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domingo, 3 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25231: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (20): A abetarda que não é mais desastrada...


A abetarda (Otis tarda),uma espécie eurasiática, parecida com  o peru ("Estado de conservção: Em perigo, em Portugal, pouco preocupante na Europa e vulnerável internacionalmente, segundo a Lista Vermelha da IUNC – União Internacional para a Conservação da Natureza"). 

Fonte: Biodiversidade, by The Navigator Company > Biogaleria > Conheça a Espécie > Abetarda) (Com a devdia vénia...)


1. Aos veteranos, antigos combatentes da Guerra dos Cem Anos,  desculpa-se muita coisa, aos velhos quase tudo e aos avós tolera-se todas as bizarrias... 

Estava eu a frequentar um curso "on line" sobre escrita para crianças, uma organização da empresa escrever escrever, quando tive a 29 passado, na véspera do último dia do curso, de ser operado a uma catarata (senil), um autêntico "pedregulho", segundo a oftalmologista que me operou. Durante 72 horas (que ainda decorrem) não posso expôr-me de todo a écrãs...  A ultima sessão do curso, de duas horas e meia  cada sessão semanal (4 sessões, ao todo), foi sacrificada. Mas já tinha o TPC feito... Partilho, com a vossa paciência e tolerância, uma das historietas que escrevi... Amanhã retomo as atividades bloguísticas. 

É um microconto que é dedicado aos avós, e sobretudo aos nossos netos, com votos de que haja para eles (e para a abertarda) um melhor lugar do que aquele que nos coube, ao nascermos, no velhinho Portugal que continuamos, apesar de tudo,  a amar.

A abetarda que não é mais desastrada…

Por Luís Graça


Foi num passeio ao Baixo Alentejo que a Clarinha viu, pela primeira vez, as “abetardas”. Ao vivo e a cores.

O avô tinha-lhe mostrado um vídeo com o “abetardo” a querer namorar com a “abetarda”.

− Ó avô, não gosto do “abetardo”!

− Não gostas ?!... Mas é tão fofinho!... Com aquele casaco de penas…

E lá explicou à neta que as “abetardas”, eles e elas, os machos e as fêmeas, são um bocado pesadões, e por isso difíceis de ver a voar, aos bandos… Além disso, fazem os ninhos no chão, nos campos de trigo. E depois vêm as máquinas, e zás!, estragam os ninhos. E os filhotes, coitadinhos, fogem com dói-dóis, cheios de medo…

− Mas, ó avô, a tua história é da abetarda… ”desastrada”…

− Mas já não é mais “desastrada”, porque tu agora vais ajudá-la a salvar-se!

− Não tem cuidado, e atravessa a estrada com o sinal vermelho, é isso, avô?!

− Ora vês?!... E depois é atropelada!

E o avô, passando-lhe os binóculos, lá contou que ela não tem culpa, porque ela já lá estava, na sua casinha, com os seus filhotes, muito antes da estrada, e dos campos de trigo, e das máquinas pesadas que andam nos campos…

− Então, vamos ajudá-la… Eu só não gosto é do “abetardo”, que parece um pavão.

− Gosta de namorar, como tu!

− O meu namorado é o Peter Pan, não é o “abertado”… Vou casar com ele quando for grande…

E lá chegaram a uma ideia de salvar a “abetarda” e os filhotes, incluindo o pai, que era o “abetardo”…

Com outros meninos e meninas de Castro Verde, uma terra que fica no Baixo Alentejo e tem umas minas muito grandes de cobre e zinco, fizeram um "herdade" só para as “abertadas”… Lá não entram carros nem máquinas… E todas as “abertadas”, eles e elas, são felizes na sua nova casinha com jardim…

Cansada, mas também muito feliz pela sua boa ação, a Clarinha contou depois à Laura e às sus amigas da Escolinha (o Peter Pan agora está na Terra do Nunca), que a “abertada” já não é mais “desastrada”…

− Já não é atropelada na estrada… E lá combinaram, ela e as amigas, virem um dia, nas férias grandes do verão, brincar com as “abetardas” que agora já não são mais “desastradas”…
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Nota do editor

Último poste da série > 29 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25226: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (19): O Braço e a Perna...

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25190: Por onde andam os nossos fotógrafos? (20): António Murta, ex-alf mil inf MA, 2ª C/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) - Parte VI: O Rio Grande de Buba
















Guiné > Região de Quínara > Nhala > 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) >  Buba e o Rio Grande Buba

Fotos (e legendas): © António Murta (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Algumas das melhores fotos do Rio Grande de Buba... são do álbum do António Murta, ex-alf mil inf, Minas e Armadilhas, 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74).

È um dois rios mais importantes da Guiné-Bissau. No séc. XV e XVI, quando os navegadores portugueses andaram por aqui, era conhecido apenas por Rio Grande.  

É um rio navegável numa grande extensão, comunica com o Geba, passa na cidade de Buba, tem uma bacia com uma área de 285 km2. É rico em peixe. Nele vvem o peixe-boi e algunas espécies de tartarugas. É uma região (incluindo o Parque Natural das Lagoas de Cufada) de grande biodiversidade, dispondo das maiores reservas de água doce do país.  Há várais ameaças sobre esta riqueza natural, incluindo a cnstrução de um porto comercial e mineiro (paar escoar a bauxite do Boé), 

As suas margens são de grande fertilidade para a agricultura e ladeadas por florestas. Desagua no oceano Atlântico junto à ilha de Bolama.

A sua navegabilidade   deve-se a alguns características particulares: (i) é  relativamente profundo e pouco propenso a assoreamento; (ii) o seu  leito, assente em base laterítica, é estável. (Fonte: Wikipedia).

Sobre o Rio Grande de Buba, escreveu o nosso fotógrafo, o António Murta (*)::

(...) O meu rio próximo, e de estimação, era o Rio Grande de Buba, grande via de comunicação para pessoas, mercadorias e equipamentos militares.

Era a ligação para o Mundo a partir destes confins perdidos, para as cargas pesadas e os contingentes militares impossíveis de deslocar por via aérea. 

Mas era também, à falta de melhor, o parque aquático onde muitos se refrescavam e pescavam - que não eu -, fazendo de Buba uma espécie de estância balnear, única em toda a zona. 

Isso implicava alguns riscos e retraía os menos afoitos, mas, logo após o estabelecimento da paz em Abril de 1974, chegámos a fazer várias deslocações a Buba só para o pessoal se refrescar.

Não posso dizer que conhecia bem este rio, pois só o naveguei uma vez e de noite

Também a visão que dele se tinha a partir do cais de Buba era relativamente limitada e, depois de banalizada, deixava-nos indiferentes às suas escassas belezas, tirando um ou outro pôr-do-sol mais flamejante.(...)

As fotos que selecionado de um lote de duas dezenas, e que reeditámis, dispensa legendas. (**)

[Seleção e reedição de fotos, revisão / fixação de texto para efeitos de edição neste blogue, itálicos e negritos: LG]

2. No Guia Turístico: À Descoberta da Guiné-Bissau, 2ªedição revista e atualizada, da autoria da Joana Benzinho e Marta Rosa (Afectos ComLetars e União Europeia, 2018, 176 pp.) pode ler-se sobre os canais do rio Grande de Buba (pág. 111)

(...) "O Rio Grande de Buba, um dos mais importantes da Guiné-Bissau, com uma superfície de 285 Km² e o santuário por excelência para a desova da barracuda, merece um passeio pelos seus canais bordados de mangais. 

"Os manatins ou peixe-boi (Trichecus senegaelensis) e algumas espécies de tartarugas também são presenças constantes nestas águas. Este rio, que desagua no Atlântico junto à Ilha de Bolama, tem uma grande diversidade de espécies marinhas e é ponto de passagem de uma grande variedade de aves. 

"Vale assim a pena fazer um circuito de barco para observação destas aves e da natureza, bem como uma paragem para um piquenique numa das pequenas ilhas deste rio. (..:)
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


sexta-feira, 17 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23360: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (5): A principal fonte de energia (c. 85%) ainda é a proveniente da biomassa (lenha, carvão vegetal...)


Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > 7 de junho de 2022 > Molhos de lenha, à beira da estrada, no K3. A lenha e o carvão são levados para Bissau para que não falte na época das chuvas na casa das famílias... 90% das famílias de Bissau ainda os utilizam como combustível nas suas cozinhas. Apesar do grande potencial do país em matéria de energias renováveis... 

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Comentário de Cherno Baldé ao poste P23350 (*):

Em relação a foto acima reproduzida, e baseando-se em dados oficiais do Ministério da Energia e Recursos Naturais de 2018, estimava-se que o perfil energético da Guiné-Bissau fosse o seguinte: 
  • 70-72%: Lenha; 
  • 14-15%: Carvão vegetal com utilização de fogões tradicionais e melhorados; 
  • 10-12%: Electricidade e produtos petroliferos 
  • 1-4 %: Renováveis (energia solar). 

De notar que estes dados não são muito diferentes dos dados apresentados no estudo,  citado por Luis Graça,  da ONGD ALER,  de 2017 [Vd. excerto abaixo publicado, no ponto 2].

Apesar de haver varios projetos em carteira para a instalação de centrais fotovoltaicas no país, todavia ainda só funcionam em Contuboel, Bambadinca e Bissorã com alguns problemas técnicos e de gestão e, sobretudo, muitas queixas dos beneficiários,  seja pela quantidade/quantidade, seja pelas tarifas praticadas, num contexto de muita pobreza e onde quase sempre se esperava acontecer uma distribuição gratuita, à moda da Suécia dos anos 70/80. (**)

Cherno Baldé

2. Excerto de artigo> 4 de dezembro de 2017 > ALER - Associação Lusófona de Energias Renováveis > Notícia > Geogios Xenakis > Programa Comunitário de Acesso a Energia Renovável de Bambadinca “Bambadinca Sta Claro”
 
(...) Geograficamente localizada na costa ocidental da África, a República da Guiné Bissau é um pequeno país de 36.125 km2, com uma população total de 1,45 milhões de habitantes, 60% dos quais concentrados em áreas rurais (Recenseamento Geral da População e Habitação-RHPH de 2009). 

A vila de Bambadinca, com 6,4 mil habitantes está localizada na região de Bafatá, 120 quilómetros a leste da capital Bissau.

A taxa de acesso à eletricidade da população na Guiné-Bissau é muito baixa: segundo o Plano de Ação no Sector das Energias Renováveis[1], em 2010 a taxa era apenas 11,5%, enquanto que na região da África subsaariana esta taxa cresceu de 23% em 2000 para 32% em 2012 [2].

 Bambadinca era abastecida por geradores diesel até 2007 que, entretanto, se tornaram obsoletos deixando 95% da população da vila sem energia elétrica.

Neste contexto complicado, a TESE-Associação para o Desenvolvimento implementou entre 2011 e 2015 o projeto “Bambadinca Sta Claro” em parceria (...). (***)

No âmbito do Programa Comunitário de Acesso a Energia Renovável de Bambadinca – “Bambadinca Sta Claro” uma mini-rede decentralizada foi construída na vila de Bambadinca, tendo sido desenvolvido e implementado o modelo de gestão para garantir a sustentabilidade do sistema.

A solução técnica trata-se de um serviço de energia decentralizado (off-grid) constituído por uma componente dedicada à produção de energia elétrica e uma rede de transporte e distribuição dedicada à entrega da energia à comunidade. 

A produção é conseguida de forma híbrida, graças a painéis fotovoltaicos e a geradores diesel (Central Fotovoltaica Híbrida – CFH). O consumo noturno é satisfeito através de baterias e se for necessário pelos geradores, como backup. A CFH tem três grupos idênticos, de uma potência total de 312kWp. O sistema garante o fornecimento de energia 24h a Bambadinca, conseguindo uma baixa utilização dos geradores.

Para garantir a sustentabilidade económica e social do projeto, a gestão é sustentada por uma parceria público-comunitária e neste contexto foi criado o Serviço Comunitário de Energia de Bambadinca (SCEB). A comunidade local tem sido envolvida no projeto desde o início, tanto na elaboração do modelo de gestão como na definição das tarifas e dos modelos de faturação. Em paralelo, foram implementadas campanhas de eficiência energética e de segurança elétrica, a fim de sensibilizar a população em termos de comportamentos a adotar a respeito de gestão do consumo e de segurança.

O SCEB tem atualmente mais de 650 clientes, entre residenciais, comerciais e instituições, garantido eletricidade 24h/dia, principalmente graças a uma fonte de energia renovável. 

O acesso à energia permite aos habitantes de Bambadinca aceder de novo a várias oportunidades económicas e sociais em termos de empregabilidade e educação. O sucesso do “Bambadinca Sta Claro” demostra a viabilidade dos projetos de eletrificação decentralizada com energias renováveis na Guiné-Bissau, em consonância com as políticas do sector nas áreas de desenvolvimento de energias renováveis e de acesso à energia.

Georgios Xenakis | Responsável Setorial Energia e Coordenador de Projetos

[1] Plano de Ação Nacional no Sector das Energias Renováveis (PANER, 2010)

[2] Africa Energy Outlook, 2014.
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 14 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23350: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (29): Por terras de Farim - II (e última) Parte: gentes e lugares


quinta-feira, 9 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23339: Recortes de imprensa (123): Bubaque: alterações climáticas e educação ambiental (Excertos de reportagem de Carla Tomás, Expresso, 18 de abril de 2019, com a devida vénia...)




Guiné-Bissau > Região de Bolama-Bijagós > Ilhas de Bubaque e Rubane > 11-13 de dezembro de 2009 > Recantos, encantos e... armadilhas. Fotos do álbum de João Graça, médico e músico.

Fotos: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Cartaz do V Congresso Internacional de ed Educação Ambiental. Cortesia da página da ASPEA - Associação Portuguesa de Educação Ambiental.


1. Com a devida vénia à autora, a jornalista Carla Tomás, e ao editor, o semanário Expresso, tomamos a liberdade de reproduzir aqui alguns excertos de uma extensa e interessante reportagem sobre Bubaque, no coração do arquipélapo dos Bijagós, realizada aquando do V Congresso Internacional de Educação Ambiental.Crise Ecológica e Migrações: Leituras e Respostas da Educação Ambiental (Bijagós, 14.18 deabril de 2019).

A reportagem completa (incluindo as fotos da jornalista) pode ser vista, na íntegra aqui:

https://expresso.pt/sociedade/2019-04-18-Em-Bubaque-nos-Bijagos-pensa-se-como-a-educacao-ambiental-pode-ajudar-a-enfrentar-as-alteracoes-climaticas


Em Bubaque, nos Bijagós, pensa-se como a educação ambiental
 pode ajudar a enfrentar as alterações climáticas

Expresso > 18 de abril de 2019 20:04
Carla Tomás, jornalista


Num dos locais do planeta mais ameaçados pela subida do nível do mar e por fenómenos extremos, debate-se “ a crise climática e as migrações”. Mais de quatrocentas pessoas de quatro continentes trocaram experiências e saberes.

Manhã cedo ainda se sente o cheiro das fogueiras onde o lixo foi queimado ou ainda arde. Restos de plástico, pilhas e outros resíduos que não tenham sido limpos pelos abutres que pousam nos telhados, ou pelos cães, porcos ou cabras que andam pelas ruas, acabam incinerados ao lado das casas de adobe e telhado de zinco. Em redor das fogueiras veem-se crianças de roupas gastas e sujas a brincar sem a mínima noção das dioxinas que respiram.
 
Riem-se entusiasmadas com a enchente de gente de fora que inundou a ilha, Bubaque, capital do arquipélago das Bijagós, localizado a hora e meia de Bissau em lancha rápida ou a quatro horas numa espécie de ferry.

Entre 14 e 18 de abril, a pequena cidade de pouco mais de quatro mil habitantes recebeu o maior evento da CPLP organizado pela sociedade civil. Durante quatro dias, cerca de 416 pessoas — originárias de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e da Galiza — debateram “a crise ecológica e as migrações”, no quinto Congresso Internacional de Educação Ambiental, co-organizado, este ano, pela delegação guineense da Rede Lusófona e pela Associação Portuguesa de Educação Ambiental (Aspea).

(...) O arquipélago dos Bijagós e a costa ocidental da Guiné correm sérios riscos de ficar submersos com a acelerada subida do nível do mar. Esta “é uma ameaça muito relevante para a Guiné-Bissau”, confirma Meio Dia Có, técnico do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) perante uma plateia oriunda de quatro continentes que quer saber mais sobre estas ilhas. Sentados nas velhas secretárias de madeira do liceu de Bubaque trocam saberes e experiências.

(...) A memória recente do ciclone Idai, que devastou a Beira em Moçambique, serve de alerta face à urgência de agir na proteção do ambiente e de preparar ou adaptar os países mais vulneráveis face às ameaças que sobre eles pairam, lembram vários dos intervenientes. (...)

(...) A Guiné é um dos 10 países mais vulneráveis às alterações climáticas. Em Bubaque, uma das 21 ilhas povoadas deste arquipélago que resultou da subida de um delta, a erosão costeira já se faz sentir. Com a maré alta a areia quase desaparece das praias e os mangais (ecossistemas que servem de berçário a muitas espécies, de proteção costeira e também de sumidouros de CO2) já refletem a pressão.

Como se as divindades animista por que se regem já os tivessem advertido dos perigos que espreitam, nas ilhas mais isoladas, como Canhabaque ou Orango, as tabancas (aldeias) ficam distantes das praias, algumas a uma hora de distância a pé.

(...) A intrusão salina já começa a afetar os recursos aquíferos e os arrozais. As chuvas tendem a chegar cada vez mais tarde e em menor quantidade e a seca faz-se sentir afetando as hortas comunitárias. O que ainda melhor resiste são as palmeiras de cujo fruto, o chabéu, fazem vinho ou óleo de palma ou de cujas folhas, casca ou ramos fazem materiais para construção.

(...) “A gestão do espaço e dos recursos do arquipélago sempre foi feita pelo povo bijagó seguindo as regras transmitidas oralmente pelos anciães”, conta Meio Dia perante a plateia atenta. “Ser bijagó significa passar pela escola do mato e a comunidade participa na gestão do território e os régulos de cada tabanca transmitem as regras aos que nelas vivem”. Em algumas ilhas estabelecem-se “tabus”, ou regras mais restritas, para impedir a construção de novos resorts turísticos, o crescimento da agricultura intensiva ou a sobrepesca.

“Estes países africanos estão entre os mais vulneráveis. E se não se adaptarem rapidamente, muitas mais pessoas vão morrer”, alerta Luísa Schmidt, Investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e membro do conselho científico do congresso, reforçando que “a educação ambiental na escola pode ajudar na transformação”. (...)

(...) Mas aqui não se fala só de alterações climáticas. Investigadores, professores ou membros de organizações não governamentais assim como técnicos de entidades públicas ou até de empresas privadas apresentam os projetos que estão a desenvolver nos seus países ou em cooperação. Brígida Brito, investigadora na Universidade Autónoma,  explica como um projeto desenvolvido junto de uma comunidade de tartarugueiros de São Tomé e Príncipe conseguiu converter o seu modo de sustento. levando-os a parar de matar tartarugas e a passar a utilizar corno de cabra para fazer os objetos de artesanato que vendem a turistas.(...)

(...) Nesta ilha, onde não há água potável, nem saneamento básico, nem tratamento e recolha adequada de lixo, um guineense fica incrédulo quando Sofia Quaresma e Paula Sobral, da Associação Portuguesa de Lixo Marinho, explicam que o flagelo da poluição de plástico não se fica pelo que é visível, mas que é muito maior se pensarmos nos microplásticos ou nanoplásticos que resultam da degradação dos plásticos no mar ou das microfibras das roupas sintéticas que lavamos.

Durante os dias do congresso não se vê muito lixo pelo chão, nem nas praias dos hotéis. Em alguns pontos surgem amontoados, prontos para a fogueira. Um jovem da associação ambiental local Andorinha explica que recolhem alguns dos resíduos para diferentes fins: muitas garrafas de plástico e de vidro são reutilizadas por quem vai buscar água aos poços espalhados pelas ilhas ou por quem faz vinho ou óleo de palma, outras acabam compactadas e transformadas em blocos para construção. (...)

(...) Nesta troca de aprendizagens e de projetos novas ideias surgem. Janó Face Te, da associação de Jovens pela Produção do Ambiente, com sede em Bissau,  fica entusiasmado com a possibilidade de replicação do projeto da ONG portuguesa Educafrica, que promete levar luz elétrica a muitas aldeias que não a têm. Dirigido por Inês Rodrigues, uma professora em constante nomadismo profissional, o projeto iniciado em 2011 permite transformar uma simples garrafa de plástico numa lâmpada solar. (...)

Carla Tomás

[ Seleção / revisão e fixação de textos  para efeitos de publicação deste poste: LG ]

domingo, 5 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23326: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (26): Tabanca felupe de Iale, e praia de Varela, a "minha praia"


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Iale, Varela > 22 de maio de 2022 > Casa felupe... Os jericãs, baldes e latas são hoje um utensílio doméstico de grande importãncia: há que ir buscar a água longe...



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Iale, Varela > 22 de maio de 2022 > Transporte de água que agora é cada vez mais escassa... Trabalho de meninas e mulheres..




Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Iale, Varela > 22 de maio de 2022 > Palha para a cobertura das casas (moranças)




Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Iale, Varela > 22 de maio de 2022 > Espremer o caju para sumo e que depois fica vinho... Trabalho de crianças...




Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Varela > Praia de Varela, a minha praia > 22 de maio de 2022 > Crescentes sinais de erosão...


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Varela > Praia de Varela, a minha praia > 22 de maio de 2022 >

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Ribeiro Patrício, nosso correspondente em Bissau, mandou-nos, em 23 de maio passado, uma série de fotos da tabanca de Iale, Varela, bem como da praia de Varela onde ele tem casa... Publicamos a primeira parte. Em poste a seguir mostraremos depois um "bombolom de cerimónias".

Patrício Ribeiro: português, natural de Águeda, da colheita de 1947, criado e casado em Angola, com família no Huambo, antiga Nova Lisboa, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda, é o português que melhor conhece a Guiné e os guineenses, o último dos nossos africanistas: tem mais de 120 referências o nosso blogue; tem também uma "ponta", junto ao rio Vouga, Agueda, onde de tempos a tempos se refugia; é nosso colaborador permanente a partir de 25 de abril de 2022 (para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau)... É o autor da série "Bom dia, desde Bissau" (*)
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 23 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23286: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (25): Cacheu, restos que o império teceu... - II (e última) Parte

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22965: (Ex)citações (400): A Suécia... sempre original (José Belo) - Parte I: as "renoducts", pontes para as renas sobre as linhas férreas e estradas da Laponia...


No país dos Samis (, lapões, é um termo racista...)... As renas do Zé Belo, que também estão ser a vítimas das alterações climáticas... Foto do álbum do autor (2021)



José Belo

José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West,  Nova Orleans...); (ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, agora jubilado; (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; (vi) tem 215 referências no nosso blogue; e (vii( faz hoje anos.


1. Mensagem do José Belo:


Data - terça, 1 fev 2022, 12:34

Assunto - A Suécia... sempre original (*)


Caro Luís


Um pouco de ar de New Orleans (ou NOLA como se diz localalmente)...

Seguem dois artigos, do jornal inglês "The Guardian", um sobre corvos "funcionários camarários" para apanhar "beatas", e outro relacionado com as pontes construídas para as renas sobre algumas autoestradas da Laponia.

Um grande abraco com votos de saúde. J. Belo

https://www.theguardian.com/world/2021/jan/20/sweden-to-build-bridges-for-reindeer-to-safely-cross-roads-and-railways

https://www.theguardian.com/environment/2022/feb/01/swedish-crows-pick-up-cigarette-butts-litter


2. Comentário do editor Luís Graça

Tens razão, a tua segunda pátria (?) , a terra dos teus filhos,  onde já vives há mais anos do que aqueles que viveste em Portugal e no seu ex-império, é um país... "original".  Pelo menos onde se pode dizer que economia, concertação social, democracia, equidade social (igualdade de oportunidades) e ecologia até podem "rimar"...

Essa de construir pontes para renas sobre estradas e linhas férreas na Lapónia, nunca lembraria ao diabo em Portugal... Primeiro porque não há renas, muito menos rebanhos de renas,  em Portugal  (, a não ser no "jardim zoológico"...) e o diabo é capaz de ser mais amigo dos contribuintes portugueses do que das renas samis... Não há renas, mas há outra bicharada, dos linces aos veados, que também são trucidados nas autoestradas e caminhos de ferro... 

Vamos ao "teu" primeiro artigo, deixando o outro para melhor ocasião, ou para a II parte deste poste...

O primeiro é  da autoria de  Jon Henley, e foi publicado no jornal inglês The Guardian, quarta-feira, 20 de janeiro de 2021 13h16 GMT... Tem mais de um ano, avisam-nos. Faço uma adaptação, com tradução mais ou menos livre, e nalguns casos reproduzindo alguns excertos.

Espero que este poste seja, em 4 de fevereiro de 2022,  no dia dos teus anos, uma boa "prenda de aniversário" para ti (**)... e para as tuas renas!... Se tivesses ovelhas no Alentejo estavas bem pior... com a seca com que começámos o primeiro mês do  ano da graça de 2022...  Ainda me lembro do tempo, em que os putos da escola praguejavam, para poder fazer fazer gazeta: "Quem dera que chova três dias sem parar!"...  Eram cheias certas no Rio Grande da minha vilória, construída em antigo leito de mar... (LG)


3. A Suécia, para fazer face às alterações climáticas,  está a construir pontes para renas sobre estradas e linhas férreas

A Suécia vai construir uma dúzia de pontes para que as renas possam atravessar,  em segurança,  as linhas férruas e as principais estradas do Norte do país,  como resposta ao problema do  aquecimento global  que obriga os animais  a percorrer maiores distâncias em busca de comida.  

A medida tem o apoio de investigadores na área da ecologia e das ciências agrárias...para quem “num clima em mudança com condições difíceis de neve, será extremamente importante encontrar e ter acesso a  pastagens alternativas”...Os  pastores de renas também foram consultados sobre a localização e as especificações técnicas  das pontes bem como sobre este projeto, deveras original.

A primeira destas pontes terá começado já  a ser construída  (ou estará construída) em 2021,  na cidade oriental de Umea, segundo a emissora pública Sveriges Radio. “Renoducts” é o nome destas pontes,  uma junção da palavra reno (renas) e  de viaduct (viaduto). 

O  aquecimento global está já ter  um impacto devastador nas 250 mil  renas da Suécia e nos 4.500 proprietários indígenas Sami (lapões),  com licença para as pastorear. (Em média, 55,5 renas por rebanho..).  Algumas pastagens de inverno ainda estão a  recuperar de secas e incêndios florestais que atingiram, sem precedentes,  o Norte da Suécia.

Os líquens  constituem uma parte fundamental da dieta das renas. Ora está-se a tornar difícil para elas encontrar os líquens, no inverno, agora mais quente e húmido. Em vez de neve, cai chuva. Quando as temperaturas descem abaixo de zero,  formam-se  entretanto camadas impenetráveis ​​de gelo  no solo  em vez da normal  crosta de neve macia. Nestas circunstâncias, as renas são incapazes de sentir o cheiro do líquen  ou de escavar para chegar até ele...

Estes animais, para além do sua função ecológico e cultural, têm grande importância económica para as populações locais, sendo criadas pelo valor  da sua  carne, da sua pele e das suas hastes...

As renas são agora obrigadas a deslocar-se  para  mais longe em busca de comida. Pelo caminho, têm de atravesar  linhas férreas ou estradas principais, muitas vezes vedadas,   e onde correm o risco de serem atropeladas e mortas.

As doze "renoducts" cuja construção está planeada   n Norte, nos condados de Norrbotten e Västerbotten,  pretendem mitigar ou aliviar a situação...  E, pelo menos,  as autoridades já não terão, 
de futuro,  de fechar a principal autoestrada norte-sul, a  E4,  quando um rebanho estiver em  trânsito.

[ Tradução, adaptação livre, fixaçáo  de texto, para efeitos de publicação neste poste: LG]

Fonte: Jon Henley - Sweden to build reindeer bridges over roads and railways. The Guardian, 20Wed 20 Jan 2021 13.16 GMT... Com a devida vénia...

 
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 19 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22920: (Ex)citações (399): Ética na guerra ? O caso do "matador" do comandante de bigrupo Mário Mendes (1943-1972): "Não se mata um homem de costas", disse ao António Duarte, o apontador da HK 21, do 4º Gr Comb da CCAÇ 12... (Seria o Cherno Baldé ?)

sábado, 24 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22401: Fauna & flora (16): Répteis da Guiné-Bissau que é preciso conhecer e proteger: 2 crocodilos, o crocodilo-do-Nilo (Lagarto) e o Lagarto preto; e duas linguanas (a de água e de mato)

República da Guiné-Bissau, Direcção Geral dos Serviços Florestais e Caça, Deparatmento da Fauna e Protecção da Natureza, s/l, 34 pp. s/d (Disponível em formato pdf, aqui, no sítipio do IBAP , https://ibapgbissau.org/Documentos/Estudos/Animais%20da%20Guine-Bissau.pdf)


Animais protegidos no lei, na Guiné-Bissu_ estão incluidos o Crocodilo-do Nilo (Lagarto) e o Crocodilo 


1. A propósito dos répeis, referidos no poste P22399 (*), aqui vai informação adicional (**):

 

Fi8cha técncia: Crocodilo-do-Nilo (Lagarto)  (Crocodylus nolotcus) (pág. 28)


 

Lagarto preto (Osteolaemus tetraspis) (pág. 28)



Ficha sobre a Linguana-de-água (Varana niloticus) (pág.29)


Ficha sobre a Linguana-de-mato (Varana exanthematicus) (pág. 29)


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Notas do editor:


(*) Vd. poste de  24 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22399: Fotos à procura de... uma legenda (146): Uma vez por todas, não havia nem há "jacarés" na Guiné-Bissau, mas "crocodilos" (e outros répteis)

quinta-feira, 11 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21994: Manuscrito(s) (Luis Graça) (200): "A minha esperança mora / No vento e nas sereias / É o azul fantástico da aurora / E o lírio das areias" (Sophia)


Foto nº 1 > Lourinhã > Porto das Barcas > Tabanca do Atira-Te Ao Mar > 6 de março de 2021 > O lírio-das-areias

 
Foto nº 2 > Lourinhã > Porto das Barcas > Tabanca do Atira-Te Ao Mar >  6 de março de 2021 > 
 
Foto nº 3 > Lourinhã > Porto das Barcas > Tabanca do Atira-Te Ao Mar >  O lírio-das-areias em flor
 

Foto nº 4 > Lourinhã > Praia da Areia Branca  > Dunas >  11 de março de 2021 > 


 Foto nº 5 > Lourinhã > Praia da Areia Branca  > Dunas >  11 de março de 2021 >
 

Foto nº 6 > Lourinhã > Praia da Areia Branca  > Dunas >  11 de março de 2021 > O lírio-das-
areias cercado pelo chorão-das-praias (Carpobrotus edulis), 

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Que planta é esta, que cresce à beira-mar ?  Tem muitos nomes populares: lírio-das-areias, narciso-das-areias, lírio-das-praias, lírio-das-dunas, pancrácio marítimo... Nome científico Pancratium Maritimum...

É uma planta autóctone de Portugal continental ( , não existe por exemplo na Madeira), vive nas dunas e areais costeiros, geralmente na duna primária e nos vales entredunares, ao longo de toda a nossa costa, do Minho ao Algarve...

Cantada por poetas como Sophia de Mello Breyner Andresen: "A minha esperança mora / No vento e nas sereias / É o azul fantástico da aurora / E o lírio das areias." (in: Dia do Mar). 

2. Diz a Wikipedia

(i) Descrição:

(...) É uma espécie herbácea, as folhas erguidas sobressaem do solo formando um denso ramalhete; têm entre 5 e 20 mm de largura e são de cor verde azuladas. Têm um bolbo largo, esbranquiçado, com várias capas membranosas. A ingestão provoca uma grade toxicidade, visto conter heterósidos cardiotónicos. As raízes estão situadas a uma profundidade de até 0,8 m abaixo da superfície.

As flores são pediceladas, grandes, de cor branca, com semelhança aos narcisos, muito aromáticas e com um tamanho de até 15 cm de comprimento. A for apresenta 6 tépalas lanceaoladas abertas na periferia e com uma nervura esverdeada dorsal que nasce na base da umbela. A corola com forma de trompete, também branca, contém 12 dentes de forma triangular. Os 6 estames são de cor esbranquiçada, com anteras de cor amarela em forma de rim.

O ovário é trilocular e sobressai sobre o cálice. O fruto é uma cápsula grande e ovóide, em cujo interior se encontram as sementes, negras e de forma triangular, com picos. (...)

(ii) Etimologia:

Pancrácio provem do grego παν (pan, "tudo") e κρατυς (cratys, "potente") em alusão a supostas virtudes medicinais da planta. Maritimum vem do latim "mar", devido ao seu habitat costeiro.

3. Floração:

Já quanto à floração, há divergências nos registos: estas  imagens (Fotos nºs 1, 2 e 3) que fizemos, no Porto das Barcas, na "saída de emergência" da nossa "secreta" Tabanca do Atíra-Te ao Mar (, de que é régulo o nosso camarada Joaquim Pinto Carvalho),  têm a data de 6 de março de 2021... Estes lírios-das-areias aparecem no alto na arriba do Porto das Barcas e já estão a florir... 

Nas dunas da Praia da Areia Branca / Praia do Areal, costumamos vê-las florir mais tarde, a partir de fins de maio e princípios de junho... 

As dunas são ecossistemas muito sensíveis e correm o risco de desaparecer...  Infelizmente este passeio pedonal, ligando a foz do rio Grande à praia do Areal,  está muito degradado... É uma pena!... Mas quando for recuperado,  por favor, senhores autarcas, mandem arrancar os chorões que esmagam as nossas lindas plantas autóctones dunares!... Ofereço um dia ou meio-dia de trabalho voluntário, conforme o estado de saúde das minhas pernas,  para ajudar a arrancar os malditos chorões!

O chorão-das-praias é espécie invasora, proveniente da África do Sul, e como tal está listada no Decreto-Lei nº 92/2019, de 10 julho.(Assegura a execução, na ordem jurídica nacional, do Regulamento (UE) n.º 1143/2014, estabelecendo o regime jurídico aplicável ao controlo, à detenção, à introdução na natureza e ao repovoamento de espécies exóticas da flora e da fauna.)
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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de fevereiro de  2021 > Guiné 61/74 - P21918: Manuscrito(s) (Luís Graça) (199): Elegia para Isabel Mateus (Soure, 1950 - Lourinhã, 2021)

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21533: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (11): O morcego e a cria, ou um "desastre.. da caça"


Capa do livro de: Ana Rainho e Cláudia Franco - Morcegos da Guiné-Bissau: um contributo para o seu conhecimento. Lisboa: Instituto de Conservação da Natureza, 2001, 86 pp., il. (Coleção Técnica) [Disponível aqui em formato pdf] (*) (Reproduzido com a devida vénia...)



Carlos Barros, Esposende


1. Mais uma pequena história do Carlos Barros [, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974; membro da Tabanca Grande nº 815, tem 14 referências no nosso blogue; vive em Esposende, é professor reformado]


O morcego e a cria…

por Carlos Barros (**)


O Comando da 2ª Cart de Nova Sintra, escalou, mais uma vez, o 3º grupo de combate para garantir a segurança da estrada Tite-Enxudé, uma via de extrema importância  uma vez que garantia o acesso, por via marítima e fluvial, à cidade de Bissau, através da utilização de pequenas embarcações.

Numa 4ª feira, o furriel Barros estava descansado, devidamente armado, no seu posto de vigilância nesse percurso e, por sinal, entretinha-se a caçar alguns pássaros com a sua arma de pressão, no meio dos cajueiros.

Num cajueiro, amarrado a um ramo, encontrava-se um morcego e o Barros, decidiu dar-lhe um tiro já que nunca tinha visto ao perto um morcego.

Um tiro certeiro e passados segundos, esse animal cai no chão poeirento do posto de vigilância e, algo de imprevisível tinha acontecido: o morcego caiu morto e tinha uma cria junto de si e o destino da cria estava traçado…

O Barros estava amarelo e tremendamente arrependido por ter morto o morcego já que nunca suspeitou que existia uma cria em amamentação pois, se soubesse, jamais atiraria ao infeliz animal.

Um dia estragado, mais um “desastre” na caçada do Barros,  e este militar, como muitos outros, andava um “pouco apanhado” da guerra que transformava os homens em autênticos “animais irracionais”…

Se houvesse, na altura uma Associação Protectora dos Animais, o Barros assumiria a culpa e suportaria as consequência e digo isto, porque o furriel, em parte, recuperou das mazelas psíquicas que a atroz guerra provocou.

A partir desse momento, a arma de pressão entrou de féria durante muito tempo…

Nova Sintra, 1972

Barros

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Notas do editor:

(*) Excertos: Considerações Finais (pp. 77/78)

(...) Uma das principais ameaças que recai sobre os morcegos do Oeste africano é a falta de estudos dirigidos à conservação. Nas últimas décadas, poucos trabalhos têm sido realizados nesta região, sendo assim difícil avaliar, não só a situação das populações de morcegos, mas também os verdadeiros factores de ameaça que recaem sobre estas espécies.

Não constituindo uma excepção, os trabalhos realizados até à data, na Guiné-Bissau, não permitem obviamente, avaliar o estado das populações de quirópteros aí presentes, de modo a determinar o seu estatuto de ameaça ou a sua tendência populacional. No entanto, da análise que nos é permitida fazer aos dados de que dispomos, evidenciam-se alguns pontos que merecem ser aqui ser referidos:

(i) Constata-se que a maioria dos quirópteros encontrados na Guiné-Bissau, são espécies florestais, que utilizam estas áreas para abrigo e alimentação. É também bastante evidente que este é o habitat mais (sobre) explorado no território. Num país onde a energia eléctrica se reduz à área da capital, e mesmo aí sofre frequentes interrupções, é fácil compreender o valor do carvão como fonte de energia. 

Agravando ainda mais esta situação, existe uma política de incentivo à exploração de madeira e procede-se à eliminação da floresta para dar lugar a campos agrícolas. Assim, este habitat, onde ocorre a maioria do quirópteros conhecidos para a Guiné-Bissau, sofre uma redução considerável e continuada que é bastante preocupante. Esta situação revela a necessidade urgente da tomada de medidas prementes para o controlo da destruição desregrada da floresta. 

A estratégia de controlo da desflorestação parece quase inevitavelmente passar pela recurso a energias alternativas, nomeadamente à energia solar. Um exemplo excepcional que vai de encontro a esta estratégia é o plano da IUCN (em implantação em 1998), de divulgação de fornos solares de alto rendimento, a qual deveria ser feita, não apenas em áreas protegidas, mas também a nível nacional.

(ii) A reconversão da floresta em arrozal já desde há muito se provou ineficaz, já que os anos de produtividade são muito reduzidos, sendo estes campos geralmente abandonados após um curto espaço de tempo. O acelerar da recuperação de muitos terrenos de cultura, com plantação de espécies pioneiras, seria outra estratégia a tomar, juntamente com prévia análise e controlo das áreas a desflorestar para a agricultura. 

Também se verifica a reconversão da floresta para plantações frutícolas, sobretudo de cajueiros, resultante de uma política de incentivo à produção, tendo em vista a exportação de frutos. Neste caso, dever-se-ia tentar utilizar os terrenos já previamente desflorestados, para esta actividade.

(iii) De salientar também que, para além das áreas florestais, as savanas do tipo Guineano, do Oeste Africano, são consideradas como centros de riqueza específica (...)  ao nível africano, o que confere uma responsabilidade acrescida na preservação deste habitat no território.

(iv) Ao nível de populações de morcegos, o reduzido número de capturas e a reduzida riqueza específica revelados nas ilhas de Bubaque e Orango, justificam o estudo da capacidade de migração de algumas das espécies aí presentes e assim averiguar a viabilidade das populações de morcegos insulares.

(v) Também as grutas do Boé, cuja importância a nível nacional é inegável, deveriam ser regularmente monitorizadas, para acompanhamento das colónias que as ocupam e controle atempado de potenciais ameaças. 

(vi) Da listagem de espécies obtida para a Guiné-Bissau, 8 espécies podem ser preliminarmente consideradas como prioritárias nos estudos a desenvolver, pelo estatuto que lhe é atribuído pela UICN a nível mundial, pela falta de confirmação da sua presença ou por se encontrarem no limiar da sua área de distribuição. 

Estas são: H. monstrosos, E. buetticoferi, C. afra, H. cyclops, H. abae, R. alcyone, R. denti, H. fuliginosus, E. guineensis, C. poensis e C. beatrix.  Os estudos a desenvolver deveriam ter como fim o desenvolvimento de planos de acção para estas espécies. 

Obviamente que todos estes pontos têm subjacente o reconhecimento político e popular da necessidade de conservação dos quirópteros. Os morcegos são raramente incluídos em políticas ambientais ou projectos educacionais, sendo por isso importante garantir que os políticos e decisores sejam totalmente esclarecidos sobre a importância dos morcegos e do seu papel nos ecossistemas africanos (...).

 Este deverá certamente ser o primeiro passo a dar na conservação dos morcegos na Guiné-Bissau. Refira-se por exemplo, a propósito de projectos educacionais, que, apesar de actualmente a situação não parecer particularmente gravosa, se deveriam também realizar algumas campanhas informais de esclarecimento dos proprietários das fruticulturas sobre a importância dos morcegos frugívoros, e do real impacto que estes têm sobre esta actividade, geralmente sobrestimada. (...)

[Revisão e fixação de texto para efeitos de edição neste blogue: LG]

(**) Último poste da série > 5  de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21517: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (10): Relembrando a morte, por acidente com um dilagrama, no CIM de Bolama, em 10/7/1972, do alf mil Carlos Figueiredo