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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25128: Capas da Vida Mundial Ilustrada (1941-1946) - Parte II: embarque de tropas expedicionárias para os Açores, em maio de 1941

 


Legenda (não há indicação do autor da foto):  "O sr. capitão Santos Costa, Subsecretário de Estado da Guerra, passa revista a mais um contingente de tropas para reforçar a guarniçáo militar dos Açores.  Desta vez foi um contingente de engenharia que embarcou para aquele arquipélago, no 'Carvalho Araújo' "... (O glorioso paquete "Carvalho Araújo" que navegou durante 4 décadas entre as ilhas e o continente e transportaria ainda tropas para a Guiné, no nosso tempo, antes de chegar oa fim dos seus dias...)

Capa da "Vida mundial ilustrada : semanário gráfico de actualidades": ano I, nº 2, 29 de maio  de 1941. Preço: 1 escudo. (*)

(A imagem foi reditada, com a devida vénia... LG; cortesia de Hemeroteca Digital de Lisboa / Câmara Municioal de Lisboa





Legenda: "Soldados Portugueses cotinuam a seguir para várias pates do Império onde a sua presença se torna necessária para afirmação da nossa soberania.  Damos, em cima, dois aspetos do último embarque de tropas para os Açores".
  

1. É desconhecido,  da maior parte dos nossos leitores, o esforço que Portugal teve que fazer na II Guerra Mundial para se defender e defender os seus territórios ultramarinos, com destaque para os arquipélagos atlânticos de maior interesse estratégico para os beligerantes: as potências do Eixo (Alemanha, Itália,  etc.) e os Aliados (Inglaterra, EUA, etc.).

Sobre os planos de defesa de Cabo Verde, já aqui temos falado (**)... Cerca de seis mil homens foram enviados para Cabo Verde, com destaque para as ilhas do Sal e de São Vicente. Para os Açores, form quase cinco vezes mais: 28 mil homens.

Era então Subsecretário de Estado da Guerra, braço direito de Salazar, considerado um "germanófilo",  o capitão Santos Costa (1899 - 1982)  (***).

Eis alguns resumos e excertos da dissertação de mestrado de Tiago Henrique Magalhães da Silva (2010), abaixo citado:

(,...) "Com o início da guerra, e até 1940, dão-se algumas alterações militares" (...) O  exército ordena uma mobilização parcial, passando de c. de 32,6 mil homens, em 1939, para 48,9 mil. Não há ainda preocupaçõea com a defesa das ilhas (e em especial dos Açores).

(...) "O Exército reforça também significativamente as ilhas a partir de Abril de 1941. Será a maior força expedicionária portuguesa, a dos Açores, contabilizando 28 000 homens, o que corresponde a duas divisões. Apesar da grandeza do dispositivo, as carências de armamento não podem ser mais claras, apenas o número das armas ligeiras está de acordo com as necessidades do exército." (...)

Há um reforço de três batalhões de infantaria expedicionários: 
  • o BI 8, para o Faial:
  • o BI 9, para S. Miguel:
  • e o BI 10, para Angra.

Em Julho de 1941, chega aos Açores a terceira vaga dos reforços, incluindo mais batalhões de infantaria: o BI 12 e o BI 14, ambos para S. Miguel. 

Em novembro de 1941, a quarta (e última) vaga vem completar, no essencial, o dispositivo militar  do arquipélago.

Nas próprias ilhas também se fazia, entretanto,  um importante esforço de mobilização: são criando-se vários batalhões de infantaria a partir das duas unidades-mãe: os batalhões independentes de infantaria, o BII 17 (Terceira) e o BII 18 (S. Miguel).

O número de 28 000 homens apontado por António José Telo (historidor, professor catedrático aposentado da Academia Militar) poderá, eventualmente, corresponder à totalidade de efectivos contabilizando substituições, ou talvez, englobando os efectivos da Marinha.

Segundo António José Telo  ("Os Açores e o controlo do Atlântico: 1898 – 1948. Porto: ASA, 1993, pág. 276, cit, por Silva, 2010, pág. 86):

(...) "Em 1941, o comando militar dos Açores dirige já uma guarnição distribuída por três ilhas, com uma presença simbólica nas outras. O grosso das forças está em S. Miguel, sede de três regimentos de infantaria (RI 18, 21, 22), companhias de metralhadoras, artilharia antiaérea e de campanha e as baterias de defesa de costa de Ponta Delgada. O RI 17 está na Terceira e o RI 20 no Faial, ambas as ilhas reforçadas com unidades de artilharia de campanha, antiaérea e auxiliares”. (...)

Fonte; Adapt. de Tiago Henrique Magalhães da Silva - "Operação dos Açores 1941". Dissertação de Mestrado em História Contemporânea. Porto:  Universidade do Porto, Faculdade de Letras, 2010, 117 pp. (Sob a orientação do Professor Doutor Manuel Loff). 


___________________

Notas do editor

(*) Vd.  29 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25120: Capas da Vida Mundial Ilustrada (1941-1946) - Parte I: embarque de tropas expedicionárias para Cabo Verde, em junho de 1941.... "Partiram alegres e confiantes"...

(***) Sobre o gen Fernando dos Santos Costa   (1899-1982)

Militar e político que foi figura destacada do regime salazarista. Entre 13 de Maio de 1936 e 6 de Setembro de 1944 ocupou o cargo de Subsecretário de Estado no Ministério da Guerra, de cuja pasta era titular o próprio Presidente do Conselho, Salazar, a quem sucederá à frente do Ministério da Guerra entre 6 de Agosto de 1944 e 2 de Agosto de 1950. Quando a pasta da Defesa substituiu a da Guerra, manteve-se à frente do novo Ministério até 4 de Agosto de 1958, data em que foi afastado do governo. Em 1961 foi promovido a General. (José Martins)

Vd. a publicação Correspondência do General Santos da Costa (1936-1982). Organização e prefácio: Manuel Braga da Cruz . Editora: Verbo, Lisboa, 2004,

"O General Fernando Santos Costa foi um dos mais estreitos colaboradores de Salazar e um dos mais longevos ministros dos seus governos. Ao longo dos 22 anos que esteve no Governo, onde ocupou os cargos de subsecretário de Estado da Guerra e de ministro da Guerra e da Defesa, foi a figura mais importante do regime junto do Presidente do Conselho de Ministros. Principal fautor da reestruturação das Forças Armadas e da sua subordinação ao poder político, Santos Costa participou ao lado de Salazar, de modo decisivo, na formulação da política de guerra, desde o deflagrar da Guerra Civil de Espanha até ao início da Guerra Fria, depois do termo da II Guerra Mundial (****), assumindo desse modo relevante papel não só nacional como internacional. 

"A documentação que se reúne nesta obra, com prefácio de Manuel Braga da Cruz, contribuirá seguramente para uma maior compreensão da personalidade de Santos Costa e de suas ideias e orientações políticas".

(****) Portugal e a II Guerra Mundial - Cronologia breve (LG):

1939

17 de Março - Assinado por Salazar e Franco o Pacto Ibérico, Tratado de Amizade e Não Agressão

1 de Setembro - Invasão alemã da Polónia. Início da II Guerra Mundial. Portugal, no dia seguinte, declara a sua posição de neutralidade no conflito europeu.

1940

Começam a afluir a Portugal dezenas e dezenas de milhares de refugiados, na sua maioria judeus, e nomeadamente em trânsito para os EUA.

6/7 de Junho - A Alemanha invade a França que irá capitular. Reafirmação da "estrita neutralidade" de Portugal. Conhecimento dos planos (secretos) da "Operação Félix" (invasão de Espanha e, eventualmente, Portugal, para a conquista e ocupação de Gibraltar, vital para o controlo do Mediterrâneo). Os ingleses fazem todos os esforços para manter a neutralidade da Península Ibérica.

Dezembro - Plano de retirada do governo português para os Açores na hipótese (temida pelos ingleses e levada a sério por Salazar) de invasão do país pela Alemanha e pela Espanha. O arquipélago dos Açores chegará a ter quase 3 dezenas de milhares de homens em armas, com equipamento inglês.

1941

22 de Junho – A URSS é invadida pela Alemanha. Aumenta a germanofilia em Portugal,  nomeadamente. Estreitam-se os laços económicos com a Alemanha.

Dezembro - Declaração de guerra dos Estados Unidos contra as pptências do Eixo, após o ataque japonês a Pearl Harbour. Reforça-se em Portugal o receio de ocupação, pelos Aliados, das ilhas atlânticas. Aumenta a importância estratégica dos Açores. Em 1941 Portugal perde 4 navios, três dos quais da marinha mercante, incluindo o Cassequel, de 122 m, da Companhia Colonial de Navegação. No final do conflito, terã perdido 18 mil t, o equivalente a 7% do total da arequeação bruta

1942

Março - Racionamento de bens essenciais, na sequência de Bloqueio económico imposto pelos Aliados. Portugal é obrigado a aceitar, no verão desse ano, um acordo comercial favorável aos interesses do seu velho aliado que lhe garante a independência da metrópole e das ilhas adjacentes bem como a soberania das colónias.

Novembro/Dezembro - A sorte das armas começa a virar-se para os Aliados.

1943

Janeiro - Capitulação dos alemães em Estalinegrado.

Maio – Queda da Tunísia a favor dos aliados. Ameaça sobre os Açores, vital para o abastecimento de aviões provenientes da América. Negociação com os ingleses e depois com os americanos.

Agosto - Cedência das bases das Lajes, nos Açores. O Governo Britânico compromete-se a dar apoio e auxílio militar a Portugal, em caso de ataque. Modernização das nossas Forças Armadas.

Junho - Portugal cancela a exportação do volfrâmio, face ao braço de ferro mantido com a Inglaterra. O principal cliente deste minério, essencial para a indústria de armamento, tinha sido a Alemanha.

1944

Maio - II Congresso da União Nacional. Delineada a estratégia de sobrevivência do regime de Salazar.

6 de Junho – O tão esperado Dia D (Desembarque nas praias da Normandia pelas forças aliadas).
Novembro - Acordo (secreto) de concessão de facilidades militares nos Açores, assinado por Portugal e os Estados Unidos.

1945

30 de Abril – Morte de Hitler em Berlim. Três dias de luto oficial decretados pelo governo português.

Maio – Capitulação das tropas alemãs.

6 e 9 de Agosto - Lançamento de bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasáqui, que irão apressar a rendição japonesa (a 2 de Setembro)

27 de Setembro – O território de Timor volta à administração portuguesa, depois da ocupação japonesa (mas também australiana e holandesa).

_______________

Nota do editor:

terça-feira, 23 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24335: Acção Psico-Social: algumas diretivas do Com-Chefe (1): Directiva 48/68 (Operações Psicológicas Alfa) e Directiva 60/68 (Campanha Psicológica de Recuperação)

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967/69) >  Cartazes da propaganda das NT, da coleção do  Alfredo Reis, ex-alf mil, CART 1690 (Geba, 1967/69). É veterinário, reformado, vivendo em Santarém. (*)

Fotos: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Informação selecionada e coligida pelo nosso colaborador permanente José  Martins, para a área da História Militar e Arquivos. É autor, entre outras, da série "Consultório Militar". É um dos históricos do nosso blogue. Tem mais de 460 referências. Nasceu em Leiria, em 5/9/1946. Vive em Odivelas. Trabalhou como contabilista. Está reformado. Serviu como Fur Mil Trms Inf, CCAÇ 5, Gatos Pretos (Canjadude, Junho de 1968/Junho de 1970).

Directiva 48/68 > Operações psicológicas Alfa  (**)


Generalidades

1.
 Os temas que se apresentam deverão ser adequadamente desenvolvidos e «personalizados» com elementos respeitantes a cada área, recorrendo, especialmente, a factos actuais. No Apêndice I a este anexo apresenta-se um exemplo elucidativo.

2. O CTIG deverá remeter ao GABMIL todos os elementos que possam auxiliar o desenvolvimento dos temas constantes deste anexo, a fim de serem utilizados na informação e propaganda radiofónica a conduzir.

3. Os temas difundidos na Directiva Propaganda n.° 1, do COMCHEFEGUINÉ, de 30SET68, deverão continuar a utilizar-se nas Op. Psic. Alfa. II. Temas a utilizar.

1. Visando preservar as populações sob nosso controlo:

a) A tropa portuguesa luta por uma Guiné melhor, onde todos tenham paz, progresso e bem-estar.

b) A tropa branca veio da Metrópole à Guiné ajudar os seus irmãos pretos a defender o seu chão contra os terroristas. Os pretos estão a combater juntamente com os dos brancos, contra os terroristas.

c) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão destruir os terroristas.

d) Os terroristas raptam as populações e obrigam-nas a trabalhar eles.

e) No chão da Guiné, portugueses pretos e brancos vão construir uma vida melhor.

f) Os terroristas trouxeram a guerra e querem a desgraça dos povos da Guiné.

2. Visando dissociar o binário Pop/In:

a)
 Os terroristas protegem-se com a população. Não se importam que a população sofra com os tiros e as bombas lançadas por causa deles.

b) Os terroristas enganam o povo com promessas que não são capazes de cumprir (concretizar no desenvolvimento do tema).

c) Os chefes terroristas estão vendidos aos estrangeiros que lhes fornecem armas. Querem vender a Guiné.

d) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão acabar com os bandidos que pretendem roubar a paz e o bem-estar aos povos da Guiné.

e) Os chefes terroristas vivem bem, no estrangeiro, gastando o dinheiro do povo, enquanto que o povo sofre, na mata, com doenças e fome.

f) Os terroristas levam o arroz e o dinheiro; em paga, trazem a guerra e o sofrimento para o povo.

g) A tropa vai acabar com os bandidos para ganhar a paz e o bem-estar para o povo da Guiné.

h) Quem não quiser sofrer com as bombas dos aviões, com os tiros da artilharia e com a guerra, deve separar-se dos bandidos.

i) O pessoal que vive na mata tem muita doença; quando se apresenta, é tratado pelas autoridades, passando a viver melhor.

j) Quem quiser continuar a sofrer, fica com os terroristas na mata; quem preferir viver em paz, apresenta-se às autoridades.

3. Visando captar as populações sob duplo controlo:

a)
 Os terroristas estão a perder a guerra e, para esconder a sua derrota, prometem coisas que não podem dar. Nunca cumpriram o que prometeram.

b) O terrorista explora o povo. Rouba e nunca paga.

c) Os terroristas querem a confusão, para poderem roubar à vontade a terra, os bens e as mulheres de cada um.

d) Os terroristas só querem a guerra e a desgraça do povo da Guiné.

e) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão acabar com os bandidos que pretendem roubar a paz e o bem-estar aos povos da Guiné.

f) Aqueles que vivem na mata, com os terroristas, têm má casa, más culturas e muita doença.

g) Os terroristas levam o arroz, as mulheres, os filhos e o dinheiro; em paga, trazem a guerra e o sofrimento para o povo.

Bissau, 29 de Outubro de 1968,
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro


Directiva 60/68  > Campanha psicológica de recuperação (**)

1. Como vimos afirmando, o aspecto de fundo de um «plano de contra-subversão» não se projecta no campo imediato da força das armas, mas sim no campo da promoção social e cultural das populações. 

Por outras palavras, a guerra da Guiné não se ganha pela força das armas, mas sim pela força da razão. E a razão conquista-se na medida em que a Província atinja um nível de bem-estar social que satisfaça os anseios imediatos das populações, anseios que lhes foram instigados pelo inimigo e que estão na base da sua propaganda, constituindo a sua principal força.

2. O nosso «plano de contra-subversão» visa a rápida consecução desse nível de bem-estar, que se traduz no slogan: UMA GUINÉ MELHOR. Se atingirmos esse nível de bem-estar em tempo útil, furtaremos ao IN a força da razão, e com esta as populações - objectivo final de «um plano de contra-subversão».

3. Dentro desta linha de pensamento, que está na base da orientação do Governo da Província - e que constitui a nossa principal «ideia-força» - é natural que o inimigo combatente e as populações da Guiné, presentemente desorientadas, se desequilibrem para o lado da razão, isto é, para o lado da nossa causa.

4. Neste pressuposto, torna-se absolutamente necessário rever o nosso procedimento à luz de nova conduta, agindo em conformidade com os princípios morais e civilizadores que estão na essência da nação portuguesa e informam a sua estrutura jurídica. 

Há que esquecer aspectos tristes do passado - para os quais, temos de reconhecer, também contribuímos - e restabelecer um clima de recíproca confiança entre portugueses metropolitanos e portugueses guineenses (autóctones), condição absolutamente necessária à recuperação da Província para a vida normal e pacífica. 

Há que saber perdoar, sendo generoso para com aqueles que, respondendo ao nosso grito de UMA GUINÉ MELHOR, desejem trocar o caminho da subversão pelo da paz e da ordem. 

Neste sentido, impõe-se lançar uma campanha de mentalização das Forças Armadas, autoridades administrativas e policiais, campanha que vai ser iniciada na presente época do Natal com a libertação de vários elementos inimigos presos na ilha das Galinhas, depois de devidamente integrados na actual linha de rumo. 

Torna-se necessário que as Forças Armadas, autoridades administrativas e policiais, e em especial a Divisão de Acção Psicológica do Comando-Chefe e a PIDE, orientem, desde já, o seu esforço de acção psicológica na linha de acção expressa na presente directiva.

Bissau, 17 de Dezembro de 1968,
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro

[Revisão / fixação de texto / negritos, para efeotos de edição deste poste: JM / LG ]
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15619: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (5): Os nossos cartazes de propaganda

(**) Vd. poste de 1  de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13555: Directivas emanadas pelo COM-CHEFE, Brigadeiro António de Spínola em 1968 (3) (José Martins)

terça-feira, 9 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24302: Consultório Militar do José Martins (75): D. Pedro, Duque de Coimbra (José Martins)

Mais um trabalho do nosso camarada de armas José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), hoje sobre D. Pedro, Duque de Coimbra.


D. Pedro, Duque de Coimbra

Na consulta, em suporte digital, do livro Memória das Medalhas e Condecorações Portuguesas a das Estrangeiras com relação a Portugal, de Manuel Bernardo Lopes Fernandes, sócio efectivo da Academia Real das Ciências de Lisboa, e composto na tipografia da mesma Academia, em 1861, consta logo no início, na página 4, uma referência ao achamento, junto da ribeira de Alfarrobeira, entre a vila de Alverca e Alhandra, de uma medalha em ouro. Corria o ano de 1819.
Sobre a forma de como teve conhecimento do facto, o autor do livro acima, refere que «Temos visto em poder de vários curiosos a notícia manuscrita e circunstanciada de uma medalha do Senhor Infante D. Pedro Duque de Coimbra, e Regente de Portugal na menoridade de seu sobrinho El-rei o Senhor D. Afonso V …».

É pois, sobre esta figura de D. Pedro, que vamos desenvolver o presente texto, mas onde, seu meio-irmão D. Afonso de Bragança, também tem lugar. Curiosamente há factos que, directa ou indirectamente, liga estes dois irmãos, mas não só e por iniciativas próprias, ao território de Loures e Odivelas.

Vejamos a ascendência e cronologia, destas duas figuras: Pedro e Afonso.
João (1357 – 1433), filho bastardo de D. Pedro I e de Teresa Lourenço (dama galega) ou uma filha de Vasco Lourenço Praça (mercador de Lisboa), foi educado por um Mestre da Ordem de Cristo e, com seis anos, em 1364, foi armado cavaleiro e consagrado Mestre da Ordem de Avis, por seu pai.
Passou a ser intitulado por D. João, Mestre de Avis e, nesta qualidade e no último quartel do século XIV, teve uma ligação amorosa com Inês Pires, de que nasceram três filhos:
Afonso (10 de Agosto de 1377 – 151 de Dezembro de 1461), que segue;
• Branca (1378 – 1379, que morreu antes de completar um ano; e
• Beatriz (cerca de 1382 – 1439), que casou com Thomas FitzAlan, 12.º Conde de Arundel, nobre inglês.

D. João I, "Pela Graça de Deus, D. João, Rei de Portugal e do Algarve" casou, a 2 de Fevereiro de 1387, com D. Filipa de Lencastre, inglesa, filha de João de Gante, que veio a fortalecer a aliança Luso-Britânica. Desse casamento nasceram oito filhos:
• Branca (1388 – 1389); e
• Afonso (1390 – 1400), que morreram na infância;
• Duarte (1391 – 1438), sucessor do pai no trono português;
• Pedro (9 de Dezembro de 1392 – 20 de Maio de 1449), foi Duque de Coimbra e figura central deste texto, que segue;
• Henrique (1394 – 1460), conhecido como o Navegador;
• Isabel (1397 – 1471), que casou com Filipe III, Duque de Borgonha;
• Branca (1398 – depois 1401), segunda do nome e sem mais notícia;
• João (1400 – 1442), que foi Condestável de Portugal; e
• Fernando (1402 – 1443), conhecido como o Infante Santo.

Afonso, filho bastardo de D. João Mestre de Avis e Inês Pires, que foi levada para o Convento de Santos antes do filho nascer, só foi reconhecido por seu pai, já quando tinha cerca de 24 anos. Já no final de 1401, em Frielas no dia 1 de Novembro, casa com D. Brites ou D. Beatriz Pereira de Alvim (1380 – 1414), condessa de Barcelos e condessa de Arraiolos, filha de D. Nuno Álvares Pereira e de Leonor de Alvim. O rei também concede a Afonso o título de Conde de Neiva.
D. Afonso, não era muito presente na cena pública. Era mais fácil encontra-lo nos “bastidores” da corte.

Sobre Pedro, que viria a ser Duque de Coimbra consta, na “Crónica de D. Afonso V”, do cronista Rui de Pina (1440 – 1522)): «foi bem latinado e assaz místico em ciências e doutrinas de letras, e dado muito ao estudo, ele tirou do latim em linguagem o Regimento dos Príncipes, que frei Gil Correia de Campos, e assim tirou o livro dos ofícios de Túlio, e Vigécio de Ré Militari, e compôs o livro que se diz da Venturosa Benfeitoria com uma confissão a qualquer cristão mui proveitosa». Homem culto e letrado adquiriu o livro de Marco Polo em Veneza, durante uma longa viagem pela Europa, que ofereceu a seu irmão Henrique.
A 1 de Outubro de 1408 o seu pai, o rei D. João I, doa-lhe a vila de Penela.

O ano de 1415 foi marcante, pois estava a ser organizada a expedição a Ceuta, que marcaria a expansão portuguesa para além da Europa. D. Pedro, com 23 anos, colabora na organização, sendo-lhe atribuída a missão de recrutar gente nas terras da Estremadura, Alentejo e Algarve.
Nesse ano, e desde o início do mesmo, que grassava em Lisboa e no Porto a “peste bubónica”. Foi aconselhado que os reis de ausentassem de Lisboa, indo para Sacavém mas, os longos e frequentes jejuns, orações e vigílias da rainha enfraqueciam e debilitavam o seu corpo, pelo que foi decidido que devia recolher-se no Mosteiro de Odivelas, onde teria mais e melhor acompanhamento.

Os filhos, sempre que os afazeres da preparação da expedição a Ceuta o permitiam, dirigiam-se ao mosteiro, para se encontrarem com a mãe que, num dia que sentiu que o seu fim estava próximo, chamou os filhos um a um, para lhes fazer as suas recomendações. Sobre D. Pedro, escreve Gomes Eanes de Zurara (c.1410 – c.1474: «…E depois tomou a outra espada e chamou o Iffante Dom Pedro e disse-lhe: Meu filho, porque des o tempo da vossa mininice vos vi muito chegado aa honra e serviço das donas e donzellas, que he huna cousa especiallmente deve ser emcomendada aos cavalleiros, e porque o vosso irmãao emcomendei os povoos, emcomendo ellas a vos, as quaaes vos rrogo que sempre ajaaes em vossa emcomenda. E elle lhe respomdeo que lhe prazia muito, e que assy o faria sem nehuna duvida. E emtom sse assentou em joelhos e lhe beyjou a mãao. E ella lhe disse que lhe rrogava fosse com ella cavalleiro, dizemdo-lhe muitas outras rrezõoes, como dissera ao Iffante Duarte, e sobre todo lhe lançou sua beemçam.» (in “50 anos de Patronos – Academia Militar – 2004 – pág. 472).

Com a presença do marido e dos filhos, D. Filipa de Lencastre morre em 19 de Julho de 1415 (55 anos), no Mosteiro de Odivelas e, após as cerimónias fúnebres, foi sepultada no antecoro da igreja, até ser trasladada para o Mosteiro da Batalha.

A 25 de Julho seguinte, a frota constituída por mais de 200 embarcações – galés, naus e outras de pequeno porte – comandada pelo próprio rei, que se fez acompanhar de todos os filhos homens e de outros fidalgos, além de 7.500 cavaleiros, 500 besteiros e 21.000 soldados apeados, fazendo escala em Lagos e Tavira, chegam à vista de Ceuta a 21 de Agosto desembarcando sem resistência por parte dos mouros, sendo tomada no dia seguinte.
Tomada a cidade, foram retirados os símbolos muçulmanos da mesquita, sendo esta sagrada como igreja católica. Foi nessa antiga mesquita que os irmãos Duarte, Pedro e Henrique, assim como o meio-irmão Afonso, foram armados cavaleiros.

De regresso ao reino, recebeu em Tavira o título de Duque de Coimbra e, a 18 de Fevereiro de 1416, assim como os senhorios das localidades de Montemor-o-Velho, Aveiro, Tentúgal, Cernache, Ferreira e Condeixa e, no decurso das cortes de Estremoz, recebe a alcaidaria da mesma cidade.
Entre 1425 e 1428, o “príncipe das sete partidas”, como ficou conhecido, inicia uma viagem que o levará à Terra Santa e à Ásia. Regressa à Europa onde vai conhecer os grandes centros políticos, económicos e culturais da época. Passa pela Hungria e, ao lado do rei Sigismundo combate os Turcos e os Hussitas, recebendo o ducado de Treviso como recompensa. Visita Barcelona, Veneza, Pádua, Ferrara, Roma, onde é recebido pelo papa Martinho V, assim como a Flandres e a Inglaterra, onde é agraciado com a Ordem da Jarreteira, a 22 de Abril de 1427.
Ainda no ano de 1428, desloca-se a Castela, para organizar o seu casamento com D. Isabel, de Urgel.

Alguns historiadores defendem que estas viagens foram empreendidas principalmente por motivos diplomáticos, resultando de algumas delas uma intensificação formal das relações marítimas com Antuérpia, Bruges e Southampton. No regresso ao reino, especialmente ao seu ducado de Coimbra, dedicou-se ao estudo, impulsionando a tradução de várias obras para a língua materna. Traduz o livro da Virtuosa Benfeitoria. Homem interessado nos negócios políticos do reino, sugeriu ao rei D. Duarte um programa de administração pública para o reino de Portugal.
Casou em 1429 com D. Isabel de Urgel, filha de Jaime II, duque Urgel da casa de Aragão, com quem terá seis filhos:
• D. Pedro (1429-1466), condestável e escritor de mérito e ainda Conde de Barcelona;
• D. Isabel (1432-1455), rainha de Portugal, pelo casamento com o primo D. Afonso V;
• D. Jaime (1434-1459), bispo de Arras, Cardeal Diácono e Arcebispo de Lisboa desde 1456, até à sua morte;
• D. João (1435-1457), casou com Carlota de Lusignan, Princesa de Chipre, tornando-se então Príncipe (titular) de Antioquia, sendo regente do Reino de Chipre;
• D. Beatriz (1435-1462), casou com Adolfo de Cleves, senhor de Ravenstein (Holanda);
• D. Filipa (1437-1497), infanta de Portugal, entrou para o Convento de Odivelas, como recolhida.

Em 1436, por sugestão de D. Fernando e D. Henrique, o rei D. Duarte convoca cortes em Évora, para aprovar novos impostos, para custear a expedição que tentaria conquistar Tânger, que conseguiu, apesar da oposição dos representantes dos concelhos. Os irmãos D. Pedro, D. João e D. Afonso, que não tinham sido convocados para as cortes de Évora, reagem negativamente.

D. Duarte convoca para Agosto de 1436 cortes para Leiria, para voltar a discutir o assunto. D. Pedro justifica a sua oposição por o país não dispor de recursos humanos e financeiros para tal expedição. E acrescentou que poderíamos ter as praças-fortes no Norte de África, mas não teríamos os campos e, sem estes, havia perigo mas pouco proveito. Mas a decisão foi seguir em frente com a empresa.

No mês de Agosto de 1437, parte a expedição comandada por D. Henrique e D. Fernando, fazendo cerco a Tânger entre 13 de Setembro e 19 de Outubro de 1437, mas o desastre foi total. Para que pudessem regressar, ao país, as forças sobreviventes, ficou cativo o Infante D. Fernando, até que Portugal restituísse a Praça de Ceuta.

O rei D. Duarte convoca as Cortes de Leiria em 1438, para tomar decisão quanto à libertação de D. Fernando. Houve divisão nas opiniões, quanto à entrega de Ceuta. D. Pedro, mais uma vez se manifestou pela entrega de Ceuta para resgatar D. Fernando, mas não foram tomadas decisões, pelo que o Infante Santo acabou por morrer em Fez, para onde foi levado.

D. Duarte morre a 9 de Setembro de 1438. Dada a rivalidade entre D. Leonor, rainha viúva e a cunhada D. Isabel, mulher de D. Pedro, a rainha insinuou que este pretendia aceder ao trono de Portugal.

Aberto o testamento mandado lavrar por D. Duarte, este dispõe que sua mulher D. Leonor de Aragão, sem auxílio de qualquer outra pessoa, seja sua testamenteira, tutora e curadora dos órfãos e regente do reino.
Reunido o Conselho, este decide que a regência deveria ser partilhada pelos infantes D. Pedro, D. Henrique e D. João, porque temia que a guerra entre Aragão e Castela pusesse em causa a independência do reino. Se esta decisão abalou a rainha, ofendeu D. Afonso, Duque de Bragança, que se via mais uma vez afastado do poder, pois pretendia estar perto deste, já que foi sempre afastado pelo pai e pelo meio irmão. A rainha aceita a decisão, aguardando a confirmação pelas cortes que se realizariam em Torres Novas, ainda nesse ano.

Para acabar com as intrigas da rainha, D. Pedro providencia a aclamação de D. Afonso como rei, sendo o quinto desse nome, assim como D. Fernando, segundo filho de D. Duarte, fosse jurado príncipe e herdeiro do trono, de que foi lavrado o respectivo auto. D. Leonor aceitou que, de acordo com o desejo de seu marido, se viesse a realizar o casamento de D. Afonso V, com sua prima Isabel, filha de D. Pedro, que se viria a realizar em 1447.

Nomeado nas Cortes de Lisboa em 01 de Novembro de 1438, D. Pedro governou na menoridade de D. Afonso V durante cerca de dez anos.

Em Lisboa, surgem boatos relativos ao risco de invasão estrangeira, por parte dos apoiantes de D. Leonor. A Câmara de Lisboa, propõe a atribuição da regência apenas ao infante D. Pedro.

Lisboa agita-se contra a regência de D. Leonor, pelo que o Infante D. Pedro se desloca à cidade para assumir a regência do reino. Esta posição foi confirmada nas Cortes de Lisboa em 10 de Dezembro de 1439. Decidiu-se também que a educação do rei passava para a responsabilidade dos tios, D. Pedro e D. Henrique.

No ano de 1440, a rainha D. Leonor retirou-se para Sintra, abandonando os filhos no Tojal (Loures), não havendo indicação do local onde ficaram, aguardando que os seus partidários viessem defendê-la. Como ninguém acorreu em seu auxílio, resolveu ir para Castela, onde viria a morrer, em Toledo a 19 de Fevereiro de 1445. Ainda assim, o infante D. Pedro inicia a defesa militar do território e inicia acção diplomática, como medidas para suster uma eventual invasão castelhana.

Nas Cortes de Évora de 1442, é decidido o afastamento definitivo do poder da rainha D. Leonor, ficando o infante D. Pedro a ocupar sozinho a regência.

A 30 de Dezembro de 1442, Afonso, o filho bastardo de D. João I, foi feito Duque de Bragança pelo regente D. Pedro, numa tentativa de acalmar e pacificar o ambiente de intriga, entre os membros da corte. O primitivo património dos Bragança formou-se com os bens e as terras com que D. Nuno Álvares Pereira, na qualidade de 7.° Conde de Barcelos, dotara a filha, D. Beatriz.
Quis D. Pedro instituir uma capela dedicada à memória de sua mãe, a rainha D. Filipa de Lencastre, exactamente no mosteiro onde sua mãe morreu e esteve enterrada, até ser trasladada para o Panteão do Mosteiro da Batalha.

Instituir não obriga, necessariamente, a construir. A capela ocupou o espaço adjacente ao altar lateral esquerdo, onde se encontra o túmulo de D. Dinis, cujos restos mortais e pertences encontrados junto ao mesmo, nomeadamente a espada, estão a ser objecto de estudo. A capela, dedicada a D. Filipa de Lencastre, a que se acedia por porta existente junto do túmulo referido, tinha missa diária, a que ficariam obrigados os Priores dos Religiosos que nela assistiam, foi custeada a expensas de D. Pedro.

A “Capela de D. Filipa” ficava no módulo junto ao claustro.

Algumas medidas tomadas pelo regente D. Pedro: as “Ordenações Afonsinas”, cuja ideia inicial era do tempo de D. João I, e que D. Pedro encarregou Rui Fernandes e João Mendes, que reúnem em cinco volumes as leis do reino, dispersa por cartas, decretos, alvarás e regimentos, constituindo desta forma, o primeiro código de leis, vindo a alicerçar o poder da monarquia; protege a Universidade, dotando-a de rendas próprias; protegeu a actividade dos camponeses e mercadores; na política externa, patrocinou as rotas marítimas e comerciais empreendidas ao longo da costa africana, desviando as atenções militares do norte de África.

Com a aclamação de D. Afonso V em 15 de Janeiro de 1446, data em que completa catorze anos, este decide manter o voto de confiança no seu tio D. Pedro nas Cortes de Lisboa, continuando este a assumir a administração do reino. No entanto, a 11 de Julho de 1448, o rei ao assumir o poder destitui D. Pedro de todos os cargos. O lugar deixado “vago” é preenchido, de certa forma, com a presença mais assídua de D. Afonso, Duque de Bragança, na corte adensa-se o clima de tensão entre sobrinho e tio e, em carta de 15 de Setembro de 1448, o rei condena os actos políticos da sua regência e ordena que as doações efectuadas lhe sejam apresentadas, para confirmação. Impõe que seu tio, e ex-regente, D. Pedro a obrigação de se manter nas suas terras de Coimbra, e a não sair delas sob qualquer pretexto.
Chama à Corte o seu tio D. Afonso de Bragança que, para atalhar caminho, quer atravessar as terras do seu meio-irmão que se lhe opõe. O Duque de Bragança tem cartas do rei para atravessar o Ducado de Coimbra, mas o Duque impõe-se, uma vez que o duque de Bragança vem acompanhado de uma força armada, entre 1600 a 1700 homens.
No ano seguinte, o rei solicita a D. Pedro, Duque de Coimbra, a devolução das armas que tem nos seus domínios de Coimbra, restando a D. Pedro partir para a beligerância.

Vamos seguir o trajecto das forças de D. Pedro, que sai de Coimbra em 5 de Maio de 1449, com uma hoste constituída por cerca de um milhar de cavaleiros, cinco mil peões, artilharia e carros de transporte, que saem de Coimbra e rumam a Condeixa, Pombal e Leiria, onde se lhe jantam mais homens. Daqui segue para a Batalha onde, depois de ter forçada a entrada, no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, pelo encarregado das obras, se vai prostrar diante do túmulo de seus pais, seguindo para o Mosteiro de Alcobaça, não sem ser seguido e provocado por tropas reais.
Em 11, chega a Rio Maior onde acampa três dias. É aconselhado, de novo, a reconsiderar, mas prossegue o caminho em direcção a sul, chegando a 16 a Alcoentre, onde entra em escaramuças com as tropas reais. D. Afonso V, que se encontrava em Santarém, onde já tinham chegado a hoste real, com cerca de 30.000 homens em armas, marcha em direcção à hoste rebelde, tentando barrar-lhe o acesso a Lisboa para saber das intenções do ex-regente, ou provocar a batalha.
No dia 17 as tropas de D. Pedro estão em Castanheira do Ribatejo; em 18 estão em Alverca, onde assentam o arraial, tomando uma posição defensiva junto da ribeira de Alfarrobeira, nas imediações de Vialonga.

Os dois exércitos defrontam-se a 20 de Maio de 1449 em Alfarrobeira, D. Pedro morreu durante a refrega. Não se sabe, exactamente, quais as condições de que resultou a morte de D. Pedro, não estando excluída a hipótese de ter sido alvo de um ataque deliberado, escondendo um provável assassinato.
D. Jaime, terceiro filho de D. Pedro, tomou parte na batalha de Alfarrobeira. As forças do rei D. Afonso V aprisionam D. Jaime, mas este consegue fugir e, com os seus irmãos João e Beatriz, vão para a Flandres, onde são apoiados pela sua tia Isabel de Portugal, Duquesa da Borgonha.
São os populares que recolhem o corpo de D. Pedro do campo de batalha, três dias depois do combate. Foi sepultado, quase clandestinamente, na igreja de Alverca sem qualquer honra, sendo depois trasladado para Abrantes.

Túmulo do infante D. Pedro e de D.Isabel de Urgel
Foto: Begoña Farré Torras.

Pelos padrões da época, era uma afronta fazer baixar à terra o corpo do filho de um rei e ex-regente que, além de dispor na Capela do Fundador, do Mosteiro da Batalha, um túmulo a ele destinado, estar enterrado em campa rasa, pelo que se levantaram várias vozes para ser dada ao corpo de D. Pedro, uma sepultura condigna. D. Isabel Duquesa de Borgonha, irmã de D. Pedro e tia do rei; D. Isabel, filha de D. Pedro e rainha consorte de Portugal, além de muitos dignitários europeus, com quem D. Pedro tinha privado e que por ele nutriam grande estima, apresentaram veementes protestos junto da coroa de Portugal.
Perante tal situação, foi o corpo de D. Pedro, Duque de Coimbra, mandado trasladar para o Mosteiro da Trindade e, depois, para o Mosteiro de Santo Eloi, em Lisboa. Só em 1455, seis anos após a sua morte, foi depositado no Mosteiro da Batalha.

Após a batalha de Alfarrobeira, D. Afonso V concedeu a seu tio Afonso, o Duque de Bragança, outras importantíssimas mercês, e nove anos depois, quando partiu para África, deixou entregue ao duque o governo do reino na sua ausência.

D. Filipa, filha de D. Pedro, Duque de Coimbra e de D. Isabel de Urgel, nasceu em 11 de Fevereiro de 1437. Vivia na corte com sua família, mas a morte de seu pai, e o expurgo dos bens familiares, que se seguiu, obteve autorização do Papa Sisto IV para entrar no Convento de Odivelas em 1459, sem professar, onde viveu em casa própria vestindo sempre trajos seculares. Foi a educadora de D. Joana de Portugal (1452-1490), sua sobrinha, que consigo viveu entre 1459 e 1472, na sua casa no mosteiro. Quando D. Joana (Santa Joana Princesa, beatificada em 1693) se mudou para o convento de Aveiro, D. Filipa passou a morar nas instalações do convento. Morreu em 26 de Julho de 1497, sendo sepultada na sacristia da igreja do convento.

Voltemos à “medalha de D. Pedro”, afinal o mote deste texto, mas havia que recordar a vida de D. Pedro e, em especial, o local onde encontrou a morte.

Foi o seguinte texto, já referido no início, que me despertou a atenção, quando o autor escrevia:
«Temos visto em poder de vários curiosos a notícia manuscripta e circunstanciada de uma medalha do Senhor Infante D. Pedro Duque de Coimbra, e Regente de Portugal na menoridade de seu sobrinho ElRei o Senhor D. Affonso V, de ouro de vinte e dois quilates [¹], com o peso de 3 oitavas [²] e 30 grãos [³], achada no ano de 1819 junto à ribeira chamada de Alfarrobeira, entre a vila de Alverca e Alhandra.
Talvez fosse cunhada em 1428, para memória do seu casamento com D. Izabel filha de D. Jaime II, Conde de Urgel; mas não havendo outras provas da sua existência não podemos saber se será apócrifa, devendo-a com tudo descrever conforme a mesma notícia.»

E passo a descrever a medalha:
No anverso - UT PORTET NOMEM MEUM AD EXTERAS GENTES [Levar meu nome a nações estrangeiras] – Busto do Infante o Senhor D. Pedro, com gorra na cabeça guarnecida de folhas de azinheiro, e no pescoço um gorjal [⁴] de folhos.
No reverso - PETRUS PORT.INFANS ET IZABELA FILIA JAYMI COMIT URGELL [Infante Pedro de Portugal e Isabel filha de Jaime Conde de Urgel] – Escudo com as armas portuguesas à direita, e as de Aragão á esquerda, coroa de louros servindo de timbre, e umas balanças pendentes.

Obtivemos a equivalência para medidas de peso actuais, às que estão referidas no texto, concluindo que a medalha em ouro pesaria 12,25 gramas, sensivelmente o equivalente ao peso de uma moeda de 2 euros e outra de 0,05 euros, que somam 12,40 gramas [⁵]. Não sabemos qual a espessura e a medida da moeda.
Mas permanece o enigma: Como foi parar nos campos junto da ribeira de Alfarrobeira, e logo no local da batalha, a medalha?
Nem sequer coloco a hipótese de ter ficado no terreno, aquando da batalha travada em 1429. Teria estado “perdida” durante 387 anos. Além disso, não se ia para uma batalha, com uma moeda de ouro no bolso, quando ainda não se usava bolsos nos vestuários.
Dado o ano em que foi “achada”, ano de 1819, talvez possa ter alguma ligação com as Invasões dos Franceses e a Guerra Peninsular.

A Primeira Invasão decorreu entre o fim de 1807 e Setembro/Outubro de 1808. O exército enviado por Napoleão não trazia mantimentos. Todos os soldados deveriam ser alimentados pelo país invadido, e aos oficiais devia ser concedido alojamento e alimentação, além de vestuário adequado á sua posição.
A “soldadesca em roda-livre”, na cidade roubava o que lhes aparecia, que depois vendiam em proveito próprio; nos campos abatiam o gado, retirando apenas as peças de carne mais apetecíveis, e roubavam os cereais, que eram de mais fácil transporte.
Porém, cedo começaram a encontrar resistência, da população, pelos roubos praticados, havendo muitas vezes ataques aos grupos de soldados. É que acabados os cereais, roubaram as sementes para a safra seguinte.
Desde a saída das forças que executaram a primeira invasão, as terras abaixo das Linhas de Torres, não voltaram a ser pisadas pelo invasor, mas havia sempre a possibilidade do seu regresso, e voltarem as pilhagens.
Portanto, os bens materiais que foram salvos das pilhagens, por enterrados em locais recônditos, foram mantidos no seu “segredo” até à expulsão dos franceses, para além dos Pirinéus.

Foi o que aconteceu.

Decorria a Batalha de Toulouse, no dia 10 de Abril de 1814, quando é recebida a notícia da deposição de Napoleão Bonaparte e a sua ida para a ilha d’Elba. Era o fim da Guerra Peninsular. Finalmente as tropas portuguesas iam regressar á Pátria, iniciando as longas e penosas marchas, logo no dia seguinte. São quase quatro longos meses de marchas. Após sete anos em que os portugueses se viram envolvidos em guerras, que não desejavam, havia que retomar a paz que todos ambicionam. O Exército, instituição que recrutava a sua força nas populações, desmobilizou a maior parte dos seus recrutados, devolvendo-os á vida civil e á agricultura, tão sedenta de braços para cultivar a terra.
Pode dar-se o caso de, a moeda encontrada junto da ribeira de Alfarrobeira, ter pertencido a um desses “tesouros escondidos” e, aquando da sua recuperação, ter caído e a sua perda não ter sido detectada nesse momento e ter ficado por ali, até que o arado ou a enxada rasgassem de novo a terra para a sementeira, uma vez que foi com a ajuda da Inglaterra que houve de novo sementes para a agricultura, e a sua chegada não foi imediata assim que a Guerra Peninsular, fosse considerada finalizada.
Mas a questão mantêm-se: Como foi parar junta da ribeira de Alfarrobeira, um exemplar da moeda de D. Pedro e Isabel, que o duque mandara cunhar para memória do seu casamento, local onde o mesmo viria a encontrar a morte, mercê de mexericos palacianos?

Pode ser um mistério, ou mais um mistério, pois muitos outros devem ter havido mas, por certo, nunca será esclarecido.

Notas:
[¹] Ouro 22 quilates = 22/24 — 91,6% de ouro, também chamado de ouro 916.
[²] Oitavas = 3,5856 Gramas (no caso 10,7568 Gramas)
[³] Grãos = 49,8 mg = 0,0498 Gramas (no caso 1,494 Gramas)
[⁴] Renda ou pano de adorno do pescoço
[⁵] Agradeço a «Brilhos & Jóias, Benfica», a pesagem das moedas actualmente em uso corrente, que permitiu a comparação com o peso da moeda em causa.


José Marcelino Martins
Odivelas, 6 de Fevereiro de 2023

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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23500: Consultório Militar do José Martins (75): O Cartão do Antigo Combatente não dá direito a entrada gratuita em Museus na dependência de entidades particulares (José Martins)

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23786: Os nossos seres, saberes e lazeres (539): Pêro Alvito e Pedro Alvito, ou, Pêro Alvito é Pedro Alvito? (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), e nosso colaborador permanente, com data de 13 de Novembro de 2022:

Com um abraço, e como "prova de vida", junto um texto que, se acharem oportuno e merecedor de publicação.

Abraço e bom Domingo.
Zé Martins


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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE NOVEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23778: Os nossos seres, saberes e lazeres (538): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (76): Do Luso para o Bussaco (Mário Beja Santos)

sábado, 6 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23500: Consultório Militar do José Martins (75): O Cartão do Antigo Combatente não dá direito a entrada gratuita em Museus na dependência de entidades particulares (José Martins)

1. Mensagem enviada ao Blogue no dia 3 de Agosto de 2022 pelo nosso camarada Fernando Barata, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72):

Caro Carlos
Não sei se este meu lamento tem cabimento no nosso espaço tertuliano, mas aqui vai.
Há dias ao visitar o Museu do Tesouro Real e "garbosamente" ao apresentar o Cartão de Antigo Combatente na expectativa de obter a entrada gratuita fui informado, pela senhora que se encontrava ao balcão que o Museu era explorado por entidade privada não havendo, portanto, lugar a semelhante benesse.
Espanta-me e choca-me que um Museu que se encontra situado no Palácio da Ajuda, portanto pertencente ao Estado português, sendo o seu acervo fundamentalmente constituído por peças que pertenceram aos mais variados reis deste rincão seja privado e não Nacional.
Fica o lamento e tristeza por ver o património e a maior parte da estrutura produtiva deste país alienada desta forma.

Aceita um abraço do
Fernando Barata


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2. Instado a pronunciar-se sobre o caso vertente, o nosso colaborador permanente em assuntos militares, José Martins, mandou-nos esta mensagem:

Boa tarde Carlos e Fernando
Sobre o que deriva do Estatuto do Combatente, continuo a pensar que foi mal pensado e pior executado.
Culpados? Claro, inclusivamente os prováveis beneficiários.
Adiante.
O estado só pode dispor daquilo que dirige. Se os museus estão na dependência do Ministério da Cultura, pode dar borlas, porque é mais um ou menos um visitante. Provavelmente, se não for de borla, não vai. É o espirito português.
Portanto, quando pensaram, não pensaram por inteiro. Resumindo: NÃO PENSARAM!
Portanto, aí nada feito. Há o recurso ao bilhete da 3.ª idade ou às borlas, nalguns, ao domingo de manhã.
E não vale a pena pensar em propor alterações.
Primeiro porque quem pode mudar, não está interessado; os outros se propuserem, só estão a pensar em S. Bento.
Repito o que escrevi no início. Ninguém está interessado em fazer, seja o que for, para valorizar os combatentes; estes por sua vez, estão mais interessados em criar dissensões entre os mesmos, até porque nunca foi possível haver um entendimento mínimo entre os grupos que, por todo o país, foram sendo criados para "proveito e valorização própria"!


3. Podes acrescentar o mail que recebi do Ministério da Cultura:

"Exmo. Senhor José Marcelino Martins,
No seguimento da questão que coloca sobre os museus e monumentos relativamente aos quais existe protocolo para entrada gratuita, cumpre informar o seguinte:

1. Nos termos do art.º 18 Lei n.º 46/2020, de 20 de agosto a entrada é gratuita para os antigos combatentes e sua viúva ou viúvo;
2. A Direção-Geral do Património Cultural, naturalmente, deu cumprimento a esta norma e disponibiliza o bilhete designado “ ANTIGO COMBATENTE” Antigo combatente do ultramar e respetiva(o) viúva(o)” que pode ser adquirido em qualquer dos equipamentos culturais tutelados por esta direção. Segue lista infra.
3. Importa, no entanto, ter presente que a entrada é gratuita em qualquer dos equipamentos constantes na lista, contudo no caso de existirem exposições temporárias pagas, estas estão excecionadas da referida gratuitidade, apenas a entrada e as exposições permanentes estão abrangidas pela gratuitidade nos museus, monumentos e palácios.
De um modo geral o bilhete das exposições temporárias é de € 5 e encontra-se circunscrita a um espeço reservado dentro do referido equipamento, não impedindo a visita no equipamento cultural em causa.
Segue a lista de equipamentos culturais tutelados por esta Direção-Geral:


1. Alcobaça: Mosteiro de Alcobaça
2. Batalha: Mosteiro da Batalha (Mosteiro de Santa Maria da Vitória)
3. Coimbra, Condeixa-a-Velha: Museu Monográfico de Conímbriga - Museu Nacional
4. Coimbra: Museu Nacional de Machado de Castro
5. Évora: Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo
6. Lisboa: Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves
7. Lisboa: Mosteiro dos Jerónimos
8. Lisboa: Museu de Arte Popular
9. Lisboa: Museu Nacional da Música
10. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia
11. Lisboa: Museu de Arte Antiga
12. Lisboa: Museu Nacional de Arte Contemporânea
13. Lisboa: Museu Nacional de Etnologia
14. Lisboa: Museu Nacional do Azulejo
15. Lisboa: Museu Nacional do Teatro e da Dança
16. Lisboa: Museu Nacional do Traje
17. Lisboa: Museu Nacional dos Coches
18. Lisboa: Palácio Nacional da Ajuda
19. Lisboa: Panteão Nacional
20. Lisboa: Torre de Belém
21. Mafra: Palácio Nacional de Mafra
22. Peniche: Museu Nacional da Resistência e da Liberdade
23. Porto: Museu Nacional de Soares dos Reis e Casa Museu Fernando de Castro
24. Tomar: Convento de Cristo
25. Viseu: Museu Nacional Grão Vasco


Com os melhores cumprimentos
Sónia Paulo Soares
Directora de Departamento
(em regime de substituição)
Departamento de Apoio à Gestão de Museus, Monumentos e Palácios |DAGMMP
Direção-Geral do Património Cultural
Palácio Nacional da Ajuda, 1349-021 Lisboa
Tel. Direto (00 351) 21 3614373 - Geral (00351) 213 650 800
E-mail: soniasoares@dgpc.pt
Site: http://www.patrimoniocultural.gov.pt"


4. Acrescenta mais este mail:

"Caro Senhor José Martins,
Saudações do Castelo!
Agradecemos o seu contato e informamos que para usufruir da gratuitidade deverá fazer-se apresentar na bilheteira do Castelo com o seu cartão de Antigo Combatente.
As entradas deverão ocorrer entre as 9h30 e as 17h30, no horário de funcionamento do Castelo.

Informamos ainda:

Existem atualmente condicionamentos devido a obras a decorrer no Largo de São Pedro, pelo que é recomendável o estacionamento de veículos no Parque de Estacionamento do Estádio Municipal e a subida ao Castelo através do elevador Norte (gratuito), acesso a meio da Avenida 25 de Abril.

Com os melhores cumprimentos,
Ana Santos
Município de Leiria I Divisão de Museus e Património Cultural
Castelo de Leiria I Igreja de São Pedro
Telefone: 244 839 670
Correio eletrónico: castelo@cm-leiria.pt"

E mais estes:
Todos os museus dependentes do Ministério da Defesa (Museus Militar, Marinha, Ar), incluindo os Museus do Combatente na Batalha e em Lisboa

Convém que quem queira visitar um museu ou monumento se informe se está ou não incluído no "espirito do decreto", uma vez que muitas autarquias aderiram, sem publicidade.
Além disso há museus/monumentos que a visita efetuada aos Domingos de manhã, são gratuitas. Os visitantes com mais de 65 anos estão sujeitos a um desconto que ronda os 50%.

Abraço para ambos e, se for caso disso, boa estadia fora do local habitual (atenção: nós não temos férias)
Zé Martins

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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23494: Consultório Militar do José Martins (74): Nas Forças Armadas Portuguesas nunca existiram capelães milicianos, desde o início da República que os capelães são graduados em alferes

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23494: Consultório Militar do José Martins (74): Nas Forças Armadas Portuguesas nunca existiram capelães milicianos, desde o início da República que os capelães são graduados em alferes

1. Oportuno comentário do nosso amigo e camarada José Marcelino Martins  (ex-fur mil trms,  CCAÇ 5, "Gatos Pretos",  Canjadude, 1968/70), ao poste P23488 (*), e que vamos inserir na sua série "Consultório Militar do José Martins" (**):

Que o administrador e editores, me permitam uma pequena corrigenda.

Nas Forças Armadas Portuguesas, nunca existiram Capelães Milicianos.

Os padres que assumem as funções de capelães das FFAA, são graduados nos postos que lhes são conferidos. Desde o inicio da República que os capelães são graduados em Alferes, pelo que a designação correta é: Alferes Graduado.

Caso contrário, teríamos, pelo menos, um Major-General Miliciano. É o caso do Bispo da Diocese das Forças Armadas e de Segurança que, ao assumir as funções, é graduado no posto mínimo que lhe está reservado - Major-General, uma vez que o posto de Brigadeiro-General é mais recente.

4 de agosto de 2022 às 09:27


2. Comentário do editor LG:

Meu caro Zé: Qem sabe, sabe... Obrigado pela tua sempre oportuna, generosa e ponderada intervenção no nosso blogue. O Padre José Torres Neves não foi alferes miliciano capelão mas sim alferes graduado capelão (tal como os demais capelães que serviram na Guiné, alguns dos quais membros da nossa Tabanca Grande). 

Felizmente, o Padre José Torres Neves ainda está vivo, a caminhos dos 86 anos, e a missionar num dos nossos PALOP,  podendo confirmar,  por intermédio do seu amigo, o dr. Ernestino Caniço, com quem está em contacto, a tua abalizada e douta opinião... 

Esta passará a ser "doutrina" no nosso blogue. Vamos corrigir, pois,  a designação desta série que passa a ser Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alferes graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71). E de futuro vamos... devidamente "graduar" todos os demais capelães que aqui forem referidos... Não é uma questão de somenos importância, é uma questão terminológica, uma questão de rigor.

Temos o descritor "capelães" (com 89 referências) e o descritor "os nossos capelães" (com 62 referências). E até temos (neste blogue não falta nada, pode às vezes é sobrar...)  uma foto, rara, de um alferes graduado capelão, açoriano, a dizer missa, em pleno mato, tendo como ajudante um furriel miliciano de transmissões (***)...


Guiné > Região de Gabu > Sector de Nova Lamego) > Canjadude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos" > 1969 > O alferes graduado  capelão Libório Tavares (1933-2020),  dizendo missa, num altar improvisado. Ajudante, o José Martins, fur mil trnms, CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70).

(***) Vd. poste de 25 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16638: Os nossos capelães (6): Libório [Jacinto Cunha] Tavares, o meu Capelini, capelão dos "Gatos Negros", açoriano de São Miguel, vive hoje, reformado, em Brampton, AM Toronto, província de Ontario, Canadá (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70)

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23429: Frase do Dia (3): Na verdade, nós saímos da Guiné, mas a Guiné não sai de nós (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70)

 1. Comentário (*) de Martins (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), e nosso colaborador permanente, autor, entre outras, da série "Consultório Militar"; m histórico da Tabanca Grande, onde está desde 2005; tem jácerca de 460 referências. 

Caro Ramiro Figueira

Foi bom ter voltado a Canjadude e Che-Che, apesar de 
ser em pensamento, sítios por onde andei e onde permaneci dois anos, já lá vão mais de cinquenta.

Na verdade, nós saímos da Guiné, mas a Guiné não sai de nós.

Abraço.

Zé Martins (**)

13 de julho de 2022 às 09:27 (*)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23427: (Ex)citações (411): O calor e alguma ociosidade inerente levou-me a andar aqui pelo blogue a passear pela infinita quantidade de publicações que por cá há, com destaque para a região do Boé onde, em 1987, fui abrir uma missão com hospital de campanha, no âmbito dos Médicos Sem Fronteira (Ramiro Figueira, ex-Alf Mil Op Esp da 2.ª CART/BART 6520/72)

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23298 Convívios (930): 48.º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 19 de maio de 2022 - Parte II: caras (lindas) que não se viam há mais de 2 anos; outras aparecem pela 1º vez...

  


Foto nº 9 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Caras lindas que não se viam por aqui há mais de 2 amos: primeiro veio a pandemia, depois vieramas  mazelas do corpo e da alma... A niossa Eisabete Silva, por exemplo, quem diz que em 2013 andava pelos matos e bolanhas da Guiné-Bissau, toda fresca, com o marido,  o nosso dr. Francio Silva, cirurgião ortopedista, e que depois passou por um grave problema de saúde... Está de volta aos convívios da Tabanca da Linha e com ótima cara... Que bom, ver-te, Elisabete !




Foto nº 10 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Que bom, rever-te, Francisco!.. Temos andado desencontrados, mas cada um à volta dos seus  problemas de saúde... e lambendo, como o cão do balanta. as suas feridas,   Dizem-me que não tens atendido os telefonemas de ninguém...Grande madeiresne, amigo e camarada, as tuas melhoras!... OLha, eu acabo de fazer uma artoplastia total ao joelho esquerdo, no Hospital Ortopédico de Sant'Ana, na Parede... Agora são dois meses de fisiatria...



Foto nº 11 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Assim de repente estou a reconhecer o meu querido amigo e colaborador permanente do blogue, o José Martins, o homem que conhece o Arquivo Histórico Militar quase tão bem como aos cantos da sua casa em Odivelas.  À sua direita, tem  outro indefetível magnífico, que não costuma falhar os convívios da Tabanca da Linha, o ex-sol cond autorrodas da CCAV 2748, Canquelifá, 1970/72, Fancisco Palma... O terceiro elemento, à esquerda, é o José Manuel Lúcio Inácio (Caxias) que veio pela 1ª vez.


Foto nº 12 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Domingos Robalo: também não costuma falhar, vem da outra banda, é só atravessar o Tejo... Ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71, comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda, tem 27 referências no nosso blogue...Respira saúde, o nosso artilheiro!



Foto nº 13 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Da esquerda para a direita, o Arménio Santos, o nosso ex-deputado  e ex-dirigente sindical, que costumava ir a Monte Real, aos Encontros Naconais da Tabanca Grande, com o seu querido amigo, camarada e professor Jorge Cabral; (ii) o Silvério Dias, 1º srgt art ref, também conhecido como radialista do Pifas ou "senhor Pifas"; e, à sua esquerda, (iii) a "senhora tenente", a  esposa, outra voz muito popular do Programa das Forças Armadas, em Bissau...



Foto nº 14 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Impecável nos seus suspensórios, o António Ramalho que vem "à Linha" sempre que pode,,, à sua direita, o Joaquim da Cruz Coelho (Lisboa) (1ª vez). Acrescenat o Ramalho eem email posterior: "O camarada que está comigo, é um Periquito nestas andanças, é o Fur. Mil Joaquim da Cruz Coelho, que consegui levar, da CCav 2639. Era do meu Gr Comb e desempenhou as funções de responsável pelo reordenamento de Capunga, foi a este nosso camarada que o Gen. Spínola disse:'Você tem mais cara de alferes do que muitos que por aí andam!'...... Os outros estão muito distantes da Linha, só um golpe de sorte os trará cá à capital"...


Foto nº 15 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 20
22 > Carvalho Guerra (Barreiro), vem pela 1ª vez.


Foto nº 16 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Reconheço à esquerda  o cor inf ref Fernando José Estrela Soares (ex-comandante da CCAÇ 2445, Cacine, Cameconde e Có, julho de 1968 / dezembro de 1970). A seu lado, o António Belo (Cadaval), grande poeta que nos maravilha cos as suas poesias temáticas e publicadas na nossa página, acrescenta o Manuel Resende.

Foto nº 17 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Aspeto geral do último andar do restaurante com magnífica vista sobre o Tejo...



Foto nº 18 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >  Outra vista da sala..



Foto nº 19 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Zé Carioca, com o seu inconfundível bigode, mais a esposa Ilda (que também é "habituée" da Tabanca Linha, o casal vive em Cascais)



Foto nº 20 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > O nosso querido amigo e camarada Carlos Silva, gondomarense, a viver aqui no Sul, e ligado à ONGD Ajuda Amiga; mais o Zé Rodrigues, de Belas (Sintra), ao meio; e à direita o José Jesus (Trajouce / Cascais), que também raramente falha os convívios da Magnífic.


Foto nº 21 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > À esquerda, o Joaquim Nunes Sequeira, o "Sintra", que vive em Colares... Sempre afável, bem disposto, prestável, prazenteiro... É um dos "mais" da Tabanca da Linha... Ao seu lado, não sei quem seja, mas o fotógrafo logo dirá... O seu companehiro de mesa é o Alpoim Almeida Ribeiro (Algés), vem pela  1ª vez.



Foto nº 22 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Raul Folques, um ds her´pis do CTIG, o cor 'comando' ref, que ostenta o peso (e brilho)  de uma Torre  e Espada, e à sua esquerda o veterano Hugo Moura Ferreira.


Foto nº 23  > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >  O do meio é segu
ramente o Mário Fitas, um dos fundadores da Magnífica Tabanca da Linha. É nosso grã-tabanqueiro: tem 140 referências no nosso blogue. Os outros dois são o José Dionísio e João Coelho (de bigodito), os dois vêm pela 1ª vez.


Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação de um seleção de fotos da reportagem feita pelo Manuel Resende (*). 

Como eu não estive lá, por  ter ainda há dias saído do hospital (onde fui fazer uma artroplastia total do joelho esquerdo), embora tenha sido também  "co(n)vidado",  "co(n)vi (t/d)  que declinei, por razões de saúde, ele há caras que não já não consigo identificar de imediato, tendo que recorrer aos "auxiliares de memória" que são os postes anteriores sobre a  Tabanca da Linha. 

Peço que me perdoem os visados e os nossos leitores. As fotos vão, arbitrariamente, numeradas para ajudar o Manuel Resende  (e outros) a completar, nalguns casos, as legendas. (**). Trabalho, entretanto, já feito...