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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25170: In Memoriam (496): Major Inf Humberto Trigo de Bordalo Xavier (1935-2024), ex-cap QEO, "ranger", CART 3359 (Jumbembém, 1971), CCAÇ 12 (Bambadinca, c. 1972) e CCAÇ 14 (Cuntima, c.1973), aqui recordado por Victor Alves (1949-2016), Joaquim Mexia Alves e António José Pereira da Costa; passa a integrar, a título póstumo, a Tabanca Grande, sob o n.º 884

Major inf Humberto Trigo de Bordalo Xavier, natural de Lamego (c. 1942-2024). Foto: cortesia de Joaquim Mexia Alves e da Associação de Operações Especiais



1. Recordem-se aqui algumas referências elogiosas ao ex-cap inf "ranger", QEO,  Bordalo Xavier (1935-2024) (*), publicadas no nosso blogue:

(i) O saudoso Victor Alves (1949-2016), que foi, no seu tempo, fur mil SAM na CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/73), escreveu sobre ele o seguinte:

(...) Amigo Luís, conforme informámos (...), lá realizámos o nosso habitual encontro (...) o 34º.  Tem causado algum espanto, o facto de se ter começado a realizar, tão cedo, os nossos encontros...

Foram vários os factores que contribuiram para isso. Porém, o grande causador disso terá sido a vinda, para a CCAÇ 12, do Cap Humberto Trigo Bordalo Xavier, oriundo das Operações Especiais, e amigo pessoal de Spínola.

Ele soube muito bem provocar uma aglutinação e consequentemente uma união entre todos, ao ponto de estabelecer uma messe e bar para todos os militares da companhia oriundos da metrópole, sem distinção de posto...

Foi, na minha óptica, eata a principal razão da nossa união. Eu, por exemplo, como vagomestre e sempre que havia uma operação, por exemplo com saída às 4 da manhã, lá estava a dar pequeno almoço, pão quente e café à rapaziada que seguia. Assim como, mal regressassem, por exemplo, às 3 da tarde, tinham sempre a refeição com meio frango ou meio bife com acompanhamento à sua espera...

Foi isso que o Capitão pediu e foi isso que se fez. É evidente, dentro dos limites da guerra. Com fomos todos em rendição individual, nem sempre nos encontros conseguimos reunir todos, alguns já faleceram, outros emigraram e outros não vão porque... não.

Este ano conseguimos trazer mais duas presenças novas o que foi maravilhoso, foram eles o cabo radiotelegrafista Andrade, de Caldas da Rainha, e o cabo cripto Simões, de Lisboa. Isto quer dizer que não nos víamos há 37 anos, portanto foi muito bom.(...)

Também dele fala, com entusiasmo e emoção, o Joaquim Mexia Alves, ex-alf mil op esp, que esteve n Guiné, entre dezembro de 1971 e dezembro de 1973, tendo pertencido à CART 3492 (Xitole), ao Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e à CCAÇ 15 (Mansoa): nunca esteve aquartelado  mas sim no Rio Udunduma e no Mato Cão, destacamentos do Sector L1 (Bambadinca); ia de vez em quando à sede do Batalhão, o BART 3873, 1972/74, a que estava adida a CCAÇ 12: é um histórico da Tabanca Grande, régulo da Tabanca do Centro (Monte Real), tem cerca de 310 referências no nosso blogue:

(...) A sala de que fala o Vitor Alves, frequentei-a muitas vezes, aliás, para mim era a sala que eu frequentava nas minhas visitas a Bambadinca.

O Cap Bordalo Xavier, meu particularissimo amigo, é e foi na Guiné um homem de extraordinárias relações humanas, para além de um fantástico operacional, que conseguiu uma união notável com todo o pessoal, não só da CCAÇ 12 mas de outras unidades, como o meu 52.

Reside em Lamego, é major, obviamente na reserva, e é a alma da Associação de Operações Especiais. Infelizmente há muito que não contacto com ele, mas quero fazê-lo brevemente.

Retenho na memória, há uns anos em Monte Real, eu estava ao fim da tarde a jogar ténis no campo à frente do Hotel das Termas e vejo para um carro e dele sair uma pessoa que me pareceu o Cap Bordalo.

Achei que não podia ser, mas roído pela curiosidade pedi desculpa ao meu parceiro e fui perguntar ao porteiro do Hotel quem era a pessoa que tinha chegado. A resposta deu como certa a minha suposição. Não o via desde a Guiné.

Imediatamente pedi ao porteiro que ligasse para o quarto e pedisse ao capitão para vir à rcepção por um motivo qualquer. Quando nos vimos, literalmente num abraço como que lhe peguei ao colo, (o Cap Bordalo Xavier é bem mais baixo do que eu, o que não é de espantar), e ficámos ali não sei quanto tempo abraçados.

O hall do Hotel estava cheio de gente que ficou muito espantada de me ver assim abraçado a um homem de barbas. Foi dos encontros mais emocionantes da minha vida!!! (...) (***)


(...) "Quando estava no Pel Caç Nat 52, junto a Bambadinca, tinha uma forte ligação à CCAÇ 12, não só operacional mas de amizade com todos eles, especialmente o Capitão Bordalo e os seus Alferes, de que infelizmente neste momento não me lembro do nome de nenhum.

"Para além das operações e outras actividades que íamos fazendo, sobrava-nos tempo para algumas loucuras, resultantes de algum cacimbo e do cansaço provocado pelo stress permanente, e por alguma incompetência, de quem deveria ser competente.

"Entre algumas de que lembro, fomos uma vez à noite, o Capitão Bordalo Xavier, os seus Alferes e eu, armados até aos dentes, de Unimog jantar ao Xime, pela estrada de todos conhecida e que naquela altura só se fazia em coluna protegida, mercê das emboscadas que nela tinham acontecido.

"Quando regressávamos, num alarde a roçar a loucura, talvez também ajudados por uns uísques, parávamos na estrada, no sítio das emboscadas, e voltados para a mata, aliviámos as bexigas.

"Foi um momento hilariante, mas muito intenso, que nos uniu ainda mais na amizade e companheirismo" (...). (****)


(iii) António José Pereira da Costa 

Nosso grã-tabanqueiro desde 12/12/2007, coronel art ref, ex-alf art, CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74; autor da série e do livro com o mesmo n0me, "A Minha Guerra a Petróleo"; é um dos mais ativos membros do nosso blogue, onde tem 194 referências:

(...) Também eu sou amigo do Cap Bordalo (Xavier).

Já fui a Lamego e tive dificuldade de comunicar com ele por estar completamente surdo. Encontrei-o no Clube de Lamego na sua paixão (jogar bridge).

Fui agradecer-lhe a ajuda que me deu no dia 10 de agosto de 1972, quando morreram 3 soldados da CART 3494. Os detalhes deste acontecimento estão no meu livro "A Minha Guerra a Petróleo" (Ed Chiado Books, fev 2019). (...)

Não tendo vantagem em ficar à beira do rio e debaixo de chuva torrencial, acabámos por "ser autorizados" a dirigirmo-nos a Bambadinca num percurso extremamente difícil pela bolanha. A certa altura começámos a ver uma luz para nos orientarmos. Era o Bordalo que, com um pequeno grupo da CCaç 12, trazia um petromax à cabeça para evitarmos as áreas mais alagadas.

Realizámos (a CART 3494) uma acção ("Garlopa II") com a CCAÇ 12, para Sul da zona da Ponta Varela. Fomos pela 2.ª vez a uma área que o In ocupava, usando a população como escudo humano. A CCAÇ 12 desceu pelo nosso lado direito em direcção ao Sul e, terminada a acção, retirámos pelas mesmas posições. Já no final houve um ligeiro contra-ataque sem consequências.

Sei que participou no 25 de Abril, mas não sei em que moldes. Depois de Abril, encontrámo-nos em Coimbra quando os oficiais da guarnição do Norte vieram pôr-se às ordens do brigadeiro Charais e alguns anos no breve contacto no Estado-Maior do Exército.(...)

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos e itálicos: LG)

2. Comentário do editor LG:

O saudoso cap inf op esp QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier , natural de Lamego, no TO da Guiné, foi  comandante de: (i)  CART  3359 (Jumbembém, 1971/73),, subunidade do BART 3844, "Bravos e Sempre Leais" (Farim, 1971/73; (ii) CCÇ 12 (Bambadinca, c. 1972); e CCAÇ 14 (Cuntima, c. 1973).

Tinha feito uma comissão de serviço em meados da década de 1960 em Angola, como cap mil grad inf, na 1ª Companhia (mais tarde, CCAÇ 211), do BCAÇ 3, unidade de guarnição normal (que a partir de 1abr67 passou a designar-se por BCAÇ 12).

O  major (na reforma) Humberto Trigo de Bordalo Xavier foi, ainda em vida, agraciado com a Ordem da Liberdade, Grande-Oficial (por Alvará n.º 12/2023, de 24 de abril de 2023, da Presidência da República, Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas, publicado no Diário da República n.º 80/2023, II Série, de 2023-04-24, pág. 23). 

A Ordem da Liberdade, criada em 1976, destina-se a "distinguir serviços relevantes prestados em defesa dos valores da Civilização, em prol da dignificação da Pessoa Humana e à causa da Liberdade". (*****)

A notícia daua morte tambémfoi dada na página do Facebook da Associação de Operações Especiais, de que o Xavier Bordalo era sócio honorário e antigo membro da direção

Tendo 10 referências no nosso blogue, e sendo um oficial muito querido entre as companhias africanas (CCAÇ 12 e 14) e entre os nossos "rangers" (era também amigo pessoal do nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro), faz todo o sentido que o Bordalo Xavier repouse aqui, também, simbolicamente, entre os seus camaradas da Guné, à sombra do nosso poilão, nº lugar nº 884 (*******)

 _______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série >  14 de fevereiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25169: In Memoriam (495): major inf ref Humberto Trigo de Bordalo Xavier, ex-cap op esp QEO, CART 3359 (Jumbembém, 1971), CCAÇ 12 (Bambadinca, 1972) e CCAÇ 14 (Cuntima, 1973); era natural de Lamego (c. 1948-2024) (Joaquim Mexia Alves)

(***) Vd. poste de 11 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1834: O Capitão de Op Esp Bordalo Xavier, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/73) (Joaquim Mexia Alves)


(*****) Vd. poste de 18 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24411: (In)citações (250): Sou amigo do ex-cap QEO Bordalo Xavier, ex-cmdt da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/72); fui a Lamego pagar-lhe uma dívida de gratidão; sei que participou no 25 de Abril de 1974 mas não sei qual foi o seu papel (António J. Pereira da Costa, cor art ref)

(******) Vd. poste de 15 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24401: Louvores e condecorações (14): Ordem da Liberdade, Grande Oficial, para o antigo cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier, cmdt da CCAÇ 12 (e também da CCAÇ 14, e antes da CART 3359)

(*******) Vd. poste de 6 de janeiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25040: Tabanca Grande (554): Alberto Pires, "Teco", natural de Angola, ex-fur mil da CCAÇ 726 (Guileje, out 64/ jul 1966): passa a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 883

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24447: Casos: a verdade sobre... (34): A CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72), comandada pelo cap inf Augusto José Monteiro Valente (1944-2012), e depois maj gen ref, que embarcou para o CTIG sem três alferes (que terão desertado) e durante a IAO ficou sem o último, por motivos disciplinares...


Guião da CCAÇ 2792 Cortesia do nosso tabanqueiro Amaral Bernardo, ex-alf mil médico, CCS/BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72), esteve na CCAÇ 2726, uma companhia independente, açoriana, que guarneceu Cacine (1970/72); passou também cerca de um ano (1971) em Bedanda (CCAÇ 6); tem cerca de meia centena de referências no blogue.

1. Quem ler o resumo da história da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) não se apercebe do "drama" do seu pessoal e do seu comandante... Esta subunidade partiu para a Guiné, no T/T Carvalho Araújo,  em 19 de setembro de 1970,  desfalcada de três dos seus quatro oficiais subalternos: não compareceram ao embarque, por razões que desconhecemos (ou melhor: "desertaram", segundo a cópia da história da unidade que possuímos, com anotações manuscritas, que presumimos serem da autoria do seu antigo comandante, falecido aos 68 anos como maj gen ref, Augusto José Monteiro Valente).

Quando estava a fazer a IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional), no CIM de Bolama  (instrução que terminou a 30 de outubro de 1970), o seu único alferes, miliciano,  e para mais com a especialidade de operações especiais, foi transferido no dia 22 desse mês e ano, por motivos disciplinares.

Quando a companhia estava pronta, em 16 de novembro de 1970, para embarcar em LDM paar Bissau e depois para o sector que lhe foram destinado no sul da Guiné (Catió e Cabedú), não tinha oficiais subalternos... Uma situação anómala e talvezs inédita... Mas os problemas de pessoal  não ficaram só por aqui... Leia-se este excerto da história da unidade, cap I, pág. 61:

(...) CONCLUSÃO:

1.  No aspeto de pessoal, a Companhia começou a sua vida na Guiné bastante mal, dada a falta de três oficiais com que embarou na Metrópole, situação agravada posteriormente por o único subalterno presente ter sido transferido por motivo discxiplinar

En consequéncia a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO) descorreu sem subalternos. Estes só começaram a chegar quando a subuniddaes entrou em Sector.

Felizmente o espírito de corpo e de disciplina das praças era bastante forte e os sargentos chamados  ao comando dos Grupos de Combate revelaram-se competentes para o cargo-. A Compamhia,apesar das dificuldades por que passou no início, manteve-se coesa e disciplinada.

2. Ao longo da comissão a Companhia foi sendo privada de furriéis quer, pelas suas suas qualidades, foram colocados em diligênnci em subunidades africanas. Para ocupar as suas vagas foram chegando furriéis recém-vindos da Metrópole, sem contacto com tropas  e que colocados de repente no comando de militares já  com meses de comissão, afetariam necessariamente o ritmo da atividade da Companhia.

3. Uma companhyia, se se pretende seja eficiente, não pode ser ser constituída só por 144 praças, 17 sargentos e 5 oficiais; é necesaário, além disso, que estes homens formem uma "unidade, que se conheçam uns aos outros, que se estimem e amem mutuamente, o que náo pode ser conseguido com mudanças frequentes do pessoal que a constitui. (...) (*)

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos: LG)


2. Ficha  da unidade: Companhia de Caçadores n." 2792

Identificação: CCaç 2792

Unidade Mob: RI 16 - Évora

Crndt: Cap Inf Augusto José Monteiro Valente (**)

Divisa: - "P'rá Frente"

Partida: Embarque em 19Set70; desembarque em 020ut70 | Regresso: Embarque em 08Set72

Síntese da Actividade Operacional

Após ter realizado a IAO, de 05 a 310ut70, e ainda efectuado o treino operacional, de 01 a 15Nov70, no CIM, em Bolama, seguiu, por fracções, em 18Nov70 e 04Dez70, para Catió e Cabedú.

Em 06Dez70, rendendo a CArt 2476, assumiu a responsabilidade do subsector de Catió, com dois pelotões no destacamento de Cabedú, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 2865 e depois do BCaç 2930, tendo sofrido várias flagelações aos aquartelamentos e executado patrulhamentos, emboscadas e contactos com as populações.

Em 21Ago72, foi rendida no subsector de Catió pela CArt 6251/72, tendo-se deslocado por fracções, em 13Ago72 e 23Ago72, para Bissau, a fim de  aguardar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 87 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 397.

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos: LG)

3.  Cópia da história da unidade que me chegou às mãos com o carimbo do Centro de Documentação 25 de Abril  / Universidade de Coimbra 



Companhia de Caçadores 2792- História da Unidade. Província da Guiné. Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra. Espólio 186. Nº 8165. Oferta do general Augusto Valente.  (Excerto, manuscrito, pág. 3/I)


Nota manuscrita, pág. 4/I: "144 praças | 17 sargentos | 05 oficiais. Â partida faltavam 3 oficiais (que desertaram)". (Segundo informação da história da unidade, a Companhia era "constituída  por militares naturais de diversas províncias metropolitanas, sendo contudo as maiores percentagens constituídas por militares naturais das regiões a Norte do Rio Douro e a Sul do Rio Tejo", pág. 3/I).

Não sei se as notas manuscritas, aqui reproduzidas,  são do punho do maj gen  ref Augusto José Monteiro Valente (1944-2012). Julgo que foi um antigo aluno meu, pessoa que muito estimo,  o médico do trabalho Joaquim Pinho, da região centro,  que me facultou, há uns anos atrás,  cópia (não integral) desta história da CCAÇ 2792. Em 05/08/2022, 14:45, enviou-me, por email,  a seguinte mensagem (de que se transcrevem alguns excertos)
 
Caro Doutor: Aqui estou, sempre que souber algo relevante de ex-combatentes da Guiné...
Em 31 de janeiro faleceu no Porto,  de "doença prolongada" , o Furriel Miliciano Ranger e de Minas e Armadilhas, Licinio Cabral,  da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 70-72)... 

Esta companhia foi comandada pelo falecido capitão Augusto Valente (que vivia em Coimbra) (...) .A 2792 ficou "celebre " pois 3 dos seus alferes "desertaram " na véspera de embarque para a Guiné -Os furrieis "provisoriamente" tiveram que assumir os Pelotões...Mais tarde outro alferes desertou...


Dados da CÇAÇ 2792 foram oferecidos (ao Centro de Documentação 25 de Abril e são de acesso livre),  em vida,  pelo então general Augusto Valente, ex-MFA, com papel de relevo nos acontecimentos do 25 de Abril, na Guarda (RI 12) e Vilar Formoso (PIDE/DGS), bem como  no pós- 25 de Abril, ex Comandante da GNR, licenciado em História pela Univer5sidade de Coimbra, etc. (...).

Acrescente-se ainda que o cap inf Monteir0 Valente, entre outros cargos e funções, foi "instrutor, comandante de companhia e diretor de cursos de Operações Especiais, no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Lamego (1968-1970, 1972-1974)." (Foto à esquerda, cortesia do blogue Rangers & Coisas do MR", do nosso coeditor, amigo e camarada Eduardo Magalhães Ribeiro).

Proximamente o blogue irá reproduzir mais excertos da  história da CCAÇ 2792, de que hão há qualquer representante na Tabanca Grande.
____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 16 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23988: Casos: a verdade sobre... (33): Vitorino Costa, o primeiro comandante da guerrilha, formado em Pequim em 1961, a ser morto pelas NT em meados de 1962
 
(**) Vd. nota biográfica: Carlos Barroco Esperança – Major-general Augusto José Monteiro Valente – Militar, Republicano, Patriota e Herói de Abril. Praça Velha : revista cultural da cidade da Guarda. - ISSN 0873-8343 . - Ano XIV, nº 32, 1ª série (Dezembro 2012), p. 121-132. Disponível aqui em formato pdf (9 pp.).

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24286: Convívios (957): Pessoal de Bambadinca, 1968/71 (CCS/BCAÇ 2852, CCS/BART 2917, CCAÇ 12,Pel Caç Nat 52, 54 e 63, Pel Rec Daimler 2046 e 2206, Pel Mort 2106 e 2268: 27ª edição, Coimbra, 27 de Maio de 2023: inscrições até ao dia 16 (António Damas Murta, ex-1.º Cabo Op Cripto, CCAÇ 12, 1969/71)

 



Brasões das unidades e subunidades que passaram por Bambadinca (Setor L1 da Zona Leste, Região de Bafatá) entre meados de 1968 e meados de 1971. Composição do nosso editor Eduardo Magalhães Ribeiro.

Infogravura: Eduardo Magalhães Ribeiro / BLogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)




António Damas Murta, ex-1º cabo Op Cripto 
CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71); 
bancário, reformado da Caixa Geral de Depósitos,~
residente em Coimbra.



1. A organização, este ano, está a cargo do António Damas Murta [foto acima ], com a preciosa ajuda sua filha Sofia Murta.  (Palmas para ele, é o terceiro encontro que organiza, depois dos de 2009 e 2014).

Apesar das dificuldades económicas e sociais que atingem muitos portugueses, incluindo muitos dos nossos ex-camaradas de armas (agravadas pelas  limitações de mobilidade e saúde), esperemos que o 27º almoço-convívio em Coimbra, no próximo dia 27 de maio de 2023, atinja ou ultrapasse mesmo as 80 inscrições do último ano (2022).

Publica-se a seguir o convite e o programa do 27º convívio anual do pessoal que passou por Bambadinca entre 1968 e 1971. A reter:

(i) ponto de encontro; Estádio Universitário de Coimbra, às 10h00;

(ii) Missa na igreja de Santa Cruz, na baixa coimbrã, às 11h00;

(iii) Almoço no restaurante "República da Saudade", a partir das 13h00;

(iv) Preçário: 31 morteiradas (adulto):

(v) Inscrições até 16 de maio;

(vi) contactos: telef 239 71 30 55 / telem 964 538 201 (António Murta) | telem 968 050 119 (Sofia Murta, depois das 17h00, durante a semana)

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Nota do editor:

Último poste da sériie > 27 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24258: Convívios (956): A CCAÇ 2381 comemorou o seu regresso no 9 de Abril de 1970, fazendo o seu 30.º Almoço / Convívo no dia 15 de Abril, em Torres Vedras (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro)

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22976: Adeus, Fajonquito (Cherno Baldé) - Parte II: A chegada dos guerrilheiros, outrora "bandidos", agora "heróis da libertação da Pátria"...A (mu)dança das bandeiras... Os meus novos amigos, balantas...



Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 4612/74 (12jul74-15/10/74) > 9 de setembro de 1974 > Cerimónia da entrega (simbólica) do território aos novos senhores da Guiné, o PAIGC, e da retirada, ordeira, digna e segura, das últimas tropas portuguesas. Mansoa, em pleno coração do território, na região do Oio, serviu perfeitamente para esse duplo propósito...É uma foto  histórica, em que se vê o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro, então fur mil op esp / ranger, a arriar a bandeira verde-rubra. (O MR é membro da nossa Tabanca Grande, desde 1/11/2005 (*)...

Foto (e legenda): © José Lino Oliveira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Fajonquito > Antigo quartel das NT > 2010 > Trinta e seis anos da "troca de bandeiras" , em 1 de setembro de 1974... Visita do Cherno Baldé e família > Local onde estava situado o pau da bandeira; à esquerda as ruínas do forno de cozer o pão que fazia as delícias do "Chico, menino e moço"


Foto (e legenda): © Cherno Baldé (2010).
Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Adeus, Fajonquito (Cherno Baldé) - Parte II (*)


(iii) A chegada dos guerrilheiros


Passaram-se dias e semanas e, quando menos se esperava, foi anunciada a chegada dos guerrilheiros que devia acontecer para os lados de Oio/Caresse, zona donde se esperava que viessem, naturalmente. Toda a aldeia saiu para assistir à chegada mas, era falso alarme. No sítio indicado não estava ninguém.

Passados alguns dias, foi feito o mesmo anúncio mas, já metade da aldeia estava na dúvida e preferia esperar pela confirmação. Desta vez, efectivamente, estavam lá e, não era do lado de Caresse (oeste) mas do lado sul (Bairro Mandinga de Morcunda), donde menos se podia esperar. Tratava-se de uma táctica da guerrilha, simples diversão ou prudência de quem ainda não acreditava na sua sorte? Talvez fosse tudo isso ao mesmo tempo.

Rapidamente a notícia correu pelas aldeias da redondeza, as pessoas afluíram em massa. Crianças, jovens, mulheres, velhos; todos queriam ver a gente do mato, aliás, os “bandidos” agora convertidos em heróis da libertação nacional. 

Depois de todas as campanhas de desinformação do regime colonial, o que vimos era simplesmente inacreditável. Afinal, eram pessoas normais, como nós, dos pés a cabeça. Não tinham rabos como os animais, nem chifres como imaginamos os diabos. Encontrámo-los, alguns sentados, outros de pé, dispersos debaixo da sombra das mangueiras. Cabeludos, magricelas, olhos vermelhos, uma expressão visual que se situava algures entre o homem e o animal.

Exceptuando as armas e os uniformes que traziam, eram exactamente iguais aos prisioneiros que tínhamos visto no quartel alguns anos antes (na altura a população civil era muito céptica quanto ao serem verdadeiros “Paigecistas” inclinando-se mais para a ideia de que seriam, quando muito, cortadores de chabéu, perdidos entre as remotas aldeias oincas no mato de Caresse).

Controvérsia à parte, aqueles prisioneiros, de facto, não estavam fardados e o aspecto esfarrapado, nauseabundo, mais metia dó que medo. Sempre que podíamos, metíamos algumas coisinhas por baixo das paredes de chapas que serviam de celas, com o nariz apertado entre os dedos. Porém, entre nós, nem todos partilhavam o mesmo sentimento e havia quem aproveitasse a ocasião para dar umas pisadelas nas mãos esfomeadas que apalpavam a terra e o ar à procura do abençoado pedaço de pão. Tinham fome.

  Quem são estes, os cubanos?  − perguntava alguém ao vizinho do lado. Sem resposta.

  São estes que nos metiam tanto medo!?  − comentou, incrédula, uma mulher fula que trazia ao colo uma criança, tendo no corpo apenas o pano amarrado até a cintura pondo a mostra os seios usados, elásticos, espalmados sobre o ventre (é uma pena o “nós Alfero Cabral” não ter passado por aqui).

  Não se iluda,  mulher, no mato, cada um destes bandidos vale por dez   explicou o Queta “chauffeur”, antigo companheiro do tenente Jamanca.

Os homens que se apresentaram eram poucos (um bigrupo?) e pareciam ser mais altos do que eram na realidade, como os corredores de fundo. O comandante era um homem de etnia mandinga, de meia-idade, alto e simpático que logo cativou as atenções, vindo a revelar-se um excelente orador.

Ele mudou os hábitos da aldeia. As suas reuniões de presença obrigatória não demoravam menos de 12 horas, o que lhe valeu a alcunha de Presidente Sékou Touré. Quando as pessoas eram convocadas, diziam às suas mulheres: “Mariama, prepare a comida de manhã cedo, porque vamos a reunião de Sékou Touré”. 

No decorrer das longas reuniões do Partido, aqueles que pediam para ir satisfazer algum necessidade fisiológica, mulheres inclusive, eram acompanhados por homens armados. Começávamos a colher os frutos da verdadeira independência bem à moda dos movimentos de libertação em África.

Os guerrilheiros usavam uniformes castanhos ou cinzentos (pontilhados de pequenas formigas pretas). Eram diferentes dos sarapintados que estávamos habituados a ver. Pareciam novos e os corpos magros, quase esqueléticos, particularmente dos fulas, nadavam dentro dos uniformes o que dava a sensação de que não estariam lá muito habituados a usá-los.

A maioria tinha nos pés sapatos de cor castanha, feitos de um tecido duro e resistente, amarrados com cordel. Eram leves e combinavam bem com a cor das fardas. Alguns deles usavam, ainda, plásticos simples comprados, talvez, no Senegal. Não havia muito rigor no fardamento. Os seus olhos, esses, eram muito vivos e penetrantes, em alerta permanente, com as armas ao alcance das mãos. Pela primeira vez, víamos com os nossos olhos, a famosa RPG7.


(iv) A atracção pela metrópole


Mais tarde, quando a retirada do que restava das tropas portuguesas já era iminente, um outro soldado, mecânico-auto, o Jorge, da companhia de Gadamael, ofereceu-me o livro que seria o primeiro da minha vida, cujo título era "Inglês sem mestre”,  sob um fundo de tiras azuis e vermelhas cruzadas.

Fiquei com vergonha de dizer que não o conseguia ler. Esta oferta tinha mexido comigo e tinha-me incitado a aprender a ler. Na época, não sabendo interpretar o seu conteúdo, ofereci-o ao meu irmão mais velho que estava mais avançado na escola e que o levaria consigo na sua primeira viagem de estudos a Portugal em 1980. Com ar muito triste e lamentando a nossa sorte, o Jorge disse-me naquele dia:

  Olha, Chico, nós vamos embora, os “turras” vão tomar conta disto e são capazes de matar a todos, se quiseres ir comigo eu falo com o teu pai.

  Não, nós vamos dar-lhes as nossas vacas e ficamos em paz  − respondi-lhe, rindo.

Não tinha reagido à sua oferta, como se não tivesse percebido, na realidade não estava interessado. Durante todo o tempo que passámos no quartel entre os portugueses, a informação que tínhamos da metrópole era muito escassa, dispersa, esporádica, idílica, feita principalmente de imagens de meninas brancas, cor da neve, anjos do céu, exibindo-se no jardim de Éden com os seus vestidos “volantes” (Cheira bem… cheira a Lisboa!), docemente embaladas pelo fado da Amália e o trepidante futebol do Benfica de Eusébio da Silva Ferreira, o Pantera Negra, mas era, apesar de tudo, um país de brancos.

A ideia de viver, de forma permanente, no meio dos brancos e suas esquisitices não me seduzia muito, pese o facto de gostar infinitamente dos seus frangos gordurosos, da batata inglesa, do bacalhau salgado e do cheiro dos chouriços vermelhos. (Alláh, o clemente e misericordioso, me perdoará por esta pequena fraqueza humana. ).

Mesmo supondo que eu quisesse ir,  de certeza que a minha avó não mo permitiria. Ela era o meu anjo da guarda e tinha horror aos soldados, com as suas orelhas vermelhas e seus modos libertinos. “Os brancos não respeitam a idade”, dizia. “Se não, como é que se explica que os chefes (os oficiais) sejam mais novos que os subordinados?”. A vista dos soldados, ela fugia e se entrincheirava dentro da sua palhota.

Entretanto, a sua neta, nascida em tempos de Guiné Melhor do seu único filho varão, passava horas a fio a namoricar, mesmo a porta, com um malandro de orelhas vermelhas que só aparecia envolto na escuridão da noite.

Mas, o verdadeiro motivo porque não fui tentado em viajar para a metrópole, estava ligado à forma de lá chegar. Tinham-nos informado, de fontes seguras, que a única forma de uma criança entrar no navio e fazer a viagem era estar metida dentro de um caixão como faziam com os periquitos ou outros animais de estimação. A minha ideia sobre o assunto era clara e firme. Viajar metido num caixão era não, nunca e jamais. Podiam ficar com todas as sardinhas da Europa.

No fundo, também, não acreditava muito nas afirmações do meu amigo Jorge,  pois os germes do nacionalismo que tinham conquistado terreno no inicio dos anos 70 e a propaganda que tinha antecedido a entrada do PAIGC já estava a fazer efeito na consciência de muitos guineenses que não estavam seriamente comprometidos com a guerra.

O meu caso não era isolado pois, mesmo entre as pessoas adultas e que tinham servido na guerra e estando agora desmobilizadas como o Mamadu Baldé (mais conhecido por Mamadu Senegal, antigo chefe de milícias, originário do Senegal, citado numa das narrativas de José Cortes), e muitos outros naturais da zona encontravam-se no meio das pessoas que foram receber os guerrilheiros, num ambiente de festa e confraternização.

Depois da primeira visita, vieram mais outros grupos vindos de outras “barracas” (acampamentos), recebidos sempre com o mesmo entusiasmo pela população civil e militares portugueses e, no meio disso tudo, podia-se notar um facto bem curioso, a meu ver. Pela forma como os recebiam e se congratulavam, trocando pequenos presentes e “lembranças”, os soldados portugueses pareciam muito mais satisfeitos com o fim da guerra do que os guerrilheiros.

Talvez pela primeira vez na história dos conflitos armados, um dos beligerantes que, para todos os efeitos, tinha perdido a guerra, parecia estar feliz por não ter vencido. Era compreensível mas nem por isso deixava de ser intrigante.

Na minha infância, havia duas classes de pessoas as quais nutria uma grande admiração e cujo meio frequentava com muito gosto: Era a dos atletas/lutadores tradicionais (habitualmente fulas pretos) e a dos soldados (de todos os tipos), ambos apresentando características muito semelhantes no que se refere ao seu comportamento: Irreverência congénita, ousadia e provocação, ausência de pudor e inclinação para violar regras sociais pré-estabelecidas e/ou velhos tabus, a fraqueza pelas mulheres e sobretudo a predisposição constante para criar situações ridículas, hilariantes.

Lembro-me, a propósito, de uma conversa entre dois milícias em que um deles explicava ao outro, de forma convincente, que aos brancos não lhes interessava o fim das guerras, de todas as guerras e, acrescentava:

- Na terra deles há uma coisa pequena do tamanho de uma agulha que era capaz de arrasar todo o território da Guiné e matar todos os terroristas num abrir e fechar de olhos.

Agora, eu sei que ele se referia as trágicas bombas largadas sobre Hiroshima e Nagasaki. O segundo milícia, mais lúcido, tinha replicado ao primeiro:

- Deus nos livre, se isso acontecesse, tu ias esconder o teu traseiro fedorento onde, na cova de um porco-espinho?!

Perante a gargalhada geral dos presentes, a conversa que tinha começado de forma amena, terminara em pancadaria. Quem teria razão?


(v) A (mu)dança das bandeiras

Na manhã do dia 1 de Setembro de 1974, os poucos soldados que ainda estavam 
presentes (um pelotão da 2ª CCaç / BCAÇ 4514/72,, perfilaram no centro do aquartelamento para cumprir o último acto militar da entrega do quartel de Fajonquito. De um lado estavam os portugueses, doutro, os guerrilheiros. Frente a frente, pela última vez. Todos fardados com rigor. Cada grupo com a sua bandeira. As cores não eram muito diferentes, vermelha, verde e amarela. Só divergiam nos motivos, na origem e no destino. Os “ex-bandidos” também estavam distintos nesta derradeira cerimónia de passar o testemunho.

Notava-se que na fila dos portugueses, não havia muita diferença, pareciam ter sido escolhidos a dedo, altura mediana. Já do lado dos nossos, a disparidade era gritante, enquanto uns eram baixinhos, outros eram desmesuradamente altos. Como na música e na dança, na África tropical a desordem é só aparente.

Da boca do oficial saíram, de forma vigorosa, os “firme” e “ombrós-arma”, acompanhados de movimentos da tropa a condizer, a corneta soou estridente seguida pelo coro dos cães da aldeia em protesto, as armas foram apresentadas a altura dos peitos soerguidos. 

Primeiro, arriaram a bandeira portuguesa, lentamente no início, mas quando ia quase a meio do percurso, contrariando o ritmo habitual, com largos esticões o soldado fê-la cair rapidamente, atirando o pano em cima dos ombros, enquanto desfazia o nó. O gesto denunciava alguma impaciência. Depois, foi a vez da nova bandeira subir e flutuar ao vento. Garanto-vos que estávamos ansiosos e orgulhosos.

O guerrilheiro encarregue do acto deu dois passos a frente, encaixou a bandeira na corda e puxando uma das pontas, fê-la subir, normalmente. E quando estava quase a chegar ao topo, por qualquer razão, estas se emaranharam entre si deixando a bandeira presa, não podendo subir nem descer. Foi precisa uma pequena ajuda do soldado português para acabar com a trapalhada das cordas e terminar, finalmente, com a parada (seria isto um sinal para o futuro?).

Depois houve uma troca de apertos de mãos de parte a parte. Havia uma pequena assistência de populares do lado de fora dos arames farpados. Não tinham sido convidados.

Olhando para trás no tempo, esta cena onde uma dúzia de soldados está perfilada frente a frente, procedendo a passagem simbólica do poder de uma terra que tinha sido administrada durante muitos anos por militares, na ausência de qualquer autoridade ou representantes da sociedade civil, desperta em mim, pouco a pouco, a sensação de que a Guiné, a nossa querida Guiné, de facto, não tinha sido preparada para viver sob um regime civil com base em princípios de governação democrática.

Por outras palavras, a população da Guiné foi, e durante muito tempo, preparada para conviver com as ditaduras militares. Não surpreende muito, a ordem da sucessão parece inequívoca. De distrito militar repressivo (princípios do século XX), o território passou para uma província militarizada e em guerra (1963/74) e desta seguimos directamente para uma ditadura de guerrilheiros impreparados, ávidos de poder e sedentos de sangue. 

Não existe e nunca existiu uma tradição de poder civil, situada acima dos grupos étnicos. Neste aspecto, em particular, as ex-colónias francesas estavam ou ainda estão a milhas de avanço. As imagens filmadas sobre as independências desses países são disso um facto bastante revelador, pondo de parte o caso da Algéria.


(vi) Os meus amigos guerrilheiros, balantas


Foi preciso esperar pela terceira vaga de guerrilheiros, sempre em bigrupos, para finalmente conseguir fazer alguma amizade. Eram dois combatentes de etnia Balanta, naturais de Banta (região de Quinara), o Dinis e o Marcos. Pelo menos é o que me tinham dito.

Se os portugueses me tinham ensinado as primeiras letras de forma desinteressada, foi com esses jovens Balantas que acabei por assumir a real necessidade de aplicar-me aos estudos a fim de melhor poder contribuir para a construção da nossa Pátria (um vocábulo novo, com consonância especial, na altura).

Com os soldados portugueses tinha começado a moldar um instrumento, uma ferramenta de pesquisa e de trabalho mas foram estes guerrilheiros do PAIGC, esfarrapados e desnutridos que, imbuídos do espírito genuíno de libertação e emancipação de todos os povos da Guiné sem distinção, na altura, me ajudaram na definição do objectivo da minha escola. O que antes era longínquo e desconhecido, passou a ser conhecido e desejado.

Em casa o meu pai recebeu-os efusivamente, tirando o chapéu da cabeça e curvando-se em sinal de respeito antes de lhes apertar as mãos, como sempre fazia diante das autoridades. O Dinis, calma e serenamente, explicou-nos que estes gestos já não se justificavam pois, todos eles eram filhos do povo.

 Nós lutamos para acabar com a humilhação do nosso povo em geral e dos nossos pais em particular, homens e mulheres, foi isso que Cabral nos ensinou e é isso que vamos transmitir aos nossos irmãos mais novos.

Ele falava olhando para mim, meigamente.

Na estrutura militar dos guerrilheiros, havia o comandante e o adjunto do comandante, mas a partir dali já era difícil descortinar a sequência hierárquica, tanto para cima como para baixo na cadeia. Eram sinais de uma desordem latente donde podia nascer a anarquia que viria ao de cima, anos depois.

O Dinis era um combatente simples, um aldeão que, não sendo muito instruído era relativamente bem informado sobre as ideias e conceitos políticos da época. As suas palavras eram simples e claras e com ele iniciei a minha aprendizagem na escola do pensamento polítíco que começava com Cabral e terminava em Marx e Engels ou vice-versa.

Nesta viagem de iniciação político-ideológica, o Lenine era a criança prodígio que tinha encontrado o livro de um velho sábio (Marx) e graças ao qual ele tinha revelado ao mundo as ideias revolucionárias de como tornar o mundo mais justo, mais progressista, apesar das contrariedades criadas pelas forças reaccionárias da direita capitalista (os demónios). “Foram as ideias contidas nesse livro antigo que, também, permitiram a libertação do nosso povo, através de Amílcar e seus companheiros”, concluía Dinis.

No entanto ele não sabia dizer se, eventualmente, Cabral teria encontrado com o jovem Lenine, quando foi a Moscovo, à procura de tais ideias. Ele se defendia, dizendo: “Tu és jovem e já bastante avançado na escola, depois, quando fores para a União Soviética, perguntas a eles para saber, eu não sei, não estive lá, sou um simples combatente”.

Saberia mais tarde que Cabral tinha nascido no ano de 1924, no mesmo ano em que morria o líder dos sovietes, o Lenine. O mais importante aqui não era a forma mas sim o conteúdo.

A passagem dos guerrilheiros por Fajonquito foi breve, mas antes de partir, desmantelaram completamente o quartel, onde nunca chegaram a se instalar verdadeiramente, seja pelo pobre número de efectivos ou por outras razões desconhecidas. A atenção estava, sobretudo, concentrada sobre Canhámina e os caminhos de acesso à fronteira com o Senegal.

Quanto ao resto, os olhos atentos dos comissários políticos se encarregariam de velar. O fim do quartel representou, para a aldeia, o inicio da escuridão, a noite, com o desaparecimento do único grupo gerador da localidade. Ninguém tinha pensado nas consequências, aliás, nem sequer tinham dado à população a possibilidade de pensar.

Mais tarde soube que o Dinis e o Marcos se tinham voluntariamente desmobilizado e regressado para a sua aldeia natal onde continuariam a trabalhar com os jovens da sua tabanca, ajudando na recuperação das bolanhas abandonadas durante a guerra e continuando a sensibilização dos mais novos sobre os ensinamentos de Cabral no meio de histórias da luta de libertação nacional para a qual tinham dado o melhor da sua juventude.

No ano seguinte, após ter concluído o ensino primário, eu cumpriria a promessa feita ao Dinis de continuar os estudos na cidade, mais precisamente no ciclo preparatório de Bafatá,  que tinha sido aberto poucos anos antes. Já não era somente a fome e a batalha pelo reconhecimento do grupo que me impeliam para a frente mas, também, a fome pelos livros, pelo saber, pensando, no meu íntimo que a única forma de voltar a reencontrar os meus divertidos e irreverentes amigos brancos era pela via da escola.

Antes porém, de fazer a minha primeira viagem a Europa em 1985, mais precisamente à URSS, tinha ido à tabanca de Banta, no sector de Empada, à procura dos meus velhos camaradas de 1974. Na localidade, esperava-me uma pequena surpresa, pois, ninguém se lembrava dos antigos combatentes do PAIGC com os nomes de Dinis e/ou Marcos.

Penso que teria acontecido uma dessas práticas muito comuns entre os Guineenses das zonas rurais, de usar nomes (cristãos, logo civilizados) fabricados para o momento e a ocasião,  aos quais podiam livrar-se mais rapidamente que um camaleão muda as suas cores.  Na aldeia, teriam voltado aos seus verdadeiros nomes da terra, ocupando os assentos que as suas idades sociais lhes reservavam dentro da comunidade (que não coincidiam necessariamente com a idade biológica), animando as festas dos “ irãs” que habitam os grandes poilões da floresta sagrada do sul.

No caminho de regresso à cidade, perguntava-me a mim mesmo se eles existiram de facto ou se tudo não passara de pura imaginação do espírito fértil de uma criança que queria acordar cedo demais?!

Fajonquito, 17 de Junho de 2010

Cherno Baldé (**)

[ Revisão, fixação de texto, adaptação, subtítulos, para efeitos de publicação neste poste: LG]

(Continua)

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terça-feira, 22 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22306: Memória dos lugares (422): CTOE - Centro de Tropas de Operações Especiais, Lamego: reportagem da visita possível, mais de 60 anos depois (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Foto nº 1   > CTOE - Centro de Tropas de Operações Especiais (criado em 1960 c0mo CIOE - Centro de Instrução de Operações Especiais) (vd. o blogue do nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro, "Rangers & Coisas do MR")

Por detrás do Virgílio Teixeria, musealizada,  uma metralhadora quádrupla  AA CMK1 20mm m/953



Foto nº 2 > O velho convento de Santa Cruz, onde se instalou em agosto de 1839 o regimento de infantaria nº 9


Foto nº 3 >  Uma relíquia da história  da nossa artilharia, o obus 7.5, de montanha, de origem italiana (segundo o nosso especialista, cor art ref António J. Pereira da Costa, que faz hoje anos...)



Foto nº 4 > Legenda: "RI 9. As sentinelas dos terrenos dos paiois abrirão fogo sobre quem tente escalar os muros, 1948"...



Foto nº 5 > Làpide de homenagem a um dos primeiros comandantes da unidade militar de La,ego, o RI 9, no período de 1849-1862, o Cor José Manuel da Cruz



Foto nº 6 > Interior do quartel, visto da porta de armas...


Foto nº 7 > O Virgílio Teixeira, sessenta anos depois...


Fotos: © Virgílio Teixeira  (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de 6 do corrente, enviada pelo Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); economista e gestor, reformado; natural do Porto,vive em Vila do Conde; tem cerca de 170 referências no nosso blogue.

Ontem fiz uma visita de estudo ao CTOE - Quartel dos Ex- Rangers de Lamego.

Eu passei por lá, no ano de 1960, acompanhando 
o meu querido irmão Jorge Teixeira (1941 - 2021, num camião militar, ele ia lá fazer um serviço, e demoramos um dia do Porto até lá, pelas curvas do Marão velhinho. Ainda não se falava da guerra de África.

Para os que lá passaram e para outros, tem interesse ver como hoje está aquilo? Se for de algum interesse posso fazer um pequeno comentário com foto. Bem como a visita a um Hotel Rural, Casa dos Viscondes da Várzea, em Lamego, da Maria Manuel Cyrne, um espectáculo do Douro, ou a rota dos Barcos do Douro, rio acima, rio abaixo, até ao Pinhão, com a passagem da Eclusa de Barragem da Régua; os antigos e actuais comboios até Barca de Alva... ou, as maravilhosas vistas e paisagens na rota do Túnel do Marão e obras de arte, em pleno Alto Douro...

Aguardo Respostas!

Ab, Virgilio Teixeira

2. Resposta do nosso editor, em 7 do corrente:

Virgílio, essa história de 1960 pode e dever ser contada... Como a tua visita de saudade, 60 anos depois... Mete nas legendas das tuas fotos... E podes fazer mais outro poste com a tua viagem pelo Douro: temos uma série, "Os nossos seres, saberes e lazeres", que também podes usar...

Aliás, dou-te os parabéns por te meteres ao caminho com a tua Manuela... Portugal tem muito por descobrir, de Norte a Sul, Leste a Oeste. (...)

Abração, Luis

3. Visita a a Lamego, em 5 de junho de 2021. Tcxto e fotos enviados em 14 do corrente;

Objectivos fotografar e visitar o antigo centro de formação de Rangers, termo americano importado, porque o primeiro curso foi dado por um ranger americano.

Conheci no início da sua formação com 17 anos, em 1960 numa deslocação com o meu falecido irmão Jorge, 2« sargento rádio montador profissional de transmissões. Numa coluna militar saída do Porto, ele ia com a missão de montar o sistema de rádio não existente entre as unidades. 

Eu fui à boleia na caixa do camião coberto de lona, não me lembro a marca, mas era tudo velho e avariavam na subida do Marão. Foi preciso um dia inteiro e passei frio. Dormi no quartel mas não me lembro de pormenores.

Nunca mais visitei o Centro, mas de Lamego o que mais me lembrava era daquela aventura, claro que a boleia não estava autorizada, fui clandestinamente, sem problemas visto que eu já nasci e fui criado quase dentro dos quartéis, como familiar de profissionais.

Regressamos 2 dias depois sem problemas que eu saiba.

Li nos comentários do blogue alguém que esteve nos Rangers, suponho que numa conversa com o João Crisóstomo em que ele sentia uma certa nostalgia desse passado, e como temos cá muitos Rangers, comecei a matutar na ideia, de ir ver o Quartel de Lamego, hoje quartel de Santa Cruz em homenagem a um ten cor, não sei bem se é assim, há uma placa pouco legível que fala no ten cor José Manuel da Cruz, há uma data parece 1846, mas vamos em frente porque não sei inventar.

Já não tendo pedalada para fazer a viagem e conduzir por aquelas estradas, combinei com a minha filha mais nova, e marido, com o pretexto de irmos revisitar a Régua e assim o meu genro nos levar.

É lá fomos, passando pelo túnel do Marão, seguindo os barcos rio Douro acima, a passagem pela eclusa da comporta da barragem da Régua, não sabia bem como funcionava aquilo, fomos ainda à uma bela quinta onde o meu genro tinha estado em grupo pela empresa, com umas vistas fantásticas e falei então que gostava de ir fotografar o Quartel dos Rangers, e assim fomos. Ele também tem um familiar que lá esteve e poderá ver as fotos.

Grande desilusão, passamos lá uma hora a fotografar o que havia à vista, não encontramos viva alma, tudo fechado a 7 chaves, era Sábado e o tasco fechou para fim de semana, penso eu, espreitei lá para dentro e nem um cão de guarda se via.

A ideia que fica é um local isolado como deve ser, mas que encerra ao fim de semana, pois chegamos antes do meio dia.

As fotos que junto não estão legendadas, mas dá para perceber, em especial para quem foi hóspede. As luvas brancas que uso é uma necessidade dermatológica, isto é uma chatice.
 
Lamento desiludir as pessoas, não fazia ideia de estar tudo fechado.

Despeço-me com amizade.
Virgílio Teixeira

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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de junho de  2021 > Guiné 61/74 - P22290: Memória dos lugares (421): quartel do BENG 447, Brá, Bissau, um hotel de cinco estrelas

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21732: O nosso blogue em números (66): continuamos vivos: no "annus horribilis" de 2020 publicámos 1202 postes, valor que está dentro da média anual dos últimos seis anos



Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)



1. Eu sei que ninguém lê isto,  mas isto é como o "relatório e contas" das empresas... Tem de ser feito, para memória futura...

Em boa verdade, à força de ouvir, ver e ler todos os dias, há 10 meses,  a estatística da pandemia de Covid-19,   os nossos leitores ficam, compreensivelmente, com alergia ou intolerância aos números...

Mas é já uma tradição, esta, a  da prestação de contas aos nossos leitores, no princípio do ano seguinte, com a publicação de estatísticas do nosso movimento bloguístico durante o ano anterior (*).

Na realidade, os números mostram que ainda estamos vivos, depois de quase 17 anos a "blogar"... Recorde-se que o nosso blogue nasceu timidamente, e por acaso,  em 23/4/2004... E nesse ano só se publicaram... quatro (!) postes. Ninguém, seguramente, previa a sua longevidade... (**)

2. O número de postes publicados, durante o ano de 2020, o "annus horribilis" de 2020, que ficará na nossa memória como o da pandemia de Covid-19, foi de 1202, ligeiramente acima do ano anterior, 2019 (n=1157) e de 2018 (n=1187) (Gráfico nº 1). 

O número de postes anuais tem estabilizado nos últimos 6 anos (2015-2020): média anual de 1268... 

O nosso record foi o ano de 2010, em que atingimos um valor máximo de 1955 postes publicados. 

A média anual dos melhores seis anos (2009-2014) foi de 1735 postes.



Gráfico nº 2  - Distribuição dos postes lançados, por editor e por mês (Os do Jorge Araújo 
estão incluídos na estatística do Luís Graça)



Infografia: Carlos Vinhal (2021)

3. Mantem-se, pois,  a média dos 3,4 postes publicados por dia, nos últimos seis anos ( 2015-2020) contra os 4,7 dos nossos melhores anos (2009-2014).

Do  postes publicados, a distribuição pelos três editores foi a seguinte (Gráficos nº 2 e 3);

Carlos Vinhal > 53,0%
Éduardo Magalhães Ribeiro > 1,6%
Luís Graça > 45,4 %

A semana em que se publicou mais postes foi, no mês de dezembro último: 32 postes, na semana de 20 a 27. E a pior foi a  semana de 1 a 8 de março: 14 postes.  O nosso melhor mês foi o de Abril, já em plena pandemia (com 130 postes publicados), seguido do mês de Dezembro (n=124). O pior foi o Fevereiro (n=84) (Gráfico nº 4)

Como gostamos de dizer (e fazemos questão de provar com números), a  particularidade do nosso blogue é que, quer faça sol, quer faça chuva, seja domingo ou feriado, há sempre alguém a trabalhar e a publicar, todos os dias, um poste... E isso verificou-se ao longo destes já mais de 10 meses de pandemia de Covid-19.

Alguns dos postes que editamos todos os dias podem ficar "agendados" de um dia para o outro (, é o caso, por exemplo,  dos postes da série "Parabéns a vocês", que estão ao cuidado do Carlos Vinhal)... Como se costuma dizer, é comida pronta a usar, que fica no frigorífico de um dia para o outro...Há uma boa articulação entre os  editores, em especial o Carlos Vinhal e o Luís Graça, que se apoiam mutuamente... Estão de resto, os dois sempre á distância de um clique... tal como o Jorge Araújo e o Eduardo Magalhães Ribeiro (que também se reformou o ano passado).



Gráfico nº 4  - Distribuição dos postes lançados, em 2020,  por mês

Infografia: Carlos Vinhal (2021)



4. Embora haja, desde março de 2018, um novo coeditor, o Jorge Araújo, tem sido o editor Luís Graça a ultimar a edição dos seus postes (por razões logísticas e técnicas), pelo que não nos é possível discriminar a sua valiosa produção.

O Jorge Araújo tem passado, desde 2019, algumas temporadas na Tabanca dos Emiratos...onde a sua esposa é professora numa prestigiada universidade árabe.  Por outro lado, ele próprio mantem-se no activo, como professor do ensino superior politécnico, deslocando-se com frequência entre Almada e Portimão. É possível que este ano lectivo, o de 2020/21, seja também o ano da sua aposentação. 

Por estas e outras razões, ele ainda não teve disponibilidade de frequentar o "workshop de edição" que lhe vai permitir a plena autonomia como coeditor do nosso blogue.  Foi, em todo o caso, uma excelente e feliz "aquisição" (, usando a linguagem futebolística...) para a nossa equipa. desfalcada desde que o Virgínio Briote se jubilou, por razões de saúde.

Em 2020 há mais de meia centena de referências com o marcador "Jorge Araújo". Boa parte tem a ver com os postes da sua autoria, relacionados com séries como "(D)o outro lado do combate"  ou "Memórias cruzadas" ou ainda "Ensaios"... Esses postes são enviados diretamente por ele para o blogue, em formato de rascunho. A inserção de fotos e os "acabamentos" ficam por conta do editor Luís Graça. E como tal são contabalizados. Esperemos poder resolver esse problema, com tempo e vagar, dando assim o seu a seu dono. 

Como fazemos todos os anos,  fica aqui, desde já, registado, em letra de forma, um voto de louvor aos nossos dois coeditores, os dois  do Norte, o Carlos Vinhal e o Eduardo Magalhães Ribeiro, e o outro do sul, o Jorge Araújo: na qualidade de fundador do blogue, não me canso de louvar a sua lealdsde, dedicação, generosidade e competência. 

São valores que não têm preço, a par do forte espírito que nos anima há muito. Mas tenho que destacar aqui o nome do Carlos Vinhal que, na realidade, tem sido o pilar do blogue, desde há muito; se ele cair, o blogue cai...Por isso rezo todos os dias, aos nosos bons irãs, acocorados no alto do poilão da Tabanca Grande para nos deem vida e saúde para continuar a poder dar voz aos "amigos e camaradas da Guiné". 
 
Outros agradecimentos (a autores, colaboradores permanentes, leitores, comentadores, amigos do Facebook...) ficam para mais à frente.

(Continua)
___________


(**) Último poste da série >  10 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20543: O nosso blogue em números (65): Quem nos visita vem sobretudo de Portugal (41%) mas também dos EUA (24%) e do Brasil (6%), usa o Chrome (38%) como navegador, e o Windows (77%) como sistema operativo...

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21038: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (22): Fotos do álbum do José Lino Oliveira (ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12jul74 - 15out74) - Parte IV: Brá, BENG 447, 14/10/1974: O último arriar da bandeira no CTIG, mas já sem a presença de representantes do PAIGC.








Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 >  14 de outubro de 1974 > O último arriar da bandeira no CTIG, mas já sem a presença de representantes do PAIGC.

Fotos (e legenda): © José Lino Oliveira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Continuação da publicação do álbum fotográficos do José Lino [Padrão de] Oliveira [ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12-7-1974 / 15-10-1974, a mesma unidade a que pertenceu o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro; membro da nossa Tabanca Grande desde 31/12/2012; vive em Paramos, Espinho] (*)

Parte IV - Brá > BENG 447 >    Fotografias nºs  6 a 13: o arriar da Bandeira no dia de embarque [no "Uíge"]. Por coincidência também foi o Magalhães Ribeiro a arriar a Bandeira.


2. Mensagem do Zé Lino (em reposta a uma observação do nosso editor sobre a qualidade desigual das fotos):

Date: terça, 2/06/2020 à(s) 16:45

Subject: Mansoa 1974

Boa tarde

As fotos de Mansoa (**) são de uma qualidade má pois foram reveladas em Bissau.


Eu tinha, e ainda tenho, a máquina fotográfica reflex Ashai-Pentax com a qual fiz  bastantes fotos em papel como em slides. O problema é encontrá-las. As de Brá são melhores pois foram reveladas cá, e não são de slides. Vou ter mais para enviar, só espero não demorar tanto tempo para as enviar.

Quanto ao camião... Como entregamos o aquartelamento de Mansoa, e o deixamos com tudo, pronto a habitar, viaturas inclusive, tive de alugar 12 camiões para o transporte das nossas tropas até Brá. O camião em causa não posso afirmar se era "nosso" ou não, pois deveriam estar estacionados fora. Lembro-me que todas as viaturas estavam guardadas por militares armados, pois estavam com as nossas malas.

Se precisares de algum esclarecimento sobre os últimos dias é só contactar.

Um grande abraço, José Lino

3. Esclarecimento que nos chega pro email, do José Luís da Silva Gonçalves, ex-Soldado Radiotelegrafista da 2.ª CCAV/BCAV 8320/73 (Olossato, 1974), 729.º Grã-Tabanqueiro (***):


(...) "O último navio a sair do Porto de Bissau foi o "Uíge", mas não foi nele que vieram a últimas tropas. Estas vieram no "Niassa" que, como se sabe,  nem chegou a entrar nas águas territoriais da nova Nação. Correndo o risco, de ser repetitivo,  devo dizer que o "Uíge" desatracou perto das 15 horas da tarde do dia 14 de Outubro de 1974, e os últimos militares começaram a marchar para o porto perto, das 23:30 horas, desse dia, já que quando tocasse a última badalada da noite desse dia, já as lanchas de desembarque vinham a navegar ao encontro do "Niassa".

(...) Eu sei que éramos 2 Batalhões, que encontrei alguns militares do outro batalhão, que moravam em Almada, tal como eu, mas não me lembro que batalhão era. O meu era o BCAV 8320/73, e curiosamente há uns meses atrasados encontrei um desses rapazes do outro Batalhão, mas ele não se recorda nem da companhia a que ele pertencia. Só se lembra de nos termos encontrado a bordo do navio, e dos outros camaradas, companheiros de viagem. (...)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 3 de junho de  2020 > Guiné 61/74 - P21035: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (15): Fotos do álbum do José Lino Oliveira (ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12jul74 - 15out74) - Parte III: a sucata da guerra, abandonada em Brá, no BENG 447...

(**) Vd. poste de 1 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21028: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (15): Fotos do álbum do José Lino Oliveira (ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12jul74 - 15out74) - Parte II: O adeus a Mansoa: 9 de setembro de 1974: o fur mil op esp / ranger Eduardo Magalhães Ribeiro arria a bandeira verde-rubra, na presença dos representantes do MFA e do PAIGC

(***) Vd. poste de 22 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16514: Tabanca Grande (496): José Luís da Silva Gonçalves, ex-Soldado Radiotelegrafista da 2.ª CCAV/BCAV 8320/73 (Olossato, 1974), 729.º Grã-Tabanqueiro