Mostrar mensagens com a etiqueta Luís Gonçalves Vaz. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Luís Gonçalves Vaz. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25434: Meu pai meu velho meu camarada (70): Henrique Gonçalves Vaz (1922-2001), último Chefe do Estado Maior do CTIG/CCFAG, foi também um cavaleiro com classe (Luís Gonçalves Vaz) - II (e última) Parte




Guiné > Bissau > Sala de operações do QG/CTIG > 11 de Julho de 1973 - Da esquerda para a direita; (i) Brigadeiro Banazol, comandante do CTIG; (ii) Coronel Galvão de Figueiredo, 2º comandante do CTIG; e (iii) o Chefe do Estado-Maior/CTIG, Coronel do CEM Henrique Gonçalves Vaz: este último responde, na sala de operações do QG, ., ás palavras do CMDT do CTIG, numa cerimónia de transmissão de funções do CEM/CTIG.



Guiné > Região do Cacheu > Pelundo >  1973 > Instrução das milícias >  Da esquerda para a direita; (i) Delegado do Governo no Chão Manjaco, Tenente-coronel de Art Sousa Teles; (ii) Comandante Geral das Milícias, Major Mário Arada Pinheiro (membro da nossa Tabanca Grande); (iii) CEM/CTIG, Coronel do CEM Henrique Gonçalves Vaz, em inspeção á instrução das milícias, representando o 2º CMTE do CTIG.



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego > Setembro de 1973 > Coronel Henrique Vaz,  com o Brigadeiro Banazol (comandante do CTIG), perante um desfile de um pelotão de milícia, no âmbito do encerramento da instrução.



1- Segunda parte do texto do Luís Gonçalves Vaz



Cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (Barcelos, 1922- Braga, 2001)


Fotos (e legendas): © Luís Gonçalves Vaz  (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado Maior do CTIG/CCFAG,
foi também um cavaleiro com classe - II (e última) parte (*)

por Luís Gonçalves Vaz



A carreira profissional do Coronel Henrique Gonçalves Vaz tem duas grandes etapas: (i) como cavaleiro, enquanto oficial subalterno de Cavalaria (vd. Parte I) (*); e (ii)  como Oficial do Quadro do Corpo do Estado-Maior.

Como oficial CEM, desempenhou funções nos Quarteis Generais da Região Militar do Norte, na Região Militar de Angola e no CTIG /CCFAG na Guiné Portuguesa.
 
Em 20 de Novembro de 1963, é destacado, em comissão de serviço, para servir no
Quartel General da Região Militar de Angola, onde exerce em 63/64 as funções de Oficial Adjunto da 4ª Repartição e,  em 1965, as de Chefe da 1ª Repartição, regressando à “Metrópole” neste ano.

 Os serviços prestados nesta comissão, pelo então Major Vaz, são reconhecidos
superiormente, nomeadamente pelo General Comandante da Região Militar de Angola e pelo próprio Ministro do Exército, reconhecimentos estes que se traduzem em Louvores e em Condecorações atribuídas. 

Entre 1966 e 1970, desempenha, na Região Militar do Norte (RMN)
na cidade do Porto, as funções, primeiro de subchefe e, nos últimos dois anos, a de Chefe do Estado-Maior da RMN.

Entre 1971 e 1972, comanda o Regimento de Cavalaria  nº 6 (RC 6), no Porto, onde uma vez mais se distingue como se pode comprovar no Louvor concedido pelo General Comandante da Região Militar do Norte, “... pela maneira altamente distinta e plena de dignidade como comandou o RC6 ....que revelaram um oficial distinto que valorizou a sua unidade e prestigiou a Região e as Instituições Militares...”.

No ano seguinte, 1973, é nomeado para servir, novamente, no “Ultramar”, desta vez no Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), como Chefe do Estado-Maior, sob o comando do General Spínola e posteriormente do General Bettencourt Rodrigues, numa altura de grandes ofensivas do PAIGC, 

A partir do 25 de Abril de 1974, e por instruções superiores (do Brigadeiro Fabião ), é o principal responsável em realizar os “Planos de Entrega dos Aquartelamentos na Guiné”, com a colaboração do sr. Major Mourão. 

Os últimos “Planos de entrega de aquartelamentos” foram entregues ao Brigadeiro Fabião no dia 10 de Outubro de 1974, um dia antes da reunião com os comandantes do PAIGC. 

A entrega do Complexo Militar de Santa Luzia foi efetuada no dia 13 de Outubro, pelas 15 horas, enquanto o Forte da Amura, o último “reduto militar português” a ser entregue, foi entregue apenas no dia 14 de Outubro, o dia previsto para a “retirada final”, e reservado para o embarque do que restava das tropas portuguesas na Guiné. Só regressará a Lisboa no dia 14 de outubro de 1974, cerca de seis meses após a Revolução de 25 de Abril. 

Em 31 de Agosto de 1976, é colocado no 1º Tribunal Militar Territorial do Porto, assumindo, no ano seguinte, a função de Juiz Presidente. Em março de 1978, passa à situação de Reserva, mas continua a exercer o referido cargo naquele tribunal. É reconduzido nas mesmas funções, desde 9 de setembro de 1979, por novo biénio.

Em 1 de Janeiro de 1982, deixa de prestar serviço efetivo no Quartel General da Região Militar do Norte.

Braga, 18 de abril de 2024
Luís Beleza Gonçalves Vaz (foto à esquerda)
(filho do biografado)

________

Nota do editor:

terça-feira, 23 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25430: Meu pai meu velho meu camarada (69): Henrique Gonçalves Vaz (1922-2001), último Chefe do Estado Maior do CTIG/CCFAG, foi também um cavaleiro com classe (Luís Gonçalves Vaz) - Parte I



Cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (Barcelos, 1922- Braga, 2001)



Elvas > Setembro de 1954 > Concurso Hípico de Elvas, Capitão
Henrique Vaz


Porto > 26 de Julho de 1950 > Concurso Hípico do Porto,  Tenente Henrique Vaz

Lisboa > 17 de Março de 1947 > Concurso Hípico de Lisboa,  Alferes Henrique Vaz


Mafra > CIE > s/d > Tenente Henrique Vaz e "Rovuma"


Lisboa > s/d > Concurso Hípico de Lisboa, Federação Equestre Portuguesa, 
Alferes Henrique Vaz



Torres Novas > Escola Prática de Cavalaria > Março de 1945 > 
 Aspirante Henrique Vaz na descida das Ferrarias, montando o "Vapor"


Fotos (e legendas): © Luís Gonçalves Vaz  (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Luís Gonçalves Vaz mandou-nos, com data de 18 do corrente, 16:32, um trabalho sobre o seu pai, Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado Maior do CTIG/CCFAG, que foi também um distinto cavaleiro.  (Tem 26 referências,  no  nosso blogue,  o pai; e 77, o filho.)

Como o Luís Gonçalves Vaz, nosso tabanqueiro, também foi militar (e de cavalaria), faz todo o sentido publicar este artigo, na série "Meu pai, meu velho, meu camarada", em dois postes (*).

O Luís Filipe Beleza Gonçalves Vaz tem uma publicação com a biografia do seu pai (Barcelos, 2004, 21 pp.).

 Luís, Boa tarde:

Conforme combinado, segue em anexo o Artigo para publicação. Podes rever o Artigo e corrigires o que entenderes. Acabei por enquadrar a fase de cavaleiro do meu falecido pai, com a fase de oficial superior do Estado Maior. 

Quando faleceu, a sua farda tinha apenas os símbolos de cavalaria , não os símbolos de oficial do Estado Maior, de acordo com as suas instruções em vida ao seu filho Comandante da Marinha Portuguesa, o meu irmão comandante Gonçalves Vaz. 

Depois diz alguma coisa.

Abraço, Luís Gonçalves Vaz

Anexo - Artigo "Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado Maior do CTIG/CCFAG, foi também um cavaleiro com classe"


Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado Maior do CTIG/CCFAG, 
foi também um cavaleiro com classe

por Luís Gonçalves Vaz


1.  A carreira profissional do Coronel Henrique Gonçalves Vaz tem duas grandes etapas, a primeira como cavaleiro, enquanto oficial subalterno de Cavalaria, e a segunda como Oficial do Quadro do Corpo do Estado-Maior, tendo desempenhado funções nos Quarteis Generais da Região Militar do Norte, na Região Militar de Angola,  e no CTIG /CCFAG,   na Guiné Portuguesa.

Na primeira, como cavaleiro, virá a demonstrar ser um excelente praticante de Hipismo, talvez um dos melhores do seu tempo a nível militar. Para além de ter sido, durante cinco anos 1947-48-50-52 e 53, o 1º classificado da Arma de Cavalaria em Provas de Hipismo Regimentais, participou também em muitos concursos hípicos nacionais e internacionais onde obteve também boas classificações, principalmente com dois cavalos, o “Fiado” e o “Fantoche”, cavalos do Exército Português.

Desde alferes até capitão, de 1945 a 1957, dedica-se ao Hipismo com participação em concursos hípicos, na cidade do Porto, em Pedras Salgadas, em Espinho, em Mafra, em Elvas, em Évora e mesmo participando no concurso Hípico de Lisboa.

Neste período foi contemporâneo de grandes cavaleiros portugueses como Pimenta da Gama, Henrique Callado, Jorge Mathias, Fernando Cavaleiro, Ribeiro de Carvalho, Ivens Ferraz e mesmo o cavaleiro António de Spínola, entre muitos outros. Henrique Vaz manteve por muitos anos a prática de equitação, mesmo depois de deixar de competir em provas de hipismo com obstáculos.

Como exemplo de bons resultados em Provas Nacionais de obstáculos, poderemos apontar as seguintes (vd. imagens em baixo):

  • Um segundo prémio numa prova hípica em Mafra, no mês de setembro do ano de 1951;
  • Um terceiro e nono lugar com cavalos distintos (o "Fantoche" e o "Fiado") na prova “Omnium - 1ª série”, no Concurso Hípico de Espinho em 1949; nesta Prova o capitão Gonçalves Vaz consegue mesmo dar luta ao cavaleiro Henrique Callado;
  • Em agosto de 1952, Henrique Gonçalves Vaz disputou em Pedras Salgadas a Prova “Hotéis Pedras Salgadas”, onde concorreram 46 cavaleiros, e obteve com o “Fiado”, um prestigiado 6º lugar, à frente de um grande cavaleiro como Ivens Ferraz, cavaleiro que representou Portugal nos jogos Olímpicos.


Revista de Cavalaria, setembro de 1951



Classificação (2º lugar, prémio monetário 200$00, equivalemte hoje a c. 550 euros), para Henrique Vaz, prova "Caça", 1ª série, Escola Militar de Equitação, setembro de 1951


Como jovem oficial de cavalaria nunca deixará de praticar desportos, tendo-se dedicado também à prática de esgrima na Região Militar do Norte. Posteriormente, após concluir o Curso Geral do Estado-Maior em 1955 e o Curso Complementar do Estado-Maior em 1959 ingressa, em 1960, no Quadro do Corpo do Estado-Maior, começando a segunda fase da vida profissional onde virá a demonstrar ser um excelente e distinto oficial do Estado-Maior, como comprovam todas as suas nomeações profissionais e todos os louvores e condecorações quelhe foram concedidas.

(Continua)


Braga, 18 de abril de 2024
Luís Beleza Gonçalves Vaz
(filho do biografado)
____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 24 de agosto de  2022 > Guiné 61/74 - P23552: Meu pai, meu velho, meu camarada (68): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte VII

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25403: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XVIII: a versão do cor inf António Vaz Antunes (1923-1998), na altura comdt interino do COMBIS ( Memorando digitalizado e transcrito pelo seu filho, engº Fernando Vaz Antunes)



Guiné > Bissau > 1974 > O cor inf  António Vaz Antunes (à esquerda, na imagem) com o gen Bettencourt Rodrigues, e outros oficiais numa visita do Comandante-Chefe a uma unidade em Bissau. Fotografia do arquivo pessoal do Coronel António Vaz Antunes.


Guiné > Região do Oio > Farim > 1974  > O cor inf António Vaz Antunes com militares e população local. Fotografia do arquivo pessoal do coronel António Vaz Antunes.

Fotos (e legendas): © Fernando Vaz Antunes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Cópia da primeira metade  da folha 1, do documento manuscrito do cor inf António Vaz Antunes, "Memorando dos acontecimentos de Bissau", datado de Lisboa, 30 de abril de 1974, e constituído  por 9 folhas, numeradas.

Transcrição da responsabilidade do seu filho, engº  Fernando Vaz Antunes,  que digitalizou e facultou o documento ao Luís Gonçalves Vaz, para divulgação no nosso blogue (*). 

Nos 50 anos do "golpe militar de Bissau" (**), voltamos a reproduzir a versão daquela oficial superior, que se solidarizou com o gen Bettencourt Rodrigues na manhã de 26 de Abril de 1974: na altura, era adjunto do Comandante do CTIG e Comandante interino do COMBIS (Comando da Defesa Militar de Bissau), bem como Inspetor do CTIG.

O nosso especial agradecimento a ambos, filhos de militares com brilhantes carreiras, pelo seu contributo para a preservação e divulgação de documentos relevantes, como este, para a historiografia da presença portuguesa na Guiné, e em particular para a nossa historiografia militar, relativa ao período de 1961 a 1974:

Sendo ambos filhos de militares que serviram a Pátria no TO da Guiné, querem também, e com toda a legitimidade, homenagear e honrar aqui a memória dos seus pais:

(i)  Fernando Vaz Antunes, engenheiro (passou  pela Academia Militar, e vivia em em Mafra, em 2014 de acordo com a sua página no Facebook);
  
(ii) Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande,  professor do 2º/3º ciclos do ensino básico em Vila Verde,  vive em Braga,  filho do  cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74) (1922-2002); tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo.

 

Golpe Militar de 26 de Abril de 1974 no TO da Guiné  > “Memorando dos acontecimentos de Bissau” (Digitalização e transcrição do manuscrito, e notas: Fernando Vaz Antunes; notas complementares: Luís Gonçalves Vaz)


Pelo cor inf António Vaz Antunes [1923-1998]

Funções:

Desde 24Mar1974 – Inspector do CTIG | 13Abr1974  – Adjunto do Cmdt do CTIG para parcial substituição do Brig. 2º Cmdt [1] , de licença; Cmdt intº do COMBIS por licença do Comandante

Sequência cronológica

24Abr1974

Considerando que 26 era feriado em Bissau, e para aproveitamento de tempo, solicitei à Chefia Srvc Transportes passagem para Bolama, a partir das 09:30

Planeei assistir às cerimónias mais significativas de homenagem a Honório Barreto e seguir depois para Bolama, em visita ao BArt [2] em IAO.

25Abr

Conhecimento por camaradas, do Movimento das Forças Armadas em Lisboa: através da BBC ao fim da tarde, depois de actividades várias no CTIG e COMBIS, tive conhecimento do triunfo do Movimento. 

Às 18:00 horas comuniquei à Chefia Srvc Transp para anular ida a Bolama.

22:00 horas – como de hábito, desloquei-me para o COMBIS para pernoitar, depois de ter recebido comunicação telefónica do Chefe do Estado Maior do CTIG [3] para recomendar ao pessoal de guarda a máxima atenção na vigilância com vista a garantir a segurança dos quartéis contra qualquer tentativa do IN.

À chegada ao COMBIS recebi a mensagem escrita que repetia a recomendação telefónica. Dei as necessárias instruções ao Oficial de Dia. 

Pouco depois o Oficial de Dia batia à porta do quarto para me prevenir de que a Emissora Nacional (Lisboa) ia transmitir uma mensagem do Movimento. Desloquei-me para o Bar, onde ouvi a mensagem na companhia do Oficial de Dia e mais 2 alferes.

Logo de seguida voltei para o quarto e pouco depois ouvi a repetição da mensagem, feita agora por emissor da Guiné e mais tarde repetida pelo PFA [Programa das Forças Armadas] , vulgo “PIFAS”.

26Abr

Às 08:00 dirigi-me para a Praça Honório Barreto, de uniforme nº 1 (branco), acompanhado do Cor Lemos [4]

Terminada a cerimónia, voltei ao quarto e mudei de farda.

09:45 – Chegada ao QG/CCFAG para tomar parte no briefing diário. Enquanto aguardava no local habitual, juntamente com outros oficiais – nomeadamente Cor Vaz, Cor Pilav Amaral Gonçalves, Cmdt Ricou e Comodoro Brandão [5] –, o Cmdt Lencastre chegou conduzindo um Volkswagen muito apressadamente, travou bruscamente e dirigiu-se a correr ao Comodoro a quem comunicou qualquer coisa, de que eu só percebi “vêm aí pára-quedistas”. 

O Comodoro não reagiu, o Cor Amaral Gonçalves pareceu-me surpreendido e eu perguntei ao Ricou, também impassível, o que se passava.

Este informou-me que eram os pára-quedistas que estavam a cercar o QG. Perguntei qual a intenção, respondeu não saber. Perante a impassibilidade destes, dirigi-me à sala de reuniões para onde tinha visto entrar o Sub Chefe do Estado Maior – Ten Cor Monteny [6] –, disse-lhe o que se tinha passado e ele respondeu-me que não sabia de nada. 

Respondi que, nesse caso, o nosso General [7] também não devia saber. Confirmou-me que não. Nessa altura ordenei-lhe que fosse avisar o nosso General, o que se prontificou a fazer, tendo saído para o efeito [8]. 

Momentos depois o grupo de oficiais, que estava fora, dirigiu-se para a sala de reuniões. Fiz o mesmo e cada um ocupou o lugar habitual.

Faltavam o General Cmdt Chefe, o Brigadeiro Adjunto [9] e o CEM/QG/CCFAG [10]. Não estranhei, por supor que estariam ocupados – e não era a primeira vez que o Comodoro presidia à reunião.

Logo que todos tomaram lugares – e havia muito mais oficiais que era habitual em briefing de rotina, especialmente considerando que era feriado –, adiantou-se para a frente o Ten Cor Mateus da Silva [11] que pedia atenção e disse: 

“A Comissão na Guiné do Movimento das Forças Armadas, que está aqui presente, entendeu que o Sr. General Bethencourt Rodrigues não podia continuar no desempenho de funções. Foi-lhe dado conhecimento disso e destituiu-o. Em face disso nomeia o Sr. Comodoro, Comandante Chefe, e eu, que já desempenhava funções de direcção no Serviço das Obras Públicas, passo a desempenhar as de Secretário Geral” [12].

O Comodoro fez um gesto afirmativo de cabeça e disse: “Bem, vamos ao briefing!”. 

Houve uns curtos momentos de silêncio e passividade que me fizeram crer que só eu fora surpreendido, pelo que me levantei e pedi licença ao Comodoro para dizer: 

“Para mim é surpresa o que acabo de ouvir. Tenho uma missão de responsabilidade da defesa de Bissau. Desejo identificar os membros da Comissão da Junta que tomou tais decisões e conhecer a minha posição!” 

O Comodoro propôs que falássemos depois do briefing. Insisti para que se não adiasse porquanto não conhecia as novas estruturas criadas.

Além disso,  em 33 anos de Oficial nunca se me tinham deparado tais procedimentos dentro das estruturas militares, pelo que pedia o esclarecimento da situação. 

Enquanto falava, um capitão tentou intrometer-se, no que o impedi [13]. Mas logo que terminei, ele pediu licença ao Comodoro e sugeriu “que o senhor Coronel acompanhasse o Sr. General para Lisboa, no Boeing que o transportaria nessa tarde”.

Fiquei perplexo, o Comodoro não respondeu, mas fitava-me como esperando a minha reacção, e então retorqui: 

“Lamento que seja posto na situação de aceitar uma sugestão apresentada por um Capitão que não conheço, mas se o Sr. Comodoro a aceitar eu aceito-a também!”.

 O Comodoro respondeu: “Sim, é melhor, vai com o Sr. General para Lisboa!”. 

Perguntei se podia contactar com o Sr. General, a fim de lhe perguntar se dava licença que o acompanhasse. Perante resposta afirmativa, pedi licença e retirei-me. Dirigi-me de imediato ao gabinete do Comandante Chefe e perguntei ao Sr. General Bethencourt Rodrigues se autorizava que o acompanhasse no avião que o transportaria para fora de Bissau. 

Respondeu-me que não tinha que se pronunciar sobre isso porque fora forçado por um grupo de oficiais, que invadiram o seu gabinete, a abandonar o cargo. Esclareci que apenas pedia licença para o acompanhar, porquanto a ordem para embarcar tinha-me sido dada no briefing nas circunstâncias que atrás referi.

Entretanto entraram no gabinete o Comodoro, o Cor Vaz, o Cmdt Ricou e o Cmdt Lencastre. Após breves palavras que o primeiro disse ao Sr. General, em termos de lamentação (que eu não entendia… ), esclareci-o que o Sr. General autorizava que eu o acompanhasse. Perguntei por guia de marcha, e disse-me que não era precisa. Indaguei sobre hora e local de reunião e fui informado que podia reunir-me no Palácio, ao Sr. General, até às 13 horas. 

Logo de seguida – cerca das 10:15 –, dirigi-me ao COMBIS para recolher os meus haveres pessoais e informar o meu Chefe do Estado Maior, de que devia entrar em contacto com o Cmdt Chefe para lhe definir a situação e missões.

Quando chegava à entrada do Depósito de Adidos, acesso ao COMBIS, estava a formar junto à porta, muito apressadamente, um Pelotão do Batalhão de Comandos Africanos, transportado para ali numa viatura pesada estacionada em frente. O Pelotão estava completamente armado, inclusive com LGF e armas automáticas, equipado e municiado.

Deduzi que seria por minha causa, mas nem parei nem interferi. Rapidamente reuni os meus haveres após o que chamei o Ten Cor Altinino e o Cap Bicho para os informar que deixava o COMBIS, mas não tinha dados que me permitissem transmitir o Comando.

Cerca das 12:45 cheguei ao Palácio com a minha bagagem. Cerca das 14h, quando vi chegar a guia de marcha para o Brig. Leitão Marques e Cor. Hugo Rodrigues da Silva, telefonei ao Cor Vaz, Chefe do EM/CTIG solicitando uma guia também para mim. Às 15:30 o Cor Vaz e o Ten Cor Monteny disseram-me que o Comodoro não assinava a guia e não autorizava que eu saísse.

Surpreendido por esta nova versão, procurei o Comodoro para que me esclarecesse. Estava num dos corredores do Palácio para tomar parte na cerimónia de tomada de posse do novo Governo da Província. Respondeu que não estava na disposição de autorizar que saísse quem pedisse. Lembrei-lhe que eu não o pedira – ele é que o ordenara. Reagiu atirando-se para um sofá e declarando que se quisesse embarcar que embarcasse, mas que não me passava guia.

Mais tarde, já no aeroporto, pedi-lhe para me atender em particular, e solicitei que recordasse o que se tinha passado e a ordem que me dera, e a situação em que me colocara na presença de dezenas de oficiais. Decidiu então que me enviaria a guia pelo correio e autorizou que embarcasse.

Chamei o Cor Vaz e o Ten Cor Monteny e, estando também presente o Cmdt Ricou, o Comodoro deu ordem ao Cor Vaz para me enviar a guia para o DGA [14] no dia seguinte.

Nessa mesma ocasião, disseram (não me lembro quem) ao militar que fazia policiamento à porta de passagem para a gare, que eu podia embarcar.


(24-26Abr1974) – Cor António Vaz Antunes

Fernando Vaz Antunes, documento inédito, cedido pelo autor ao Luís Gonçalves Vaz e ao blogue  Luís Graça & Camaradas da Guiné

Notas de AVA/FVA/LGV:

[1] - Brigadeiro Octávio de Carvalho Galvão de Figueiredo, 2º Comandante do CTIG e, por inerência, Comandante do COMBIS (Comando da Defesa Militar de Bissau).

[2] - Batalhão de Artilharia nº 6520/73, mobilizado pelo RAL5-Penafiel e aerotransportado entre 01 e 04Abr74, do AB1-Portela para a BA12-Bissalanca, de onde marchou para o CIM-Bolama.

[3] - Coronel de cavalaria CEM Henrique Manuel Gonçalves Vaz (CEM/QG-CTIG desde 07Jul73 até 14Out74)

[4]  -«A cerimónia começou mais tarde porque se aguardou, em vão, a chegada do Gen Cmdt Chefe. A dada  altura, por decisão do Comodoro Brandão que estava presente, deu-se início à cerimónia com uma alocução  do então Maj de infantaria Alípio Emílio Tomé Falcão, Comissário Provincial da MP na Guiné.» [AVA]

[5] - António Horta Galvão de Almeida Brandão, Comandante do ComDefMarG (Defesa Marítima da Guiné).

[6] - António Hermínio de Sousa Monteny, Tenente-Coronel CEM

[7] - José Manuel de Bethencourt Conceição Rodrigues, desde 29Set73 Governador e CCFAG.

[8] - «Houve entretanto um curto impasse: o Monteny continuava a escrever uns papéis, que eu lhe retirei da secretária repetindo-lhe que fosse de imediato – e ele foi. Isto passou-se na sala, enquanto o resto do pessoal estava fora. Quando o Monteny saiu, vim atrás dele, mas ao chegar à porta vi que os que estavam fora, incluindo o Comodoro, vinham entrando para o briefing, e eu fiz o mesmo, enquanto o Monteny descia o jardim.» [AVA]

[9] - Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques.

[10] - Coronel CEM Hugo Rodrigues da Silva. [O QG/CTIG era o Quartel General do Exército (situado nas instalações militares de Santa Luzia), enquanto o QG/CCFAG era o Quartel General de todas as Forças Armadas em serviço naquele território (situado no antigo Forte da Amura, mesmo em frente ao cais de Bissau). O coronel Henrique Gonçalves Vaz, CEM/CTIG na altura destes acontecimentos, irá desempenhar as funções de Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG (Comando Unificado), após este Golpe Militar.]

[11] - António Eduardo Domingos Mateus da Silva, TCor Engº Trms, desde Jul72 Comandante do AgrTmG.

[12] - «O Mateus da Silva propôs-se ocupar os cargos de Secretário Geral e Encarregado do Governo – o que veio a acontecer –, tendo sido “empossado” cerca das 12h quando nós estávamos ainda no Palácio do Governo (e residência do Governador).» [AVA]

[13] - «O Capitão era o José Manuel Barroso, miliciano, que dirigia o semanário “Voz da Guiné” (e mais nada); era casado com a “fulana” que estava em Bissau para estudar a instalação da Universidade de Bissau, recebendo por isso 15 contos X mês … .» [AVA]  [equivalente, a preços de hoje,  a 2860 euros, editor LG]  

[14] - Depósito Geral de Adidos (Calçada da Ajuda, em Lisboa).


Fonte: © Fernando Vaz Antunes (2014).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Gonçalves Vaz / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 _______________

Notas do editior LG:

(*) Vd. postes de: 

1 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13078: O golpe militar de 26 de abril de 1974no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes(1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): Parte I

1 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13079: O golpe militar de 26 de abril de 1974no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes(1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): Parte II

2 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13080: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): III (e última) Parte   

(**) Vd. último poste da série > 15 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25388: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XVII: O meu pai, cor Henrique Gonçalves Vaz, que não pertencia ao MFA, deu um abraço de despedida, apreço e respeito ao seu Com-Chefe no momento da sua destituição (Luís Gonçalves Vaz)


(***) Nota de Luís Gonçalves Vaz:
  
(...) António Vaz Antunes (1923-1998)  [resenha biográficas mais completa: consultar também portal Ultramar Terrweb]

(i) nasceu na freguesia da Mata, Concelho de Castelo Branco, em 21 de junho de 1923;

(ii) faleceu em 15 de outubro de 1998;

(iii)  frequentou a Escola do Exército, onde se formou como oficial de Infantaria do Exército Português; 

(iv) no ano de 1959 realizou um estágio de oficiais do Exército Português, junto de tropas francesas na Argélia;

(v) passou pelo CIOE / L amego, onde foi 2º comandante; 

(vi) passou também por por Angola onde foi 2º comandante do Batalhão de Caçadores 185/RMA (1961 e 1962);  e por Moçambique, onde foi 2º comandante do Batalhão de Caçadores 1918/RMM (1967) e comandante do Batalhão de Caçadores 17/RMM (1967 a 1968);

(vii) no CTIG, foi comandante do Batalhão de Caçadores 4512/72/CTIG (1972 a 1975);

(vii) neste teatro de operações, e na altura a que se reportam os acontecimentos relatados no “manuscrito” aqui publicado, o Coronel António Vaz Antunes era Adjunto do Comandante do CTIG e Comandante interino do COMBIS (Comando da Defesa Militar de Bissau), bem como Inspetor do CTIG;

Para que se perceba bem, este oficial tinha nesta altura, uma missão de muita responsabilidade na defesa militar de todos os quarteis no “perímetro militar de Bissau”, mesmo assim na reunião relatada no “documento histórico”, foi afastado destas funções pelo MFA da Guiné. 

Chamo à atenção que nesta altura não estavam em funções os 1º e 2º Comandantes do CTIG, pois encontravam-se de licença, o que elevava a responsabilidade deste oficial no quadro de comandos neste TO (Teatro de Operações). Pode-se ler,  por exemplo, no seu manuscrito, que no dia 25 de Abril recebeu por telefone e por mensagem indicações do CEM/CTIG, coronel cav Henrique Gonçalves Vaz, “recomendações para que o pessoal de guarda tivesse a máxima atenção na vigilância com vista a garantir a segurança dos quartéis contra qualquer tentativa do IN”, a situação era de facto explosiva, vulnerável e muito sensível (...)

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25388: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XVII: O meu pai, cor Henrique Gonçalves Vaz, que não pertencia ao MFA, deu um abraço de despedida, apreço e respeito ao seu Com-Chefe no momento da sua destituição (Luís Gonçalves Vaz)

Guiné > Bissau > 1973  (4.º trimestre )> No canto esquerdo o comandante Ricou, o oficial do lado direito de óculos é o Coronel CEM/CTIG Henrique Gonçalves Vaz, e ao centro, também de óculos, o general Bethencourt Rodrigues (destituído em 26 de Abril de 1974), numa cerimónia oficial, em Bissau, no ano de 1973. Fotografia do arquivo pessoal do coronel Henrique Gonçalves Vaz.

O QG/CTIG era o Quartel-General do Exército (situado nas instalações militares de Santa Luzia), enquanto o QG/CCFAG era o Quartel-General de todas as Forças Armadas em serviço naquele território (situado no antigo Forte da Amura, mesmo em frente ao cais de Bissau).

O coronel Henrique Gonçalves Vaz, CEM/CTIG na altura destes acontecimentos, irá desempenhar as funções de Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG (Comando Unificado), após o Golpe Militar de Bissau.

Foto  (e legenda): © Luís Gonçalves Vaz (2014).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O jovem Luís Gonçalves Vaz,
que tem as melhores memória
do  tempo passado na Guiné
(1973/74)
1. Luís Gonçalves Vaz tem 75 referências no nosso blogue. É filho do Cor CEM Henrique Vaz (Barcelos, 1922-Braga, 2001). E esteve em Bissau, com a família, de 1973/74, Tinha 13 anos quando se deu o 25 de Abril. Frequentava o Liceu Honório Barreto, estava no 3.º ano.  Tem partilhado connosco boa parte do arquivo do pai. Entrou para a Tabanca Grande em 2011. É o nosso tabanqueiro nº 530  (*). 

Com formação académica em Biologia e Geologia, na altura o Luís era professor de Matemática e Ciências da Natureza numa escola C+S,  na região de  Braga (cremos que em Vila Verde).  

Fez o serviço militar na Escola Prática de Cavalaria, frequentou o 2.º  CSM de 1983. Foi fur mil da Polícia do Exército. Tem 18 meses de tropa. Na EPC ainda conheceu (e fez serviço com) o Salgueiro Maia em 1984 (na altura regressado dos Açores, e major cav desde 1981).

Ficou um grande amigo da Guiné. Sempre entusiástico, empenhado e generoso, tem  posto as suas memórias e as do seu querido pai,  à disposição dos amigos e camaradas da Guiné. 

Hoje, e a propósito da 23ª hora do gen Bettencourt Rodrigues, enquanto comandante-chefe do CTIG, fomos repescar um poste já antigo, em que o Luís nos conta como foi o "seu" 25/26 de Abril de 1974 em Bissau, e um episódio da prisão do com-chefe, em que vem ao de cima a nobreza de caracter do seu pai (**).


O meu pai, cor Henrique Gonçalves Vaz, que não pertencia ao MFA,  deu um abraço de despedida, apreço e respeito ao seu Com-Chefe no momento da sua destituição 

por Luís Gonçalves Vaz


O meu falecido pai, Coronel Henrique Gonçalves Vaz, Chefe do Estado-Maior do CTIG, teve conhecimento durante a noite de 25 para 26 de Abril, pois na madrugada recebeu, pelo seu telefone “civil” (não o militar!), a notícia de que na Metrópole decorria um “Golpe de Estado” para derrubar o sistema político de então (sei que foi um oficial da sua confiança que lhe ligou aqui da Metrópole). 

Logo de manhã o meu pai dirigiu-se para a reunião do costume, com o General Comandante-Chefe no Palácio do Governador. Quando lá chega vê o edifício cercado por tropas especiais e deparou-se com a “destituição” de Bettencourt Rodrigues. 

É claro que o coronel Henrique Vaz não pertencia ao MFA, mas isso não o impediu de se insurgir contra alguns “modos um pouco rudes” (em sua opinião, é claro) com que estariam a conduzir o processo de destituição (ou prisão?) do Comandante-Chefe, e ofereceu-se para o acompanhar ao avião que o conduziria de regresso a Lisboa, via Cabo Verde.

O General Bettencourt Rodrigues despediu-se com um abraço do meu pai, e agradeceu-lhe o “respeito” demonstrado, apesar de saber que o meu falecido pai iria continuar a ocupar o seu posto no Teatro de Operações da Guiné. 

É claro que a situação não era para brincadeiras e tudo podia acontecer nas próximas horas, e como o Coronel Henrique Gonçalves Vaz era um militar íntegro, patriota e com espírito de missão (não afeto ao anterior regime), foi imediatamente convidado para continuar como CEM do CTIG, tendo aceitado e só regressou definitivamente a Portugal no último voo de militares portugueses, pelas 23 horas do dia 14 de Outubro de 1974, acompanhando o Brigadeiro Carlos Fabião, na altura já indigitado para CEMGFA.

Esses mesmos oficiais do MFA solicitaram ao Comandante Marítimo, Comodoro Almeida Brandão, que assumisse as funções de Comandante-Chefe interino das Forças Armadas na Guiné-Bissau. 

As primeiras medidas tomadas pelo MFA na Guiné, foram a “detenção dos agentes da PIDE” e a “libertação dos prisioneiros políticos”. 

Como tal, no dia seguinte, 27 de Abril, surgiram pela cidade de Bissau várias manifestações lideradas por esses presos, uma delas cercou e tentou invadir o meu Liceu, o Liceu Honório Barreto.

Ainda me lembro como se fosse hoje, um funcionário do Liceu, um homem de grande estatura, e de origem cabo-verdiana, pegou numa grande tranca e afugentou vários manifestantes (deu resultado!), tendo de seguida fechado a porta principal. 

Nas salas do andar inferior, que davam para o jardim, tivemos de fechar as persianas, pois havia muitos manifestantes que nos diziam aos berros, com paus e catanas “Tuga na ba p`Bó Terra”…

É claro que eu achei muita piada na altura, pois nunca temi pela minha segurança, já que tinha colegas com 16 anos ou mais (alguns vinham do interior da Guiné para estudar em Bissau) que sempre me fizeram estar à vontade. 

Fugi do Liceu com esse grupo de colegas mais velhos (eu tinha apenas 13 anos e frequentava o antigo 3.º ano do Liceu), em direção à base militar de Santa Luzia, onde vivia com a minha família (a casa do Chefe do Estado-Maior do CTIG era aquela mesmo em frente do Clube Militar, na outra ponta da avenida). (***)
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9194: Tabanca Grande (310): Luís Gonçalves Vaz, professor, filho do Cor CEM Henrique Vaz (1922-2001)

(**) Vd. poste de 25 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9399: No 25 de abril de 1974 eu estava em... (16): Bissau, tinha 13 anos, era estudante no Liceu Honório Barreto... (Luís Vaz Gonçalves)

domingo, 16 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22912: Ocupação dos aquartelamentos das NT e povoações pelo PAIGC (jul-out 1974), de acordo com o Plano de Retração do Dispositivo: excertos do relatório da 2ª Rep/CC/FAG, datado de 28 de fevereiro de 1975


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Julho de 1974: visita de Bunca Dabó e do seu bigrupo, fortemente armado... Ao centro, o nosso amigo e camarada Jorge Pinto, então alf mil, em farda nº 2, desarmado, fazendo as "honras da casa" (*). O aquartelamento e a povoação foram ocupados pelo PAIGC apenas em 2 de setembro de 1974.  (Natural de Turquel, Alcobaça, o Jorge Pinto é professor do ensino secundário, reformado.)

Foto (e legenda): © Jorge Pinto  (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

Relatório 2ª Rep /Pág.  52


Relatório 2ª Rep /Pág.  53



Relatório 2ª Rep /Pág.  54

 

Luís Gonçalves Vaz


Henrique Gonçalves Vaz (1922-2001)

Excertos do relatório da 2ª Rep/CC/FAG, sobre a situação político-militar em 1974 , publicado em 28 de fevereiro de 1975, e na altura classificado como "Secreto". É 
 assinado pelo chefe da 2ª Rep do CC/FAG [, Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, comando unificado criado em 17 de Agosto de 1974], o maj inf Tito José Barroso Capela.

Este documento foi digitalizado pelo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande [,foto acima], a partir de um exemplar pertencente ao arquivo pessoal de seu pai, cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (1922-2001), último Chefe do Estado-Maior do CTIG (1973/74) [, foto també, acima]. (**)

Índice do relatório [que tem 74 páginas] (***)

A. Período até 25Abr74

1. Situação em 25Abr74

a. Generalidades (pp.1/2)
b. Situação política externa:
(1) PAIGC e organizações internacionais (pp. 2/5)
(2) Países limítrofes (pp. 5/8)
(3) O reconhecimento internacional do “Estado da G/B em 25Abr74 (pp.8/9).

c. Situação interna:

1. Situação militar

(a) Actividade do PAIGC (pp. 10/12)
(b) Síntese da atividade do PAIGC e suas consequências (pp.13/15)
(c) Análise da actividade de guerrilha (pp. 16/18)
(d) Dispositivo geral do PAIGC e objetivos (pp. 18/19)
(e) Potencial de combate do PAIG (pp.19/20)
(f) Possibilidades do PAIGC e evolução provável da situação (p. 21)

2. Situação político-administrativa (pp. 22/24).

B. Período de 25Abr74 a 15Out74

2. Evolução da situação após 25Abr74

a. Generalidades (pp. 25/26)
b. Situação política externa (pp. 26/28)

(1) PAIGC (pp. 29/32)
(2) Organizações internacionais (pp. 32/34)
(3) Países africanos (pp. 34/35)
(4) Outros países (pp. 35/36)


c. Situação interna

(1) Situação militar

(a) Aspetos gerais (pp.37/46)

(b) Síntese da actividade de guerrilha

1. Ações de guerrilha realizadas pelo PAIGC após 25abr74 (pp. 47/52)
2. Ações de controlo às viaturas das NT (p. 52)
3. Ocupação dos aquartelamentos das NT e povoações pelo PAIG (pp. 52/54)

(2) Situação político-administrativa(a) PAIGC- Contactos e conversações no TO (pp. 55/64)

(b) Outros partidos políticos ou associações cívicas (pp. 64/66)
(c) Prisioneiros de guerra (pp. 66/68;
(d) Transferência dos serviços públicos sob administração portuguesa para a administração da República da Guiné-Bissau (pp. 68/70);
(e) Diversos (pp. 70/74)

___________

Notas do editor:



 (*** ) Vd. restantes postes da série:




4 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9443: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte V): pp. 10/21

31 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9424: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte IV): pp. 1/9

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20889: Em busca de... (306): Armando, o pequeno Armandinho, que em 1973/74, quando internado no HM 241 de Bissau, frequentava a casa do CEM do CTIG, Coronel Henrique Gonçalves Vaz (Luís Beleza Gonçalves Vaz)

1. Mensagem datada de 19 de Abril de 2020 do nosso Grã-Tabanqueiro Luís Gonçalves Vaz, professor do ensino básico em Vila Verde e filho do falecido Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74). Tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974.

Quer encontrar um velho amigo, o então jovem Armando, que esteve internado no HM 241 de Bissau, vítima de guerra de que lhe resultou a perda de uma das pernas. Frequentava, como convidado, a casa do então CEM, senhor Coronel de Cavalaria Henrique Gonçalves Vaz.


EM BUSCA DO ARMANDINHO

É com muita satisfação que volto aqui a escrever sobre o “Armando do Hospital de Bissau”, uma criança que conheci no ano de 1973 a cuidado dos militares médicos e enfermeiros que trabalhavam no Hospital Militar de Bissau nessa mesma altura.

Conheci-o muito bem, pois durante um ano, entre 1973 e 1974, ia várias vezes durante a semana vê-lo ao Hospital e muitas vezes regressava connosco (comigo e com os meus dois irmãos) para nossa casa em Sª Luzia, onde brincava muito, comia e dormia.

Na semana passada falei dele ao meu mano mais novo (Paulo Vaz) e os dois revivemos as nossas memórias daqueles tempos conturbados, tempos de guerra mas que para nós jovens na altura, nos marcou para toda a vida. Conhecer esta criança na altura, o Armando, foi uma experiência humana e de afetos inolvidável, já que ele tinha perdido a sua família numa explosão de uma mina e tinha sido evacuado para o hospital Militar de Bissau, penso que em finais de 1972 ou inícios do ano de 1973.

No início teria sido o meu próprio pai, o Coronel Henrique Gonçalves Vaz, CEM/CTIG, que o convidou para ir passar uns dias lá em nossa casa (na Base Militar de Santa Luzia), para poder brincar com miúdos como ele, eu tinha 13 anos e o meu irmão mais novo, o Paulo tinha apenas dez anos, o Armando talvez oito anos, depois tornou-se rotina e uma visita desejada por nós. Lembro-me dele como um miúdo muito alegre, inteligente e bem-disposto. Ainda me lembro, quando no meu quarto, o Armando tirava a prótese (da perna) e continuava a saltar, brincar e falar, sem constrangimentos nenhuns, sim falava muito, demonstrando sempre vontade de saber, de apreender, pois lembro-me muito bem que o Armando (para nós ficou sempre apelidado de Armandinho) demonstrava uma grande curiosidade e uma grande alegria de viver, apesar de ter perdido parte de uma perna e os pais numa explosão de uma mina, facto responsável pela sua evacuação para o Hospital Militar.

Sempre me disse que era MUITO BEM TRATADO PELOS MILITARES DO HOSPITAL MILITAR DE BISSAU. Volto a registar aqui neste nosso Blog, de que gostaria muito de saber onde se encontra e contactar com ele. O meu regresso à Metrópole naquela altura foi um "pouco abrupto", devido ao 25 de Abril, fiquei sempre com saudades dele, e disseram-me que o Armando teria vindo em 1974 com um médico militar para a Metrópole, para frequentar uma instituição em Portugal! Será verdade, se alguém souber notícias dele, gostaria que me contactasse.




Base Militar de Santa Luzia, Bissau, 1974 - O pequeno Armando

No passado mês de março voltei a pedir à minha irmã, que na altura estudava arquitetura no Continente e nos visitava de vez em quando em Bissau, que tentasse descobrir as fotografias do “Armando na Guiné” da sua autoria, e ela procurou e procurou até que encontrou estas fotografias do Armando e que me fizeram viajar no Tempo, recordando os “momentos muito intensos” que vivi na Ex Província Portuguesa da Guiné.


Base Militar de Santa Luzia, Bissau, 1974 - O pequeno Luís

Se tu, Armando, por acaso leres esta notícia sobre ti, liga-me para o meu telemóvel + 351 936 262 912 ou manda-me notícias para o meu email: luisbelvaz@gmail.com

Grande Abraço
Luís Beleza Gonçalves Vaz
____________

Nota do editor

Último poste da série de 7 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20825: Em busca de... (305): Fur Mil Fotocine Júlio César Fragoso Pereira (Guiné, 1966/67) (Armando Pires, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2861)