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terça-feira, 28 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23393: Blogoterapia (302): Uma história verídica com o seu quê de humano (José Colaço, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557)

1. Mensagem enviada pelo nosso camarada José Colaço, ex-Sold TRMS da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), com data de 26 de Junho de 2022, trazendo até nós...

Uma história verídica com o seu quê de humano

Eu no Cachil, Ilha do Como, na Guiné, a tratar de dois tecelões que tinham caído do ninho numa noite de tempestade, do embondeiro,  que quase tinha mais ninhos que folhas, todos aqueles pontos mais escuros são ninhos. Ainda bebés, nem sequer abriam os olhos, por esse motivo quando viram a luz do dia eu era o seu querido progenitor. O que era difícil compreender é que eles não estavam em cativeiro, gaiola fechada, iam ter com os outros pássaros e à hora para comer e dormir regressavam à gaiola que tinha sempre a porta aberta.

"Batizeios" por "Xico 1" e "Xico 2". O Xico 2 não chegou a sair do Cachil, adoeceu e morreu.
O Xico 1, que a seguir à morte do irmão passou a ser só Xico, veio comigo para Bissau e foi para Bafatá onde teve um fim triste, um gato vagabundo filou-o e foi um adeus ao Xico.

O Xico tinha um óbi, rasgar papéis, prendia-os com uma pata e era um ver se te avias, eu pessoalmente tinha que ter muito cuidado com as mensagens que recebia via rádio para o Xico não fazer a sua tradução.
Também tinha muitas participações de camaradas que vinham ter comigo a fazer "queixa":
- Colaço o teu "pardal" tecelão rasgou-me o aerograma.

O sacana do passarinho era maroto, quando nós estávamos a escrever punha-se à espreita e logo que nós nos distraíamos dava uma bicada no papel e lá ia ele todo feliz com um bocadinho de papel no bico, voando para longe.

Nota: - Publiquei esta história na minha página do facebook e o Virgínio Briote incentivou-me que a enviasse para o blogue, porque na guerra também se passa o oposto e com mais gosto. Se vos parecer que deve ocupar um espaço no blogue, publiquem.
José Colaço

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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE FEVEREIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23025: Blogoterapia (301): E a montanha pariu um rato... (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872)

terça-feira, 16 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22012: Os nossos seres, saberes e lazeres (441): Vicente, o corvo do Parque da Cidade do Porto, que não empatiza por dádivas, mas somente por quem estiver na mesma onda (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)


Parque da Cidade do Porto > O Vicente


1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 12 de Março de 2021 onde nos fala do seu novo amigo Vicente:

O CORVO DO PARQUE DA CIDADE DO PORTO

A necessidade de andar, de espaços livres e naturais, leva-me muitas vezes ao Parque da Cidade, que fica a setecentos metros da minha casa e do qual avisto, através da vidraça, enquanto escrevo, algumas das suas árvores mais altas. E logo atrás o Oceano Atlântico azul ou cinzento, conforme a cor do céu que reflete.

Há lá muitas árvores de diferentes alturas, formas e feitios, entre elas, muitos eucaliptos. É muito agradável sentir o ar que as plantas respiram, a brisa do mar e a beleza de todo o conjunto formado por prados, flores, árvores, arbustos e lagos.

Gosto muito de sentir o cheiro que exalam cerca de trinta eucaliptos, da espécie Corymbia Citriodora, conhecidos pelos nomes comuns de eucalipto-limão ou eucalipto-cheiroso situadas, não longe de um lago, quase a meio do parque.

Em terra, no ar ou nos lagos há muitas aves de espécies diferentes, sendo os mais visíveis:
- Os pombos comuns, sempre atentos a quem traz pão ou outros alimentos;
- Os pombos torcazes, maiores e em menor número, em voo alto ou pousados nas árvores maiores, que fazem incursões por hortas próximas, queixam-se vizinhos meus, para comer couves e outras plantas hortícolas. Pombos trocais, assim chamados na minha aldeia, viviam sobretudo nos sobreiros altos, onde faziam os ninhos que eu procurava na adolescência;
- Os garnizés, os galos com plumagens garridas e vistosas e as fêmeas com vestimentas mais humildes e modestas;
- Os patos reais, tão belos os machos, numa simbiose de cores perfeita. E outros patos que não sei nomear;
- Os gansos, sempre em bandos, quando em terra fazem uma chinfrineira dos diabos por motivos que eu nem sempre entendo.
- Há gaivotas em grande número, nos lagos ou em terra, já que o Parque confina com o mar.

É no meio do Parque, no lago, atravessado por uma pequena ponte e nas margens que o ladeiam, perto dos eucaliptos cheirosos que se concentra a maior parte desta fauna emplumada, onde se juntam muitos pais e meninos, avós e netinhos, alguns casais de avós, solitários ou não, a levar comida para as aves, e outros visitantes que gostam de conviver nessa sociedade de aves e gente. Um pouco à frente, à direita, vive o Vicente, um corvo solitário, empoleirado em ramos de árvores altas, que rodeiam, em parte um grande relvado, onde crianças, jovens e adultos costumam brincar com bolas. Por índole ou por necessidade, ou por ambos os motivos, vai estabelecendo relações próximas com os passeantes. 

A primeira vez que me cruzei com ele há alguns meses, estava pousado num ramo de uma árvore, ouvi-o grasnar, e sabendo da fama da inteligência de todos os da sua espécie, quis conhecê-lo melhor, chamei-o e para surpresa minha desceu para perto de mim. Eu nunca tive pássaro, cão, peixe ou gato, como animal de estimação, embora tenha convivido com todos os animais, chamados da quinta (bois, vacas, mulas, burros, ovelhas, cães, galinhas, perus, patos, cabras e outros) na infância e adolescência.

Não tem sido fácil, a minha amizade com o Vicente. Nem sempre aparece ao meu chamamento. Um dia encontrei-o muito próximo de uma jovem mãe, um pouco receosa, com ele a procurar conviver de uma forma alegre, com o filho dela, um menino com cerca de dois anos, numa relação divertida.

Para conquistar mais a sua simpatia levei-lhe algumas sobras de comida de almoços, um arroz malandro e alguma carne. Prova o arroz, come alguma carne e outra transporta-a no bico e vai escondê-la para perto ou para longe, em voos rasantes, que repete algumas vezes.

Terei que dar mais provas de amizade ao Vicente para ele ficar mais amigo e se aproximar de mim como se aproximou do menino que só tinha o amor dele e da mãe para lhe dar.

Há o amor inteligente, que se chama empatia, amor sem palavras que só os ingénuos, os simples, os poetas, os puros e alguns animais sabem transmitir. O Vicente, já percebi, não empatiza por dádivas, mas somente por quem estiver na mesma onda.

Ponte no lago
Eu e o Vicente
Um jogador no relvado
Árvores do Vicente
Relvado próximo
Lago
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22001: Os nossos seres, saberes e lazeres (440): Voltei a Abrantes e nem tudo está como dantes (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21186: Manuscrito(s) (Luís Graça) (188): a "alvéola-branca" (Motacilla alba ), a laboriosa "boeira" ou "labandeira" que faz o ninho debaixo da minha janela, na Tabanca de Candoz...Se o novo coronovírus covid-19 fosse um insecto, já o tinha papado, a minha pequena glutona "lavandisca"
















Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz  > Quinta de Candoz > 8 de julho de 2020 > Alvéola-branca (Motacilla alba ). > Fez o ninho debaixo da minha janela, aproveitando uma fissura entre o resguardo de chapa de zinxo que circunda a parede e o telhado do piso de baixo (a casa tem três pisos em pirâmide, assente numa estrutura rochosa). Vemo-la aqui a aproximar-se do ninho, sempre irrequieta mas cautelosa...Tanto quanto me foi dado ver, com binóculos, ainda havia, nesta altura do ano, juvenis no ninho... Sempre esfomeados!... Aqui chama-se "boeira" (anda atrás dos bois ou até mesmo em cima deles, mas lavras); em Matosinhos, chama-se "lavandisca"!...

(A Motacillia alba, em inglês, White Wagtail também ocorre na Guiné-Bissau, mas é "rara ou ocasional", segundo a Avibase - The World Birde Database.)...

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Não sou ornitólogo nem tenho equipamento fotográfico para o registo de aves...Fiz estas fotos com a minha vulgar Nikon D5300, em alta resolução e depois editadas... Não tenho uma zoom para fotografia de aves... Bem sequer tripé.

Com paciência (muita) e sorte (alguma),  parte destas fotos foram tiradas da janela do quarto, entreaberta. Como estive quase 3 semanas na Tabanca de Candoz, durante a pandemia de covid 19, e limitado em termos de locomação por causa do meu joelho direito, entretive-me, umas largas horas,  com a máquina numa mão e a canadina noutra, a seguir a vida desta alvéola branca comum...É uma máquina de caçar insetos, em campo aberto, tal como a andorinha...

A alvéola-branca tem vários nomes populares, conforme as regiões: labandeira, lavadeira, lavandisca, lavandeira, alveliço, alvéola, alvéloa, arvela, arvéloa, arvéola, avoeira, boieira, blandisca, beirinha,  pastorinha, etc, 

Aqui, em terras do Douro Litoral,  é conhecida por  "boeira" (,seguia os bois quando os bois puxavam o arado, entretanto substituídos pelo trator...). De qualquer modo, a ave adapta-se bem às mudanças ambientais: desaparecidos os bois de trabalho, segue o trator,,, porque sabe que a máquina, ao remexer a terra, afugenta os insetos...que são a base da sua alimentação.

As alvéolas são aves de pequeno porte, com um comprimento que ronda os 19,5 centímetros. de constituição delgada. O bico é alongado e fino, típicos dos insectívoros.  Ver aqui mais informação na Wikipedia:

(i) o bico é alongado e fino, próprio para uma alimentação à base de insectos;

(ii) a cauda longa é agitada de um lado para o outro quando a alvéola está em repouso;

(iii)  as patas são relativamente longas,  terminando em dedos com garras compridas;

(iv) a  plumagem é geralmente branca, negra e/ou cinzenta;

(v) aa  época de acasalamento  ocorre no fim do Inverno;

(vi) a fêmea constrói um ninho em qualquer concavidade, seja um buraco de um muro, as raízes de uma árvore, a cavidade de um tronco de árvore, um local abrigado de um telhado;

(vii) a postura ronda geralmente cinco a seis ovos que são incubados pela fêmea por cerca de duas semanas;

(viii)  os juvenis saem do ninho duas ou três semanas depois, geralmente já durante a Primavera.

Não as mencionei, expressamente, às alvéolas ou "boeiras" no meu poema "Não sei se as 'aves do paraíso' são felizes" (*). Hei de incluí-las numa próxima revisão... As andorinhas,. essas, mantêm-se fiéis a Candoz, o que é bom sinal... E o seu GPS não falha: todos os anos voltam ao ninho, o único que conheço em redor... E esta fidelidade é também um certificado de qualidade ambiental da Quinta de Candoz...





Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 4 de julho de 2020 > Ninho de andorinha... algo insólito, construído não no beiral mas à volta da lâmpada do hall no alpendre de um das nossas casas (não habitada, antiga casa de caseiro)... Terá já cerca de 15 anos, tendo sido reconstruído duas ou três vezes, no máxino... O ninho é religiosamente respeitado por todos nós, o seu único inimigo só podem ser as intempéries, embora o sítio seja abrigado... e sossegado, uma vez que estas instalações não sejam utilizadas por ninguém... até um dia em que os tabanqueiros decidam fazer um "alojamento local" para o Zé Turista... (**)

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

2. Leio,  no portal Aves de Portugal.Info, sobre a alvéola-branca, uma das 3 espécies que ocorrem regularmente em Portugal continental (, incluindo a alvéola-cinzenta e a alvéola-amarela):

(...) A alvéola-branca é uma das espécies mais conhecidas da generalidade das pessoas, com o seu típico baloiçar da cauda e a combinação preto-e-branco da coloração. (...)

(...) É bastante fácil de identificar, com o seu típico padrão escuro na cabeça, garganta e dorso, que contrasta com o branco no peito e abdómen, assim como nas faces. A cauda comprida e patas compridas são extremamente visíveis, pois esta ave passa bastante tempo no solo, baloiçando bastante a cauda, no que é um comportamento bastante característico desta espécie.

A subespécie britânica 'Motacilla alba yarrellii', que ocorre com regularidade no nosso território, distingue-se por possuir a mancha negra na garganta a estender-se até ao peito, e por ter o dorso
negro, ao contrário da subespécie nominal que o possui cinzento-escuro (...).

(...) Trata-se de uma espécie mais comum na metade norte do território, onde está presente durante todo o ano. Durante apassagem outonal e no Inverno, a população reforça-se com a chegada de aves de passagem e invernantes. Entre os meses de Outubro e Março, a alvéola-branca é uma espécie comum na metade sul do território, ocorrendo também a subespécie britânica como invernante (...).

(...) As zonas ribeirinhas, cursos de água e terrenos lavrados, parques e jardins, são os habitats de eleição da alvéola-branca. Também nas pequenas localidades é facilmente avistada, sobretudo em regiões onde existe uma forte presença de gado e pequenos cursos de água que as atravessam. (...)

Há um vídeo didático, no portal Aves de Portigal.Info, com 12' 25'' de duração, que nos ensina a identificar as diferentes espécies de alvéolas... (***)

________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de agosto de  2014 > Guiné 63/74 - P13475: Manuscrito(s) (Luís Graça) (39): A felicidade ? É onde nós a pomos e onde nós estamos...

Vd. também  poste de 15 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14261: Fotos à procura de... uma legenda (52): a boeira, de Candoz, também conhecida por alvéola ou lavandisca, noutros sítios (Luís Graça)

(**) Vd.poste de 26 de agosto de  2012 > Guiné 63/74 - P10300: Os nossos passatempos de verão (9): A andorinha da Tabanca de Candoz, que é leal, gregária, solidária, corajosa, persistente, vai à luta, não desiste... (Luís Graça)

Vd. também  poste de 29 de agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8712: Fotos à procura de... uma legenda (10): Mais outra foto-mistério, do álbum de Luís Graça

(***) Último poste da série > 6 de julho de 2020 > Guiné 617/74 - P21143: Manuscrito(s) (Luís Graça) (187): Tabanca de Candoz, entre o pôr do sol e o nascer da lua cheia...

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18275: Manuscrito(s) (Luís Graça) (137): aprendiz de ornitólogo ao km 71 da autoestrada da vida... Obrigado, amigos e camaradas, pelos "vivas" que me deram no passado dia 29...


Alcácer do Sal > Rio Sado > 28 de janeiro de 2018 > Pôr do sol

Alcácer do Sal > 28 de janeiro de 2018 > A  frente ribeirinha, ao pôr do sol, vista da moderna ponte pedonal que faz a "cambança" do rio Sado... 



Alcácer do Sal > 28 de janeiro de 2018 > A icónica igreja de Santiago, ao pôr do sol, vista da moderna ponte pedonal que faz a "cambança" do rio Sado...



Alcácer do Sal > Barragem  de Vale de Gaio > 28 de janeiro de 2018 > A barragem de Vale do Gaio é uma obra do Estado Novo, tendo entrado em funcionamento em 1949. Localizada próxima do Torrão, na linha de água do rio Xarrama, ocupa uma área de mais de 500 km2. Está em seca severíssima... mas pode receber água do Alqueva... Fui lá encontrar, ao fim da tarde, uma colónia de corvos marinhos de faces brancas  (Phalacrocorax carbo).


Alcácer do Sal > Arrozais nos arredores > 28 de janeiro de 2018 > Cegonhas brancas (Ciconia ciconia)


Alcácer do Sal > 28 de janeiro de 2018 > O ornitólogo amador, num só dia, pode observar, em certos locais da reserva natural do estuário do Sado, 80 ou até 100 espécies diferentes de aves,  dizem os ornitólogos profissionais...O aprendiz de ornitólogo terá que se contentar com muito menos...e começar por aprender que não há flamingos... vermelhos, contrariamente ao seu nome científico (Phoenicopterus ruber,  ave com asas vernelhas).





Alcácer do Sal > 29 de janeiro de 2018 > Vista interior da pousada Dom Afonso II e vista panorâmica da zona ribeirinha de Alcácer.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Manuscrito(s):

Aprendiz de ornitólogo

por Luís Graça


Fiz 71 anos
e vim até Alcácer do Sal
ver os flamingos,
vermelhos.

Fiz 71 anos
e não vi em Alcácer os flamingos,
muito menos vermelhos.

Pensava que os flamingos
vinham retemperar forças, como eu,
nas bolanhas do Sado,
na sua rota a caminho do sul,
da África dos últimos grandes lagos.

Pensava que os flamingos eram vermelhos,

e por isso reservei um quarto
no castelo de Alcácer do Sal
para os ver desfilar,
em barroca parada celestial.

Mas não vi o céu tingido da cor do sangue,

como o estuário do Geba ao pôr do sol,
vi outras aves pernaltas,
vi as garças brancas,
vi as cegonhas brancas e pretas,
vi os mergulhões pretos,

... vi até algumas mulatas da Ribeira do Sado,
sobreviventes do esclavagismo e do sezonismo,
só não vi os flamingos, vermelhos.

Fiquei prisioneiro no meu quarto,
aos 71 anos,
com vista para as traseiras da vida,

os bastidores da história,
as muralhas,
o casario branco,

a cripta das memórias doridas dos nossos antepassados;
e no Torrão entrevi, em porta manuelina,
a menina e moça do Bernardim Ribeiro
que cedo foi levada da casa de seus pais.

Parti mantenhas com o Pedro Nunes,
que, por ser segunda-feira, estava de mau humor
e não me explicou a relação entre o nónio
e o voo dos flamingos, vermelhos.

Aprendiz de ornitólogo,
ou nem sequer isso,
aos 71 anos.
Não é bom dia, a segunda-feira,

meus amigos,
para se fazer anos

e muito menos ver os flamingos, vermelhos,
que afinal já tinham partido
ou que talvez nunca aqui tenham chegado.
(... Ou então fui que cheguei tarde,
mais uma vez, 
à festa da vida!).

Luís Graça

Alcácer do Sal, 29 de janeiro de 2018


2. A
qui vai uma seleção, de A a Z, de comentários de amigos e camaradas que  se dignaram tirar um minutinho das suas vidas  para me escrever uma "gracinha", em dia de aniversário natalício: nasci, na Lourinhã, no dia 29 de janeiro de 1947, às 10h30 (*).


Seria fastidioso, se não mesmo pretensioso e até deselegante,  listá-los a todos, mas também seria uma prova de ingratidão (e de insensibilidade), da minha parte, não lhes agradecer,  a todos,  e não destacar aqui alguns desses comentários que, eu sei, foram ditados por genuíno apreço pelo trabalho realizado por mim, pelo Carlos Vinhal e demais editores, colaboradores, autores e leitores que fazem este blogue desde há 14 anos...

Eu sou eu e o blogue é muito mais do que eu. E esse é o melhor elogio que eu poderia ouvir em dia de anos, neste blogue (ou no facebook da Tabanca Grande). O blogue é nosso e eu sou apenas um dos seus editores.

Os nossos amigos e camaradas são sempre generosos porque têm corações grandes e naturalmente exageram quando homenageiam alguém de entre eles, como foi  o meu caso, em dia de anos. Felizmente que não exageram tanto como.... na morte! Aí temos a certeza que eles fazem tábua rasa de todos os nossos defeitos e hipervalorizam as nossas virtudes... Mas, nessa altura, já não estaremos cá para lhes puxar as orelhas...ou protestar a nossa modéstia!

Em suma, aceito de bom grado  os votos de parabéns natalícios que vocês (e muitos mais)  tiveram a gentileza de me dar, no blogue, no Facebook, por email, por telemóvel e até ao vivo, interpretando-os como um desejo, um desafios e sobretudo um incentivo, qualquer coisa parecida como  uma "luz verde" para continuar,  até que o dedo me/nos doa... a teclar!... (Não digo um "desígnio", porque não sou nem quero ser um homem "providencial").

Enfim, recusando qualquer "culto da personalidade", acrescento apenas que selecionei alguns comentários "mais originais", valorizando o sentido de humor, a hipérbole, a caricatura, a ternura, a ingenuidade, a poesia, a melancolia, a cumplicidade, a espontaneidade, a originalidade... Os demais, muitos mais, que ficam "de fora", não me levam a mal...

Antero Santos > O Homem Grande da Tabanca Nacional, o Special One, o Luís Graça, celebra hoje o seu aniversário. Parabéns, Luís Graça,  e longa vida. E, na tua pessoa, parabéns a todos os combatentes e familiares, especialmente aos que estiveram na nossa Guiné.

António Murta > Em especial ao comandante Luís Graça recomendo que se agarre bem ao leme porque vão continuar a chegar novos embarcadiços e esta nau magnífica não pode parar...

 Cherno Baldé > Caro amigo Luis, de nós dois, não sei quem será o mais privilegiado. Tu conheces o dia e o ano certo do teu nascimento, mas não sabes ou não tens a grande sorte de saber de antemão o ano em que vais fazer a "cambanca" para o outro lado. Eu, ao contrário, festejo aniversarios fictícios, mas sei de antemão que a minha "cambanpça" está marcada (provisoriamente) para o ano de 2037. O Marabú de Sumbundo assim o ditou na sua consulta aos astros, desde 1974, portanto vai fazer 44 anos. Disse provisoriamente,  porque se a minha reforma for muito má, vou tentar renegociar e antecipar a minha partida. Não serei como o Jorge Cabral, o Alfero de Missirá, que todos os anos adia a sua partida para mais tarde.

Fernando Chapouto > Agora para o meu, nosso,  comandante,  pelo extraordinário trabalho em prol dos ex-combatentes.. sim, eu continuava com um enorme stresse do qual não era capaz de dar a volta. Bem hajas, Luís, muitas felicidades pela tua vida fora e que este dia se repita por muitos anos.

Joaquim Peixoto > Amigo Luís: Quis o destino, que num convívio de ex-combarentes da Guiné, te tivesse conhecido. Empenhado em reunir e unir os camarigos, recordando as vivências em cenários de guerra, estreitando laços de amizade e fraternidade, és, sem sombra de duvida, o protagonista deste cenário. Um grande abraço de parabéns e que continues a desfrutar de toda essa energia e empenho que faz de ti uma pessoa especial.

José Teixeira > Meu bom e grande amigo Luís Graça. O tempo perde-se na estrada que tens vindo a construir. Espero que o projeto se concretize com todos os teus sonhos, com muita saúde e bem estar.

A estrada do tempo

Céleres, vão morrendo
Os dias, à sombra delicada do poente,
E, lentamente, eu caminho subindo pela tarde,
Seguindo pela estrada do tempo.
Levo comigo um corpo já cansado,
E deixo para trás o caminho do passado,
Perdido no campo árido da saudade.

A estrada do tempo caminha
A passo largo à minha frente,
Marcando-me na face a vida
Que me resta em forma de rugas,
E empurra-me para a grelha de partida
Que me levará a outra vida,
E não me permite quaisquer fugas.

E assim me foge o tempo de viver,
Esse regaço de ditosos dias,
Que Deus me concedeu ao nascer
Do ventre de minha mãe,
Alegremente.
São dias que vão morrendo,
Um a um, e velozmente,
À frágil sombra do poente.

 José Paradela > Parabéns, grande Luis. Não desanimes que ainda me alcanças! A minha pedalada torna-se mais lenta… e já cá cantam oitenta. Com flamingos e tudo!

Manuel Luís Lomba > Parabéns, Luís Graça, com votos de muitos e felizes. Graças por teres nascido e por teres criado e ascendido a "Jarga" da Tabanca Grande e deste blogue - qual "Guiné Monumenta Histórica".

Manuel Resende / Magnífica Tabanca da Linha > Hoje, 29 de Janeiro, está de parabéns o nosso Magnífico Luis Graça. Em nome de todos os Magníficos desejamos-te felicidades e um dia bem passado. Amigo, muita saúde. Um grande abraço e até ao próximo convívio.

Mario Beja Santos > Meu estimado Luís, Saúde e fraternidade. Desejo-te do coração mil alegrias no dia de hoje, com a Alice e os filhos. Os anos são os que sentimos e, se bem interpreto tudo quanto fizeste por este blogue e continuarás a fazer, és um longevo com plena realização. E devo-te esta satisfação de estar em permanência a teu lado nesta sala de conversa,

Valdemar Queiroz > Parabéns Luís Graça. Desejo-te muitos anos de vida para manteres a chama bem acesa desta nossa nova 'comissão de serviço'.

Virgílio Teixeira > Meu caríssimo Luís Graça, Como te disse, é a primeira vez que envio parabéns a alguém neste dia. Já tenho este compromisso de agora para diante, espero mantê-lo por mais 25 anos pelo menos. Desejo um dia feliz cheio de saúde e até está um dia de sol neste Janeiro tão frio.
Mais logo vou telefonar-te lá para meio da tarde, e falamos um pouco. E os meus Parabéns também, para ti e para mim.

Zé Manuel Cancela >  Para o nosso timoneiro Luis, pai do nosso blogue, um abração com o tamanho do Geba.E mais uma vez obrigado,pelos amigos que granjeei,através da Tabanca Grande...
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Vd. também: