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domingo, 17 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13509: Notas de leitura (623): Os "Capitães Generais" e os "Capitães Políticos", por Tenente Coronel Luís Ataíde Banazol (José Manuel Matos Dinis)

1. Em mensagem do dia 13 de Agosto de 2014, o nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), enviou-nos uma recensão ao livro de TCor Luís Ataíde Banazol,  que versa o período revolucionário pós-25 de Abril de 1974.


Os "Capitães Generais" e os "Capitães políticos" 

José Manuel Matos Dinis

Já existe no Blogue uma recensão sobre outra obra do mesmo autor, essa a debruçar-se sobre um imaginário da descolonização, ainda dava os primeiros e controversos sinais do que poderia significar para milhares de pessoas de passagem ou residentes na África "portuguesa".

Agora descobri o livro Os "Capitães Generais" e os "Capitães Políticos" do Tenente Coronel Luís Ataíde Banazol (Prelo Editora, Lisboa, 1976), entre as aquisições que faço em alfarrabistas. Esgota-se em 130 páginas, e transporta-nos para os idos de 76. Trata-se de um texto pessoalizado sobre meia-dúzia de personalidades relevantes do MFA, que, em geral, marcaram períodos do processo revolucionário durante os dois primeiros anos, e através daqueles retratos classifica os períodos então vividos, a partir de análises sarcásticas, que podem questionar os conteúdos de liberdade, democracia, justiça e progresso social, entre as diferentes qualificações que se pretendeu, e ainda se pretende, dar à iniciativa dos capitães.

Segundo Vasco Lourenço em "Avatar", o TCoronel Banazol apareceu numa reunião onde se discutiam requerimentos e processos reivindicativos, e por influência daquele oficial de mais alta patente, os capitães acabaram o encontro com a ideia revolucionária a efervescer. Depois disso, parece ter-se mantido afastado do Movimento, e em 1976, quando edita o presente título, já faz a análise crítica aos êxitos e insucessos da iniciativa revolucionária, dos equívocos, rivalidades e diferenças estabelecidas, que a conduziram a uma revolução "pequeno-burguesa" influenciada pelas actividades dos partidos, que evidenciaram a falta de união em torno de um sentido de orientação claro e unificador entre os militares da génese renovadora.

Logo de início aborda a questão motivadora do Movimento nos seguintes termos: "signo revolucionário decisivo e bem vincado que, como se verá, continuou a comandar todo o desencadear dos acontecimentos até vinte e cinco de Novembro, ponto final prático da conturbada descolonização, apenas catorze dias após a proclamação da independência de Angola. Assim, poder-se-á afirmar que o drama colonial é a via por onde tudo se escoa, como torrente impetuosa que arrasta consigo vidas e haveres, convicções e esperanças, corpos e almas, num torvelinho catastrófico sem paralelo na História de Portugal". E sobre o Programa do MFA ("na reunião de 5 de Março tinha sido assumido como essencial a elaboração de um programa político" - no Avatar) conclui que «estas "criações de condições", lançamentos de fundamentos, e a nível nacional, seriam coisas de entusiasmar, se fosse possível abstrair da existência "dos outros"... e "que se teve de enveredar pela traição ao programa do MFA"» no conjunto de considerandos políticos sobre o ultramar. Também abordou com clareza, crer que "pela primeira vez na História, os escalões combatentes provaram que poderiam decidir da guerra ou da paz, antecipando-se ou mesmo sobrepondo-se às decisões dos altos comandos", e no decurso da orgia revolucionária, também provaram que "poderiam ditar procedimentos a esses altos comandos, fazendo destes apenas coordenadores e procuradores, digamos, dos anseios de paz e de regresso à Pátria donde tinham partido, estrangulados pela angustia e pelo desespero. E é neste contexto que se torna impossível a execução de qualquer directiva superior, desde que ela esteja em desacordo ou de algum modo possa vir a condicionar as aspirações do fim da guerra e do regresso". Ora, a tal "torrente" é facilmente identificada pela "sincronia destas tomadas de posição dos escalões combatentes em África com as reivindicações populares em Portugal... e as conquistas revolucionárias do campesinato e do proletariado levam o passo certo com a retirada sucessiva dos efectivos das frentes de combate", conjugação de actuações que hoje nos permitem ver com clareza que o poder caíra na rua, e tornara-se impossível dar algum nexo de governabilidade ao país.

O autor não refere, mas em simultâneo, Portugal confrontava-se com a perda dos rendimentos das colónias, com a fragilização ou destruição da capacidade produtiva na metrópole, com o esvaziamento financeiro, com a crise do petróleo, e com o surto inflacionista que as circunstâncias potenciavam. Atenuou a situação, o recurso às reservas financeiras acumuladas e alguma quantidade de ouro vendido, a que se sucedeu o primeiro pedido de assistência ao FMI, que impôs regras para sufoco da algazarra nas ruas. Era o inicio do controle sobre o "Poder Popular".

O autor identifica três fases para o período revolucionário, e em cada uma elege personalidades do MFA marcantes no respectivo desenvolvimento. Na primeira fase, de gaúdio e entrega do poder ao general Spínola, com manifestas divergências entre oficiais spinolistas e puristas da revolução, tornou-se "justo e necessário e impunha-se que um dos homens mais importantes da Revolução dos Capitães fosse utilizado para comandar uma força capaz de colocar Lisboa, principalmente, ao abrigo das surpresas revolucionárias", do que viria a resultar o PREC como oposição à acção de Spínola e em sintonia com o Poder Popular. Refere-se aos "capitães-generais", e a Otelo em primeiro lugar. A segunda fase é a dos "nove", depois dos SUV e da ocupação de quartéis, que ameaçaram novamente a estabilidade dos militares do quadro permanente, cujo corolário aconteceu em vinte e cinco de Novembro. O Documento dos Nove veio assim oferecer os princípios de equilíbrio necessários à consagração do regime democrático. Sentia-se que "a maioria dos portugueses o que quer é saúde e dinheiro", tendo em vista "a integração, como parente pobre, de uma Europa pretensamente rica", ideias muito propaladas pelos partidos ditos democráticos de feição ocidental que tinham criado tentáculos de influência nas Forças Armadas. E acrescenta numa breve análise: "Vai-se de vento em popa para um sistema pluralista, muito bem, agora sim, mas não se chegou a saber bem o que os capitães pretenderam com a Revolução, além de acabar-se com a guerra colonial.
Recapitulando: primeira fase avançada para obedecer à tormenta da convulsão descolonizadora; segunda fase, a fase de transição, que é a que se atravessa na hora em que se escrevem estas linhas, com a descolonização terminada e as tropas à braseira da família. Esta fase irá até Abril das eleições. Seguir-se-lhe-à a terceira fase, a legal, a da «reconstrução», onde não será admissível o «aventureirismo»,salvo se ele partir de forças eminentemente anticomunistas".

Apesar do pouco tempo decorrido desde o vinte e cinco de Abril até à edição em Junho de setenta e seis, o autor faz uma rara apreciação dos acontecimentos, independente de influências, e com o humor de observador inteligente. Acaba com algumas apreciações sobre alguns personagens da revolução, e só é pena não ter tido vontade ou oportunidade para se alongar com outros pormenores reveladores de muitas falácias e influências que ainda perduram como verdades incontestáveis.

Desejo-vos boas leituras.
JD
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13499: Notas de leitura (622): Trajectórias divergentes: Guiné-Bissau e Cabo Verde desde a Independência, na Revista "Relações Internacionais R:I", dirigida por Nuno Severiano Teixeira (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2937: A guerra estava militarmente perdida? (16): António Santos,Torcato Mendonça,Mexia Alves,Paulo Santiago.

A Guerra estava militarmente perdida?

Duas notas aos Camaradas que com tanto interesse têm acompanhado esta questão:

1. O atraso na publicação das mensagens deve-se ao editor;
2. O reconhecimento a todos, intervenientes activos ou seguidores atentos pela forma elevada como têm conduzido esta "boa polémica", como a designou no início o Luís Graça.

vb

Continuamos a publicar por ordem de chegada as mensagens recebidas.
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1. Em 27 de Maio, de António Santos

Camaradas

Saúde para todos.

Antes de mais gostaria de vos dizer que não tenho por hábito entrar em polémicas, não é isso que quero mas, simplesmente esclarecer a nossa Tabanca Grande, portanto é nestes termos que vou comentar o post nª P2872: A guerra estava militarmente perdida (5), do nosso camarada António Abreu.

1º Eu estive na Guiné mais ou menos no mesmo período que o Abreu

2º- As pistas alcatroadas não eram só Bissau e Cufar, como o Abreu afirma, porque a de Nova Lamego também o era, a alcatroada, sim! Tínhamos duas, outra em terra batida. Dizia-se por lá que a alcatroada era a 2ª melhor da Guiné.
Anexo duas fotos e um excerto retirado da história do Bat Cav. 3854:

Pistas de aterragem e placas para helicópteros

Há pistas em Nova Lamego, Canjadude e Cabuca. Em Nova Lamego são duas, uma de terra batida com o comprimento de 1.150 metros e a outra asfaltada com 2.400 metros de extensão, acabada de construir em 1970, dispendendo-se com essa construção 22.000 contos, incluindo a respectiva placa de estacionamento. Nesta segunda pista podem aterrar quaisquer tipos de aviões.
As de Canjadude e Cabuca têm 500 metros de cumprimento, apenas permitem a aterragem dos aviões Do-27.
Existem placas de aterragem de helicópteros em Nova Lamego (concluída) e em construção em Canjadude, Cabuca, Madina Mandinga, Dara e Cansissé.





3º- Além disto, Nova Lamego era sede do CAOP 2, onde era organizada a guerra para toda a zona leste. 6 Sectores. Como forças de intervenção, dispunha de uma companhia do exército e outra de páras sempre às suas ordens que ao fim de um mês se revezavam, por isso era normal termos a 121 a 122 ou a 123 como companheiras.

4º- Não esquecer que também os destacamentos de Mareue e Copá foram abandonados por nós no final da guerra.

Fica pois este esclarecimento às tropas.
Um Alfa Bravo do Camarada

A. Santos
4574/72
SPM 2558

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2. Do Torcato Mendonça em 27 de Maio:


Há dias, por razões diversas, não consigo "escrever". Vou tentar, o mais sintético que me for possível. Assim;

1º- Esta troca de opiniões tem interesse para mim. Porquê? Porque me mostra, aquele período da história do meu País, relatada por quem o viveu e, fundamentalmente, pensa de maneira diferente.

2º- Pode efectivamente ser infindável sem ser estéril. Pode ser tratada por Milicianos, para gáudio de alguns "profissionais" mas, eu e muitos fizemos a guerra – não gostávamos da vida militar. Demos o melhor de nós, não em defesa de um ideal mas na defesa, isso sim, de quem comandávamos e do respeito que tínhamos por nós próprios.

3º- Têm participado nesta troca de palavras ex-militares que gosto de ler o que escrevem. Ora o Joaquim Mexia Alves é um deles. Tem, quanto a mim, "ainda um sentir" demasiado vincado com a política de então. Isto nada tem de pejorativo pois aceito a pluralidade de opiniões. Disse-me ele, no III Encontro quando nos despedíamos, querer comentar alguns escritos meus. Pois, meu caro amigo, se não o sentisse não o diria, força. A não varredela politica, pode deformar a objectividade da análise. Conseguirei eu fugir ao meu pensar político? Tento. Só assim consigo distanciar-me e analisar os acontecimentos. Conseguirei? Não sei!

4º- Não posso, não devo contar ou falar sobre tudo. Menos ainda, se estiver directamente implicado ou, devido ao relato, puderem tirar-se ilações de valorização pessoal. Aceitei que me apelidassem de defensor do Solo Pátrio, de assassino da Guerra Colonial, de fascista e outros adjectivos…
Não respondi, nem respondo; não contei tudo, nem contarei, não por medo de (actualmente) mas por pudor e respeito com. Tentei esquecer.

5º- As Guerra como a da Guiné – todas as guerras daquele cariz – estão militarmente perdidas. Friso a Guiné. É isso que, por ora, está em análise.
Quem a preparou sabia fazê-lo. Politicamente deviam ter sido tomadas as medidas correctas para que fosse encontrada uma solução. Não foi pois o nosso País era governado em ditadura. Mesmo assim houve tentativas…alguns militares não aceitavam a solução politica, outros nem tanto, outros… e depois, muitos, tomaram posição. Que posição o Congresso dos Combatentes, a contestação ás muitas Comissões… a não-aceitação de certas interferências corporativas… ou a contestação que levou ao 25ª???!!! Ora íamos por aí fora e ater de ser feito documentalmente. Por isso me interessa esta análise. Esta e outras…

6º- Não me quero repetir e plagiar a frase do Eduardo Águalusa – de quantas mentiras……verdade…mas pedia para ser lido com atenção, quer o preâmbulo, quer os textos hoje publicados sobre a batalha do Como. Lido e relido.

Com estas ultimas palavras e o sublinhado tinha respondido. Mas fi-lo com amizade e consideração: Ao Mexia Alves, ao Mário B. Santos e aos nossos Editores.

Envio a todos os que lerem um abraço de,
Torcato

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3. Em 30 de Maio, de Joaquim Mexia Alves:

Meu caro Virgínio Briote

Pego na tua introdução ao post 2899:

"Eram as armas que iam decidir o conflito?
Em 1974, a grande maioria do povo português desejava a continuação da guerra?
Entre os militares estacionados na Guiné a contestação era cada vez mais aberta. E às claras. Em Março de 1974, algumas unidades dispersas pelo território receberam uma mensagem assinada pelo Ten Cor Banazol, em nome do "Movimento de Resistência das Forças Armadas", apelando à rebelião e programando uma operação de retracção do dispositivo militar para o mês de Maio próximo...estou a citar o então Capitão J. Golias.
E, depois do 25 de Abril, o grande público veio a saber que o governo de então já não pensava de maneira muito diferente. Marcello Caetano tinha enviado a Londres o diplomata José Villas-Boas para uma reunião com dirigentes do PAIGC (Vítor Saúde Maria, Silvino da Luz e Gil Fernandes, reunião que ocorreu entre 25 e 26 de Março e na qual ficou agendada novo encontro para 5 de Maio seguinte...".

Ó meu amigo e camarada, com todo o respeito, assim não nos entendemos!
O que está em discussão, ou pelo menos foi nessa discussão que entrei, é se a guerra à data do 25 de Abril estava perdida militarmente, repito militarmente, ou não.
Já o disse e já todos o dissemos que com certeza não seriam as armas que iam decidir o conflito.
Não só em 1974, mas até antes, a grande maioria do povo português não desejava a guerra, nem a sua continuação.
Quantos povos desejam verdadeiramente uma guerra, seja porque que motivos for?
Com certeza que havia contestação, sempre houve e muito provavelmente, (não sei), essa mensagem terá sido enviada depois do 16 de Março.
E a quantas unidades?
E quantos mais poderão ser citados que dizem o contrário?
Mas repito, não é isso que está em causa, (pelo menos para mim), mas sim a afirmação de que a guerra estava militarmente perdida naquela altura.
Quanto às negociações de que falas já respondi ao Mário Beja Santos sobre o assunto.
As negociações existiam mas não forçosamente por causa de um entendimento de que a guerra estava perdida militarmente, mas por causa do mal que estava a causar ao país, (os governantes não era estúpidos, apesar de teimosos), em virtude da crise internacional que se reflectia no país, e por, sem dúvida nenhuma a pressão internacional que se fazia sentir e se estava a tornar incontornável.
Porque é que raio o PAIGC iria negociar uma guerra que estava a ganhar, (segundo o que dizem), e perante aquilo que dizem serem as negociações, a independência a troco de um cessar fogo, não aceitava essa proposta e continuava a guerra para alcançar aquilo que já lhe estava a ser dado, ou seja, a Independência da Guiné.
Há qualquer coisa que não bate certo!
Eu falo do que acontecia, do que estava no terreno, não falo do que poderia acontecer se acontecesse isto ou aquilo.
De qualquer modo este não é o projecto da minha vida, a guerra da Guiné, e por isso vou acalmar e deixar que outros tomem parte se assim quiserem neste debate/polémica.

Um grande e amigo abraço do
Joaquim Mexia Alves
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4. 2 de Junho, de Paulo Santiago:

A guerra na Guiné estava militarmente perdida?

Camaradas

A saga está para continuar. Não queria voltar a falar no tema em questão.
Primeiro, continuo sem resposta àquela pergunta.
Segundo, somos tantos no blogue e só três ou quatro dão a cara neste assunto.
O que me leva hoje a botar mais um escrito?
Simplesmente a amizade que tenho pelo Vítor Junqueira, que se constrói não só na consideração mas também na discussão de pontos de vista, que até poderão ser divergentes ou antagónicos. Não quero que os meus amigos digam Amen com tudo o que escrevo, assim com não serei yes man nas opiniões dos meus amigos.

Guerra de Guerrilha
Na minha opinião, friso "minha", a guerra de guerrilha envolve além das forças combatentes, guerrilheiros, uma franja, mais ou menos alargada das populações. Terá que ter um fim justo (guerra justa, será?) não ser motivada por puro banditismo. Exemplo actual. Não posso considerar as FARC da Colômbia uma força guerrilheira a lutar por uma causa justa. Não, estes "guerrilheiros" são bandidos, assassinos, sequestradores que sobrevivem à conta do tráfico de cocaína. Marulanda, tiro-certeiro, não passava de um psicopata assassino. A ETA é, logicamente, outro bando de facínoras tal como os muchachos do Bin-Laden.
No pólo oposto temos o exemplo dos afegãos que levaram a efeito uma justíssima guerra de guerrilha para correr com os soviéticos. Toda esta conversa serve para separar águas.
O PAIGC, como considerá-lo? Sabemos que, antes da luta armada, Cabral tentou negociar com Salazar uma independência para a Guiné. Tal não foi possível devido ao pensamento anacrónico e contra os ventos que sopravam em África, do Botas. Após a greve e consequente repressão na doca de Pindjiguiti, Cabral e a organização política do PAIGC concluíram que só pela via armada chegariam à independência. Mas para iniciar essa luta, em Janeiro de 1963 (?) foi necessário grande trabalho político (Pindjiguiti foi em 3 de Agosto de 59).
Há um forte contraste entre o PAIGC e o exemplo da UPA/FNLA em Angola. Holden roberto não tinha nem credo político nem credo de guerrilha, só uma incitação à violência e ao massacre, não procurava conquistar populações, apenas tinha o ideal da independência de Angola, e ele Roberto, chefe de estado. Os massacres perpetrados pela UPA contra brancos e negros, com a convivência de missões religiosas e dos US, foram um crime hediondo.
Amilcar Cabral enfrentou uma tarefa complicada ao tentar convencer a população que estava a ser oprimida. Na Guiné não havia concentração de colonos que aparentemente explorassem a população. Segundo as suas próprias palavras. Não seria possível mobilizar as pessoas dizendo-lhes
"A terra a quem a trabalha". Porque aqui, terra não falta...Jamais conseguiríamos mobilizar as pessoas na base da luta contra o colonialismo.
Isso não levaria a nada. Entre nós, falar da luta contra o imperialismo nunca levaria a nada...Isto prova a necessidade de fazer com que cada camponês encontre o seu próprio caminho para se mobilizar para a luta. (in Amilcar Cabral, Textos Políticos)
Assim procurou adaptar a sua mensagem revolucionária a termos que atingissem as preocupações quotidianas da população rural. Lembrem-se sempre de que as pessoas não lutam por ideias, por coisas que só existem na cabeça de indivíduos. As pessoas lutam e aceitam os sacrifícios necessários. Mas fazem-no para conseguirem proveitos materiais, para viverem em paz e melhorarem os seus modos de vida, para conhecerem o progresso e poderem garantir um futuro aos seus filhos. (in Amilcar Cabral, Palavras de Ordem Gerais)
Esta foi uma forma frutuosa de mentalização para a luta armada.

Algumas ideias sem qualquer alinhamento:

Segundo o Censo de 1960, a Guiné tinha uma população de 525.437 habitantes.
Segundo o Graça Abreu viviam 440.000 guineenses nas tabancas, vilas e cidades controladas por nós. Há aqui uma diferença de 85.000 pessoas. Morreram? Estavam junto do PAIGC? Oitenta e cinco mil pessoas é muita gente.

O meu camarada e amigo Vítor faz várias perguntas sendo uma delas "Tens conhecimento de alguma aldeia, lugar ou sítio que o PAIGC tenha subtraído militarmente ao controlo das NT?"
Era frequente em patrulhamentos e operações encontrar tabancas abandonadas. Claro que não tinham sido tomadas de assalto pelo IN, tão-somente a sua defesa tinha-se tornado insustentável. Contabane foi abandonada após um ataque violento, nunca mais tendo sido reocupada. Gadembel penso ser um caso paradigmático, onde só havia aquela solução. Na tabanca do Quirafo esteve destacado um GComb da Companhia do Saltinho, retirou. Há o caso de Beli. Madina do Boé não vale a pena falar, aquilo era simbólico, não tinha interesse para qualquer dos lados. É possível que haja outros casos, não sei.
Não tenho aqui implícito qualquer desprimor para os nossos camaradas, sempre aguentaram até à impossibilidade. Deixa-me citar o Gen Spínola, pág. 235 de Portugal e o Futuro O exemplo da Índia é um precedente bem vivo do porvir que receamos. Nunca se acreditou que sucedesse o que, afinal, era inevitável; no entanto, a tragédia deu-se; e logo foi desviada a atenção da Nação para o campo circunstancial da conduta militar, acusando-se as Forças Armadas de não se terem batido heroicamente; quando, na realidade qualquer que fosse a eficácia da defesa, o colapso seria sempre questão de dias. Qual seria o porvir que o Gen receava?

Perguntas Vítor: Nas acções da iniciativa do IN, tipo emboscada, quem retirava e quem explorava o êxito, o adversário ou a tua força? Infelizmente tenho uma resposta, envolta em tragédia, a emboscada do Quirafo.
Nunca me envergonhei, nem me envergonho de ter sido combatente, aprendi muito, fiz grandes amigos e lamento, tal como tu, Vítor, que hoje as Forças Armadas não sejam o povo armado, mas uma agência de emprego, onde se procura ir para sítios longínquos e exóticos, ganhando pipas de massa, defendendo os interesses de alguns, que não os de Portugal.
Falemos de saúde, isto hoje vai meio embrulhado, mas é assim que está a sair. Na Guiné em 1971 (estou a citar Contra-Insurreição em África de J.P.Cann) o Exército tinha aumentado de tal forma o grau de sistema de saúde que este não só alcançou como superou os padrões da OMS.
(...)

O Vítor faz também uma citação do Dr. Mário Soares a propósito da Cimeira da Guerra nos Açores, mas como hoje clico sem grande encadeamento, vou chamar o Dr. Mário Soares por outro ponderoso motivo. Quando de uma visita de Estado à Guiné, o protocolo de estado programou a deposição de uma coroa de flores no talhão dos Combatentes da Liberdade da Pátria. O Dr. Soares procedeu a essa homenagem, mas de seguida foi ao talhão dos Combatentes Portugueses homenageando, do mesmo modo, aqueles Camaradas que lá ficaram, apesar de alguns protestos. O anterior Presidente da República, militar e combatente na Guiné, quando de idêntica visita esqueceu-se do talhão dos Combatentes Portugueses. Bem-haja Dr. Soares pelo seu gesto, eu que não fui seu votante nas últimas eleições.
Fico por aqui, sem responder à pergunta tema, porque mais uma vez não consigo ter resposta certeira. Aceito o"porvir receoso"do Gen Spínola.
Desculpem-me este emaranhado que hoje escrevinhei.
Abraço
Paulo Santiago
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Nota de vb: Vd. artigos relacionados em:

12 Junho > Guiné 63/74 - P2932: A guerra estava militarmente perdida? (15): Uma polémica que, por mim, se aproxima do fim (Beja Santos)

12 Junho > Guiné 63/74 - P2929: A guerra estava militarmente perdida? (14): Estávamos fartos da guerra e a moral nã era muito elevada. A. Graça de Abreu.

3 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2913: A guerra estava militarmente perdida? (13): Henrique Cerqueira.

31 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2907: A guerra estava militarmente perdida? (12): Vítor Junqueira.

29 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2899: A guerra estava militarmente perdida? (11): Correspondência entre Mexia Alves e Beja Santos.

28 de Maio > Guiné 63/74 - P2893: A guerra estava militarmente perdida? (10): Que arma era aquela? Órgãos de Estaline? (Paulo Santiago)

27 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2890: A guerra estava militarmente perdida? (9): Esclarecimentos sobre estradas e pistas asfaltadas (Antero Santos, 1972/74)

25 de Maio > Guiné 63/74 - P2883: A guerra estava militarmente perdida ? (8): Polémica: Colapso militar ou colapso político? (Beja Santos)[Por lapso, houve um salto na numeração, não existindo os postes nº 7 e 6 desta série ]

22 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2872: A guerra estava militarmente perdida ? (5): Uma boa polémica: Beja Santos e Graça de Abreu

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2767: A guerra estava militarmente perdida ? (1): Sobre este tema o António Graça de Abreu pode falar de cátedra (Vitor Junqueira)

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2899: A guerra estava militarmente perdida? (11): Correspondência entre Mexia Alves e Beja Santos.

Eram as armas que iam decidir o conflito?
Em 1974, a grande maioria do povo português desejava a continuação da guerra?

Entre os militares estacionados na Guiné a contestação era cada vez mais aberta. E às claras. Em Março de 1974, algumas unidades dispersas pelo território receberam uma mensagem assinada pelo Ten Cor Banazol, em nome do “Movimento de Resistência das Forças Armadas”, apelando à rebelião e programando uma operação de retracção do dispositivo militar para o mês de Maio próximo...estou a citar o então Capitão J. Golias.

E, depois do 25 de Abril, o grande público veio a saber que o governo de então já não pensava de maneira muito diferente. Marcello Caetano tinha enviado a Londres o diplomata José Villas-Boas para uma reunião com dirigentes do PAIGC (Victor Saúde Maria, Silvino da Luz e Gil Fernandes), reunião que ocorreu entre 25 e 26 de Março e na qual ficou agendada novo encontro para 5 de Maio seguinte...

vb

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A Guerra estava militarmente perdida?

Troca de correspondência entre dois antigos comandantes do Pel Caç 52

1. Mensagem do Mexia Alves para o Beja Santos, c/c à Tertúlia, em 25 de Maio de 2008



Meu caro Mário Beja Santos, Luís Graça, co-editores e camaradas amigos

Claro que tenho de meter a colher!
Julgo, salvo o erro, que até fui eu quem despoletou um pouco esta polémica quando há uns meses atrás, a propósito de uns postes colocados no blogue afirmei que lá por se repetir permanentemente que "a guerra estava militarmente perdida", isso não se transformaria numa verdade, que não é de facto, a meu ver.

Aliás, esta frase, "a guerra estava militarmente perdida", começou de inicio por referir-se às três frentes de Angola, Moçambique e Guiné, mas perante a evidência da mesma não corresponder à verdade, passou a referir-se exclusivamente à Guiné, o que repito, a meu ver, também não corresponde à verdade.

Que fique bem entendido, mais uma vez, que não desejei a guerra, não a desejo e que o melhor que aconteceu foi a mesma ter acabado e a Guiné ser hoje um país independente apesar de todas as suas dificuldades.

Vou tentar responder ao Mário, com amizade e camaradagem, servindo-me do seu texto.


1 - A segunda tem a ver com aquilo que eu designo por patamares mínimos da elevação no debate. Por exemplo, recuso-me a entrar no terreno do denegrimento no tocante aos quadros do PAIGC que não viviam permanentemente em território português. Além do mais, é deslustroso num blogue como o nosso onde intervêm guineenses que tem uma pátria cimentada pela luta desses guerrilheiros. Citando Beja Santos.


Não fui eu quem dissertei sobre o assunto mas parece-me Mário, que estás a colocar intenções de denegrimento onde elas não existem.
Não é uma realidade que a maior parte dos quadros do PAIGC não viviam em território da Guiné?
Julgo que o contexto em que tal foi afirmado, servia para dizer que, não havia verdadeiramente território ocupado pelo PAIGC com estruturas suficientes para aí se manterem esses quadros em contraposição aos quadros portugueses que estavam instalados nas suas unidades de quadrícula, ocupando território e defendendo-o.

Não é colocado em causa o valor extraordinário desses homens por quem nutrimos todo o respeito, podendo até afirmar, julgo eu, sem medo de errar muito, que respeito mais eu o Nino Vieira e o seu passado, que muitos guineenses provavelmente.


2 - A terceira tem a ver com o facto de eu não vir buscar adesões, não pertenço a nenhuma maioria ou minoria, não procuro claques nem cliques. No que estou errado, o Graça Abreu torna a verdade inequívoca. E eu dar-lhe-ei razão, ainda estou em muito boa idade de rever conceitos. Citando Beja Santos


Esta não percebo! Que eu saiba ninguém procura claques ou cliques, mas sim discutirmos saudavelmente um assunto que nos diz respeito.
Se alguém concorda com uns e com outros é normal e é bom o que não significa que haja "partidos" ou "exércitos de opinião".
Por mim estou sempre pronto a dar a mão à palmatória.


3 - A quarta prende-se com uma comunicação fraterna que é devida entre nós: não embarco em demagogias de querer associar o que penso ter sido o colapso militar da Guiné e a luta dos soldados portugueses, que nunca minimizei e em tal terreno não aceitarei insinuações, seja de quem for. Postas estas ressalvas, avanço para o primeiro apontamento. Citando Beja Santos


Ó meu caro Mário, parece que gostas de rotular as coisas, afastando tu mesmo essa tal comunicação fraterna ao colocares intenções onde elas não existem.
Claro que sei não ser essa a tua intenção, mas também não é a minha com certeza.
Ninguém afirmou que minimizaste a luta dos soldados portugueses, nem tal me passa pela cabeça, mas ao afirmares que a guerra estava perdida militarmente o que é que julgas que os soldados portugueses que lá estiveram pensam?
Estiveram na guerra, nada lhes foi dado em contrapartida, e para além disso até somos quase proscritos nesta sociedade!
Se agora para além do mais lhes dizemos, ou nos dizemos, que perdemos a guerra, o que nos resta?
E o problema é que tal corresponde à verdade!


E agora o resto:


Baseias-te muito em livros, documentos, etc. e apenas te quero lembrar, (e disso sabes muito mais do que eu), que a quantidade de livros sobre a guerra, a politica e por aí fora, a seguir ao 25 de Abril, são às centenas, para não dizer mais, e que em muitos casos, se opõe totalmente nas suas conclusões.
Sabemos também, não sou só eu que o afirmo, que as informações recebidas em Lisboa, se calhar até em Bissau, não correspondiam muitas vezes á verdade, por isso, documentos, etc, embora sirvam de estudo não são muitas vezes totalmente credíveis.

Marcelo Caetano decide, pelos vistos, propor negociações para estabelecer um cessar-fogo que levasse à independência da Guiné e isso para ti significa que a guerra estava perdida!
Porquê? Então o homem não poderia estar a perceber o rumo da história?

Repara como de algum modo é incoerente aquilo que referes:
O diplomata ia a Londres como representante pessoal do Ministro dos Negócios Estrangeiros propor uma oferta de independência à Guiné-Bissau, a troco de um cessar-fogo, e o PAIGC não aceita tal proposta porque prefere continuar na luta armada até á "derrota das forças portuguesas", continuando a morrerem não só portugueses mas também guineenses?
Que lógica tem isto?
A proposta terá sido essa?


Pois se o 25 de Abril tinha como fim primeiro, diga-se o que se disser, acabar com a guerra, não era normal que fossem feitos todos os esforços para alcançar um cessar-fogo onde a guerra era realmente mais difícil e intensa?
Toda a gente sabia, e tu também cá estavas, que não seria possível mandar mais soldados para África a seguir ao 25 de Abril, porque o povo a isso se opunha, por isso o que havia a fazer era conseguir o mais rapidamente possível um cessar fogo que colocasse um fim à guerra.
Onde é que isto significa que a guerra estivesse perdida?
Aliás em Angola não se podia pedir um cessar-fogo numa guerra que já praticamente não existia.
Diz-nos tu, por favor, que posições perdemos nós, já que o afirmas novamente.
Digo-te eu que as "tuas" bolanhas cultivadas do teu tempo, já não o estavam no meu, para além de outras coisas, pelo que a tua prestação e dos teus pares, foi bem conseguida, pois levou a uma forte diminuição da guerra naquelas zonas.

Meu caro Mário, claro que a situação era caótica!
Pois se todas as intervenções politicas, e nessa altura as intervenções dos militares eram todas politicas, apontavam para a independência, para o fim da guerra a qualquer preço, como querias tu que soldados, furriéis, alferes que estavam contra a sua vontade numa guerra, estivessem moralizados ou lhes apetecesse sequer morrer por algo que estava já decidido?

A compra de armamento nunca seria feita por canais diplomáticos, sabe-lo bem, e quando foram precisas AK47 para a "invasão de Conakry" elas foram compradas sem grandes problemas.
Não encontrarás obviamente documentos sobre essas compras ou possíveis compras.
Mas à gente que o sabe muito bem, posso te afirmar!

Carlos Fabião conhecia a Guiné como ninguém? E Alpoim Calvão, e Almeida Bruno, e Manuel Monge e por aí fora?
Sabemos bem com quem Carlos Fabião estava alinhado!
Meu caro Mário, eu falo-te do que acontecia no terreno, ou pelo menos naquele que eu calcorreei, e aí meu caro amigo "a guerra não estava perdida militarmente".

Continuaremos para a semana, ou calar-me-ei e darei espaço a outros, mas é fácil perceber que esta polémica não dará grandes resultados.
Terá pelo menos um bem importante: leva-nos a falar de coisas que a alguns, como eu, ainda incomodam e vai exorcizando fantasmas, para utilizar uma expressão muito em voga.

Recebe um abraço amigo do

Joaquim Mexia Alves



Mexia Alves, Beja Santos e Henrique Matos, três dos antigos Comandantes do Pel Caç Nat 52, no lançamento do "Diário da Guiné" do Mário Beja Santos.

2. E a resposta do M. Beja Santos:

Meu nunca assaz louvado penúltimo comandante do Pel Caç Nat 52,
Sabia muito bem que a polémica contaria contigo. Saúdo que venhas meter a colher, tanto por razões afectivas como civilizacionais (sempre pobrezinho, gosto de gente bem educada e aprecio o teu aprumo no trato). Vamos sinteticamente aos quatro pontos que abordas.

1 - Todos sabíamos onde vivia Amílcar Cabral, sabíamos que os dirigentes do PAIGC não tinham condições para viver dentro da Guiné. Tal como o general Bettencourt Rodrigues não podia viver em Madina do Boé. Os guerrilheiros viviam nas suas bases que nós atacávamos com tropas especiais ou com Exército.
O facto de a maior parte dos quadros do PAIGC não viver em território da Guiné só prova que vivíamos em guerrilha. Não tira nem adianta à supremacia militar de ambas as partes.
Já lá vão mais de 30 anos, parece-me de mau gosto repetirmos os chavões da propaganda da Emissora Oficial da Guiné.

2 - O Graça Abreu referiu por duas vezes que tem do seu lado a maioria das opiniões, eu não venho à procura de maioria nenhuma, não venho pedir aplausos, venho pedir que me responsabilizem pelo o meu argumentário, pretendo explicar porque é que sou levado a supor que a guerra, antes do pedido de cessar-fogo decidido pelo Governo de Marcello Caetano, estava militarmente perdida na Guiné (repito na Guiné).

3 - Juro que não sei o que é que os militares portugueses, a combater na Guiné, no seu todo, pensam sobre a minha afirmação de que a guerra estava ali militarmente perdida.
Nenhum deles, que eu saiba, podia comprar ou manusear armas compatíveis com o Strella.
Os MIG já estavam em Conacri, havia quarenta pilotos do PAIGC em preparação. As nossas chefias militares sabiam. O Governo também.

Na continuação da polémica, irei abordar esta semana as relações entre a Administração Nixon e o Governo de Marcello Caetano, no período dramático de Outubro de 1973.
Prometeram o Red Eye, a resposta possível ao Strella, nunca cumpriram. Em é que os militares portugueses na Guiné podem ser responsabilizados por esta situação?
A que propósito é que eles têm que sofrer com o desfecho da guerra quando perdemos a paridade ou a supremacia? Tu não te lembras do banzé que houve na Europa e na NATO quando os soviéticos colocaram os SS-20 e SS-21 na fronteira do mundo ocidental? A resposta foram os mísseis cruzeiro, depois foi a vez dos soviéticos gritarem aqui d'el rei...

4 - Num dos próximos testemunhos, vamos pôr o Rui Patrício a falar. E não só: iremos ouvir as doutas opiniões acerca da redução de quartéis em pontos nevrálgicos da Guiné. Quanto à compra de armas, mesmo que estivéssemos em condições de comprar equipamento na candonga (Mirage, mísseis...) já não tínhamos dinheiro.
Mete isso na cabeça: no 1ª trimestre de 1974 a inflação chegou aos 30%. O Champalimaud pediu ao Spínola para intervir, os capitalistas perceberam que a usura colonial chegara ao fim.

Não sei se respondi a tudo, Amizade não me falta. Pergunta mais.

Um abraço do Mário
__________

Notas:

1. adaptação dos textos da responsabilidade de vb.

2. Artigos relacionados em

28 de Maio > Guiné 63/74 - P2893: A guerra estava militarmente perdida? (10): Que arma era aquela? Órgãos de Estaline? (Paulo Santiago)
27 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2890: A guerra estava militarmente perdida? (9): Esclarecimentos sobre estradas e pistas asfaltadas (Antero Santos, 1972/74)

25 de Maio > Guiné 63/74 - P2883: A guerra estava militarmente perdida ? (8): Polémica: Colapso militar ou colapso político? (Beja Santos)

22 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2872: A guerra estava militarmente perdida ? (5): Uma boa polémica: Beja Santos e Graça de Abreu

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2767: A guerra estava militarmente perdida ? (1): Sobre este tema o António Graça de Abreu pode falar de cátedra (Vitor Junqueira)

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2712: O Nosso Livro de Visitas (9): Picada Mansambo-Xitole: a emboscada do PAIGC, em 15 de Maio de 1974 (Renato Adrião, Austrália)

1. Merece o devido destaque o comentário de Renato Adrião, Ex-Alf Mil Op Esp, ao poste P2565, de 20 de Fevereiro de 2008 (1). O Renato Adrião vive hoje na Austrália, tendo sido camarada do José Zeferino, ex-Alf Mil At Inf, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Xitole1973/74), membro recente da nossa Tabanca Grande:

Peço desculpa mas é preciso algumas correcções ao sr. Abreu dos Santos que parece ter uma boa fonte de informação (a que eu gostaria de ter accesso) (2):


Entretanto no centro-sudeste da Guiné uma patrulha motorizada do BCAÇ 4616, desde há cerca de 4 meses estacionado em Bambadinca sob comando do tenente-coronel do MFA Luís Ataíde Banazol, procura contactos com o PAIGC para conversações sobre o cessar-fogo (...) .


Se isso é verdade, não era essa a razão da missão do Xitole, talvez fosse um dos objectivos da 1ª/BCAÇ, possivelmente só o comandante da 1ª/BCAÇ nos poderia dizer...

(...) Em deslocação para sul, a coluna é alvejada (quando as duas forças se encontraram no limite das suas zonas) na picada Mansambo-Xitole por disparos (de armas ligeiras e de RPG) longínquos (longínquos? ... Concerteza suficientemente perto para atingir o soldado oom um RPG no peito).

Os militares saltam apressadamente (apressadamente? ... Queria que ficassem à espera que fizessem tiro ao alvo?!) das viaturas, provocando a deflagração de minas que causam 2 mortos, 4 feridos graves e 14 feridos ligeiros. (Note-se que esta área tinha sido armadilhada e minada recentemente).

Foram mortes em combate, por muito estúpido que tenha sido. Não interessa negar, esquecer ou responssabilizar quem quer que seja.

Um grande abraço da AUSTRÁLIA para ti, Zeferino, e todos os camaradas que me leiam.

__________

Notas dos editores:

(1) 20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2565: Tabanca Grande (57): José Zeferino, Alf Mil At Inf , 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74)

(2) Vd. postes de:


21 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2568: Historiografia de uma guerra (2): Maio de 1974, Sector L1 (Bambadinca): Os nossos quatro últimos mortos (Abreu dos Santos)


27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2588: Historiografia de uma guerra (3): a última emboscada do PAIGC, na ponte do Rio Jagarajá, em 15 de Maio de 1974 (José Zeferino)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2568: Historiografia de uma guerra (2): Maio de 1974, Sector L1 (Bambadinca): Os nossos quatro últimos mortos (Abreu dos Santos)

Guiné > Zona Leste > Paunca > CCAÇ 11 > Junho de 1974 > A nem sempre fácil mas esperada confraternização entre as NT e os guerrilheiros do PAIGC, depois do 25 de Abril que abriu perspectivas a um solução política do conflito... Na foto, o Fur Mil Op Esp J Casimiro Carvalho, o herói de Gadamael, posa ao lado de um guerrilheiro do PAIGC, apontador de RPG (1).

Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.


Este apontamento, a seguir, do Abreu dos Santos - um amigo do nosso blogue, um leitor atento e informado, um estudioso da guerra da Guiné - foi deixado à laia de comentário do poste do José Zeferino (2). Pela sua oportunidade e pertinência, merece outro destaque, nesta série - Historiografia de um guerra - que gostaríamos que tivesse mais postes ou entradas (3):

«(...) no dia 15 de Maio de 1974 (...) fomos alvo de uma violenta emboscada que nos causou dois mortos (um alferes e um cabo de transmissões), um ferido grave (o Comandante da Milícia de Cambessé) e uns, poucos, feridos ligeiros.» (1)
1974 – Maio. 15 (4ª feira)

Por essa ocasião no palácio do governo provincial em Bissau, o delegado da JSN [Junta de Salvação Nacional] e comandante-chefe tenente-coronel Carlos Fabião preside a uma reunião com 1400-1500 militares, durante a qual é decidida «a reestruturação democrática do MFA [ovimento das Forças Armadas], seu alargamento a todos os elementos das Forças Armadas em serviço na Guiné e definição da missão das Forças Armadas como "garante da execução séria e integral do Programa do MFA em consonância com as aspirações populares"».

Entretanto no centro-sudeste da Guiné uma patrulha motorizada do BCCAÇ 4616, desde há cerca de 4 meses estacionado em Bambadinca sob comando do tenente-coronel do MFA Luís Ataíde Banazol, procura contactos com o PAIGC para conversações sobre o cessar-fogo: em deslocação para sul, a coluna é alvejada na picada Mansambo-Xitole por disparos longínquos e os militares saltam apressadamente das viaturas, provocando a deflagração de minas que causam 2 mortos, 4 feridos graves e 14 feridos ligeiros.

(i) 2 Mortos, imediatos: JOAQUIM DOS SANTOS PINHO (Soldado da 1ª/BCAÇ 4616/73 colocada em Mansambo) e DOMINGOS DA SILVA RIBEIRO (Soldado da 2ª/BCAÇ 4616/73 colocada no Xitole).

(ii) Mais 4 Feridos, graves (entre eles o oficial comandante de pelotão da 2ª Companhia /BCAÇ 4616/73, e um primeiro-cabo, ambos com as pernas destroçadas);

(iii) e ainda 14 Feridos, ligeiros. De entre os azuis evacuados para o HM241, vieram em 20Mai74 a falecer: LUÍS GABRIEL DO REGO AGUIAR (Alferes miliciano da 2ª/BCAÇ 4616/73); e ESMERALDINO ANTÓNIO ESPANHOL CATAMBAS (1º Cabo da 3ª/BCAÇ 4616/73).

Foram estas, de facto, as 4 derradeiras baixas mortais "em combate", registadas no território da Guiné.

Abreu dos Santos
_____________

Notas dos editores:

(1) Sobre Paunca e a CCAÇ 11 (para onde foi o J. Casimiro Carvalho, na sequência do abandono de Guileje), vd. posts de:

25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)

30 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1636: Álbum das Glórias (10): Paunca, CCAÇ 11: Com o PAIGC, depois do 25 de Abril de 1974 (J. Casimiro Carvalho)

(2) 20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2565: Tabanca Grande (57): José Zeferino, Alf Mil At Inf , 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74)

(3) Vd. poste de 25 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2214: Historiografia de uma guerra (1): A questão (polémica) do início da luta armada (Abreu dos Santos)

sexta-feira, 22 de julho de 2005

Guiné 63/74 - P116: Bibliografia de uma guerra (8): A Guerra Colonial, o MFA e o 25 de Abril (A. Marques Lopes)

Texto do A. Marques Lopes (ex-alferes miliciano da CART 1690, Geba, 1967, e da CCAÇ 3, Barro, 1968; actualmente Coronel, DFA, na situação de reforma):


TÍTULO: Guiné, três vezes vinte e cinco
AUTOR: Luís Ataíde Banazol, tenente-coronel
EDITOR: Prelo
ANO: 1974

Neste livro, em linguagem coloquial e aliterária, narram-se algumas situações no período imediatamente antes e depois do 25 de Abril na Guiné.

O tenente-coronel Banazol, que foi mandado para a Guiné à frente de um batalhão que se recusara a embarcar, mas que a isso fora obrigado, e com destino a Bambadinca, convocou uma reunião de oficiais, em Fevereiro de 1974, quando já estava em Bissau.

A reunião realizou-se em Nhacra e , entre outros, estavam os capitães do quadro Matos Gomes (o Carlos Viale Ferraz, do Nó Cego ) e José Manuel Barroso e o capitão miliciano Franco. A ideia transmitida pelo tenente-coronel Banazol era cercar o Comando-Chefe com o seu batalhão e tomar o poder na Guiné.

Embora entusiasmados, os participantes acharam que seria uma acção prematura e que poderia pôr em risco o "Movimento" já em andamento na metrópole. Mas o Banazol,insatisfeito, fez uma circular, "Movimento de Resistência das Forças Armadas", em Março de 1974, apelando à rebelião para Maio de 1974. O tenente-coronel Banazol estivera desde o início na formação do Movimento das Forças Armadas.

E a verdade é que o MFA já decidira que, se falhasse o 25 de Abril na metrópole, a rebelião se deveria dar na Guiné. Mas o 25 de Abril teve sucesso. De qualquer modo, e para garantir, o MFA da Guiné tomou imediatamente o poder em 26 de Abril de 1974, "destronando" o brigadeiro Bettencourt Resende, então Comandante-Chefe do CTIG.

O tenente-coronel Banazol é também autor do livro As Origens do Movimento das Forças Armadas. O Guiné-Bissau Três Vezes Vinte e Cinco não é o relato desse período pré-insurreccional, mas dá umas pinceladas do espírito vivido nesse período.


TÍTULO: Uma Noite na Guerra
AUTOR: Carlos Coutinho
EDITOR: Campo das Letras
ANO: 2003

Vai mais um para a bibliografia. É Uma Noite na Guerra, de Carlos Coutinho. Além da nota biográfica que envio e que é a que consta na contracapa do livro, acrescento mais um dado: o Carlos Coutinho foi preso pela PIDE/DGS em Fevereiro de 1973 porque fazia parte da ARA (Acção Revolucionária Armada), que era, digamos, e para facilitar, o braço armado do PCP.

Na bibliografia que consta da página do Jorge Santos, está lá este livro como tendo sido editado pela Editora Caminho em 1978. Alguma coisa deve estar mal, pois esta é a primeira edição da obra, publicada pela editora Campo das Letras em 2003. Admito, no entanto, que a Caminho tenha editado uma versão anterior, não tão completa.

"Sendo ficção, Uma Noite na Guerra assenta, assumidamente, uma certa historicidade, que é a característica de quase toda a obra literária de Carlos Coutinho. Concebida como uma novela atípica, ao gosto de um certo experimentalismo dos anos 70, aproxima-se às vezes da crónica antropológica, do testemunho, da reportagem psicológica e mesmo da literatura oral dos antigos rapsodos, colhendo sinais díspares de um clima psicológico desagregado, próprio de uma pequena cidade sertaneja moçambicana que teimava em sobreviver no coração da guerra colonial no dilacerado planalto do Niassa. Aí se cruzam vidas apressadas ou breves de bichos e homens, militares e civis, crianças e adultos, vítimas e carrascos, resistentes e cúmplices, oportunistas e angustiados, mãos limpas e mãos sujas, temperando aquele caldo espesso e azedo que foi idêntico em Moçambique, Angola e Guiné e em que levedaram algumas das energias do Movimento das Forças Armadas e da gesta popular que sucedeu ao 25 de Abril de 1974.» (Texto da contracapa).


Nota sobre o autor:

"Carlos Alberto da Silva Coutinho nasceu em 1943. Mobilizado para a guerra colonial, passou dois anos em Moçambique como enfermeiro militar de Neuropsiquiatria.

"Muito empenhado na agitação política, participou num movimento espontâneo e nunca articulado de criadores de cantigas de protesto que esteve na origem do Cancioneiro do Niassa. Regressado a Lisboa em 1969, enveredou pelo jornalismo e integrou-se mais profundamente na luta política contra o fascismo e a guerra colonial, vindo a ser preso em Fevereiro de 1973. Foi libertado em 26 de Abril de 1974, com a Revolução dos Cravos, tendo retomado a sua carreira jornalística em paralelo com uma actividade literária diversificada".