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sábado, 10 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25155: O(s) segredo(s) que o Amadu Djaló (Bissau, 1940 - Lisboa, 2015) não quis ou não pôde contar no seu livro (1): A revolta da CCAÇ 21, em 16 de agosto de 1974, em Bambadinca, e as suas exigências "milionárias": 300 contos por cabeça (50 mil euros, a preços de hoje), antes de entregar a arma e passar à "história" (isto é, à "peluda")

Guiné > s/l [Bambadinca?] > s/d [c. 1971/73] > A Força Africana... O major inf Carlos Fabião, na altura (1971/73),  comandante do Comando Geral de Milícias, e o gen António Spínola, passando revista a uma formatura de novos milícias.

In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angola,  Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d. , pp. 332 e 335. Autor da foto: desconhecidos. (Reproduzidas com a devida vénia)

1. Há segredos que não se partilham, por uma razão ou outra. Este, que envolve o Amadu Djaló, pode ter sido por uma de quatro razões (especulativas, acrescente-se): 

(i) o Amadu Djaló não estava lá nesse dia, em Bambadinca  (ele vivia em Bafatá, com as suas duas mulheres e restante família, incluindoa a amada mãe): 

(ii) o Amadu Djaló terá achado indigno o comportamento dos seus camaradas e subordinados, e escamoteou, esqueceu ou  branqueou este episódio, grave, que foi a insubordinação da CCAÇ 21 (no seu todo ou em parte)

(iii) o Amadu Djaló já se desligara, disciplinar e afetivamente, dos seus antigos camaradas e subordinados da CCAÇ 21, que era comandado pelo ten graduado 'cmd' Abdulai Jamanca (a companhia seria dissolvida e extinta dois dias deppois, em 18 de agosto de 1974);

(iv) "last but not the least" (isto é: não menos importante...), a ser verdade que cada militar da CCAÇ  21 só aceitava entregar a arma e passar à disponibilidade por 300 contos "per capita", estávamos perante uma exigência "milionária":  na época,  300 contos (da Guiné, 1 escudo a valer 0,90 de 1 escudo da metrópole) seriam qualquer coisa como cerca de 50 mil euros (a precos  atuais); multiplicando por 150 homens (=1 companhia,  só de guineenes) daria qualquer coisa como 7,5 milhões de euros (que não poderiam caber na mala de nenhum governador-geral, ainda para mais na véspera do reconhecimento do independência e da saída do território por parte de Portrugal; o Amadu Djaló não podia deixar de estar a par destas reivindicações, para mais sendo um alferes graduado da companhia; mas será que ele tinha a noção exata ou aproximada dos valores que estavam em jogo ? 

2. Vamos reconstituir o que se passou nesse "dia de todas as emoções" (como escreveu, no seu diário, o senhor cor cav CEM Henrique Manuel Gonçalves Vaz, 1922-2001).

Repete-se aqui a mensagem do nosso leitor (e camarada) Fernando Gaspar, ex-Fur Mil Mec Arm, CCS/BCAÇ 4518/73 (1973/74):


Data: 11 de Maio de 2012 22:30

Assunto: Bambadinca 1974

Boa noite, Luís

Fui furriel miliciano com a especialidade de mecânico de armamento e fui incorporado no Batalhão [de Caçadores] 4518/73 para a Guiné...  

Após o 25 de abril de 1974, fui destacado para Bambadinca para receber material militar, viaturas, armas, etc.


Em agosto de 1974 (não consigo memorizar o dia), os militares presentes no destacamento de Bambadinca (eu incluído), foram surpreendidos com a presença de dezenas de militares do denominados Comandos Africanos (tropas nossas aliadas).

Todos nós (talvez duas dezenas),  ficámos perplexos... Primeiro pensámos que vinham entregar as armas (o que nos facilitava o regresso a Portugal), mas não!... Fomos encostados à parede e deram um prazo de 48 horas para serem pagos da indemnização a que tinham direito, ou então, seríamos fuzilados... 

Cerca de 40 horas após o sequestro, o brigadeiro Carlos Fabião chegou num helicóptero com duas malas carregadas de dinheiro... Terminou o sequestro!

Se através do teu blogue for possível reencontrar esses camaradas de armas, ficarei muito agradecido.

Até sempre, um abraço | 
Fernando Gaspar


2. Comentário de L.G.:

Na altura manifestámos a nossa gratidão e apreço ao Fernand0 Gaspar pela  coragem de vir, a público, num blogue de antigos combatentes, revelar esse segredo, que possivelmente guardava, enterrado  há muito na sua memória... 

De qualquer modo, o  que ele  contava - ao fim de quase 4 anos todos - e que deve ter isso um pesadelo para ti e para os demais camaradas que foram feitos reféns, já não era segredo para mim... Já aqui transcrevi, ao de leve,  uma conversa que tive, em Monte Real, por ocasião do nosso VII Encontro Nacional, com o último comandante do Pel Caç Nat 52, o alf mil Luís Mourato Oliveira [foto à direita].

Ele também estava em Bambadinca, sentado tranquilamente no bar de oficiais, a beber o seu copo, quando ocorreram os graves incidentes aqui  referidos, sem grandes detalhes..  Foi igualmente sequestrado como o Fernando Gaspar  e mantido como refém até à chegada do brigadeiro Carlos Fabião, que, vindo de Bissau,  resolveu o problema (havia um vazio legal, com a CCAç 21 e a CCAÇ 20, que estaria ainda por resolver,  mais de um ano deppois da sua criação).

Isto ter-se-á passado não com os "Comandos Africanos" (que pertenciam ao Batalhão de Comandos da Guiné, com sede em Brá, Bissau)  mas com o pessoal da CCAÇ 21, que era comandada pelo tenente 'cmd' graduado Abdulai Queta Jamanca, e onde havia antigos militares da formação inicial da CCAÇ 12 do nosso tempo (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)...  

Disse-nos o Mourato Oliveira que, depois da negociação com o Carlos Fabião, houve grande ronco...

Semelhantes incidentes (graves) deram-se em Paúnca, pela mesma altura, com a malta da CCAÇ 11 (antiga CART 11), já relatados pelo nosso camarada J. Casimiro Carvalho. (*)

De qualquer modo, esperávamos que tanto o Fernando Gaspar como o Luís Mourato Oliveira nos pudessem, na altura,  fornecer mais pormenores destes tristes acontecimentos que poderiam ter originado um tragédia imensa,  se as ameaças de fuzilamento dos reféns fossem levadas a série pelos militares revoltosos da CCAÇ 21, em caso de falharem as "negociações"!. 

3. O alferes 'cmd' graduado Amadu Bailo Djaló [foto à direita] também pertenceu a essa companhia, que era inteiramente constituída por pessoal do recrutamento local (incluindo os graduados e os especialistas). No entanto, nas suas memórias (Amadu Bailo Djaló - Guineense, comando, português: 1º volume: comandos africanos, 1964-1974. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, 299 pp., il), não são narrados, referidos ou sequer evocados os "incidentes" de Bambadinca (vd. pp. 276 e ss.). 

Talvez o nosso camarada Virgínio Briote [foto à esquerda,] que o ajudou a escrever o livro (como "copy desk") e privou muito com ele, nos seus últimos anos de vida, possa ainda esclarecer o que se passou exatamente nesses dia 16 de agosto de 1974 em que a CCAÇ 21 (ou parte do seu pessoal, possivelmente até à revelia do seu comandante, Abdulai Jamanca) tomou como reféns cerca de duas dezenas de militares metropolitanos que ainda restavam em Bambadinca, a aguardar o fim da comissão.

4. Estes factos já eram conhecidos do nosso blogue, ainda antes do final de 2011. Terminamos este poste,  já longo, com um dos  excertos dos registos pessoais, manuscritos, do cor cav CEM, Henrique Manuel Gonçalves Vaz (1922-2001), no ano de 1974, no TO da Guiné (foto a seguir, à direita).

A recolha e a transcrição são  da responsabilidade do seu filho Luís Gonçalves Vaz que estava, nessa época (1973/74), com a sua família, em Bissau (é hoje  professor de matemática e ciências da natureza numa escola da zona de Braga; é membro da nossa Tabanca Grande). 

Recorde-se que a CCAÇ 21, de vida efémera (e que não tem história da unidade) foi dissolvida e extinta dois dias depois, em 18 de agosto de 1974.

(...) 16 de Agosto de 1974

... Este foi um dia tremendo de trabalho e emocionante com as notícias de Bambadinca, em que a Companhia  de Caçadores nº 21 a tomar conta do aquartelamento e a exigirem 300 contos por homem, para entregarem a arma e passarem à disponibilidade!

Foi para lá o Governador Brigadeiro Fabião e ao fim da tarde foi recebida a notícia de que tudo estava resolvido. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz (Chefe do Estado-Maior do CTIG) (...)

Este valor (300 contos, 300 mil escudos ultramarinos) era uma exorbitância! Tem de ser confirmado. (Nesta altura, em meados de 1974, já depois do 25 de Abril, um Fiat 127, que era o carro mais vendido em Portugal, custava 95 contos, o litro da gasolina andava nos 7$50, e o salário mínimo nacional acabava de ser fixado em 3300$00 mensais)...

Nunca o pobre do Amadu Djaló ganhou 300 contos  em toda a guerra. Nem sequer um oficial general ganhava isso numa comissão de dois anos!...Pode ter havido um erro de audição e/ou transcrição, se calhar há um zero a mais: vamos ter de pedir ao Luís Gonçalves Vaz que  releia com atenção o "manuscrito" do seu querido pai. 

No nosso tempo, um soldado da CCAÇ 12, do recrutamento local, uma praça de 2ª classe (!) ganhava 600 escudos por mês, mais o "per diem" de 24$50 por ser desarranchado: comia na tabanca e no mato, em operações, não tinha direito a ração de combate (levava um lenço atado com um mão  cheia de arroz cozido) ... Em suma, recebia em média 1300 escudos ("pesos") mensais (em 1969/71).

Os militares da CCAÇ 21 devem ter recebido em 16/8/1974, aliás como o disse o Amadu Djaló (não no livro mas noutra fonte), o dinheiro a que tinham direito até fim do ano de 1974.  O Amadu Djaló foi oficial do Exército Português até essa data. Depois teve que optar por uma das nacionalidados... Recuperaria mais tarde a nacionalidade portuguesa,  mais tarde,; quando vem para Portugal em 1986, juntamente com outros antigos comandos...

Infelizmente estas "pequenas grandes histórias " não vêm nos livros da CECA nem  na historiografia militar oficiosa,  oficial ou académica.   São "anedotas"...
__________



(**) Vd. poste 13 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9190: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte II): Agosto de 1974: rebelião da CCAÇ 21 (Bambadinca) e do BCAV 8320/72 (Bula)

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24537: O Nosso Blogue como fonte de informação e conhecimento (102): Há uma diferença entre o "capim" e o "colmo" (utilizado na cobertura das moranças) (Cherno Baldé)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael - Porto > s/d [1973?] > Tabanca, reordenada pelas NT. Em primeiro plano, do lado esquerdo, uma morança ainda com a tradicional cobertura de "colmo" (palha) (material que não deve ser confundido com o "capim")... As casas reordenadas já eram revestidas com "chapa de zinco".

Foto: Autor desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007).




Guiné >Região de Tombali > Gadamael - Porto > 1968 > A construção do primeiro reordenamento do CTIG, na opinião do cor art ref António J Pereira da Costa, membro da nossa Tabanca Grande. As casas ainda eram cobertas a colmo.

Fotos (e legenda): © António J. Pereira da Costa (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Guiné > Região de Tombali > Cufar > Matofarroba > Tabanca > 1973 > Aspeto do reordenamento feito pelas NT. Matofarroba ficava/fica, a 2km/3km, a sul de Cufar.

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Destacamento e tabanca de Cutia > Uma jornada de capinagem... A população da tabanca é balanta.



Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Destacamento de Bissá > c. 1970 > Celeiro para a "bianda", neste caso o arroz... Em balanta, chama-se "flu". Ao fundo, a tradicional casa balanta, ecológica, feita de adobe e colmo.

Fotos (e legenda): © José Torres Neves (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário de Cherno Baldé  (nosso colaborador permanente, assessor para as questões etnolinguísticas, vive em Bissau, tem 280 referências no nosso blogue) ao poste P24519 (*):

(...) Sobre a afirmação do(s) Editor(es) de que o capim à volta das localidades e picadas seria a "base de cobertura das casas (palhotas)" dos nativos não é exacta. 

Neste caso podemos falar, para fazer a distinção, de capim vs palha (colmo) (**):

(i)  o capim nasce em todos os sítios e, sobretudo, em zonas do mato com ou sem arvoredo;

(ii) a palha (colmo), que servia para cobrir as casas, nasce somente nas partes altas das bolanhas ou lálas, são mais finas, de uma cor entre o castanho e o amarelo, brilhantes e mais resistentes aos insectos roedores (bagabagas) podendo atingir a altura entre 1,20 m até 2m com variações que vão do norte ao Sul em função do volume de chuvas e fertilidade dos solos.

Contudo, esta excelente espécie nativa de palha das bolanhas, outrora muito apreciada e utilizada para a cobertura das casas de colmo em África a fim de amenizar o calor sufocante durante a época seca, está a desaparecer pouco a pouco, vítima das mudanças climáticas e diminuição das chuvas no território. 

Se na Guiné, sobretudo no Sul, ainda vai resistindo, nos países do sahel há muito que já tinha desaparecido, constituindo assim uma das principais razões do aumento da procura das chapas de zinco para a cobertura das casas em toda a zona África ao sul do Sahara. (...)

30 de julho de 2023 às 19:24 
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de julho de 2023  Guiné 61/74 - P24519 Fotos à procura de... uma legenda (175): Capinadores e "homens armadas" em Cutia, tabanca e destacamento no setor de Mansoa, ao tempo do BCAÇ 2885 (1969/71) (José Torres Neves, capelão)

(**) Último poste da série > 29 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24438: O Nosso Blogue como fonte de informação e conhecimento (101): Pedido de apoio para a obtenção de antigos manuais escolares do PAIGG (com destaque para o livro da 4ª classe). editados na Suécia, em Upsala, impressos na Wretmans Boktryckeri AB (Jorge Luís Mendes, Primeiro-Conselheiro da Embaixada da República da Guiné-Bissau no Brasil)

terça-feira, 4 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24450: História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte I: Mobilização, composição e deslocamento para o CTIG em 19 de setembro de 1970

Guiné > Bissau > Julho de 1973  > Monumento do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, avenida marginal e área portuária.

Guiné > Bolama > Junho / julho de 1973  > Restos dos bons velhos tempos quando Bolama era a capital da Guiné, desde 1879 até 1941. Com a guerra, Bolama passou a ter um CIM (Centro de Instrução Militar) por onde passaram muitas unidades e subunidades em que aqui fizeram a IAO.

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

T/T Carvalho Araújo a caminho da Guiné. A 26 de abril de 1970, avistámos à ré o T/T Vera Cruz (a caminho de Angola ou Moçambique, presumivelmente).

Foto (e legenda): © António Tavares (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guião da CCAÇ 2792 Cortesia do nosso tabanqueiro Amaral Bernardo, ex-alf mil médico, CCS/BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72), esteve na CCAÇ 2726, uma companhia independente, açoriana, que guarneceu Cacine (1970/72); passou também cerca de um ano (1971) em Bedanda (CCAÇ 6); tem cerca de meia centena de referências no blogue.


1. A CCAÇ 2792 é mais uma das subunidades, que estiveram no CTIG, e que não têm até à data nenhum representante (formal) na Tabanca Grande. Aliás, tem uma escassa meia dúzia de referências no nosso blogue. Tal não impede, antes pelo contrário, que se fale dela e da  sua missão no sul da Guiné. 

Com base nos elementos de que dispomos (cópia parcial da história da unidade) (*), vamos aqui destacar alguns dos pontos do seu historial, que nos parecem mais interessantes, para os nossos leitores. Em princípio são resumos feitos por um dos nossos editores. No caso de excertos, virão publicados com aspas ou itálicos.

Cap I - Mobilização, composição e deslocamento 

para a província da Guiné

A CCAÇ 2792 destinou-se a render a CCAV 2485. A sua unidade mobilizadora foi o RI 16. Todavia a organização da Companhia processou-se no RI 1, no período de 17 a 29 de agosto de 1970.

Como já aqui foi dito, a Companhia era "constituída  por militares naturais de diversas províncias metropolitanas, sendo contudo as maiores percentagens constituídas por militares naturais das regiões a Norte do Rio Douro e a Sul do Rio Tejo" (pág. 3/I).

Ficou pronta para embarque a partir de 16 de setembro de 1970. A cerimónia de despedida e da benção e entrega do guião foi na parada do RI 1, na tarde do dia 10. No dia 19, à meia-noite, iniciou-se a concentração do pessoal para embarque no cais da Rocha Conde de Õbidos, tendo terminado às 9h30. 

Embarcou no T/T Carvalho Araújo, juntamente com a CCAÇ 2791. A viagem iniciou-se às 12h00 do dia 19.

Não compareceram, ao embarque, 3 oficiais subalternos da CCAÇ 2792. A história da unidade omite os seus nomes. O comandante da Companhia era o cap inf op esp  Augusto José Monteiro Valente.

A viagem decorreu sem incidentes. O navio tocou o porto de Angra de Heroísmo para proceder ao desembarque das CCAÇ 2421 e CCAÇ 2422, ambas mobilizadas pelo  BII 17, e que regressavam de Moçambique. 

De seguida foi escalado o porto de Ponta Delgada onde embarcaram as CCAÇ 2789 e CCAÇ 2790, ambas do BII 19. 

Foi ainda feita uma escala técnica, na ilha de São Vicente, Cabo Verde.

O T/T Carvalho Araújo chegou à Guiné em 2 de outubro de 1970, 13 dias depois da partida em Lisboa (normalmente a viagem marítima Lisboa-Bissau demorava cinco dias).

A CCAÇ 2792 foi encaminhada para o CIM de Bolama, onde realizou a IAO, integrada no BART 2924.

No dia 22 de outubro de 1970, ainda em plena IAO, é transferido, por motivos disciplinares, o seu único alferes, de operações especiais (de apelido Quinta). 

Entretanto, são aumentados aos efetivos da Companhia, no último trimesttre de 1970, très alferes milicianos, atitradores de infantaria, um em 10 de novembro, outro em 24 de novembro e um terceiro a 22 de dezembro  (respetivamente, António Carlos Monteiro Martins, Francisco Chaves Moura e Jorge Manuel Gomes Paiva, este último c0mo recomplemento; veio subtituir o alferes mil op esp Quinta),

Em 22 de maio de 1971, há o aumento (complemento) de um quarto alferes, também at inf (José Francisco Alonos).

A Companhia era composta por 5 oficiais, 17 sargentos e 144 praças, num total de 166 militares.

Houve naturalmente outros aumentos (complementos e recomplementos) e abates de pessoal, tanto de praças como de sargentos,  ao longo da comissão, que não detalhamos aqui, porque seria fastidioso, embora essa informação pudesse ter algum interesse estatístico... 

Há pelo menos 24 anexos  (alterações à composição ao capítulo I), indiciando uma elevada taxa de rotação de pessoalInfelizmente, falta-nos cópias de alguns anexos  relativos aos meses de janeiro, março de julho de 1971, bem como ao ano de 1972 (só temos os meses de março, abril, junho e setembro), impossibilitando-nos de calcular o índice de "turnover" do pessoal, a partir do número de efetivos inicias e finais, bem como do número das entradas (aumentos) e saídas (abates) ao longo da comissão. 

As razões dos abates são diversas: transferência por motivos disciplinares, morte,  evacuação para o Hospital Militar Principal por ferimento em combate ou doença, etc. Há um caso, que nos parece pouco vulgar: o de um soldado at inf, que em 20 de novembro de 1970 é abatido ao efetivo por ter sido "desnomeado do Ultramar por despacho de S. Excia. o Secretário de Estado do Exército" (sic) (pág. 39/I).

Em todo o caso, em 16 anexos contámos 23 abates (de 1 alferes miliciano, de 6 furriéis milicianos e os restantes 16, de praças). Mas os aumentos (complementos e recomplementos) são mais: 26, sendo de 4 alferes milicianos, 1 primeiro sargento, 6 furriéis milicianos e os restantes, praças (15).

De qualquer modo, esse problema (a rotação de pessoal) era comum a muitas unidades e subunidades (se não a todas) que foram mobilizadas para a Guiné. No final do capítulo I, da história da CCAÇ 2792, o problema é posto em evidência:

(...) No aspeto de pessoal, a Companhia começou a sua vida na Guiné bastante mal, dada a falta de três oficiais com que embarcou na Metrópole, situação agravada posteriormente por o único subalterno presente ter sido transferido por motivo disciplinar

Em consequéncia a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO) decorreu sem subalternos. Estes só começaram a chegar quando a subunidadaes entrou em Sector.

Felizmente o espírito de corpo e de disciplina das praças era bastante forte e os sargentos chamados ao comando dos Grupos de Combate revelaram-se competentes para o cargo. A Compamhia, apesar das dificuldades por que passou no início, manteve-se coesa e disciplinada.

(...) Ao longo da comissão a Companhia foi sendo privada de furriéis quer, pelas suas suas qualidades, foram colocados em diligência em subunidades africanas. Para ocupar as suas vagas foram chegando furriéis recém-vindos da Metrópole, sem contacto com tropas e que colocados de repente no comando de militares já com meses de comissão, afetariam necessariamente o ritmo da atividade da Companhia. (...) (pág. 61/I).


(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos e itálicos: LG)
___________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 3 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24447: Casos: a verdade sobre... (34): A CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72), comandada pelo cap inf Augusto José Monteiro Valente (1944-2012), e depois maj gen ref, que embarcou para o CTIG sem três alferes (que terão desertado) e durante a IAO ficou sem o último, por motivos disciplinares...

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23750: Tabanca Grande (538): João Silva (1950-2022), ex-Fur Mil At Inf, CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1973) e CIM Bolama (1973/74), grã-tabanqueiro n.º 866, a título póstumo


João Pedro Candeias da Silva (1950-2022)


João Silva, fur mil at inf, de rendição individual, CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1973) e CIM Bolama (1973/74)


O João Silva e o Abibo Jau, o "gigante" da CCAÇ 12, mais tarde fuzilado em Madina Colhido, em 1975,  como já foi referido no Blogue. (Fuzilado com o ten 'comando' graduado Jamanca, ambos então da CCÇ 21).


O 2º sargento Vital (ajudava na secretaria), o João Silva, de t-shirt preta, e o Abibo Jau


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCAÇ 12 > 1973 > Os 4 furriéis da foto são da CCAÇ 12 e estamos sentados em Bambadinca, junto à nossa messe... Da esquerda para a direita: o Morgado, o Garrido, eu (António Duarte) e o Candeias da Silva.


Guiné > Ilha de Bolama > CIM de Bolama (c. 1973/74) > O João Candeias da Silva é o segundo a contar da direita em Bolama no CIM. O furriel de bigode foi citado há pouco tempo num poste e/ou fotos do CIM atual. Tinha nome de "Roupa Velha" (?)... ou "Curta (?)...



Guiné> Ilha de Bolama > CIM de Bolama (c. 1973/74) > Numa praia em Bolama. O João é o segundo a contar da direita.


Guiné> Ilha de Bolama > CIM de Bolama > Natal de 1973 > Foto de grupo, cada militar segura uma garrafa de espumante que, se presume, foi-lhe oferecida.

Fotos (e legendas): © João Candeias da Silva / António Duarte  (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Faleceu no passado dia 14, o nosso camarada João Silva, um dos últimos soldados do império (*). Aos 72 anos. Vivia em Santiago do Cacém. Furriel Miliciano Atirador de  Infantaria, passou por Cabuca (CCAV 3404, 1972), Bambadinca e Xime (CCAÇ 12, 1973) e Bolama (CIM, 1973/74). 

Entra agora, a título póstumo, na nossa Tabanca Grande, apadrinhado pelo seu grande amigo e camarada António Duarte. E por mim próprio, editor do blogue. Nós, os três,  fomos furriéis milicianos da CCAÇ 12, eu da "1.ª geração", a dos fundadores (Contuboel e Bambadinca, junho 1969 / março 1971), eles da "3.ª (e última) geração" (Bambadinca e Xime, 1973/74).

Não o cheguei a conhecer pessoalmente, muito menos na Guiné: eu regressei a casa em março de 1971, ele foi para a CCAV 3404, em Cabuca, em janeiro de 1972. Era de rendição individual. Mas ele tem um dúzia de referências no blogue, e sempre que intervinha, em geral sob a forma de comentários, fazia-o para falar da sua condição de graduado da CCAÇ 12, subunidade de guarnição normal, constituída por graduados e especialistas metropolitanos e praças do recrutamento local, de que muito se orgulhava. 

Esteve 7 meses na CCAÇ 12, antes de ser colocado no CIM de Bolama com a missão de dar instrução a militares do recrutamento local. Já passou o Natal de 1973 em Bolama. E em maio de 1974, regressou à metrópole, pagando, do seu próprio bolso, a viagem na TAP.

Passou, desde anteontem, a ser o grã-tabanqueiro n.º 866. Prometemos honrar a sua memória (**). E republicar, em próximos postes, alguns dos seus valiosos e sempre oportunos comentários (**). Tem 13 referências no nosso blogue.

2. Comentário do António Duarte, de 29/10/2022, 18:12

Boa tarde Luís.

Sugeri a  entrada do João Silva na Tabanca Grande atendendo a que ele acompanhava o blogue e participava, embora através de comentários a postes. Inclusivamente, e com alguma frequência, mostrava ao filho e à filha textos do blogue, conforme os dois me contaram no dia do funeral.

Não formalizou o pedido por mero "deixa andar".

No entanto, decide como melhor te parecer, mas penso que se justifica, precisamente face ao acompanhamento do blogue e às participações nos comentários.

Se necessário posso fazer a pesquisa de mais comentários. (...)
 
Se necessitares de algo que eu possa ajudar apita sff
Abraço
Duarte


3. Dois comentários do João Silva 

(i) CISMI, Tavira. Terceiro turno de 1971.

Depois da recruta no Hotel das Caldas, rumámos a sul até Tavira para fazermos a especialidade de atirador de infantaria.

A viagem longa e demorada foi feita sem paragens em vilas onde pudéssemos dar ao dente, a excepção era para fazer xixi no meio do mato.

Em Tavira, no CISMI, destaco 3 personagens:

(a) Tenente Moleiro, que no primeiro dia apareceu no campo da feira, conhecido por Atalaia. O pelotão formou e depois do blá, blá da retórica, tirou o quico e disse: "é este o corte de cabelo da companhia";

(b) Caifás, o barbeiro onde nos iríamos apresentar e dizer "corte à tenente Moleiro":

(c) O capitão capelão que dava palestras aos sábados ao fim da manhã no refeitório.

O pessoal estava exausto, sentado e com o queixo apoiado ao cano da G3, não tardava em adormecer. A palestra que alertava para o "respeito" pelas meninas e ameaçava que,  quando tal não acontecia,  terminava em casamento na parada. E dava como exemplo o que, na recruta / especialidade anterior, tinha acontecido.

Depois era ouvi-lo: "tu aí ao fundo,  levanta-te e castiga-te a ti próprio".... "Sim tu que estavas a dormir"...

A malta como não sabia a quem ele se dirigia, levantavam-se dois ou três. Então dizia: "não és tu, ele sabe quem é". À segunda ou terceira acertava.

A malta que sabia tocar e cantar e fosse "actuar" na missa de domingo,  tinha tratamento VIP. Também havia outros VIP por serem futebolistas, destaco o Vaqueiro, um dos chamados bebés do Varzim. Havia mais.

A salina era onde os mais tesos eram humilhados por resistirem onde não havia hipótese de vencer. Terminava quando todos estávamos encharcados de água podre e mal cheirosa. O cheiro ficava presente por dias.

Na Guiné, onde fui dos primeiros a chegar por ir em rendição individual, encontrei vários camaradas. Destaco o Penedos, que tocava trompete e em Tavira já tinha um Renault.

João Silva, terceiro turno de 1971, com passagem por Beja, Depósito de Adidos e Guiné. (***)


(ii) Quem não entrou na equação do 25 de Abril foram os africanos que juraram bandeira e a defenderam ao nosso lado.

Camarada Luís Mourato: Ao ler o teu testemunho das lágrimas que viste nos olhos do militar que servia a bandeira portuguesa na Guiné,  trouxe-me à memória um episódio que recentemente foi aflorado aqui a insubordinação da 12 em Bambadinca em Março de 1973.

Hoje acredito que eram os primeiros sinais do fim da capitulação do exército português naquela longa e desgastante guerra.

A Bambadinca, na companhia de Spínola, chegaram para "resolver o assunto" 3 oficiais africanos garbosamente fardados de camuflado e galões reluzentes, que vieram para credibilizar o empenho do Governador e Comandante
-Chefe.

Depois da CCAÇ 12,  o meu destino foi Bolama e lá, entre os oficiais subalternos, era evidente o tema do livro "Portugal e o Futuro",  Spínola vem a Lisboa e não regressa. Almeida Bruno e Otelo já tinham regressado. No final de 73 regressam Salgueiro Maia e Luís Moura, meu capitão na CCAV 3404 em Cabuca,  e pouco conhecido, mas foi ele que veio de Estremoz a comandar a coluna que se juntou no Carmo na rendição de Marcelo.

Tudo bem pensado e organizado e o correcto. Fazer, o que tinha que ser feito, o Golpe de Estado. Quem não entrou na equação foram os africanos que juram bandeira e a defenderam ao nosso lado.

Foram, sem o mínimo pudor, depois de desarmados, deixados ao Deus Dará para serem vítimas de violenta chacina.

Quando será que todos nós nos retratamos por termos assistido de braços caídos e em silêncio?

João Silva
Ex-furriel mil at inf
Cabuca, Bambadinca, Xime, Bolama, Abril de 72 a Maio de 74. (****)
___________


(**) Último poste da série > 13 de outubro de  2022 > Guiné 61/74 - P23704: Tabanca Grande (537): José Moreira de Castro Neves, ex-Fur Mil Arm Pes Inf da CCAÇ 1551 / BCAÇ 1888 (Bambadinca, Fá Mandinga e Xitole, 1966/68)... Natural de Valongo, senta-se no lugar n.º 865, sob o nosso poilão

(***) Vd. poste de 31 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21719: (Ex)citações (382): Tavira, CISMI, por quem nenhum de nós morreu de amores... (João Candeias da Silva / Carlos Silva / Luís Graça)

(****) Vd. poste de 23 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21679: (In)citações (174): Apesar de agnóstico, ainda conservo, na cabeceira, um crucifico-talismã que alguém deixou na tabanca onde eu pernoitava: Ká pudi larga mezinho qui pudi salvar kurpu (Luís Mourato Oliveira, o último comandante do Pel Caç Nat 52, Mato Cão e Missirá, 1973/74)

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23743: "Alfero Cabral ca mori": Lista, por ordem numérica e cronológica, das 94 "estórias cabralianas" publicadas (2006-2017) - V (e última) Parte: de 80 a 94


Lisboa > Sociedade de Geografia > 2008 > O "alfero Cabral" e as suas... máscaras

Foto: © Jorge Cabral (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa do livro de Jorge Cabral (1944-2021)
"Estórias Cabralianas", vol I. Lisboa: Ed José Almendra, 2020, 144 pp. 


1. O nosso Jorge Cabral, que nos deixou, inconsoláveis,  no dia 28 de dezembro de 2021 (*), vai fazer um ano, tinha um II volume das "estórias cabralianas" praticamente pronto para ser publicado. O editor adoeceu e a morte surpreendeu o autor. 

Do I volume, ainda restavam 11 exemplares até há dias, segundo informação do nosso camarada Luís Mourato Oliveira que lá foi, por indicação minha,   comprar dois exemplares para levar para Bissau, dentro de um mês.  Contacto desta livraria (especializada em livros usados e de pequenas editoras independentes):

Leituria, Rua José Estêvão, 45A, Lisboa
telem: 967 224 138, email: livros@leituria.com


Hoje publicamos a lista final das estórias cabralianas que o nosso blogue foi editando ao longo dos anos, entre 2006 e 2017 (**). As últimas (de 80 a 94) são já da última fase da produção literária do autor (entre setembro de 2013 e janeiro de 2017). 

Refira-se que,  desta última lista,  a estória mais lida (=503 visualizações) foi a nº 83 (Da Gata Catota à Tabanca da Queca...). Teve 14 comentários, entre os quais o de um outro histórico membro da Tabanca Grande que a morte também já nos arrebatou, no mesmo ano horrível  de 2021, o Torcato Mendonça (1944-2021): 

Olá, meu caro Jorge,  eu, neste fim de tarde friiiiooooo e chato, necessitava mesmo de uma destas. Li, e ao aparecer a "catota", fiz "Oh!! e ri com gosto. Genial e a confirmação de que muitos capitães, talvez devido a excesso de esforços, muitos deles não tinham sentido de humor...ou, pelos deuses, nunca "partiram catota" (26 de novembro de 2013 às 18:06).

Também muito vista (=459) e comentada (n=11) foi a estória nº 89 (Os filhos do sonho...)
Escreveu o Cherno Baldé: 

Jorge Cabral, não sei se aconteceu de verdade, mas a ÁQfrica é rica e incrivelmente surpreendente do ponto de vista da mística e do misticismo inexplicável. Entre certas etnias da Guiné acredita-se que uma pessoa (uma mulher ou homem) com poderes místicos pode transformar-se num lagarto e, assim, roubar a alma da pessoa (do homem ou da mulher) de quem se gosta, podendo assim dar *a luz a um(a) filho(a) tal e qual ao homem ou mulher a quem se roubou a alma ou espírito.

Estas e outras técnicas de méstica (engenharia social) ajudam as famílias a aceitar no seu seio aquilo que à primeira vista poderia ser inaceitável como,  por ex., fazer, sobretudo, com que os homens (maridos) participem na educação de criancas nascidas fora do lar (mestiças) de uma forma natural e sem constrangimentos (4 de setembro de 2015 às 10:17 )

Como eu também escrevi, a escassas semanas dee morrer, o Jorge Cabral era um verdadeiro oficial e cavalheiro, o último dos românticos do império (**) (LG)

PS - Espantoso: os meus amigos e amigas não o esquecem. Quase um ano depois da sua morte, a sua página no Facebook continua a ser "alimentada" com gratas e (e)ternas recordações da sua vida como professor e ser humano. Tratava as suas queridas alunas por "Alminhas", e ele era, para elas, a "Alma Maior"... Alma de Almeida, Jorge Pedro de Almeida Cabral... 


2. Lista das estórias cabralianas, por ordem numérica e cronológica - V (e última) Parte: De 80 a 94 (*):

13 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12035: Estórias cabralianas (80): As mulatas de Luanda (Jorge Cabral)

(...) Numa noite, no início de Maio de 1968, apareceu-me irritado o meu amigo Filipe. Ia para a tropa.
– Tens a certeza Filipe? Olha vamos passar por lá, pela Junta de Freguesia. (Onde à porta afixavam as listas).

E fomos. Corri os olhos pelo edital e era verdade. Lá constava, Filipe Narciso Gonçalves da Silva. Só que, um pouco mais abaixo, encontrei o meu nome, Jorge Pedro de Almeida Cabral. Devia ser engano, um erro, eu tinha direito a adiamento. Que o Filipe fosse, não era para admirar. De igual idade e entrados ao mesmo tempo na Faculdade, ele não passara do primeiro ano, enquanto eu contava acabar o curso no ano seguinte. (...)

30 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12222: Estórias cabralianas (81): Em Vendas Novas, de ronda, na Tasca das Peidocas (Jorge Cabral)

(...) Em Janeiro de 1969, eis-me garboso aspirante na E.P.A. [Escola Prática de Artilharia], em Vendas Novas. Ao contrário dos outros aspirantes, encarregados da instrução no C.S.M. [, Curso de Sargentos Milicianos], eu fui colocado na Secção de Justiça e na Acção Psicológica, sendo ainda nomeado árbitro de andebol da Região Militar. (...)

2 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12238: Estórias cabralianas (82): Quando cabeças e rabos não são equivalentes, e nem sempre dois mais dois são igual a quatro: O Sitafá, as fracções e as sardinhas (Jorge Cabral)

(...) Em Missirá durante dois meses, estivemos sem abastecimentos. Época das chuvas, o sintex e os dois unimogues avariados .Ainda tínhamos conservas,mas faltavam as batatas, o vinho e o arroz para os africanos. Um dia porém, o Pechincha conseguiu fazer dos dois burrinhos, um, que andava. Fomos a Bambadinca, deixando a viatura, à beira da bolanha de Finete, que atravessámos até ao rio, o qual cambámos na piroga do Fodé. (...)


26 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12345: Estórias cabralianas (83): Da Gata Catota à Tabanca da Queca... (Jorge Cabral, com bolinha...)

(...) No fim dos anos 70, era um simpático advogado, com muitas clientes que me gabavam a grande sensibilidade…Entre elas, destacava-se a D. Prazeres, que eu divorciara de um marido violento e me assediava todos os dias, com questões que, de jurídico, tinham muito pouco. (...)

8 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12556: Estórias cabralianas (84): Ganhámos! O Alfero meteu golo!... (Jorge Cabral)

(...) Um dia, ouvi, em Bambadinca, que ia haver um campeonato de futebol. Para além da CCaç 12 , entravam todos os Pelotões e Serviços da CCS. Inscrevi o Pel Caç Nat 63, embora não tivéssemos equipa, nem sequer bola, que me apressei a adquirir.

Chegado a Fá, ordenei treinos diários. Tarefa difícil, pois os meus soldados africanos nem as regras conheciam. Eram fortes e rápidos, mas pareciam especialistas em sarrafadas. Para tirar a bola ao adversário valia tudo. (...)



(...) A 24 de Dezembro pela manhã, fomos a Bambadinca. Trouxemos bacalhau e o correio. 

Para mim chegou uma carta dos meus sobrinhos, escrita pela minha irmã. Dentro dela, um desenho do Pai Natal. Barba branca e uns óculos na ponta o nariz. Tal e qual eu ,agora…

À noite consoámos. Nem tristes, nem alegres.

No dia 25, como fazia sempre de madrugada, fui atrás do meu abrigo, junto ao arame, aliviar a bexiga. Mas, mesmo antes de iniciar a função, olhei a mata. Olhei e vi todas as árvores enfeitadas com luzes e bolas cintilantes:
 –Venham ver! – gritei. (...)

17 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14760: Estórias cabralianas (86): Alferofilia (...uma parafilia a acrescentar à lista DSM - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, da APA - American Psychiatric Association (Jorge Cabral)

(...) O Alfero nem oito dias tinha de Missirá, quando Binta, a mulher do Milícia, se meteu no seu quarto – abrigo, convidando-o a ...Ainda pensou resistir, mas... Na função era básica, mas os dotes pedagógicos do Alfero, surtiram efeito.

Era conhecida como a mulher do Milícia, mas não tinha marido, pois o repudiara, segundo os usos e costumes, por questões anatómicas, como se dizia na Tabanca. (...)


(...) Em Missirá, jantávamos cedo. Éramos apenas onze brancos e rápidamente despachávamos o pé de porco com arroz ou a cavala com batatas. Depois ficávamos à mesa conversando. Alguns mais resistentes permaneciam noite dentro. Um deles era o novo cozinheiro, o Espanhol, soldado básico, que mancava. (...)

 29 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15054: Estórias cabralianas (88): A bebé de Missirá (Jorge Cabral)

(...) Só no início de julho de 1969, quando o Pelotão se preparava para ir para Fá é que descobri que além dos vinte e quatro soldados africanos, contava com as respectivas mulheres, filhos, cabras e galinhas… Instalados, o quartel virou tabanca, animada com as brincadeiras das crianças e os risos das mulheres. Todos os soldados fulas eram casados e alguns com mais de uma mulher, pelo que existiam sempre grávidas e partos. (...)


3 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15070: Estórias cabralianas (89): Os filhos do sonho (Jorge Cabral)

(...) Grande escândalo em Missirá. A bela bajuda Mariama, apareceu grávida. Sobrinha do Régulo e há muito prometida a um importante Daaba de Bambadinca, era preciso averiguar...

Reuni com o Régulo e chamámos a rapariga, Após um interrogatório cerrado, ela, muito a medo, esclareceu:
– O pai era o Alfero…
– Mas quando e onde?
– É que uma noite sonhei com ele. (...)

22 de dezenbro de 2015 > Guiné 63/74 - P15526: Estórias cabralianas (90): A Pátria é um Natal, e o Natal é uma Pátria (Jorge Cabral)

(...) Foi no dia 25 de Dezembro de 1970.

Talvez porque o Spinola nos havia visitado há pouco,  o Sitafá, o puto que vivia connosco, interrogou-me:
– Alfero, o que é a Pátria? (...) 

9 de janeiro de  2016 >  Guiné 63/74 - P15598: Estórias cabralianas (91): Alfero Obstetra, mas também Dentista de Balantas... (Jorge Cabral)

(...) Numa noite, aí pelas três horas, fui acordado pelas Mulheres Grandes, que me pediram para levar uma parturiente a Bambadinca.

Embora a bolanha de Finete estivesse transitável, seria impossível atravessar o rio, acordando o barqueiro. Claro que os partos eram assunto de mulheres e foi com muita relutância que me deixaram observar a situação. Não só observei, como colaborei activamente no nascimento de uma menina. (...) 


(...) Bacalhau ensaboado e os Três Reis Magos. Poucos são os Natais de que me lembro. E no entanto, já passei mais de setenta. Mas este, Missirá 1970, nunca esqueci. Tínhamos bacalhau. Tínhamos batatas, Fomos tarde para a mesa, a mesma de todos os dias, engordurada, sem toalha. Chegou o panelão fumegante e começámos.
– Caraças!, o bacalhau sabe a sabão! – disse o Branquinho. (...) 


8 de janeiro de 2017 >Guiné 61/74 - P16930: Estórias cabralianas (93): Porra, meu Alferes, não sabia que os Turras também tinham Mãe!?! (Jorge Cabral)

(...) NI-OI, NI-OI, NI-OI… Continuamos Amigos e Cinéfilos, Dalila.Tu vês filmes, eu, entro neste, tragicomédia que nunca mais acaba…

Desta vez houve guerra, dois mortos em Salá, mesmo junto a um limoeiro. O milícia Demba pisou uma mina reforçada e desapareceu da cintura para baixo. Os gajos abriram fogo e o meu soldado Guiro de rajada lerpou um turra, de pistola à cinta.
- NI-OI, NI-OI,NI-OI… - berrava o turra. (...) 


16 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16958: Estórias cabralianas (94): 1º Cabo Monteiro, pedicure: "Ó meu alferes, olhe-me só essas unhas dos pés, essas enxadas! Venha cá!"... (Jorge Cabral)

(...) Entre os meus militares metropolitanos, há o homem mais habilidoso que conheci, o Monteiro. Foi ele que construiu o forno e desmontou e montou o gerador. Ora uma vez, ainda em Fá, olhando as minhas unhas dos pés, chamou-me:
– Oh, Meu Alferes, olhe-me essas enxadas! Venha cá! (...)

____________


(**) Vd. postes anteriores da série >

(***) Vd. poste de 6 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22693: Antologia (79): "Alfero Cabral", oficial e cavalheiro... ou o último dos românticos do império (Jorge Cabral, autor de "Estórias cabralianas", 1º volume, 2020)

sábado, 11 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22798: O nosso blogue por descritores (6): "O meu Natal no mato": tem mais de 80 referências... Por curiosidade, o poste P5522, de 8 de dezembro de 2009, da autoria do Joaquim Mexia Alves ["Era lá noite de se embrulhar!"...] bateu o recorde de visualizações de páginas (n=4627) e de comentários (n=15).

 

Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65) > No Xime, esteve destacado um grupo de combate.

Foto: © Libério Lopes (2008).  Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]




Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nast 52 (1973/74) > Natal de 1973 > A garrafeira e a doçaria... Não faltou nada, a não ser o cartão de boas festas e feliz ano novo dos nossos vizinhos de Madina / Belel

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Inaugurámos em maio passado uma nova série, "O nosso blogue por descritores" (*)... Com mais de 5 700 "descritores", de A a Z, torna-se difícil (se não impossível) aos nossos leitores fazer uma pesquisa exaustiva de um determinado tema ou assunto no nosso blogue que já tem 17 anos de existência e quase de 22 mil e oitocentos  postes.

O descritor "O meu Natal no mato” tem mais de 8 dezenas de referências. Nesta listagem. que a seguir se publica,  além de uma mini-imagem, cada poste é refenciado por:

(i) data;
(ii) número de ordem (cronológica) (do mais recente ao mais antigo);
(iii) série em que vem inserido;
(iv) título (e subtítulo);
(v) autor(es) (dentro de parênteses, no final) (não aparecendo este campo, o poste é, por defeito, da autoria de um ou mais editores do blogue)

A listagem só não traz o link de cada poste, porque seria muito consumidor de tempo para os editores recuperá-lo. Mas os nossos leitores podem consultar o poste inserindo o seu número na janela do canto superior esquerdo do blogue, antecedido sempre da consoante P, de poste: por exemplo P21675.

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2020/12/guine-6174-p21675-o-meu-natal-no-mato.html


Esperemos que esta lista seja útil a autores e leitores. (Alguns autores infelizmente já  não são vivos. João Rebola, Raul Albino,  Torcato Mendonça, Jorge Teixeira / Portojo...)

Refira-se, por simples curiosidade, que, quanto a este descritor "O meu Natal no mato", o poste P5522, 8 de dezembro de 2009, da autoria do Joaquim Mexia Alves [...Era lá noite de se embrulhar!...] bateu o recorde de visualizações de páginas (n=4627) e decomentários (n=15). (**)

Segue-se o poste P5512 (***) com 2927 visualizações de páginas mas zero comentários. É da autoria do Libério Lopes, um dos veteranos da Guiné, de 1963/65: (...) Apanhados em flagrante, a pôr duas minas no 'sapatinho', na estrada Xime-Bambadinca-

Mas recordemos também aqui, em época natalícia, a mensagem, gravada para a RTP, no Natal de 1968, pelo alf mil pil, AL III, BA 12, Bissalanca, 1968/70, Jorge Félix, então ainda  "periquito" (****):

A minha mensagem de 1968 na RTP: Um 69 em grande para os meus amigos
 

(...) Eu também falei na RTP. Vou contar...

Naquele tempo, 1968, os Canibais residentes não estavam interessados em aparecer na televisão. Não havia voluntários, logo, foram os mais periquitos que tiveram que representar a classe de Pilotos da Esquadra. Por tal motivo tive que ser eu e recordo-me que também gravou mensagem o Sargento Piloto Marta. Eu por ser o mais novo, ele porque iria partir em breve.

Não estava nada interessado em falar e arranjei uma maneira de ser censurado. Então que fiz eu? Debitei uma laracha que não fosse transmitida e disse o seguinte:

" Um beijo para os meus pais e um sessenta e nove em grande para os meus amigos".

O Operador, Serra Fernandes, homem que vim a encontrar passados anos na RTP, disse logo:
- Tem que dizer outra mensagem que isso não vai para o ar.

E eu respondi:
- Ou vai isto ou não vai nada.

Sempre fiquei com a ideia que não iria passar nos ecrãs da TV mas a verdade é que passou. Na altura, 1969, contaram-me alguns amigos que foi uma barraca muito comentada.

Há dias a falar com o nosso Amigo, Belarmino Gonçalves, alferes Piloto em Bissalanca nos mesmos anos que eu, recordou-me esta história, quando lhe desejei um Bom Natal ele atirou o "um 69 em grande para os meus amigos". (...) (****)


O nosso blogue por descritores (6) >  "O meu Natal no mato"
(que tem mais de 8 dezenas de referências)



(****) Vd. poste de 31 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5575: O meu Natal no mato (31): A minha mensagem de 1968 na RTP: Um 69 em grande para os meus amigos (Jorge Félix)