Mostrar mensagens com a etiqueta Jorge Rosmaninho. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Jorge Rosmaninho. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17377: Historiografia da presença portuguesa em África (76): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte V: De regresso, de Bafatá a Bissau, sexta-feira, 7 de fevereiro, com passagem por Fá (Mandinga), Bambadinca, Xitole e Porto Gole


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 2005 > O Rio Geba, junto a Porto Gole. Do outro lado, a margem esquerda. Mais à frente, para leste, o Rio Corubal vai desaguar no Rio Geba.

Foto: © Jorge Neto (2005)- Todos os direitos reservados {[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 2005 > Marco comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné (1446-1946) > Porto Gole, na margem direita do Rio, na estrada Bissau - Nhacra - Mansoa - Porto Gole - Bafatá (interdita no meu tempo, 1969/71. L.G.). A fotografia é do Jorge Neto (pseudónimo,. Jorge Rosmaninho, autor do blogue "Africanidades (Vivências, imagens, e relatos sobre o grande continente - África vista pelos olhos de um branco") que não já está ativo).

Este monumento foi inaugurado em 8/2/1947 pelo subsecretário de Estado das Colónis, engº  Rui Sá Carneiro, sendo governador geral Sarmento Rodrigues

Foto: © Jorge Neto (2005)- Todos os direitos reservados {[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68) > 1966 > Marco comemorativo do V Centenário da chegada do primeiro explorador da Guiné, em Porto Gole, fotografado em 1966. Este é o lado oposto à fotografia do Jorge Nero. Dizeres, gravados na pedra: "Aqui chegou Diogo Gomes, primeiro explorador da Guiné, no ano de 1456". Foto de  Henrique Matos, o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé e Porto Gole, 1966/68), açoriano de São Jorge, que vive hoje em Olhão.

Foto: © Henrique Matos (2009). Todos os dreitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]











Recorte da primeira página do "diário de Lisboa", nº 8693, ano: 26, edição de domingo, 9 de fevereiro de 1947 (Director: Joaquim Manso)

Cortesia de Casa Comum > Instituição: Fundação Mário Soares > Pasta: 05780.044.11044 > Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos

Citação:

(1947), "Diário de Lisboa", nº 8693, Ano 26, Domingo, 9 de Fevereiro de 1947, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_22338 (2017-5-19)


1. P
rossegue a viagem ("triunfal", segundo a imprensa da época) à Guiné, do subsecretário de Estado das 
 (Colónias, Engº Rui Sá Carneiro, pelo interior Norte, Centro e Leste (regiões do Cacheu, Oio, Gabú e Bafatá), uma década depois da última "campanha de pacificação" (Canhabaque, arquipélago dos Bijagós, 1936/37)(*). 

Recorde-se que era então, em 1947, governador-geral o comandante da Marinha, Manuel Sarmento Rodrigues,
futuro ministro das Colónias e depois do Ultramar.

O representante do Governo de Salazar tinha chegado ao território no dia 27 de janeiro de 1947, tendo por missão encerrar as comemorações do V Centenário do Descobrimento da Guiné (em 1446).



2. Da leitura da curta notícia da agência "Lusitânia", publicada no "Diário de Lisboa", na sua edição de 9/2/1947 (pp. 1), fizemos um resumo para ajudar os nossos leitores a perceber melhor o seu enquadramento:


(i) no dia 7 de fevereiro de 1947, sexta-feira,  ao fim da tarde, o subsecretário de Estado das Colónias, engº Rui Sá Carneiro,   chega à Praça do Império, em Bissau, depois de um périplo pelo interior da Guiné, que incluiu as regiões de Gabu e de Bafatá;


(ii) às 8h30 desse dia despede-se de Bafatá e segue em cortejo automóvel até Fá (Mandinga) onde visita a serração mecânica do português, o "madeireiro" Fausto Teixeira ou Fausto da Silva Teixeira, radicado na colónia há 20 anos; (no nosso tempo, meu e do "alfero Cabral", em 1969/71, já não havia vestígios desta serração mecânica, e muito menos do Fausto da Silva Teixeira);


(iii) entretanto, em Bambadinca (e não Sambadinca, grosseira gralha tipográfica), e sob a aclamação de "milhares de fulas" (sic), o representante do governo da metrópole procede à condecoração de "três grandes chefes, companheiros de Teixeira Pinto" (sic), durante as campanhas de pacificação (1913-15); é pena o jornalista não citar os seus nomes;


(iv) ainda em Bambadinca, uma centena de crianças das escolas católicas e da escola oficial,  cantam, por seu turno, o hino nacional;




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Setor de Xitole > 10 de março de 2009 > A antiga ponte Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, de há muito em ruínas... Já não era usada no tempo da guerra colonial... O primeiro camarada nosso a falar dela foi o David Guimarães que a revisitou em 2001. Sabemos agora que foi construída em 1937, e que colapsou logo a seguir... Quem terá sido o "engenheiro"  ?

O nosso camarada Carlos Silva, na sua última viagem à Guiné, andou no encalce desta "jóia arquitectónica", a antiga "Ponte Carmona"... Com um guia local, de catana na mão, a abrir caminho, num antiga picada que ia do Xitole até à ponte (assinalada, de resto, no mapa do Xitole)... O Carlos ficou fascinado com a beleza desta obra de engenharia...

Foto: © Carlos Silva (2009). Todos os direitos reservados..[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



(v) durante o trajeto de regresso a Bissau, o engº Sá Carneiro ainda terá tempo de visitar "a grande ponte do Rio Corubal, de 210 de comprimento, construída em 1937", e que entretanto ruíra, num troço de 21 metros, durante a época das chuvas; ora esta ponte só pode ser a do Xitole,a ponte marechal Carmona,  sendo substituída mais tarde (1956) pela ponte general Craveiro Lopes, no Saltinho (**);

(vi) às 13 horas dessa sexta-feira, dia 7 de fevereiro de 1947,  o nosso homem está em Porto Gole, depois de cambar o rio Geba, em Bambadinca;


(vii) mas, antes disso, ainda teve tempo de condecorar "dois régulos" (provavelmente do Cuor e do Enxalé), pelos "relevantes serviços prestados a Portugal";  


(viii) no caso de Porto Gole, ficamos a saber, segundo a notícia dada pela agência "Lusitânia", publicada no "Diário de Lisboa", que se trata de uma povoação recentíssima, "com poucos meses de existência", ou seja, construída em 1946;


(ix) o jornalista da "Lusitânia" assinala que Porto Gole foi o primeiro ponto de penetração portuguesa no interior da Guiné, "há 91 anos" [gralha, deve ser 491 anos];


(x) aqui, os mandingas, em maioria, e também aos "milhares" (sic), assistem à inauguração do monumento a Diogo Gomes, o primeiro explorador do continente africano: reza a história que subiu o estuário do Geba com três caravelas (!); (estranha-se a ausência dos balantas do Óio);


(xi) antes do descerramemto do  monumento, foi proferido um discurso sobre o feito histórico, discurso esse que esteve a cargo do  2º tenente da marinha Teixeira da Mota, ajudante de campo do governador geral Sarmento Rodrigues; e foi brilhante, ou melhor "notável", como não podia deixar de ser, proferido pela maior autoridade da época em matéria de história da Guiné;


(xii) oferecido pelo administrador de Mansoa, sede de circunscrição, foi servido o almoço, à sombra dos mangueiros, em Porto Gole;


(xiii) o eng Sá Carneiro seguirá depois para Bissau, ainda a tempo de chegar e ser "vivamente aclamado", na Praça do Império, por: (i) funcionalismo; (ii)comerciantes; (iii) colonos; e (iv) indígenas;


(xiv) no  domingo, dia 9, partirá movamente para o interior, incluindo as "pitorescas ilhas dos Bijagós": irá visitar as ilhas de Bolama e Bubaque;





Guiné > Zona Leste > Circunscrição de Bafatá > Rio Geba > 1931 > Cambança do rio Geba, antes das pontes de cimento armado... "Jangada no Rio Geba. Passagem entre Bafatá e Contuboel"... Imagem reproduzida em "O Missionário Católico", Boletim mensal dos Colégios das Missões Religiosas Ultramarinas dos Padres Seculares Portugueses, Ano VIII, nº 81, Abril de 1931, p. 169 (Exemplar oferecido ao nosso blogue pelo camarada Mário Beja Santos).

Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)
_____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 4 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17318: Historiografia da presença portuguesa em África (75): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte IV: No chão fula, Bafatá e Gabu, 6 de fevereiro de 1947...

(**) Vd. poste de 8 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5237: Memória dos lugares (53): Rio Corubal: As três pontes... (C. Silva / P. Santiago / M. Dias / Luís Graça)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3646: Ser solidário (25): E se eu fosse o Pai Natal ? Mensagens de e para os guineenses da diáspora e não só...(Luís Graça)

Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > 2007 > Uma foto, retirada (com a devida vénia...) do blogue Africanidades, do andarilho Jorge Rosmaninho ("jornalista, independentista, alentejano"...), membro da nossa Tabanca Grande (paga as quotas em géneros...).

O poste é de 31 de Janeiro de 2007 e tem por título Sempre Bijagós... Uma aventura pelas estradas e picadas de África que chegou ao fim - com muita pena de quem o seguia ao longe... Sim, chegou ao fim da linha, em 4 de Agosto de 2008... Entretanto, vale a pena transcrever três parágrafos onde o Jorge deixou expressa a sua gratidão à Mãe África, um belíssimo Último obrigado, dedicado simbolicamente à Mãe Ema:

"As plantas dos meus pés são de geografia fácil e as costas pouco exigentes. Vou a qualquer lado e durmo em qualquer cama. Até no chão, a mais espaçosa de todas. No entanto, nesta vida de andarilho há uma coisa que não se dispensa nunca: alguém que trate de nós.

"Quanto vale chegar a um lugar desconhecido, depois de umas valentes horas de estrada, e ter uma cama feita com uma rede mosquiteira branca a protegê-la, um balde de água limpa para tomar banho e uma vela para iluminar os fantasmas da noite? Muito. Se juntarmos a isto uma mamã perguntando-nos se preferimos peixe ou carne para o jantar… Talvez só o céu seja melhor! (...)

"A mãe Emma serve-me de metáfora às mães que têm tratado de mim nestes muitos quilómetros de estradas e picadas africanas. E foram muitas. A todas elas, muito obrigado. Obrigado em especial às minhas três mães de verdade, as de sangue, paixão e coração, que me criaram e criam com beijos e papas de leite, muitas vezes enviados por telefone ou apenas pelas correntes de ar que se passeiam por aí vagabundas – como eu – e me acompanham para onde quer que vá: Ana, Adelaide e Cláudia".


O penúltimo poste que ele publicou, em 3 de Agosto de 2008, no seu blogue (cinco anos, 300 mil visitas...) foi curiosamente um texto do Pepito (A sombra do Pau Torto), retirado do nosso blogue: 31 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3101: História de vida (13): Desistir é perder, recomeçar é vencer (Carlos Schwarz, 'Pepito', para os amigos)


Até à próxima encruzilhada, Jorge!
_____________________

Este período das festas de Natal e Ano Novo, não é o melhor para blogar, para comunicar através da blogosfera: há demasiado ruído, há demasiada saturação de um certo tipo de mensagens (por exemplo, pedidos de ajuda, manifestações de solidariedade, exibição da caridade dos ricos...).

Acabei de fazer uma limpeza à minha caixa de correio, profissional, relativamente ao ano de 2008, e fui deparar com meia dúzia de mensagens que li na devida altura mas que não reencaminhei para a caixa de correio do nosso blogue. Seleccionei algumas, vindas sobretudo de guineenses (que vivem na Guiné ou na diáspora, por exemplo no Brasil), e que me pedem coisas, sobretudo informação sobre as mais diversas coisas (desde direito a pensão de sangue a mapas e bibliografias)...

A publicação dessas mensagens seleccionadas, espero que ainda seja útil e vá a tempo. Conto com a boa vontade e o jeito solidário dos amigos e camaradas da Guiné que fazem parte da nossa Tabanca Grande. Mas também de muitos outros que não dão a cara (nem têm que dar) e que nos visitam regularmente. Este é também um blogue de afectos e de gente solidária (*)... Só tenho pena é de não poder ser, por enquanto, o Pai Natal da Guiné...

[ Mas eu fosse o Pai Natal, de verdade ? Se nós fôssemos o Pai Natal, de verdade ? Vá, digam lá, amigos e camaradas da Guiné, o que gostariam de poder fazer para tornar mais felizes os nossos amigos guineenses, homens, mulheres e crianças ? O que deixariam este ano no saco do Pai Natal nas tabancas da Guiné, em Bissau, nos Bijagós, em Catió, em Bafatá, no Cachungo, em Bambadinca, no Gabu ?] ... LG

1. Mensagem de 4 de Dezembro último, enviada por Ecylasaluy Moreira Borges

Assunto - Informações sobre Gabú

Boa noite Dr. Luís Graça,

Sou guineense e socióloga, no momento eu estou no Brasil terminando o mestrado em estudos étnicos e africanos, o meu tema é: será que o casamento precoce tem uma influência na gravidez das jovens islâmicas (fulas e mandingas) em Gabú, mais só que estou com muitas dificuldades em conseguir material, queria saber se o senhor poderia me indicar algumas referências bibliográficas.

Atenciosamente,

1. 1. Comentário de L.G.:

Cara amiga e confrade, era pressuposto o INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa , de Bissau, ter algum acervo documental sobre o problema do casamento precoce e a gravidez na adolescência entre a comunidade islamizada da região do Gabu... Mas nós sabemos o que aconteceu ao INEP e ao seu centro de documentação, na sequência da guerra civil de 1998... (Foi uma tragédia imensa: para além das vidas que se perderam, a Guiné-Bissau fiquei igualmente amputada de um importante património cultural, parte do seu acervo documental que representa a sua memória e a sua identidade)...

Fora da Guiné-Bissau, talvez possa procurar nas bibliotecas de instituições universitárias portuguesas (para além das brasileiras...) onde há cursos de sociologia e antropologia tais como o ISCTE - Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, a FCSH/UNL - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa ou o ISCSP/UTL - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa... Dê também um salto ao portal Memória de África, uma biblioteca virtual gerida pela Fundação Portugal-África, ligada à Universidade de Aveiro.

É, para já, a ajuda de emergência que lhe posso dar... Com tempo, posso pedir uma pesquisa bibliográfica sobre este temática. Tenha um bom Natal e boa continuação dos seus estudos, aí no Brasil, grande país da lusofonia...

2. Mensagem de 1 de Dezembro último, enviada por Eliude Maria da Silva

Oi Luís Graça:

Sou brasileira e tive conhecimento deste preciossímo site ainda este ano quando pesquisava sobre a vida de Florence Nighitngale na Universidade em que estudo. Seu site [Luís Graça, sociólogo: Saúde e Trabalho] foi-me muito útil e desde aquela ocasião tenho perdido horas a pesquisar por este valiosissímo acervo.

Recentemente conheci dois estudantes guineenses que fazem faculdade aqui em Florianópolis (UFSC) e, por uma questão de curiosidade, sadia, decidi-me a pesquisar sobre sua terra natal, a impressionante Guiné-Bissau. O que encontrei na internet não foi muita coisa, exeção a seu site que enriqueceu-me em conhecimento atravês do acervo fotográfico sobre este país.

Por estar cursando Enfermagem, interessei-me pelo Hospital Simões Lopes ou Simões Mendes, não me recordo agora muito bem o nome. Gostaria então, se possível fosse você enviar-me ou até mesmo indicar-me sites, leituras ou literaturas sobre este hospital e sobre Guiné-Bissau, bem como sua capital Guiné.

Qual a situação de Guiné (capital) hoje? É a mesma que as imagens de 1996,1998 e 2001 mostram em seu site, isto é, devastada, arruinada, abandonada? Como vivem os guineenses?

Pergunto isto porquê percebo que este dois estudantes guineenses quando falam dizem que nós, brasileiros, não conhecemos a realidade do país deles, isto é, não é só pobreza ou muita pobreza mas é um país muito bom para morar-se. É isto mesmo? Eles dizem que somos influenciados pelo negativismo que a grande mídia televisa joga em nossas mentes aqui no Brasil, não permitindo-nos pensar e ver a boa realidade de Guiné-Bissau.

Agradeço muitíssimo se puderes me ajudar e mais uma vez parabenizo-o pelo maravilhoso sítio.

Abraço fraterno
Eliude.

2.1. Comentário de L.G.:

Querida Eliude (mas que nome maravilhoso!):

Para além da minha página pessoal, que você já conhece, tenho também este blogue que se chama Luís Graça & Camaradas da Guiné... É hoje um blogue colectivo com contributos de muitas centenas de homens (e de algumas mulheres) que conheceram a a antiga colónia portuguesa da Guiné, na África Ocidental (hoje, Guiné-Bissau, país independente mas um dos mais pobres do mundo)... E conheceram-na na pior altura para se fazer turismo: quando há guerra...

A guerra da Guiné foi o nosso Vietname e durou cerca de 11 anos (1963/74). Somos, quase todos, veteranos dessa guerra... Claro, temos laços afectivos que nos prendem àquela terra e às suas gentes maravilhosas... Mas o nosso core business não é a Guiné-Bissau actual, os seus problemas de desenvolvimento (político, social, cultural e económico...).

Preferiria que foi um guineense a responder-lhe, a responder à sua pergunta. "Qual a situação de Guiné hoje? É a mesma que as imagens de 1996,1998 e 2001 mostram em seu site, isto é, devastada, arruinada, abandonada? Como vivem os guineenses?"...

Já pedi a uma dos nossos amigos, guineense, para lhe responder. Aguardo que o Prof Doutor Leopoldo Amado, neste momento a trabalhar na Universidade de Cabo Verde, me mande a(s) sua(s) resposta(s) à(s) sua(s) pergunta(s)... Eu poderia responder-lhe, não prefiro não o afzer em público: umas das nossas 10 regras de ouro é justamente a da "não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo)"...

Apareça, será sempre bem vinda...


3. Mensagem de 14 de Outubro último, enviada por José Geraldo Freitas da Silva

Assunto - Quantitativo das FFAA portuguesas durante a guerra do Ultramar.

Prezado Senhor:

Sou brasileiro de Belém do Pará e estudioso de conflitos ocorridos na Africa, em particular a guerra do Ultramar. Assim, gostaria de saber qual o quantitativo das forças portuguesas (Exército, Marinha e Aeronáutica) empenhadas durante o conflito.

att,
José Geraldo Freitas Silva
(silgeraldo@gmail.com)

3.1. Comentário de L.G.:

Meu caro José: Boa pergunta. Não tenho aqui a resposta na ponta dos dedos, mas posso sugerir-lhe que consulte o sítio (como se diz aqui, em Portugal)Guerra Colonial 1961-1974, criado recentemente pela A25A- Associação 25 de Abril. Uma verdadeira enciclopédia sobre a guerra provavelmente mais longa do Séc. XX, travada por um pequeno país europeu, a milhares de quilómetros de distância, em África, em três frentes (Guiné, Angola e Moçambique).

Boas pesquisas, boas leituras.


4. Mensagem de Iaia Djamanca, com data de 9 de Outubro último:
Ao iniciar gostaria de poder agradecer do fundo do meu coração por este magnífico trabalho da Vossa excelência, Senhor Luís Graça, sociólogo do trabalho e da saúde, doutorado em saúde pública, professor na Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa, em Lisboa.

Fiquei impressionada com este brilhante trabalho que me facilitou num simples pesquisa que tava fazendo na minha faculdade aqui no Rio de Janeiro (Brasil) com os colegas brasileiros que queriam tanto conhecer algo da minha terra e o nosso crioulo. Finalmente consegui encontrar dentre muitas que eram do crioulo de Cabo-Verde, o seu trabalho.

Gostei muito e peço a Deus que apareça milhares de trabalhos como o seu para a Guiné - Bissau.

Obrigado pelo trabalho...

De: Iaia Djamanca
Estudante de Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

4.1. Comentário de L.G.:

Querida Iaia (um nome feminino bem guineense, bem lindo):

Fico encantado com as suas palavras. Mas dispenso o... Excelência. Trate-me apenas por Luís, um amigo da sua terra e do seu povo mas que, infelizmente, não fala fluentemente o crioulo... Espero que volte depressa à sua terra e que tenha ocasião de aplicar as suas novas competências no domínio das ciências da documentação. O seu país precisa de si. Um beijinho.



5. Mensagem de 28 de Setembro de 2008, enviada por Adulai Gomes Rodrigues

Caro amigo Luis Graça!

Sou natural das ilhas Bijagós - ilha de Sogá, estou muito interessado pelas histórias de outrora que escreve relactivamente à guerra colonial na Guiné. Mas o mais relevante para mim é sobre as ilhas Bijagós, de formas que sempre lhe peço apoio no sentido de me ter como o seu menino. Estou a tentar escrever um livro de histórias sobre as ilhas Bijagós, mas tenho muitas dificuldades, sejam materiais assim como técnicas e morais, pelo que preciso muito do seu contributo.

Como é a primeira vez espero a resposta para mais um contacto.

Muito obrigado.

Adulai Gomes Rodrigues
Natural das ilhas Bijagós - Sogá, tabanca de Eticoba
Estudante de Economia na Universidade Amilcar Cabral em Bissau
Assistente pesquisador no Projecto de Saúde de Bandim.
Celular: (+245) 667 27 88 ou 722 56 61

5.1. Comentário de L.G.:


Meu caríssimo Adulai:

Não sei a sua idade, mas eu pela minha parte devo ter a idade do seu pai... A guerra colonial acabou em 1974 (terá acabado mesmo em 1974 ?) e eu regressei da Guiné em Março de 1971... Só lá voltei em Março... de 2008. Muito tempo... Infelizmente não conheci nem conheço hoje as ilhas (que me dizem maravilhosas...) do seu arquipélago... Posso adoptá-lo como 'meu menino', quero ajudá-lo, mas sinceramente não sei muito bem como... O mais simples é perguntar-lhe se ainda precisa da minha ajuda e como posso eu ajudá-lo... Em que ponto está o seu livro ?


Entretanto, há outros membros do nosso blogue que conhecem os Bijagós e provavelemente até a sua ilha (Sogá) e a sua tabanca (Eticoba)... Vamos contar com a sua (deles) ajuda e interesse... Mantenhas.
_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 9 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3428: Ser solidário (24): Em marcha a expedição de ajuda humanitária de 2009 (José Moreira / Pepito / Carlos Silva / Xico Allen)

sábado, 7 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1156: Dar voz (e fazer justiça) aos antigos combatentes africanos (Jorge Rosmaninho)

Guiné-Bissau > Bissau > Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira > 17 de Julho de 2006 > Manifestação de antigos combatentes guineenses do Exército Português, por ocasião da chegada, com intervalo de 2 minutos, do Presidente da República de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, e do Primeiro Ministro, José Sócrates, no âmbito da VI Cimeira da CPLP. "Nós, os antigos combatentes, exigimos o cumprimento do acordo de Argel", é a mensagem que se podia ler no belíssimo pano artesanal que foi feito para a ocasião (LG) (1).

Fonte: Africanidades, blogue do Jorge Neto, ou melhor, Jorge Rosmaninho (2).
Foto: © Jorge Neto (2006) (Direitos reservados)

Texto do Jorge Neto, aliás, Jorge Rosmaninho, publicado sob o título "Os indígenas, filhos da República", no seu blogue Africanidades, em 3 de Outubro de 2006 (blogue que entretanto mudou de servidor e, que portanto, tem um novo endereço: http://africanidades.blogspot.com/ )

A França decidiu actualizar as pensões dos antigos combatentes africanos. A decisão foi provocada pelo filme Indígenas, que comoveu Chirac (o presidente haveria mesmo de reconhecer que os antigos combatentes eram Filhos da República). Villepin, por seu lado, considerou que a medida é tardia.

Uma olhadela por sites francófonos permite dizer que o descongelamento das pensões foi acolhido com reservas por parte dos antigos combatentes. Se por um lado afirmam que “mais vale tarde que nunca”, por outro referem que “a valorização das pensões é mínima e fica aquém do merecido”.

No total, cerca de 84 000 antigos soldados (57 000 reformas e 27 000 pensões de invalidez) de 23 países beneficiarão deste ajustamento. Mas a medida de Chirac não é totalmente desinteressada. Como referia na Quinta-feira na edição portuguesa da RFI certo analista, “muitos dos filhos e netos destes homens vivem hoje em França, emigrados. E votam! Apesar de esta não ser uma fatia de eleitorado muito significativa, nesta coisa da democracia todas as migalhas contam. Migalhas também são pão".

Portugal tem no gesto da França uma oportunidade de corrigir uma injustiça (1). É uma obrigação que deve aos seus antigos soldados coloniais, que ficaram esquecidos no mato e hoje vivem, grande parte, na miséria. Como disse Chirac frente aos seus ministros, “a França teve um acto de justiça e de reconhecimento para com todos aqueles que combateram sob a nossa bandeira. Devemo-lo a estes homens, que pagaram com o seu sangue, e aos seus filhos e netos, muitos dos quais são franceses.”

Sócrates pode inspirar-se nestas palavras, para um dia não ter que dizer, como disse Villepin, que “a reparação da injustiça é [será] tardia". Aliás, o peso da injustiça já deve pairar na consciência do PM português. Em Julho, quando viajou a Bissau para participar na Cimeira da CPLP, Sócrates passou por uma manifestação de ex-combatentes, mesmo à saída do aeroporto, que de bandeira verde-rubra em punho exigiam aquilo que lhes é devido. Interpelado pelos jornalistas, o PM referiu “não ter visto manifestação nenhuma.” Cegueira política.
____________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 27 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P998: Antigos combatentes: sem pernas, sem braços mas com memória (Jorge Neto)

(2) O Jorge, o nosso correspondente em Bissau, mudou-se com armas e bagagens para a nova versão (beta) do Blogger.com... Está a passar por alguns problemas (por exemplo, não reconhecimento dos caracteres portugueses, dificuldades em moderar os comentários), que eu espero que ele possa rapidamente ultrapassar, para o bem-estar e sossego dos fãs do seu blogue, o Africanidades... Aproveitou para se registar com outro dos seus apelidos: Rosmaninho. Enfim, decidiu assumir a sua costela alentejana (sic)... Ontem fiz um negócio com ele e com o Paulo Santiago: a nosso pedido, no interesse da nossa memória comum, da nossa História comum (portugueses e guineenses), ele vai tentar entrevistar o Paulo Malu, que hoje trabalha na Direcção-Geral das Alfândegas e que em 17 de Abril de 1972 comandava o grupo do PAIGC que, no Quirafo, na estrada Saltinho-Dulombi, montou a mais mortífera ou uma das mais mortíferas emboscadas às NT... Este episódio já foi aqui abundantemente evocado, descrito, falado... Veja-se, enter outros, os posts do Paulo Santiago: