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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25405: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5.ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte II


Rui Chamusco,
Lourinhã, 2016

De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte II


Segunda crónica, enviada de Timor Leste, pelo Rui Chamusco, na sua 5ª estadia (fev/maio 2024). Fez nesse dia, 16 de março,  quatro semanas que ele está lá, não só para celebrar o 6º aniversário da Escola São Francisco de Assis (ESFA) como para resolver o magno problema da falta de professores, que lhe andam a prometer,  há muito, os ministérios da educação dos dois países, Portgal e Timor Leste... Ele deve regressar a casa por volta de meados de maio.

(...) 2 mar 2024  - Nem tudo é o que parece.

Rui Chamusco, professor de música.
Lourinhã (2012). Foto do autor
Hoje, por decisão minha, fomos a Tassitolo a casa dos pais da Nanda (Fernanda), mulher do
Zinon Sobral (a trabalhar na Inglaterra) e nora do Eustáquio, para conhecê-la pesoalmente e para a pudermos ajudar e animar pois bem precisa dessa ajuda. 

Mais ao menos à hora combinada lá vamos nós para Tassitolo (tassi=mar e tolo=três). Nem imaginam o que é preciso para chegar à casa da Nanda. Como ontem choveu a cântaros, não eram três mares, eram muitos mares. Ou seja, o percurso está cheio de grandes covas e buracos, em caminhos muito estreitos, onde só a grande perícia do condutor (sempre o Eustáquio) conseguiu levar a pikup (o "barco") a bom porto. Caminhos rodeados de folhas de cinco 
envelhecido, que até arrepia ter de passar por entre eles.                                                E fizemos este trajeto quatro vezes, pois levamos a Nanda a almoçar connosco ao Timor Plaza.

E pensar que tantas e tantas vezes já passamos em Tassitolo, todo muito bonito para quem passa na marginal. Mas quem se pergunta o que está lá para dentro? Quanta barracas, quantas “chabolas” esconde todo aquele arboredo. “Quem vê caras não vê corações”. “As aparências iludem”.“Nem tudo o que reluz é ouro”.

E pensar que tanta gente vive nestas condições, e noutras ainda mais gravosas. Dói o coração não podermos fazer grande coisa para a resolução de tantas necessidades. Mas pergunto: Porquê uns têm tanto e outros tão pouco? Onde está a distribuição das riquezas? Porquê tanta opulência de alguns? 

"Aí Timor!.... Ouvem-se as vozes dos teus avós. Aí Timor! Se outros calam, cantemos nós”.

4 mr 2024  - A esperança é a última coisa a morrer

O desencontro de há dias com as irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias, mais concretamente com a irmã Flaviana, aconteceu hoje, às horas marcadas, em Fatumeta. O objetivo desta visita era saber qual o processo perante o ministério para requisitar professores para a ESFA, uma vez que estas irmãs também têm uma escola particular em Baucau. 

Surpresa das surpresas: também elas não têm professores para essa escola, porque o atual ministério da educação timorense este ano ainda não colocou os professores. Parece que não estamos sós nesta angústia pela falta de professores. Segundo explicou a irmã Flaviana, o ministério tem dado respostas desconcertantes, como por exemplo: “ a vossa escola não tem professores? Há escolas públicas que nem cadeiras e carteiras têm.” E assim nos arrumam de vez. (...)
 
7 mar 2024  - "Prá frente é que é o caminho, para trás mija a burra”

Cada dia com sua surpresa. Logo de manhã, ainda muito perto de casa, quando o Eustáquio e eu nos dirigíamos para Dili rumo a Baucau e Com, um facto insólito que nos pôs logo bem dispostos, à gargalhada. No caminho estreito onde quando se cruzam veículos algum deles tem de esperar, deparámo-nos com uma carrinha que não avançava nem recuava. 

Foi então que o condutor, o senhor Jaime, saiu do veículo e comentou para o Eustáquio: “eu não consigo fazer marcha atrás. Já aí vem o meu irmão para fazer a manobra”. E o irmão que chegou no seu “motor” (motorizada), sem cerimónias entra no veículo e, sem qualquer dificuldade recua e sai do caminho para que nós pudéssemos passar. (...)


Lourinhã (2017) > O Rui e o "mano" Eustáquio. Foto: LG

7 mar 2024 - Encontros e desencontros


Esta foi a terceira vez que, estando em Timor, fomos até à Escola Cafe de Baucau, a fim de visitarmos a educadora Palmira Baltazar, tojeira raiana do nosso concelho de Sabugal. E, como se diz, não há duas sem três. Desta vez acertamos na “mouche”. 

A Palmira depressa se deu conta da nossa presença que, desde a janela observávamos a sua aplicação ao trabalho árduo numa sala de aula cheia de crianças do pré-escolar. A reação foi surpreendente por ser uma visita inesperada, mas que nos trouxe muita alegria pois, finalmente, nos pudemos encontrar tão longe da nossa terra natal. E durante algumas horas (hora de almoçar) conseguimos pôr a conversa em dia, assim como partilhar ideias e informações sobre os projetos de solidariedade da Astil. Foi muito bom. Obrigado, Palmira e colega que nos acompanharam durante a nossa curta estadia em Baucau.

Depois, fiz questão de passarmos pela casa da diocese a fim de visitar a estátua que ergueram ao amigo e colega de trabalho na comunidade portuguesa de Gentilly (arredores de Paris), Dom Basílio do Nascimento (já falecido), que durante muitos anos foi figura preeminente da igreja católica de Timor-Leste.

7, 8 mar 2024 - Até Com, em direção ao oriente...

Como agradecimento à professora Angelina que teve a coragem e a amabilidade de se deslocar à Escola São Francisco de Assis, em Boebau/Manati, programamos esta pequena viagem por Timor a fim de lhe darmos a conhecer esta parte oriental da ilha; Manatuto, Baucau, Laha, Lautem. 

Em Com assentamos o arraial. Numa pensão que já conhecíamos fizemos a nossa morada, Ainda que as condições meteorológicas não fossem as melhores, deu perfeitamente para relaxar, gozar um pouco das águas mornas deste mar e saborear sobretudo o bom peixe desta baía. 

A presença portuguesa dos tempos coloniais ainda se faz notar na fortaleza em ruínas que existe na outra ponta da baía, e dos nomes e apelidos portugueses que aqui, como em qualquer outra parte de Timor, as pessoas ostentam. E foi assim que mal procurei pelo senhor Ângelo Silva (para lhe dar um abraço do amigo comum Henrique Semedo), depressa me indicaram a casa onde morava. Foi mais um momento agradável, e uma satisfação enorme de poder ser útil. (...)

11 mar 2024 - A caminho de Liquiçá


Para hoje a nossa tarefa é esta: ir a Liquiçá apresentar a Maria (pré-escolar) e a Titânia (5º ano) provinda da Escola São Francisco de Assis. O processo de matrícula e transferência já tinha sido tratado com a professora Tereza Costa, coordenadora da Escola Cafe de Liquiçá, e por isso foi mais uma questão formal que tivemos de fazer. 

Graças à amabilidade e competência da coordenadora tudo foi mais fácil. Amanhã as duas alunas começam a frequência deste ano escolar, e esperamos que com sucesso. Obrigado, professora Tereza. Obrigado, colegas professores, que exerceis com zelo a vossa nobre profissão.

Aproveitamos também a estadia em Liquiçá para passar pelo Município, para ver como estavam as coisas em relação ao acordo de colaboração com o município de Sabugal (Portugal). Já há mais de 15 dias que eu fui portador de material informativo sobre o concelho de Sabugal, que foi entregue formalmente ao assessor do senhor presidente do município, com a promessa de marcar uma reunião entre ambos a fim de lhe dar informações sobre o teor desse acordo de colaboração. 

Em conversa com o senhor Renato Serrão, um dos elementos que integrou a equipa que visitou o Sabugal e assinou o dito acordo, e que integra a nova equipa que atualmente preside ao município, fiquei a saber que que não sabia de nada, mas que iria averiguar a situação para depois me comunicar. E assim vai a vida por aqui. Ficamos pasmados com esta gente. Parece que estamos sempre a recomeçar, pois o que foi feito pelos outros, mesmo que seja bom, não é comunicado e, pior ainda, não é aceite. (...)


12 mar 2024 - Acontece... e com frequência

Foto:  Rui Chamusco
(20189)
A presença dos indonésios nestas terras do sol nascente foi e continua a ser muito forte. Durante os anos de ocupação, muitos negócios, casa comerciais, escolas, famílias se estabeleceram em território timorense. Mas a sua maior presença foi e é através de falantes do bahassa, língua oficial da Indonésia. 

Tudo fizeram para o conseguir, e conseguiram-no. Fala-se bahassa em todo o lado, desde as crianças aos mais velhos. O tétum e o português são as línguas oficiais, mas desiludam-se os que pensem que são as línguas mais faladas. 

Apesar dos muitos esforços dos governos de Portugal e de Timor Leste, o bahassa está muito bem implantado. Ouve-se bahassa na rádio, vêm-se programas na televisão, fala-se bahassa na rua. Ainda hoje, quando saímos do aeroporto Nicolau Lobato, ao fazermos o pagamento do estacionamento aconteceu. O Eustáquio entregou o talão respetivo e perguntou em tétum: Hira? Em português: Quanto é? A resposta do funcionário em serviço foi pronta: “Satu dólar” que em bahassa quer dizer 1 dólar.

E digam lá se não temos nada a aprender no domínio do ensino da língua portuguesa!...

12 mr 2024  - Será que é desta?...

A professora Angelina muita preocupada com a resolução da grande necessidade da Escola São Francisco de Assis, a saber: colocação de professores que garantam a sustentabilidade da ESFA, conseguiu um encontro importante que nos poderá trazer alguma esperança. Marcou um encontro para dia 12, no qual ela já não esteve presente porque já regressou a Portugal, no Hotel Timor, com o senhor Dr. Joaquim Cunha, nada mais nada menos que o Assessor Internacional no Ministério da Administração Interna de Timor-Leste. 

À hora marcada, lá estávamos nós (eu e o Eustáquio) para o encontro agendado. Depois de nos conhecermos mutuamente, criou-se logo um clima de diálogo muito ameno porque, para além de tudo, ambos estudamos desde crianças no Porto, com lugares-comuns a recordar. 

Apesar da importância do cargo que exerce, o Dr. Joaquim (Joaquim como ele me disse para chamar) é uma pessoa muito simples e muito afável. Quis saber do projeto de solidariedade da Astil, e em particular da Escola São Francisco de Assis. Até prometeu que, quando possível, lhe faria uma visita.

Ainda mais, vai fazer todos os possíveis para que sejamos recebidos pela ministra da educação do governo de Timor-Leste a Dra. Dulce Soares. Será com certeza uma porta aberta para concretizarmos o pedido que temos em mãos. Oxalá a senhora ministra tome a decisão favorável à proposta que lhe iremos apresentar. Que São Francisco de Assis e todos os santos nos valham e nos acudam...

13 mar 2024 - Chuva! Chuva e mais chuva!...


Hoje parece não deixar de chover, umas vezes chuviscos outras vezes mais forte e com algum vento. O sol ainda não apareceu. Será a despedida do inverno? Isto está a complicar-se para o nosso lado, uma vez que temos marcada a celebração do 6º aniversário da ESFA para o dia 16, e ainda a mais na montanha. 

Agora chove bem, e ouve-se um ruído ensurdecedor da água a bater nos telhados de zinco que todas as casas daqui têm. Vou pedir ó São Pedro que feche as torneiras do céu para estes próximos dias. Caso contrário, vale mais adiar a festa. Não sei não!... A ver vamos.

14 mar 2024  - Cancelamento da festa do 6º aniversário de ESFA

A notícia veio logo cedo, e caíu que nem um bomba: o temporal que assolou as montanhas de Boebau, Hatumassi e outras fez estragos incalculáveis, derrubando árvores, levando telhados, arrastando terras e enxurradas que bloquearam o caminho de acesso. Nem as angunas passam. Não há luz porque alguns postes de eletricidade ficaram sem fios com o tombo das árvores, não há comunicações. 

Perante este cenário destrutivo, não nos resta mais que tomar a decisão de cancelar a festa do aniversário prevista para o dia 16, uma vez que não há condições para tal. As escolas também têm estado fechadas. Também no telhado do edifício da ESFA há estragos. (...)


O "malae mutin los" (branco muito branco), 
"bô" Rui


15 mar 2024  - Em cada esquina um amigo


Estava eu e o Eustáquio no átrio da sua casa examinando árvores e arbustos, quando surge uma criança, talvez que já tenha dois anos e meio, trajando a roupa com que saímos do ventre da nossa mãe, e gritava:Malae!... Malae!... 

Como a criança já conhecia o Eustáquio, foi-se aproximando, aproximando até que lhe ouvimos o seguinte comentário: “ Malae mutin los!” ou seja “o malae (que neste caso sou eu) é muito branco!” 

Pudera, já katuas (velhote) como sou, com cabelo branco, pele branca e de camisola branca, como não ser muito branco? Bem-dito e bem observado por este menino engraçado. Mas não quis mais conversa comigo, talvez tivesse medo, e depressa se pirou dali. (...)

(Continua)

(Seleção, revisão / fixação de texto, edição de fotos, negritos e italicos: LG)
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Timor Leste > Posição relativa de Boebau e da Escola de São Francisco de Assis, nas montanhas de Liquiçá. Liquiçá é a sede do munícipio, com cerca de 20 mil habitantes. Recorde-se que em Abril de 1999, na sequência da campanha de terror que antecedeu o referendo sobre a independência, mais de 200 pessoas foram mortas na igreja católica de Liquiçá, quando membros da milícia Besi Merah Putih, apoiados por soldados e polícias indonésias, atacaram a igreja. De Dili a Boebau, em plena montanha, são cerca de 50 km (e de Liquição 20 km) que em viatura podem demorar a percorrer 4 ou 5 horas, niomeadamenet  na época da monção (chuvs)...

Infografia: página do Facebook da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (com a devdia vénia...)

Para os leitores que se queiram associar a este projeto, aqui fica a conta solidária da Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (ASTIL) (Página do Facebook)

IBAN: PT50 0035 0702 000297617308 4

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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25398: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5.ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte I

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25400: S(C)em Comentários (33): "500 anos depois"... eram os "cubanos" que ensinavam, em 2008, as mulheres de Iemberém a aprender o português


 
Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título da foto: Mulheres alfabetizadas pelo método ALFA-TV | Data de Publicação: 22 de junho de 2008 | Palavras-chave: Ensino 

Legenda:

"Concluiu-se agora em Iemberém, no sul do país, o primeiro módulo de alfabetização pelo método cubano conhecido por ALFA-TV  e que tão bons resultados tem obtido.

Usando um sistema de 36 aulas através de vídeo-cassetes emitidas por televisão, consegue-se que os alfabetizandos aprendam em 5 meses a escrever e a falar rudimentarmente o português.

Mariama Galissa é uma das 72 mulheres que aprenderam a escrever e que manifesta o seu entusiasmo às suas amigas e companheiras que mantêm algumas reservas em iniciarem-se nesta aprendizagem."


Fonte: Internet Achive > AD BIssau (com  devida vénia...) 

(O sítio original foi descontinuado: http://www.adbissau.org/adbissau/fotodasemana/2008.06.22.htm ) (*)

 
2. Comentário do editor LG:

Escrevi há 14 atrás (**):

"Uma ternura de imagem !... E ao mesmo tempo uma imagem que me deixa cheio de raiva e de furor. Não tanto por serem os cubanos a fazer a alfabetização, em português, do povo gentil de Iemberém, das etnias nalu,  tanda, sosso, etc., que eu tive o privilégio de conhecer, em 1, 2 e 3 de Março de 2008, mas por em 2008, em pleno séc XXI, a Mariama Galissa e tantas outras Mariamas da Guiné-Bissau, e de toda a África, não dominarem ainda uma tecnologia que é tão importante para o desenvolvimento pessoal, intelectual, cultural e sócio-económico e para o exercício da cidadania como é a língua oficial, escrita e falada, do seu país...

"Não me interessa se é o português, o espanhol, o francês ou o inglês, não me interesssam os méritos e os desméritos do método ALFA-TV: o que importa é que as mulheres africanas (mas também os homens...) possam dominar um dos principais idiomas do mundo globalizado, e com isso marcar pontos no seu duro processo de emancipação, de conquista da autonomia, de afirmação da sua singularidade e da sua dignidade como pessoas, como cidadãs, como mulheres, como africanas... 

"Eu sei que não basta apenas saber ler, escrever e contar...Eu sei que é apenas um passo, mas é decididamente um passo de gigante. Uma mulher alfabetizada, em África, tenderá a ser mais saudável, mais activa, mais produtiva, mais empreendedora, mais participativa, mais empenhada, mais reivindicativa, mais consciente dos seus direitos e deveres, mais promotora da paz, mais apta para agarrar novas oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento, mais competente para ajudar a família, a comunidade e o país a sair do círculo vicioso da pobreza"... 

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(**) Vd. poste de 30 de junho de  2008 > Guiné 63/74 - P3006: Ser solidário (12): Método cubano de alfabetização... em português

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24858: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (20): O calão do Bairro Alto em finais do séc. XIX, algum do qual chegou à nossa caserna...


Capa do livro de Alberto Pimentel (1904), "A triste canção do sul", 
Ilustração: Júlio Leite, 1904.


1.  Ainda a propósito do Bairro Alto, mesmo que já não seja do nosso tempo (estamos a falar de há mais de 100 anos) (*), achámos que pode interessar a alguns leitores, que gostam do fado e da sua história, a reprodução de alguns excertos do livro de Alberto Pimentel (1848 -1925) (curiosamente um homem do Norte, nascido no Porto), que escreveu, em 1904,  "A Triste Canção do Sul". ("Triste", seguramente por contraposição às alegres canções folclóricas do Minho e de Entre Douro e Minho;  acrescente-se que o Alberto Pimentel foi um escritor, jornalista e romancista,  com alguma notoriedade no seu tempo, mas hoje praticamente esquecido,  que escreveu quase tudo sobre quase tudo, incluindo uma primeira biografia de Camilo Castelo Branco, de quem ele se considerava, de resto, se considerava  amigo, admirador e discípulo.)

Tenho uma cópia de "A Triste Canção do Sul", muito desconjuntada, comprada há mais de 50 anos num alfarrabista do Bairro Alto. O livro, que já é do domínio público (isto é, livre de direitos de autor, o Alberto Pimentel já morreu há mais de 70 anos) está felizmente digitalizado pela nossa Biblioteca Nacional  (veja-se cópia em formato pdf aqui.). 

Há um edição mais recente, em papel,  da Dom Quixote, 1989. Da edição de 1904, e sem revisão da ortografia em vigor na época, tomamos a liberdade de reproduzir alguns excertos.

É interessante verificar como algum do calão do "faia do Bairro Alto" dos finais do século XIX chegou até aos nossos dias, e era utilizado por nós na tropa e na guerra; por exemplo: estampa (bofetada), briol (vinho), pinha (cabeça), cebola (relógio),  raspar (fugir), batota (jogo), larica (fome), naifa (faca), butes (pés, bota),  piela (bebedeira), afinfar (bater em), paínço,  milho, graveto (dinheiro). etc. (**).


Cap III - Os assumptos do Fado  (pp. 77, 89-93)

(...) O calão é a linguagem habitual do fadista. Parece un dialecto, sem o ser rigorosamente. Muito pittoresco, não se limita apenas a alterar phoneticamente as palavras como a gíria infantil; além de lhes alterar o som, altera-lhes também  a forma, e muitas vezes lhes desloca a significação, levando-a para outros objectos, n'um sentido tropologico, fundado na relação de semelhança. 

 Assim, a garrafa preta da taberna é viuva; os copos são filhos da viuva: uma viuva e dois filhos quer dizer — uma garrafa e dois copos. Mas se o copo é maior que o da decilitração habitual, chama-se sino grande

 O cigarro é soldado de calça branca; a navalha, sardinha; a faca, sarda; o apito, rouxinol; a quantia que o rufião recebe da amante, queijada; o dinheiro, painço; o café com leite, mulato; a agua com café, meio-caiado; Deus, juiz do Bairro Alto; as pernas, juntas; a barriga, folle das migas; as notas de banco, filhozes; enfiar uma guitarra pela cabeça d'outra pessoa é fazer uma gravata; a bofetada é estampa; a meia-porta dos bordeis do Bairro Alto, avental de madeira, etc. (...)

 Nas outras linguas encontra-se um vocabulário correspondente ao calão dos nossos fadistas: os hespanhoes chamam lhe germania e chamavam lhe antigamente gerigonza; os francezes jargon e argot; os italianos gergo e lingua furbesca; os inglezes cant, etc. (...)

Calão vem de caló, nome que os ciganos dão a si mesmos. (...).

A giria portugueza, isto é, a linguagem especial usada pelas classes vis a fim de que as outras classes sociaes a não entendam, é muito antiga: já no século XVI Jorge Ferreira de Vasconcellos se refere aos que fallavam germania

No século XVII D. Francisco Manuel de Mello empregou alguns termos de giria na Feira dos anexins , que é, como se sabe, uma galante collecção de equívocos e jogos de palavra. 

No século XVIII, o padre Bluteau organizou uma lista d'aquelles termos, que incluiu no seu Vocabulário, e que foi copiada em parte no Compendio de orthographia de Frei Luiz de Monte Garmelo. (...)

No século XIX (...), os Ciganos de Portugal, por Adolpho Coelho (***), abrangendo um importante estudo sobre o calão, e o diccionario de giria ultimamente publicado pelo sr. Alberto Bessa constituem copiosas fontes para o vocabulário do calão portuguez. 

Adolpho Coelho traz o seguinte Fado composto em calão, reproduzido por Alberto Bessa:

Ao fadista chamam faia, 
 Ao agiota intrujão; 
 Ao corcovado golfinho, 
 Ao valente bogalhão. 

Entre o povo portuguez 
Ha calões tão revesados, 
Que deixam muitos pintados 
Por mais de cento e uma vez. 
 Lá vão alguns — trinta e trez 
 (Não sei se n'elles dou raia): 
 A' prata chamam-lhe laia, 
 A's nossas cabeças pinhas
Aos porcos chamam sardinhas
Ao fadista chamam faia

A's nossas mãos chamam batas
Ao génio chamam ralé
A' esperança chamam filé
A's bruxarias bagatas; 
A's velhas chamam cascatas
Ao poupado sovelão
Um gabinardo ao gabão; 
Ao caldo chamam-lhe rola
A um relógio cebola,
Ao agiota intrujão

Ao fugir chamam raspar
Chamam á casa mosqueiro
Ao ébrio chamam-lhe archeiro
Ao comprehender toscar
Ao roubo chamam cortar
A' guitarra pianinho, 
Ao chapéu escovadinho
Ao jogo chamam batota
A uma sardinha aranhota
Ao corcovado golfinho
 
A' fome chamam peneira
Também lhe chamam larica
Chamam á cara botica
A' aguardente piteira
Chamam bico á bebedeira, 
A uma mentira palão
E também é de calão 
Chamar-se ao vinho briol;  
Ao nosso bucho paiol
Ao valente bogalhão
 
In: Alberto Pimentel - A triste canção do sul: subsídios para a história do fado. Lisboa: Livraria Central de Gomes de Carvalho, editot, 1904, pp. 89-93 
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 11 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24840: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (19): O Bairro Alto... de finais do séc. XIX, mal afamado durante muitas décadas, e hoje gentrificado...


(***) Os ciganos de Portugal : com um estudo sobre o calão / F. Adolfo Coelho. - Lisboa : Imp. Nacional, 1892. - [8], 302, [1] p.; 26 cm. Obra também do domínio público, digitalizado pela Biblioteca Nacional (ver aqui cópia em formato pdf).

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23531: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje? (5): Acordei com alguma inveja de ver os meus netos, neerlandeses, partir de regresso das férias em Portugal... (Valdemar Queiroz)


Valdemar Queiroz, minhoto por criação, lisboeta por eleição, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70; aqui, na foto, em Contuboel, 1969. 


1. Trancado em casa, em pleno agosto (aquele que deveria ser "o nosso queridp mês de agosto"), por causa da sua DPOC de estimação, desolado por ver partir os seus netos, filho e nora de volta para os Países Baixos (depois de umas sempre curtas férias em Portugal), o nosso querido amigo e camarada Valdemar Queiroz não desiste de enriquecer (ou complexificar)  as respostas à pergunta (tramada, para os portugueses) que é a de saber o que quer dizer "ser português", aqui e agora, "hic et nunc"... Aqui ficam cinco dos seus comentários de antologia:


(i) 11 de agosto de 2022 às 16:03 (*)

O que é ser português ?

Mas, depois de três dias de viagem a atravessar a França e, por não aguentar mais tempo, uma directa de San Sebastian pra chegar a Bragança. Ufff!, chegar a Portugal, e começar logo a sentir a diferença do calor, do cheiro, ver o céu azul, tudo diferente mas nunca esquecido, e ouvir 'bócê nem sabe o calor pro aqui'.

Depois, é só passar por Valverde, Vale do Porco, Vilar de Rei e chegar a Mogadouro, estacionar a autocaravana no Parque de Campismo e descansar para viajar em Portugal.

Parece que estes emigrantes dos anos 2000 já não se sentem emigrantes, antes vão trabalhar para outras paragens...mas a razão é sempre a mesma: um país com mais conventos que palácios e fábricas ter mar à porta de casa.

Assim cá chegaram os meus netos, filho e nora para passar férias vindos dos Países Baixos. (...)


(ii) 13 de agosto de 2022 às 02:13 (**)

Sempre me fez muita confusão ver os neerlandeses ir à casa de banho e não lavar as mãos. Nunca me deram uma explicação, talvez seja por causa do tempo frio.

Depois, lembrei-me de ter lido uma crónica de um estrangeiro em Lisboa no séc. XVIII,  que dizia que os portugueses parecem estar a cometer pecados a qualquer hora, estão sempre a lavar as mãos. Dizem que nos ficou do tempo dos árabes, tal como o "Se Deus quiser" (Insha' Allah") por tudo e por nada.

(iii) 13 de agosto de 2022 às 18:28  (***)

E sobre moinhos também há para escrever.

Do latin molinu apareceu o português 'moinho', que perdeu o l intervocálico e o galego 'muiño' também. Não é muito diferente do latim o espanhol 'molino', o catalão 'moli' e o francês 'molin'. Em alemão 'müle' e em neerlandês 'molen'.

Com 'moleiro', do latim molinariu, foi um pouco diferente, por em galego ser 'muiñeiro', em espanhol 'moinero', em catalão 'moliner' e em francês 'meunier'. Os alemães dizem 'müller' e os neerlandeses 'molenaar'.

Agora, o querer ir ao Restaurante "De Hoop" num moinho em Bavel (NL) e perguntar por molen, môlen, mólen, e uuuu? molin, molino, e uuuu? ah! móla,  respondeu-me a senhora indicando o caminho. 

Os vizinhos flamengos que povoaram os Açores,  também levaram para as ilhas os seus conhecimentos na construção de moinhos que ainda por lá se encontram.

Os neerlandeses, não digo os holandeses por haver moinhos sem ser nas províncias da Holanda do norte e do sul, aproveitando as suas "estradas" de água construíram moinhos de vento junto dos muitos canais que utilizam para tudo e mais alguma coisa. São uma força motriz para as mais diversas actividades.

E temos o célebre "Molin Rouge" em que as velas ao vento são as pernas em movimento das bailarinas de can-can.

PS -  Sem pretender ser um letrudo e escrever como que velas ao vento, desculpem a confusão da explicação, que não será nenhuma novidade para a rapaziada da nossa idade.


Meu caro Fernando Ribeiro:

... "Ser português ... é dar porrada na mãe" ... e o resto que eu transcrevi, são palavras de parte de um interessante texto humorístico, de Guilherme Duarte, com o título genérico "O Fado de ser Português".

O estigma dar "porrada" na mãe ficou-nos por causa do D. Afonso Henriques ter batido a mãe na batalha de S. Mamede. É o que dizem e sempre se prestou para textos de humor.

O texto completo do "O Fado de ser Português" tem frases com piada e com alguma verdade.

Abraço e saúde da boa.

Hoje acordei com alguma inveja de ver os meus netos partir de regresso das férias em Portugal. Inveja de outros os poderem ver todos os dias.

O Camões chamava invejosos aos portugueses? Só poderia ser por nos aventurarmos à procura de novas rotas das especiarias com inveja dos muçulmanos, venezianos e genoveses o fizessem no Mediterrâneo. 
Ou antes a inveja era dos outros por não serem como o D. Sebastião e o Vasco da Gama?

Ou por sermos invejáveis? Ou até, dividindo bem as orações, a INVEJA final pode estar relacionado com outro canto. não sei por nunca ter sido bom a português.

Ah, também tenho inveja não poder respirar como deve ser....talvez por ter inveja de ver os outros fumar quando tinha 15 anos !!

Inveja em neerlandês é jaloezie (lê-se: iáluzi) que quer dizer ciúmes, e invejar é benijden (lê-se: beneida).

Saúde da boa (sem invejas)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23512: Notas de leitura (1473): Eduardo Lourenço (1923-2020): afinal, quem são os portugueses, e o que significa ser português? (José Belo, Suécia)

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23527: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje? (4): O melhor e o pior já estava dito em "Os Lusíadas", de Luís de Camões (1572) (Alberto Branquinho / António Graça de Abreu)



Capa de "Os Lusíadas", de Luís de Camões, 1ª edição, Lisboa, 1572.


CAMOES, Luís de, 1524-1580
Os Lusiadas / de Luis de Camões. - Lisboa : em casa de 
Antonio Gõçaluez, 1572. - [2], 186 f. ; 4º (20 cm)


1. Mais comentários ao poste P23518 (*):


(i) Alberto Branquinho  

Este, ainda não publicado, foi arrancado ao autor muito contra sua vontade. Não aceitava a sua divulgação.

PORTUGALADO

malfadado
malcriado
malparido
maldizente
maljogado
malandro
malvado
malvestido
malpago
malabarista
mal-agradecido
malquisto

MAL-AMADO !

12 de agosto de 2022 às 21:49 

(ii) Antonio Graça de Abreu 

Ser português é ser diferente de todos os outros povos do mundo. Mas qual é a diferença? É que somos diferentes e iguais a todos os outros povos do mundo. Tenho dois filhos de mãe chinesa, de Xangai, e eu, pai português. O João, o mais velho, hoje com 34 anos, era um miúdo quando, há vinte e tal anos atrás. viajámos largamente pela Europa. A meio da viagem o rapazinho saíu-se com esta: "Pai, afinal eu não sou português, nem chinês, sou europeu." 

Somos uns meio transviados cidadãos do mundo, com um grande defeito, a palavra e conteúdo INVEJA, com que Camões conclui Os Lusíadas. Mas a inveja não é privilégio português, grassa em catadupas por mil terras. (**)


Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 DE agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23518: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje ? (1) : É estar no mundo como em casa (Telma Pinguelo, Toronto, Canadá, citando o etnólogo Jorge Dias)

(**) Último poste da série > 13 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23522: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje? (3): Nos Camarões não há... camarões (Alberto Branquinho) / E já cá chegaram os meus netos, filho e nora para passar férias vindos dos Países Baixos (Valdemar Queiroz)

sábado, 13 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23522: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje? (3): Nos Camarões não há... camarões (Alberto Branquinho) / E já cá chegaram os meus netos, filho e nora para passar férias vindos dos Países Baixos (Valdemar Queiroz)





Cadaval > Vilar > Vila Nova > Serra de Montejunto > 20 de agosto de 2015 > Moinho de vento, de tipo mediterrânico, usado para moer cereais:  O "Moinho de Aviz", dizem, é o mais alto (e talvez o maior) da península ibérica... E "canta" graças ao seu sistema de cabaças de barra...É do nosso amigo Miguel Luís Evaristo Nobre (Vilar, Cadaval) que, em vez de comprar um apartamento em Lisboa, construiu  um moínho de raíz, com três pisos (ou melhor, restaurou uma ruína)... Além de moleiro, é o único "engenheiro de moinhos" certificado (no ofício de restauro e manutenção de moinhos de vento) em Portugal. Ser português é também ter paixão por moinhos de vento... , "ver o padeiro ou a padeira"... e adorar comer "casqueiro" (LG).

Foto (e legenda): © Luís Graça  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Países Baixos > Um exemplar dos moínhos de vento holandeses usados, até à década de 1970, na drenagem dos pólderes.

 Imagem (s/d, s/l) inserida no poste de 23 de março de  2019 > Guiné 61/74 - P19615: Os nossos seres, saberes e lazeres (313): Viagem à Holanda acima das águas (17) (Mário Beja Santos).. Como soi dizer-se, "Deus fez o mundo, e os holandeses fizeram a Holanda".


1. Mais comentários ao poste P23512 (*) com respostas à pergunta: "O que é ser português hoje ?" (**)

(i) Alberto Branquinho:

Olá, José Belo: Não consigo fazer contraditório nem "acrescentatório" ao teu texto (*). Venho só dizer (acrescentar, afinal) que, para além da necessidade de sair de Portugal para "respirar liberdade", que tu referes, há que não esquecer que a sua (dele, E. L., Eduardo Lourenço) pequena aldeia do concelho de Almeida ("Alma até Almeida!") confina com Espanha e tem Vilar Formoso - a fronteira legal para ir para a Europa - ali mesmo à mão de semear - o que poderá fazer um adolescente sonhar. Não esquecendo os contrabandistas. Estes ficavam-se por perto, mas não os "passadores" (que, no devido tempo, ninguém me apresentou um).

Mas decidi escrever para contar um episódio a que assisti na Gulbenkian, talvez em 2004, que envolveu E. L..

Presidia ele a uma Mesa de uma sessão sobre literatura francófona (salvo erro). Apresentou o orador - um escritor dos Camarões - e fez um trocadilho com a palavra "camarões" (em francês, "crevettes").

A assistência achou graça. Sorridente (com aquele seu sorriso), deu a palavra ao orador-convidado.
O escritor camaronês fez os agradecimentos da praxe e, depois, virando-se para E.L., em tom seco, disse qualquer coisa como isto:

- Je voulais dire a Mr. le Président q'il n'y a pas de crevettes dans mon país.(Gueria dizer ao senhor presidente que no meu país não há camarões).

Foi nítido o incómodo de E.L. que agarrou (como era seu hábito) os óculos por uma das hastes e os rodava de olhos fixos no palestrante.

Abraço
Alberto Branquinho


(ii) Valdemar Queiroz:
 
O que é ser português ?

Mas, depois de três dias de viagem a atravessar a França e, por não aguentar mais tempo, uma directa de San Sabestian pra chegar a Bragança. Uf!, chegar a Portugal, e começar logo a sentir a diferença do calor, do cheiro, ver o céu azul, tudo diferente mas nunca esquecido, e ouvir 'bócê nem sabe o calor pro aqui'.

Depois, é só passar por Valverde, Vale do Porco, Vilar de Rei e chegar a Mogadouro, estacionar a autocaravana no Parque de Campismo e descansar para viajar em Portugal.

Parece que estes imigrantes dos anos 2000 já não se sentem imigrantes, antes vão trabalhar para outras paragens...mas a razão é sempre a mesma: um país com mais conventos que palácios e fábricas, ter mar à porta de casa.

Assim cá chegaram os meus netos, filho e nora para passar férias vindos dos Países Baixos.

O que é ser português?... Cito Guilherme Duarte > Por falar noutra coisa > 31 de jneiro de 2014 > Ser português é...:

(...) "Ser português é desenrascar. É encontrar caminho sem perguntar. Ser português é pedir indicações e ter logo a ajuda de vários estranhos. Ser português é tentar a borla seja do que for. Ser português é oferecer só porque se simpatizou com alguém. Ser português é ter os melhores lá fora porque é lá fora que se faz o melhor. Ser português é ter o mar no horizonte e nunca olhar para terra, é seguir em frente até o mar acabar, é descobrir, sonhar e inventar. Ser português é conquistar, é dar porrada na mãe, é dizer não e expulsar os mouros e os espanhóis. Ser português é esquecer". (...)


11 de agosto de 2022 às 16:03 

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23512: Notas de leitura (1473): Eduardo Lourenço (1923-2020): afinal, quem são os portugueses, e o que significa ser português? (José Belo, Suécia)

Guiné 61/74 - P23520: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje? (2): Sou transmontano, orgulhoso por necessidade, como todos os homens das montanhas, mas identifico-me mais com Portugal quando, raramente, estou lá fora (Francisco Baptista, Brunhoso, Mogadouro)


Capa do livro do Francisco Baptista, natural de Brunhoso, concelho de Mogadouro, Terra Fria, Nordeste Transmontano, "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia" (Edição de autor,  2019, 388 pp.)




1. Comentário (*) de Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), natural de Brunhoso, Mogadouro:

Do "Labirinto da Saudade",  Camões não pertence a ninguém, mas na medida em que emprestou forma à existência e ao ser ideal da "pequena casa lusitana" e assim a subtraiu à informe existência histórica empírica, a ele pertencemos.

Pela poesia lírica e pelos "Lusíadas", o grande poema heroico português que, ao cantar a história de um passado glorioso nos quer projectar para um futuro venturoso, eu na minha pequenez e humildade, considero-me um filho espiritual da Pátria que ele nos legou. 

Fernando Pessoa é uma águia que voou muito alto e que por vezes se torna difícil de interpretar, quando o conheci um pouco melhor, já tinha assimilado a lição de Luís de Camões.

Sou transmontano, orgulhoso por necessidade, como todos os homens das montanhas, onde há mais urze, silvas e torga, com raízes fundas nessa terra pobre, que me identifico mais com Portugal quando, raramente, estou lá fora.

Obrigado, José Belo, obrigado, Luís Graça. Gosto destes temas, aquecem-me o cérebro. (**)
Abraço.

10 de agosto de 2022 às 17:15


2. Comentários a este comentário do Francisco Baptista (*):

(i)  José Belo:

“Que me identifico mais com Portugal quando estou lá fora”...

Meu Caro Amigo e Camarada Francisco Baptista: Quando o “lá fora” é um aqui, ali e acolá, as identificações tornam-se… esquizofrénicas!

E surge a pergunta de um tal Fernando Pessoa: “Será que alguma vez vou poder compreender o nada que sou?”

10 de agosto de 2022 às 21:30
 
(ii) Antº Rosinha

O português lá fora é mais português e menos bairrista, se for transmontano pode ir às festas da casa do Minho ou das Beiras, se for algarvio pode ir ao clube transmontano e assim por diante.

Lá fora o "lagarto" pode torcer pelo "Porto", cá é tudo contra o "Norte"... até os comemos!

10 de agosto de 2022 às 22:24
__________

Notas do editor:


(**) Último poste da série > 12 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23518: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje ? (1) : É estar no mundo como em casa (Telma Pinguelo, Toronto, Canadá, citando o etnólogo Jorge Dias)

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23518: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje ? (1) : É estar no mundo como em casa (Telma Pinguelo, Toronto, Canadá, citando o etnólogo Jorge Dias)

1. O José (Joseph, para os suecos, os lapões ou "suomi", os americanos, etc.) Belo, talvez o mais "estrangeirado" dos membros da "diáspora  lusófona" da Tabanca Grande (que vai de Toronto a Sidney, passando por Macau), lembrou-se, a alguns dias ou semanas de voltar a Key West, Florida, EUA, de nos lançar um saudável, criativo, senão mesmo provocador mas divertido desafio, muito ao seu jeito, feitio e gosto;

 "Afinal, quem somos, hoje, nós,  os portugueses e os descendentes de portugueses?"... 

Inevitavelmente o nome do grande vulto da cultura portuguesa do séc. XX,  Eduardo Lourenço (Almeida, 1923- Lisboa, 2020) veio  à baila (*):


(...) "No 'Labirinto da Saudade', Eduardo Lourenço  afirma que a literatura histórica portuguesa se pode ler como uma busca de resposta às perguntas: Quem são os portugueses? O que significa ser-se português?

Com início em Camões, Eduardo Lourenço identifica todo um irrealismo que engloba o espírito português. Uma mistura de grandiosidades,  lado a lado com profundo complexo de inferioridade.

Segundo ele, a imagem histórica de Portugal não é resultante de observações baseadas em realidades. Resulta antes de sonhos político-ideológicos criados por uma minoria urbana, como referido pelo realismo de Eça de Queiroz. Uma aristocracia (e burguesia) endinheirada sempre com o pé no estribo do 'Sud-Express', arrastando-se para uma Europa onde se produz a verdadeira cultura e o conhecimento.

A existência de um mítico 'povo simples' torna o diálogo literário entre estes polos opostos num… monólogo literário limitativo. É neste espaço (ou contradição) entre a 'falta' e o 'regresso' que, segundo ele, surge a palavra 'saudade'."(,,,)

2. O "nosso querido mês de agosto, pós-pandémico" não é o mais apetecível para "blogar"... Pelo contrário, é mais indicado para "folgar" (praia, campo, festivais, festas, viagens, petisqueira, convívio, amigos, família...).  Mas, por tradição ou pirraça, o raio do blogue recusa-se a fazer "férias"... Há dezoito anos que não faz "férias". 

Até quando ? Não sabemos, quando o blogue fizer "férias" é mau sinal... É como a história do frango e do pobre (hospitalizado): "Quando o pobre come frango, um dos dois está doente"... Caro leitor, quando o blogue começar a fazer gazeta, é caso para desconfiar... e chamar o 112...

Mas, voltemos à "provocação" do Joseph Belo, o nosso "luso-lapão" que agora também já é meio "amaricano": 

(...)   "A fins deste mês volto para Key West e, por lá, os meus tempos dedicados à “com-puta-gem” perdem prioridade frente ao Sloppy Joe’s Bar." (que é o "Sempre em Festa" lá do sítio)...

 A brincar, a brincar, meio a blogar e meio a folgar, a rapaziada (e porque não também a raparugada ?!) lá foi debitando matéria sobre o tema, "o que é ser português, hoje, em 2022"...

O que é ser português ? Boa pergunto, responde o nosso editor, LG... Pergunta que os portugueses "cá de dentro" não fazem (a não quando "provocados" ) nem sequer sabem responder (a menos que "obrigadps")... 

Parece que é preciso a gente ir para lá fora, para o "estrangeiro", para ganhar a suficiente distância e sentir a tal "saudade" e perder-se no seu "labirinto"... Como eu, que uma noite de verão e de tempestade cheguei a um parque de campismo perto de Guernica / Gernika, e quando estava a montar a tenda, começo a ouvir, no altifalante, a voz da Amália em a "Estranha Forma de Vida"... E, depois a seguir, o "Grândola, vila morena"... Hà emoções sentidas fora da nossa terra, que são indescritíveis e que nos marcam para sempre... Eu que gostava da Amália q.b., passei a ouvi-la com emoção, quando ela morreu... 

2. Leia-se então esta reflexão de Telma Pinguelo, jornalista, natural de Aveiro, apaixoanda pelo Canadá. A primeira intervenção, publicada na caixa de comentários ao poste P23512 (*), é nada menos desta jovem  "portuga", radicada no Canadá...e que faz questão de dizer que o que mais ama naquele país que a acolhei é justamente a sua "diversidade cultural"...

Esperamos que ela, a Telma Pinguelo,  não nos leve a mal a ousadia de reproduzir aqui a sua estimulante crónica na Revista Amar, que secionámos para dar o pontapé de saída à discussão sobre a nossa identidade, ou melhor, sobre o significado de ser-se português, hoje, aqui e em toda a parte... (Com a devida vénia... Adaptação / revisão / fixação de texto / negritos: LG)




 

O que é ser português? É a pergunta que volta e meia paira no ar e tema que ouvi ser inúmeras vezes debatido durante os anos em que tenho convivido com a comunidade lusa em Toronto.

Os nossos clubes e associaçōes têm de momento em mãos a difícil tarefa de passar as suas casas, tão arduamente construídas, para as mãos das novas geraçōes. É difícil porque os modelos de organização e também muitas tradiçōes que alegravam os nossos pais e avós estão a cair em desuso e já não cativam os jovens. 

Independentemente do que agrada a uns e a outros, o certo é que, seja qual for a idade ou situação, todos partilhamos do mesmo sentimento: amamos ser portugueses. Se há tantas diferenças de como celebramos, do que gostamos e do futuro que envisionamos… o que é, afinal, esta coisa de ser português?

Se pergunto ao condutor do Uber que me leva a casa, ele diz “Portuguese chicken”, os meus colegas dizem “Cristiano Ronaldo”, num encontro de amigos falam-me das “férias com paisagens lindas, deliciosa comida e ainda melhores bebidas”, nos eventos fala-se de “fado” e nos jantares vem sempre à conversa o famoso pastel de nata, aqui batizado “Portuguese custard tart”.

Mas então é isto? Será que ser português se resume a frango de churrasco, futebol, turismo, música, vinhos e bolos? Tenho a certeza de que existe muito além das belezas, sabores e conquistas deste nosso país plantado à beira-mar. O que mais faz de nós portugueses ? A língua, o território, o passaporte?

O povo português nunca teve, nem tem, problemas de identidade. Ainda que a resposta não esteja na ponta da língua, não é por isso que ela deixa de existir. Antes pelo contrário. Esta é uma daquelas situaçōes em que andamos à procura das chaves pela casa toda e depois damos conta que afinal estiveram sempre no bolso do casaco que temos vestido. É o que eu vejo acontecer com esta pergunta. Esquecemo-nos de olhar para dentro.

Eu digo que ser português está naquilo que não se saboreia, não se vê nem se toca. A portugalidade está no nosso caráter. 

O etnólogo português Jorge Dias publicou na década de 50 um livro chamado “Os Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa”, no qual faz um resumo daquilo que seria a nossa personalidade geral. Jorge Dias diz que:

  • o português é “ao mesmo tempo sonhador e homem de ação”, ou seja, “um sonhador ativo que mantém sempre um olhar realista sobre os seus objetivos”;
  • é "humano e sensível, amoroso e bondoso, contudo, sem ser fraco";
  • "não gosta de fazer sofrer e evita conflitos";
  • "mas quando ferido no seu orgulho pode ser violento e cruel";
  • "tem um grande sentido de fé";
  • "tem uma ligação muito forte com a sua natureza e herança";
  • "é  individualista, mas tem uma forte solidariedade humana";
  • "tem espírito crítico e trocista e uma ironia pungente”.

Pegando nas palavras de Jorge Dias, eu acrescento: 

o português: (i)  traz na alma a inspiração de Luís Vaz de Camōes, (ii) a ousadia de Bocage, (iii) a inquietude de Saramago, (iv) leva no peito a libertação da Revolução dos Cravos, (v) a coragem dos navegadores dos Descobrimentos e (vi) pratica diariamente o verso de Fernando Pessoa “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.

Mesmo com a globalização e os crescentes fluxos migratórios, os portugueses espalhados pelo mundo continuam a manter a essência da sua identidade. A verdadeira portugalidade acontece nos empregos em que somos conhecidos como um povo trabalhador, nos nossos círculos sociais em que somos calorosos e acolhedores, acontece em cada uma das nossas mesas em que há sempre espaço para mais uma pessoa.

Ser português é falar de uma História que não é perfeita, mas que nos tornou no que somos hoje. Somos lutadores, resilientes, somos um povo guerreiro, endurecido pelas batalhas travadas ao longo dos tempos e sofrido com a tão nossa saudade. O encanto é que embrulhamos tudo isso com a também muito nossa bondade, hospitalidade e fé.

Sim, há algo em ser português que é especial. É a nossa vocação de “estar no mundo como em casa”, assim o diz muito bem o autor Jorge Dias. Feliz Dia de Portugal!

Telma Pinguelo 

domingo, 17 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23437: Nota de leitura (1465): O padre António Vieira (1608-1697), expoente máximo da literatura portuguesa, traduzido em sueco (José Belo)


António Vieira : en högrest gestalt i 1600-talets Portugal, övriga Europa och Brasilien.Inbunden, Svenska, 2020. Författare: Marianne Sandels, António Vieira. 316 kr 

António Vieira: uma figura cimeira em Portugal do século XVII, bem como resto da Europa e Brasil. Capa dura, sueco, 2020. Autor: Marianne Sandels, António Vieira. 316 coroas suecas (c. 30,00 euros)

Infografia: José Belo (2022)


António Vieira ägnade en stor del av sitt liv åt att stödja de hårt exploaterade indianerna i Brasilien. Under långa perioder var han emellertid verksam i Europa. Under ett par år i Rom hade han flera olika uppdrag för drottning Christina av Sverige, som där befann sig i exil.

Både Portugal och Brasilien betraktar António Vieira som en av sina nationalförfattare. Poeten Fernando Pessoa har kallat honom för "kejsaren av det portugisiska språket".

(ii) Tradução, do Google e do editor LG:

António Vieira passou grande parte de sua vida apoiando os sobre-explorados índios  do Brasil. 

Por longos períodos, no entanto, ele esteve ativo na Europa. Com alguns anos em Roma, ele teve várias missões diferentes ao serviço da rainha Cristina da Suécia, que estava lá exilada. Tanto Portugal como o Brasil consideram António Vieira um dos seus grandes escritores nacionais. O poeta Fernando Pessoa apelidou-o de "o imperador da língua portuguesa".


1. Mensagem de José Belo:

Data - terça, 5/07/2022, 17:25

Assunto - Padre António Vieira na Suécia

Caro Luís

Espero que a saúde esteja bem controlada. Nas nossas idades fico-me pela “ bem controlada”.

Vou enviar um texto sobre o tão nosso António Vieira,  agora publicado na Suécia. 

Nunca é demais referir “os nossos“ quando publicados fora de portas. Serão poucos mas... importantes figuras de referência da cultura europeia!

Um abraço,
J. Belo


O Padre António Vieira (Lisboa, 1608 - São Salvador da Baía, 1697) tem agora uma coletânea dos seus textos publicados na Suécia.

“António Vieira-Expoente Intelectual do Século XVII em Portugal, Europa e Brasil “.
Tradução de Marianne Sandels que nela refere o interesse de Fernando Pessoa e José Saramago pela obra de António Vieira.

O primeiro ao considerá-lo o “Verdadeiro Imperador da língua portuguesa" foi  Fernado Pessoa. Saramago, prémio nobel da literatura (em 1998), reconheceu  em muito ter sido influenciado pela característica maneira de formular de António Vieira.

Depois de viajar pela Europa em diversas missões diplomáticas,  terá sido a estadia em Amsterdão que, após contactos com judeus e cristãos-novos expulsos de Portugal,  levou o Padre António Vieira a compreender a verdadeira extensão da perda intelectual, económica e comercial resultante da mesma.

Logo na primeira prédica,  após o regresso a Lisboa,  surge o “messianismo“ que a partir daí marcaria a sua obra.

Na “História do Futuro”, o Portugal de António Vieira tem um papel de vanguarda e utopia.
A restauração da grandeza nacional, com a esperança do “sebastianismo “ e de um “Quinto Império", passa a adquirir na obra de Vieira um…..lugar e tempo!

Uma tradição filosófica e literária que a partir daí tem vindo a adquirir as mais diversas formas, não menos as surgidas na obra de Fernando Pessoa.

Sobre o “Quinto Império “ é interessante o comentário de Eduardo Lourenço,  quando afirma terem sido as prédicas de António Vieira durante o período Barroco o verdadeiro, e único,
“Quinto Império”de Portugal.

Numa perspectiva sueca,  a estadia de António Vieira em Roma está ligada à amizade e admiração intelectual surgida entre este e a rainha sueca Kristina,  então a residir em Roma. (Nasceu em Estocolmo, em 1626, morreu em Roma em 1689; foi rainha da Suécia de 1632 até à sua abdicação em 1654, e à sua conversão ao catolicismo; exilada em Roma, a cidade papal, tornou-se mecenas de artistas e escritores.)

Figura muito controversa no norte europeu por ter abandonado a religião Luterana do Reino, abdicado do trono, convertido ao Catolicismo,e fixado ostentosa residência em Roma. Muito próxima do Papa Alexandre VII, Cardeais e Aristocracia romana, Kristina  passou a ter um muito importante papel na vida cultural, política e social, num período de mais de três décadas.

Nos seus contactos com António Vieira procurou que este se tornasse o seu confessor particular.

Este honroso convite foi ,de forma extremamente diplomática e elegante, recusado pelo mesmo, não interessado em ser arrastado para um ostentoso dia a dia, eivado de intrigas e conflitos palacianos, tanto entre os altos membros do Vaticano, aristocratas romanos, a somarem-se às ambições políticas europeias da Rainha.

Seria um cargo que o levaria a ter conhecimentos de tal modo “inconvenientes” que, a somarem-se à Santa Inquisição que o esperava em Lisboa, seriam…..demasiados!

A Rainha Kristina, que acabou por falecer em Roma, está sepultada (junto aos Papas!) na cripta da Basílica de São Pedro no Vaticano. (Creio ter sido a única mulher que, até hoje, recebeu tal honra).

Um abraço do J. Belo

José Belo, jurista, o nosso camarada luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, (i) tem repartido a sua vida agora entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Florida; (ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, recusando-se a jubilar-se do cargo: afinal todos os anos pela primavera, corre o boato de que a Tabanca da Lapónia morre para logo a seguir ressuscitar, como a Fénix Renascida; (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref (mas poderia e deveria ser coronel) do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; (vi) tem 225 referências no nosso blogue.

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