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domingo, 27 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23118: Ser solidário (244): Coro Municipal e população da Lourinhã, 27 de março de 2022, 11h00: Orar pela paz na Ucrânia



Vídeo (3' 36'') > You Tube > Luís Graça (2022)

Lourinhã, 27 de março de 2022: Coro Municipal da Lourinhã, dirigido pelo jovem, talentoso e polivalente maestro Carlos Pedro Alves, com a colaboração da população local, interpreta o cânone de W. Mozart "Dona Nobis Pacem" (Dai-nos a Paz).

A vila estremenha, "capital dos dinossauros", associou-se deste modo a outras vilas e cidades europeias que, neste dia, vieram às ruas com os seus coros orar pela paz na Ucrânia.

O coro interpretou também, entre outras, a famosa e sublime canção alpina “Signore delle cime”, composta em 1958 pelo italiano Giuseppe de Marzi. 



Vídeo (1' 24'') > You Tube > Luís Graça (2022)


Signore delle cime (1958) > Letra:

Dio del cielo, Signore delle cime,
Un nostro amico hai chiesto alla montagna.
Ma ti preghiamo, ma ti preghiamo:
Su nel Paradiso, sul nel Paradiso
lascialo andare per le tue montagne.

Santa Maria, Signora della neve,
Copri col bianco soffice mantello,
Il nostro amico, nostro fratello,
Su nel paradiso, su nel paradiso
Lascia lo andare per le tue montagne.

Dio del cielo, l’alpino chè caduto,
Ora riposa nel cuor della montagna.
Ma ti preghiamo, ma ti preghiamo.
Una stell’alpina, una stell’alpina
Lascia cadere dalle tue montagne.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16918: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (25): Em 2017, um Mundo melhor para todos os camaradas e respectivas famílias (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto do BCAÇ 3872)



1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 3 de Janeiro de 2017:

Há 66 anos que assisto ao fim de um e ao nascimento do outro ano.
Nos primeiros anos da minha vida o assunto passava-me completamente ao lado. O Natal era sim o momento máximo, pois era altura de receber presentes, pese nada ter a haver com as carradas de brinquedos que recebem agora as nossas crianças.
Mas a partir dos 14/15 anos em que já começava a participar nos bailes de fim de ano, a festa ganhou outro encanto e, também, chegaram os votos acompanhando as passas e o espumante. Secretamente desejava que fulana ou sicrana gostasse de mim, e à mediada que avançavam os anos, passei a desejar muitas coisas mais sujeitas às circunstâncias, como as que todos passámos em África. Acredito que o desejo de regresso tenha sido o que mais calou no fundo do nosso peito. Regressámos e continuamos a desejar outras coisas.
Na altura não nos apercebíamos de quantos dos nossos desejos ficavam por cumprir. Com o avançar da idade, assistimos aos votos e palavras de intenção, quando não de ocasião, de dirigentes, políticos, instituições, em favor da Paz, das crianças e dos mais desfavorecidos.
Na maioria serão lágrimas de crocodilo, e o cortejo de horrores cresce perante a nossa impotência. Este ano acabei também a desejar estar vivo no próximo, tendo em conta que o Mundo está cada vez mais perigoso e as confrontações de interesses fazem perigar ainda mais a Paz Mundial.
Ao participarmos naquela guerra, não ganhámos o direito à Paz, infelizmente para nós e para os nossos.

Assim sendo um Bom Ano para todos camaradas e respectivas famílias.
JA

************

2017

Mundo sem suspeições
Sem exigentes determinações
Economia sem contracções
Com livres emigrações
Com sustentadas imigrações
Sem explorações
Sem convecções
Sem execuções
Notícias sem manipulações
Com livres opiniões
Sem espiões
Sem fleumáticos intrujões
Sem falsas justificações
Sem contradições
Com evoluções
Nas mentes revoluções
Um Mundo sem contracepções
Com aspirações
Com sustentadas exalações
Em que a verdade não sofra de omissões
Nem de exaustões
Com muitas excitações
Porque só assim, haverá reproduções
Entrei em 2017 e fazer suposições.

Um abraço
JA
____________

Nota do editor

Último poste da série de 1 de Janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16901: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (24). um ano de saúde, 31 milhões e meio de segundos de felicidade (Mário Vitorino Gaspar)

sábado, 1 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16545: Blogpoesia (471): Promessas de paz (José Teixeira)

 

1. Em mensagem do dia 29 de Setembro de 2016 o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), enviou-nos este poema alusivo à paz que tanto desejamos e que cada vez é menos viável.


Promessas de paz

Prometem-me a paz das armas
Que calam armas matando pessoas,
E eu quero encontrar apenas a paz do pão,
Para matar a fome a quem estende a mão.
E construir em cada momento
A paz da solidariedade -
E do entendimento.

Prometem-me a paz das armas
Que calam armas espalhando a dor,
E eu quero encontrar apenas a paz do amor.
Para espalhar no mundo a esperança
Que o enche de afetos -
E de bonança.

Prometem-me a paz das armas
E as armas trazem mais armas
Enchendo o mundo de receios.
E eu quero encontrar apenas a paz do perdão,
Da paciência e da compreensão.
São para a paz, esteios -
E transformam as balas em pão.

José Teixeira
____________

Nota do editor

Último poste da série de 25 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16522: Blogpoesia (470): "Naquele olhar..."; Se tivesse o poder de amainar as tempestades..." e "Horas luminosas de sol...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

sábado, 25 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16236: (In)citações (93): O que será a paz? (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381)

1. Em mensagem do dia 13 de Junho de 2016 o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), enviou-nos esta interrogação. Pensemos.


O que será a paz?

por Zé Teixeira

Olá! Eu sou a Joana e tenho cinco anos. 
 Os meus pais chamam-me Joaninha voa voa.

Eu não sei voar como as joaninhas 
de capa vermelha às pintinhas!
Quando for grande, quero aprender a voar.

A minha mãe disse-me para eu vos falar de paz. 
Eu perguntei-lhe o que quer dizer paz. 
A minha mãe disse-me que paz é 
quando uma pessoa se zanga com outra 
e depois ficam outra vez bem… 
E eu não percebi nada…

Quando a minha avó nos vem visitar, traz-me um chocolate. 
Depois, vai-se embora e a minha mãe diz-lhe: “vai em paz”. 
Mas elas não estavam zangadas! 
A avó até traz sempre um bolo para o lanche! 

Quando os meus pais se zangam, 
o meu pai grita para a minha mãe “deixa-me em paz” 
e fecha-se no gabinete. 
Bate a porta com tanta força que até me assusta e eu choro… 
E a minha mãe chora comigo. 
Não brincam comigo… 
Nem falam um para o outro!

O meu pai, quando está a ler a Bola, 
não quer brincar comigo. Grita-me: 
“Joana, deixa-me em paz!” 
Nem me chama joaninha…

Na escolinha, 
a minha professora é amiga de todos os meninos e meninas. 
Brinca com todos nós. 
Conta historinhas…
Ensina-nos coisas bonitas!... 
Eu gosto muito dela. 
Às vezes, depois do almoço, vai ler uma revista. 
Eu vou ter com ela. 
A minha professora senta-me no seu colinho e deixa-me ver as figurinhas. 
Ela é mesmo fixe!

Quando dois meninos pegam à bulha, 
a minha professora vai separá-los.
Primeiro, fica zangada e ralha, ralha mesmo, 
mas ela não é má. 
Depois limpa-lhes as lágrimas. 
Sacode-lhes a roupa… 
E diz-lhes: “agora dêm o abraço da paz”! 
Os meninos dão um abraço e vão brincar. 
E fica tudo bem…
Não percebo mesmo nada…
O que será a paz?

José Teixeira
____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16190: (In)citações (92): Uma troca trágica (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)

domingo, 8 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14332: Blogpoesia (402): Um haiku à moda do Japão, em Dia Internacional da Mulher (António Graça de Abreu)

1. Mensagem do nosso amigo e camarada António Graça de Abreu:

Data: 28 de fevereiro de 2015 às 09:01
Assunto: Guiné, Memória e Poesia

Meu caro Luís: Se achas que é de publicar, avança. Não sabia que também era capaz de escrever esta espécie de haikus à moda do Japão  (dezassete sílabas em três versos, de sete, cinco, sete), com a Guiné dentro dos mini-poemas.

Abraço, António Graça de Abreu

Memória da guerra na Guiné

A herança da História, os acasos da sorte,
o estertor do Império, a insensatez das gentes
levaram-nos um dia a servir numa guerra.
Homens-meninos, por bolanhas verdes,
no tarrafo cinza, na picada traiçoeira,
na humidade quente do amanhecer das florestas,
conhecemos o medo, a morte, a coragem.
Quase rasgámos a alma.
Tantos anos depois, tempo de reencontro,
o gosto cristalino de um abraço de irmãos.


Envelhecemos.
Meio século após a Guiné,
beber os últimos prazeres da vida.


Nem derrotas, nem vitórias,
o fluir sinuoso das vontades dos homens
por dentro das lágrimas do tempo.

Nem flores do verde pino
nem o ondular das florestas.
Apenas bolanhas a ferro e fogo.

A menina mandinga
veio comer à minha mesa,
os olhos raiados de tristeza.

No Morés, laranjeiras rubras em flor
ou serão flores da guerra,
desabrochando em sangue, em calor?

Sangue e morte em Cufar,
a demência por dentro da noite.
Abraço a minha espada de guerra.

Guerra e paz em Mansoa,
nós, o coração esfarrapado,
no sonho breve, adiado,
do regresso a Lisboa.

Uma íbis negra. na foz do Cumbijã,
sacode as asas na névoa da pólvora
e esvoaça no horizonte azul.

Varri o chão, perfumei o leito,
mas a bajuda não veio.
Eu sou branco e feio.

Na humidade quente dos dias da guerra,
no leito de ferro,
no colchão de borracha enegrecida,
recordo o perfume faiscante
das dobras do teu corpo,
menina de seios de linho e alabastro.
Adormeci abraçado a ti.
Ao acordar,
apenas o rumor cálido
da ausência e do vazio.


____________

Nota do editor:

sábado, 16 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13504: Blogpoesia (387): Artífice da Paz (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381)

1. Em mensagem do dia 12 de Agosto de 2014, o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), enviou-nos este poema a que deu o título de Artífice da Paz.


Artífice da Paz

Dei comigo apavorado,
Ao toque do clarim.
Convocava-me para a guerra,
Fazendo de mim um soldado,
E eu não queria viver assim.

E segurei as palavras, num turbilhão,
Que da boca me fugiam, sem tino.
O combate, a fuga ou a prisão,
Eram o meu triste destino.
E sem poder fugir da guerra,
Sem poder fugir de mim,
Eu que queria amar a terra,
Comigo me desavim.
... ... ...

E alinhei como combatente,
De estratégia bem estudada,
Ser comigo, coerente,
E fazer da guerra uma justa jornada.
Das balas fiz doces palavras,
Que atirava com sorrisos.
Continuamente…
E sorrisos, recebia,
Alegremente.
As granadas dos canhões,
Em momentos bem precisos,
Transformei-as em abraços
Que uniam corações
Quase sempre empedernidos.

Dois anos vivi correndo,
Séculos e séculos, sem fim,
Caminhando pelo sonho
No longo do rio da esperança.
E regressei ao futuro
De um passado já vivido,
Um presente de bonança.

Triste pelo que vi e sofri,
Alegre pela vida que vivi.

E retomei o caminho, longe da guerra,
Gritando ao fora de mim 
– Vale a pena, nesta terra,
Lutar… 
Lutar e fazer da vida um festim.

José Teixeira
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13490: Blogpoesia (387): Manchas e nódoas... (J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13040: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (34): Ramos Horta & Ana Gomes hoje na Guiné-Bissau como ontem em Timor, uma dupla guerreira, sem armas de fogo, que está a fazer um belo e corajoso trabalho pela paz e pela lusofonia

1. Mensagem de Antº Rosinha [, foto atual à esquerda; fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93]:

Data: 16 de Abril de 2014 às 15:17

Assunto: Ramos Horta/Ana Gomes, dueto guerreiro

Luís, pela boca morre o peixe, tu é que sabes se publicas ou não.

Agora que as eleições recentes guineenses terminaram, (as eleições, não as intrigas), na República da Guiné Bissau, atrevo-me a comentar o protagonismo destes dois políticos, perante os guineenses e perante todo o ambiente que rodeou os últimos acontecimentos naquele país, terra que tanto se recorda neste blog de septuagenários e sexagenários.

Ramos Horta e Ana Gomes já em Timor actuaram a nível nacional e internacional com tal intensidade que Timor poderia não ser o que é, para bem ou mal, não sei, mas saberão os timorenses, e um acaso juntou-os novamente num contexto diferente, mas muito importante para a definição do que pode vir ser o futuro próximo da Guiné Bissau.

Como procuro acompanhar o que se passa nas ex-colónias por onde passei, Angola, Brasil e Guiné e "Madeira", terras onde passei os melhores anos da minha vida, (em idade de reprodução), não podia passar em branco a acção destes personagens que eu admiro, apesar de eu me considerar um bom "ex-colonialista", e um curioso "ex-cooperante" o oposto deles, anti-colonialistas.

Mas o que estes dois nomes já ouviram e leram contra eles nos jornais e blogs etc. de alguns políticos, comentadores timorenses, antigamente e guineenses agora, é de fazer corar qualquer colonialista, imperialista e fascista do nosso tempo de guerra do Ultramar.

Embora uma parte dos guineenses, tal como tinha acontecido em Timor, não vissem com bons olhos a actuação desta duas personalidades, a força moral, política e psicológica deles é tão forte, que se conseguem impor e fazer ouvir, mesmo pelos seus opositores, e não são poucos, agora na Guiné, antigamente em Timor.

Será a força da razão, a grande força deles?

Nem todos os antigos combatentes, ou antigos retornados como eu, se preocupam mais com estas africanices, porque outros valores mais europeístas e "larachas em família" mais indigestas que as de Marcelo, se alevantam.

Mas eu como português que não passou além de Olivença, mas fui além do Cabo Bojador, e muitos de nossos jovens já vão para Luanda com "carta de chamada" como se ia há 60 anos, dou muito valor à coragem e um certo sentido lusitano que discretamente se vai mantendo, por vários processos, como neste caso concreto Ramos Horta/Ana Gomes.

Como até acho que Portugal deve apoiar os angolanos e moçambicanos na pretensão de admitir a Guiné Equatorial na CPLP, assim como os galegos da Galiza, acho que me faço compreender, sem falar de mais.

Penso que estes dois personagens têm um verdadeiro espírito "Libertador" que sem serem uns Che Guevara, ou Amílcar Cabral, tentam sem armas de fogo fazer mais pela paz do que aqueles armados até aos dentes.

Não quero transcrever o que se ouviu em rádios e blogs e jornais guineenses contra e a favor destas duas figuras.

Já em Timor quem tenha dado atenção lembra-se do que diziam certos timorenses e Ali Alatas [1932-2008],  também na Guiné alguns vizinhos e alguns guineenses não apreciaram muito a actuação destes dois políticos.

Apesar dos pesares, a maioria dos guineenses deve achar que é bom para a Guiné a presença desta dupla na sua terra.

Cumprimentos,
Antº Rosinha
________________

Nota do editor:

Último poste da série de 10 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12817 : Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (33): O racismo mal disfarçado na África Lusófona, tão complicado e difícil de contornar como a divisão étnica tradicional

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12768: Blogpoesia (368): Cinco cartas aos Continentes... (J. L. Mendes Gomes)

Cinco cartas aos Continentes...

por J.L. Mendes Gomes


Fui aos Correios pôr cinco cartas.
Uma a cada Continente.
Deste mundo.

Uma delas
Há-de chegar às tuas mãos.
Onde quer que estejas agora.
Isso me deixa alegre
E faz feliz.

Quero que a abras,
Pela manhãzinha,
Ao nascer do sol.
É a hora a que a vida acorda.
Mais um dia para viver.

Que o da Europa,
Terra das luzes,
Já foi farol!...
Seja melhor
Que foi o de ontem,
E os dos últimos anos,
Quando tudo
Parece
Que voltou para trás...

Depois das guerras grandes,
Uma pequena,
Outra maior,
Ambas ferozes...
E da outra guerra fria,
Que de gelo
Reduziu a pó,
Tanta Fé e
E tanta Esperança
Num futuro medonho e negro
Que é o presente...
Diz-se União!...
Que paradoxo!...
Nunca esteve tão desunida
E desumana!...
Carcomida de mentira.

Venha de novo
Um São Bento que a lavre...
E ponha ao Sol!

Para a Ásia, vasta e extensa,
Das estepes,
Desde os Urais
Lá aos confins,
Pelos caminhos de Marco Paulo,
Onde há povos,
Nossos irmãos,
Filhos de Deus,
Iguais a nós,
Mas tão diferentes...
Vão no silêncio.
Só olham para trás,
De olhos no céu,
Vendo o mundo
De trás para a frente.

Para África, ao sul,
Esse vasto pedaço de mundo,
Com a forma dum coração.
Onde negros e brancos,
Nem sempre deram as mãos,
Apesar de terem a mesma cor
Nos olhos
E no sangue que lhes corre nas veias...
Chegou a hora certa...
Dum grande abraço
E para sempre serem irmãos.


Ouvindo Brendan Perry

Berlim, 2 de Fevereiro de 2014m, 7h17m

Joaquim Luís Mendes Gomes




J.L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66 [, foto acima, em Catio, 1964, assinalado com um círculo a vermelho; jurista, reformado; autor do livro de poesia "Baladas de Berlim", Lisboa, Chiado Editora, 2013, 232 pp., preço de capa:  € 14; encomendar aqui]

Foto: J.L.Mendes Gomes / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

_______________


Nota do editor:

Último poste da série > 7 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12689: Blogpoesia (367): O passado e o presente no futuro (José Teixeira)

terça-feira, 30 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11886: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548 (Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (9): Em louvor dos deficientes das forças armadas (DFA) (Ricardo Almeida)

1. Texto enviado em 26 de janeiro último pelo Ricardo Almeida [, ex-1.ºcabo, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, K3 / Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71]

Tem este texro o fim de alertar consciêcias esquecidas neste nosso Portugal: refiro-me ao ostracismo e desprezo que os nossos governantes têm votado as Forças Armadas de Portugal e,  mais concretamente, aos deficientes militares que depois de 40 anos do término da guerra colonial, continuam a clamar que lhe seja aplicado o Decreto Lei nº 43/76.

Refiro ainda que este texto foi publicado no jornal ELO, orgão da ADFA [,publicação que tem já 39 anos de existência].

Nunca o conceito de soldado esteve tão actualizado a meu ver e, nesse sentido, lembro aos nossos governantes uma lição que aprendi nos bancos da escola primária.

Então: o soldado é o homem a quem a pátria confia a sagrada missão de velar pela sua honra, de garantir a sua independência.  Ao dar-lhe a farda e a arma ela diz-lhe:

"Aqui tens esta farda, pega nesta arma, de agora em diante és o meu defensor e conto contigo! Enquanto te exercitas no manejo das armas, te afazes ao frio, ao calor e á fadiga e te submetes à obdiência, o país,  graças a ti, que velas por ele, pode entregar-se tranquilamente aos trabalhos da paz. Orgulha-te da tua missão; esta farda, respeita-a,  livra-te de a desonrar. Desde o dia que pela primeira vez a vestires não deixes que o teu coração perca os sentimentos de dignidade e de coragem que convêm aos homens a quem Portugal, comete a nobre missão de velar pela sua honra e pela sua indepedência. Lembra-te que a nossa história nos dá belos exemplos do brio dos nossos soldados! Segue estes exemplos e a pátria ser-te à eternamente grata."

Ora seguindo estes exemplos, a ADFA é sua herdeira
 e fiel depositária desse espirito. Então:  à ADFA, a
todos os que partiram e aqueles que já têm a viagem marcada, aqui deixo o meu grito de revolta, clamando por justiça que não se acalma sem ver o Dec Lei nº 43/76 posto em prática e na íntegra, em tudo o que diz respeito aos deficientes das forças armadas,  sem subtarfugios e invenção, de mais um [Dec Lei nº] 134/97,  de tão má memória para todos nós.

Não podemos permitir que alguém, sem conhecer o nosso passado, se arrogue o direito de nos negar sem que primeiro, nos consultar sobre as nossas necessidades e mazelas que ao serviço da pátria, não regateamos esforços pela nossa condição; e que por via disso, se criou o Decreto Lei nº 43/76, para que a pátria reconheça todos os sacrificios passados!

Vêm agora uns senhores esbarrar connosco sobre um direito que é dos mais elementares; a saúde gratuita e extensiva ás nossas companheiras que,  pelo o seu carinho,esforço mental e psicológico e também fisico, merecem estar em lugar cimeiro nesta nação Portugal.

Junto especifico a razão do texto.

2. Poema > Em louvor dos Deficientes das Forças Armadas (DFA) e demais combatentes


Mas como pode Portugal
Desprezar tantas familias,
Não cumprindo o seu dever
E os corpos devolver,
P'ra se fazer o funeral.

E deste mundo cruel,
Quando amanhã eu morrer,
Não levo saudade, mas levo a paz,
De tanto na vida sofrer.

Fui fazer guerra a um povo
Que. de tão martirizado.
Pegou em armas de fogo
P'ra banir tanto diabo.

E, como se não bastasse,
Muitos de nós lá ficaram,
Cegos, amblíopes e estropiados.
E, se a vida que eu carrego,
Fosse minha por um segundo,
Não me importava ser cego
P'ra depois ver este mundo!

Uma criança corria
Com seu arco na bagagem,
Era o brinquedo que tinha
P'ra ser mais breve a viagem.

Sua mãe fora doçura,
Mas seu pai o pôs andar,
De casa com amargura,
Por não haver que lhe dar.

Disse adeus à sua terra
E às coisas belas que tinha,
Feito homem foi p'ra guerra,
Com saudades da mãezinha.

Com vinte anos de vida
O ensinaram a manejar
Uma arma assassina,
P'ra em terra estranha matar!

Uma criança corria
Com seu arco na bagem,
Era o brinquedo que tinha
Naquela mata que ardia!

E fugia, fugia.
De Coimbra para Coimbra,
Um comboio circulava
E outro que de lá vinha,
Em Coimbra ele parava.

Gente, muita gente,
E eu estava no meio,
Coimbra e mais gente apressada!
Para onde irão com tanta pressa?

E eu, sem pressa, aqui estou,
À espera, embebedando-me
Com a paisagem
De água
E comboios
E gente.

Estou a viver um sonho
Do qual não posso fugir,
É um processo medonho
Que tenho que concluir.

Não faço parte da terra,
Não faço parte do todo,
Mas fiz parte duma guerra
Em terras de outro povo.

Fiz um poema à lua
E não é que ela gostou?
Mas disse-me que era só tua
Porque por mim já passou!

Vê lá bem essa malvada...
Que luar não mais me deu!
E disse que era só tua,
P' não me preocupar com nada
Porque está a chegar ao fim,

A minha noite de breu
Por onde tenho caminhado.
E sair fora de mim,
Deixando-te o meu legado.

Marques de Almeida


PS - Aquele abraço a toda a Tabanca Grande. Luis,  eu não tenho por hábito dar titulo ao que escrevo por isso se lhe quiseres dár-lhe,  estás á vontade. Um grande abraço,  meu amigo.

_________________

Nota do editor:

Último psote da série > 10 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11548: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (8): K3, Madrinha de guerra

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10475: Blogpoesia (306): S. T. T. L., Sit tibi terra levis!... Que a terra da tua Pátria, ao menos, te seja leve!.. (Luís Graça)


[Imagem à esquerda: Guernica, de Picasso, 1937. Óleo sobre tela, 349 cm × 776 cm. Museu Rainha Sofia, Madrid, Espanha... 

Imagem do domínio público: Cortesia da Wikipedia.]




S.T.T.L... Sit tibi terra levis!... Que a terra da tua Pátria,
ao menos, te seja leve!

por Luís Graça



1. Um dia até as pombas da paz do Picasso
repousarão no museu da guerra.

Em relicários,
de aço.
Mais as moscas,
regressadas dos campos de batalha,

que ficarão lá espetadas em alfinetes
nos respetivos mo(n)struários.

As moscas.
Exangues.

Cobertas de terra.
E a merda das moscas,

liofilizada,
como os grelos que comias na noite de Natal,
a merda agora elevada à categoria
de artefacto cultural.

Um dia ouviste um coronel, 

veterano,
dizer, sem rancor nem fel
(mas nunca viste isso escrito na Ordem de Serviço):
 Chiça!, sempre mais vale uma mosca na sopa
do que um míssil na cozinha.


A tua guerra foi tacanha.

Foi uma guerrinha,
de baixa intensidade,
assegura-te o escriba, submisso,
agora garboso historiador oficial.
Não viste mísseis a cruzar o Geba ou o Corubal,
mas milhões de insetos caíam-te na sopa.

Salgada,
da água da bolanha.
Fria.
Desconsolada.

A responder-lhe,
ao veterano,
seria com a célebre frase de um  general prussiano
(um general das guerras napoleónicas,

ainda por cima prussiano,
sempre é mais ovoestrelado 
do que um coronel do exército colonial):
– A guerra não é mais do que
a continuação da política de Estado
por outros meios. 

Fim de citação. 
Ponto final.
Siga a Marinha.
Até ao Terreiro do Paço. 

2. De megafone em punho,

o guia-mor do museu,
antigo combatente
maneta, 
o olhar baço, 
o peito ainda ardente, 
fala-te da arte e da ciência da guerra.
E da importância que é devida
aos detalhes
de barba.
Lá estava o aviso exposto na tua camarata:
– Mais vale perder um minuto na vida,
do que a vida num minuto.
Confessa, camarada,
que nunca chegaste a perceber
por que é que o soldado tem que ser tosquiado.
E ir ao encontro da deusa da morte... devidamente ataviado.

3. Faltou-te sempre a visão do todo,
que, para um estratega, 
bem escanhoado,
como o teu major de operações,
só podia ser maior do que a soma dos detalhes.
A única filosofia de vida,

de vida sem liberdade,que tu ouviste,
foi na tropa,
ao teu tenente de instrução da especialidade 

de atirador de armas pesadas de infantaria.
Começava em porcaria, 
e rimava com morte.
Era cínica e dissolvente,
como qualquer vulgar detergente
de cozinha:
- A merda é o adubo... da vida;
é fazendo merda, que tu aprendes;
e sobretudo nunca te esqueças
que é com a merda dos grandes,
que os pequenos se afogam.



À quinta feira, 
recordas-te ainda tão bem,
depois da feira do gado vacum, 
em Tavira,
fazia-nos, à malta do nosso pelotão,

rastejar na bosta,
enquanto ele gania como um cão
debaixo da janela da sua amada.  
É por isso que ainda hoje 
nem tu nem eu gostamos... de xarém.

4. Na tropa-do-um-dois-três-e-troca-o-passo

nunca soubeste
onde ficava o norte,

meu desgraçado!
Nem nunca soubeste pôr ao pescoço o baraço.
Nem fazer o nó à gravata.
Nem onde pôr a mão esquerda.
Nem o ombro arma,
a arma no ombro
ou o ombro na arma.

Nem fazer o pino.
Nem adivinhar a hora da sorte.
Nem sequer fazer um manguito de bravata.
Nem por isso te chumbaram,
coitado.

Depois um dia, no meio da guerra,

quiseram mandar-te para a psiquiatria,
o que era estranho,
porque o RDM,
em todo o seu articulado,
não previa a figura do inimputável 
nem a do cacimbado
(muito menos  a do psicopata... do major).
 Deem-lhe um valium dez,
metem-no numa camisa de forças. –
gritou o comandante das tropas em parada
ao médico, amável, 
ao enfermeiro, calado que nem um rato,
ao maqueiro, rapaz cortês:
– Sempre é mais cómodo e barato
do que embrulhá-lo em papel selado!

5. Prometeram-te depois um mundo melhor,

porém chato, chatíssimo,
com escudo de proteção 
e seguro contra todos os riscos;
não te disseram onde,
nem quando,
nem a que preço.
Descobriste que era tarde
e longe do planeta

e caríssimo.

 6. Ter a consciência limpa,

ó meu... sacana ?!
Para ti, é ter a memória com as baterias em baixo.

–   Por favor avisa-me, camarada,
quando elas estiverem a cinco por cento.
Quero fazer 'reset' das minhas memórias da Guiné.


Procuras, além disso, uma mão ?
– Direita, 
com cinco dedos,
disposta a ajudar
o meu pobre braço.
Esquerdo.
Decepado.
Dou alvíssaras,

estou disposto a pagar
com o American Express Card.
Golden, claro!


7. Morrer é 

quando tu chegas um beco sem saída
e não tens um kit de salvação.

Morrer em Nhabijões,
em Madina do Boé,
em Gandembel,
em Mampatá,
na Ponta do Inglês,
em Gadamael
ou em Missirá
... ou no Pilão, numa cena canalha,
tanto faz.
A morte não tem SPM.
E quem morre,  morre de vez,
quer mortalha,
e sobretudo quer que o deixem em paz!

8. A vida com a morte se (a)paga.
Há sempre moscas à espera
do teu cadáver,

mesmo seco e magro.
E jagudis.
E formigas bagabaga.

E um dia aziago.
E um primeiro sorja da CCS que te põe os pontos nos ii.
E um capelão que te fecha os olhos, 
com extrema unção e compaixão.
E um coveiro que te prega as tábuas do caixão.
– Não me perturbem o sono eterno! –,
podia ser o teu epitáfio,
ó tuga dum carago!

9. A prática, dizem-te, leva à perfeição,
exceto no jogo da roleta russa

que jogavas nas picadas da Guiné,
a G3 contra a Kalash,
a pica contra o fornilho,
o coiro, encardido,  contra o Erre-Pê-Gê.
Por isso tu vivias cada dia,
como se aquele fosse
o único que te restasse

no calendário de parede,
no teu abrigo,
grafado com gajas nuas.
E muitos traços, em conjuntos de sete, 
marcando a eternidade de uma semana, 
ou de um mês:

Cada dia era o primeiro, 
o único, 
o original, 
o irrepetivel,
no jogo da vida e da morte!
E todos as manhãs fazias o teste do dedo grande do pé esquerdo,
o do joanete,
o dos calos,
o das bolhas,
o da unha encravada,
o das pisadelas,
o mais azarento, 
o rebenta-minas!

10. Não sei se o pintor de Guernica 

(ou Gernika, que o topónimo é basco),
gostaria de ter conhecido
Adão e Eva
no Paraíso.

Ou a Terra Prometida quando era rica,
e nela corria então o leite e o mel,
mais o ouro, o incenso e a mirra.
Deve ter achado que 
esteticamente o Inferno
dava muito mais... pica.





PS - Aqui vai, para a comissão de ética,

 a tua declaração de conflito de interesses:
– Não conheço nenhum museu da paz,
apenas este,  o da guerra.

Nada sei de estética.
Não sou columbófilo.
E muito menos fã do Picasso. 


Já agora escreve, 
no teu testamento vital,
a tua última vontade, 
o teu desejo final:
Quando eu morrer, camaradas, 
que a terra da minha Pátria, 
ao menos, me seja leve!

_____________


Nota do editor:


Último poste da série > 2 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10466: Blogpoesia (305): O helicóptero (Jorge Cabral, Missirá, 1970)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4722: Depois da guerra, o stresse... da paz (4): Os dois piores anos da minha vida (João Tunes)

Universidade de Lisboa Faculdade de Letras > Reitoria > 28 de Maio de 2007 > Provas Públicas de doutoramento, em História Contemporânea, do Leopoldo Amado que veio defender a sua tese Guerra colonial 'versus' guerra de libertação (1963-1974): o caso da Guiné-Bissau... Uma delegação da Tabanca Grande esteve lá a ouvi-lo e a apoiá-lo...

Na foto, o João Tunes e o Leopoldo, ou melhor, o João Tunes "transmitindo a Leopoldo Amado aquilo que, nestas situações, pode fazer de melhor um amigo e admirador: absoluta confiança no reconhecimento dos seus esforçados méritos"... O João é assim, um amigo exigente e frontal, mas sempre solidário...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem, com data de 15 do corrente, enviada pelo João Tunes, membro da nossa tertúlia, desde Setembro de 2005 (é, portanto, um histórico). É um colaborador assíduo do nosso blogue, sobretudo até 2007. Costumo apresentá-lo como ex-Alf Mil Trms, tendo andado, de 1969 a 1971, por vários sítios da Guiné (não diz com quem...): Pelundo, Canchungo (ou Teixeira Pinto), Catió, Guileje, Bissau...Está, todos os dias, mesmo em tempo de pandemia de Gripe A (H1N1) no seu posto de trabalho, o blogue Água Lisa (6).



Caro Luís: Há quanto tempo não conversamos. Mas cá volto com candidatura a publicação no blogue, se o "politicamente correcto" editorial vigente assim o permitir.

Eu acredito e aceito tudo, excepto bruxas que não duvido que existem. Como sabes, para mim e quanto a mim, os meus dois anos na Guiné foram os piores da minha vida. Infelizmente, não apareceu ninguém para se oferecer ir no meu lugar, à minha volta a malta fardada só tinha olhos para ver se tinha prémio de ir para Timor, Macau, Cabo Verde ou o jack pot de não ir para lado algum, e se a canhota tinha de fumegar então fosse em Angola ou Moçambique, Guiné niqueles.

Mas lá, na Guiné, convivi com camaradas que acabaram por gostar, uns tantos até meteram o "chico". E havia, pelo menos, três maneiras de se meter o "chico":

(i) o propriamente dito, isto é, seguir a via profissional das armas e barões assinalados;

(ii) outra que era a assimilação do gosto pela guerra, descobrindo um guerreiro adormecido dentro de si, mas que implicava, explícita ou implicitamente, a justificação histórica e política da presença colonial portuguesa imposta pela força;

(iii) finalmente, a via da cafrealização, adoptando como ronco os costumes de fulas, balantas, mandingas ou manjacos, em carnavais de europeus travestidos de africanos, estereotipando as bajudas de mama rija como objectos eróticos e como se a sexualidade assim obtida fosse resultado do encontro de duas livres escolhas, transformar em prazer estético e folclórico o pôr-do-sol, o poilão, os macacos e os jacarés, uma cafrealização que era uma transmutação aparentemente adaptativa mas que mais não era que a afirmação, por via do poder, de uma pretensa superioridade eurocêntrica através do talento de se ser capaz de imitar o preto (sem que o inverso se pudesse verificar em contra-prova no mesmo plano).

Tudo isso aceitei e aceito. Porque aprendi na guerra que ela é a melhor e mais incontrolável forma de revelar um homem e precisamente por isso tudo se deve fazer para que um homem, todos os homens, não se revelem numa guerra pois as surpresas podem assustar.

Tento não me guiar pelo politicamente correcto de que falas e que não estou certo de sobre isso ter o mesmo entendimento que tu (depois do tanto que leio no blogue, fico com a ideia que o politicamente correcto ou dominante é ter gostado de lá ter estado, que devíamos lá ter estado, foram tempos porreiros, só não ganhámos a guerra porque ela não chegou ao fim) mas não faço questão de eventuais desencontros sobre os termos. A minha ternura solidária para com os meus camaradas da Guiné ensina-me a olhar todos por igual, pois cada homem é o seu mundo. Eu procuro aprender com o meu, os dos outros são gestões privadas em que não me meto. Só quero que sejam todos muito felizes.

Em homenagem aos vários diferentes, proponho a transcrição de uma peça histórica, um memorando enviado em 1960 por Amílcar Cabral e os seus companheiros ao governo de Salazar sobre o futuro da Guiné. Esse documento não teve resposta. E dessa falta de resposta nasceram todas as nossas viagens fardadas até à Guiné, para gosto de uns e desgosto de outros.

Com o habitual e forte abraço, segue o texto, Memorandum enviado ao governo português pelo PAIGC em 1960 (Poste de 9 de Julho de 2009, de Diana Andringa, no blogue Caminhos da Memória, de que o João Tunes é colaborador). [Devido à extensão do documento, não o vou publicar hoje, reservo-o para um próximo poste; fico, em todo o caso, o link, permitindo o acesso imediato ao histórico texto do PAIGC, tão pouco ou nada conhecido entre nós].

2. Comentário de L.G.:

Pois é, João, há quanto tempo não conversamos!... Dantes, eu ainda tinha o bom hábito de te telefonar de vez em quando. Agora falta-me o tempo, e sobretudo o (pre)texto... Mas não vale a pena arranjar desculpas nem alibis.

Pois é, o blogue aproximou-nos desde meados de 2005 e, às vezes, tem-nos separado... Deixa-me dizer que tenho saudades tuas. Da tua poderosa escrita, da tua frontalidade, da tua coerência de pensamento... Agradeço-te muito teres respondido, desta vez, à minha provocação, de resto canhestra ou ambivalente: como não vejo o mundo a preto e negro, e queria ter sol na eira e chuva no nabal, incentivei os tabanqueiros a falar da experiência da Guiné como um todo, embora com um enfoque especial na guerra... Mas também do regresso a casa, logo da paz, e do necessário coping da transição entre a guerra e a paz (sobretudo interior)(**)...

Há sempre que contar, do outro lado da blogosfera, com grandes e talentosas polemistas como tu... Digo do outro lado da blogosfera, como se tu não pertencesses, de pleno direito e de corpo inteiro, à nossa Tabanca Grande (ou tertúlia, como preferires). Mas, como eu também gosto de te dizer, tu tens aqui o estatuto do outlier (em termos estatísticos), ou melhor, do marginal-secante: intersectas dois sistemas de acção, tens o teu próprio blogue, colaboras noutros blogues, tens as tuas outras causas e bandeiras...

Sei que, para além do teu Benfica, não juraste fidelidade a mais ninguém... O nosso blogue (que tu continuas a insistir em chamar blogue do Luís Graça) não tem nem pode ter a veleidade de ser uma tribuna de quem quer que seja, muito menos o porta-estandarte de causas, por muito justas, boas ou necessárias que elas sejam: eu, por exemplo, não publico aqui tudo o que me apetece, da minha lavra e autoria...

Como gostas de dizer, somos amigos mas não tu não és nem nunca fostes um yes sayer... Não temos, felizmente, nenhum acordo de concordância sobre questões política ou ideologicamente (in)correctas. O único acordo (tácito) é o que enferma do espírito com que nasceu o blogue: podemos discordar um(uns) do(s) outro(s), mas respeitamo-nos... Sempre!

Sei que achas que eu abri demais o flanco... e que muito provavelmente deveria ser muito mais directivo e exclusivo como blogmaster. Continuo a pensar que a vida é a arte do possível... e que o nosso maior denominador comum é o facto de termos estado na Guiné, como miliatres, entre 1963 e 1974.

Como poeta, acredito na utopia (o lugar perfeito e ao mesmo tempo que não existe). É a única concessão que faço à ideologia... Sempre fui e continuo a ser um desalinhado, à esquerda... Igrejas, só tive uma, a que me baptizou... Aos quinze, tornei-me orfão, incapaz de me colar aos ismos... Faço um esforço por pensar por mim, e ser independente (que veleidade!), mesmo quando a independência é politicamente inoportuna, incorrecta, socialmente não desejável, etc.

Tudo isto para te dizer, meu caro João, que não sei responder à tua pergunta (tramada!), sobre o politicamente (in)correcto... Não sou capaz de raciocionar nesses termos... Mais importante: adorei o teu regresso ao nosso convívio, mesmo sabendo que não és um tipo fácil (isto é, que não faz fretes a ninguém). A tua lucidez a mim faz-me bem, a outros pode fazer comichão... Je m'en fous...

Posso às vezes discordar do teu estilo comunicacional, mas tu fazes-nos falta... Sei que a nossa Tabanca Grande pode ser, às vezes, demasiado granel e intelectualmete pouco estimulante para pessoas como tu ... Mas, acredita, ela é também o micro-retrato sócio-antropológico do teu e do meu país, um país que, afinal, não escolhemos, mas que amamos, cada um à nossa maneira. Não é o Portugal que tu ou eu ou todos nós gostaríamos de ter... Da minha parte, não tenho ideias definitivas sobre o Portugal que qostaria de ter, só para mim (que egoísta!). E mesmo que as tivesse, não as exporia aqui. Por pudor...

Por outro lado, sei da tua ternura pelos camaradas da Guiné, mesmo quando não estás intelectualmente sintonizado com eles... Tal como os irmãos, os camaradas (na guerra) não se escolhem...

Claro que vou publicar o teu escrito, como sempre o fiz... (Por uma fracção de segundo, fiquei triste só de pensar que tu podias pensar que eu não to publicaria....). Mas sou eu que te levo pela mão, desculpa a metáfora: serei eu o teu editor... É uma honrosa tarefa que fiz questão de ser eu a desempenhar... Até por que te devia a gentileza de um comentário.

Recebe um grande Alfa Bravo de um camarada que te estima e tem apreço pela tua coragem, física e moral... (Não preciso de evocar outros predicados teus para justicar o ABraço). Luís

PS - Não devia, mas não resisto a, comentar o termo cafrealização, que acho uma delícia... Ao fim e ao cabo faz parte do glosssário do meu ofício, de antropólogo e sociólogo... Logo, sinto-me em casa, para fazer uma abordagem sócio-antropológica do conceito ou da ideia...

Há séculos que somos cafres, o que estamos cafrealizados... No Séc. XVI, os nossos homens, os tetravós dos nossos tetravós, andavam embarcados, na aventura do ouro da Mina, da pimenta da Índia, do imaginário do mar sem fim... Abriam a autoestrada da globalização, eram os primeiros europeus a chegar ao longínquo oriente, depois de baterem, milha a milha, toda a costa de África... Éramos um milhão e picos... Tínhamos perdido mais de um terço da população com a peste negra de 1348-1353... Quem cá ficou para cuidar das nossas mulheres e das nossas crianças e cultivar os nossos campos, a partir de meados do Séc. XV e sobretudo depois da euforia das índias e dos brasis ? ... O preto da Guiné (Senegâmbia)... 15 % da população de Lisboa era de origem africana, em pleno do Séc. XVI... A nossa pool genética é também bérbere (e não árabe), judia, africana... Também somos cafres, meu camarada!

Diz o dicionário: (i) Cafre = indivíduo pertencente aos Cafres, povo banto da Cafraria, na África meridional, o qual vive sobretudo da agricultura e da caça e cuja designação tem origem da palavra árabe cafir, que significa «infiel»; por extensão, os africanos subsaharianos, os pretos...

(ii) Cafreal = relativo a negro africano (v.g., frango à cafreal, ou de cafriela)...

(iii) cafrealização (não vem no dicionário) = tornar-se cafre, viver como um cafre, adoptar os usos e costumes dos cafres...

Na Guiné, durante a guerra colonial, vimos de tudo um pouco... Soldados, milicianos, oficiais do quadro cafrealizaram-se... Conhecemos camaradas (oficiais do quadro, a milicianos, soldados do contingente geral) que compraram bajudas para poderem climatizar os seus pesadelos à noite... Ou simplesmente como investimento, obrigando-as a prostituirem-se para os seus camaradas...

Conhecemos homens que se apaixonaram e tiveram belas estórias de amor com a negrinha da Guiné, retintamente preta ou da cor do ébano... Comerciantes brancos (poucos) que fizeram a sua vida em África, constituiram família (numerosa), mas que nunca nos mostraram a sua esposa, fula, mandinga, papel... que fazia um deliciosos chabéu de peixe ou carne, ou o famoso frango à cafreal...

Conheci um, em Bambadinca, cujo casa frequentei... Estava na Guiné desde os 17 anos, tinha um bando de filhos, nunca vi a cara da esposa, que era a cozinheira (não sei se tinha mais do que uma...).

A história do nosso alfero cafrealizado é também a nossa história, a metáfora de um povo que, para sobreviver, soube plasmar-se, adaptar-se, aculturar-se, cafrealizar-se (um termo pejorativo, usado pela elite ocidental para classificar comportamentos regressivos dos civilizados em África: o antropólogo, o missionário, o administrador, o soldado, o comerciante...).

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes do João Tunes, publicados na I e II Séries do nosso blogue:

11 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLIX: Antologia (15): Lembranças do chão manjaco (Do Pelundo ao Canchungo) (João Tunes)

15 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CXC: João Tunes, o novo tertuliano

25 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXI: Pelundo: Nº do batalhão ? Não sei, não me lembro (João Tunes)

27 Novembro 2005 > Guiné 63/74 - CCCXVI: BCAÇ 2884 (Pelundo, 1969/71), o primeiro batalhão do João Tunes

4 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXII: Onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970 ? (João Tunes)

12 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLVIII: Vítimas e carrascos, amos e servos, sacanas e traidores (João Tunes)

17 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXVIII: Ainda sobre os fuzilados... ou comentário ao texto do Jorge Cabral (João Tunes)

17 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXVI: E os patriotas guineenses, torturados e assassinados em nome de Portugal ? (João Tunes)

24 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXCI: Todos camaradas, mas uns mais do que outros ? A propósito do assassínio de Amílcar Cabral (João Tunes)

24 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXCII: O limpo e o sujo, nós e os pides (João Tunes)

24 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXVII: Fazer a catarse antes de vestir a toga de juiz (João Tunes)

27 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCV: O 'turra' Luandino Vieira recusa Prémio Camões (João Tunes)

30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74- DCCCXVIII: Confissões de um pacifista: A minha paixão pela bela Kalash (João Tunes)

31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXVII: A 'legenda' do capitão comando Bacar Jaló (João Tunes)

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P999: Eu, cacimbado, me confesso (João Tunes) (I): tudo bons rapazes!

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1003: Eu, cacimbado, me confesso (João Tunes)(II): tirem-me daqui!

2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1018: Eu, cacimbado, me confesso (João Tunes) (III): E o jipe nunca voou

3 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1020: Stress pós ou pré-traumático ? (João Tunes)

16 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1037: Não cuspir no rancho, mas RDM... nunca mais ! (João Tunes)

9 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1088: Pensamento do dia (7): Capitão do Exército Português: 'O filho da p... do Tenente traiu-me miseravelmente' (João Tunes)

20 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1090: Op Mar Verde: O cabo enfermeiro paraquedista que foi no Grupo Sierra, do Capitão Morais e do Tenente Januário (João Tunes)

4 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1245: Quarenta anos sobre Catió (João Tunes)

4 de Dezembro de 2006 >Guiné 63/74 - P1337: O campo de concentração da Ilha das Galinhas (João Tunes)

18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1441: Questões politicamente (in)correctas (20): Sempe camaradas, nunca censores (João Tunes)

27 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1465: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (4): Os majores foram temerários e corajosos (João Tunes)

3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)

22 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1619: Questões politicamente (in)correctas (27): Teixeira Pinto, a Coroa e a República (João Tunes)

22 de Março de 2007 >Guiné 63/74 - P1621: Questões politicamente (in)correctas (28): Salazar, um dos últimos reis de Portugal (David Guimarães / João Tunes),

24 de Maio de 2007 >Guiné 63/74 - P1783: Tese de doutoramento de Leopoldo Amado: Guerra colonial 'versus' guerra de libertação (João Tunes)

3 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1916: Álbum das Glórias (16): O Doutor Leopoldo Amado... ou a segunda derrota de Spínola (João Tunes)

30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2008: Dando a mão à palmatória (1): A fotografia dos saudosos majores Pereira da Silva, Passos Ramos e Osório (João Tunes / Editores)

3 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2325: Massacre do Chão Manjaco: Todos iguais na morte, mas nos relatórios uns mais iguais do que outros (João Tunes)


10 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2516: Blogue-fora-nada: O melhor de...(4): Pedido de desculpas às Senhoras do MNF muitos anos depois (João Tunes, oficial e cavalheiro)

1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3008: O caso do embaixador de Portugal em Bissau (4): Não ao linchamento popular... (João Tunes / J. Mexia Alves)

2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3962: Nuvens negras sobre Bissau (5): Um adeus a Nino (João Tunes)

(**) Vd. postes de:

15 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4690: Depois da guerra, o stresse... da paz (1): Em Binta, vivi uma experiência única (José Eduardo Oliveira)

17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4698: Depois da guerra, o stresse... da paz(2): Não foi o melhor tempo da minha vida... (João Bonifácio)

17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4704: Depois da guerra, o stresse... da paz (3): José Eduardo Oliveira, ex-Fur Mil, CCAÇ 675, Binta, 1965/66

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4279: Blogoterapia (101): Obrigado, Manuel Maia, emocionaste-me até às lágrimas (José Brás)

1. Mensagem do nosso camarada José Brás, que foi Fur Mil da CCAÇ 1622 (Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), e é autor do romance Vindimas no Capim, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura):

Caríssimos

Carlos, Luís e Briote


Não tem nada a ver com a guerra, isto que quero dizer-vos, agora, de lágrimas a rebentar por sob as pálpebras quando leio de voz alta, só e em frente ao monitor, a escrita do Manuel Maia (*).

De voz alta porque quero emocionar-me até ao limite, na oportunidade de não ter quem me chame de maluco.

De lágrimas a rebentar porque, felizmente, continuo a poder emocionar-me perante os sinais do humano quando chegam altos como este rio de palavras engenhosas, talentosas e suadas.

Que maravilha!

Cercados por centrais globais de (des)informação e por um real saído dos noticiários das televisões, o dia-a-dia carrega-nos de pesadas preocupações acerca do futuro do mundo e da humanidade.

Talvez que, no fundo, não seja mais do que a velhíssima tendência para o pessimismo que nos atinge depois de anos de lutas e esperanças.

Gente como o Manuel Maia são a garantia de que não passa disso e de que a comoção e a imagem das mãos dadas por cima de incertezas continuarão a marcar o homem do futuro na sua dualidade divina e na sua multiplicidade de andarilho.

Afinal, já nem sei se foi de guerra ou não que quis falar, porque ninguém fala de guerra senão para falar de paz.

Um abraço (normal) para vocês e outro de agradecimento ao Manuel Maia.

José Brás

_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 3 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4278: Blogpoesia (44): A história de Portugal em sextilhas (II Parte) (Manuel Maia)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2911: Poemário do José Manuel (16): Saudades do Douro e do Marão...

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "O Fur Mil Simões a refrescar-se no Corubal (1); de costas, o Alf Mil Farinha lia o jornal e alguém se preparava para mergulhar do tronco; ao alto umas pernas de alguém sentado num ramo, roubando o trono ao macaco rei do local".


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Eu e o Carvalho, Fur MIl Enfermeiro, depois de atingirmos o cume de uma das únicas montanhas que vi na Guiné, os BAGA-BAGA. À falta de melhor, dava para matar saudades do Marão" (1).

Fotos e legendas: ©
José Manuel (2008). Direitos reservados.


2. Mais um dos poemas do dia, escritos pelo José Manuel Lopes, de uma colecção de meia centena que resistiram à fúria do tempo e ao severo exame de auto-crítica do poeta (2).

Recorde-se que ele foi Fur Mil Inf Armas Pesadas, com o curso de Op Esp e a especialidade de Minas e Armadilhas, esteve na CART 6250, em Mampatá, entre 1972 e 1974. Foi mobilizado já com 18 meses de tropa, em rendição individual. Teve conhecimento do nosso blogue, através do programa Câmara Clara, da RTP Dois, da Paula Moura Pinheiro, edição de 24 de Fevereiro de 2004, que foi dedicado à literatura sobre a guerra colonial.

Depois de um longo silêncio, de muitos anos, hoje fala da Guiné com a mesma paixão com que fala do seu Douro e do seu Marão, das suas vinhas e do seu vinho, da sua família e da sua quinta, da sua Régua natal (donde nunca mais saiu, desde que regressou, em Agosto de 1974, com quase quatro anos de tropa) (3)...

Conmheci-o no nosso III Encontro Nacional. Por outro lado, tem aparecido nos almoços de 4ª feira da tertúlia de Matosinhos, na Casa Teresa, e é pessoa de uma grande sensibilidade, generosidade e hospitalidade. Na véspera do feriado do 25 de Abril último, escreveu-me:

"Se vieres neste fim de semana [, cá acima], na Sexta às 8 horas estou a iniciar uma caminhada da Régua ao Marão, com mais 130 caminheiros que acaba num almoço lá na serra, hoje mesmo vou fazer o reconhecimento do percurso, que é duma beleza e paz impressionantes. O resto do fim de semana estou em casa, o meu contacto é 916651640. Um abraço, José Manuel".

Ele autoriza-me que divulgue o seu número de telemóvel, para os camaradas e amigos que passem pela Régua o poderem contactar, conhecerem a sua quinta e provarem os seus vinhos... (LG)


Seria bom esquecer
a nós mesmos perdoar
pelas balas disparadas
pelas minas plantadas
hoje
vejo o mundo pelo avesso
tudo me parece cinzento
oh
que saudades eu tenho
daquele miúdo travesso
pelas vinhas a correr
com os cabelos ao vento
nos carros de bois pendurado
a sair do nosso rio
com o cabelo molhado.

Mampatá 1974
josema

__________

Notas de L.G.:

(1) O Rio Douro e a Serra do Marão eram duas referências constantes do poeta e do combatente, perdido em Mampatá, no sul da Guiné, nas proximidades da margem esquerda do Rio Corubal...

Vd. postes de:

21 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2868: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (7): Homenagem a um camarada, poeta e viticultor, o José Manuel

28 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...(...)

(2) Vd. os últimos seis postes desta série >

25 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2884: Poemário do José Manuel (15): Dois anos e alguns meses

17 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...

15 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2844: Poemário do José Manuel (13): A matança do porco, o Douro, os amigos de infância, os jogos da bola no largo da igreja...

9 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...

2 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata

24 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973

(3) Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)