex-soldado condutor auto Alcino Carvalho Braga e o ex- 1º Cabo Apontador  de Armas Pesadas José Manuel P. Quadrado (que pertenceu ao 1º Gr Comb da CCAÇ 12, comandado pelo Alf Mil Moreira, seguramente o melhor oficial da companhia). Não sei o que é um e outro fazem hoje na vida. E do Moreiro perdemos o rasto.

O Mourão Mendes (da CCS/BCAÇ 2852, que vive atualmente em Torres Novas) e Gabriel Gonçalves, o famoso GG  (ex- 1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 12, residente em Lisboa).


O ex-Fur Mil At Inf Joaquim A. M. Fernandes, da CCAÇ 12, ao centro, falando com o Marques e o Patuleia. O Fernandes foi ferido, numa mina anticarro, em 13 de Janeiro de 1971, à saída de Nhabijões (2). Vive no Barreiro. Engenheiro, é director da Direcção de Infra-estrtuturas, da Quimiparque... Censurou-me, e com razão, de nunca aparecer nos convívios da malta de Bambadinca,  1968/71... Não me justifiquei: teria dificuldade em fazê-lo... Percebo as suas razões, entendo os seus ressentimentos, sou até capaz de comprender a sua ironia, não gostaria de magoar um amigo... De qualquer modo, hoje os meus camaradas da Guiné não se restringem apenas aos da minha ex-companhia, a CCAÇ 2590/CCAÇ 12...


O Marques e o Patuleia: amigos para sempre. Ambos estão reformados: O Marques, da sua actividade comercial; o Patuleia, como ex-funcionário da Direcção-Geral das Contribuições e Impostos (ainda o conheci, na Repartição de Finanças  da Reboleira, a 3ª da Amadora)...



José Fernando Almeida: ex-Furriel Miliciano de Transmissões, CCAÇ 12. Era o Don Juan da CCAÇ 12. Tinha, de resto, tempo, vagar e... talento para namorar as bajudas de Bambadinca: nunca saiu para o mato... Vive em Óbidos há 10 anos. Ao que sei, o Almeida está reformado da RDP.



O José Luís Vieira de Sousa, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 12, com a esposa e com a Teresa, esposa do Humberto Reis (ausente na Suécia, em viagem de negócios). O Sousa é corrector de seguros no Funchal. O Reis falhou, pela primeira, o encontro do pessoal de Bambadinca 1969/71. Mas venho depôr em seu favor: ele esteve impecavelmente bem representado pela esposa, a Sra. Dona Teresa que, além de grande senhora, é uma santa (não é fácil ser companheira de um camarada da Guiné).

O Sousa, coitado, estava desolado, sem o aparentar: tinha vindo de uma viagem turística à Eslováquia, em voo charter, por conta de uma das seguradores com quem trabalha; mas na volta ficou sem bagagens nem bilhete de regresso ao Funchal... Mesmo assim arranjou disposição para ir ao encontro dos seus velhos camaradas de Bambadinca... Confessou-me que foi comprar uma camisa nova, no hipermercado... Enfim, um gesto que merece a nota de cinco estrelas, na escala de camaradagem, de 1 (Mínimo) a 5 (Máximo)... De resto, em 18 meses de intensa actividade operacional no TO da Guiné nunca vi este homem perder a face, a calma ou as estribeiras!... Ontem como hoje, o Sousa é um homem calmo, razoável, autocontrolado, afável... (Desta vez, não trouxe a sua viola!).


O Ismael Augusto e o José Manuel Amaral Soares, ex-furriel mil sapador, ambos da CCS do BCAÇ 2852. O primeiro vive em Lisboa (trabalhou na RTP como engenheiro e gestor; é actualmente consultor e docente universitário nas áreas da multimédia). O Soares, por sua vez, vive em Caneças.

Malta da CCS do BCAÇ 2852: em primeiro plano, o ex-furriel milicano vagomestre Carvalhal (que vive em Vila Nova de Famalicão e foi um dos organizadores do encontro do ano passado), o Fernando Taco Calado e o Mourão Mendes. Não consigo identificar o camaradas que está por detrás do Calado. Nem sei qual era o posto e a especialidade do Mourão Mendes.

O Jorge Cabral (ex-Alf Mil do Pel Caç Nat 63), conversando com o Ismael e  Otacílio Luz Henriques (ex-1º cabo bate-chapas, do pelotão do Ismael, o pessoal da ferrugem). Como toda a gente sabe, o Cabral é advogado e docente universitário, além de excelente escritor. Bem gostaria de ver editado um book com as suas deliciosas estórias cabralianas... Prometeu-me em breve mandar mais uma: disse-me o título, que não fixei...

O Agnelo Ferreira Pereira e a esposa. Ambos são meus conterrâneos, da Lourinhã. É um velho amigo de infância. Foi o primeiro camarada com quem falei, ao passar por Bambadinca no dia 2 de Junho de 1969, a caminho do meu destino (Contuboel, a nordeste de Bafatá), quatro dias depois do grande ataque ao aquartelamento, sede do Sector L1.

O Agnelo era operador de transmissões, fazendo parte da equipa do ex-Alf Mil Trms Fernando Calado. Recordo-me ainda das palavras do meu amigo: - "Podíamos ter morrido todos" [se as canhoadas e morteiradas tivessem acertado em cheio no alvo]... O Agnelo está hoje reformado. Trabalhou, com os irmãos, como despachante alfandegário... A entrada na CEE provocou um terramoto nesta actividade... E o Agnelo sofreu com isso...

O Isamael e o casal Calado. A Rosa (que é professora de história no ensino secundário, em Lisboa) faz parte dos orgãos de gestão da Casa do Alentejo. Teve a gentileza de fazer as honras da casa. Pequeno privilégio, mostrou-me a mim, ao Fernando e ao Isamael, algumas das salas, não abertas ao público, e que foram recentemente remodeladas... A sua próxima batalha é encontrar um (ou mais) mecenas para as urgentes obras de reparação da cobertura do prédio.

Dois antigos elementos da CCAÇ 12 > à esquerda, o Francisco Patronilho (ex-Sold Condutor Auto, vive hoje em Brejos de Azeitão) e, à direita, o Fernando Andrade Sousa (ex-º Cabo Aux Enf, vive na Trofa, tendo organizado, em 2006, juntamente com o Carvalhal, o anterior encontro do pessoal de Bambadinca 1968/71).

O Patronilho, que já era casado e tinha um filho, quando esteve em Bambadinca, teve que puxar pela imaginação e suar as estopinhas para arranjar um dinheirinho extra para mandar à família e ir visitá-la nas férias... De regresso à vida civil, foi preparador de trabalho na Lisnave até se chatear com o ambiente e montar o seu próprio negócio, na área da reparação automóvel (se bem percebi), na terra onde vive... O Sousa, residente na Trofa, tanto quantome lembro, trabalhou na indústria têxtil e reformou-se no bom tempo, há menos de meia dúzia de anos... Nenhum deles tem ou usa e-mail. Mas o Sousa de vez em quando vai espreitar o nosso blogue...


O ex-Furriel Miliciano At Inf, da CCAÇ 12, Joaquim Pina. Continua a viver em Silves (Algarve). Foi ferido em combate, no decurso da Operação Borboleta Destemida, em Janeiro de 1970. Era um exímio amador de ilusionismo e bom tocador de viola. Um homem extramamente afável e bom camarada. Gostei de o rever. Não sei o que faz hoje. Confessou-me que não conhece o blogue nem tem e-mail, o que não é crime, mas é uma... pena (3).

Fotos: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.





Videoclipe (36 segundos) > O nosso Pavarotti alentejano... Voz: Fernando Taco Calado (ex-técnico superior na área da gestão de recursos na Petrogal; actual docente universitário; excelente executante do cante alentejano). Assistência: O ex-furriel dos reabastecimentos Lopes (espantosamente tem a mesma cara de há 38 anos, e que eu reconheci imediatamente) e o ex-furriel vagomestre Carvalhal (ex-CCS do BCAÇ 2852)... Faltou desta vez a viola do J. L. Vacas de Carvalho (ex-Alf Mil Cav, do Pelotão Rec Daimler 2206, Bambadinca, 1969/71). Há uma voz, que se ouve, a reclamar a massa do almoço, e que é a da Dra. Rosa Calado, da direcção da Casa do Alentejo... Entrentanto, sou testemunha de que o nosso Fernando, depois deste pequeno ensaio de um belíssimo cante alentejano, liquidou as contas do almoço... Cerca de 1500 euros, se a vista ou a memória me não atraiçoam...

Para reproduzir o vídeo, basta clicar duas vezes na imagem e, naturalmente, ligar o som... Devo acrescentar que o Fernando Taco Calado já nos tinha dado, há uns meses atrás, no encontro da Ameira, um cheirinho dos seus grandes dotes vocais (4), fazendo-nos (re)lembrar algumas das nossas noitadas de Bambadinca... A este propósito, costumo lembar que eramos mochos - os operacionais e muitos outros... Vivíamos de noite, dormíamos de dia (quando nos deixavam)... Para quem andava no mato, as 4 da madrugada eram a hora mortal do dia, a hora de todas as angústias... Saíamos ainda de noite, cerrada, para as nossas operações, tentando surpreender o IN no seu sono profundo... Depois do jantar, e até às tantas, era preciso ocupar o tempo: cantando, jogando, bebendo, escrevendo, ou simplesmente tabaqueando o caso, como dizem os alentejanos...

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Casa do Alentejo, Lisboa, 26 de Maio de 2007 > Almoço-convívio do pessoal de Bambadinca 1968/71 > Vídeo (36 segundos) > O nosso Pavarotti alentejano > Fernando Calado, natural de Ferreira do Alentejo, no seu melhor... mas desculpando-se de que um alentejano nunca canta sozinho...

Na emblemática e histórica Casa do Alentejo, sita no nº 58 da Rua Portas de Santo Antão, em pleno ventre de Lisboa, sob a batuta do Fernando Calado e do Ismael Augusto, realizou-se mais um almoço-convívio, no passado dia 26 de Maio, do pessoal que esteve em Bambadinca, entre 1968 e 1971.

Os convivas ultrapassaram as 6 dezenas, incluindo familiares. Cheguei, conforme prometido, já no fim do repasto, mas deu para rever velhos camaradas da Bambadinca do meu tempo, tanto da CCS do BCAÇ 2852 como da CCAÇ 12... Do pessoal de outras unidades adidas ao comando do Sector L1 só encontrei o Mário Beja Santos (Pel Caç Nat 52, que estava de saída quando eu entrei) e o Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63).

Do pessoal da minha antiga companhia, revi alguns ex-furriéis milicianos (Pina, Fernandes, Marques, Almeida e Sousa), ex- condutores como o Patronilho e o Braga, ex-ajudantes de enfermeiro como o Sousa, e ainda ex-operadores cripto: o Gabriel Gonçalves e o Murta (de que não tenho registo fotográfico).

Da CCS do BCAÇ 2852, há a registar a presença dos ex-Alf Mil Ismael Gonçalves (Manutenção) e Fernando Calado (Transmissões), os dois organizadores do encontro, além do ex-Furriédis Miliciano Soares (Sapador), Carvalhal (Vagomestre) e Lopes (Reabastecimentos).

O Mendes Mourão será o organizador do próximo encontro, em Maio de 2008, em Torres Novas. Tive também o grato prazer de encontrar o meu amigo Agnelo Ferreira Pereira e esposa, ambos da Lourinhã.
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXIX: E de súbito uma explosão (Luís Graça)

(...) " Excertos do Diário de Um Tuga (ex-furriel miliciano Henriques, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) > 13 de Janeiro de 1971 > E de súbito uma explosão. O sol dos trópicos desintegra-se. O céu torna-se bronze incandescente. O mamute de três toneladas dá um urro de morte ao ser projectado sob a lava do vulcão. E depois, silêncio... Era uma hora e meia da tarde quando o meu relógio parou, na estrada de Nhabijões-Bambadinca" (...).


(2) Vd. post de 23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971) (Luís Graça)


(...) "História da CCAÇ 12 (1969/71)

"(19) Janeiro de 1971: 1 morto de 6 feridos graves aos 20 meses


"O dia 13 seria uma data fatídica para as NT, e em especial para a CCAÇ 12 cujos quadros metropolitanos estavam prestes a terminar a sua comissão de serviço em terras da Guiné. Eis o filme dos acontecimentos:

"(i) Às 5.45h o 1º Gr Comb detectou, durante a batida à região de Ponta Coli, vestígios dum grupo IN de 20 elementos vindos em acção de reconhecimento aos trabalhos da TECNIL na estrada Bambadinca-Xime e locais de instalação das NT.

"(ii) Às 11.25h, na estrada de Nhabijões-Bambadinca, uma viatura tipo Unimog 411, conduzida pelo Sold Soares (CCAÇ 12) que ia buscar [a Bambadinca] a 2ª refeição para o pessoal daquele destacamento, accionou uma mina A/C.

"0 condutor teve morte instantânea. Ficaram gravemente feridos 1 Oficial (CCS / BART 2917)[Alf. Mil. Moreira] (a), 1 Sargento (Fur Mil Fernandes/CCAÇ 12) e 1 Praça (CCS / BART 2917).

"(iii) Imediatamente alertadas as NT em Bambadinca, o Gr Comb de intervenção (4º, CCAÇ 12) recebeu a missão de seguir para o local a fim de fazer o reconhecimento da zona, enquanto outras forças acorriam a socorrer os sinistrados.

"Ao chegar junto da viatura minada, o Cmdt do 4° Gr Comb [Alf. Mil. Rodrigues] (b) deixou duas praças a fazer a pesquisa, na estrada e imediações, de outros possíveis engenhos explosivos, no que foram apoiados por alguns elementos do destacamento, seguindo depois uma pista de peugadas recentes, detectadas nas proximidades, e que se dirigiam para a orla da mata.

"Aqui, a 50 metros da estrada, atrás duma árvore incrustada num baga-baga, encontraram-se vestígios muito recentes. Seguindo os rastos através da mata, foi dar-se à antiga tabanca de Imbumbe [um dos cinco núcleos populacionais de Nhabijões (c), agora transferidos para o reordenamento], mas nas proximidades do reordenamento (Bolubate) aqueles passaram a confundir-se com os do pessoal que trabalha na bolanha.

"(iv) Regressado ao local das viaturas, o Gr Comb pelas 13.30h recebeu ordens para recolher, tendo o pessoal tomado lugar no Unimog e na GMC em que tinha vindo. Esta última [onde vinham as secções, comandadas pelos Fur. Mil. Marques e Henriques] (d) , entretanto, ao fazer inversão de marcha, e tendo saído fora da estrada com o rodado trazeiro, accionaria uma outra mina A/C colocada na berma, a 10 metros da anterior, e que não havia sido detectada pelos picadores.

"Em resultado de terem sido projectados, ficaram gravemente feridos o Fur Mil Marques e os Sold Quecuta, Sherifo, Tenen e Ussumane. Sofreram escoriações e traumatismos de menor grau o Alf. Mil. Rodrigues, o Sold TRMS Pereira e os Sold Cherno e Samba" (...).

(3) Vd. post de 12 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXIII: Op Borboleta Destemida: uma emboscada de meia-hora (Poindon/Ponta Varela, CCAÇ 12, Janeiro de 1970) (Luís Graça)

(...) "Enveredando por aí, e passados uns 100 metros, os homens da frente (1º Gr Comb da 12), ao entrarem numa clareira, detectaram um grupo IN instalado atrás de baga-bagas e de árvores. Evidenciando grande rapidez de reflexos, o apontador de LGFog 8,9 Braima Jaló foi o primeiro a abrir fogo. No mesmo instante começámos a ser violentamente flagelados com Mort 82, Lança-Rckets e rajadas de metralhadora. Uma granada de morteiro rebentou junto da 2ª secção do do 1º Gr Comb, tendo os estilhaços atingido o Furriel Mil Pina, o 1º Cabo Atirador Valente e os soldados Baiel Buaró e Sajo Baldé " (...).

(4) Vd. post de 24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1208: Eu ouvi o passarinho, às quatro da madrugada (J.L. Vacas de Carvalho / Fernando Calado)

Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > 1969 >O Fur Mil Ap Armas Pesadas de Infantaria Henriques, no cais de Bambadinca. Ao fundo, um dos barcos civis que faziam periodicamente a viagem Bissau-Bambadinca, passando pelo temível Mato Cão, no percurso Xime-Bambadinca, o primeiro troço do Geba Estreito. O Rio Geba era navegável até Bambadinca. As embarcações da Marinha Portuguesa (nomeadamente as Lanchas de Desembarque Grandes) só iam até ao Xime. Em Bambadinca, junto aos cais, frente à bolanha de Finete, havia um destacamento, guarnecida por um pelotão de intendência. Tanto o Xime como Bambadinca eram dois pontos de entrada da Zona Leste. Grande parte do abastecimento desta vasta zona eram feitos por terra e por rio. (LG)

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem de Manuel Amante , embaixador Manuel Amante da Rosa que, entre outros cargos e funções, foi conselheiro do Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de Cabo Verde (2005), embaixador de Cabo Verde no Brasil (1992/2002) e em Angola (1995/99), observador internacional da OUA no processo de democratização da África do Sul (1993/94), diplomata em Moscovo, colocado na embaixada de Cabo Verde (1986/90) bem como na missão permanente de Cabo Verde nas Nações Unidas, em Nova Iorque... Enfim, um invejável currículo para quem, tendo nascido na Guiné, ainda em 1973/74 estava nas fileiras do Exército Português, mas já era, muito provavelmente, simpatizante ou militante do PAIGC... (LG)


Caro Luís Graça,

Há muitos meses que venho acessando, diariamente, por vezes mais do que uma vez, o que se tornou recanto de milhares de militares que passaram pelo TO da Guiné.

Também fui militar (73/74), de recrutamento local, no CIM de Bolama onde fiz a recruta e especialidade antes de ser colocado no QG (Chefia dos Serviços de Intendência) em Bissau. No momento de ser incorporado, tal como muitos da minha geração, estava relativamente familiarizado com as questões de foro castrenses. Não se podia viver na Guiné e ficar alheio ao que se passava e à inutilidade que essa guerra significava em termos de vidas humanas.

Na minha infância e adolescência fiz muitas viagens pelo interior da Guiné-Bissau durante a luta de libertação. Mas o que mais me encantava (70/73), pelas paisagens e desafios, era subir o Rio Geba, nas férias ou mesmo nos fins de semana, num dos barcos de passageiros do meu Pai (o Bubaque, antiga traineira algarvia, adquirida pela Marinha portuguesa e transformada, nos inícios da guerra, em Lancha Patrulha nº4, até ser comprada pelo meu Pai e transformada em navio de transporte, mais popularmente conhecido por Djanta Kú Cia).

A jornada começava com a enchente da maré, passando por Portogole, Ponta Varela, Xime e daqui para a frente quase sempre a rasar as margens, ora de um lado ora de outro, ver passar o Mato Cão e Nhabijões até chegar ao pequeno mas movimentado porto de Bambadinca, onde sempre havia lanchas e batelões.

Não raras vezes, no regresso, saíamos de noite de Bambadinca rezando, tripulantes e passageiros, para que nada acontecesse até passarmos o Mato Cão. Salvo raras ocasiões as preces foram escutadas. O encanto era absorvente em noites de luar a descer o Geba a favor da maré, com o maquinista a ficar satisfeito, em termos de rotações do motor, só quando via faíscas e fumo espesso a sair da chaminé. Parecia que andávamos numa estrada cheia de curvas tal a velocidade com que descíamos o rio. As apreensões só desapareciam, na última curva, quando víamos as luzes do quartel do Xime. De noite Ponta Varela não constituía perigo. Passávamos a uma razoável distância.

Faço estas referências porque acabei por rever muitas imagens de Bambadinca e das suas gentes, onde passei férias com mais colegas estudantes e ia à caça, idas à boleia em viaturas militares ou civis, sem escoltas até ao Xime para ver o macaréu passar, cambanças para a outra margem do porto de Bambadinca de canoa, visita ao aquartelamento de Nhabijões que muito impressionou pela vetustez das instalações e más condições que facultava.

A minha filha tem um blog, Amante da Rosa, em Cabo Verde, que faz referência ao seu.

Sou amigo do Pepito.

Abraços e votos de que as memórias, por mais dolorosas que possam ter sido, não sejam apagadas mas se possam erigir numa teia que envolva ainda mais a todos os que nasceram, viveram ou tenham passado pela Guiné.

Manuel Amante

2. Comentário de L.G.

Caro embaixador e antigo camarada de armas:

Amigo de Pepito, nosso amigo é. Bastar-lhe-ia, aliás, invocar a sua condição de guineense, de ascendência caboverdiana, tendo feito a tropa no Exército Português, como muitos simpatizantes e até militantes do PAIGC, para se criar aquela saudável cumplicidade entre homens que têm em comum, pelo menos, a mesma paixão pela Guiné, as suas gentes, as suas tabancas, os seus rios e os seus braços de mar, as suas savenas e as suas florestas-galeria... Homens que falam a mesma língua e fazem os meus votos de paz e de amizade entre os povos, os seus povos, hoje, Cabo Verde e Portugal, respectivamente. Homens que cruzaram o Geba (2), e que conhecerem o rio-serpente, o Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca...

Cabo Verde, que eu não conheço (estive apenas uma ou duas horas no Sal, dentro de um avião), faz parte do meu imaginário: o meu pai foi expedicionário, na Ilha de São Vicente, aquartelado no Mindelo, entre 1941 e 1943... E eu convivi durante a minha infância com as suas estórias, as suas recordações e o seu álbum de fotografias, algumas das quais já reproduzi na I Série deste blogue (1).

Obrigado pelas suas recordações da Guiné, e Bissau, do Rio Geba, da Ponta Varela (3), do Xime, de Enxalé, do Mato Cão, de Nhabijões, de Bambadinca... Obrigado por nos dar a conhecer o surpreendente blogue da Carla, a Amante da Rosa (Ilha de Santiago, Praia), que irá merecer, em breve, um destaque especial no nosso blogue... Obrigado, enfim, pelas suas belíssimas palavras e pelos seus votos, de homem sábio e vivido que nos diz: "que as memórias, por mais dolorosas que possam ter sido, não sejam apagadas mas se possam erigir numa teia que envolva ainda mais a todos os que nasceram, viveram ou tenham passado pela Guiné"...

Em contrapartida, muito nos honraria a sua presença, mais efectiva, no nosso blogue, como membro da nossa Tabanca Grande...

Calorosas saudações.
Luís Graça
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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

12 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIV: Cabo Verde (1941/43) (1): os mortos e os esquecidos do império (Luís Graça)

26 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXVI: Cabo Verde (1941/1943) (2): esperando os invasores (Luís Graça)

22 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLIV: Cabo Verde (1941/43) (3): sodade di Son Vicente (Luís Graça)

4 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXV: Cabo Verde (1941/43) (4): Mindelo, terra de B.Leza e de Cesária Évora (Luís Graça)

(2) Vou no Bissau, / num barco à vela, / no barco da Gouveia. /Aproveito a maré-cheia /e o cacimbo sobre Ponta Varela./

Vd. post de 15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1598: Conto(s) do barqueiro do Geba (Luís Graça)

(3) Referências a Ponta Varela, no nosso blogue, são inúmeras. Veja-se, por exemplo:


8 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLVI: Setembro/69 (Parte I) - Op Pato Rufia ou o primeiro golpe de mão da CCAÇ 12 (Luís Graça)

(...) "Tratava-se de um destacamento avançado a escassas horas do Xime, composto por 5 cubatas paralelamente à estrada Xime-Ponta do Inglês, do lado oeste, internadas na mata 150 metros.

"O prisioneiro estivera lá três meses antes, e na altura os efectivos eram de cerca de 40 homens, incluindo um grupo especial de roqueteiros que todas as manhãs se deslocavam para a Ponta Varela afim de atacar as embarcações em circulação no Rio Geba. O armamento era constituído por RPG-2 (seis) e armas ligeiras. Com base nestas informações planeou-se imediatamente Op Pato Rufia afim de executar um golpe de mão sobre o acampamento em referência, com o prisioneiro a servir de guia" (...).

9 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLVII: Malan Mané, guerrilheiro, vinte anos, mandinga (Luís Graça)

(...) "Malan fala pouco, a custo. As suas respostas às minhas perguntas são lacónicas, arrancadas a ferro e misturadas com um leve sorriso resignado. Procuro transmitir-lhe sinais de simpatia e de compaixão. Foi no mato ainda djubi [não posso precisar a idade]. Não deve ter conhecido outra vida. Chefe da tabanca levara menino e mulher para o Morès com medo de avião dos tugas. Primeiro deram-lhe uma semi-automática Simonov (uma arma bem melhor que a nossa velha Mauser que está distribuída ao pessoal das tabancas em autodefesa). Começou como milícia: fazia segurança à tabanca e ao pessoal que ia lavrar a bolanha. Mais tarde, é promovido a combatente como municiador do RPG-2. Passou depois a apontador. Há um ano atrás foi ferido em combate, no Xime, quando atacava lancha grande em Ponta Varela" (...)

28 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - VIII: O sector L1 (Xime-Bambadinca-Xitole): Caracterização (1) (Luís Graça)

(...) "2.4.5. Possibilidades do IN: No plano militar: (i) Manter as acções de fogo sobre os aquartelanentos das NT;(ii) Intensificar as acções de guerrilha preferencialnente sobre as tabancas em autodefesa, pelotões de milícia e seus itinerários de socorro;(iii) Realizar acções de reconhecimento nos regulados de Badora e Cossé, a partir dos regulados de Xime, Bissari e Corubal; (iv) Utilizar as linhas de infiltração que do Boé conduzem aos regulados de Xime e Bissari através da faixa norte do regulado do Corubal, e que da área Xime-Mansambo conduzem à estrada Bambadinca-Mansambo; (v) Efectuar acções de barragem á navegação no RGeba, em especial nas áreas de Ponta Varela e Mato Cão; (vi) Reagir à acção de contrapenetração das NT" (...)