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segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24006: Blogues da nossa blogosfera (173): CART 1525, "Os Falcões" (1965/67): postais ilustrados de Bissau, 1993, e fotos de Bissorã, 1997

Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado:  (i) A "Baiana" é uma esplanada defronte do desaparecido Café Portugal (ao fundo da Av Principal); (ii) Mercado de Bandim. Mercado tradicional que se estende pela nova estrada que liga Bissau ao aeroporto e que segue mais ou menos a antiga estrada que conhecemos; (iii) Uma rua de Bissau


Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado: (i) em cima, várias paisagens do país; (ii) em baixo:  o edifício onde era o antigo Café Portugal (à direita).


Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado > Piscina do Hotel 24 de Setembro: Antigas instalações da Messe de Oficiais do Quartel General do CITG / Exército Português


Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado >   Hala Hotel  - HOTEL & Aqua  Park, sito na Avenida Combatentes Liberdade da Pátria
 

Guiné-Bissau > 1993 > Postal ilustrado > Mulheres Bijagós

Fotos (e legendas): ©  António J. P. Magalhães (1993). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã >  1997 > Da esquerda para a direita: 2º Comandante do Batalhão de Mansoa do Exército da Guiné Bissau, dois Adidos Militares Portugueses, 1º Comandante do Batalhão de Mansoa do Exército da Guiné Bissau, Coronel Mourão e um membro civil da comitiva da Fundação Bissaia Barreto de Coimbra


Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã >  1997 > O monumento aos mortos em combate da CArt 1525


Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã >  1997 > 1997 O monumento aos descobrimentos portugueses na praça principal

Fotos (e legendas): © Jorge Manuel Piçarra Mourão (1997). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 
1. Por ter feito ontem anos o Rogério Freire, não podemos deixar de lembrar, mais uma vez, a sua página,  CART 1525, Os Falcões (Bissorã, 1966/67), não só por ter sido criada por ele (e que  também a continua a editar e a manter),  mas igualmente por ser um das mais antigas da nossa blogosfera, centrada numa só companhia e, ainda por cima, das mais completas em termos de informação (*). 

O Rogério Freire, que foi alf mil daquela companhia, e profissionalmente foi delegado de propaganda médica e esteve ligado  à área da informática, é também um dos históricos do nosso blogue (entrou em 13/10/2005), e é um dos que se tem preocupado com o futuro dos nossos blogues e páginas na Net (**)

Infelizmente, ele é também o único representante dos "Falcões" na Tabanca Grande... De qualquer modo, em sua homenagem e à página que criou e vai mantendo, com tenacidade e paixão, aqui se reproduzem algumas das colaborações fotográficas dos seus camaradas, com a devida vénia: 

(i)  cinco "postais ilustrados", da Guiné-Bissau, enviados pelo ex-furriel mil Magalhães durante a sua estada naquele país em 1993;  o fur mil António J. P. Magalhães, infelizmente já falecido, pertencia ao 1º Gr Comb da CART 1525,  comandado pelo alf mil  Rui César S. Chouriço, e terá sido dos nossos primeiros camaradas a fazer uma "viagem de saudade" à Guiné-Bissau, depois do fim da guerra;

(ii) três fotos da visita, a Bissorã,  do cor art ref  Jorge Manuel Piçarra Mourão, ex-comandante da CART 1525 (Bissorã, 1965/67) (tem 7 referências no nosso bogue).
 __________

Notas do editor:

domingo, 25 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14184: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (8): Reencontrei o Michel Ajouz, de Bissorã, perto de Monte Real, cinco a seis anos depois, por volta de 1971/72... Ele andava a fazer termas, e eu na minha vida de delegado de propaganda médica... (Rogério Freire, ex-alf mil art, CART 1525, Bissorã, 1966/67)

1. Comentário de Rogério Freire (ex-alf mil art, minas e armadilhas, CART 1525, Bissorã, 1966/67) (*)

Caro Luís:

Vi a referência ao Michel Ajouz e ao meu nome e não posso deixar de contar uma história do "arco da velha".

Depois de regressar da Guiné, Bissorã, em finais de 1967, iniciei a minha atividade profissional como Delegado de Informação Médica (Propaganda Médica,  à moda antiga).

Uma das minhas zonas de trabalho era a região de Leiria. Num belo dia, creio que de 1971 ou 72, ao sair de Monte Real através do pinhal de Leiria a caminho da Marinha Grande, viajando a 80/90 km à hora, passo por um homem só,  que caminhava em direção a Monte Real e veio-me à memória o Sr. Michel Ajouz.

Fiquei de tal maneira incomodado com a visão que, passados uns bons 5 a 6 Km,  decidi voltar atrás e,  surpresa das surpresas, era mesmo... o Michel Ajouz!... Em pleno Pinhal de Leiria,  a fazer o seu passeio matinal.
Anúncio da casa comercial de Michel Ajouz, 1956 (*)

Foi uma grande alegria, ele lembrava-se perfeitamente de mim e da CART 1525 bem como dos outros alferes, o Rui, o Oliveira e o Silva bem como do Capitão Mourão [ Jorge Manuel Piçarra Mourão,]  que era ocasionalmente seu parceiro de bridge.

Fiquei a saber na altura que vinha às Termas de Monte Real à procura de alívio para as suas maleitas e depois de um grande abraço nos separámos.

Foi um dqueles acasos ... em pleno Pinhal de Leiria quem me diiria vir-me a encontrar com o Michel Ajouz, de Bissorã,  5 a 6 anos depois? (**)

E como dizia o nosso Pessa ..." E esta,  hem???!!!". 

(**)  22 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13639: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (7): Vermeer teria gostado de pintar as libanesas de olhos verdes... (Valdemar Queiroz, ex fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10679: Notas de leitura (429): "Da Guiné à Angola O Fim do Império", pelo Coronel Piçarra Mourão (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Setembro de 2012:

Queridos amigos,
Neste segundo e último livro, o coronel Piçarra Mourão rememora a vertente social desenvolvida pela sua companhia em Bissorã, entre 1966 e 1967.
É um depoimento sereno e singelo. E revela mágoa por só se ter apercebido, muito mais tarde, dos distúrbios provocados pelo stresse pós-traumático. Terá criado um admirável espírito de corpo e de invulgar entreajuda, revela, ao tempo em que escreveu este seu depoimento (2002) que os antigos militares continuavam a acompanhar os mais carenciados, foram laços de amizade irreversível que tiveram um ponto alto na passagem do 35º aniversário do regresso da Guiné em que se realizou uma sentida homenagem aos mortos da companhia junto do Monumento aos Combatentes Mortos no Ultramar, em Belém.

Um abraço do
Mário


Da Guiné à Angola, o fim do Império

Beja Santos

O coronel Piçarra Mourão cumpriu uma comissão de serviço na Guiné (1966-1967), na CART 1525 adstrita ao BCAÇ 1876, em Bissorã. Do seu livro “Guiné, Sempre!” (Quarteto Editora, 2001), fez-se oportunamente recensão. Chega agora a vez de se referir a segunda e última obra deste oficial superior, intitulada “Da Guiné a Angola, O Fim do Império” (Quarteto Editora, 2004). Diga-se desde logo que o coronel Piçarra Mourão irá recapitular situações vividas em território guineense, o essencial da obra é dedicado à Angola onde ele cumpriu duas comissões (1969/1971 e 1973/1975).

Trata-se de um respigar da memória para enaltecer o valor das campanhas de apoio social, moral e médico a que a companhia que ele comandou esteve ligada. Esse fluir de memória inclui uma apreciação do stresse do combate, situação que hoje afligirá cerca de 10 % de todos os combatentes das 3 frentes, e que tem o nome de desordem de stresse pós-traumático. Trata-se de um depoimento despretensioso, solto, um verdadeiro correr da pena onde não se esconde o contentamento pelo dever cumprido. Refere o apoio médico prestado às populações, era uma assistência diária com atendimento dos doentes que se juntavam à porta do posto de socorros, filas permanentes de mulheres, crianças e velhos. No respeito pelos costumes da terra, concedia-se primazia no atendimento aos homens, salvo as situações de emergência, que não tinham qualquer contestação. Enaltece a dedicação dos profissionais de saúde, sempre solícitos a atender em consulta e prestando tratamento. Mas esses profissionais de saúde não se limitavam a aguardar pelas consultas, deslocavam-se às tabancas dos arredores em busca de casos e situações mais complexas. E regista, com aprazimento: “Quando do regresso de estafadas operações em que o débito físico e mental tinha sido significativo, era retemperador passarmos pelo posto de socorros, para pequenos tratamentos de recuperação, e aí o desvelo do pessoal era inultrapassável”.

A companhia sediada em Bissorã, além de um percurso operacional, também remexeu no espaço e deixou obra para um maior bem-estar de todos: novo conjunto de cozinha, refeitório e cantina/bar para as praças; um espaçoso e seguro paiol, um sistema de filtragem de águas para beber e para banhos, uma oficina auto, etc.; deu-se suporte às milícias, fornecendo-lhes material para melhorar as suas habitações e diz sem enfeites: “A nossa ligação sentimental e afectiva a essa gente era tão profunda que nunca poderíamos regatear qualque tipo de colaboração, partindo quase sempre essa iniciativa da nossa parte. Mais do que os imperativos da missão, era a solidariedade verdadeira que nos movia".

E não esconde o seu orgulho no investimento educativo: “Dos nossos homens existiam alguns analfabetos e um número elevado sem as necessárias 3ª e 4ª classes. Cerca de três meses depois do início da comissão, foi-me proposta a constituição das denominadas escolas regimentais. A proposta partiu de um furriel miliciano, na época já habilitado com o curso do magistério primário – o Benfeito da Costa. Homem de grande competência, iniciativa e dedicação, a breve trecho tudo pôs em movimento, constituindo-se duas classes que funcionavam em horário repartido. Tudo transcorria dentro da melhor normalidade, com grande empenho das praças participantes e sem prejuízo da atividade operacional. Foi deste modo que 44 soldados da companhia, feitos os exames oficiais no termo do ano letivo de 1967, obtiveram os almejados diplomas – 11 da 3ª classe e 33 da 4ª”. Circula na Net um texto assinado por Armando Benfeito da Costa que confirma tal atividade.

Procedendo à análise do stresse. Confessa que na altura não se apercebeu do fenómeno, não houve previsão das vastas e dolorosas consequências, não havia preparação nem se apostava na profilaxia: “A Nação e os seus mentores limitavam-se a mandar combater a qualquer preço. O acompanhamento psicológico dos homens, em qualquer fase do seu empenhamento, nunca foi visto, tratado ou falado”. E descreve como procurou agir no teatro de operações. Retardava cautelosamente a informação sobre a saída para operações ou patrulhamentos ofensivos, só uma ou duas horas da saída, mandava comparecer no seu gabinete os oficiais e sargentos, era aí que se definiam os efetivos a empenhar. Dá um retrato sumário das emoções e tensões provocadas pelo contacto com o inimigo e como procurava, no decurso da comissão, avaliar as capacidades e resistências psíquicas dos seus subordinados. Divide as atitudes e comportamentos entre aqueles que demonstravam situar-se entre o respeito e o medo da guerra e os outros que começavam por se mostrar intimidados, via-se à légua que exerciam um grande esforço para dominar os seus receios e que depois, imprevisivelmente, eram capazes de se soltar e mostrar arrojo debaixo de fogo. Narra uma terrível emboscada que ocorreu em 5 de Dezembro de 1966, que provocou mortes e feridos, e que deixou marcas. A resposta que ele procurava dar passava pela atividade física, torneios com clubes locais e outras unidades e saber responder quando o médico informava que este ou aquele militar estava em baixo de forma ou manifestamente deprimido. Deplora como só recentemente se começa a dar atendimento e a procurar dar apoio a distúrbios de stresse pós-traumático, reconhecendo que se deu um passo gigante com a criação do Centro de Psicologia Aplicada do Exército, onde se estuda e analisa em toda a sua dimensão o fenómeno do stresse.

E aqui finda o depoimento guineense do coronel Piçarra Mourão, condecorado com a Cruz de Guerra de 1ª Classe pela sua comissão em Bissorã.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10655: Notas de leitura (428): "Colapso e Reconstrução Política na Guiné-Bissau 1998-2000", por Lars Rudebeck (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9390: O Nosso Livro de Visitas (124): Relembrando o comandante da CART 1525 (Mansoa e Bissorã, 1966/67), Cap Art Jorge Manuel Piçarra Mourão (Afonso Silva)

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Afonso Silva:


 De: Afonso Silva [ leonel.silva@netcabo.pt]
Data: 23 de Janeiro de 2012 20:05
Assunto: P-9385

Bom dia.


Relativamente  à  noticia relacionada no poste  P9385 existe a seguinte imprecisão:
É mencionado, certamente por lapso mas    indevidamente,   como comandante do BCAÇ 1876 o Ten Cor Inf Jorge Manuel Piçarra Mourão.

Segundo informação que consta no livro   Os Anos da Guerra Colonial, 1961-1975, de  Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, no respeitante às unidades mobilizadas para o TO da Guiné  no ano de 1966,  Jorge Manuel Piçarra Mourão  era  Capitão e comandante da CART 1525 (Mansoa e Bissorã) (*). [, Foto à esquerda, como9 comandante do RI 4, e,m 1989-1991; fonte: Sítio do Exército Português].


Sou  um leitor assíduo da  vosso blogue  e  pertenci a um Batalhão que esteve em Angola de 1973/1975 (COTI-2)   onde o Oficial de Operações do Batalhão era o Capitão Jorge Manuel Piçarra Mourão (já falecido).


Tenho um irmão que também esteve na Guiné   (Bambadinca),  nos anos de 1971 a 1973,  e que,  tendo chegado  pouco tempo antes  de eu partir para Angola  e sabendo que eu era atirador,  que me disse: "Tens sorte,  que vais para Angolam  pois  a  Guiné  está a ferro e fogo"... 


E na verdade quem vai lendo o vosso blogue  confirma tudo isso. (**)


Cumprimentos   
A. Silva
______________


Notas dos editores:

(*) Autor de Guiné, Sempre! Vd. recensão bibliográfica feita por Mário Beja Santos, em 20 de maio de 2010 (Poste P6361).


Nasceu em Vila Viçosa, em 1942. Terminou em 1962 o curso da arma de artilharia, na Academia Militar. Tem a Cruz de Guerra de 1ª Classe como comandante da CART 1525. Fez mais duas comissões, em Angola, em 1969/71 e depois em 1973/75 (a última como major de operações, BART 6322/73). Escreveu ainda o livro "Da Guiné a Angola: O Fim do Império" (2004). Foi comandante do RI 4, de 1989 a 1991. Tinha o poste de coronel quando morreu.
  
(**) Último poste da série > 22 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9386: O Nosso Livro de Visitas (123): Fernando Gomes Pinto da CCAÇ 4945/73 (Guiné, 1973/74)

terça-feira, 19 de julho de 2005

Guiné 63/74 - P114: Bibliografia de uma guerra (6) (Jorge Santos)

O Jorge Santos, autor de uma excelente página sobre a guerra colonial e nosso companheiro de tertúlia (foi fuzileiro naval no Niassa, em Moçambique) continua a enviar-nos referências bibliográficas sobre a guerra colonial na Guiné. Em breve iremos alargar a bibliografia a outras frentes. Afinal, a guerra (colonial) era só uma...


TITULO: Guiné – A cobardia ali não tinha lugar
AUTOR: José Silveira da Rosa
EDITORA: Autor (Horta, Faial, Açores)
ANO: 2003

NOTA: O autor fez parte da Companhia de Artilharia 1688 (BART 1913) em Biambi, tendo feito a comissão entre 1967 e 1968.

RESUMO: O autor navegou cerca de 20 meses entre duas emoções fortes: o jogo da vida e o jogo da morte. E para enfrentar qualquer um deles, é preciso coragem e teimosia. Fazendo bem as contas, a cobardia ali não podia ter mesmo lugar. Portanto, teve que cerrar dentes e dizer: "alma até almeida". Quem sabia dominar-se, libertava-se de um jugo que a natureza lhe tinha colocado ao pescoço.


© Carlos Alberto dos Santos Serra Fonte: Página pessoal do autor TÍTULO: Scherno ou Memórias da Guerra na Guiné
AUTOR: Carlos Serra
EDITORA: Autor
ANO: 2003

RESUMO: "É um depoimento vivo e corajoso, de uma época que muitos fazem por esquecer, e muitos outros por ignorar. É um discurso corrido, no característico idioma da tropa, directo e sem artifícios de linguagem, um misto de testemunho despojado, jornal de caserna, crónica de um universo circunscrito ao aquartelamento improvisado nas matas - como o eram todos os aquartelamentos da guerra colonial - e às surtidas pelas picadas, pelas tabancas e os seus amores efémeros, bolanhas e terras de ninguém. São pedaços de um quotidiano agridoce, onde se partilha a respiração daqueles homens ainda meninos que entraram na idade adulta, a confrontarem-se com os pequenos e grandes dramas de quem se vê despejado no turbilhão do império que se esboroava, com as perversões e contradições tecidas por uma guerra madrasta, fruto de um tempo histórico desacertado e moribundo.

"Sente-se o cheiro a óleo de limpeza das armas, o restolhar entre o capim, à mistura com o fedor da transpiração entranhada nos camuflados, o odor acre da terra ensopada por chuvas e cacimbos e esventrada pelas morteiradas. É uma espécie de uma Crónica da Guiné dos tempos modernos, que se lê de um fôlego e com todos os sentidos". (Fernando Torres - 2002 Dezembro)

Scherno ou Memórias de Guerra na Guiné pode ser consultado e lido na Net, na página do autor (vd. a capa do livro e o respectivo índice). Tem um capítulo sobre Conakri, mas pouco adianta.


TÍTULO: Guiné, Sempre – Testemunho de uma Guerra
AUTOR: Piçarra Mourão
EDITORA: Quarteto
ANO: 2001

Nota sobre o autor: Fez uma comissão de serviço na Guiné na Companhia de Artilharia 1525 (BISSORÃ), e duas em Angola.

RESUMO: "Mais do que um testemunho de um conflito que envolveu toda uma Nação em Armas e uma geração de Homens devotadas a uma causa, cujas origens e consequência estão hoje sancionadas pela História, estas crónicas encerram narrativas exemplares, pessoais e directas, vividas no contexto de uma das mais violentas e duras guerras com que essa mesma geração se debateu no teatro africano.

"Sem menosprezar os episódios do combate verdadeiro, onde a fronteira entre a Vida e a Morte era por vezes muito ténue, ou outras referências a pequenas mas gratificantes histórias que só o percurso ali traçado pode contemplar e permitir, o livro é, a cada passo, enriquecido com a tremenda experiência humana resultante da profusa vivência que, num e noutro ambiente, todos os interlocutores permutaram.
A uma distância histórica e temporal conveniente, sem preconceitos ou falsas reservas, admitindo erros, virtudes, precariedades e sucessos, os relatos traçados consentem uma abordagem isenta, justa e rigorosa de um conflito sério e constituem, para além de todos os aspectos políticos circunstanciais, um prodigioso contributo para a nossa memória colectiva" (Texto da responsabilidade da editora).

Índice:

Prefácio; I. Apresentação; II. A Preparação

III. No Mato Profundo: O Amigo Americano; Uma Oportunidade Perdida; Uma Santa Bárbara Negra; Elefantes, 4!; O Fernando; Um Autêntico Bambúrrio; Duas Flâmulas;
Um Caixote de Peso.

IV. Crónicas Avulsas: Um Piloto Certeiro; A Visita do Papa; O Máximo; O "Zaire"; O Baptismo de Fogo; As Vacas da Companhia; Minas Gerais; O Senhor dos Céus; O jipe do "Ronco"

V. As Milícias de Bissorã; VI. Bissorã; VII. O Regresso; VIII. Final

Glossário e Código de Abreviaturas.

É ainda autor do livro Da Guiné a Angola.

Guiné 63/74 - P113: Piçarra Mourão, militar e escritor (CART 1525, Bissorã, 1966/67) (Marques Lopes)

Texto do A. Marques Lopes:

Não conheço o coronel Piçarra MOURÃO, mas li o livro [Guiné, sempre: testemunho de uma guerra. Quarteto, 2001]. A companhia com que foi inicialmente, uma CART, foi colocada em Bissau às ordens do Comando Chefe (noto que ele nunca diz o nome das companhias, é cumpridor das normas, não é como eu).

Conta que uma vez a companhia foi mandada para o Queré com um pendura, um tenente-coronel americano que vinha ver como era a guerra na Guiné e que, parece, iria depois para o Vietnam. Conta a sua atrapalhação, pois que o deram à sua responsabilidade pessoal. Acabaram por cair numa emboscada e o pendura desatou a tirar fotografias e a filmar de máquina em punho, em vez de usar a G3 (a melhor da companhia) que lhe fora distribuída. Não aconteceu nada e ele pergunta-se se aquelas imagens lhe terão valido alguma coisa no Vietnam.

A sua companhia ficou, depois, adida a um Batalhão colocado em Mansoa, colocada no Olossato. Diz que durante 1966 foi quatro vezes ao Morés, com o apoio de outras forças. Da primeira vez conseguiram capturar material. Na segunda, em Junho, o guia fugiu na altura decisiva e valeu-lhe um segundo guia para indicar o caminho da retirada. A terceira investida foi em Setembro, com o apoio dos páras e de artilharia; tiveram dificuldades, levaram porrada antes de lá chegar, e os páras não quizeram mais e retiraram para Mansabá. Em Outubro chegaram a Morés, mas a base estava abandonada. Diz ele que: "Era visivelmente uma base em fim de estação, com certeza tinha conhecido melhores dias. Ou então a ficção tinha-se sobreposto à realidade e a imaginação dos homens composto um cenário surrealista!..."

Ele é de opinião que o IN abandonara o Morés por questões tácticas e colocara a base numa mata profunda. No meu tempo, em 1967, pensámos que se mudara para Sinchã Jobel. Era, de facto, a táctica do PAIGC: mudar com frequência as suas bases, sobretudo qundo as via em perigo ou demasiado recomhecidas.

A companhia dele esteve depois no Biambe.

Em resumo, gostei do livro escrito por este militar de carreira. Tem um olhar crítico sobre a preparação antes de ir para a Guiné. Curiosamente, fez o IAO, como eu, na serra de Sintra e na Carregueira. Foi uma lástima para ele, como foi para mim. Como profissional fez a guerra, mas reconhece que esteve envolvido num processo sem saída. O livro, com um traço de humanidade sentida, procura transmitir os sentimentos dos intervenientes, tem relatos de actividade opracional, tem um perspectiva correcta sobre o povo da Guiné, o IN é um combatente sério e motivado. Vale a pena ler.

Curiosamente (para mim), quem assina o texto do prefácio é o Gen Octávio de Cerqueira Rocha, que era Oficial de Operações do BCAÇ 1857, o tal para onde a companhia do coronel Piçarra Mourão foi como adida. O "Vidrão" (a alcunha que foi dada ao Gen Cerqueira Rocha quando foi Chefe do Estado-Maior do Exército) diz que a companhia do coronel Piçarra Mourão era a CART 1525.

A. Marques Lopes