Mostrar mensagens com a etiqueta livros. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta livros. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24438: O Nosso Blogue como fonte de informação e conhecimento (101): Pedido de apoio para a obtenção de antigos manuais escolares do PAIGG (com destaque para o livro da 4ª classe). editados na Suécia, em Upsala, impressos na Wretmans Boktryckeri AB (Jorge Luís Mendes, Primeiro-Conselheiro da Embaixada da República da Guiné-Bissau no Brasil)


Capa de "O Nosso Livro, 3ª Classe", PAIGC, s/d (Cortesia de Jorge Luís Mendes)



Foto do histórico fundador, secretário geral e líder do PAIGC, Amílcar Cabral (1924-1973), incluída em O Nosso Livro de Leitura da 2ª Classe, editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné (sic). Tem o seguinte copyright: © 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)...

A primeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares, tendo sido impressa em Östervåla, Uppsala, Suécia, em 1970, na tipografia Tofters / Wretmans Boktryckeri AB.


1. Mensagem do nosso leitor Jorge Luis Mendes:

Data . 26/06/2023, 16:48

Assunto . Pedido de apoio para a obtenção de livros antigos do PAIGC

Caros amigos, Camaradas da Guiné, com a devida permissão!

Senhor Luís Graça,

Com os meus melhores cumprimentos e, tenho a honra de solicitar, se possível, o obséquio de seguinte livro: 

PAIGC. O nosso livro 4 ª classe. Uppsala: Wretmans Boytryckeri AB, n.d.

Destarte, os Manuais Escolares do PAIGC foram criados coletivamente por professores e outros militantes e impressos em Uppsala, na Suécia, pela tipografia (?)-

O motivo do meu pedido, relaciona-se com a coleta seletiva de livros antigos, isto é, Livros Escolares, do PAIGC, Editados na Uppsaka, na Suécia, de nível de 1ª Classe, 2ª Classe, 3ª Classe e 4ª Classe, que haviam sido distribuídos nas regiões libertadas, no período de 1963 – 1974. O uso desses Livros foi extensivo como materiais didáticos até 1985.

Pois, estou escrevendo Memória: o Lugar/engajamento da Família Farã Mendes, Deputado do PAIGC e Comité do Partido, Irmãos, Primos e Filhos, durante a Luta Armada de Libertação Nacional.

Estou ensaiando, demonstrar o empenho, ou seja, a dedicação em que toda minha família estava engajado para que a Guiné-Bissau fosse independente.

Por isso, gostaria de obter esses livros tão importantes na vida da minha família e da Guiné-Bissau, para aproveitar algumas fotografias em que minhas irmãs, irmãos e primos fazem parte no Livro de 4ª Classe do PAIGC, intitulado o Nosso Livro de Leitura.

Eis, o título do Livro que estou escrevendo:

Contributo, Memória e História em Memória da Família Farã Mendes durante a Luta Armada para a Edificação do Estado da Guiné-Bissau.

Farã Mendes foi do Comité do PAIGC e Deputado da 1ª Legislatura para a Região de Cubisseco-de-Baixo, Tombali, Sul da Guiné-Bissau.

Alta Consideração
Jorge Luís Mendes
Primeiro-Conselheiro
Embaixada da República da Guiné-Bissau no Brasil
email: jorlui.mendes@gmail.com



Capa do Livro da 1ª Classe do PAIGC... Exemplar capturado pelo nosso camarada Manuel Maia no Cantanhez, possivelmente em finais de 1972 ou princípios de 1973. Vê-se que esse exemplar tinha uso. A capa teve de ser reforçada com uns improvisados adesivos (aparentemente autocolantes, que acompanhavam embalagens de apoio humanitário, vindas do exterior).  Sabe-se que foram feitos, na Suécia, 20.000 exemplares deste livro,  numa primeira edição. "Neste mesmo dia apanhei ainda duas cartas, uma escrita em árabe e outra em crioulo", diz.nos o nosso camarada Manuel Maia, ex-fur mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine (1972/74).

Foto (e legenda): © Manuel Maia (2009).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa e contracapa de "O Nosso Livro, 2ª classe", PAIGC (1970). Cortesia de Paulo Santiago (que vive em Águeda e foi alf mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho , 1970/72). A impressão já foi feita (em que ano ?)  pela empresa dos irmãos Tofters,   sediada em Östervåla, que, em 1973,  ficaram com o que restou da Wretmans Boktryckeri AB. (Östervåla é uma localidade situada no município de Heby, condado de Uppsala, Suécia com c. 1600 habitantes em 2010.)

2. Comentário do editor Luís Graça:

Caro senhor  Jorge Luís Mendes, primeiro-conselheiro da Embaixada da República da Guiné-Bissau no Brasil: obrigado, antes de mais, pelo contacto, e pelo pedido de ajuda.

Já aqui apresentámos a capa e a contracapa de O Nosso Primeiro Livro, o manual escolar usado nas escolas do PAIGC, editado em 1966, pelo Departamento Secretariado, Informação, Cultura e Formação de Quadros do Comité Central do PAIGC... Algumas imagens digitalizadas do livro chegaram-nos pela mão de diveros camaradas  nossos (*) 

 Também apresentámos imagens (digitalizadasw) do manual escolar do PAIGC, O Nosso Livro - 2ª Classe.  O livro foi "elaboradao e editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné" (sic). Tem o seguinte copyright: 1970 PAIGC - Partido Afrucano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)... A primeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares. Também foi mpresso em Upsala, Suécia, em 1970, por Wretmans Boktryckeri AB.

 Infelizmente não temos informação sobre os livros de leitura da 3ª e 4ª classes, também impressos na Suécia, na mesma gráfica,  Contrariamente aos livros da 1ª E 2 classe, os da 3ª e 4ª classe deveriam ser mais raros no mato (nas "regiões libertadas") e daí não terem ainda aparecido antigos combatentes portuguesas com exemplares apreendidos.

Recorde-se que era a Lilica Boal (Maria da Luz Boal) quem dirigia a Escola Piloto do PAIGC em Conacri (criada em 1965, para acolher os filhos dos combatentes e os órfãos de guerra), sendo também ela a responsável pelos conteúdos nos manuais escolares, publicados na Suécia. 

A Lilica Boal era mulher do dr. Manuel Boal, outro natural de Angola, que saiu em 1961 para se juntar aos movimentos nacionalistas. A Lilica Boal nasceu em Tarrafal, Santiago, Cabo Verde, em 1934. Não confundi-la com a "Maria Turra", a Amélia Araújo, que deu  voz à "Voz da Libertação", do PAIGC (estação de rádio inaugurada em 1967).

Lamentavelmente nenhum destes quatro livros parece constar da PORBASE - Base Nacional de Dados Bibliográficos, numa pesquisa rápida que fizemos (e em que são listadas apenas 50 referèncias bibliográficas com o descritor PAIGC). Também não sabemos se há algum exemplar destes livros no Arquivo Histórico-Militar ou outros arquivos nacionais. Prometemos procurar com mais tempo e vagar. Mas para já pedimos a preciosa ajuda dos nossos leitores. (***)

Vamos tentar também, pelos nossos contactos na Suécia (na época um parceiro estratégico do PAIGC) (****),  localizar, nalguma biblioteca pública,  um exemplar do livro da 4ª classe, para pelo menos podermos digitalizar a capa e as fotografias pretendidas pelo Jorge Luís Mendes. Tal como em Portugal, na Suécia deveria ser obrigatório, na época,  o "depósito legal" de uns tantos exemplares dos livros impressos no país.

Sabemos que os manuais foram todos (?)  impressos na Wretmans Boktryckeri AB; um tipografia ou oficina gráfica fundada em 1889, por Harald Wretmans, tipógrafo com formação alemã, e que faliu em 1973, depois de ter passado por várias mãos, e de ter 40 funcionários na década de 1940. Tinha fama de apresentar boas encadernações. Em 1973 foi adquirifa, a massa falida, pela gráfica dos Tofters, em Östervåla.(****ª)
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

23 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3928: PAIGC: O Nosso Livro da 1ª Classe (Manuel Maia, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610, Cafal Balanta / Cafine, 1972/74)

27 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2221: PAIGC: O Nosso Livro da 2ª Classe (1): Bandêra di Strela Negro (Luís Graça / Paulo Santiago)

29 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1899: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (1): O português...na luta de libertação

1 de kulho de 2007 > Guiné 63/74 - P1907: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (2): A libertação da Ilha do Como (A. Marques Lopes / António Pimentel)

4 de julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1920: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (3): O mítico Morés

9 de julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1938: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (4): Catunco

(**) Vd também postes relativos ao livro da 2ª classe, uma edição sueca, e obedecendo à mesma linha estética do livro da 1ª classe:

27 de iutubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2221: PAIGC: O Nosso Livro da 2ª Classe (1): Bandêra di Strela Negro (Luís Graça / Paulo Santiago)

31 de iutubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2232: PAIGC: O Nosso Livro da 2ª Classe (2): O Morés e os amigos da Europa do Norte (Luís Graça / Paulo Santiago)

(***) Último poste da série > 14 de outubro de  2022 > Guiné 61/74 - P23710: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (100): O Arquivo da Defesa Nacional disponibiliza acesso a documentação entretanto desclassificada relativa à guerra colonial (Beja Santos / Carlos Vinhal)

(****)  Sobre a ajuda sueca ao PAIGC e depois à Guiné-Bissau, vd. postes de:


4 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13847: Da Suécia com saudade (41): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte II)... Um apoio estritamente civil, humanitário, não-militar, apesar das pressões a que estavam sujeitos os sociais-democratas, então no poder (José Belo)

5 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13849: Da Suécia com saudade (42): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte III)... Pragmatismos de Amílcar Cabral e do Governo Sueco, de Olaf Palme, que só reconheceu a Guiné-Bissau em 9 de agosto de 1974 (José Belo)

7 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13859: Da Suécia com saudade (44): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte V): Quando se discutia, item a item, o que era ou não era ajuda humanitária: catanas, canetas, latas de sardinha de conserva... (José Belo)

(*****) Vd. Uppsala industriminnesforening [Associação para a Memória Industrial de Uppsala ]

https://www.uppsalaindustriminnesforening.se/wretmans-boktryckeri-ab/

 Resumo  (da responsabilidade de LG):

Upsalla (hoje com mais de 160 mil habitantes), situada no centro leste do país, é conhecida pela sua universidade (a mais velha da Escandinávia), e ainda pela sua imponente catedral luterana. Desde o séc. XII, também o centro religioso da Suécia.

Upsalla, desde a década de 1860 até a década de 1970,  era "uma animada cidade industrial", com diversas empresas na área da indústria transformadora. Possuia também duas grandes gráficas, Almqvist & Wiksell e Appelbergs,  mas também tipografias de menor dimensão, como a  Wretmans Boktryckeri AB  ou a Akademitryckeriet. 

Wretmans Boktryckeri foi fundada em 1889 por Harald Wretman, que  fora tipógrafo na Alemanha.   Tornou.se um reputado impressor na cidade.  Depois de várias localizações, a tipografia mudou-se  para Östra Ågatan 33, onde permaneceu até a liquidação em 1973. 

Após a morte de Wretman,  a empresa mudou de mãos, e em 1925, Emil Sjögren transformou empresa em sociedade anônima.  A Wretmans Boktryckeri permaneceu na posse da família Sjögren até 1973, quando a gráfica foi fechada. 

Além de livros, a Wretmans também imprimia jornais, revistas,  impressos publicitários, etc.. O equipamento mecânico era completamente moderno para a época. No entantorante muito  tempo, a gráfica não tinha encadernação própria, até meados da década de 1960. 

Em meados da década de 1940, Wretmans tinha cerca de 40 funcionários, que foram depois  diminuíndo  gradualmente. Em 1973, ano da sua  liquidação, restavam apenas nove funcionários..

Após o fechamento em 1973, as máquinas e acessórios foram adquiridos pela gráfica dos Tofters em Östervåla.

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 – P24101: (Ex)citações (421): Sim, estou velho! (José Saúde)



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

Sim, estou velho!

A idade não perdoa. Que tínhamos todos a noção dessa inquestionável realidade. Fui, tal como todos os camaradas de armas, um jovem que conheceu momentos de alegria e também de horrores na guerra da Guiné. Todavia, sim estou velho. Conto, resumidamente, momentos de prazeres e de angústia pelo tempo que já passou.

Deixo os livros que já escrevi, 11, e da árdua labuta como jornalista ao longo de mais de trinta anos. Somos, agora, meros seres humanos que vagueamos pelos pingos da chuva e que paulatinamente nos deparamos com a estonteante viagem que já fizemos ao cimo deste imenso globo terrestre.

Na nossa cédula pessoal ficou registada a nossa presença por terras da Guiné, bem como os nossos tempos de meninos e moços.

********************

Condicionalidades de um tempo sem tempo: Sim, estou velho!

Sim, estou velho! Sim, o tempo, esse vadio, já voou. Dissipou-se. As gotas de orvalho diluem-se a uma velocidade impressionante. O meu rosto determina uma idade já avançada (72 anos). Sim, porque a saudade mata devagarinho os anos já consumidos pela essência das eras passadas. Sim, essa tal melancolia que parece previamente distante, perdeu-se pela fresta de uma porta que se foi definhando com o declinar das épocas. Vagueio pelo trilho “desarmadilhado” de uma vereda que inevitavelmente vai estreitando. Sim, esta é uma das inevitáveis realidades que o ser humano literalmente terá de compreender e sobretudo aceitar.

Curvo-me perante a transformação física do meu corpo. É verdade. Não o escondo. Mas atenção: ainda não me considero um trapo. Talvez um trapo de um fino fio de seda vindo das equidistantes arábias, mas impregnado com uma juventude já perdida. Ficaram os requintados cheiros que dantes me arregalaram as narinas. Ou, o toque em “matéria proibida” onde proliferavam memoráveis mistérios. Sim, esses frenéticos momentos continuam fixamente emoldurados na minha mente, mas com traços de um puro êxtase dantes ocorrido.

Recreio-me, agora, com a saudade. O que fiz e o que deixei de fazer. O meu corpo, outrora atlético, está velho. Cansado. De uma aldeia, a minha sempre querida Aldeia Nova de São Bento onde nasci, a metrópoles de maior dimensão, de tudo conheci. Conheci e fiz amizades. Tudo, porém, foi ontem. E foi ontem que brinquei com os meus amigos no Largo do Ferreira, lá para as bandas do Algés. Do João Luís, ao João Ferro, António, vulgo “Encherto”, António e Bento Charrinho, dois irmãos infelizmente já desaparecidos, Manel “Galha Galha”, Bento “Tomba Lobos”, Chico do Toril e o João Cheta, de entre muitos outros miúdos, foram companheiros no jogo de futebol com uma bola de trapos, ou com uma bexiga de porco regateada no mercado da aldeia. As leis, então impostas pela rapaziada, impunham que o jogo terminava aos 10, a mudança de campo aos 5 e as balizas eram delimitadas com duas pedras, sendo que o retângulo de jogo, desproporcionado, não tinha linhas que limitassem o espaço.

Mas, eis que numa elementar reciclagem feita à razão desta minha existência, revejo, com saudade, a mocidade perdida e uma vida preenchida de aventuras e desventuras. Ninguém é perfeito e eu também o não fui e nem tão-pouco o sou e, logicamente, jamais o serei.

Saí do meu recanto sagrado, ou seja, da minha sempre querida e adorada Aldeia Nova de São Bento, muito novo com destino a Beja, urbe onde concluí a instrução primária e fiz grande parte da minha vida. Todavia, jamais renunciei uma ida ao berço que me viu nascer e me consumirá para a eternidade. É lá, na minha aldeia, que um dia repousarei para a perpetuidade.

Existiu sempre no meu ego o espírito de aventura, ora quando a adrenalina me levava ao êxtase, ora quando o momento implicava uma maior concentração, tendo em conta o passo seguinte que, por força de uma razão maior, teria de ser dado. Mas nem sempre as coisas funcionaram da melhor maneira. É natural e aceito esses ímpetos momentâneos. Errei, tal como todo o ser humano. Ninguém é um exemplo imaculado e nem tão pouco um ser perfeito.

O mundo do futebol traçou-me um outro destino. Do Despertar ao Sporting, com uma passagem pelo Benfica, foi o desenho traçado e fundamentalmente concluído. Depois, veio o Desportivo de Beja, o FC Serpa e o Atlético Aldenovense.

Pelo meio ficou o cumprimento do serviço militar obrigatório. De Tavira aos Rangers, em Lamego, sendo o quartel em Penude, foi um estreitíssimo passo. Seguiu-se a Guiné, onde cruzei a guerra com a paz. Ali conheci uma outra realidade. Uma realidade onde os odores africanos se cruzaram com o “cantar” das armas. Regressei, felizmente, tal como parti. Apenas mais velho de idade. Fica, contudo, nas minhas mágoas de ver partir camaradas para a tal viagem sem regresso.

No retorno de África um emprego em Lisboa assinalou a minha volta à capital do Império. Regressei, depois e mais velho em idade, à velha Pax Júlia em 1978 e onde dei os primeiros passos no maravilhoso universo do jornalismo com o meu saudoso amigo Delmiro Palma, no jornal “O ÁS”, um semanário que adquiri no ano de 2000, sendo, para além de proprietário, o seu Diretor.

Trabalhei, em simultâneo, para vários órgãos de comunicação social desportiva, quer regionais quer nacionais, ficando a certeza que o jornal “A BOLA” terá levado o meu nome e a nossa região baixo alentejana além-fronteiras, para além do JN (Jornal de Notícias). O jornalismo preenchia a minha profícua mente. 12 anos na Rádio Voz da Planície, como coordenador da área desportiva, levou-me a possuir nos três programas na RVP: O “Estádio”, aos sábados; “Planície Desportiva” aos domingos com relatos de futebol incluídos; e diariamente o “Livre Direto”, com dois apontamentos, um logo pela manhã, um outro à tarde. Em 2005 assumi dar a cara pela TV Beja, televisão por Internet.

Um dia, em finais de 1990, lancei o primeiro livro, “Glórias do Passado”, seguindo-se uma segunda obra, ou seja, o II volume sobre a mesma matéria. Em 2006, com 55 anos de idade, fui “contemplado” com um AVC que me deixou entre a vida e morte. Sobrevivi e lutei, incansavelmente, pela minha liberdade. Recuperei o possível.

Limitado a uma cadeira de rodas tracei cenários quiçá inimagináveis. A mente, porém, comandava felizmente o corpo, logo a minha luta titânica passava pelo regresso ao mundo da escrita e ao seio de uma sociedade que me fora sempre cordial. Aliás, a mente, essa fascinante ferramenta de que todos somos possuidores, estava limpa, não obstante a afasia entretanto manifestada. As palavras não saíam com a fluidez que dantes me era comum. Gaguejava e os movimentos físicos estavam ausentes, todavia, esses pequenos/grandes pormenores foram por mim ultrapassado, dado que nunca atirei a toalha ao chão. Segui em frente e de cabeça levantada.

Mas, eis que comecei a vislumbrar a prosperidade do caminho do futuro. Recuperei o que esteve ao meu alcance e regressei ao mundo real e ao computador, principiando-me a elaborar textos para os leitores contemplarem. Em 2008 surgiu o convite do Diário do Alentejo. Aceitei e não mais parei. Paralelamente ressurgiu a veia de escritor e toca a lançar livros, sendo o antepenúltimo, tal como o anterior, com a chancela da Editora Colibri, “Aldeia Nova de São Bento – Memórias, Estórias e Gentes”. Para trás ficaram, para além daquele que atrás citei: Glórias do Passado, volumes I e II; O Trilho; AVC Na Primeira Pessoa; Guiné-Bissau As Minhas Memórias de Gabu; Associação de Futebol de Beja 90 Anos de Memórias e Relatos; AVC O Guerreiro da Liberdade; Aldenovense Foot-Ball Club ao Clube Atlético Aldenovense; Um Ranger na Guerra Colonial Guiné-Bissau 1973/1974 e Bola de Trapos - Crónicas Desportivas do Baixo Alentejo 1904 a 2022.

Este apurado texto, sendo na minha opinião bastante exígua, reconheço, no entanto, que reproduz retalhos de uma vida de um ser humano nascido numa aldeia que vive de paredes-meias com a vizinha Espanha, província de Andaluzia, que leva 72 anos contabilizados e que assumindo um raciocínio lógico me leva a concluir: Estou velho! Sim, estou velho, mas ainda pronto para continuar hirto ao cimo deste globo terrestre, embora reconheça que as minhas limitações físicas já pesam no meu corpo, hospedando a certeza que as curtas viagens aventureiras se vão diluindo com o evoluir dos tempos. Presentemente o meu carro são as minhas pernas e é com ele, o carro, que me desloco para qualquer ponto deste solo lusitano. Mas, estando velho, e residente neste pequeno “invólucro” terreno, sinto-me ainda capaz em continuar a senda da escrita.

Para trás ficam imagens de anteontem, de ontem e de hoje. Somos, afinal, pequenas gotas de orvalho que se diluem em pequeníssimos ciclos de vida. Aqui ficam imagens dos livros por mim já publicados.

Abraços e beijos
Zé Saúde (Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BART 6523)
Jornalista/escritor

Observação: Os três últimos livros publicados, Um Ranger na Guerra Colonial – Guiné-Bissau 1973/1974, Aldeia Nova de São Bento – Memórias, Estórias e Gentes e Bola de Trapos Crónicas Desportivas do Baixo Alentejo 1904 a 2022, foram editados pela Editora Colibri, Lisboa. Deixo, para já a minha obra feita como escritor, onde enalteço o meu ilustre "torrão sagrado".













___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

6 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24042: (Ex)citações (420): As caçadas por meios aéreos só ao alcance de alguns (Gil Moutinho, ex-Fur Mil Pil)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 – P24070: Agenda cultural (830): Guiné e os seus sofridos segredos explanados em livro: J. Casimiro Carvalho, um camarada ranger que coabitou com a dor de perdas humanas (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.


Guiné e os seus sofridos segredos
explanados em livro: J. Casimiro Carvalho, um camarada ranger que coabitou com a dor de perdas humanas


Camaradas,

Viajo pelas melancólicas alas do tempo, transito agora pelo princípio da liberdade de expressão, recuo à nossa juventude, revejo-me, tal como todos vós, como um jovem com 21 risonhas Primaveras, reencontro-me com o serviço militar obrigatório, recordo a passagem pelo CISMI, em Tavira, e o quão difícil se tornou a vida militar pelas suas quiméricas consequências futuras, mas, num momento único dos deveres militares eis-me a enfrentar o frio de Penude, Lamego, ao largo dos primeiros meses do ano de 1973, onde o cair da neve por terras durienses formava um manto branco que ilustrava arrojados quadros de inigualáveis pintores de renome mundial.

Sei que a sagacidade da especialidade de Operações Especiais/Ranger não era matéria que se cheirasse. Porém, esse privilégio assumia-se como um repto para todos aqueles que ousassem desafiar os receios dos então eleitos em beber naquela fonte exímios conhecimentos militares. Conhecimentos que se tornariam importantes para os tempos vindouros. Aliás, a tropa, na sua generalidade, fora para todos nós militares um “colégio” de aprendizagem, por isso, não discuto opções individuais e nem tão-pouco o conteúdo da inegável utilidade de cada uma das especialidades, mas respeito uma ou outra opinião porventura discordante, porque no contexto de guerra todas elas (especialidades) formaram um cordão umbilical humano no conflito armado. Todos, sim literalmente todos, fomos pedras basilares nessa guerra, onde cada um de nós ostenta, merecidamente, o desígnio de antigo combatente. Formámos todos, sem exceção, um “esquadrão” de uníssonos militares que pisámos o palco da escaramuça, onde o cenário da morte se apresentava sempre como um mistério.

Nesta conjuntura, Penude, no meu caso particular, apresentou-se para mim, puto de tenra idade, como uma verdadeira cronologia de vida. Por lá passaram, e passam, milhares de camaradas que ainda recordam esses inflexíveis tempos. Tempos em que a imprevisibilidade do momento seguinte ditava intensas e acrescidas inquietações, enquanto as operações planeadas no terreno caíam em catadupa. Mas, numa conjuração aos “deuses maiores” ficou escrita na pétala de um cravo que tudo terá valido a pena porque contextualizando todo o desenvolvimento da árdua especialidade, conclui-se: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”; argumentava, noutros tempos, o pensador Fernando Pessoa.

De Penude saíram camaradas que pisaram os três palcos de guerra: Angola, Moçambique e Guiné. A Guiné foi, em concreto, o meu hediondo destino e de muitos outros companheiros, mas presentemente, e por razões óbvias, falar-vos-ei do camarada ranger José Casimiro Carvalho que pisou o agreste solo guineense.




O Zé Carvalho tem uma história de vida, e sobretudo militar, deveras encantadora. A sua já longa vida, colocada agora em livro, reflete a existência de um puto reguila, com capacidades excecionais para defender o seu “condado”, grau este constituído na base de rapazinhos onde as traquinices proliferavam e as ideias infantis se multiplicavam, que cresceu ao longo da sua existência subindo a corda da vida a pulso, o pai, patriarca do clã Carvalho, ralhava-lhe e por vezes repreendia-o com alguma ferocidade, o mundo dos empregos onde a prioridade passava para amealhar mais uns escudos, uma benfeitoria que acrescentava mais valias mensais para uma tribo familiar que muito agradecia a audácia operante do seu filhote, e que, tal como a generalidade dos moços do seu tempo, lá foi encaminhado para o serviço militar obrigatório.

Como tinha sido aluno do ensino secundário foi enviado para Leiria, RI 7, sendo que aí usufruiu, com a devida vénia, passar para o Curso de Sargentos Milicianos, sendo o seu encaminhamento para Penude, Lamego, cuja prioridade passou por tirar o curso de Operações Especiais/Ranger.

Como militar ranger, o Zé Carvalho, fez a sua dura comissão em Guileje e Gadamael, em particular. Nestes palcos de guerra conheceu as maiores barbaridades de um conflito armado que não dava tréguas. Viu morrer ao seu lado camaradas, andou com um morto às costas e observou ao vivo atrocidades horríveis que ainda não lhe saem da memória. Mortos e estropiados foi uma imagem impiedosa com a qual o nosso companheiro se confrontava amiúde.

Este livro – “De Puto Irrequieto à Guerra na Guiné, como Ranger - Na Primeira Pessoa” – é, tão-só, um marco de incandescentes memórias que retratam, e bem, o que fora a realidade de um atroz conflito de luta armada, onde todos nós, antigos combatentes, soubemos o que fora a crueldade de uma guerra que, sendo recente, tende cair no limbo do esquecimento das novas gerações.

Após a passagem à disponibilidade foi agente da BT-GNR, instituição pela qual se encontra aposentado.

Camaradas, somos cada vez menos pois a inevitável veracidade da morte já “carregou” com muitos dos nossos condiscípulos, porém, enquanto existir um antigo combatente da guerra colonial, ou ultramarina se assim o entenderem em pé, ele será a julgadora sentinela que dará o alerta para a hodiernidade dos nossos concidadãos que parecem esquecer que houve uma guerra recente, onde os seus avós, ou pais, ou outros familiares próximos, por lá passaram e por lá também deixaram pedaços da sua juventude.

Fomos, afinal, “os filhos da madrugada” que combatemos em campos hostis e que fizemos circunscritas “estórias” nos campos de batalha, onde o uivar dos “lobos”, mas noutras circunstâncias assim como noutros palcos de mordomias se deixavam levar pelo poder de uma corte que presunçosamente gritava, no início da guerra, que “Angola é nossa”. Uma afirmação que viria futuramente tornar-se abrangente e alastrar-se por outros palanques da peleja. Enfim, cronologias de vida, as nossas, que parecem cair no descrente “vale dos leprosos”, onde a realidade copiosamente se separa de idealismos vãos que desvirtuam por completo a história de um País chamado Portugal.

Tínhamos, e sempre, em consideração que por a guerra colonial passaram perto de um milhão de jovens, que houve cerca de 100 mil feridos, 30 mil evacuações e 10 mil mortos. Pensemos, sem mácula, que esta foi a realidade de gerações que se confrontaram com tal barbaridade e que agora, os que restam, lá vão deixando memórias, ficando algumas delas escritas em obras sobre a temática de uma guerra na qual fomos inteligíveis protagonistas forçados.

Concluindo: fica o meu conselho para que compremos um exemplar do livro do Zé Carvalho, uma vez que vale apena ler a sua evolução de vida e os tempos de uma Guiné a ferro o fogo.

Um abraço, camaradas

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

____________

Nota de M.R.:

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23951: Agenda cultural (823): Convite para o lançamento do livro "ANTIGOS COMBATENTES, Humilhados e Abandonados", por José Maria Monteiro, dia 14 de Janeiro de 2023, pelas 12,00 horas, no Restaurante Manuela Borges, Santo António da Charneca - Barreiro

C O N V I T E

Clicar na imagem para ampliar

1. Mensagem do nosso camarada José Maria Monteiro, com data de 4 de Janeiro de 2023:

Meu ilustre camarada Luís Graça:
Terei muito gosto e muita honra fazer parte da TABANCA GRANDE.
Já pedi ao Carlos e ao Mário Beja Santos, para publicar alguns temas, nomeadamente o meu penúltimo trabalho que foi "OS MAIS JOVENS COMBATENTES", e ultimamente o CONGRESSO NACIONAL DE ANTIGOS COMBATENTES, a que presidi.

Aproveito para informar que no dia 14/01/2023, pelas 12h00 no MANUELA BORGES EVENTOS, irei fazer o lançamento do meu último trabalho que é "ANTIGOS COMBATENTES, Humilhados e Abandonados," onde se demonstra o descontentamento pela Pátria ter demorado 46 anos a reconhecer a dignidade de combatente aos seus Antigos Combatentes.

Aproveito para enviar um CONVITE e gostaria que estivesses presente no evento cultural, ou não podendo, por motivos de agenda, alguém em representação da TABANCA GRANDE.

Bom ano 2023

JOSE MARIA MONTEIRO - um dos mais jovens combatentes do Mundo. (c/16 anos).
Cascais 04/01/2023

____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23873: Agenda cultural (822): A entrevista do nosso camarada Paulo Cordeiro Salgado dada ao programa Mar de Letras, da RTP/África, vai para o ar amanhã, dia 14 de Dezembro, às 21,30 horas

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23788: Agenda cultural (820): Livro: “Do Inverno à Primavera”, obra do camarada José Alberto Neves, Nova Lamego (Gabu). (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem: 

Livro: “DO INVERNO À PRIMAVERA”, obra do camarada José Alberto Neves, Nova Lamego (Gabu)

Camaradas,   

   

É muito interessante a obra trazida aos escaparates pelas Edições Colibri, editor Fernando Mão de Ferro, com a capa da  designer Raquel Ferreira, - “DO INVERNO À PRIMAVERA” -, cujo autor é um camarada, alferes miliciano de nome José Alberto Neves, que esteve em Nova Lamego (Gabu) ao mesmo tempo deste simplório escriba, José Saúde, nos anos de 1973/1974, mas, que desde logo, num gesto de amizade e camaradagem, me disponibilizei para que da narrativa fizéssemos um justíssimo eco, tendo em conta que o autor debita, minuciosamente, a sua espinhosa tarefa numa altura em que o conflito da Guiné se agudizava, restando também a merecidíssima certeza que o solo guineense sempre se assumiu como palco de uma guerra que jamais deu tréguas aos distintos e audazes combatentes que foram para ali atirados… “à pressa”. 

O livro, que se espalha pelas suas 496 páginas, relata o tempo em que serviço militar era obrigatório, com uma guerra colonial em plena atividade e que muito nos atormentava, sendo que o autor na capa introduz os seguintes “rótulos”: “ANOS DE 1973 E 1974: das universidades para os QUARTÉIS. As LUTAS agudizam-se e a GUERRA COLONIAL torna-se o DESTINO CERTO para a maioria dos JOVENS QUE POR LÁ PASSARAM”.        


Na verdade, esta brilhante amalgama de dados que o camarada José Alberto Neves puxa para a capa, sintoniza, tão-só, a extensidade de um livro que vale a pena ser lido, e comentado, sendo a narrativa deveras merecedora de uma proficiente leitura.        

A contracapa contém um texto deveras atraente que merece uma profunda reflexão dos antigos combatentes:  

Sobre o autor:  


José Alberto Neves, nasceu em Oliveira do Bairro em novembro de 1951e é licenciado em Auditoria, Pós-Graduado em Relações Internacionais e Mestre em Direito, com Especialização em Ciências Jurídico-políticas, Gestor de Empresas e professor do Ensino Secundário e Superior, foi, ainda, dirigente associativo e piloto de aviões.       

Resta-me dizer-te Zé Alberto Neves, camarada da região de Gabu, em concreto Nova Lamego, onde cruzámos espaços comuns e falamos de temáticas que foram idênticas a todos aqueles que por lá passaram, como é óbvio, sendo, por isso, legítimo enaltecer a obra que trouxeste a público, sobre os tempos da guerrilha na Guiné e toda a sua caminhada rumo a uma guerra que não dava tréguas.  

Abraços, camaradas

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 

10 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23691: Agenda cultural (819): Conferência sobre Bases Aéreas de Portugal - BA 11 - Beja e BA 12 - Bissalanca, Guiné, no dia 20 de Outubro de 2022, às 18h00, Palácio da Independência, Largo de São Domingos (ao Rossio)

domingo, 22 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23283: Ser solidário (246): O Núcleo de Ponte de Lima, da Liga dos Combatentes, associou-se à Campanha do Estado-Maior-General das Forças Armadas de doação de Manuais Escolares (1.º ao 6.º ano) para a Guiné-Bissau (Manuel Oliveira Pereira, ex-Fur Mil)


1. Mensagem do nosso camarada Manuel Oliveira Pereira (ex-Fur Mil da CCAÇ 3547/BCAÇ 3884 (Contuboel, 1972//74):

O NÚCLEO disse SIM à chamada... Mais uma vez a solidariedade dos "Antigos Combatentes Limianos" se faz sentir... As imagens que se seguem são disso testemunho.
Eis o pedido que nos foi feito:

APELO À FAMÍLIA MILITAR
Iniciativa Ajuda Militar Solidária à Guiné-Bissau

O Estado-Maior-General das Forças Armadas está a promover uma campanha de ajuda à Guiné-Bissau, que consiste na angariação de manuais escolares (1.º ao 6.º ano), de livros do plano nacional de leitura e de material escolar, que serão, posteriormente, enviados para aquele país ...

Recolhidos os livros e material escolar, num total de quase 500 exemplares, havia que fazer a entrega. Para o efeito, uma "Delegação do Núcleo" constituída pelos associados Manuel Oliveira Pereira (Presidente) e Hermínio Magalhães, deslocou-se à unidade militar "Regimento de Cavalaria n.° 6, em Braga, sendo recebida pelo responsável de Logística, Sr. Sargento-Mor Luís Pinto.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 11 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23256: Ser solidário (245): Convite para a apresentação do livro "Terra de Afetos - Um Tributo à Guiné-Bissau", por Joana Benzinho, dia 21 de Maio de 2022, pelas 15h45, no Mosteiro de Odivelas. A receita da venda deste livro reverte para a ONGD Afectos com Letras

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21398: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (8): os meus livros de bolso, da RTP, oferecidos pelo MNF, em 25/1/1973, deixei-os a alguns guerrilheiros do PAIGC, em 17/7/1974... E comigo trouxe "farrapos" da nossa bandeira, e ainda os guardo, como símbolo do nosso sofrimento e coragem



Uma amostra da Biblioteca Básica Verbo - Livros RTP, uma coleção de livros de bolso, num total de 100 títulos, de autores portugueses e estrangeiros, traduzidos, lançada em 1970, pela Editorial Verbo, em colaboração com a RTP... Foi um tremendo sucesso editorial, com 15 milhões de cópias vendidas ou oferecidas... Uma boa parte foi oferecida, por intermédio do Movimento Nacional Feminino, aos militares destacados nos TO de Angola, Guiné e Moçambique. O último título publicado, o nº 100, em outubro de 1972, foi "Os Lusíadas". O primeiro tinha sido  a novela "Maria Moisés", de Camilo Castelo Branco (230 mil exemplares), O preço de capa de cada livro era de 15 escudos (, equivalente hoje a menos de 4 euros).

Fonte: Imagem adaptada, com a devida vénia do sítio joaocouto-espinho.com

 


Carlos Barros, Esposende

1. Mais uma pequena história do Carlos Barros, enviada por mensagem de 19 do corrente, às 17h49, ainda a propósito da visita da presidente do Movimento Nacional Feminino  a Nova Sintra,  em 1973:

Estimado amigo.
 
A memória está ainda um pouco fresca, embora desgastada pelo tempo. É importante documentar, com testemunhos, fotografias, registos escritos e outras fontes que serão importantes para construir um pouco da história da Guerra Colonial, concretamente, no nosso caso, da Guiné.

No dia 25 de janeiro de 1973, Nova Sintra recebeu caixotes de livros, da RTP,  oferecidos pelo MNF [, Movimento Nacional Feminino] e no fim da comissão, na entrega do destacamento [, em 17 de julho de 1974,]  ofereci os meus a alguns guerrilheiros do PAIGC. 

Não sabia  se seriam lidos ou poderiam ir  parar à "fogueira"... Uma coisa é certa, eles receberam essas "obras literárias" e eu, pessoalmente, não tencionava trazê-las para a então Metrópole.

Jantamos e jogamos às cartas com o "Inimigo" e notei entre os guerrilheiros que não existia ódio nem rancor e foi uma convivência pacífica.. 

No dia seguinte, numa sessão solene do arrear da bandeira, com a 2ª Cart presente, meus companheiros,  mais os  guerrilheiros do PAIGC,  abandonamos Nova Sintra, a caminho de Tite. E, mais tarde, para o cais do Enxudé a caminho de Bissau, com as LDG  a transportar, via  rio Geba, o imenso material e os militares,  rumo  a Bissalanca. para, finalmente, nos libertarmos de uma Guerra que nunca desejámos.

Um pormenor: fui receber a bandeira de Portugal, já em mau estado,  embrulhei-a e rasguei subrepticiamente, umas pontas e ainda possuo esses"farrapos" como recordação. Uns "farrapos" que são bocados do nosso sofrimento e coragem nessas terras guineenses

No dia 23 de janeiro de 1963 o PAIGC fizera uma ataque ao Quartel de Tite, dando-se o início  da guerra na Guiné e as NT sofreram um morto e um ferido e o PAIGC 8 mortos confirmados e outros feridos graves. 

Penso que era objetivo do PAIGC atacar a prisão de Tite para libertar guerrilheiros presos. Estive em Tite uns meses e depois o meu pelotão foi destacado para Gampará, outro inferno da Guerra....

Fico-me por aqui, neste dia chuvoso que me inspirou para a escrita.

Bom fim de semana
Carlos Barros

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 19 de setembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21371: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (7): os craques da bola...

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20924: 16 anos a blogar (8): Outro combate (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)

Porto - Parque da Cidade
Foto: Com a devida vénia ao autor


1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), autor do livro "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia", com data de 29 de Abril de 2020:


OUTRO COMBATE

Francisco Baptista

Os dias de confinamento vão passando devagar, com algumas leituras agradáveis, algumas passagens breves pela televisão e pela internete e com algumas saídas ao Parque da Cidade ou às ruas próximas de casa, para desentorpecer as pernas, renovar o ar dos pulmões e viver a ilusão de caminhar só pela Terra a sentir, a liberdade, a paz e o silêncio, que esses momentos de solidão proporcionam. Anteontem foi o dia da Terra, essa entidade suprema, que criou todas as formas de vida e nos criou, que aprendi a amar por viver tantos anos em contacto próximo com ela, que na minha filosofia de vida, depois de muitos anos elegi como a justificação plausível e satisfatória para compreender os princípios e os fins, o nascimento e a morte.

Interrompo a escrita porque me telefona um camarada da Guiné, que vive em Santarém com a Boneca, uma cadela mais velha do que ele pois já tem 16 anos. Foi sempre um aventureiro, foi corredor de automóveis, teve um bom hotel numa pequena cidade do litoral, em Buba foi um organizador de paródias, criou no quartel uma emissora de rádio, com microfone e colunas potentes com discos pedidos e bailes fandangos e carnavalescos de militares na messe de sargentos. Continua a ser um bom amigo

Volto ao computador, e eu, que gosto de música, para preencher os espaços vazios que o meu pensamento um pouco letárgico cria, escolho no Youtube "Hasta Siempre Camarada" uma canção melódica e nostálgica sobre um guerrilheiro que sonhou e morreu a lutar por um ideal. Nathalie Cardone, com os requebros melódicos da sua voz jovem e com o bambolear ritmado do seu corpo esbelto, transmite prazer e emoção estética. a quem a ouve e a quem a vê.

A Terra, como uma Deusa indiferente à vontade dos humanos, continua a girar em torno do sol e em torno do seu eixo há milhões de anos, já teve somente um grande continente que por fenómenos geológicos vários ao longo de milhões de anos se foi fraccionando até tomar a forma actual com cinco continentes e cinco mares, até um dia muito distante. Na sua transformação foi criando as vidas mais simples e as mais complexas, até criar o homem que inventou a escrita, o amor, a informática, a arte e a bomba de hidrogénio.

Na Terra, o nosso adorável planeta azul e verde já houve cataclismos terríveis, grandes vulcões em erupção, terramotos, maremotos, idades de gelo implacáveis, epidemias, pandemias, pestes e outras grandes calamidades em que morreram milhões de seres vivos, de muitas espécie e muitos humanos também. A peste negra que veio também da China, nos meados do século XIV, terá matado 30 a 60% dos habitantes da Europa, a gripe espanhola que surgiu em 1918, terá matado entre 20 a 100 milhões de pessoas em todo o mundo, em quase todos os séculos houve grandes gripes e pandemias. Houve guerras terríveis entre os homens os filhos mais inteligentes da Terra. Bem perto de nós, no século vinte, na 1.ª Guerra Mundial morreram cerca de 40 milhões de pessoas: na 2.ª Guerra Mundial terão morrido 80 milhões de pessoas. Na Europa houve também a guerra civil espanhola, a guerra dos balcãs com muitos milhares de mortos e em Portugal, país de brandos costumes, houve a guerra do Ultramar com mais de 8 mil mortos.

Esta pandemia do covid-19 que nos altera as rotinas e obriga ao recolhimento , terá em comum com as outras que se têm sucedido talvez a omnisciência da Terra em procurar equilibrar os seus recursos de acordo com os seus habitantes.

Os homens por pensarem ser entidades superiores sonham com a vida eterna por não quererem aceitar o destino dos restantes habitantes da Terra. Dizem-nos que temos espírito, dizem-nos que temos alma, mas a nossa alma ou espírito volatiza-se quando o corpo, que é feito de água, de carbono, de ferro, de enxofre e doutras matérias-primas que a terra nos deu, morre e regressa às origens. Depois do dia da Terra tivemos o dia do livro, livros que vieram acrescentar a minha curiosidade em me compreender e conhecer a Terra que no sítio onde me criei se alongava por horizontes a perder de vista, que ainda me enchem a memória de sonhos. Os livros têm-me dado muito prazer muitos conhecimentos e têm também sido fontes de muitas dúvidas e interrogações de que nem sempre encontrei respostas. Penso muitas vezes se não teria sido mais feliz se fosse como os rapazes da minha aldeia e da minha idade, todos trabalhadores valentes e musculados que somente leram os livros da escola primária porque a isso foram obrigados. A esses que nunca foram curiosos e aceitaram o destino procurando melhorá-lo embora, aceitando os poderes e os deuses dos pais sem discussão, desejo longa vida ou mais breve se já vos pesarem os anos.

Os velhos portugueses do meu tempo, os da minha aldeia e doutras aldeias e cidades de Portugal, que regressaram e ainda se conservam vivos, agora vêem-se ameaçados pela clausura e pela segregação para sobreviverem, sem armas de defesa eficazes contra um inimigo que não dá a cara. Fragilizados pelas doenças das guerras africanas e pelas outras que vão surgindo com a idade, não quererem esconder-se por muito tempo debaixo das saias das mulheres, longe dos filhos, dos netos e dos amigos. Quando a vida lhes prometia realizações e aventuras, foram mandados para longe ouvir o troar assustador dos canhões e dar o corpo às balas com coragem, por uma Pátria que nunca lhes agradeceu. Que ninguém queira agora quando os seus filhos já estão criados e os seus netos são promessas de futuro, arrumá-los em casa como se fossem trastes velhos, fora de prazo. Há rumores, temos que estar atentos.

Para quem gostar de ler recomendo dois livros que estou a ler e outros dois que já li:
"Origens - Como a Terra Nos Criou" autor Lewis Dartnell;
"O Naufrágio das Civilizações" de Amin Maalouf

Acabei de ler já em Abril o romance "Um Milionário em Lisboa", de José Rodrigues dos Santos, que continua a história do "Homem de Constantinopla" sobre a vida de Calouste Gulbenkian.

Interessantes.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 29 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20921: 16 anos a blogar (7): Os camiões Volvo... e outras peripécias da cooperação com Bissau (António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

sábado, 14 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 – P20451: Agenda cultural (718): “Um Ranger na Guerra Colonial Guiné-Bissau 1973/74 Memórias de Gabu” (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

Camaradas, 
Para vosso conhecimento envio o seguinte texto e uma foto da capa do meu próximo livro, o nono. 


Foi apresentada a obra em Beja a 10 de Dezembro e seguir-se-á Lisboa, Casa do Alentejo, de entre outras iniciativas que já tenho programadas.

Uma ida ao Porto não está fora dos meus planos, estando a programar-se esta eventual possibilidade.


“UM RANGER NA GUERRA COLONIAL GUINÉ-BISSAU 1973/74
MEMÓRIAS DE GABU”

“UM RANGER NA GUERRA COLONIAL GUINÉ-BISSAU 1973/74 – MEMÓRIAS DE GABU” é o nono livro do meu pecúlio como jornalista/escritor e o segundo como ex-combatente em solo guineense.

A temática, agora sustentada com novos textos, sendo certo que alguns deles foram recuperados e trabalhados face ao tema tratado da  primeira edição – “GUINÉ-BISSAU AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU” -, é mais um desafio à nossa existência como antigos militares lançados à força para as frentes de combate.

Procurei, embora sinteticamente, ser o mais abrangente possível, diligenciando trazer à estampa temáticas que mexem irreversivelmente com a nossa comum presença num espaço que nos fora substancialmente cruel.

As memórias da guerra não se apagam e cada um de nós ainda hoje revive situações horripilantes pelas quais passou. Reconheço que existem camaradas que recusam abordar vivências passadas que lhe vão na alma. Respeito escrupulosamente essa forma de sentir.  

Há camaradas que procuram olvidar realidades que na generalidade todos ou quase todos conhecemos. Recusam o confronto com cenas atrozes onde foram incontestáveis guerrilheiros numa luta por vezes desigual. Fica, pois, a nossa plena aceitação.

Mas esta obra contempla, também, a presunção deste vosso velho camarada que não se esconde num templo onde as lamentações jamais deverão esbarrar num muro em que as lamúrias tendem em cair no esquecimento.

A guerra Colonial não está assim tão distante no tempo. É recente. Porém, raros têm sido os órgãos de decisão governamental, e não só, a abordar o tema que mexeu com gerações e abalou futuros que se perspetivavam risonhos.

Neste contexto, o livro aborda temáticas exuberantes no que concerne a vicissitudes de que fomos alvos por terras da Guiné e simultaneamente ao agitar gritos de revolta quando em causa se coloca o nosso próprio estatuto como antigos combatentes.

Hoje, a guerra Colonial perdeu visibilidade. Poucos são aqueles que dela falam em público, sobretudo em meios de comunicação social nacional e que por ordem analógica das coisas se deixam levar por tédios e brandos costumes. Poucos são, também, aqueles que se debruçam sobre a inequívoca veracidade onde a morte, estropiados, ou os stressados de guerra, de entre outras doutrinas que recaem sobre os climas dos pós traumáticos, designadamente, são meras personagens de um país que simplesmente os esqueceu.

O livro aborda também o tema dos abandonados. Sim, os abandonados, aqueles que ingloriamente lutaram pela Pátria, uma Pátria que não sendo aquele sumptuoso manto doutrinal que nos fora “vendido” nos bancos da escola, foi também aquela na qual todos nós nos envolvemos.

A guerra, essa desumana realidade, foi propícia a inegáveis circunstâncias que desabaram para incertezas futuras. Da guerra colonial sobram infalibilidades que há restos mortais de camaradas que por lá ficaram literalmente abandonados.

Camaradas, vale a pena através da leitura deste livro revermo-nos no tempo em que nós jovens fomos atiradas para as frentes de combate como uma mera mercadoria chamada “carne para canhão”.

O livro tem o preço de capa 16 euros, sendo o primeiro lançamento no dia 10 de dezembro de 2019, 21h30, na Biblioteca José Saramago, em Beja.

Depois seguir-se-ão outros lançamentos. Lisboa será, em princípio, o destino seguinte. Por mim estarei disponível em deslocar-me por o País fora, levando na minha “mala de cartão” um rol de experiências que são tão-só as tuas próprias experiências.

Camaradas, bebemos água da mesma fonte e comemos do pão que o diabo amassou. Digamos, em uníssono, que somos gentes e proclamamos simplesmente justiça, não obstante o universo de dificuldades até agora deparadas.   

Deixo aqui expresso que a obra “UM RANGER NA GUERRA COLONIAL GUINÉ-BISSAU 1973/74 - MEMÓRIAS DE GABU” só foi possível vir a público graças aos textos que amiudadamente transcrevo no nosso blogue – Luís Graça & Camaradas da Guiné -. Este foi, para mim, uma rampa de lançamento para investir no cosmos da escrita sobre outras temáticas entretanto não abordadas, neste caso o da guerra.

Por fim, fica o meu profundo agradecimento ao Luís Graça, o fazedor do prefácio, ao meu camarada ranger Magalhães Ribeiro pela sua amável disponibilidade em me colocar os textos no blogue e a todos vocês camaradas que fazem o favor em me aturarem nas minhas eloquentes dissertações guerrilheiras, que também são as vossas, neste terreno de jogo onde fomos meros figurantes no conflito na Guiné. 

Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________

Nota de M.R.:

Vd. também os postes: 


 

14 DE NOVEMBRO DE 2019 > Guiné 61/74 – P20345: Agenda cultural (712): “Um Ranger na Guerra Colonial Guiné-Bissau 1973/74 Memórias de Gabu” (José Saúde)