Mostrar mensagens com a etiqueta José Zeferino. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta José Zeferino. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23847: Casos: a verdade sobre... (32): o pós-25 de Abril no CTIG, as relações das NT com o PAIGC, a retração do dispositivo militar e a descolonização

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Julho de 1974 > Visita de Bunca Dabó e do seu bigrupo, fortemente armado... Ao centro, o nosso amigo e camarada Jorge Pinto, então alf mil, em farda nº 2, desarmado, descontraído, fazendo as "honras da casa". O aquartelamento e a povoação foram ocupados pelo PAIGC apenas em 2 de setembro de 1974. (Natural de Turquel, Alcobaça, o Jorge Pinto é professor do ensino secundário, reformado)

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCAÇ 13 (169/74) > Meados / finais de maio de  1974 > Imagens do "glorioso dia do primeiro encontro com as tropas do PAIGC em Bissorã e após 25 de Abril,  creio eu que foi em meados ou finais de maio de 1974" (...). Fotos do álbum do Henrique Cerqueira, que esteve, como fur mil at inf, no TO da Guiné, desde finais de novembro de 1972 até inícios de kulho de 1974, primeiro na 3ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72 e depois na CCAÇ 13.

Fotos ( legenda): © Henrique Cerqueira (2012)  Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região de Gabu < Paunca > CCAÇ 11 (1969/74) > 7 de junho de  1974 >  A paz, depois da guerra, ou guerra & paz, como faces da mesma moeda... >  O fur mil op esp J. Casimiro Carvalho, "herói de Gadamael", no meio dos inimigos de ontem...  Fotos do seu álbum fotográfico, sem legendas... 

Este nosso camarada que vemos aqui a abraçar os inimigos de ontem, foi o mesmo que tinha escrito à mãe,na véspera,  em 6 de junho de 1974,  a seguinte missiva:

 "(...) Ficou, nesse encontro, determinado que amanhã o inimigo vinha a um quartel nosso visitar-nos, conhecer-nos, nós que nos matavámos [uns aos outros] sem nos vermos. Enfim, agora como está previsto, conhecer-nos-emos, se não houver imprevistos, e eu, que tanto os odiei, com o ódio que ganhei com a guerra, devido ao sangue que vi derramar, irei... talvez - quem sabe ? - abraçá-los. Sim, porque eles lutaram para defenderem o que por direito lhes pertencia, um chão deles, bravos soldados como nós." (...).

É o mesmo J. Casimiro Carvalho que na batalha de Gadamael pôs a vida em risco para salvar outros camaradas (e nomeadamente o seu capitão) e que chegou a ser ferido.

Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Xitole >  2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616/73 (Xitole, 1974) > Foto do álbum do José Zeferino, ex-alf mil at inf. "Primeiro encontro no Xitole: de costas um comandante do PAIGC – não me lembro do nome – , o nosso médico, Dr. Morgado, eu, o capitão Luís Viegas, o comissário politico Antero Alfama e o 1.º sargento páraquedista Vaz".  O comandante da 2ª CCAÇ / BCAC 416/73 era cap mil inf Luís Fernando de Andrade Viegas (com este mesmo nome, há um membro da Ordem dos Engenheiros da Região Sul, portado ca cédula profissional nº 12.037).

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Xitole >  2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616/73, Xitole, 1974 > s/d    [c. jun/set 1974]>  Chegada ao Xitole de forças do PAIGC, em camiões russos.

Algumas apontamentos do diário de alf mil José Zeferino: 

(i) Xitole, 22 de abril de 1974 - Apresenta-se um guerrilheiro do PAIGC. Má altura, para ele, para desertar das suas fileiras; 

(ii) 25 de abril 1974 - madrugada, cerca das 6 horas: "Zefruíno, alferes Zefruíno"!!!... (...) Era o Jamil, comerciante libanês (...),  que estava a ouvir a BBC em árabe: "Zefruíno, o (...)  Spínola está a fazer uma revolta". (...) Foi assim que tive conhecimento do que se passava em Lisboa. Regressámos de imediato ao quartel. Ficámos na expectativa nos dias seguintes. Patrulhamentos, só o mínimo indispensável, até Endorna. Montagem de segurança nocturna: poucas. Estávamos literalmente presos pela avidez dos comunicados. Acreditámos que o fim da guerra era desejado pelas duas partes. Pelo menos para a população era-o. E muito. (...)

(iii) 15 de maio de 1974 – Violento combate – emboscada. Duas baixas do nosso lado: o alferes Aguiar e o soldado de transmissões Domingos. Cerca de uma dezena de feridos. Sinais de baixas IN;

(iv) 30 de maio de 1974 - São detectadas e levantadas várias minas reforçadas com granadas de RPG;

(vi) 6 de junho de 1974 - Pelas 6 horas, nova rajada. Desta vez de uma sentinela junto ao espaldão do morteiro 81, na zona dos quartos dos oficiais e do abrigo da Breda. Novamente nas valas avistámos, a umas dezenas de metros, uma coluna IN que se aproximava, vinda da tabanca, pela orla da pista de aviação. Sob o nosso fogo fugiram para o mato do outro lado da pista, deixando um deles ferido. Veio a falecer pouco depois na nossa enfermaria. Foi este, realmente, o ultimo acto de guerra na zona e ainda hoje não o entendo totalmente.

(vii) 15 de junho de 1974 - Na picada, para lá da Ponte dos Fulas, suspensa de uma árvore, é encontrada uma carta com um maço de tabaco Nô Pintcha, e um isqueiro. Convidava o capitão a fazer a paz. O que foi feito no mesmo dia, perto do pontão do Jagarajá.

(viii)  de 16 de junho a setembro de 1974 - Começaram então as visitas de comandantes e comissários políticos do PAIGC para combinar a cerimónia da entrega do quartel, com o arriar da nossa bandeira e o hastear da deles. Vinham das matas da margem direita do Corubal – Mina, Fiofioli, etc. (...)

Houve um jogo de futebol entre nós e os guerrilheiros. Gostavam imenso de falar com o nosso pessoal chegando a trocar impressões sobre o material que tínhamos usado na guerra. Creio que numa dessas conversas foi dito que quem preparou a tal emboscada de 15 de maio teria sido castigado. Não aprofundámos a questão (...).

Quase todos os dias apareciam guerrilheiros procurando refeições na nossa cantina geral. A única exigência nossa: tinham que deixar a arma à entrada do quartel, no posto de sentinelaFazendo-se transportar por camionetas civis paravam sempre na casa do Jamil para o cumprimentar. (...) Numa das colunas, e em viatura civil, chegaram também duas prostitutas. Alguns aproveitaram. (...)

O Saltinho já tinha sido entregueBastou um dia para ficarem sem gerador. Os novos ocupantes pedem ajuda ao Xitole para reparar o aparelho. Nesse dia à noite ficámos preocupados por a equipa que foi não ter chegado. Foram encontrados perto de Cambéssé com o Unimog espetado dentro do mato com vários guerrilheiros a tentar repô-lo na picada. O comandante deles, de nome Claude, ficou irritadíssimo quando nos viu. Já estava todo alterado. E foi a única expressão de ódio que registei em todos os contactos com elementos do PAIGC. Mas a nossa equipa foi muito bem tratada por eles.

Entretanto chegam-nos notícias de problemas em Bambadinca: Com as nossas milícias: queriam alimentos e com a CCAÇ 12 que não queria entregar as armas. Depois… o tempo passou-se… lentamente. E entregámos o Xitole  [em ].(...)

 (ix) Bissau, 12 de setembro de 1974 - Embarque no Uíge, para Lisboa. (...)

Foto (elegenda): © José Zeferino (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > 14 de outubro de 1974 > O último arriar da bandeira no CTIG, mas já sem a presença de representantes do PAIGC. Foto do álbum  do José Lino [Padrão de] Oliveira [ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12-7-1974 / 15-10-1974]

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > Cemitério de viaturas e outros equipamentos militares (GMC, Daimlers,  Panhard, jipes, Obuses 14...) abandonados como sucata, no fim da guerra.

Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 4612/74 (12jul74-15/10/74) >  9 de setembro de 1974 > Cerimónia da entrega (simbólica) do território aos novos senhores da Guiné, o PAIGC,  e  da retirada, ordeira, digna e segura, das últimas tropas portuguesas. Mansoa, em pleno coração do território, na região do Oio, serviu perfeitamente para esse duplo propósito... É uma fotos histórica, em que se vê o nosso coeditor, camarada e amigo Eduardo Magalhães Ribeiro, fur mil op esp / ranger, a arriar a bandeira verde-rubra. (O MR é membro da nossa Tabanca Grande, desde 1/11/2005...

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 >  14 de outubro de 1974 > O último arriar da bandeira no CTIG, mas já sem a presença de representantes do PAIGC.  O último ato da soberania portuguesa não foi o arruiar da bandeira, em Mansoa, em 9 de setembro de 1974....O BCAÇ 4612/74 seria colocado depois de 9/9/1974, no BENG 447, em Brá, Bissau... a útima bandeira portuguesa a ser arriada, no CTIG, seria no próprio "dia do embarque", ou seja, mais de um mês depois, em 15/10/1974. Essa honra coube, de novo, ao Eduardo Magalhães Ribeiro, fur mil op esp / ranger, da CCS/BCAÇ 4612/73 (12 de julho de 1974 - 15 de outubro de 1974).

Fotos (e legenda): © José Lino Oliveira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné >s/l >  s/d > O último Governador Geral e Comandante-Chefe, Carlos Fabião (1974)... Era um dos militares com mais anos de serviço no TO (3 comissões ou mais). Aqui na foto ainda capitão e depois major, comandante do Comando Geral de Milícias (1971/73), ao tempo de Spínola... Foto de autor desconhecido, reproduzida aqui com a devida vénia. In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angola, Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d., pp. 332 e 335. .


Guiné > Bissau > Cais da Marinha > Outubro de 1974 > Quatro Lanchas de Fiscalização Grandes (LFG), uma pequena, e uma LDM na Ponte Cais em Bissau, poucos dias antes da “retirada final” do dia 14 de outubro do mesmo ano. É visível o navio Uíge ao fundo, preparado para transportar os últimos militares portugueses da Guiné. Foto do álbum do ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz.

Segundo o nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74),e basedado no depoimento do Manuel Beleza Frerraz,  "no dia 14 de outubro, decorreu a última cerimónia de 'Arriar da Bandeira Portuguesa', ao qual se seguiu o 'Hastear de Bandeira da República da Guiné-Bissau' (a última bandeira nacional em Bissau só foi retirada 4 ou 5 semanas depois de 14 de outubro de 1974, sem cerimónia oficial),  como tal, nesse mesmo momento, todo o que restava do contingente militar português (à excepção de dois pequenos destacamentos de tropa portuguesa, da Marinha e da Força Aérea, esta na já ex-BA 12,  em Bissalanca, mas ainda com helicópteros AL-III, e o destacamento da Marinha nas suas antigas instalações, para colaborarem na transição e transmissão de técnicas/procedimentos, conhecimentos e experiências de navegação aérea e marítima, com elementos do PAIGC), encontrava-se agora em território estrangeiro.

(...) "A comitiva constituída pelo Governador (brigadeiro Carlos Fabião), o Comandante Militar (brigadeiro Figueiredo), o Chefe do Estado-Maior do CTIG (coronel Henrique Gonçalves Vaz), bem como alguns outros oficiais do Estado-Maior, sargentos e praças, depois de assistirem ao embarque de todos os militares nos navios, que se encontravam ao largo do estuário do Rio Geba, e assegurando-se que tudo tinha corrido sem problemas e de acordo com o previsto nos 'Planos de Retirada', elaborados pelo CTIG / CCFAG que nesta altura se afirmava como o único Comando das Forças Armadas Portuguesas neste TO da Guiné, seguiram directamente para o Aeroporto de Bissalanca, onde mantínhamos ainda um dispositivo de segurança.

(...) "Mal acabou a cerimónia referida anteriormente, e segundo testemunho do ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Aurélio A. Beleza Ferraz, que se encontrava nesta altura na LFG Lira, todas as guarnições dos nossos navios que se encontravam na zona, estavam por ordens superiores, em posição de combate (para qualquer eventualidade), estando todos os operacionais equipados com coletes salva-vidas, capacetes metálicos e as Bofors (peças de artilharia antiaéreas de 40 mm) sem capa e municiadas, prontas a realizar fogo de protecção à retirada das nossas tropas, que ainda se encontravam em terra. Segundo o ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, os navios que se encontravam a realizar a 'segurança de rectaguarda'  mais próxima às tropas que iriam retirar-se para os navios ao largo no Rio Geba, eram a LFG Órion e a LFG Lira.

(...) "Às 2h30m do dia 14 de outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné. Nesse momento estiveram presentes alguns Comandantes do PAIGC, que quiseram despedir-se dos 'seus antigos inimigos', e assim foi o fim da colonização da Guiné com cerca de 500 anos." (...)

Foto (e legenda): ©  Manuel Beleza Ferraz / Luís Gonçalves Vaz (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. No livro de João Céu e Silva,  "Uma longa viagem com Pulido Valente" (Lisboa, Contraponto, 2021, 296 pp.), são atribuídas a Vasco Pulido Valente (VPV)  (1943-2021) as seguintes afirmações, a propósito da descolonização (*):

(...) Quando o Dr. Mário Soares chegou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros , já o coronel Fabião estava aos abraços ao PAIGC e o Otelo aos abraços à FRELIMO. Não havia negociação possível.

Quem fez a descolonização não foi o Dr. Mário Soares, mas o MFA. Ele não queria fazer aquela descolonização, e foi assim porque o Exército português se desfez em quarenta e oito horas em Angola, Moçambique e Guiné. Neste último caso, fomos mesmo ao encontro das tropas inimigas e confraternizámos poucos dias após o 25 de Abril. Como aconteceu no Norte de Moçambique e quase imediatamente me Angola (pp. 282/283).

(…) Lembro-me do abraço de Soares a Samora Machel, horrível! E Como aconteceu ? A comitiva entrou na sala de reuniões, Otelo olhou para o Machel e disse: “Ah grande Machel, deixe-me dar-lhe um abraço”, e Soares, que estava a chefiar a delegação, ficou sem saber o que iria fazer. Depois de Machel ter dado um abraço a Otelo, veio ter com Soares de braços abertos, “Meu caro Mário”, e deu-lhe um abraço. Isto só deveria ter acontecido com Moçambique independente” (p. 191).


2. Pergunta-se, aos camaradas da Tabanca Grande que estavam no TO  da Guiné no 25 de Abril de 1974: tem algum fundamento a declaração de VPV, segundo a qual as NT foram logo, "pouco dias após o 25 de Abril" (...)  "ao encontro das tropas inimigas " (leia-se, do PAIGC) e "confraternizaram" ?

Eu não estava lá, mas pelo que sei, e pelos depoimentos já aqui foram publicados ao longo de 18 anos de existência do blogue,  acho estranho que, ao fim destes anos todos (já lá vão 48, quase meio século!), já ninguém se indigne com estas, senão "bojardas", pelo menos "bocas foleiras", vindas para mais de um homem com formação académica, historiador encartado e, de resto,  um dos "cronistas-mor" do regime democrático,  o qual, todavia,  sempre esteve longe (fisicamemte falando) do teatro de operações da Guiné. 

No citado livro (que é um meritório trabalho do João Céu e Silva, como já aqui foi dito), há outras" leviandades" (não quero chamar-lhe outros nomes) que são ditas sobre a guerra da Guiné (como, por exemplo, sobre o acidente de helicóptero, caído no rio Mansoa, em que morreu o seu amigo, o deputado da Ala Liberal José Pedro Pinto Leite, e mais outros 3 deputados da Assembelia Nacional, além da tripulação, e que VPV atribui à pontaria dos artilheiros do  PAIGC) (**)...Para já não falar da infeliz expressão "capitães milicianos mercenários" (também não provocou, ao que parece, a indignação dos nossos leitores, na ausência de comentários ao poste) (***)...

No essencial, as declarações do VPV parecem-me injustas ou menos felizes, em relação aos "últimos soldados do Império" que arriaram a última bandeira verde-rubra na Guiné... No mínimo, não responderão à verdade dos factos... Em zonas como o Xitole, a guerra prolongou-se até quase a meados de junho e ainda houve mortos de parte a parte... Na generalidade dos casos,  a retração do nosso dispositivo militar (aquartelamentos, destacamentos, etc.)  fez-se com ordem e dignidade, de acordo com um plano de retirada superiormente aprovado... E, depois, se uma jogatana de futebol, entre inimigos de ontem, num processo de negocição de paz, ao fim de onde, doze, treze anos de guerra, é uma prova inequícova de "confraternização", então temos que tratar com pinças as palavras que usamos quando falamos da gestão dos conflitos entre os seres humanos...

Na primeira parte deste poste, selecionámos, ao "vol d'oiseau",  algumas fotos e legendas que fomos publicando, a este respeito, ao longo dos anos... Esperemos que estas possam suscitar mais depoimentos e reflexões sobre o tema, sem que a discussão acabe na "fulanização" e na "caça às  bruxas", na patológica tentação, tão portuguesa (e se calhar universal), de querer arranjar logo "bodes expiatórios" quando as coisas não nos correm com ventos de feição como foi o caso, por exemplo, da descolonização... 

Enfim, façamos votos, neste já final do ano de 2022,  para  que os nossos historiadores (militares ou outros, portugueses ou estrangeiros) possam, com mais investigação,  fazer mais luz, em 2023,  sobre este período e estes factos em que as narrativas ainda estão longe de serem consensuais, devido também ao enviesamento político-ideológico (****). LG
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 3 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23840: Notas de leitura (1527): "Uma longa viagem com Vasco Pulido Valente", de João Céu e Silva (Lisboa, Contraponto, 2021, 296 pp) - O Estado Novo, a guerra colonial, o Exército e o 25 de Abril (Luís Graça) - Parte VI: 25 de Abril ? 25 de Novembro ? E descolonização ? Acho que consigo compreender tudo no caso português. Isto parece uma gabarolice, mas não é. A mim, não há nenhum acontecimento que me cause perplexidade" (VPV)

(**) Vd. poste de 18 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23793: Notas de leitura (1518): "Uma longa viagem com Vasco Pulido Valente", de João Céu e Silva (Lisboa, Contraponto, 2021, 296 pp) - O Estado Novo, a guerra colonial, o Exército e o 25 de Abril (Luís Graça) - Parte II: A guerra de África não foi nada parecido como o trauma da I Grande Guerra...


(****) Último poste da série > 25 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23736: Casos: a verdade sobre... (31): Pansau Na Isna, o "herói do Como" (1938 - 1970), entre o mito e a realidade - Parte II: Visto do lado de lá

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22542: Tabanca Grande (525): José Emídio Ribeiro Marques, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da 3.ª Comp/BCAÇ 4616/73 (Jumbembem, Farim e Canjambari, 1974), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 849


1. No passado dia 12, através do Formulário de Conta, recebemos esta mensagem de José Emídio Ribeiro Marques:

Boa tarde camaradas
Tive conhecimento do blogue somente hoje. O que me despertou foi o titulo atribuído Tangomau, dado que há muito tenho conhecimento do que significa.
Estive na Guiné em 1974. Em Farim pude assistir ao arrear da bandeira portuguesa e ao hastear da bandeira da Guiné-Bissau.
Gostaria muito de contactar com regularidade.
Um grande bem hajam.

Cumprimentos,
José Emídio Ribeiro Marques


********************

2. No mesmo dia demos resposta ao nosso novo camarada e amigo

Caro José Emídio Marques
Julgo tratar-se de algum camarada que esteve na Guiné em 1974. É isso?
Se sim, escreva-nos para este meu endereço dizendo qual o seu posto, especialidade e unidade em que foi integrado para a Guiné.
Teríamos muito gosto em que fizesse parte da nossa tertúlia, bastando para isso que nos mande uma foto dos seus tempos de Guiné e uma actual, tipo passe ou outro formato.

Receba um abraço da tertúlia
Carlos Vinhal
Coeditor


********************

3. Ainda no dia 12 de Setembro de 2021, recebemos do nosso novo Tabanqueiro José Emídio Marques, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da 3.ª Comp/BCAÇ 4616/73 (Jumbembem, Farim e Canjambari, 1974) a sua mensagem de adesão à tertúlia do nosso Blogue:

Boa Noite Camarada Carlos Vinhal
Eu estive na Guiné integrado na 3.ª Companhia do Batalhão 4616.
Era 1.º Cabo Enfermeiro e estive em Jumbembem, Nema e Farim.
A nossa Companhia foi desintegrada do Batalhão para reforçar o norte e depois a Companhia acabou por ser desmembrada e cada pelotão foi para um aquartelamento na região.
Somente nos reunimos (a Companhia), muito depois do 25 Abril em Nema, que era um posto avançado de Farim.
O meu batalhão esteve em Bambadinca.

Envio em anexo as fotos de há quase 50 anos atrás e atual.
Um abraço.

O 1.º Cabo Aux. Enfermeiro José Emídio Marques
José Emídio Marques, hoje

********************

4. Notas de CV:

(I) - Página 195 do 7. Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné:


BATALHÃO DE CAÇADORES n.º 4616/73

Unidade Mob: RI 16 - Évora
Cmdt:
TCor Inf Luís Ataíde da Silva Banazol
TCor Inf Joaquim Luís de Azevedo Alves Moreira

2º Cmdt: Maj Inf Joaquim Luís de Azevedo Alves Moreira
OInfOp/Adj: Cap Inf Bernardino Luís de Matos Pereira Torres

Cmdts Comp:
CCS: Cap SGE Domingos Roque
1ª Comp: Cap Mil Inf Augusto Vicente Penteado
2º Comp: Cap Mil Inf Luís Fernando de Andrade Viegas
3ª Comp: Cao Mil Inf João Lontral Leite Martins

Divisa: -

Partida: Embarque em 30Dez73; desembarque em 05Jan74
Regresso: em 12Set74 (1ª e 2ª Comp), 15Set74 (3ª Comp) e 16Set74 (Cmd e CCS)

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 09Jan74 a 06Fev74, no CMI, em Cumeré, seguiu depois, com as suas Companhias, excepto a 3ª Comp, para o sector de Bambadinca, a fim de efectuar o terino operacional e sobreposição com o BART 3873, de 13Fev74 a 08Mar74.
Em 09 Mar74, assumiu a responsabilidade do Sector L1, com a sede em Bambadinca e abrangendo os subsectores de Mansambo, Xime, Xitole e Bambadinca.
Desenvolveu a actividade operacional adequada às características do sector, com realização de várias operações, patrulhamentos, emboscadas dos reordenamentos de Nhabijões, Samba Silate e Bambadinca e de construção, manutenção e controlo dos itinerários da sua zona de acção. Na parte final, adaptou a sua actividade à situação então vigente, comandando e coordenando a execução do plano de retracção do dispositivo e a desactivação e entrega dos aquartelamentos ao PAIGC, sucessivamente efectuada nos subsectores do Xitole, em 01Set74, de Mansambo, em 02Set74 e de Bambadinca e Xime, ambos em 09Set74.
Em 02Set74, após desactivação e entrega dos aquartelamentos de Mambadinca, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
[...]
A 3ª Comp cedeu, a partir de 05Jan74, um pelotão para reforço da 2ª Comp/BCAÇ 4512/72, o qual se instalou em Jumbembem. Em 11Fev74, a subunidade seguiu para Farm, a fim de efectuar o treino operacional com a CCAÇ 4944/73, sob a orientação do BCAÇ 4512/72 e seguidamente reforçar este batalhão, a fim de fazer face ao agravamento da situação na sua zona de acção.
Em 23Mar74, mantendo-se no mesmo sector do BCAÇ 4512/72, foi toda colocada em Jumbembem, em reforço da actividade da guarnição local, tendo destacado um pelotão para Canjambari, também em reforço da guarnição local, de 23Mar74 a 02Jun74.
Em 06Jun74, substituindo a 1ª Comp/BCAÇ 4516/73, assumiu a responsabilidade do susector de Farim.
Em 07Jun74, após desactivação e entrega do aquartelamento de Farim, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

********************

(II) - Caríssimo José Emídio

M
uito bem aparecido na nossa tertúlia, onde a partir de hoje ocupas o lugar n.º 849 do nosso poilão.
O BCAÇ 4616/73 tem 16 entradas no nosso Blogue, sendo talvez o maior contribuidor o ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ, José Zeferino, de quem nada sabemos faz já algum tempo. Se o conheces e se sabes dele, por favor informa-nos. Da tua Companhia julgo seres o primeiro a aparecer.

Sendo tu uma das testemunha privilegiadas dos últimos tempos da guerra da Guiné, poderás contribuir com o teu testemunho, narrando e enviando fotos desses momentos extraordinários vividos no interior, vulgarmente chamado mato, e em Bissau.
As relações entre o ex-IN e as NT continuavam tensas? Havia respeito entre os antigos contendores após a declaração do cessar fogo? Como reagia a população à iminente mudança das autoridades? Estas e muitas outras perguntas fazemos nós, o mais velhos, que só podemos tomar conhecimento dos factos pelos nossos sucessores.
Estaremos sempre disponíveis para responder a alguma dúvida que tenhas.

Deixo-te um abraço em nome da tertúlia e dos editores, com os votos de que estejas bem.
Carlos Vinhal
Coeditor

____________

Nota do editor

Último poste da série de 2 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22428: Tabanca Grande (524): Juvenal José Cordeiro Danado, ex-Fur Mil Sapador de Inf da CCS/BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1970/71), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 847

domingo, 13 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13395: (De) Caras (19): O comerciante Jamil Nasser, libanês, com casa e loja no Xitole, que eu conheci no início da década de 1970 (Joaquim Mexia Alves, José Zeferino e Paulo Santiago)

1. Mensagem do nosso camarada José Zeferino [, ex-alf mil da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74; foto à esquerda],  com data de hoje:

Ainda o Jamil (*)

Já me tinha referido ao Jamil anteriormente e realmente ele tinha contactos com o PAIGC: pelo menos um comandante de canhões deles, que vim a conhecer mesmo na sua casa, tinha sido empregado dele em lojas que tinha na zona de Mina [, na margem direita do Rio Corubal], antes da guerra.

Na primeira vez que foi ao Xitole depois da guerra,  foi logo cumprimentá-lo em sua casa. Foi quando o conheci pois estava a bebericar uns scotchs com o Jamil.

O cozinheiro chamava-se Suri e tive o prazer de provar a sua "galinha de mancarra" por duas vezes: uma de oferta do Jamil e outra de encomenda nossa. Espectaculares. Mas precisavam de várias horas de preparação. O Suri tinha um problema de saúde-um testículo enorme que o atrapalhava nos movimentos-seria elefantíase?

O Jamil, libanês, era o mais velho da sua família, e sei que tinha personagens influentes e em cargos políticos em vários países africanos e no próprio Líbano,como parentes.

Abraços para todos

José A.S. Zeferino

2. Comentários do editor L.G. (*):


 A conversa aqui é como as cerejas... Ainda a propósito do "mensageiro" do Xitole (que levou à tropa a notícia do 25 de abril!) (*), há um comentário do Paulo Santiago, no blogue da Tabanca do Centro, que eu tomo a liberdade de a seguir  reproduzir.

Pessoalmente, não o conheci, ao Jamil Nasser, embora tenha ideia de o ter visto, no decurso das nossas colunas logísticas Bambadinca- Mansambo - Xitole - Saltinho, no tempo do BCAÇ 2852 e da CCAÇ 12, no 2º semestre de 1969... Como os demais comerciantes da Guiné, tinha fama, se calhar injustamente, de dar-se bem com os "dois lados"...

Não sabia que era tio do jornalista (e compositor) brasileiro David Nasser (1917-1980), um homem influente no seu tempo, no Brasil e em Portugal.
3. Comentário de Paulo Santiago [, com data de 10 de julho de 2012, em poste publicado no blogue da Tabanca do Centro,] e republicado no nosso blogue, no poste P13378 (*) ...


[Foto à direita: Paulo Santiago, Pombal, 2007; ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72]


Estou a ver o Jamil com um lenço entre o colarinho e o pescoço para absorver o suor enquanto o nível do whisky ía baixando na garrafa .

Foi com ele que conheci essa do tomate com whisky...sabia bem !!!

Comi alguns almoços em casa dele,o "criado" era um excelente cozinheiro e o "chabéu" óptimo...

Aos Domingos, no tempo da CCAÇ 2701, o Jamil ía com frequência almoçar ao Saltinho,e após almoço eram umas duas garrafas de scotch e uns quantos tomates a serem aviados.

O Jamil era tio de um jornalista da revista Manchete, muito conhecido no Brasil,e também em Portugal,chamado David Nasser.

Xitole, c. 1971/72 > O Jamil Nasser com o alf mil op esp
Joaquim Mexia Alves, da CART 3492
4. O Jamil Nasser, na evocação feita pelo Joaquim Mexia Alves  [, texto originalmente publicado no blogue da Tabanca do Centro, em 10/7/2012, e aqui  reproduzido com a devida vénia (**)

Recordações da memória – o Jamil

por Joaquim Mexia Alves 

[, à esquerda uma  rara foto do Jamil Nasser, com o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves;   cortesia do autor] (**)

Na Guiné, que me lembre, tive apenas um amigo civil, com quem partilhei longas conversas e uma amizade sincera.

Tratava-se do Jamil Nasser, comerciante libanês no Xitole, com quem logo desde o início da minha estadia de “férias” naquele lugar, estabeleci relações de companheirismo e amizade.

Assim, era muito rara a tarde em que ao fim do dia não me dirigia para sua casa, para, no alpendre/varanda que dava para a estrada Bambadinca/Xitole, beber com ele uns “uísques”, acompanhados de pedaços de tomate vermelho salpicados com sal grosso.
Poder-se-ia pensar que tal ligação não combinava, mas digo-vos que era uma coisa de se lhe “tirar o chapéu”.

Ali estávamos, uma ou duas horas, conversando e ouvindo as noticias em árabe, o que, como podem calcular, a mim me dava imenso jeito!!!

O Jamil, se bem me lembro, era o primogénito de uma grande família libanesa, de posses, mas que tudo perdeu na guerra daquele país.
Para que os seus irmãos mais novos pudessem estudar, o Jamil demandou terras da Guiné, onde se estabeleceu no Xitole, enviando dinheiro para os seus irmãos no Líbano.
Um dos seus irmãos chegou mesmo a Ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano, (segundo sua informação), e embora já estivessem todos bem, o Jamil, habituado à Guiné, já não quis regressar à sua terra natal.

A fotografia aqui colocada, foi tirada no fim de um almoço que o Jamil ofereceu na sua casa, em Abril de 1972, (julgo que tendo como “desculpa” o meu aniversário), cuja ementa foi um saborosíssimo chabéu, coisa que eu nunca tinha comido na minha vida.

Lembro-me que uns dias antes o Jamil me pediu para o ajudar a carregar a arca frigorifica com garrafas de vinho branco, para ser mais preciso duas caixas de 12, e eu lhe ter dito que era demais, pois eramos cerca de 12 pessoas!
Ele respondeu que se beberia tudo e se calhar não chegava!

Percebi depois porquê, porque ao meter a primeira garfada do chabéu à boca, pareceu-me que tinha engolido uma fogueira!
O Jamil disse para insistir, porque depois das três ou quatro primeiras garfadas, a boca se habituava ao picante e depois é que se podia saborear o chabéu.
E assim foi, sem dúvida, pois não me lembro de comer outro tão bom como este!

É curioso que por vezes tenho saudades desses fins de 
tarde no Xitole! Hei-de voltar ao Jamil Nasser e a 
outras histórias com ele.(***)

Monte Real, 10 de Julho de 2012
Joaquim Mexia Alves [, foto atual à direita]

[ex-alf mil op esp, CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73]
 ________________

Notas do editor:


(**) Vd. blogue Tabanca do Cnetro >  10 de Julho de 2012 > Recordações da memória – o Jamil [, por Joaquim Mexia Alves]

terça-feira, 8 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13378: No 25 de abril eu estava em...(24): Xitole, e foi o comerciante libanês Jamil Nasser quem me deu a notícia, ouvida na BBC, na sua emissão em árabe (José Zeferino, ex-alf mil at inf, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74)


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xitole > c. 1970 > Uma coluna logística, vinda de Bambadinca, chega a Xitole, atravessando a ponte dos Fulas, sobre o rio Pulom, ao fundo. A viatura civil, em primeiro plano, podia muito bem ser do nosso conhecido comerciante libanês Jamil Nasser, amigo de alguns dos nossos camaradas que passaram pelo Xitole, como foi o caso do Joaquim Mexia Alves (*).  Foto do álbum de Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).

Foto:  © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados.

1. O José Zeferino é um camarada que hoje faz anos, e de quem não temos tido notícias nos últimos tempos a não ser hoje (agradecendo justamente os  nossos voros de parabéns e dizendo que não nos tem esquecido, apesar de não se encontrar no melhor das suas capacidades, presumo que ainda na sequência da intervenção cirúrgica a que foi submetido há um ano atrás)... É menmbro da nossa Tabanca Grande desde 20 de fevereiro de 2008.

Estava no Xitole quando soube do 25 de abril de 1974... Três semanas depois, a 15 de maio, a sua companhia sofreria ainda um tremenda emboscada, de que resultaria a morte do  alferes  mil inf Aguiar e do soldado de transmissões Domingos (Houve ainda cerca de uma dezena de feridos do lado das NT).

De acorco com a pesquisa na Net que fizemos, o Luís Gabriel do Rego Aguiar, natural de Ponta Delgada, é dado como morto em 20/5/1974,  segundo a preciosa listagem dos mortos do ultramar, organizada por concelhos, e disponível no portal Ultramar Terraweb;  por seu turno, (ii) o  Domingos da Silva Ribeiro era natural de Vila Real, e a data  do seu falecimenmto é 15/5/1974; é possível que o alf mil inf Aguiar tenha morrido no HM 241, em Bissau, na sequência de ferimentos graves recebidos nesta emboscada, a última, ao que parece, realizada pelo PAIGC no TO da Guiné, ou pelo menos no setor L1, a seguir ao 25 de abril.

O José Zeferino foi alf mil da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74), o mesmo é dizer que foi um dos últimos soldadoa  do império. Ele já recordou aqui, telegraficamente, alguns das datas-chave da sua passagem pelo TO da Guiné. Vamos reproduzir alguns excertos,  desde a sua chegada a Bissau até à notícia do 25 de abril, ao mesmo tempo que lhe endereçamos os nossos votos de parabéns natalícios e lhe desejamos as melhoras das suas mazelas. (**)

2. Alguns apontamentos sobre a acção da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 - 73-74 (Xitole, 1973/74)  na Guiné (***)

pro José Zeferino [, foto à esquerda]

(i) Bissau – de 20 de Dezembro 1973 a 4 de Janeiro 1974 - Chegada. A maior parte, como eu, a 2 Janeiro por avião.

(ii) Cumeré - 6 de Janeiro de 1974 – Início da IAO [Instrução de Aperfeiçoamento Operacional].

(iii) Mansoa - 18/19 de Janeiro de 1974. Primeira acção do Batalhão. Segurança / emboscada nocturna no itinerário Bissau – Farim.

(iv) Cumeré - 25 de Janeiro de 1974 - Primeira baixa no Batalhão: o Furriel Humberto, madeirense, da 3.ª Companhia que iria para Farim, suicida-se com a sua G 3. Por motivos sentimentais.

(v) Xitole - 11 de Fevereiro 1974 - Chegada da 2.ª CCAÇ .

(vi) Xitole - 19 de Fevereiro de 1974 - Primeiro combate, na mata. Sem baixas. Indícios de baixas no IN.

(vi) A partir desta data deixa de haver dias de semana. Passam a ser contados por blocos de três dias: dois de patrulhamento e um de descanso. Um grupo de combate fixa-se na defesa da Ponte dos Fulas com rotação mensal.

(viii) Mansambo – 3 e 4 de Março 1974 - Grande operação no Fiofioli. Sem contacto IN.

(ix) Xitole – 9 de Abril de 1974 - Segundo combate na mata. Baixas não confirmadas no IN. O alferes Araújo do 2.º GComb é evacuado para a psiquiatria do HMB. O meu GComb, o 3.º, estava na ponte nesta altura. Foi de onde tirei esta foto.

(x) Xitole – 13 de Abril de 1974 - Visita do general Bettencourt Rodrigues. Transportado por héli Allouette IIIG

(xi) Xitole  – 22 de Abril de 1974 - Apresenta-se um guerrilheiro do PAIGC. Má altura, para ele, para desertar das suas fileiras.

(xii) Xitole  – 25 de Abril 1974 - madrugada, cerca das 6 horas:
Zefruíno, alferes Zefruíno!!!

Era o Jamil, comerciante libanês com grande influência política, social e económica, tanto na Guiné como na restante família, árabe, dispersa por três continentes.

Estávamos a iniciar mais um patrulhamento, a dois Gr Comb, talvez à zona do Duá.

Na varanda da sua casa, tipo colonial, claro, estendiam-se fios de antenas que acabavam num rádio antigo, de válvulas, por onde estava a ouvir a BBC em árabe.

Diz-me:
 – Zefruíno, o... (não me lembro, ou não quero, das palavras exactas) do Spínola está a fazer uma revolta.

O Jamil tinha tido um contencioso com o general Spínola: tinha querido transferir as suas casas de comércio na zona, para Bissau, no que foi impedido pelo general. Era uma base de apoio para as nossas tropas e para a população.

Foi assim que tive conhecimento do que se passava em Lisboa.

Regressámos de imediato ao quartel. Ficámos na expectativa nos dias seguintes. Patrulhamentos, só o mínimo indispensável-até Endorna. Montagem de segurança nocturna: poucas. Estávamos literalmente presos pela avidez dos comunicados. Acreditámos que o fim da guerra era desejado pelas duas partes. Pelo menos para a população era-o. E muito.

Entretanto chegou ao nosso conhecimento, não me lembro como, que no PAIGC havia duas correntes: uma para atacar em força aproveitando uma possível desorientação nossa; outra para entrar de imediato em conversações de paz no terreno. (...)

_______________


(...) Deparei-me com a fotografia das ruínas da casa do Jamil Nasser,  do Tio Jamil, como eu lhe chamava, e veio-me uma nostalgia difícil de explicar.

Quase todos os dias, ao fim da tarde, ía a casa do Jamil e no seu alpendre de entrada, bebiamos uns uísques, acompanhados de pedaços de tomate com sal, enquanto ele ouvia as notícias do Libano no seu rádio, em árabe, claro está, e comentava o que por lá se passava.

Para mim era como sair um pouco da tropa e entrar numa vida social, o que dava um certo equilíbrio emocional.

Um dia, quando me preparava para ir ter com o Jamil, apareceu o seu criado Suri, oriundo da Gâmbia, salvo o erro, para me dizer que o Jamil pedia para eu não ir ter com ele naquele dia.
 Fiquei admirado, mas bebi o que tinha a beber no quartel. Mal anoiteceu, houve um tremendo ataque ao Xitole que, graças a Deus, não provocou quaisquer vítimas ou sequer ferimentos, mas destruiu bastante alguns edifícios.

Percebi o recado do Jamil, mas nunca falámos nisso. Tenho algumas histórias com ele e até fotografias, se não me engano, não tenho é muito tempo, mas logo verei o que posso arranjar.

A memória falha de vez em quando, mas penso que ainda me encontrei com o Jamil em Lisboa depois de ter vindo da Guiné. Lembro-me que ele costumava ficar num Hotel, ao lado do Cinema Tivoli, se não me engano Hotel Condestável. (...)


Guiné 63/74 - P13373: Parabéns a você (759): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 DE JULHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13358: Parabéns a você (758): António Nobre, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2464 (Guiné, 1969/70)

domingo, 19 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11595: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (50): Respostas (nºs 108/109/110): Rogério Freire (CART 1525, Bissorã, 1966/67); José Zeferino (2.ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74), Filomena Sampaio (viúva do Manuel Castro Sampaio, CCS/BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73)

1. Resposta nº 108 > Rogério Freire [ex-Alf Mil da CART 1525, Bissorã, 1966/67; fundador e editor principal do sítio sobre a CART 1525 - Os Falcões]

Caros Camarigos: Seguem as minhas respostas, algumas sem jeito, juntamente com a minha prova de vida!!!
Um abraço do Rogério Freire
(CART 1525 - Os Falcões - www.cart1525.com)



(1) Quando é que descobriste o blogue ? 

Há muito muito tempo, era o blogue uma criança que brincava no bailoço e ao pião ... 2005?2006?

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 

Nesta altura não faço a mínima ideia ... não me lembro mesmo ... talvez através de pesquisa no Google sobre assuntos relacionados coma Guiné.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

 Sou Tabanqueiro,  sim, senhor, creio que desde o início ... lá para os idos 2005?2006? [Desde 13 de outubro de 2005]

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 

De tempos a tempos ... muitas vezes as visitas são relacionadas com a recepção de mensagens via email.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Sim,  já enviei no passado, ultimamente não tenho enviado.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ? 

Embora a Tabanca seja um dos meus amigos no Facebook nunca visitei a página do Facebook da Tabanca Grande. O Facebook já está para lá da minha capacidade participativa. Os meus amigos no Facebook, além da Tabanca Grande, estão limitados aos meus filhos e netos e a mais um ou dois amigos mais próximos.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ? 

Actualmente e como disse só esporadicamente vou ao Blogue. Nunca ao Facebook.

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook? 

No Blogue as notícias em geral, alguns textos dos camarigos e fotos da Guiné. Não visito o Facebook.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ? 

No Blogue, por vezes a dificuldade, em encontrar o que procuro. Não visito o Facebook.


(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Não tenho sentido dificuldades em aceder ao Blogue.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ? 

O Blogue é uma pedra no sapato para azucrinar a consciência nacional ao registar em primeira mão a sofrida epopeia de milhares de rapazes e raparigas que serviram Portugal quando a isso foram chamados, em muitos casos com o sacrifício da própria vida.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ? 

Não.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ? 

Não.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ? 

Sem duvida, especialmente se os camarigos que tratam dele continuarem a dar-lhe o tratamento anímico indispensável para que não lhe falte o fôlego. Obrigado pelo excelente trabalho e serviço ao longo dos já 9 anos. Bem hajam!

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 

Critica a fazer não tenho nenhuma. Sugestão praticável creio que também não tenho. Só mesmo lembrar a minha dificuldade (enfatizo aqui "a minha dificuldade") em aceder à informação. A informação é tanta que por vezes, entre links e mais links, é dificil encontrar o que se procura. Pergunta de ignorante em blogues ... haverá maneira de reorganizar a informação? por datas, por locais? por Batalhão/Companhia?


2. Resposta nº 109 > José Zeferino [ex-alf mil At Inf, 
2.ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74]

Amigo Luís Graça: Acabei de ter uma intervenção cirúrgica e, depois de largo tempo sem disposição para blogues e internet, eis-me regressado a estas “lides”.
E para recomeçar logo tinha este questionário do nosso blogue.
Aqui vão, assim, as minhas respostas que, espero, sejam de alguma forma úteis.

Um abraço para ti . 

Conto rever o pessoal em Monte Real este ano. 

Com os melhores cumprimentos. 
José António dos Santos Zeferino

(1) Quando é que descobriste o blogue ?
  Em 2008.

(2) Como ou através de qem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
Pesquisa na web.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? 
Sim,  desde 2008. [20 de fevereiro de 2008]. 

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...).
Agora de tempos a tempos. Antes, diariamente.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?
Sim. Mas no último ano não. 

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?
Não.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?
Só blogue.

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ? 
Relatos de operações e vivências. Do facebook ...nada.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ? 
Aniversários e coisas do género... no blogue. No facebook ... passo ao lado.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
Não.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook? 
Blogue: recordações e esclarecimentos de situações vividas.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?
.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?
Sim.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?
Sim.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.
Tudo bem, o que vier por bem!



3. Resposta nº 110 >  Filomena Sampaio, viúva do nosso camarada Manuel Castro Sampaio, ex-1.º cabo trms que pertenceu à CCS/BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73; só temos foto dele, não dela, que o representa, e muito bem, na nossa Tabanca Grande; o Manuel Castro  faleceu em 6/2/2006]

Boa tarde, Dr. Luís Graça: 
Embora tardiamente, decidi responder ao Questionário. Se não se enquadrar no pretendido, agradeço proceda ao seu arquivo ao abrigo do artigo cesto.
Abraços. 
 Filomena.

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

Descobri o Blogue em 2008.

(2) Como ou através de quem (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) ?

Através dum camarada do meu Marido.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

Sou membro desde Maio de 2009. 

(4) Com que regularidade visitas o blogue (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) ?

Visito o Blogue várias vezes por semana.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Não tenho mandado nada para o Blogue.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

Sim. Também conheço a vossa página no Facebook.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Sim, vou mais vezes ao Facebook.

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

O que mais gosto do Blogue é de ler histórias (acontecimentos verdadeiros) bem contados quer seja na primeira ou terceira pessoa.

Do Facebook, a rapidez com que circula.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

Estas duas questões, ficam para os mais entendidos. São perguntas simples com respostas muito difíceis.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Não tenho dificuldade, mas reconheço que é bastante lento.


(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook?

O Blogue, para mim,  representou muito conhecimento e ainda hoje representa.

O Facebook, é “filho” do Blogue, logo, tem significados idênticos.


(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Não. Nunca participei. Não tive oportunidade, mas gostaria.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Não. Não posso.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Claro que tem e cada vez mais. Sei que uns vão “desaparecendo, pela lei natural da vida”, mas muitos têm aparecido e com tempo e disposição para dedicarem um tempinho para darem continuidade às histórias das muitas que ainda falta contar.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Gostava muito que este Blogue continuasse por muitos e longos anos. Quando me reformar, terei mais tempo para o visitar ler e reler muito daquilo que já se escreveu. Votos de uma longa vida.

_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 16 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11577: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (49): Respostas (nºs 105/106/107): João Ruivo Fernandes (CART 3494, Xime, dez 1972 / jan 1973; e depois, Nova Lamego, 1973/74), Juvenal Candeias (CCAÇ 3520, Cacine, Cameconde, Guileje, 1971/74); e José Figueiral (CCÇ 6, Bedanda, 1970/72)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8525: Parabéns a você (285): José Zeferino, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

DIA 08 DE JULHO DE 2011

JOSÉ ZEFERINO

NESTE DIA DE ANIVERSÁRIO DO NOSSO CAMARADA JOSÉ ZEFERINO, A TERTÚLIA E OS EDITORES VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR-LHE AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE, JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.
____________

Notas de CV:

José Zeferino foi Alf Mil At Inf na 2.ª CCAÇ do BCAÇ 4616 que esteve no Xitole nos anos de 1973 e 1974

Vd. último poste da série de 4 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8506: Parabéns a você (284): Agradecimento à tertúlia (Manuel Maia)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4545: Alguns apontamentos sobre a acção da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74) (1) (José Zeferino)



1. Mensagem de José Zeferino, ex-Alf Mil At Inf, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74, com data de 11 de Junho de 2009:


Luís,
Finalmente consegui acabar o texto que tinha prometido.
Foi quase de memória - menos as datas indicadas.
Por isso poderá ser alvo de outras versões.


Envio-te para como é habitual dares-lhe o tratamento que entenderes.


Até dia 20, em Monte Real.


Com os melhores cumprimentos
José António dos Santos Zeferino




Alguns apontamentos sobre a acção da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 - 73-74 na Guiné


(i) BISSAU – de 20 de Dezembro 1973 a 4 de Janeiro 1974 - Chegada. A maior parte, como eu, a 2 Janeiro por avião.


(ii) CUMERÉ - 6 de Janeiro de 1974 – Início do IAO


Foto 1 > Cumeré 1974




(iii) MANSOA - 18 - 19 de Janeiro de 1974. Primeira acção do Batalhão. Segurança\emboscada nocturna itinerário Bissau – Farim.


(iv) CUMERÉ - 25 de Janeiro de 1974 - Primeira baixa no Batalhão: o Furriel Humberto, madeirense, da 3.ª Companhia que iria para Farim, suicida-se com a sua G 3. Por motivos sentimentais.


(v) XITOLE - 11 de Fevereiro 1974 - Chegada da 2.ª CCAÇ .


Foto 2 > Aspecto do Quartel do Xitole




(vi) A partir desta data deixa de haver dias de semana. Passam a ser contados por blocos de três dias: dois de patrulhamento e um de descanso. Um grupo de combate fixa-se na defesa da Ponte dos Fulas com rotação mensal.


Foto 3 > Ponte dos Fulas




(vii) XITOLE – 19 de Fevereiro de 1974 - Primeiro combate, na mata. Sem baixas. Indícios de baixas no IN.


(viii) MANSAMBO – 3 e 4 de Março 1974 - Grande operação no Fiofiol. Sem contacto IN.


(ix) XITOLE – 9 de Abril de 1974 - Segundo combate na mata. Baixas não confirmadas no IN. O alferes Araújo do 2.º GComb é evacuado para a psiquiatria do HMB. O meu GComb, o 3.º, estava na ponte nesta altura. Foi de onde tirei esta foto.


Foto 4 > Fogo do morteiro 10,7 do Xitole, batendo a retirada IN.




(x) XITOLE – 13 de Abril de 1974 - Visita do general Bettencourt Rodrigues. Transportado por héli Allouette IIIG


(xi) XITOLE – 22 de Abril de 1974 - Apresenta-se um guerrilheiro do PAIGC. Má altura, para ele, para desertar das suas fileiras.


(xii) XITOLE – 25 de Abril 1974 - madrugada, cerca das 6 horas:


- Zefruíno, alferes Zefruíno!!!


Era o Jamil, comerciante libanês com grande influência política, social e económica, tanto na Guiné como na restante família, árabe, dispersa por três continentes.


Estávamos a iniciar mais um patrulhamento, a dois GComb, talvez à zona do Duá.


Na varanda da sua casa, tipo colonial, claro, estendiam-se fios de antenas que acabavam num rádio antigo, de válvulas, por onde estava a ouvir a BBC em árabe.


Diz-me:


- Zefruíno, o (não me lembro, ou não quero, das palavras exactas) do Spínola está a fazer uma revolta.


O Jamil tinha tido um contencioso com o general Spínola: tinha querido transferir as suas casas de comércio na zona, para Bissau, no que foi impedido pelo general. Era uma base de apoio para as nossas tropas e para a população.


Foi assim que tive conhecimento do que se passava em Lisboa.


Regressámos de imediato ao quartel. Ficámos na expectativa nos dias seguintes. Patrulhamentos, só o mínimo indispensável-até Endorna. Montagem de segurança nocturna: poucas. Estávamos literalmente presos pela avidez dos comunicados.


Acreditámos que o fim da guerra era desejado pelas duas partes. Pelo menos para a população era-o. E muito.


Entretanto chegou ao nosso conhecimento, não me lembro como, que no PAIGC havia duas correntes: uma para atacar em força aproveitando uma possível desorientação nossa. Outra para entrar de imediato em conversações de paz no terreno.


(xiii) XITOLE – 15 de Maio de 1974 – Violento combate – emboscada. Duas baixas do nosso lado: o Alferes Aguiar e o Soldado de Transmissões Domingos. Cerca de uma dezena de feridos. Sinais de baixas IN.


(xiv) XITOLE – 30 de Maio de 1974 - São detectadas e levantadas várias minas reforçadas com granadas de RPG.


(xv) XITOLE – 5 de Junho de 1974 - Avistam-se grandes queimadas na margem esquerda do Corubal. Prenúncio de preparação do terreno para ataque de canhão?


Sob orientação de Bambadinca, via rádio, procedeu-se a um batimento de zona por morteiros 10,7 e 81.


Ao entardecer o pessoal de Transmissões capta mensagens em francês, creio, através de pequeno um rádio Onkyo que, como sabemos, não tem grande alcance. Sinal que havia movimentos estranhos perto.


As sentinelas são reforçadas. Já de noite uma rajada de G3 na porta de armas leva-nos às valas. Tinha sido avistado um elemento IN a tentar infiltração junto ao arame que nos separava da tabanca. nUma pequena força nossa sai, entra na população e regressa pouco depois, sem resultados. Passámos o resto da noite na expectativa.


(xvi) XITOLE - 6 de Junho de 1974 - Pelas 6 horas, nova rajada. Desta vez de uma sentinela junto ao espaldão do morteiro 81, na zona dos quartos dos oficiais e do abrigo da Breda.
Novamente nas valas avistámos, a umas dezenas de metros, uma coluna IN que se aproximava, vinda da tabanca, pela orla da pista de aviação. Sob o nosso fogo fugiram para o mato do outro lado da pista, deixando um deles ferido. Veio a falecer pouco depois na nossa enfermaria.


Foi este, realmente, o ultimo acto de guerra na zona e ainda hoje não o entendo totalmente.


(xvii) XITOLE – 15 de Junho de 1974 - Na picada, para lá da Ponte dos Fulas, suspensa de uma árvore, é encontrada uma carta com um maço de tabaco Nô Pintcha, e um isqueiro. Convidava o capitão a fazer a paz. O que foi feito no mesmo dia, perto do pontão do Jagarajá.


(xviii) XITOLE – de 16 de Junho a Setembro de 1974 - Começaram então as visitas de comandantes e comissários políticos do PAIGC para combinar a cerimónia da entrega do quartel, com o arrear da nossa bandeira e o hastear da deles. Vinham das matas da margem direita do Corubal – Mina, FioFioli, etc.


Foto 5 > Primeiro encontro no Xitole: de costas um comandante do PAIGC – não me lembro do nome, o nosso médico - Dr. Morgado, eu, o capitão Luís Viegas, o comissário politico Antero Alfama e o 1.º Sargento Pára-quedista Vaz


Houve um jogo de futebol entre nós e os guerrilheiros. Gostavam imenso de falar com o nosso pessoal chegando a trocar impressões sobre o material que tínhamos usado na guerra.

Creio que numa dessas conversas foi dito que quem preparou a tal emboscada de 15 de Maio teria sido castigado. Não aprofundámos a questão, pois se até ao 25 de Abril tínhamos tido alguns encontros, na mata, sem baixas do nosso lado o mesmo não se passava com eles.

Quase todos os dias apareciam guerrilheiros procurando refeições na nossa cantina geral. Aúnica exigência nossa: tinham que deixar a arma à entrada do quartel, no posto de sentinela.


Fazendo-se transportar por camionetas civis paravam sempre na casa do Jamil para o cumprimentar.


Foto 6 > Chegada ao Xitole de forças do PAIGC.


Estava com o Jamil na sua varanda numa dessas ocasiões quando me diz, referindo-se ao comandante de canhões que já se dirigia para o quartel depois de o ter saudado:

- Este… - também não me lembro do termo – foi meu empregado numa das lojas que tinha no Corubal!

Um padre foi até ao Xitole fazer a recolha dos ornamentos de prata e ouro e relógios deixados pelos camaradas das companhias anteriores na capela.

Numa das colunas, e em viatura civil, chegaram também duas prostitutas. Alguns aproveitaram.

Igualmente chegou um individuo com farda a estrear. Não falou com ninguém. Limitou-se a esperar pelo regresso da coluna. Informei-me sobre ele, não me lembro com quem, que me disse tratar-se de um desertor nosso, antigo, e que para limpar a caderneta tinha regressado à Guiné. Na altura um comandante do PAIGC, que estava presente e também interessado em saber quem era, disse, rindo:
- Manga de cu pequenino.

O Saltinho já tinha sido entregue.

Bastou um dia para ficarem sem gerador. Os novos ocupantes pedem ajuda ao Xitole para reparar o aparelho. Nesse dia à noite ficámos preocupados por a equipa que foi não ter chegado. Foram encontrados perto de Cambéssé com o Unimog espetado dentro do mato com vários guerrilheiros a tentar repô-lo na picada. O comandante deles, de nome Claude, ficou irritadíssimo quando nos viu. Já estava todo alterado. E foi a única expressão de ódio que registei em todos os contactos com elementos do PAIGC. Mas a nossa equipa foi muito bem tratada por eles.


Entretanto chegam-nos notícias de problemas em Bambadinca: Com as nossas milícias: queriam alimentos e com a CCAÇ 12 que não queria entregar as armas.


Depois… o tempo passou-se… lentamente. E entregámos o Xitole.


Foto 7 > Formados para a cerimónias : lado a lado


Foto 8 > Creio que , no lado esquerdo, se trata do comandante João Gomes.


Foto 9 > Inicio da saída do Xitole


(xix) BAMBADINCA – 2 de Setembro de1974 - Era o depósito do Leste. Todo o material vinha dar aqui para ser transportado para Bissau. Material e pessoas.


Foto 10 > Material no Xime


Foto 11 > Furriéis da 2.ª CCAÇ no Xime


Conhecemos alguns jornalistas cubanos que se sentavam à nossa mesa de refeições. Brindavam-nos, por vezes, com cantares do seu país.


Trabalho pesado para os soldados que faziam a estiva no Xime carregando as LDG.


Foto 12 > Mais material no Xime - este foi carregado manualmente


Ultima baixa na Companhia. Desta vez por doença: o soldado Vivas da Costa do meu Gr Comb, morre no HMB, vítima de paludismo.


(xx) BAMBADINCA – 7 de Setembro de 1974 - Já tínhamos entregue, também, este quartel quando, um dia resolvi ir até ao cais.


Em frente ao depósito de géneros trava-se uma discussão entre o comandante, guinéu, João Gomes e o comissário político, cabo-verdiano, Antero Alfama. Já os conhecia desde o Xitol e fiquei admirado.


Um queria distribuir os produtos alimentares de imediato pela população - claro o João Gomes. O outro queria controlar essa distribuição. De repente e acabando com a discussão o João Gomes vira-se para a pequena força que o acompanhava, uns dez soldados, e diz:
- Quem está comigo fica atrás de mim, quem não está vai para o lado dele…


No dia seguinte regressava a Bissau e depois a Lisboa. Esta já não era, de certeza, a minha guerra.


Foto 13 > BISSAU – 12 de Setembro de 1974 - Embarque no Uíge, para Lisboa.


José Zeferino
Aos 21 de Maio de 2009
__________


Nota de CV:


(*) Vd. poste de 17 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 – P4367: Ainda a última emboscada do PAIGC em 15 de Maio de 1974, no pontão do Rio Jagarajá, subsector do Xitole (José Zeferino)