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segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19424: Guerra colonial - cronologia(s) - Parte III: Angola, 1962: o ano em que o Exército tem mais baixas mortais em combate (121) depois do ano de 1961 (126), naquele teatro de operações. Utilização das primeiras minas A/P e A/C.


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca)  > Estrada Finete-Missirá > 1969 > O Fur Mil Reis (à esquerda) e o Alf Mil Carlão (à direita), do 2º Gr Comb da CCAÇ 12 vistoriando os restos da viatura (Unimog 404) em que seguia o Alf Mil Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52, quando accionou uma mina anticarro, no dia 16 de Outubro de 1969, por volta das 18h00, na zona de Canturé (entre Finete e Missirá: vd. carta de Bambadinca, de 1/50.000).

A primeira mina A/C, na guerra colonial, foi utilizada em Angola, em 12 de junho de 1962.

Foto do arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guerra Colonial > Cronologia > Angola > 1962

1962-01-15

Portugal abandona a Assembleia-Geral da ONU, em virtude do debate sobre Angola.

1962 -01 -30


Assembleia Geral da ONU: resolução reprovando a repressão e a ação armada de Portugal contra  povo angolano; reafirmação do direito à autodeterminação e independência dos angolanos.

1962-03-03

A UPA reivindica, em Leopoldville, a prisão e a execução de um destacamento do MPLA, comandado por Ferreira (cerca de 20 hiomens), que se infiltrara em dezembro de 1962 na região de Nambuangongo. Presidente: Holden Roberto.

1962-03-23

O Governo Português recusa a visita do Comité dos Sete da ONU aos territórios sob administração portuguesa.

1962-03-27

Formação da FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola, a partir da UPA e do PDA - Partido Democrático de Angola.

1962-04-05

Formação do GRAE - Governo Revolucionário de Angola no Exílio, por iniciativa da FNLA.

1962-04-07
Criação da 1ª Companhia de Fuzileiros.

1962-04-27

Aprovação do Código do Trabalho Rural para o Ultramar, ou seja, a primeira lei de trabalho livre. Tentativa de resposta às acusões de colonialismo por parte da ONU. Criados também os primeiros tribunais do trabalho no Ultramar.

1962-06-01

Inauguração oficial da Base Aérea 9, em Luanda. 

1962-06-06

Primeira mina A/P [antipessoal], utilizada na guerra colonial, na estrada Zala-Vila Pimpa, norte de Angola.

1962-06-12

Primeira mina A/C[anticarro], utilizada na guerra colonial, na pista da povoação do Bembe, em Angola.


1962-06-23

Despenha-se , no Vale do Loge, Angola, um caça bombardeiro F-84, Thunderjet, da FAP.

1962-06-25

Criação do Centro de Instrução 21 (CI 21), em Zemba,  para formar as primeiras unidades de comandos.

1962-06-30

Agostinho Neto foge de Portugal, juntamente com a mulher e dois filhos, e ainda com Vasco Cabral, dirigente do PAIGC, com a ajuda do PCP - Partido Comunista Português. No final do ano, em Leopoldville, será eleito presidente do MPLA.

1962-07-01

Condenação, em Luanda, dos escritores António Jacinto, António Cardoso e José Graça (Luandino Vieira) a 14 anos de prisão por 'actividades contra a segurança exterior do Estado'.

1962-08-10

Fuga para Paris dos dirigentes da FUA - Frente de Unidade Angola, que estavam com residência fixa em Lisboa.

1962-08-13

Início da construção do mito de Spínola, com o sucesso da Op Nun'Alvares, realizada pelo BCAV 345, de que ele era o comandante.

1962-08-15

Criação dos Estudos Gerais [Universidade] de Angola e Moçambique, levando a um conflito de competências do Ministro do Ultramar, Adriano Moreira, e o general Venâncio Deslandes, governador e comandante-chefe de Angola. Em choque, duas conceções diferentes sobre o futuro do território.

1962-09-24

Demissão de Venâncio Deslandes, substituído por Silvino Silvério Marques (como governador-geral) e Holbeche Fio (como comandante-chefe).

1962-10.18

Primeiro heliassalto na guerra colonial (16 paraquedistas em 4 helis Alouette II): Op  Três Mosqueteiros, na região de Caluca, a sul de São Salvador do Congo.

1962-10-23

Primeiras notícias, não confirmadas,  sobre a possível abertura da Frente Leste, por parte da UPA, podendo afetar a atividade da Diamang e o caminho de ferro de Benguela.

1962-1-15

Carta de Viriato Cruz aos militantes do MPLA, manifestando-se contra Agostinho Neto.

1962-12-01

Início do I Congresso do MPLA em Leopoldville. Neto substitui Viriato. Mário de Andrade na vice-presidência.

1962-12-04

Adriano Moreira perde a confiança pessoal e política de Salazar, que o substitui na pasta do Ultramar. Remodelação do Governo.

1962-12-17

Início da Op Roda Viva a região de Quicabo. Morre o furriel Szabo, filho de uma antiga glória do futebol húngaro e português. A notícia teve grande impacto emcoional em Angola e na Metrópole.

1962-12-31

Total dos efetivos do Exército nos 3 teatros de operações: 61 847, sendo 44 925 em Angola (dos quais 33 760, de origem metropolitana. 

No ano de 1962, morreram em combate, em Angola, 121 militares, o segundo ano com mais baixas em Angola durante toda a guerra (depois de 1961). 

Fonte: Adapt de  Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso - Os Anos da Guerra Colonial, vol. 3 - 1962:  optar pela guerra. Lisboa: Quidnovi, 2009.


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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19402: Guerra colonial - cronologia(s) - Parte II: A nova "união sagrada": "A Pátria deve estar, em todas as circunstâncias, acima do regime"... mas "o regime [também] deve estar, em todas as circunstâncias, à altura da Pátria" (Diário de Lisboa, 18 de março de 1961)



[Fundação Mário Soares > Portal Casa Comum > Pasta: 06541.079.17211 > Título: Diário de Lisboa > Número: 13743 > Ano: 40 > Data: Sábado, 18 de Março de 1961 > Directores: Director: Norberto Lopes; Director Adjunto: Mário Neves > Edição: 2ª edição > Observações: Inclui supl. "Diário de Lisboa Magazine", "Diário de Lisboa Juvenil" > .Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos. (Com a devida vénia...)


Citação:
(1961), "Diário de Lisboa", nº 13743, Ano 40, Sábado, 18 de Março de 1961, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_16336 (2019-1-9)



1. Uma espécie de  "união sagrada", 45 anos depois do 13º governo da I Primeira República, liderado por António José de Almeida para fazer face à declaração de guerra da Alemanha em 1916 contra Portugal...

"A Pátria deve estar, em todas as circunstâncias, acima do regime"... mas "o regime [também] deve estar, em todas as circunstâncias, à altura da Pátria" (Diário de Lisboa, 18 de março de 1961). A nota do dia ("O mal e a caramunha"), do "Diário de Lisboa", de 19 de março de 1961, deve ser entendida como "uma no cravo e outra na... censura". O jornalista Norberto Lopes, desassombrado, transmontano, conhecedor de África (, contrariamente ao Salazar...), não pode deixar de ser o autor desta espécie de "editorial", disfarçada de "nota do dia"...

Jornal independente, conotado com as correntes ditas moderadas da chamada oposição democrática ao Regime do Estado Novo, o "Diário de Lisboa" era um dos jornais mais vigiados pelos coronéis da censura... Daí não surpreender este apelo, subliminar, não já a uma "nova união sagrada", impensável com Salazar, mas a um pacto (provisório) de regime para o país, em uníssono, dar uma resposta firme e imediata à insurreição desencadeada pela UPA  - União dos Povos de Angola (mais tarde, FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola] no norte de Angola...

Salazar teve de resolver alguns "problemas domésticos" (e nomeadamente a tentativa de golpe de Estado palaciano do seu ministro da defesa, o gen Botelho Moniz, que ingenuamente esperava o apoio dos americanos...),  antes de tentar galvanizar e mobilizar a Nação para a resposta, já tardia, que as populações angolanas exigiam: a frase histórica, "Para Angola, rapidamente e em força" é  de... 13 de abril de 1961... E o primeiro continente para reforço da guarnição militar de Angola só lá vai chegar em 1 de maio de 1961: "Chegada a Luanda dos primeiros contingentes transportados por via marítima [BCAÇ 88, BCAÇ 92, CART 85, CART 86, CART 87, CART 100]." (1)

O seu primeiro biógrafo, académico,  historiador encartado, mas "estangeirado", diz  seguinte sobre ele, Salazar:

"Sobre o prisma da retórica do regime, o maior fracasso de Salazar ao longo das suas quatro décadas no poder terá sido a sua incapacidade de proteger a população branca e os seus trabalhadores no Norte de Angola em 1961". 

(In; Menezes, Filipe Ribeiro de  -  Salazar : uma biografia política ; trad. do ingl.,  Teresa Casal. Alfragide : Dom Quixote,  D.L. 2014, [Expresso], vol . 6, p. 13.)

De qualquer modo, parece que ninguém estava preparado para a guerra que se seguiu, guerra colonial para uns, guerra do ultramar para outros.. Não apenas o exército português, como os movimentos nacionalistas que reivindicam hoje o protagonismo da história da luta pela independência de Angola: o MPLA em 4 de fevereiro, a UPA em 15 de março de 1961, sem esquecer a Unita (que surgirá mais tarde)...

Por outro lado, em 1961, o regime beneficiou do "efeito de choque" que foram as notícias, trágicas, que chegavam de Angola, com algum atraso, à metrópole, e que alguns tiveram mais "liberdade" do que outros para publicar... (A censura tinha vários pesos e medidos, conforme os jornais diários, a maioria "afeta" ao poder vigente: O Século, o Diário de Notícias, etc. Apesar de 1961 ser o "annus horribilis" de Salazar, terá havido um certo  cerrar de fileiras das elites políticas, incluindo as do "reviralho", à volta do "para Angola, rapidamente e em força"... E o tema tornou-se "tabu"... A malta do "reviralho" bem quis levantar, timidamente, o "problema do ultramar" nas eleições de 1965 para a Assembleia Nacional, mas levou logo nas orelhas, e enfiou a viola no saco, deixando a União Nacional a falar a uma só voz... Até outubro de 1969...

Nessa época, em março de 1961,  muitos de nós, ainda usavam o bibe da escola e jogavam ao pião... Acabou também para sobrar, "aquela guerra",  para nós que nem sequer sabíamos onde ficava o "ultramar", Nambuangongo ou Guileje, Pedra Verde ou Fiofioli ... LG
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Nota do editor:

Último poste da série > 9  de janeiro de  2019 > Guiné 61/74 - P19385: Guerra colonial - cronologia(s) - Parte I: 1961, Angola

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19385: Guerra colonial - cronologia(s) - Parte I: 1961, Angola







Diário de Lisboa, 18 de março de 1961

[Fundação Mário Soares > Portal Casa Comum > Pasta: 06541.079.17211 > Título: Diário de Lisboa > Número: 13743 > Ano: 40 > Data: Sábado, 18 de Março de 1961 >  Directores: Director: Norberto Lopes; Director Adjunto: Mário Neves > Edição: 2ª edição > Observações: Inclui supl. "Diário de Lisboa Magazine", "Diário de Lisboa Juvenil" > .Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos. (Com a devida vénia...)

Citação:
(1961), "Diário de Lisboa", nº 13743, Ano 40, Sábado, 18 de Março de 1961, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_16336 (2019-1-9)


Guerra Colonial > Cronologia > Angola > 1961

Camaradas: muitos de nós éramos adolescentes quando começou a guerra colonial.  Eu tinha 14 anos, e os terríveis acontecimentos do Norte de Angola, meio percebidos nos títulos e entrelinhas dos jornais, e nas lacónicas notícias da Rádio e da Televisão,  perturbaram-me profundamente. Senti que "aquela guerra" ia sobrar para mim e para toda a minha geração... (Outros eram ainda muito mais novos: 13, 12, 11, 10, 9 anos..., não tinham consciência da gravidade do momento, até à altura dos seus irmãos mais velhos serem mobilizados para Angola, respondendo à célebre ordem, tardia, de Salazar, de 14 de abril de 1961: "Para Angola, rapidamente e em força"...; na véspera, tinha havido a tentativa de golpe de Estado palaciano do gen Botelho Moniz, ministro da defesa... Salazar antecipou-se, remodelou o Governo, autonomeou-se ministro da Defesa e "decapitou" as chefias das forças armadas; estava traçado o destino da "guerra do ultramar", que se iria prolongar por 13  dolorosos e inúteis anos até 25 de Abril de 1974.)

Em 31 de maio de 1969, oito depois, com 22 anos, eu estou a desembarcar em Bissau e vou integrar uma das companhias da "nova força africana" do general Spínola... Muitos de nós  (para não falar dos nossos filhos e entos, e da generalidade dos portugueses) ainda hoje sabemos pouco do que se passou em Angola, em 1961... Daí a a oportunidade desta síntese cronológica. Não será a única, é a que estava mais à mão... Mas temos alguns camaradas, mais velhos, que são contemporâneos dos acontecimentos, e que têm o privilégio de poder falar na primeira pessoa do singular... Eles que nos contem as suas histórias. LG



1961-02-04

Revolta em Luanda, com ataques à Casa de Reclusão, ao quartel da PSP e à Emissora Nacional, acção considerada como o início da luta armada em Angola, de iniciativa de (, ou atribuída a ou, mais tarde, reivindicada por) o MPLA - Movimento Para a Libertação de Angola.

1961-02-07

Primeira aterragem na pistam construção, do Negaje, em Angola. Esta data passou a ser o Dia da Unidade do AB3 - Aeródromo Base 3.

1961-03-15

Partida de Lisboa de quatro companhias de caçadores para reforço da guarnição de Angola: CCAÇ 66 / 5ª CCE, R 10, Aveiro; CCAÇ 67 / 6ª CCE, RI 10, Aveiro; CCAÇ 78 / 7ª CCE, BC 5, Lisboa; CCAÇ 82 / 9ª CCEm RI 14, Faro.

1961-03-15

["O Dia do Terror".] Início de uma rebelião, planeada e/ou coordenada pela UPA - União dos Povos de Angola, de Holden Roberto (1923-2007), no Norte de Angola, na região dos Dembos, que levou ao massacre indiscriminado de colonos portugueses e de populações negras, causando centenas de vítimas (em termos de vítimas mortais desta barbárie, fala-se em 800 europeus e 6000 africanos, mas os números ainda hoje são controversos). Dias antes, a 7 de março, os EUA tinham informado o Ministério da Defesa sobre a decisão da UPA em desencadear o terror na noite de 15 de março, instrumentalizando as populações locais,   informação que o comando militar de Angola terá menosprezado. Holden Roberto (1923-2007), o histórico dirigente da UPA, tinha na altura o apoio público e notório da administração Kennedy.


1961-03-16

Ataques dos elementos sublevados do Norte de Angola a algumas povoações, como Carmona, Aldeia Viçosa e Bessa Monteiro


1961-03-16

Chegada a Luanda da primeira companhia de pára-quedistas

1961-03-17

Primeiro comunicado oficial sobre os acontecimentos do Norte de Angola. Versão "soft"... Em 15 de março Salazar tinha decidido o "blackout" noticioso, mas acabou por ser completamente ultrapassado pelos acontecimentos: os jornais e as rádios de Angola não paravam de dar grande cobertura aos acontecimentos que dilaceravam o território...

1961-03-18

Início da actuação da Força Aérea, que dispunha poucos meios,  no Norte de Angola

1961-03-21

Chegada, a Luanda, do almirante Lopes Alves, ministro do Ultramar

1961-03-21

Evacuação de mais de 3500 portugueses residentes no Norte de Angola para Luanda, através de ponte aérea


1961-03-28

Constituição, em Angola, do primeiro corpo de voluntários civis armados, para actuação no Norte de Angola, dando origem mais tarde à OPVDCA - Organização Provincial de Voluntários de Defesa Civil de Angola.
  

1961-04-02

Emboscada, na sanzala de  Cólua, Aldeia Vicosa,  Uíge, a uma coluna militar portuguesa, sendo mortos nove militares, dos quais dois oficiais, capitão de infantaria Abílio Eurico Castelo da Silva (1925-1961) e tenente de infantaria Jofre Ferreira Prazeres (1932-1961), ambos naturais de Chaves. (*)


1961-04-10

Ataque à povoação de Úcua, na estrada Luanda-Carmona, com o massacre de 13 brancos

1961-04-10

Primeiro ataque a trabalhadores bailundos de uma fazenda na área do Quitexe

1961-04-11

Ataque a uma patrulha portuguesa próximo de Tando Zinge, Cabinda


1961-04-12

Ataque à povoação de Lucunga, com massacre da maior parte dos seus habitantes brancos


1961-04-13

Ataque de guerrilheiros provenientes do Congo-Brazzaville a Bucanzau, em Cabinda


1961-04-15

Reunião do primeiro Conselho Superior Militar, presidido por Salazar, para tratar do envio de reforços militares para Angola


1961-04-16

Partida dos primeiros contingentes militares, para Angola, formados por pára-quedistas, por via aérea: a 1ª CCP, seguindo-se em abril, a 2ª CCP, e em maio a 3ª CCP [futuro BCP nº 21, criado em 8 de maio]


1961-04-21

Partida dos primeiros contingentes militares para Angola (via marítima)


1961-04-23

Partida de uma companhia de legionários para Angola [A Legião Portuguesa acabou por se limitar à defesa de instalações de uma empresa...]


1961-04-30

Fim do cerco à povoação de Mucaba, depois da intervenção da Força Aérea, que utilizou bombas de napalme de 90 kg.


1961-05-01

Chegada a Luanda dos primeiros contingentes transportados por via marítima [BCAÇ 88, BCAÇ 92, CART 85, CART 86, CART 87, CART 100].


1961-05-02

Ataque a Sanza Pombo e novos ataques a Mucaba e à Damba, no Norte de Angola


1961-05-04

Ataque ao Songo, a norte de Carmona


1961-05-08

Ataques a Sanza Pombo, Úcua, Santa Cruz, Macocola e Bungo, com utilização de novas armas


1961-05-21

Ataque frustrado ao nó de comunicações do Toto, a sul de Bembe


1961-05-24

Ataque a Quimbele durante treze horas consecutivas


1961-05-24

Ataque ao posto de Porto Rico, próximo de Santo António do Zaire, com utilização de armas automáticas

1961-05-26

Ataque a Quimbele, durante 13 horas consecutivas, um dos mais violentos na altura.

1961-05-31

Chegada do Batalhão de Caçadores 88 à Damba. Em 14 de maio, o BCAÇ 96 já tinha seguido para Úcua e o BCAÇ 109 para Ambrizete.


1961-06-02

Ataques a várias fazendas em torno de Carmona, Negaje e Ambriz


1961-06-08

Primeiro avião da Força Aérea, um PV-2,  desaparecido em Angola, com três tripulantes a bordo


1961-06-14

Reocupação do Tomboco por uma força da Marinha


1961-06-19

Ataque dos guerrilheiros da UPA à vila de Ambriz, com utilização de armas automáticas

1961-06-24

Reocupação de Cuimba, a este de São Salvador do Congo


1961-06-30

Primeiro comunicado oficial das Forças Armadas, referindo a morte de 50 militares entre 4 de Fevereiro e 30 de Junho em Angola


1961-07-01

Operações do Exército e Força Aérea na serra da Canda, para reabertura da chamada 'estrada do café'


1961-07-07

Comunicado das Forças Armadas sobre as actividades dos meses de Maio e Junho, no Norte de Angola

1961-07-15

Morte de seis militares em Quicabo, na sequência da operação de reocupação de Nambuangongo.


1961-07-18

Início da operação, pelo BCAÇ 96,  de cerco a Nambuangongo, ocupada pelos rebeldes desde o início da sublevação em Angola. Prolonga-se até 9 de agosto (Operação Viriato, uma das mais emblemáticas da guerra do Ultramar.)


1961-08-04

Ocupação de Zala e Quicunzo pelas forças portuguesas, que progridem para Nambuangongo


1961-08-07

Declaração do ministro do Exército à emissora oficial de Angola, onde afirma que aos 'terroristas' se colocava apenas um dilema: 'Rendição incondicional ou aniquilamento total'


1961-08-11

Primeira operação militar com lançamento de pára-quedistas, efectuado sobre a região de Quipedro, em Angola


1961-08-17

Primeira utilização operacional dos aviões caças-bombardeiros F84, a partir da Base Aérea de Luanda


1961-08-24

Início de uma operação conjunta, com aviação, pára-quedistas e forças terrestres, na serra da Canda


1961-09-10

Início da operação militar conjunta que conduz à reocupação da 'Pedra Verde'


1961-09-16

Desordem entre militares pára-quedistas e elementos da polícia, em Luanda, de que resultou um morto e vários feridos, e que ficou conhecido como 'Incidente da Versalhes'


1961-09-16

Entrada das tropas portuguesas na Pedra Verde


1961-10-07

Discurso de Venâncio Deslandes, a dar por findas as operações militares no Norte de Angola, passando-se à fase das operações de polícia


1961-11-10

Desastre de aviação do Chitado, em que morreu o general Silva Freire, comandante da Região Militar de Angola, e mais 14 militares do Exército e da Força Aérea


1961-11-14

Partida do primeiro destacamento de fuzileiros especiais para Angola


1961-11-27

Anúncio, pelo governador-geral de Angola, de 'nova actividade terrorista' no Norte do território

1961-12-02

Expulsão de Portugal de quatro missionários norte-americanos, acusados de apoio aos movimentos angolanos

1961-12-31

No final do ano de 1961, havia cerca de 33 mil homens no território, enquanto se reforçavam também as guarnições militares da Guiné e de Moçambique.


Fonte: Excerto de  Guerra Colonial 1961-1974 > Cronologia, com a devida vénia...

Para mais detalhe e cronologia nacional, vd. Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso - Os Anos da Guerra Colonial, vol. 2 - 1961: o princípio do fim do império. Lisboa: Quidnovi, 2009.

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Nota do editor:

(*) Vd. postes de:

8 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19381: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte II: Abílio Eurico Castelo da Silva, cap inf (Chaves, 1925 - Cólua, Angola, 1961)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4712: Notas de leitura (12): Cronologia da guerra colonial, de José Brandão (Beja Santos)

Capa do livro de José Brandão, Cronologia da Guerra Colonial: Angola, Guiné, Moçambique, 1961-1974. Lisboa: Prefácio, 2008. 454 pp. (Contactos da Editora Prefácio: Rua Pinheiro Chagas n.° 19 - 1º, 1050-174 Lisboa, Telefone +351 217 802 764; +351 213 143 378 , mail: editora.prefacio@mail.telepac.pt ).

O autor, ex-operário metalúrgico, ex-dirigente sindical e ex-membro da comissão política do PS, nasceu em 1948, em Algés, Oeiras, fez a guerra colonial em Moçambique, como radiotelegrafista (1969/71). Foi, desde 1972, um operacional da ARA- Acção Revolucionária Armada, organização criada pelo PCP, e que sabotou, na Metrópole, diversos objectivos militares, afectos ao esforço de guerra no Ultramar, no âmbito da sua luta contra o regime de Salazar-Caetano e a guerra colonial (*).

Foi preso em 27 de Março de 1973 pela PIDE / DGS. É autor de diversas publicações. Cite-se algumas das mais recentes: Suicídios Famosos em Portugal, Edições Europress, Novembro 2007, Portugal Trágico – O Regicídio, Âncora Editora, Fevereiro 2008; A Vida Dramática dos Reis de Portugal, Ministério dos Livros, Setembro 2008.

Tem colaboração dispersa pela imprensa escrita (por exemplo, no Expresso). Anima o blogue Gostar de livros.

O nosso camarada Beja Santos ofertou-nos um exemplar desta publicação, Cronologia da Guerra Colonial, com o objectivo de, em cojunta com outras publicações, vir um dia destes a serem leiloada, num dos nossos encontros, permitindo a angariação de fundos para a manutenção do blogue. O nosso muito obrigado (LG).


1. Texto do Mário Beja Santos, datado de 4 de Dezembro último:

Comentário: Aqui está o que de essencial se passou nas três frentes da nossa guerra em África, ao longo de treze anos, com os seus eventos registados mês a mês e a relação de todos os mortos(combate, acidente ou doença)nesses teatros de operações.

Observa o coronel Ricardo Ferreira Durão:

«Depois do 25 de Abril ainda morreram nos três teatros de guerra 530 militares, 159 dos quais em resultado directo de acções de combate... Portugal manteve entre 1961 e 1973 uma média anual de 105 mil homens envolvidos nas três frentes. Os efectivos tiveram os valores mais elevados em 1973, quando atingiram o total de 148 mil homens».

José Brandão, que se tem notabilizado pela divulgação histórica e colabora no site http://www.vidaslusofonas.pt/ , oferece, com esta iniciativa, um excelente instrumento auxiliar de estudo e uma ferramenta para radiografar os mais significativos feitos militares, em paralelo com a evolução política, nacional e internacional, integrando, com todo o rigor, a presença dos feitos dos movimentos de libertação. (**)

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Notas de L.G.:

(*) Algumas das acções de sabotagem e outras levadas a cabo pela ARA:

26 de Outubro de 1970 - Bomba no navio Cunene, ao serviço da guerra colonial.

20 de Novembro de 1970 - Acções contra: (i) Escola Técnica da PIDE/DGS ; (ii) Centro Cultural dos EUA; (iii) material de guerra destinado às guerras coloniais, no Cais da Fundição, em Lisboa.

8 de Março de 1971 - Explosão de engenhos na base aéra de Tancos que destruiu ou danificou 28 aviões e helicópteros.

Junho de 1971 - Sabotagem da central de telecomunicações nacionais e internacionais, em Lisboa, durante a conferência ministerial da NATO.

Junho de 1971 - Corte da rede eléctrica de alta tensão em Sacavém e Belas em simultâneo com o corte das telecomunicações.

3 de Outubro de 1971 - Assalto ao Paiol na Serra da Amoreira.

27 de Outubro de 1971 - Sabotagem do Quartel General do Comiberlant, três dias antes da sua inauguração.

12 de Janeiro de 1972 - Sabotagem de Material de Guerra que seguia para a guerra colonial no navio Muxima.

Agosto de 1972 - Cortes de torres da rede eléctrica de alta tensão em Lisboa (Alhandra e Belas), no Porto e Coimbra, no dia da 'eleição' do Presidente da República Almirante Américo Tomaz.

Fonte: Wikipédia > Acção Revolucionária Armada


(**) Vd. último poste desta série > 15 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3133: Notas de leitura (11): A Guiné do século XVII ao século XIX (Beja Santos)


Há vários postes desta série, com numeração duplicada, por lapso dos editores.


quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3190: A guerra estava militarmente perdida (29)? A situação na metrópole (A. Marques Lopes)

Não entro nessa polémica... (IV)

A. Marques Lopes (1)

__________


Situação na Metrópole (alguns dados)


1962

12 de Janeiro – Franco Nogueira propõe a Salazar a realização de conversas exploratórias secretas com o regime senegalês, uma vez que a Guiné se configurava como um território para o qual era difícil delinear uma solução aceitável.
Julho – Agostinho Neto (MPLA) e Vasco Cabral, dirigente do PAIGC, evadem-se clandestinamente de Portugal a partir da Doca do Bom Sucesso, em Pedrouços, com o apoio dos dirigentes do PCP Jaime Serra e Dias Lourenço.

1963

18 de Janeiro – Debate pelo Governo português de um projecto de Lei Orgânica do Ultramar.
10 de Junho – É comemorado em Lisboa pela primeira vez.
10 de Agosto – Crítica do Marechal Craveiro Lopes a alguns aspectos da política ultramarina.
12 de Agosto – Discurso de Salazar sobre o problema do ultramar, que teve grandes
repercussões internacionais e levou os nacionalistas a reafirmarem a continuação da luta.
23 de Agosto – Cerimónia de apoio dos generais e oficiais superiores a Salazar e à política ultramarina.
27 de Agosto – Manifestação nacional no Terreiro do Paço, em Lisboa, de apoio à política ultramarina do Governo, que serviu de base à legitimidade da política de defesa ultramarina do Governo português.
17 de Outubro – Decisão do Governo português de considerar os crimes previstos na legislação militar, como cometidos em tempo de guerra.

1964

Janeiro – Realização da II Conferência das Forças Antifascistas Portuguesas, promovida pela FPLN.
11 de Janeiro – Aprovação pela Assembleia Nacional, de uma moção de apoio à «política de defesa intransigente do solo pátrio», com referência ao Ultramar.
Março – Comunicado do PAIGC distribuído em Argel, afirmando o acordo entre a oposição portuguesa, representada por Humberto Delgado e os movimentos de libertação africanos, para estreitamento de relações e concordância numa acção comum.
5 de Março – Concessão de facilidades da Alemanha para recuperação de militares mutilados nas guerras coloniais.
8 de Março – Reunião de dirigentes do PAIGC e da FPLN em Argel.
21 de Março – Comunicado da PIDE a acusar Humberto Delgado de auxílio aos «grupos terroristas».
17 de Março – Garantias de apoio do cônsul de Portugal na Rodésia a Ian Smith no caso de declaração unilateral de independência da minoria branca.
25 de Setembro – A França anuncia a entrega a Portugal de oito navios de guerra, como contrapartida pela cedência da base das Flores.
31 de Dezembro – No final do ano de 1964, os efectivos portugueses nos três teatros de operações ultrapassaram os 84.000 homens. Declaração de Franco Nogueira sobre o abandono da ONU por parte de Portugal.

1965

Janeiro - Portugal põe em causa a legalidade da constituição do Conselho de Segurança da ONU, pelo que declara não se considerar obrigado por qualquer decisão sua.
2 de Janeiro – Abertura da base aérea alemã em Beja.
13 de Fevereiro – Assassínio de Humberto Delgado pela PIDE, próximo de Badajoz.
18 de Fevereiro – Salazar, referindo-se à política ultramarina portuguesa, designa Paris e Argel como as capitais da subversão contra Portugal, referindo que os portugueses combatem sem espectáculos e sem alianças, «orgulhosamente sós».
21 de Maio – Assalto à sede da Sociedade de Escritores, na sequência da atribuição do Grande Prémio de Novelística a Luandino Vieira.
3 de Setembro – Encerramento pela PIDE, da Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa.

1966

Abril – Legislação do Governo português para travar a emigração clandestina. Terá limitado, mas, como posso ver pelo quadro em baixo, não travou a emigração, quer legal quer clandestina. Pelo contrário, aumentou.




29 de Maio – Criação do Vicariato Castrense Português, com um corpo de capelães e um bispo.
Agosto – Aumento dos impostos decretado pelo Governo português entre 7 e 27 por cento para fazer face às despesas militares.
14 de Outubro – Difusão das normas a observar pela Direcção dos Serviços de Censura em especial sobre as notícias que visem a «politica adoptada quanto ao Ultramar Português».
15 de Outubro – Abstenção de Portugal na ONU na criação do Dia Internacional para a Eliminação da Descriminação Racial.
Novembro – Personalidades da oposição pedem a Américo Tomás a demissão de Salazar.

1967

23 de Fevereiro – Inauguração do Comando Ibero -Atlântico (Iberlant) da NATO em Oeiras
Abril – Encerramento pela PIDE da Cooperativa católica Pragma. O Hospital Militar de Hamburgo recebe 88 mutilados de guerra portugueses.
17 de Maio – Assalto por um comando da LUAR à delegação do Banco de Portugal na Figueira da Foz.
Setembro – Início dos contactos da PIDE com sectores da oposição ao regime da Guiné-Conacri.
Outubro – Publicação do Manifesto pela Oposição Democrática exigindo para o Ultramar uma solução política.

1968

2 de Fevereiro – Visita de Américo Tomás a Cabo Verde e Guiné.
9 de Julho – Entrada em funcionamento do Centro de Alcoitão para mutilados de guerra.
11 de Julho – Entrada em vigor da nova Lei do Serviço Militar.
19 de Agosto – Bettencourt Rodrigues substitui Luz Cunha no Ministério do Exército e Manuel Pereira Crespo rende Quintanilha Mendonça Dias na pasta da Marinha.
7 de Setembro – Revelação pública de um acidente de Salazar, com irrecuperáveis lesões cerebrais.
26 de Setembro – Anúncio por Américo Tomás da substituição de Salazar por Marcelo Caetano
27 de Setembro – Governo de Marcelo Caetano com Sá Viana Rebelo na Defesa Nacional, Bettencourt Rodrigues no Exército, Franco Nogueira nos Negócios Estrangeiros e Silva Cunha no Ultramar.
27 de Novembro – Discurso de Marcelo Caetano na Assembleia da República, onde declara que «a liberdade e independência dos países da Europa ocidental joga-se não só na própria Europa, como em África».

1969

Março – Autorização de despesas, a contrair pelo Governo português, até ao montante de dois milhões de contos, para reequipamento do Exército e da Força Aérea.
8 de Abril – Início de uma visita de Marcelo Caetano à Guiné, Angola e Moçambique.
24 de Setembro – Refúgio de Marcelo Caetano no Posto de Comando da Força Aérea em Monsanto, por causa de rumores sobre um golpe de Estado.
8 de Novembro – O ministro da Defesa Nacional informa a Cruz Vermelha sobre a existência de 23 militares «retidos» na República da Guiné-Conacri, cinco na República Democrática do Congo, quatro na Tanzânia e um na Zâmbia.
15 de Dezembro – A Assembleia Nacional exorta, por unanimidade, Marcelo Caetano a prosseguir a «política nacional de manutenção e defesa da unidade e integridade de todos os territórios portugueses».

1970

15 de Janeiro – Remodelação ministerial, com Sá Viana Rebelo a assumir a pasta do Exército e Rui Patrício a dos Negócios Estrangeiros.
28 de Janeiro – Os Estados Unidos decidem fornecer a Portugal equipamento militar «não letal». Fevereiro – Vaga de prisões de estudantes africanos das universidades portuguesas.
20 de Fevereiro – Prisão do pároco de Belém (Lisboa), Padre Felicidade Alves, por denunciar a situação da guerra colonial.
Abril – Organização de um curso de «guerra subversiva» pela Legião Portuguesa, com exercícios na Serra de Sintra. Protesto de Portugal na ONU por a Assembleia Mundial da Juventude, realizada sob a égide da ONU, ter convidado directamente representantes de Angola, Moçambique e Guiné sem o conhecimento do Governo português.
Maio – Informação de Portugal ao secretário-geral da ONU de que não participaria na Assembleia Mundial da Juventude, a realizar em Julho. Reorganização territorial do Exército na metrópole e nas províncias ultramarinas.
29 de Maio – Visita a Lisboa do secretário de Estado norte-americano, William Rodgers.
19 de Junho – Prisão em Lisboa de vários cristãos por assumirem posições contra a guerra colonial.
15 de Agosto – Deserção de seis alunos da Academia Militar, durante uma visita à Suécia, e a quem este país concedeu asilo político.



29 de Agosto – Rebentamento de um engenho explosivo na Embaixada de Portugal em Washington, sendo desmontado outro engenho no gabinete dos adidos militares.
27 de Setembro – Conversa em família de Marcelo Caetano, em que acusa as Nações Unidas de instigarem a «subversão no Ultramar».
26 de Outubro – Acção da ARA, braço armado do PCP, contra o navio Cunene, fundeado no porto de Lisboa e pronto a partir para África com material de guerra. Acção do António João Eusébio e do António Pedro Ferreira. “O Comando Central da 'ACÇÃO REVOLUCIONÁRIA ARMADA' declara que ao atacarmos a máquina de guerra que alimenta a guerra colonial não estamos contra os soldados, os sargentos e oficiais honrados, forçados a fazer uma guerra que odeiam. Estamos, sim, contra a continuação desta criminosa guerra de opressão colonial que se transformou num flagelo para os povos de Angola, Guiné e Moçambique e num cancro que corrói a nação, que queima vidas e bens do povo português para servir os interesses dum punhado de monopolistas sem pátria. Estamos solidários com a justa luta libertadora dos povos coloniais.”
29 de Outubro – Acção de sabotagem no navio Vera Cruz em Lisboa. Criação da associação Sedes, como esboço de um partido politico de tendência moderada.
20 de Novembro – Destruição parcial da Escola Técnica da PIDE-DGS, pela ARA. Na acção participa Carlos Coutinho (ex-combatente em Moçambique). Neste dia, destruição igualmente pela "ARA" de importantes quantidades de equipamento e material de guerra armazenados no cais privativo da C.N.N., prontos para embarque no navio Niassa. A "ARA" colocou uma bomba no "Centro Cultural" da embaixada dos Estados Unidos em Lisboa.
2 de Dezembro – Entrega pelo Governo à Assembleia Nacional de uma proposta de revisão constitucional, prevendo um estatuto de autonomia interna para as províncias ultramarinas.
4 de Dezembro – Deserção de três oficiais do Exército, que se refugiam na Bélgica.
17 de Dezembro – Julgamento do Padre Mário de Oliveira, pároco de Macieira da Lixa, por oposição à guerra.

1971

8 de Março – Atentado da "ARA" contra aeronaves militares (vários helicópteros) na Base Aérea de Tancos. Acção do Ângelo Manuel Rodrigues de Sousa (pseudónimos Tavares e Miguel), já falecido.
Maio – Portugal retira-se da UNESCO em virtude de esta organização apoiar os movimentos de libertação.
28 de Maio – Promoção de um jantar legionário no Porto contra a reforma constitucional de Marcelo Caetano.
3 de Junho – Atentado da ARA [Acção Revolucionária Armada] contra a central radiotelegráfica e telefónica (RARET) de Lisboa, no dia de abertura de uma cimeira da NATO.
19 de Junho – Promulgação da nova Lei Orgânica da Ultramar, passando Angola e Moçambique a ser designados por Estados.
16 de Agosto -Profunda alteração da Constituição de 1933.
27 de Outubro – Acção da ARA contra as instalações de Oeiras do Comiberlant, na véspera da sua inauguração.
19 de Novembro – A Assembleia Nacional decreta o «estado de subversão», por se verificarem «actos subversivos graves em algumas parcelas do território nacional».
25 de Novembro – Criação pela DGS, do Grupo de Trabalho Madeira, com a finalidade de efectuar a «integração» da UNITA e de Jonas Savimbi.
28 de Novembro – Comunicado do PCP a criticar a acção das BR e dando o seu apoio às acções da "ARA".

1972

12 de Janeiro – “Na madrugada do dia 12 de Janeiro de 1972, um comando da ARA colocou duas potentes cargas, uma explosiva e outra incendiária, num dos armazéns do cais de Alcântara em Lisboa. Em consequência da forte explosão e do incêndio que se lhe seguiu foi destruída grande quantidade de material pronto a embarcar para a guerra colonial, entre o qual se encontrava importante material de guerra recém-chegado de França e destinado a unidades de caçadores pára-quedistas. Porque o comando da A.R.A actuou entre as 6 e as 8 horas da manhã, quando no Porto de Lisboa não há trabalhadores em actividade, não houve mortos nem feridos. O comando da A.R.A que realizou a acção não teve baixas.”
4 de Fevereiro – Primeira reunião do Grupo de Trabalho Madeira, da DGS.
17 de Abril – Divulgação de um manifesto da oposição «O Fracasso do Reformismo», denunciando a crise do regime.
29 de Abril – Directiva do ministro da Defesa sobre a alta prioridade das Forças portuguesas à missão de informação, propaganda e contra propaganda.
18 de Junho – Acusação de Marcelo Caetano à oposição, por esta ter aberto a «quarta frente de combate».
19 de Junho – Publicação da Lei Orgânica do Ultramar Português.
5 de Julho – Decisão do Governo de libertar mais de 1.500 prisioneiros internados em campos situados nas colónias.
11 de Julho – Destruição pelas Brigadas Revolucionárias, em Cabo Ruivo, de 15 camiões destinados ao Exército português.
28 de Julho – Agravamento pelo Supremo Tribunal Militar, para dez anos de prisão da pena do capitão cubano Pedro Peralta.
Agosto – Criação pelo Estado-Maior-General de uma rede de informações para actuar em diversos países africanos, chefiada por Alpoim Calvão.
9 de Agosto – Acção da "ARA" de destruição de duas dezenas de torres eléctricas nas áreas de Lisboa, Porto e Coimbra, da rede eléctrica nacional. Participaram na acção António João Eusébio e António Pedro Ferreira (ex-combatentes em Angola).
30 de Setembro – Publicação da Lei Orgânica da DGS.
2 de Outubro – Discurso de Rui Patrício na ONU, boicotado pela maioria dos delegados.
30 de Novembro – Início da vigília na Capela do Rato, em Lisboa, durante a qual um grupo de católicos aprova um documento contra a guerra colonial.

1973

1 de Janeiro – Aproveitando a circunstância de se comemorar o Dia Mundial da Paz, um grupo de cristãos que tinha iniciado uma acção de cariz Anti-Colonial, de forte impacte, ocupando a Capela do Rato, em Lisboa, inicia uma greve de fome, organizando ao mesmo tempo, uma assembleia aberta a cristãos e não cristãos, para discussão do problema da guerra colonial, assunto totalmente proibido pelo Regime.
2 de Janeiro – Uma força da Polícia de Choque, comandada pelo capitão Maltês Soares, irrompe, pelas 19h00, na Capela do Rato e prende 70 pessoas.
11 de Janeiro – Demissão da função pública de todos os funcionários que participaram na vigília da Capela do Rato.
13 de Janeiro – Marcelo Caetano numa «Conversa em Família» declara que «só temos um caminho, defender o Ultramar».
4 de Abril – Realiza-se em Aveiro o III Congresso da Oposição Democrática. A sua realização foi cercada de intensas medidas repressivas, entre elas o ataque da Polícia de Choque aos congressistas quando se deslocavam em manifestação silenciosa ao cemitério local, em romagem ao túmulo de Mário Sacramento (eu e o José Luís Judas levámos umas pancadas – eu fiquei ferido num braço – e tivemos que nos refugiar numa casa).
6 de Abril – Atentados das BR, no Porto, contra instalações militares.
29 de Abril – Rebentamento de petardos em várias localidades do país com panfletos contra a guerra colonial.
25 de Maio – Visita de Costa Gomes, chefe do Estado-Maior-General, à Guiné.
1 de Junho – Desenrola-se no Porto o chamado I Congresso dos Combatentes do Ultramar, através do qual o Governo pretende demonstrar, interna e externamente, a «adesão entusiástica» dos militares à política ultramarina. A sua forma de organização antidemocrática desencadeia um amplo repúdio no seio das Forças Armadas, em Portugal Continental, Ramalho Eanes, Hugo dos Santos, Vasco Lourenço e outros encabeçam um vasto movimento de protesto. Com o mesmo objectivo, são recolhidas quatrocentas assinaturas de oficiais do Quadro. Enviado um telegrama ao congresso assinado por Marcelino da Mata e Rebordão de Brito.
13 de Julho – É publicado, no Diário do Governo, o Decreto-Lei n.º 353/73 (e posteriormente o 409/73, com pequenas alterações), o qual criava um conjunto de condições que facilitava o ingresso dos oficiais milicianos no Quadro Permanente, medida que vem incrementar a contestação já latente nos oficiais desse Quadro, tornando-se o verdadeiro rastilho para a criação do futuro Movimento dos Capitães.
16 de Julho – Início da visita oficial de Marcelo Caetano a Inglaterra, onde é recebido com manifestações de protesto.
6 de Agosto – Regresso de António de Spínola a Portugal, vindo a ser substituído nos cargos que desempenhava na Guiné.
20 de Agosto – Publicação do Decreto-Lei 409/73, que corrige alguns aspectos do DL 353/73, referente às carreiras dos oficiais do exército.
Setembro – Deserção de 5 marinheiros durante a realização de um exercício NATO no Atlântico Norte. Encontro em Paris de delegações dos Partido Socialista e Partido Comunista, chefiadas por Mário Soares e Álvaro Cunhal.
9 de Setembro – Tendo por local de encontro o Templo de Diana, em Évora, 136 oficiais dirigem-se ao monte do Sobral, em Alcáçovas, a uma herdade de um familiar do capitão Diniz de Almeida, onde nasce formalmente o «Movimento dos Capitães». Exige-se a revogação do Decreto 353/73, um abaixo-assinado será entregue na Presidência da República e na Presidência do Conselho de Ministros, pelos capitães Lobato Faria e Clementino País. 94 Capitães e subalternos, em comissão em Angola, assinam colectivamente um protesto e enviam-no a Marcelo Caetano. Em Moçambique elabora-se um documento idêntico que recolhe 106 assinaturas, entre oficiais superiores, capitães e subalternos.
14 de Setembro – Reunião de Kaúlza de Arriaga com outros generais das Forças Armadas para preparação de uma acção concertada contra o Governo.
21 de Setembro – Reunião do movimento dos Capitães em Luanda, onde se decide a apresentação de um pedido individual de demissão de oficial do Exército.
6 de Outubro – Reunião alargada do Movimento dos Capitães, em Lisboa, realizada simultaneamente em quatro locais, onde se coloca a hipótese do emprego da força para derrubar o regime. Início da assinatura de um pedido de demissão de oficial do Exército por parte dos oficiais abrangidos pelos decretos de 13/7 e 20/8, que ficaram na posse de uma comissão coordenadora provisória.
18 de Outubro – Reunião do Movimento dos Capitães em Bissau e Luanda, decidindo-se, em ambos os lados, prosseguir a mobilização dos oficiais, apesar da suspensão dos decretos.
28 de Outubro – Eleições para a Assembleia Nacional com a desistência da Oposição Democrática (CDE) que classifica o acto de fraude eleitoral.
7 de Novembro – Remodelação ministerial que afasta o Ministro da Defesa, general Sá Viana Rebelo e o secretário de Estado do Exército, Alberty Correia. Em sua substituição são nomeados para as pastas da Defesa Nacional e do Exército, respectivamente, o Prof. Joaquim da Silva Cunha, até então Ministro do Ultramar, e o general na reserva Alberto Andrade e Silva, sendo o coronel de artilharia Carlos Viana de Lemos designado subsecretário de Estado do Exército e Telo Polleri para a Aeronáutica.
24 de Novembro – As Comissões Coordenadora e Consultiva provisórias do Movimento dos Capitães reúnem num casarão nas traseiras da Colónia Balnear Infantil de O Século, em S. Pedro do Estoril. É necessário fazer um ponto de situação e eleger uma Comissão Coordenadora definitiva que seja verdadeiramente representativa do Movimento. A «guerra do decreto» devia ser ultrapassada pela acção e passar-se a uma nova fase de luta. Os delegados são solicitados a auscultar as suas unidades sobre o caminho a prosseguir pelo Movimento dos Capitães. Luís Banazol fala da necessidade de fazer uma revolução e se colocam três hipóteses de futura actuação; conquista do poder, exigência de eleições livres ou reivindicações exclusivamente militares.
Dezembro – Manifestação contra a guerra colonial (não me lembro do dia exactamente) que saiu do Marquês de Pombal e só chegou até perto do Parque Mayer. Éramos umas dezenas. A polícia de choque veio da Praça da Alegria e bateu. O José Luís Judas (ex-pára-quedista e, então, contabilista da Novopca) e o Jorge Aguiar (jovem engenheiro das Construções Hospitalares) enfiaram-se no Parque Mayer a jogar matraquilhos. Nada. Eu, o Muradali Mamadussen (era estudante, foi adjunto do Samora Machel depois e com ele morreu no desastre (?) de avião) e o António Monteiro (actual Relações Públicas da TAP) socorremo-nos do Ribadouro. O Muradali assentou-se, logo à entrada, numa mesa onde estavam turistas e agarrou num copo. Passaram. Eu e o António Monteiro fomos para o balcão onde a polícia de choque nos foi apanhar pelos cabelos (era moda na época). O que é que foi?!! Que merda é esta?!! O que é isto?!! Arrastaram-nos até à porta mas lá nos largaram...
1 de Dezembro – Reunião, em Óbidos, do Movimento dos Capitães, em que é eleita uma comissão coordenadora alargada e votados os nomes dos generais a contactar pelo movimento. Após se ter tomado conhecimento de que as bases do Movimento não pretendiam, por ora, ir além das reivindicações militares, importantes decisões são tomadas. Vota-se o nome do general Costa Gomes como chefe prestigiado que o Movimento deveria chamar a si. Delibera-se alargar o Movimento aos outros ramos das Forças Armadas (Marinha e Força Aérea). Elege-se uma Comissão Coordenadora e Executiva (CCE), com 3 oficiais por cada arma e serviço do Exército.
5 de Dezembro – 1ª Reunião da nova CCE, numa casa de praia na Costa da Caparica. Prepara-se uma proposta com base em reivindicações militares, a apresentar a elementos dos outros dois ramos. Esse documento era de tal forma ambicioso que seria uma forma de pressão quase extrema para o Executivo. Para a CCE foi escolhida uma direcção: majores Vítor Alves, Otelo Saraiva de Carvalho e capitão Vasco Lourenço.
17 de Dezembro – Vislumbram-se insistentes sinais de que estaria em preparação um golpe de Estado de extrema-direita, com a implicação dos generais Kaúlza de Arriaga, Silvino Silvério Marques, Joaquim Luz Cunha e Henrique Troni, visando a conquista do poder.
20 de Dezembro – Ordem de embarque imediato para a Guiné de alguns oficiais do batalhão de Ataíde Banazol.
22 de Dezembro – São revogados os Decretos-Lei 353/73 e 409/73 que haviam estado na origem do Movimento dos Capitães. Teme-se que a mobilização da luta alastre à maioria dos militares.

1974

23 de Janeiro – Apresentação à hierarquia de uma exposição do Movimento dos Capitães de Moçambique sobre a situação resultante dos acontecimentos da Beira, assinada por 180 oficiais. É redigida a 1ª circular do Movimento (circular n.º 1/74), por decisão da sua direcção. A mesma é amplamente distribuída, relatando os acontecimentos ocorridos em Moçambique e apelando a que cada militar «...dentro das mais estritas regras da disciplina...» se empenhe na exigência de um desagravo à instituição. Otelo Saraiva de Carvalho e Vasco Lourenço avistam-se com Spínola, dando-lhe conhecimento da posição do Movimento. A referida circular viria a ser citada na BBC, no Le Monde e na emissora Rádio Portugal Livre de Argel.
26 de Janeiro – Reunião do movimento dos Capitães no Estoril, onde é constatada a necessidade de elaborar um documento que defina os seus objectivos políticos.
27 de Janeiro – Abaixo-assinado elaborado pela comissão regional do Movimento dos Capitães na Beira (Moçambique) sobre os últimos acontecimentos.
29 de Janeiro – Envio pela comissão do Movimento dos Capitães em Nampula, de um relato circunstanciado dos acontecimentos da Beira, para Lisboa e para as comissões regionais.
5 de Fevereiro – O Movimento dos Capitães politiza-se de forma galopante. É necessário adoptar um programa, para isso realiza-se um encontro alargado da CCE no qual é eleita uma Comissão de Redacção do Programa do Movimento; dela fazem parte o tenente-coronel Costa Brás, majores Melo Antunes e José Maria Azevedo e capitão Sousa e Castro. Chegada a Lisboa de Jorge Jardim para conversações com o Governo sobre uma proposta de resolução do problema de Moçambique, supostamente apoiada pelos dirigentes de alguns países africanos.
12 de Fevereiro – Publicação do documento do bispo de Nampula, D. Manuel Vieira Pinto, «Imperativo de Consciência».
13 de Fevereiro – Restabelecimento de contactos entre a UNITA e a administração de Angola.
14 de Fevereiro – Carta do Movimento dos Capitães da Guiné sobre a situação geral e a necessidade de ser passar à acção contra o regime.
22 de Fevereiro – Sai do prelo o livro “Portugal e o Futuro”, da autoria de António de Spínola, que se esgota rapidamente, conhecendo um enorme sucesso. O general defende uma solução política e não militar para o Ultramar. Fica demonstrado publicamente o conflito existente no seio do regime em torno de uma solução para o problema colonial.
5 de Março – Mini plenário do Movimento dos Oficiais das Forças Armadas, em Cascais, o último antes do 25 de Abril. Presentes 194 oficiais, das unidades de Infantaria, Artilharia, Cavalaria, Engenharia, Administração Militar, Transmissões, Serviço de Material, Pára-quedistas e Força Aérea (FA), representando 602 militares. O documento, de índole política, «O Movimento, As Forças Armadas e a Nação» recolhe 111 assinaturas.
6 de Março – Marcelo Caetano faz defesa inflamada da política do Governo para o Ultramar, em discurso proferido perante a Assembleia Nacional e transmitido pela RTP. No seu seguimento é aprovada pelos deputados uma moção de apoio à «política ultramarina do Governo». Elaboração de um plano por Kaúlza de Arriaga e Luz Cunha para por fim à «subversão comunista do Exército».
9 de Março – Os capitães Vasco Lourenço, Antero Ribeiro da Silva (Presidente da Delegação do Norte da Associação 25 de Abril) e Pinto Soares são detidos, tendo os dois primeiros, decorridos alguns dias, sido transferidos compulsivamente para os Açores e a Madeira, respectivamente, enquanto o terceiro foi internado num estabelecimento hospitalar.
11 de Março – Aprovação da politica colonial do Governo, pela Assembleia Nacional.
14 de Março – As chefias das Forças Armadas e de Segurança e os oficiais generais dos três ramos vão a S. Bento afirmar ao Presidente do Conselho de Ministros e ao Governo a sua fidelidade e apoio à política ultramarina, em nome das respectivas instituições.
15 de Março – Demissão de Costa Gomes e António de Spínola dos cargos de chefe e vice-chefe do Estado-maior General das Forças Armadas. Os jornais anunciam com grandes parangonas a exoneração dos generais Francisco da Costa Gomes e António de Spínola dos cargos de Chefe do Estado-maior General das Forças Armadas e vice-CEMGFA, respectivamente.
16 de Março – Às 04:00 da madrugada, uma coluna do Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha passa os portões do aquartelamento, comandados pelo capitão Armando Marques Ramos. Pretende executar um golpe militar, marchando sobre Lisboa e depondo o Governo, a apenas a três quilómetros da capital terá a noção de que se encontra isolada. Um precipitado e deficiente planeamento da acção leva ao seu fracasso, sendo presos quase duas centenas de militares, oficiais, sargentos e praças, entre os quais o tenente-coronel João de Almeida Bruno, majores Manuel Monge e António Casanova Ferreira e capitães Marques Ramos e Virgílio Varela. Um avanço à margem do Movimento por parte dos spinolistas, constituiu, embora, um importante balão de ensaio para o 25 de Abril.
18 de Março - Otelo e Vítor Alves redigem a Circular 2/74, procedendo a uma análise dos acontecimentos e apelando à firmeza e perseverança nos objectivos do Movimento. Encontram-se com Melo Antunes, no Café Londres, e pedem-lhe que elabore um programa político do Movimento dos Oficiais das Forças Armadas (MOFA), com base no Manifesto aprovado no plenário do dia 5. O diário República, dirigido por Raul Rêgo, desde sempre ligado à oposição ao Estado Novo, publica, de forma criptográfica, na página desportiva, a notícia intitulada «Quem travará os leões» na qual se conclui que «perdeu-se uma batalha, mas não se perdeu a guerra»
19 de Março – General Joaquim da Luz Cunha, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.
21 de Março – Após um contacto estabelecido no alto do Parque Eduardo VII por iniciativa do capitão Luís Macedo, colocado no Regimento de Engenharia 1 (RE 1), em que solicita a Otelo, em nome de muitos camaradas, que assuma a condução militar do Movimento, este aceita a missão e designa-o seu adjunto operacional.
22 de Março – Reunião em casa de Vítor Alves de um pequeno núcleo de oficiais do Exército, da Força Aérea e da Armada. Melo Antunes lê a primeira versão do programa político do Movimento, sendo por todos aprovada. Melo Antunes comunica que, por ironia do destino, em resultado de um pedido seu, deferido apenas naquela altura, irá partir nessa noite para Ponta Delgada, devido a ter sido colocado no Comando Territorial dos Açores (CTIA). Fica combinado o célebre telegrama em código que o irá informar do grande momento: «Tia Aurora segue dia... Um abraço António». O comandante Almada Contreiras acompanha Melo Antunes ao aeroporto, sendo apresentado por este a Álvaro Guerra, jornalista do República.
24 de Março – A CCE reúne e é aprovado por unanimidade que os dois elementos da direcção ainda activos assumam a responsabilidade da preparação militar e da preparação política do movimento. Otelo aceita, perante os presentes, gizar um plano operacional e elaborar a «ordem de operações» respectiva. Garante que o golpe será desencadeado entre 20 e 29 de Abril e, desta vez, para conduzir à vitória.
28 de Março – Marcelo Caetano faz, na RTP, a sua derradeira «Conversa em Família», em que reafirma a politica ultramarina do seu Governo e condena os implicados no movimento de 16 de Março.
4 de Abril – Carta da direcção do movimento de oficiais para as colónias, informando as respectivas comissões de que não deveriam tomara iniciativa de qualquer acção.
13 de Abril – Informação do movimento de oficiais da Guiné à comissão de Lisboa de que está preparada para assumir a iniciativa do movimento, caso seja necessário.
15 de Abril – Otelo Saraiva de Carvalho conclui o Plano Geral das Operações, que intitula simbolicamente «Viragem Histórica». Divide o país em duas grandes áreas de operações: Zona Norte e Resto do País, sendo este segmentado em quatro áreas. As unidades do Norte deveriam convergir para o Porto, onde ocupariam pontos estratégicos, nomeadamente o Quartel-General, instalações de forças de segurança, estações de rádio e televisão, aeroporto e pontes. As unidades situadas a Sul do Douro adoptariam idêntica manobra relativamente à capital, sendo atribuídas a algumas das colunas mais importantes missões de natureza táctica (EPC e EPA). Nesse mesmo dia entrega-o ao tenente-coronel Garcia dos Santos para que este elabore o Anexo de Transmissões. Encontro no restaurante Califa, em Benfica (perto da minha casa...), de Otelo, do capitão Frederico Morais e dos tenentes milicianos Luís Pessoa e Miguel Amado com vista a planear a tomada da Emissora Nacional. Escolha do Rádio Clube Português (R.C.P.) para posto emissor do MFA, em virtude de possuir uma rede que cobre o país e o Ultramar, emitir noticiários de hora a hora em simultâneo e de dispor, nas instalações da Rua Sampaio e Pina, nº 26, de um estúdio compacto, de gerador de emergência com entrada automática em funcionamento e radiotelefone para o centro emissor em Porto Alto.
16 de Abril – Otelo Saraiva de Carvalho reúne, no RE 1, com o major Eurico Corvacho a quem explica a ideia geral de manobra, particularizando as movimentações a levar a cabo na Zona Norte. A pedido deste, agrega-lhe as forças do Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE) de Lamego, cometendo-lhes a missão de reforçar as tropas do Porto.
17 de Abril – Otelo Saraiva de Carvalho distribui as missões aos delegados do Agrupamento Norte (November), no apartamento de Dinis de Almeida, estando presentes todos os agentes de ligação para esse sector, facto que se repete nas restantes reuniões.
18 de Abril – Otelo Saraiva de Carvalho distribui as missões aos delegados do Sector Centro (Charlie), em sua casa, contando-se entre estes o capitão Correia Bernardo, em representação da Escola Prática de Cavalaria (Santarém).
19 de Abril – Otelo Saraiva de Carvalho distribui as missões aos delegados do Sector Sul (Sierra), em casa do major Fernandes da Mota.
20 de Abril – Finalmente, na mais importante das reuniões, Otelo Saraiva de Carvalho distribui as missões aos delegados das unidades da Região Militar de Lisboa (Lima), na residência, então vaga, do pai do tenente Américo Henriques, em Cascais. Conclusão do essencial dos textos políticos (em cuja redacção, coordenada por Vítor Alves, participaram Franco Charais, Costa Brás, Vasco Gonçalves, Nuno Lopes Pires e Pinto Soares, pelo Exército; Vítor Crespo e Lauret, com a participação menos activa de Teles e Contreiras, pela Marinha e a ocasional presença do major Morais e Silva e do capitão Seabra). A partir desta data, Otelo, que também assegura a ligação com Spínola, passa a efectuar os contactos, por razões de segurança, através do major de cavalaria na reserva Carlos Alexandre de Morais. São da lavra do general algumas das modificações introduzidas, nomeadamente a designação de Movimento das Forças Armadas (MFA), em substituição da versão anterior de Movimento dos Oficiais das Forças Armadas (MOFA) e de Junta de Salvação Nacional (JSN) em alternativa à proposta de Directório Militar.
21 de Abril – Encontro na marginal em Oeiras, de Otelo e do major Moura Calheiros com os coronéis Rafael Durão (representante do general Spínola) e Fausto Marques, com vista a obter a adesão do Regimento de Caçadores Pára-quedistas, comandado pelo último oficial, iniciativa que se revela inconclusiva.
22 de Abril – A partir do início deste dia, todos os delegados do Movimento nas unidades entram em estado de alerta, preparados para receber o contacto do agente de ligação, portador das instruções finais. A Escola Prática de Transmissões (EPTM), localizada em Sapadores, recebe autorização do Estado-Maior do Exército (EME), por proposta do tenente-coronel Garcia dos Santos, para o estabelecimento de uma linha directa com o RE 1, da Pontinha, numa extensão de 4 quilómetros. Inicia-se, sem demora, a sua instalação, efectuada por uma equipa comandada pelo furriel Cedoura, que ficará concluída em menos de 24 horas. Tal iniciativa viria a permitir ao Posto de Comando do MFA o acesso permanente às escutas das redes de transmissões militares e das forças de segurança, missão de apoio técnico cometida à primeira unidade militar, em que se destacaram os capitães Fialho da Rosa, Veríssimo da Cruz e Madeira.
23 de Abril – Otelo Saraiva de Carvalho e Costa Martins, protegidos pelo major FA Costa Neves, avistam-se, no Apolo 70, com João Paulo Diniz. Este esclarece que apenas colabora no programa matutino Carrossel do R.C.P., razão pela qual não poderá emitir a senha pretendida. Obtêm, contudo, a garantia de transmissão do seguinte sinal, entretanto combinado, “Faltam cinco minutos para a meia-noite. Vai cantar Paulo de Carvalho «E depois do adeus»”, através dos Emissores Associados de Lisboa (E.A.L), que apenas dispõem de um raio de alcance de cerca de 100 a 150 quilómetros de Lisboa. A limitada potência do emissor torna, assim, necessária a emissão de um segundo sinal, através de uma estação que alcance todo o País. Deslocam-se, seguidamente, para junto da Penitenciária de Lisboa, onde aguardam que o ex-locutor do Programa das Forças Armadas em Bissau obtenha informação no Rádio Clube Português sobre a constituição da equipa que entrará de serviço na madrugada de 25. Este apura que o serviço de noticiário estará a cargo de Joaquim Furtado mas, conhecendo-o mal, não arrisca estabelecer contacto.
25 de Abril – Às 00h40 na EPC, em Santarém, os oficiais do MFA procuram obter a adesão ao Movimento do tenente-coronel Henrique Sanches. Não o conseguindo, procedem à sua detenção.

E foi o que veio a seguir...

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Notas:

1. A. Marques Lopes, ex- Alf Mil Inf ( hoje Cor DFA, reformado), CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro)

2. artigos relacionados em:

21 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3077: A Guerra estava militarmente perdida (27)? Reacções a nível internacional. Os efectivos das NT. (A. Marques Lopes).

13 de Julho > Guiné 63/74 - P3057: A Guerra estava militarmente perdida? A situação político-militar na Guiné (26). A. Marques Lopes.