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sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24711: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (8): Proteção a um coluna Buba - Aldeia Formosa, ainda na época das chuvas (1973), mas já no perído pós-Strela: mais um dia como tantos outros...

 

Foto nº 34


Foto nº 32


Foto nº 33


Foto nº 33A


Foto nº 33B


Foto nº 35


Foto nº 35A


Foto nº 36


Foto nº 36A


Foto nº 36B


Foto nº 37


Foto nº 38


Foto nº 39

Guiné > Guiné > Região de Quínara  > Buba > 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Bula, 1973/74) > Proteção a um coluna Buba - Aldeia Formosa: mais um dia como tantos outros... Ver legendagem em baixo.


Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz (ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 45113/72, Buba, 1973/74), que tem 13 referências n nosso blogue. O descritor Buba tem c. 380 referências (*).

Respondendo ao seu mail de 28 do corrente, 18;52, dissemos:

Obrigado, João. Ainda vêm com um cheirinho do "mato". São et~sas que dão mais pica, e são mais raras... Havia pouca malta a levar a máquina para colunas e operações... Vou editá-las e publicá-las. São preciosas.

Pelo que estas imagens dão para perceber, é o seguinte;

(i) esta coluna, a que vocès fizeram proteção, realizou-se ainda no tempo das chuvas, talvez setembro/outubro de 1973, a avaliar pelas poças de água (fotos nºs 36, 38, 39); ou talavez antes no início (maio/junho), já que o capim ainda está curto;

(ii) a estrada Buba-Aldeia Formosa, via Nhala, ainda estava em construção: vè-se o novo traçado (?) e os restos de árvores derrubadas pelas máquinas (Fotos nºs 33. 35. 36, 37. 38, 39);

(ii1) a coluna cumpria as novas regras de segurança em vigor pós-Strela (vd. foto nº 33:  "Primeira viatura da coluna com a tela vermelha sobre o capô para sinalização da aviação em caso de apoio aéreo"):

(iv) és capaz, a partir da carta antiga de Xitole / Buba (1955, escala 1/50mil) (que inclui a antiga estrada Buba-Aldeia Formosa), de reconstituir o novo traçado em construção ? 

(v) a tua companhia ou o teu pelotão andou 8 km... Onde é que vocês montaram a segurança ? Perto de Nhala (Foto nºs 32, 34, 37, 39) ?

Entretanto, gostava também de saber a tua opinião sobre o período pós-Strela (a patrtir de 25 de março de 1973) e o apoio qye continuou a ser dada pela FAP, mas em novos moldes (Fiat G-91 e helicanhão), em operações, colunas , abastecimentos de frescos (feitos no meu tempo pela DO-27) e evacuações no quartel (DEO-27) e no mato (heli AL III).


Um alfabravo, LG
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Legendas (AAC / LG):


f 32 > Proteção à coluna Buba - Aldeia formosa com passagem por Nhala (Zona da bolanha dos passarinhos); na foto, o apontador da metralhadora HK21.


f 33> Primeira viatura da coluna, uma Berliet, com a tela vermelha sobre o capô para sinalização da aviação, em caso de apoio aéreo.


f 34 > Mais um dia como tantos outros (o António Alves da Cruz, na foto, de perfil).


f 35 > Estrada Buba - Aldeia Formosa (em construção).


f 36 > O final da coluna.


f 37 e f 38 > Depois da passagem da coluna, começar a reagrupar ( a 1ª C/BCAÇ 4513/72) qyue montou a segurança.


f 39 > Regresso a Buba, 8 Km para abrir o apetite.



Guiné >  Carta antiga de Xitole / Buba (1955) (Escala 1/50 mil) > Pormenor:  posição relativa de Buba, Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa
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Nota do editor:

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22784: O meu sapatinho de Natal (4): o que é feito de ti, camarada Dinis Giblot Dalot (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), o melhor condutor de GMC do mundo ? (Luís Graça)


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca)  > Estrada de Bambadinca-Mansambo-Xitole > Ponte do Rio Jagarajá > CCAÇ 2590/ CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)> "Eu, o então Fur Mil Ap Armas Pesadas Inf Henriques, pau para toda a obra, pião de nicas, e o soldado condutor autorrodas Dalot, talvez o melhor condutor de GMC do mundo ou, pelo menos, o melhor que eu alguma vez conheci...  


Foto (e legenda): Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Esposende > Fão > 1994 > A primeira vez que a malta de Bambadinca (1968/71), camaradas da CCAÇ 12, e outras subunidades, como o Pel Caç Nat 52,  adidas ao comando do BCAÇ 2852, se encontrou depois do regresso a casa... Este primeiro encontro foi organizado pelo António Carlão (Mirandela, 1947- Esposende, 2018)  

Mostra-se aqui um pormenor da foto de grupo. Na primeira fila, da esquerda para a direita:

(i) fur mil MAR Joaquim Moreira Gomes, da CCAÇ 12  [, vivia no Porto, na altura ];

(ii) sold cond auto Dinis Giblot Dalot [, empresário, vivia em Aljubarrota, Prazeres].

Na segunda fila de pé, da esquerda para a direita:

(iii) Fernando [Carvalho Taco] Calado, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852 [, vive em Lisboa];

(iv) ex-alf mil manutenção material,  Ismael Quitério Augusto, CCS/BCAÇ 2852 
 [, vive em Lisboa];

(v) ex-fur mil  at inf António Eugénio Silva Levezinho [, Tony para os amigos, reformado da Petrogal, vive  em Martingal, Sagres, Vila do Bispo];

(vi) ex-capitão inf Carlos Alberto Machado Brito, cmdt da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 [, cor inf ref, vivia em Braga, tendo passado pela GNR];

(vii) Pinto dos Santos, ex-furriel mil de Operações e Informações, CCS / BCAÇ 2852,
 [, vivia em Resende].


Foto (e legenda): © Fernando Calado (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Estou a rever-te, há 52 anos atrás, na Estrada de Bambadinca-Mansambo-Xitole. Eu e tu, o Dalot, o Dinis G. Dalot, ou melhor, o Dinis Giglot Dalot. Sguramente tu foste o melhor condutor de GMC que eu alguma vez conheci (!). Berliet e GMC nas tuas mãos,  carregadas de sacos de arroz ("bianda"), não ficavam atoladas na famigerada estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole, a menos que rebentassem debaixo de uma mina. E mesmo assim, era preciso que os cabos de aço ou os troncos das árvores não aguentassem... 
 
Reguila, setubalense, franzino, seco de carnes, condutor de pesados na vida civil, com boas manápulas para segurar um daqueles volantes de GMC ou Berliet, apanhaste logo no princípio da comissão, em julho de 1969, cinco dias de detenção. Quem foi o s.... que te deu cinco dias de detenção ?....Certo, por seres reguila, setubalense, condutor de pesados, descendente de franceses, e se calhar por seres o melhor condutor de GMC que eu alguma vez vi na vida... 

Gostava de te rever, Dalot. Sinceramente, gostava de te rever. Tenho um numero de telemovel, teu, mas se calhar antigo
 Ligo, vai para o "voice mail". Tu fazes parte da mítica galeria dos meus heróis, tu e todos os bravos soldados condutores autorrodas que passaram pela Guiné, a começar pela nossa CCAÇ 2590/CCAÇ 12.

Eu dizia-te que era preciso ser maluco para conduzir uma GMC. Tu ofendias-te: eras o mais profissional dos nossos condutores auto. Não sei porque não chegaste a 1º cabo: eras  profissional de pesados já na vida civil. E continuaste  depois, na peluda, com uma empresa tua, se não erro. Mas eu sentia que a  porrada te magoara muito, mexera como teu brio, a tua autoestima. 

Reencontei-te em 1994, em Fão, Esposende, quando a malta de Bambadinca (CCS/BCAÇ 2852, 1968/70) e CCAÇ 12 (1969/71) se juntou pela primeira vez. Inicialmnete, vivias em Porto Alto, Samora Correia, Benavente. Depois mudaste a empresa para Aljubarrota, Batalha. Bate certo ? Perguntei ao Adélio Monteiro, mas também não sabe do teu atual paradeiro.

Mas voltando aos dias 17 e 18 de setembro de 1969... Há dias de sorte, escrevi eu: na vida, na guerra, no jogo, no amor… Recordo-me bem desta operação logística, Op Belo Dias II, em que perdemos uma heróica GMC do tempo da guerra da Coreia (daquelas que gastavam 100 aos 100, lembras-te ?).

Não sei se era lenda. As GMC andavam a gasolina, E tinham um depósito de 150 litros, com alcance operacional de c. 480 km e velocidade máxina de 72 km/hora. Em teoria, gastava pouco mais de 30 aos 100.  Mas picadas da Guiné, com carga e com guincho, é possível que gastasse o dobro ou até o triplo....O modelo era GMC 6x6 , caixa aberta, de 2 1/2 t, m/1952, do tempo da guerra da Coreia e herdeiro do célebre camião GMC CCKW , também conhecido como "Jimmy", o camião de transporte de carga do Exército Norte Americano  de que se produziram, entre 1941 e 1945,  572,5 mil unidades.

A CCAÇ  2590 / CCAÇ 12 tinha duas, foram vitimas de minas A/C. Tu, Dalot,  adoravas conduzi-las. Ninguém melhor do que tu para livrar uma GMC de cair na cratera de uma mina coberta de água da chuva ou de atolar-se na berma da estrada… Berma ? Estrada ? Qual berma, qual estrada!... Picadas cheias de minas e armadilhas!...

Ninguém melhor do que tu para conduzir este mamute de ferro, de 4 t, mais duas toneladas e meia, senão três,  de sacos de arroz… Ninguém melhor do que tu, enfim, para desatascar outras viaturas, civis ou militares,  à força de guincho. 

Só não tinhas faro era para as minas, que isso era tarefa dos picadores. Aliás, na galeria dos heróis desta guerra (há sempre heróis em todas as guerras), eu poria também as GMC, os condutores das GMC e os picadores…

O que aconteceu exactamente nesse já longíquo dia 18 de Setembro de 1969 ? Tínhamos saído, na véspera, de Bambadinca, de manhã muito cedo, como de costume, para fugir ao inferno do calor e da humidade do dia. E da poeira, embora se  estivesse em plena época das chuvas. Era um enorme coluna de viaturas militares carregadas de abastecimentos  para três companhias, unidades de quadrícula, em Mansambo (CART 2339), Xitole (CART 2413) e Saltinho (CAÇ 2406).

Ao todo viviam nestas unidades e seus destacamentos mais de  meio milhar de homens, fora a população local e as milícias que dependiam  inteiramente (caso de Mansambo, aquartelamento que fora construído de raíz e não tinha tabanca nem campos de cultivo...) dos abastecimentos feitos pela tropa. 

Nós levávamos-lhes praticamente tudo, até o correio.... Ou seja: o gasóleo (para as viaturas e o gerador eléctrico), o petróleo (para os frigoríficos), o arroz, a massa, o feijão, a carne, o bacalhau, o azeite, o vinho, as latas de conserva, as bolachas, as batatas, as bebidas em garrafa e em lata, os artigos de cantiga, e os demais mantimentos para um mês ou um mês e meio. Além dos cunhetes de munições, as granadas de morteiro, bazuca e obus, os materiais de construção, os sacos de cimento, etc.

Um dia seria interessante publicar a lista completa dos artigos e as respectivas quantidades que faziam parte dos nossos comboios de reabastecimento. Na galeria dos heróis desta guerra também estão os que alimentavam o nosso ventre insaciável , os homens da manutenção militar e os que faziam chegar os mantimentos, desde Bissau em LDG até ao Xime (no caso da Zona Leste) e depois daí em colunas até às sedes de sector ou comando operacional (Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego…). Ou através dos "barcos turras" que chegavam a Bambadinca. 

Era um comboio com várias dezenas de viaturas, incluimdo viaturas civis, de comerciantes de Bambadinca, Bafatá, Galomaro, Xitole, o Rendeiro, o Regala, o Jamil, as casas comerciais de Bafatá. como a Gouveia. As Berliet e as GMC (e, mais tarde,  as camionetas civis, já no decurso da Op Belo Dia III, em novembro de 1969) transportavam a carga, mas o condutor levava sempre escolta (menos de uma secção).

Para se chegar a qualquer uma das unidades acima referidas não havia mais nenhuma alternativa (terrestre). A estrada de Galomaro-Saltinho estava interdita, pelo que as NT ali colocadas dependiam do abastecimento feito a partir de Bambadinca. No entanto, a própria estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole estivera interdita entre Novembro de 1968 e Agosto de 1969 (*). 

O Op Belo Dia, a 4 de Agosto, já aqui sumariamente descrita (*),  destinou-se justamente a reabrir esse troço fundamental para as ligações do comando do sector L1 com as suas subunidades de quadrícula a sul. Um mês e tal depois fez-se uma segunda operação para novo reabastecimento, patrulhamento ofensivo e reconhecimento, a Op Belo Dia II.

2. São as peripécias dessa operação (Op Belo Dia II) que se relatam aqui. Mas ainda a propósito de meios de transporte, convirá referir que só Bambadinca possuía uma pista, com cerca de 150 metros, permitindo a aterragem de aeronaves como a Dornier, a DO-27.

No meu tempo o sargento piloto Honório, cabo-verdiano, era uma figura muito popular entre as NT, porque nos trazia o correio e alguns frescos. A sua fama era lendária, pela sua coragem e destreza, para não dizer "maluqueira" (, tolerada, mas não apreciada pelos outros pilotos da BA 12, em Bissalanca)... Era capaz de aterrar numa nesga de terra, dizia-se.  Em Mansambo só havia heliporto. No Xitole, também havia pista para avionetas.

De qualquer modo, o helicóptero, o AL III, só era usado para fins estritamente militares: apoio de helicanhão, transporte de tropas especiais e heliassaltos, evacuações Y para o hospital militar de Bissau. Argumentava-se que o helicóptero era um luxo, custando 15 contos por hora (mais do o ordenado mensal de dois alferes)…

Em contrapartida, as colunas de abastecimento da guerrilha e das suas populações eram feitas por carregadores, a pé, descalços, em bicha de pirilau, incluindo mulheres e até crianças e muitas vezes sem escolta militar, correndo o risco de serem interceptados pelas NT, como acontecia com alguma frequência na região de Missirá, a norte do Rio Geba (como em Chicri, a 12 de Setembro de 1969: muitas vezes as NT não faziam a distinção entre combatentes, armados, e elementos civis da população controlada pelo PAIGC que servia de carregadores; neste caso, levavam artigos comprados nas nossas barbas, em Bambadinca, onde só havia duas lojas, nas mãos de tugas, a loja do Rendeiro e a loja do Zé Maria)…

Porquê falar em sorte ? É que eu ia justamente à frente da viatura que accionou a mina, a tua vitura,a tua GMC,  Dalot. E ia justamente do lado do pendura, com uma perna de fora… À turista, como quem vai num alegre e matinal safari algures num parque no Quénia… Em suma, ia no "lugar do morto"... 

A pouco e pouco, o periquito ia ganhando confiança… Com três meses e meio de Guiné, e baptismo de fogo ainda muito recente (na Op Pato Real, a 7 de Setembro, na região do Xime, Ponta do Inglês)  considerava-me já quase um "veterano"…

Recordo-me da viatura em que eu ía: um Unimog 404… Apesar da relativa tranquilidade que nos davam a experiente equipa de 12 picadores que iam à nossa frente com dois grupos de combate apeados, a proteger os flancos, eu tinha recomendado ao condutor do Unimog (, já não me lembro o nome: o Adélio Monteiro não  era, vinha mais atrás ) que seguisse milimetricamente o rodado da viatura da frente… Um desvio de um milímetro podia ser fatal para o artista… Tu, Dalot, que  atrás de mim,  levavas um bicho que tinha dez rodas, dois rodados duplos atrás, e sete toneladas de ferro e arroz...

Daquela vez vez foste tu, Dalot,  e a tua GMC que voaram… Eu fiquei para a próxima, já lá mais para o fim da comissão, em 13 de janeiro de 1971, em Nhabijões... Também numa GMC!... Era a minha sina!...

A estrada (se é que se podia chamar estrada aquilo!), invadida pela floresta (, apesar da  desmatação recente, em abril/maio de 1969, Op Cabeça Rapada), as bolanhas, os curso de água, os charcos, etc. era mais estreita que as viaturas em certos pontos… Uma delícia para os sapadores do PAIGC, um quebra-cabeça para os nossos picadores, um stresse desgraçado para aqueles de nós que faziam guarda de flancos ou que iam em cima das viatura, ou os que conduiam as viaturas…

Em suma, gastávamos uma boa parte da nossa energia mensal a abastecer-nos uns aos outros em vez de fazer a guerra ao IN…

Estamos a falar da segunda quinzena de setembro de 1969, em que realizámos  mais outra operação a nível de batalhão afim de escoltar uma coluna logística do BCAÇ 2852 para as companhias de Xitole e Saltinho (Op Belo Dia II). Uma operação com 2 destacamentos (A e B) (*)

Dois Gr Comb [Grupos de Combate] da CCAÇ 12 (2º e 3º), um da CART 2339 [Mansambo] e o Pel Caç Nat 53 (que seguiria depois com o Dest B para o Saltinho) formavam o Dest [Destacamento] A,  cuja missão, além da picagem do itinerário, era escoltar a coluna até ao limite da ZA-Zona de Acção da CART 2339 [Mansambo] onde se efectuaria o transbordo da carga para outra coluna da CART 2413 [Xitole].

A coluna que chegou a Mansambo às 17.30 do dia 17 de Setembro, proveniente de Bambadinca, donde saira de manhã (longas horas inteiro para se fazer 18 km), prosseguiria no dia seguinte, tendo-se processado sem incidentes de maior até à ponte do Rio Jago, a cerca de 3 km do aquartelamento de Mansambo, altura em que se fez um alto para recompor a carga da viatura que seguia em 3º lugar. Passámos a noite nos "bunckers" de Mansambo.

Ao retomar-se a marcha, o rodado intermédio direito da GMC do Dalot (MG-17-21) que vinha imediatamente a seguir àquela, e que pertencia à CCAÇ 12, accionou uma mina A/C (anticarro) reforçada, tendo-se voltado espectacularmente. A viatura ficou muito danificada, tendo-se inutilizado parte da sua carga de 3 mil kg de arroz. Em virtude de ter sido projectado, ficou gravemente ferido um 1º cabo do Pel Caç Nat 53. O condutor da GMC, o soldado Dalot, saiu ileso.

A mina não fora detectada pela equipa de 12 picadores, seguida de 2 Gr Comb que progrediam na frente.

Alguns quilómetros à frente, junto à ponte do Rio Bissari foram detectadas e levantadas mais 3 minas (A/P) que deveriam fazer parte do campo de minas implantado pelo IN posteriormente à Op Belo Dia I, e das quais 7 já sido levantadas até então.

Pelas 13h do dia 18 de Setembro deu-se finalmente o encontro dos 2 Dest, tendo-se procedido ao transbordo da carga.

No regresso a coluna foi sobrevoada várias vezes por uma parelha de Fiat G-91 cujo apoio estava previsto na ordem de operações. Mansambo foi atingido pelas 17 h do dia 18, depois de se ter armadilhado a viatura cuja remoção se verificou ser impossível com os meios disponíveis na ocasião.

Inconsolável, tu, Dalot, lá deixaste  a tua querida GMC, de matrícula MG-17-21... A Guiné era um  cemitério de sucata, como viaturas (militares e civis) abandonadas pelas NT, destruídas por minas e roquetadas... Não tenho a certeza se esta viatura foi posteriormente desarmadilhada e rebocada para Bambadinca... Os custos de uma tal operação eram sempre elevados.

Onde quer que estejas, camarada Dalot (e eu espero bem que estejas vivo e de boa saúde), desejo-te as maiores felicidades possíveis e, já  agora um Natal quentinho, livre da Covid-19. Telefona-me para o 931 415 277. Teu camarada, Henriques.  (**)

As minhas felicitações natalícias são extensivas aos demais condutores autorrodas, todas eles gente brava,  da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 que viajaram comigo no T/T Niassa, de 24 a 29 de maio de 1969, de Lisboa com destino a Bissau. Alguns infelizmente já não estão vivos. A lista é antiga (e tem de ser revista). Acrescento também os mecânicos auto:

1º Cabo Cond Auto Luís Jorge M.S. Monteiro [, vivia em Vila do Conde ou Porto ?];

Sold Condutor Auto António S. Fernandes [, morada actual desconhecida];

Sold Cond Auto Manuel J. P. Bastos [, morada actual desconhecida];

Sold Cond Auto Manuel da Costa Soares [, morto em, mina A/C,em Nhabijões, em 13/1/1971];

Sold Cond Auto Alcino Carvalho Braga [, vive em Lisboa];

Sold Cond Auto Adélio Gonçalves Monteiro [, comerciante, Castro Daire; é membro da nossa Tabanca Grande];

Sold Cond Auto João Dias Vieira [ vive em Vila de Souto, Viseu];

Sold Cond Auto Tibério Gomes da Rocha [, vivia em Viseu, faleceu em 6/12/2007;

Sold Cond Auto António S. Fernandes [, morada actual desconhecida];

Sold Cond Auto Francisco A. M. Patronilho [, vive em Brejos de Azeitão];

Sold Cond Auto Manuel S. Almeida [, morada actual desconhecida];

Sold Cond Auto António C. Gomes [, morada actual desconhecida];

Sold Cond Auto Fernando S. Curto [, vive em Vagos];

Sold Cond Auto Aniceto Rodrigues da Silva [,falecido em 3/1/2021;  membro a título póstumo da nossa Tabanca Grande];

Sold Cond Auto Manuel G. Reis [, morada actual desconhecida];

Fur Mil MAR Joaquim Moreira Gomes [, vive em Esposende ou Maia ?];

1º Cabo Mec Auto Renato B. Semedeiros  [, vivia na Reboleira, Amadora];

1º Cabo Mec Auto António Alves Mexia [, morada actual desconhecida];

Sold Mec Auto Gaudêncio Machado Pinto [, morada actual desconhecida].




Guiné > Região de Bafatá  > Algures > 1973 > Uma Daimler, avariada, é levada em cima de uma GMC... Sítio ? Talvez Bambadinca, talvez Bafatá, junto ao Rio Geba... quando o João Carvalho veio de férias à metrópole, vindo de Canjadude, Gabu, onde estava aquartelaad a sua CCAÇ 5.  (Em 1971, no CTIG havia pouco mais de duas centenas e meia de GMC, das quais praticamente metade estavam inoperacionais... E das 108 Daimlers existentes, 75% estavam inoperacionais.

Foto (e legenda): © João Carvalho (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné> Região de Bafyá > Sector L1 (Bambadinca) > Carta do Xime (1961) > Escala: 1/50 mil > Troço da Estrada de Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho> Assinalada, com um círculo a azul, a ponte do Rio Jago onde a GMC MG-17-21, conduzida pelo Dalpot,  com 3 toneladas de arroz, accionou uma mina anticarro, no dia 18 de Setembro de 1969. O quartel de Mansambo vem sinalizado com um retângulo.

A distância de Bambadinca, a Mansambo, Ponte dos Fulas, Xitole e Saltinho era, respectivamente, 18, 33, 35 e 55 quilómetros. As colunas logísticas, de reabastecimento, podiam levar um dia ou até mais (na época das chuvas) a fazer este percurso perigoso, npomeadamete o troço Mansambo-Xitole   (interdito entre Novembro de 1968 e Agosto de 1969 ). A CCAÇ 12 participou em diversas colunas logísticas a Mansambo, Xitole e Saltinho (junto ao Corubal) e mesmo Gondomar. (*)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)

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Notas do editor: L.G.

Vd. também poste de 20 de maio de  2005 > Guiné 63/74 - P22: O inferno das colunas logísticas na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho (Luís Graça)

(...) Desde Novembro de 1968 que o itinerário Mansambo-Xitole estava interdito. Nessa altura, uma coluna logística do BCAÇ 2852, no regresso a Bambadinca, sofrera duas emboscadas (uma das quais, a primeira, com mina comandada), a cerca de 2km da Ponte dos Fulas, na zona de acção da unidade de quadrícula aquartelada no Xitole (CART 2413). A coluna prosseguiu com apoio aéreo.

Nove meses depois, fez-se a abertura desse itinerário, mais exactamente a 4 de Agosto de 1969. Na Op Belo Dia, participou o 2º Gr Comb da CCAÇ 12 com forças da CART 2339 (Mansambo), formando o Destacamento A. (...)

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Guiné 61/74- P22302: Reavivando memórias do BENG 447 (João Rodrigues Lobo, ex-cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, Brá, 1968/71) - Parte I: sem falsa modéstia, um exemplo de empenhamento e competência

 

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 > O João Rodrigues Lobo, ao volante de uma viatura.


Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 > O João Rodrigues Lobo junto às viaturas. O PTE tinha 90 condutores. Legenda do autor: "1969. Frente à coluna experimental".



Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 >  "1970: prestes a sair com a coluna de transporte de máquinas"



Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 >  "1969: Em cima de um autotanque".


Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 > "1969: mais uma foto para a pose".



Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 >  s/d: "uma enorme coluna do PTE".... A estrada (asfaltada) não está identificada, mas podia ser a de Nhacra - Mansoa - Mansabá... Não havia muitas na altura... Vê-se ao fundo aquilo que pode um aquartelamento. Por outro lado, a vegetação é rasteira, dando indícios de capinagem relativamente recente... (LG)



Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 > O novo jipe sul-africano.

Fotos (e legendas): © João Rodrigues Lobo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Joaquim Costa / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1, Mais fótos do álbum do João Rodrigues Lobo, que acaba de entrar para a nossa Tabanca Grande (*),

Recorde-se que, sendo natural de´Óbidos,  mas estando a residir em Luanda, foi fazer o 1º COM na EAMA (Escola de Aplicação Militar de Angola - Nova Lisboa), no último trimestre de 1967,  

Tirou a especialidade de Transportes Rodoviários no CICA - GAC 1, em Luanda. Quando estava colocado no Quartel General de Angola - 4ª Repartição, sendo comandante de MVL (Movimento de Viaturas Logísticas), fazendo as as colunas logísticas destinadas ao norte de Angola, é mobilizado para a Gunié, como Alferes Miliciano. 

Passa a comandar o PTE (Pelotão de Transportes Especiais) do BENG 447. Chega ao CTIG,  em rendição individual em dezembro de 1968, na véspera de Natal.

 O Pelotão de Transportes Especiais (PTE) era constituído por: (i) um alferes miliciano; (ii) dois sargentos do QP ; (iii) quatro furrieis milicianos; e (iv) cerca de noventa condutores auto (quase uma companhia...), parte deles do recrutamento local.

O PTE era responsável pelo transporte do pessoal de Engenharia, das Máquinas de Engenharia, e de todos os materiais de construção para e nas obras de estradas, aquartelamentos e reordenamentos.

O PTE também recepcionava todos os materiais militares que eram recebidos em navios fretados e carregava os materiais nas LDG e LDM da Marinha, no cais do Pijiquiti, para distribuição pelos aquartelamentos por estas servidos.

Faz questão de dizer que "o trabalho desenvolvido pelo nosso PTE foi, sem falsa modéstia, um exemplo de organização e dedicação de todos os seus elementos, que contribuiu para o meritório trabalho realizado por todos os militares, engenheiros e profissionais do BENG 447. Os condutores auto estavam sempre onde era preciso, sem eles NADA SE MOVIA !" (*)

Acabou a Comissão em Janeiro de 1971, passndo à disponibilidade em 11 de fevereiro de 1971. 

Prometeu-nos "reavivar as memórias do BENG 447, Grande Batalhão que concretamente FEZ OBRA!"
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 20 de junho de  2021 > Guiné 61/74 - P22300: Tabanca Grande (518): João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, dez 1967/fev1971)... Fez o 1º COM, em Angola, Nova Lisboa. Vive em Torres Vedras. Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 841.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22059: (In)citações (183): A propósito da(s) jangada(s) do Cheche... e lembrando aqui mais mártires do Boé: o major Pedras, da Chefia do Serviço de Material, QG/CTIG, e o fur mil Jorge, do BENG 447 (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM; CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Partida de mais um coluna logística com destina ap Cheche, Beli e Madina do Boé. Era sempre uma operação de grande envergadura, envolvendo muitas viaturas e pessoal.  Normalmente iam elementos da CCAÇ  5 (Canjadude) à frente, a picar a estrada. A companhia de intervenção de Nova Lamego, naquela época (set 1967/ abr 1968)  era a CART 1742, do Abel Santos. "Sentia estas deslocações como algo de grande perigo, dadas as minas, os mortos e feridos que  caíram por aquela estrada, e com este sentimento, resolvo um dia acordar mais cedo e fazer as fotos, que para mim, são uma ‘nostalgia’ incrível, que nunca esqueço". (*)

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário,   ao poste P22053 (**),  de Virgílio Teixeira [, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem 161 referências no nosso blogue]:

O DESASTRE DO CHECHE

Alguns contributos para a tentativa de esclarecer aquele terrível acidente, que por muito tempo que ainda andemos por cá, nunca será esclarecido, é um daqueles mistérios que ninguém quer ver revelados, é a minha opinião, sem qualquer intenção de julgar, até porque nada sei mais do que os outros.

O Abel que não tenho o prazer de conhecer, esteve em Nova Lamego e Buruntuma. É mais antigo que eu, perguntava-lhe se esteve lá no mesmo período que eu; 21-09-67 até 26-02-68. 

A CART 1742 fazia parte de um grupo de 17 Unidades que estiveram naquele período sob o comando do BCAÇ 1933. Eu não conhecia bem as instalações da chamada Companhia de baixo, a CART 1742, ao contrário, em São Domingos, com a CART 1744, que conhecia e bem e confraternizávamos, pois, aquilo era mais pequeno, e que penso que a 1744 ser do mesmo Batalhão.

Estive a ler,  na História da Unidade, todos os acontecimentos no período de Nova Lamego, e não encontro referência a muita coisa, não sei qual o critério que seguia a história.

Contudo vejo que a CART 1742 estava sediada em Nova Lamego, apenas o 3º pelotão estava em Camajabá. O Abel não sei de que pelotão era.

Ele diz que a foto nº 1 é de Janeiro de 1968, estava eu lá, em Nova Lamego, e notava-se sempre grande burburinho com as famosas colunas para Madina e Béli, tudo se agitava à volta deste tipo de acontecimentos, eu tenho reportagens feitas de madrugada a quando da saída das colunas.

Na história da Unidade – HU – não consta por exemplo a emboscada que provocou a morte do Alferes Gamboa e outros, perto de Piche,  da CCAV 1662, foi no 4º trimestre de 67.

Como também não refere aqui um caso que muito chocou a malta em Nova Lamego: a emboscada de uma coluna vinda de Nova Lamego, após rebentamento de minas perto do Cheche, e na sequência da qual foi morto com uma bazuca o Major Pedras, entre outros. 

Este acontecimento causou grande consternação, em especial à mulher e família que estavam em Bissau. Os pormenores foram-me contados por um dos meus amigos, um soldado condutor, que estava lá presente, e que eu encontro com frequência em Vila do Conde, é um empresário da Têxtil em Guimarães, que me tem muito em consideração, e que eu retribuo.

Este oficial que eu conheci na messe, pertencia ao Batalhão de Engenharia [BENG 447], e vinha com frequência a Nova Lamego, pois era o responsável pela operacionalidade da Jangada da morte.

Nunca me ocorreu, mas agora pergunto: essa foto nº 1, seria já uma nova jangada com as 3 pirogas mandada construir pelo Major Ruas? Não sei mais nada.

No dia 17 de Janeiro de 1968, dá-se a operação Lince, nome dado à operação de retirada da CCaç1589 de Madina do Boé, substituída pela CCAÇ 1790 do meu Batalhão e do Capitão Aparício. 

Esta operação de 5 dias mobilizou enormes meios humanos e materiais, e lembro-me de ter assistido à chegada dos homens daquela companhia a Nova Lamego completamente pirados, com o devido respeito, tinham passado um ano naquela fogueira, isolados do mundo.

O Abel, caso tenha participado nesta operação, deve saber muito mais, e pelo menos sabe mais do que eu, mesmo que não tivesse estado nessa operação.

Fica aqui o meu pequeno contributo, para a história deste caso, 

PS - O incidente no Cheche, atrás referido, teve como protagonistas o Major Pedras   bem como o Furriel Jorge, ambos foram atingidos, um morreu no local - o furriel Jorge - o Major foi evacuado para o HM 241 em Bissau, onde veio a falecer pouco depois. A esposam após ver a sua morte, deu-lhe um ataque,  insultando todos de «assassinos».

Aquela jangada da foto nº 1 não é a do acidente [, em 6 de fevereiro de 1969], esta é uma pequena jangada só para pessoas, a jangada do acidente era enorme, para levar GMC e militares, não podia ser esta.

Foi-me contado por um soldado condutor que esteve no local várias vezes e assistiu a tudo, inclusive na ajuda a carregar o Major para o Heli, ele era um homem forte com peso, um farto bigode. Eram ambos do Batalhão de Engenharia de Bra, e responsáveis pela manutenção da estrutura de travessia do Rio Corubal, no Cheche. (***)

2. Comentário do editor LG:

Virgílio, é a primeira vez, se bem recordo, que aqui se fala dessa emboscada, durante uma  coluna logística no Boé,  que vitimou um oficial superior, o major Pedras, além do furriel mil Jorge, que dizes terem pertencido, ambos,  ao BENG 447.

Na Liga dos Combatentes > Mortes do Ultramar vem a seguinte nota de óbito;

Nome: Luís Vasco da Veiga Ferreira Pedras
Posto: Major;
Ramo: Exército;
Teatro de operações: Guiné;
Data: 15/01/1968;
Motivo: Combate
 
A única referência que temos, no nosso blogue, a este oficial superior (, que não era do BENG 447 vem no poste P1370 (****):

(...) Chefia do Serviço de Material / QG-CTIG

Luís Vasco da Veiga Ferreira Pedras, Major do Serviço de Material, natural de São João das Caldas / Guimarães, inumado no cemitério do Alto de S. João em Lisboa, foi vítima , em 13Jan68, de ferimentos recebidos em combate junto a Fariná, durante uma coluna no itinerário Canjadude ao Che-che, vindo a falecer no Hospital Militar 241 em 15 de Janeiro de 1968.

O fur mil Abílio Duarte Jorge, que morreu logo no local, em 13 de janeiro de 1968, esse é que era do BENG 447. Era natural de Montelavar, Sintra.

O martirológio do Boé é impressionante, foi há aqui feito há 15 anos atrás pelo nosso dedicado camarada e amigo, José Marcelino Martins, ex-fur mil, da CCAÇ 5, "Gatos Pretos" (Canjadude, 1968/70). (****)
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(****)  Vd. poste de 15 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

Vd. também postes de:


21 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)

quarta-feira, 24 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22032: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte Vi: (i) batismo de fogo... com a reza do terço; e (ii) uma patuscada... de gato por lebre!


Foto nº 1 >  - Simulando o ataque a um avião inimigo. Cada tiro cada melro... pois aviões ca tem... A tropa não deixa de me surpreender: Antiaéreas em Aldeia Formosa? Os nossos amigos, ou IN, tinham mísseis terra-ar Strela!
 
 
Foto nº 2 - Em Aldeia Formosa, com todas as comodidades embora já batizados, com a 1a comunhão marcada e o Crisma garantido > da esquerda para a direita os furriéis da companhia: Camarada que mudou de vida depois de ir de férias! Costa, Gouveia, Vieira, Albuquerque e o soldado Covas

Foto nº 3 - Aldeia Formosa -No banco da frente> O aluno do Colégio das Caldinhas e Albuquerque (o condutor). No banco de trás: Martins e Costa, armados em grandes senhores


Fig. 4 - Natal em Aldeia Formosa (1972): Gouveia, Martins, Machado, o homem do colégio das
Caldinhas, Costa, Albuquerque e Beires. Todas na bicha para o champanhe...
 
Fotos (e legendas): © Jaoquim Costa (2021). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Joaquim Costa, hoje e ontem. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondomar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado.


Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-
Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VI

O batismo de fogo... com a reza do terço


Entramos na rotina de patrulhas no mato; fazer a proteção à coluna semanal para Buba e principalmente fazer a proteção a uma equipa de engenharia do exército na construção de uma estrada, de interesse estratégico, com o objetivo de criar as condições de segurança para a reocupação de tabancas abandonadas, no tempo do antigo governador [, gen Arnaldo Schulz?], por força da intensa atividade do IN na zona com elevadas perdas humanas.

Todos as manhãs a azáfama era grande na preparação da coluna que partia diariamente de Aldeia Formosa para a frente de trabalhos. Esta coluna transportava´,  para al
ém dos soldados, (i)  um grande grupo de homens da população empunhando grandes catanas (os chamados capinadores), que tinham a árdua tarefa de seguir à frente dos trabalhos capinando todo o tipo de vegetação para permitir a entrada das máquinas;  (ii) os manobradores das máquinas de engenharia;  bem como (iii) alguns elementos da população, sempre acompanhados pelas suas cabras, galinhas e porcos, na sua deslocação a Mampatá.

Quanto à coluna para Buba, a primeira vez que o meu pelotão foi escalado para fazer a sua proteção, fiquei impressionado com os preparativos para a mesma. Não havia Berliet que não levasse,  para além dos soldados, que faziam a proteção, grandes grupos de população local (em grande algazarra) em trânsito para as diferentes tabancas que ficavam no caminho até Buba, sempre acompanhados pelas suas cabras, galinhas e porcos; que fugiam e esvoaçavam por cima e por baixo das viaturas recusando o embarque (sim… os porcos voavam!).

Não obstante a insistência do chefe da coluna de que nem todos, por razões de segurança, podiam fazer a viagem, ninguém ficava em terra.

Fazer aquela coluna era sempre uma grande odisseia: no tempo das chuvas,  o adversário maior era a lama, o atolar de várias viaturas, bem como o remoção de árvores caídas na picada. No tempo seco o grande adversário era o pó fino vermelho da picada que se levantava em nuvem, não permitindo ver as viatura que iam na frente. Era um ar irrespirável, mesmo com o lenço tabaqueira na boca a servir de máscara. 

Chegados a Buba e no regresso a Aldeia Formosa,  ninguém reconhecia ninguém, só se viam os olhos, dada a quantidade de pó vermelho colada no rosto com o suor. Durante vários dias, do que saía da boca e nariz o pó vermelho predominava.

Não era permitido mas muitos soldados se ofereciam para fazer a viagem na arrastadeira (a dita viatura rebente-minas) na época seca na ânsia de fugir ao pó.

A famosa Cecília Supico Pinto (mais conhecida no teatro de guerra por Cilinha, destemida presidente do Movimento Nacional Feminino) (#), nas suas inúmeras visitas à frente de Guerra viajava, segundo alguns relatos, nesta arrastadeira para evitar o pó por forma a chegar sempre com aspeto aceitável junto dos soldados. Nunca assisti a uma visita sua mas de acordo com os relatos fazia questão de se deslocar às zonas mais perigosas,  vestida como fosse a uma festa nos salões do Casino do Estoril.

Entretanto, como bons cristãos, tudo começa com o batismo… com muita reza… e muita “festa”.

Poucos dias após a nossa chegada a Aldeia Formosa, estava eu a jogar com o Gouveia (O Beirão , “Alcaide de Almeida”) uma partida de damas, a fazer horas para o jantar (geralmente arroz com estilhaços), quando vejo um clarão e ouço um grande estrondo na copa de uma árvore junto de nós, seguida de rajadas de metralhadora e mais rebentamentos espalhados pelo quartel, com a resposta quase imediata das nossas antiaéreas (que faziam fogo direto para a mata) e de metralhadoras.

Mas que grande “festival” com os RPG a rebentarem por cima das nossas cabeças e o “matraquear” das metralhadoras de um lado e do outro! 

De tal maneira fiquei atrapalhado (, foi um batismo assustador, reagindo no momento, quase... como o amigo “merdalómano” de Tavira, ) que permaneci imóvel, sem saber o que fazer e completamente atarantado, com toda a gente a fugir para as valas. Saio deste torpor empurrado por um “velhinho” para a vala ainda com o tabuleiro na mão que de seguida voou com um chuto do camarada e lá nos resguardamos, eu numa vala e o Gouveia noutra.

Passado uns segundos cai em cima de mim um peso enorme – era o Sargento Redondeiro que, na queda, me prende uma perna, situação bastante dolorosa. Então na vala alguém começa a rezar:

− Ai, minha mãezinha,  reza por mim!

Ao que eu respondo:

– Ai, Redondeira,  liberta a minha perna!

E ele:

− Ai, nossa Senhora de Fátima tem piedade de nós!

E eu:
−  Ai,  Redondeiro liberta a minha perna!

E ele:

− Ai, meu bom Jesus, cuida de nós!

E eu:

− Ai,  Redondeiro, liberta a minha perna!

E a lengalenga continuou... E assim estivemos os dois a “rezar o terço” até ao fim do ataque. No final não sei se fiquei mais aliviado por o Redondeiro libertar a minha perna, se pelo fim do ataque do IN…

Recordo sempre com muita saudade e ternura este bom homem, contudo, em nome da verdade, depois de sairmos da vala, não identifiquei o homem que rezou comigo.


Gato por lebre...


Já com amizades consolidadas com os velhinho de Aldeia Formosa, juntamente com outros camaradas, fomos convidados, por um furriel africano, para uma patuscada.

O nosso amigo guineense, grande caçador, havia caçado, segundo se constava, uma cabra de mato e fazia questão de a partilhar com os periquitos acabados de chegar.

A convites destes “não se olha a dente”, é de aceitação obrigatória, particularmente vindo de um simpático amigo furriel guineense com fama de grande caçador e mais de bom cozinheiro.

Quando chegamos já se sentia o cheirinho agradável dos condimentos próprios da região na preparação da carne.

Para quem comia ao almoço ração de combate e ao jantar arroz com estilhaços, tínhamos a sensação de estar no Artur, em Carviçais (restaurante em Torre de Moncorvo especialista em carne de caça), pelo que fomos molhando a goela com umas cervejas, utilizando como lastro umas bem torradas castanhas de caju…

Enquanto esperavamos, o nosso anfitrião lá nos foi contando as suas histórias de grande caçador (na altura praticamente impossível por razões óbvias) bem como a melhor forma de preparar cada peça de caça. Para cada peça a sua arte: gazela, cabra de mato ou porco espinho cada qual o seu tempero.

A conversa era boa mas a fome já apertava, pelo que fomos ocupando os nossos lugares para o repasto. Chega o dito à mesa, com um aspeto esplêndido e um cheirinho de fugir. Ao primeiro pedaço sentiu-se um sabor divinal. Enquanto houve carne, houve um silêncio de igreja (não confundir com roubo de igreja).

Terminado o repasto, bem regado, logo apareceu uma viola alegrando o ambiente soltando-se algumas vozes, um pouco roucas devido ao gindungo, cantando músicas africanas (a caminho do porto cais,  furriel com a carta na mão...). 

Chegada a hora da partida, enquanto agradecíamos o convite para tão fausto jantar, o anfitrião, com toda a candura diz alto e bom som: ainda bem que os meus amigos gostaram, não há ninguém melhor do que eu a preparar macaco-cão…

Com o aumento da pobreza extrema na Guiné-Bissau, nos dias de hoje, mais de 1500 macacos são vendidos anualmente como carne nos mercados urbanos da Guiné-Bissau, mas muitos mais são caçados e não chegam ao destino, temendo-se a extinção de algumas espécies .

Os cientistas constataram também que é difícil identificar as carcaças de primatas que chegam aos mercados urbanos, o que compromete os esforços de conservação.

Vendem gato por lebre. Diziam estar a vender uma determinada espécie, mas depois a grande maioria pertencia a outra espécie.

Da grande colónia de macacos com os quais convivemos diariamente na altura, e que faziam as nossas delícias, muitas vezes confundindo-os com grupos do IN, de acordo com as informações que chegam de alguns cooperantes, hoje na Guiné, com o consumo nas zonas rurais como subsistência e com o comércio organizado, já é muito raro encontrar esta espécie nas matas da Guiné.

(Continua...)
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Nota do autor:

(*) Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto (Lisboa 30 de Maio de 1921 – Cascais 25 de Maio 2011) conhecida popularmente como “Cilinha”, foi a criadora e presidente do Movimento Nacional Feminino, uma organização de mulheres que durante a guerra colonial prestou apoio moral e material aos militares portugueses. Era esposa de Luís Supico Pinto, antigo ministro da Economia de Salazar

No cargo de criadora e presidente do Movimento Nacional Feminino, em 1961, atingiu grande popularidade e uma considerável influência política junto de Oliveira Salazar e das elites do Estado Novo. Visitou com muita frequência as tropas em África (tinha um carinho especial pela Guiné - a quem chamava a minha Guinézinha), promoveu múltiplas iniciativas mediáticas para angariação de fundos.

Granjeou um carinho muito especial dos militares da Guiné, mesmo daqueles que estavam nas antípodas (que eram quase todos) dos valores que defendia, pela sua coragem, deslocando-se aos locais mais isolados, sem quaisquer tipo de mordomias especiais, estando mesmo algumas vezes debaixo de fogo sem nunca demonstrar o mínimo de receio ou pânico.

A todos dava uma palavra de ânimo e conforto sempre com um semblante alegre e genuíno. A ela se deve a criação do mítico aerograma bem como a distribuição de livros e outros materiais em particular no Natal. Chegou a desafiar Salazar, que enfatizava o seu amor às colónias, a acompanhá-la numa das suas visitas a África, sem sucesso,  já que o homem nem a Badajoz foi comprar caramelos. Nunca saiu da sua zona de conforto.. a mesma que o acabou por matar!!!
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Nota do editor:

(...) Com a nossa chegada a Aldeia Formosa as mulheres locais acorreram em grupos à procura dos “periquitos” oferecendo os seus préstimos para a lavagem da roupa.

O dia da lavadeira era o mais esperado da semana no quartel. Vinham em rancho com os seus trajes coloridos, com a trouxa de roupa à cabeça e uma alegria contagiante nos rostos. Aguardavam impacientes junto ao sentinela a autorização para entrarem no quartel, o que geralmente acontecia ao meio da tarde, e era vê-las entrar em grande algazarra, de sorrisos rasgados, dispersando-se pelo quartel como rebanho comunitário acabado de chegar, do monte, ao povoado. (...) 

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20517: In Memoriam (359): Carlos Marques dos Santos (1943-2019), um camarada afável e generoso, um "viriato" da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69), um veterano, "futrica", da Tabanca Grande, e a quem dizemos "adeus, camarada, até qualquer dia!"


Coimbra > Santo António dos Olivais > Aguarela da igreja paroquial. Autoria: Sofia Santos, s/d, filha do Carlos Marques dos Santos (1943-2019), com formação superior em pintura.

Foto ( e legenda): © Carlos Marques dos Santos (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

O CMS no destacamento do rio Udunduma
(c. junho/julho de 1969)
1. Alguns depoimentos / comentários de camaradas nossos, no Blogue e no Facebook, que conheciam e estimavam o Carlos Marques dos Santos (1943-2019), ex-fur mil, CART 2339, "Os Viriatos" (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69) (*)


(i) Luís Graça:

Bolas!, o Carlos ia fazer os 77 anos no próximo dia 2 de janeiro... Há já uns anos que eu não tinha
notícias dele... Sabia, sim, que tivera em tempos uns problemas de saúde, de coração, que o afastaram do nosso convívio... Depois da Ameira, de Pombal, da Ortigosa...

É um duro golpe para todos nós, camaradas da Guiné, em geral, e para os camaradas, em particular, que o conheceram em Bambadimca e em Mansambo (em 1968/69)... Para mim, que convivi algumas vezes como ele quando ia Coimbra, sua terra natal, em trabalho, na Faculdade de Ciências e Tecnologia... Conheci-o, de resto, na Ameira, em 14/10/2006: foi ele quem organizou, com o Paulo Raposo, o nosso I Encontro Nacional... E também ajudou o Vitor Junqueiro a organizar o segundo, em Pombal, no ano seguinte.

Tinha um grande amor pela sua terra, Coimbra, e em especial pelo seu "chão", a freguesia  de Santo António dos Olivais. Os nossos camaradas Victor David (CCAÇ 2405) e o Carlos Marques Santos (CART 2339) eram primos, nados e criados em Santo António dos Olivais onde tradicionalmente havia uma rua dividida pelo famoso "paralelo 98": uma linha imaginária que nenhum estudante podia transpôr, sob pena de sofrer as devidas consequências...

Era, por outro lado,  um homem de grande afabilidade. E eu posso testemunhar o carinho ele que tinha pela família (a esposa Teresa, as filhas Inês e Sofia...). Que dizer-lhes, neste grande momento de dor ? Que o nosso coração está com elas... e que o Carlos não ficará na vala comum do esquecimento... Luís Graça

(ii)  Carlos Vinhal:

Tenho, como data de nascimento do Carlos,  o dia 2 de Janeiro de 1943, embora ele tenha embarcado para a Guiné em 1968, portanto um pouco tarde. Talvez tenha pedido algum adiamento.Já contactei via mail a sua filha Inês a quem, em nome da tertúlia e dos editores, apresentei as nossas condolências.

(iii) Jorge Picado:

A todos os familiares deste nosso camarada Carlos Marques Santos, mais um que nos deixa, os meus sinceros pêsames.

E assim vão acabando os ex-combatentes da Guerra Colonial, para descanso de quem nos (des)governa.

Até um dia, camarada!

(iv) Jorge Cabral:

Os meus mais profundos sentimentos! Conheci-o ainda na Guiné. Piriquito, fui render o seu Pelotão na Ponte do Udunduma, no fim de Junho de 1969. A minha total solidariedade com a Família e com os Amigos!

(v) José Martins:

É com tristeza, mas infelizmente sem surpresa, [que damos conta]  da partida dos camaradas que presamos e com quem, mesmo à distância, convivemos.

Foi aqui, neste espaço virtual, que nos conhecemos, nos respeitámos e passamos a ser camaradas e, mais que tudo isso, AMIGOS.

Vivemos na mesma terra lá longe e foi isso que nos uniu. Em breve voltaremos a encontrar-nos.

Condolências à família, amigos e camaradas.

(vi) Jorge Araújo:

À família e amigos do nosso camarada Carlos Marques envio as minhas sentidas condolências pela sua morte.

Descansa em paz, camarada.

(vii) Juvenal Amado:

É sempre difícil saber que partiu mais um elemento desta grande família e mais difícil quando parte alguém com quem privamos nalgumas ocasiões. Estive com ele à conversa na Tabanca do Centro onde ouvi as suas estórias da sua comissão. Lamento saber que se calou para sempre. à família enlutada envio os meus mais sinceros sentimentos.

(viii) Hélder Sousa:

É com tristeza que agora mesmo tomei conhecimento do falecimento do Carlos Marques Santos
O meu contacto com ele foi logo que me apresentei aqui na "Tabanca",  para o Encontro em Pombal [, em 2007]. Foi com ele que me "mandaram" contactar para poder integrar esse Encontro.

Portanto, em pessoa, foi ele o primeiros "rosto" deste local de memórias. E agora é de memórias que estamos falando. Que a memória do Carlos não se perca!

Sentidos pêsames.

(ix) Virgínio Briote:

Que é que se há-de dizer quando se perde um Camarada?

Condolências á Família.

(x) Albano Costa:

Encontrei-me com ele através do basquete e comunicamos também através do nosso blogue. Foi uma surpresa esta triste notícia. Os meus sentimentos à sua família.


2. Reprodução de um dos textos, mais antigos,  do Carlos Marques dos Santos (**)

Sendo o meu berço de nascimento [, Santo António dos Olivais, Coimbra]  e porque na altura almoçámos juntos lá perto (eu, tu e o Victor David) envio a título pessoal uma imagem real da Igreja  [, foto à esquerda,] e uma aguarela feita pela minha filha Sofia, licenciada em Pintura. Esta aguarela tem alguns anos e foi realizada ainda antes de entrar em Pintura [, vd imagem acima].

Tenho lido tudo o que se tem escrito [, no blogue]. É imparável e riquissimo o teu / nosso  blogue, mas tal como tu, já quase não consigo organizar ideias e novos documentos. Vou vêr se consigo participar, ponto por ponto, com algo de interesse.

A minha história militar - que é de 41 meses de tropa (hoje falava-se de no mínimo 36 meses), pois fui mobilizado no último dia possível e a minha classificação indiciava que iria para Timor ou S. Tomé - é talvez algo diferente, como já te disse, porque nós vivemos no mato, em Mansambo, dentro de arame farpado, sem populações, sem água, sem luz, picando a estrada para irmos a Bambadinca durante 17 kms, muitas vezes com o apoio dos obuses 105 mm.

Recordo que um dia, numa coluna de reabastecimento de materiais para a edificação de Mansambo, foram precisos 2 (dois) dias... Era na época das chuvas...

17 kms em 2 dias? Quem, a não ser nós, acreditaria nisto?!

Ficámos abrigados numa tabanca no meio do percurso, com toda a coluna atascada. Transportávamos 30.000 kgs de diverso material de construção.

Apanhámos, com o consentimento dos nativos, os frangos disponíveis e fizemos churrasco, temperado com as pastilhas de desinfecção da água (seria Sal?).

Digo com o consentimento, porque houve alturas em que não havia consentimento nenhum. Com os Balantas, de Fá de Baixo, era correr atrás dos leitões, apanhá-los e largar para um churrasco.

Enfim, experiências de vida.

Um abraço, Luís,
CMS

3. Comentário de Luís Graça:

Escrevi em 7 de fevereiro de 2006: 

(...) "Estive hoje em Coimbra, nos Olivais, com o nosso camarada Carlos Marques dos Santos, ex-furriel miliciano atirador de artilharia, da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), bem com o seu primo, o Vitor David, que foi alferes miliciano da CCAÇ 2405 (Galomaro, 1968/69).

"Este último prometeu entrar para a nossa tertúlia e esclarecer alguns pontos (polémicos) da travessia do Corubal, no Cheche, que esteve na origem na tragédia do dia 6 de Fevereiro de 1969, já aqui ontem evocada. O Vitor não participou na Op Mabecos Bravios, ficou no aquartelamento com o seu grupo de combate, mas assistiu, com a angústia na alma, à recepção, na sala de cripto, das mensagens com a lista dos mortos...

"Proporcinou-se estar com estes dois camaradas, que tiveram a gentileza de me ir buscar e levar ao comboio, estação de Coimbra-B (...)  Almoçámos juntos, matámos saudades, juntos, dos tempos da Guiné e até mandámos vir rancho (!) para o almoço.

"Prometi voltar aos Olivais onde, nos bons velhos tempos, os futricas impunham a lei aos estudantes, impedindo-os de ultrapassar o famoso paralelo 98... Por sorte o serviço (académico) que eu tinha a fazer era para aqueles lados, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Espero lá voltar mais vezes, até por que fiquei com enorme pena de não poder visitar a belíssima igreja de Santo António dos Olivais. Tanto o Carlos como o Vitor são excelentes cicerones e têm o privilégio de continuar a viver no chão que nos viu nascer e criar. "(...)

 PS - "Futrica" era o nome que os estudantes de Coimbra davam a todos aqueles que não eram estudantes...