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terça-feira, 5 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25440: S(C)em Comentários (29): como foi possível a tragédia de Gamol, Fulacunda, na sequência da Op Lenda, em 7 de outubro de 1965 ?!... (Joaquim Luís Fernandes, ex-alf mil, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973/74)

1. Comentário ao poste P25234 (*), com assinatura de Joaquim Luís Fernandes, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973/74:


Não conhecia esta história e confesso que fiquei sensibilizado com a sua narrativa. A minha primeira reação foi de incredibilidade. Como teria sido possível? Duas companhias sofrerem uma emboscada de armas ligeiras, a que pelos vistos não reagem, e sem baixas, nem mortos nem feridos, fogem para o quartel em debandada.

Não consigo descortinar uma razão para este procedimento. Qual terá sido a causa? A zona era assim tão perigosa, com o IN a dominar toda aquela região, com uma área de 15 por 15 Km, confinada pela foz de 2 rios navegáveis?

Depois fico angustiado: Como me sentiria eu, se tivesse sido um dos que regressaram a Fulacunda, sabendo que não regressaram ao quartel seis  camaradas? Quais os sentimentos dos Comandos dessas unidades que,  não os procurando de imediato, organizam uma busca no dia seguinte,  e que,  não os conseguindo encontrar nessa operação, desistem de os procurar? Que sentido faz, organizarem uma busca 10 dias depois?

E tudo isto se passou relativamente próximo de Bissau, do QG.

Se as tropas sitiadas em Fulacunda, não estavam capacitadas (?) para conhecerem e controlarem a região onde se inseriam, não havia outras forças à disposição do Com-Chefe, para atuarem de imediato, por terra, pelos rios e pelo ar, para detetarem os seis militares perdidos e acossados pelos guerrilheiros ?

Eu nada conheço do que se passava naquela região a esse tempo! Era uma região sob o domínio da guerrilha? Mas seria assim tão difícil libertar essa região do seu domínio?

O que mais me choca, é reconhecer como os soldados e os milicianos que alinhavam no mato, eram tratados, como carne para canhão,(salvo raras exceções) pelos seus superiores, oficiais, militares profissionais, oriundos da Academia Militar, que raramente saiam da sua área de conforto, o reduto do quartel, bem protegido com abrigos e cercas de arame farpado e torre de vigia com sentinelas.

Este episódio narrado, destes seis camaradas abandonados nas matas, perseguidos pela guerrilha e à mercê da sorte, para mim é chocante. Evidencia a desumanidade de alguns Comandantes, indignos da farda que envergavam e dos galões que ostentavam, para quem a vida dos seus subordinados pouco ou nenhum valor tinha. Era esta a perceção que tinha de alguns militares profissionais que conheci, que ainda me tornavam mais anti-militarista.

Resta-me acrescentar que esta minha sensibilidade exacerbada, perante este caso narrado, se deve a sentir que algumas das "operações" que me foram ordenadas, eu e aqueles que me acompanhavam, fomos usados como carne para canhão, na cruel perspetiva de nos provocar baixas, com que o sinistro oficial de operações, em final de comissão, agregaria ao seu miserável palmarés.  (**)

Atentamente
JLFernandes


2. Breve CV do nosso camarada, que integra a Tabanca Grande, membro nº 621,  desde 29/12/2013:

(i) Joaquim Luís Fernandes, natural e residente em Maceira, concelho de Leiria;

(ii) Assentou praça (recruta) em janeiro de 1972 no RI 5 nas Caldas da Rainha com o número 06067572;

(iii) No 2º trimestre esteve em Mafra na EPI e fez o COM como cadete de infantaria;

(iv) No 3º trimestre voltou ao RI 5 como aspirante a oficial miliciano e foi instrutor, dando aí uma recruta;

(v) Foi mobilizado em setembro ou outubro de 1972, mas só em 20 janeiro de 1973 teve voo para a Guiné, depois de longo adiamento que o deixou solto e sem quartel durante 3 meses;

(vi) Apresentou-se no QG em Bissau como alf mil inf em 20 janeiro de 1973 (data da morte de Amílcar Cabral) ficando (no famoso Biafra) a aguardar coluna de transporte para Teixeira Pinto onde iria ser integrado na CCaç 3461/ BCaç 3863 comandada pelo cap Mil Gouveia;

(vii) Em Teixeira Pinto substituiu, em rendição individual, o alf mil Marques, que tinha sido evacuado para a Metrópole; comandou um pelotão (grupo de combate "Os Americanos");

(viii) Teve como principais missões, a escolta de colunas e o patrulhamento de segurança e de reconhecimento ofensivo;

(ix) No fatídico dia 1 de fevereiro de 1973, domingo, fez o seu primeiro serviço de oficial dia e o seu grupo estava de piquete: um trágico "batismo" para um "pira". (***);

(x) Está reformado, tendo trabalhado na indústria de moldes;


________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25234: 20.º aniversário do nosso blogue: Alguns dos nossos melhores postes de sempre (1): Um dos episódios mais trágicos da nossa guerra, no decurso da Op Lenda, em 7/10/1965, Gamol, Fulacunda

(***) Vd. Excerto do "Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura", do nosso camarada António Graça de Abreu, pág. 73/74: (...) Canchungo, 1 de Fevereiro de 1973 (...)
 

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25104: Casos: a verdade sobre... (42): O "making of" do livro do Amadu Djaló (1940 - 2015), "Guineense. Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il.) (Virgínio Briote)



Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande > 20 de Junho de 2009 > Em primeiro plano, o Virgínio Briote e o Amadu Djaló, um e outro muito acarinhados por todos. Não sei o que é o que Virgínio, um homem sábio, europeu, estava a pensar, mas possivelmente estava a organizar a sua resposta à questão, pertinente, levantada pelo Amadúnico,    outro homem sábio, africano: 

"Os portugueses, a alguns povos, deram-lhes novos nomes e apelidos, livros para estudar e consideraram-nos civilizados. Desta civilização não precisávamos, mas faltava-nos a cultura, porque a cultura, de onde sai não acaba e de onde entra não enche. E no nosso Alcorão está tudo, moral, comportamento cívico e civilização e nós não precisávamos de ser civilizados, o que nos faltava era escola para aumentar os nossos conhecimentos"...




Projecto de capa do livro do Amadu Djaló, membro da nossa Tabanca Grande, já entretanto alterado... Finalmente, e depois de um longo calvário, chegam ao fim os árduos trabalhos do "making of"  do livro, da história de vida do Amadu que teve, no Virgínio Briote, mais do que 'copy desk', um editor literário, um amigo, um camarada, um confidente, um cúmplice, um advogado de defesa, um verdadeiro defensor dos seus interesses, editoriais, morais  e materiais. (...Na edição do 1º volume, que esteve cargo da Associação de Comandos, estava-se então, em fevereiro de 2010,  na fase final de revisão de provas tipográficas. O Virgínio referiu nessa altura a excelente colaboração de dois camaradas nossos, o Carlos Silva e o Manuel Lema Santos. (...)  (LG) (*)


Lisboa >  Museu Militar >  15 de Abril de 2010 > Lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló,  membro da nossa Tabanca Grande, "Comando, Guineense, Português" (Lisboa: Associação dos Comandos, 2010, 229 pp., 150 fotos, preço de capa: 25 €). 

O Amadu e a seu lado a filha (e o neto, que não se vê na foto)...  Foi pena que, entretanto,  não tenha saído em vida o 2º volume, com as aventuras e desvanturas do autor, a seguir à independência do seu pais. Vivia então em Portugal, na Amadora. Acabou a sua carreira militar como alf comando graduado, na CCAÇ 21, comandada pelo ten cmd grad Jamanca, um dos primeiros camaradas guineenses a ser fuzilado pelo PAIGC.


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló, membro da nossa Tabanca Grande, aqui na foto com o presidente da Associação de Comandos, dr. José Lobo do Amaral... 

Nas suas palavras de abertura, Lobo do Amaral  fez questão de, em nome da associação,  agradecer "ao sócio comando Virgínio António Moreira da Silva Briote a disponibilidade, competência e dedicação com que acompanhou esta Memória, sem a qual não teria sido poossível esta edição"... 

No final, também nos agradeceu a divulgação dada pelo nosso blogue e manifestou o seu regozijo pela entusiasmo com que foi recebida o 1º volume das memórias do Amadu bem pelo pluralismo das abordagens dos oradores.

Fotos (e legendas): © Luis Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Comentário de Virgínio Briote ao poste P25087 (**):

O Amadu depois do fim do Gr Cmds  "Fantasmas",  do Maurício  Saraiva, voltou para o QG e foi o Luís Rainha que, sentindo que o seu grupo tinha poucos guineenses experientes, o foi lá buscar e trouxe também o Kassimo. 

O Amadu distinguia-se pelas maturidade e pelo bom senso na análise das situações.

Quando o reencontrei em Lisboa, aí por 2005 (o meu anos da reforma), falou-me das recordações que tinha da sua Guiné, da sua família. Pouco tempo depois o Presidente da Assocaição de Comandos  telefonou-me, convidando-me a visitar as instalações na Duque d'Ávila. 

No contacto que tivemos pediu-me um artigo sobre os Gr Cmds do CTIG dos anos 1965/66. Foi pouco depois da publicação do artigo que me voltou a telefonar para novo encontro na Associação. E foi nesse encontro que me falou dos dois maços de folhas A4, que eram uma espécie de diário do Amadu Jaló. 

E depois, foi a leitura ou tentativa de leitura porque havia muitas partes ilegíveis para mim, o reencontro com o Amadú, a visita a casa dele, e o programa que estabelecemos para o esboço do livro. 

Seguiu-se o trabalho, encontros em minha casa, almoçávamos juntos, esclarecíamos dúvidas e andávamos para a frente. Ele fazia questão do livro ser "exactamente" o que tinha escrito, sem nenhum desvio. Foi um trabalho muito longo, por vezes ele adoecia ou tinha alguém em casa doente ou visita da Guiné, o que fez com que dessemos o trabalho pronto para entrega, quase um anos depois. 

O que se passou depois foram divergências, talvez o acordo entre as partes não tenha ficado bem claro, o que levou o Amadú a ficar um tanto queixoso da Associação de Comandos..

Amadu Djaló
Ficou no meu espírito a ideia que era um Homem. Adorava a sua Família e a sua Guiné. E estava numa fase de grande tristeza pela falta de rumo da vida política na sua Terra. Nos últimos meses da sua vida as dificuldades respiratórias acentuaram-se. Levei-o várias vezes ao Hospital Amadora-Sintra, deram-lhe alta e não havia ninguém para o ir buscar. Era inverno, peguei no sobretudo e fui buscá-lo ao hospital para o levar para casa. Não tinha roupa, deixei-o ficar em casa bem agasalhado.

Tempos depois foi novamente internado no Hospital de Belém e lá encontrei o cor Raul Folques em visita a um familiar muito chegado e lhe disse que ia visitar o Amadú. 

Vários episódios se repetiram até que ele queria escrever outro livro, eu disse-lhe que não contasse com a minha ajuda por motivos facilmente compreensíveis.  Ofereceu-me um molhe de folhas A4 e disse para eu fazer o que quisesse com elas. Morreu dias depois e, conforme nos tinha pedido, queria ser enterrado em Bafatá junto aos Pais.

Para finalizar este comentário que já vai longo, o Amadu Djaló, amava a sua Família, a Guiné e Portugal.
V Briote

Nota: este comentário vai sem revisão. Desculpem.


2. Comentário adicional de Joaquim Luis Fernandes ao poste P25087 (**)

Não sei porquê, mas ao acabar de ler o comentário do camarada Virgínio Briote, fui acometido por um sentimento de profunda dor, que me arrasou os olhos de água.

A dor e os dramas que a guerra tece! Quem nela andou e sofreu jamais os esquece.

Para o Amadu Djaló que partiu, que descanse em paz. Para todos nós ainda vivos, que não nos falte a paz.

Que saibamos optar sempre pela concórdia e pela paz E a exemplo dos Maiores, amar a Família e a Pátria Mesmo sentindo que algumas vezes nos é ingrata.

Abraços Fraternos
JLFernandes


3. Em complemento deste importante esclarecimento feito pelo Virgínio Briote, e que editamos na série "Casos: a verdade sobre..." (***): comentário do editor LG ao blogue criado em dezembro de 2010 pelo filho do Amadu Djaló, que vivia em Londres, Idriça Djaló, e que infelizmente não teve continuidade, embora ainda se mantenha "on line" (****)


Meu camarigo (camarada e amigo) Amadu:

Soube pelo teu mano Briote que estavas agora em Londres, ao pé dos teus filhos. Nós estamos bem onde estão os nossos entes queridos. Desejo-te boa estadia e boa saúde. Esse clima não é o melhor para os teus problemas respiratórios. 

Em contrapartida, tens o carinho e o amor da tua família. Na vida nunca temos tudo. Sei também do teu desejo de ainda voltar à tua terra, à nossa querida Guiné. Vamos manter acesa a chama da esperança. Isso vai concretizar-se, esse teu sonho. 

Até lá ficamos também a aguardar a publicação do teu 2º livro de memórias. É importante que o completes. Confia no Briote, que tem sido mais do que teu amigo e irmão. E confia em nós, os membros do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, onde tens muita gente que te estima, admira e leu o livro. (...) . 

Parabéns por este blogue que te abriu o teu filho Adriça. Mas é preciso alimentá-lo... Prometemos vir cá de vez em quando... 

Um Alfa Bravo (ABraço). Mantenhas para toda a família. Luís Graça
 
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de fevereiro de  2010 > Guiné 63/74 - P5883: Biliografia de uma guerra (55): Lançamento, previsto para fins de Março, do livro do Amadu Djaló, Guineense, Comando, Português: 1º Volume: Comandos Africanos, 1964-1974 (Virgínio Briote)


(***) Último poste desta série > 17 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25079: Casos: a verdade sobre... (41): "Canquelifá era o seu nome" - Uma batalha de há 50 anos (José Peixoto, ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883, 1972/74) - IV (e última) Parte: O nosso batismo de fogo, na bolanha do Macaco-Cão, em 29 de agosto de 1973

(****) Vd. poste de 6 de dezembro de  2010 > Guiné 63/74 - P7391: Blogues da nossa blogosfera (40): Amadu Bailo Djaló, agora em Londres: Guineense, Comando, Português (Idriça Djaló)

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25087: S(C)em Comentários (26): Os últimos anos do Amadu Djaló foram de amargura e arrependimento? (António Graça de Abreu / Joaquim Luís Fernandes / Cherno Baldé / João Crisóstomo)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966. (Foto reproduzida no seu livro de memórias, na pág. 149).


1. Estamos quase a acabar a publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015)... Sem nos queremos antecipar ao que nos falta ler, e perceber melhor o fim da sua hstória de vida como militar e como homem, aqui ficam as últimas três ou quatro linhas com que encerra o livro, "
 Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada).

(...) "Deixámos o passado para trás. Por quê o ódio? E a vingança? Qual é o destino da vingança? É a guerra! Qual o destino final da guerra? Estropiados, sangue, lágrimas, pobreza, suor, trabalho.

Vai demorar muitos anos para acabar com a pobreza." (...)


Entretanto, fizemos uma seleção de comentários ao Poste P25009 (*), em que o Cherno Baldé escreveu: "os últimos anos do Amad Djaló (...) devem ter sido de uma grande amargura e de arrependimento", afirmação que deu origem a vários comentários, de que aqui vai uma seleção (**). Falta-nos o testemunho fundamental do seu editor literário, camarada e amigo, o nosso coeditor jubilado Virgínio Briote:

(i) António Gaça de Abreu:

Conheci o Amadu Djaló, aqui em Lisboa, pouco antes dele partir, na viagem definitiva, e não me pareceu ser uma pessoa marcada por grande amargura e arrependimento, coisas que também não transparecem nos seus textos que o Virginio Briote alinhou.

Não estará aqui o Cherno Baldé a dar uma no cravo e outra na ferradura?

Abraço | António Graça de Abreu | 28 de dezembro de 2023 às 22:38



(i) Joaquim Luis Fernandes:

Este comentário, do respeitável amigo Cherno Baldé, não é de fácil compreensão.

Que havia oficiais, alguns superiores, que deixavam muito a desejar, no seu caráter humanista e de militares exemplares, nada a dizer! Até eu, disso me apercebi, infelizmente.

Que os Soldados Comandos da Guiné eram homens destemidos, leais e valorosos, ao serviço do exército português na Guiné, com várias motivações para se alistarem no BCMD da Guiné, é um facto bem evidenciado.

Agora dizer, que ficariam melhor ao lado do PAIGC, por troca com os guerrilheiros do PAIGC, que atentaram contra a vida de Amílcar Cabral... não entendo!

O que tinham de comum, com o exército português, Inocêncio Kanie e os seus companheiros, que vindos da base naval no Mar Negro, da antiga União Soviética, e regressados a Conákri se encontraram com Momo Turé e outros seus camaradas, para se constituirem como grupo conspirador?

29 de dezembro de 2023 às 11:32



(iii) Cherno Baldé:

Caros amigos,

Vocês, na qualidade de antigos combatentes, veteranos, que sentiram no coração, na carne e no osso as agruras da guerra da Guiné, estão melhor colocados para ajuizar dos desabafos e sentimentos de um ex-colega embora esteja convencido que poucos pudessem estar na sua pele de ex-soldado 'comando', a quem podiam atirar em zonas quase desconhecidas e de perigo extremo como o aqui relatado caso da Caboiana onde até os bravos comandos não estiveram à altura de cumprir com o seu lema sagrado de " nunca deixar ninguém para trás". Muito triste.

Também, parece que a política de reformas no caso dos militares na Guiné contrasta com a portuguesa, pois o mais frequente é promoverem o candidato a um escalão superior de forma a atenuar as condições de vida, embora saibamos que não há termos de comparação entre os dois países, mas pelo menos o tratamento parece mais humano e aceitável.

Em 1998, durante a guerra civil em Bissau, desloquei-me à cidade fronteiriça de Kolda em visita familiar e, ao constatar as deploráveis condições sócio-económicas em que viviam, sem luz, sem água, eu disse-lhes: "Vocês têm todo interesse em se juntarem aos rebeldes da MDFC". 

No dia seguinte agradeceram-me educadamente e pediram-me para regressar ao meu país, o que fiz sem hesitar, mas sem quaisquer remorsos.

Cordialmente | Cherno Baldé | 29 de dezembro de 2023 às 12:16



(iv) Joaquim Luis Fernandes

Caro amigo Cherno, acredita que aceito e compreendo o teu desabafo! É um facto que nem sempre as chefias do exército português respeitaram e protegeram os seus soldados, e de forma mais evidente. os oriundos do território guineense.

Nem todos honraram a farda que envergavam e a bandeira que juraram defender. Tal como no PAIGC havia traidores à causa que defendiam, também os havia infiltrados nas Forças Armadas Portuguesas na Guiné. A forma como se abandonaram os seus soldados guineenses, diz muito dessa atitude de desrespeito e mesmo de traição.

Para ti, a tua família e os amigos da Guiné-Bissau, faço votos de um novo ano de 2024, com boa saúde, paz e prosperidade.

Abraços fraternos | JLFernandes | 30 de dezembro de 2023 às 22:47



(v) João Crisóstomo:

Nova iorque, às 04.58 da manhã do dia 17 de Janeiro de 2024.

Ler os comentários de posts é uma das coisas que gosto de fazer, pois eles de alguma maneira nos transmitem os sentimentos muito pessoais de quem os escreve.

Estes e outros comentários deixam-me triste pela amargura e sofrimento evidentes em muitos de nós ainda hoje existentes passados 50 anos.

Não sei o que dizer para tentar "suavizar" os corações e mentes de quem escreve estas palavras. É que também eu choro quando me lembro do muito que se sofreu , especialmente daqueles que dum lado ou outro acreditavam que deviam lutar, prontos a dar a sua vida por aquilo em que acreditavam, incluindo a amizade que unia muitos de nós. Dum modo especial os que o sofreram em circunstancias trágicas, fora e longe de momentos de luta armada , mas barbaramente mortos em momentos fora de combate, como sucedia por vezes durante os muitos anos que a luta durou, especialmente em situações de vinganças e represálias.

É com respeito e dor que vivo também estes momentos de dor e me associo a todos os que escrevendo e lembrando, como estou fazendo agora, estejam aida hoje à procura de paz.
"Estou convosco" é tudo que posso dizer.

João Crisóstomo | 17 de janeiro de 2024 às 10:02

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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 28 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P25009: S(C)em Comentários (24): Os últimos anos do Amadu Djaló (1940-2015) devem ter sido de uma grande amargura e de arrependimento (Cherno Baldé, Bissau)

(**) Último poste da série > 17 de janeiro de 2024 > Guné 61/74 - P25078: S(C)em Comentáios (25): Salvemos a nossa correspondência de guerra, e nomeadamente os aerogramas que escrevemos (amarelos) e que recebemos (azuis)

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P25006: Casos: a verdade sobre...(36): A morte do Braima Djaló, o irmão do Amadu Djaló e de outros 'comandos' do BCmds, na Caboiana, e do aprisionamento do tenente graduado 'comando' António Jalibá Gomes, cmdt da 3ª CCmds (Joaquim Luís Fernandes, ex-alf mil, CCAÇ 3461, Teixeira Pinto, 1973/74)

  
Guiné > Região de Cacheu > c. 1973 > O  alf mil Joaquim Luís Fernandes "num patrulhamento de carácter ofensivo, em áreas de contacto eminente, nas matas da Península do Balanguerez até Ponta Costa, bem junto à Caboiana".

Foto (e legenda): © Joaquim Luís Fernandes  (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Joaquim Luís Fernandes, ex-alf mil, 
CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1973/74);
integra a Tabanca Grande desde 21/6/2013: 
empresário, natural de  Leiria onde vive

1. Comentário do nosso camarada Joaquim Luís Fernandes ao poste P24991 (*)

Esta operação à Caboiana [ em que mnorreu o Braima Djaló, irmão mais novo  do Amadu Djaló, ] terá ocorrido a 24 de Setembro de 1973, data histórica para o PAIGC e que também não esqueço: nesse dia vim de férias, depois de, nos 6 meses anteriores, ter patrulhado as matas da região do Churo, entre o rio Costa (península do Balanguerez) e o rio Caboi, a norte do Burné e próximo Ponta Costa, junto da Caboiana, com o tarrafo a separar as matas.

Esta operação terá sido a primeira e a última, naquela mata e base do PAIGC, ocorrida no ano de 1973. Consta que a esse tempo, a dotação dos efetivos dessa base IN, era de 4 bigrupos de infantaria, 1 bigrupo de fuzileiros e 2 baterias de artilharia.

Bem testemunhei a atividade da guerrilha do lado de lá do tarrafo, quando patrulhava junto a Burné, ouvindo os tiros, que mais me pareciam de instrução em carreira de tiro. Um dia, em que aí estávamos instalados, enquanto do Bachil era disparado o obús para a Caboiana, ouvi de perto uma rajada, talvez para denunciarmos a nossa presença, o que não aconteceu. Saímos dali sem dar um tiro.

Ainda não compreendi, porque o Com-Chefe permitia a existência daquela base IN, naquela mata do interior, rodeada de tarrafo e rios, confrontando a norte com o rio Cacheu.

Com tanta tropa ao redor, parecia-me que seria possível a sua extinção ou impedimento do seu abastecimento de armamento, víveres e deslocações.

Um dia, talvez em finais de agosto ou já em setembro de 1973, num dos patrulhamentos de reconhecimento ofensivo, vim a encontrar junto ao rio Caboi, próximo de Ponta Costa, camuflado debaixo de uma grande e frondosa árvore, o que seria um local de pernoita dos guerrilheiros, equipado com beliches feitos com paus, e esteiras como colchões. Na beira dos rio, existia uma pequena árvore inclinada para o seu leito, que servia de ancoradouro das canoas. Estava bem visível no tronco, as marcas das cordas de ancoragem.

Penso hoje que esse local servia de porto, para o movimento fluvial, entre a Caboiana e o Senegal, via rio pequeno de S. Domingos, travessia do rio Cacheu, e entrada no rio Caboi, até aí.

E o Cacheu ali tão perto e com um Destacamento de Fuzileiros Navais, sem nada verem, sem nada impedirem.

Segundo informação de um irmão de Zacarias Saiegh, também ele Comando na Guiné, a residir em Portugal, nessa operação de 30 de setembro de 1973, terão morrido, além do Braima Djaló, entre outros, o furriel Quintino Rodrigues. vários feridos não mencionados e aprisionados vários elementos dos Comandos, entre eles o comandante da 3ª Companhia, tenente António Jalibá (e não Jaiba) Gomes, os cabos Albino Tuna, Eusébio Fodé Bamba, entre outros.

Não compreendo como foi preparada esta operação, pelas trágicas consequências! O que se esperava em Bissau? Que a base da Caboiana estivesse desativada ou sem capacidade de defesa?


[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]


Guiné > Região de Cacheu > Carta de Cacheu / São Domingos (1953) > Escala 1/50 mil > Pormenor dos rios Cacheu e seus afluentes: Pequeno de São Domingos (margem norte); Caboi, Caboiana  e Churro (margem sul), a montante da vila de Cacheu.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015).


2. Comentário do editor LG:

No seu livro de memórias, o Amadu Djaló lista, no final, os nomes sos seus camaras do BCmds da Guiné mortos em combate, bem como por doença ou acidente. No 25 de setembro de 1973, na mata da Caboiana (ou "Cobiana", como ele escreveu) constam très nomes:
  • Quintino Rodrigues, furriel graduado, 1ª CCmds;
  • Lama Jaló, soldado, 3ª CCmds;
  • Braima Djaló, soldado, 3ª CCmds.

No portal UTW - Ultramar Terraweb pode ler-se sobre o António Jalibá Gomes, tenente graduado 'comando' (com base em "elementos cedidos pelo veterano J C Abreu dos Santos");

(...) "Durante a manhã de 3ª feira, do dia 25 de Setembro de 1973, no decurso da Operação Gema Opalina efectuada pelo Batalhão de Comandos da Guiné (BCmdsG) (....) no noroeste da Guiné, quando em progressão entre a mata da Caboiana e o Bachile, sucessivas emboscadas de toca-e-foge lançadas pelo PAIGC (...)  causam às Nossas Tropas três mortos; e logram capturar cinco 'comandos' - entre eles o comandante da 3.ª Companhia do Batalhão de Comandos da Guiné (3ª/BCmdsG) (...)  -, quatro dos quais, pouco depois torturados, selvaticamente fuzilados, seus corpos abandonados pelo inimigo na mata e nunca recuperados pelas Nossas Tropas (...)

Em 14 de Setembro de 1974 libertado pelo PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) com outros cativos, por troca de prisioneiros das Nossas Tropas.

(...) "Corpos não recuperados, conforme relatório emitido em 21Mai1974 pela 1ª Rep/QG/CTIG:

Todos da 3.ª Companhia do Batalhão de Comandos da Guiné:

Albino Tuma, Soldado ‘Comando’, n.º 82043572

Ali Jamanca, Soldado ‘Comando’, n.º 82001667

Orlando Jamba Sá, Soldado ‘Comando’, n.º 82099472

Vicente Jalá, Soldado ‘Comando’, n.º 82069772" (...)

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24954: S(C)em Comentários (23): João Crisóstomo, Prémio Tágides 2023 (Categoria "Portugal no Mundo")




Lisboa > Fundação Calouste Gulbenkian > 11 de dezembro de 2023 > João Crisóstom,o, vencedor do Prémio Tàgides 2023, na categoria "Portugal no Mundo", uma iniciativa da All4Integrity-

Fotos: Cortesia da página do Facebook de Cristina Crisóstomo


1. Comentários recentes (*) sobre o tema, de alguns dos nossos camaradas... Os demais leitores podem também pronunciar-se (**)

(i) Eduardo Estrela  (Faro):

Houve portugueses da história recente deste país que amamos, que desobedeceram a César por amor de Deus e da humanidade. Aristides de Sousa Mendes e o general Vassalo e Silva são exemplos de homens capazes de afrontar o mal oriundo de mentes agrilhoadas e obscuras.

Bem hajam os que continuam a lembrar a integridade humana e intelectual desses homens, como é o caso do João Crisóstomo no que a Aristides de Sousa Mendes diz respeito.

A humanidade continua, cada vez mais, a precisar de vultos que se revoltem contra os poderes instituídos que espezinham, destroem, matam e reduzem a cinzas em nome de nada, os que somente aspiram a uma vida melhor. (...)
 
4 de dezembro de 2023 às 14:14 

(ii) Valdemar Queiroz (Cacém / Sintra): 

O nosso camarada da guerra na Guiné tem várias vezes me telefonado e enviado e-mails para saber como eu tenho passado da minha doença, e com o desejo de me visitar quando viesse a Portugal. Eu fico sempre muito sensibilizado com as suas preocupações, por não nos conhecermos de lado nenhum.
No último e-mail escrevi-lhe como o reconhecia, assim:

"João Crisóstomo a tua vontade de ajudar as pessoas é por seres um homem bom com sentimentos muito elevados. Tens-te como possuído por sentimentos religiosos 'amai-vos uns aos outros' para sentires essa vontade de ajudar os outros, que assim seja, não vejo a religião para outra coisa." (...)

 4 de dezembro de 2023 às 16:53 

(iii) José Câmara (Soughton, MA, EUA):

Confesso que gosto do João, da sua atitute. O telefone é a sua G3 na comunicação com os amigos. Aqui e ali, muito mais graças a ele, comunicamos. Para ele o mundo não tem fronteiras. Bem hajas João!
Abraço transatlântico.

11 de dezembro de 2023 às 01:08 

(iv) Luís Graça (Lourinhã):

João, tu mereces. Tu, o António Rodrigues e tantos outros luso-americanos que nunca esqueceram a terra que vos viu nascer.

Por certo que o júri (constituído por por personalidades que venceram o prémio nas duas edições anteriores) ficou impressionado não só com a competência, o empenhamento e a determinação que tens posto na defesa destas nobres causas, como também com a tua capacidade de mobilização e trabalho de equipa... Isto é liderança... Nada se faz sozinho, ninguém é herói solitário.

Fíco contente também por ti e pelos Crisóstomos & Crispins que te inspiram, e te deram exemplos e valores...

Afinal, quem disse que ninguém é profeta na sua terra ? Claro que Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras, não tem a mesma visibilidade de Queens, Nova Iorque...

12 de dezembro de 2023 às 08:32 

(v) António Carvalho (Carvalho de Mamaptá) (Medas / Gondomar):

Tenho muito orgulho em saber que tenho entre os camaradas da Tabanca Grande e combatente da guerra da Guiné um camarada com estes grandes méritos aqui referidos, entre outros que também terá. Parabéns, Crisóstomo, pelo que tens feito de extraordinário, nomeadamente pela causa das Gravuras do Coa e pela reabilitação e nobilitação da memória de Aristides de Sousa Mendes. (...)

12 de dezembro de 2023 às 11:12

(vi) Hélder Sousa (Setúbal): 

Caros amigos: Todas as palavras elogiosas do João Crisóstomo e das suas obras não são demais. É com grande satisfação (e orgulho "por conta") que lhe reservo toda a consideração e estima.
É verdadeiramente um "bom homem" e um "homem bom". (...)


(vii) Manuel Luís Lomba (Barcelos):

Felicitações ao João Crisóstomo, por mais esta distinção. Grande honra nossa de ter e privar com camarada desta dimensão.(...)

13 de dezembro de 2023 às 10:31 

(viii) Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos):

Ter alguém como o João Crisóstomo, que faz o favor de ser nosso amigo, é um privilégio.

Caro João, um abraço e votos de muitas felicidades.

13 de dezembro de 2023 às 18:49 

(ix) Joaquim Luis Fernandes (Leiria):

Bem merecido o prémio Tágides 2023, a João Crisóstomo!

Parabéns e muitas felicidades. (...)

13 de dezembro de 2023 às 19:47 

___________

Notas do editor LG:

(*) Vd. postes de 

13 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24947: João Crisóstomo, Prémio Tágides 2023 (Categoria "Portugal no Mundo"): uma vida, muitas causas - II (e última) Parte

12 de dezembro de 2023: Guiné 61/74 - P24945: João Crisóstomo, Prémio Tágides 2023 (Categoria "Portugal no Mundo"): uma vida, muitas causas - Parte I

4 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24915: (In)citações (261): João Crisóstomo, já que chegaste a finalista do Prémio Tágides (edição 2023), na categoria "Iniciativa Portugal no Mundo", esperamos que no dia 11 deste mês, na cerimónia de revelação dos vencedores, os nossos bons irãs estejam contigo e com as causas que tens defendido, com o empenho e a competência também de muita outra gente da diáspora lusófona e de outros cidadãos do mundo

(**) Último poste da série > 13  de dezmbro de 2023 > Guiné 61/74 - P24948: S(C)em comentários (22): Caçadores de Angola...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21605: Os nossos capelães (14): João Baltar da Silva (Santo Tirso, 1944 - Moçambique, 2011): fez duas comissões no CTIG, de 16/9/1971 (Joaquim L. Fernandes, ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974)



Pe. João Baltar da Silva (1944-2011)

Foto: Cortesia do blogue Aviagens, de Armando Cabreira



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 
14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real > 
O Joaquim Luís Fernandes (Maceira / Leiria). 
Tem 15 referências no nosso blogue.É o autor da série "Acordar Memórias"

Foto: © Manuel Resende (2014). Todos os direitos reservados. 
[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário de Joaquim Luís Fernandes [ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974], ao poste P21594  (*):


Caro Luís Graça, quando em 2013, quase 40 anos volvidos do meu regresso da Guiné, iniciei o processo de acordar as minhas memórias desse tempo, uma das personagens que se ergueu foi a do capelão P. João Baltar. 

Tinha sido meu amigo, confidente e confessor. Muitas foram as conversas que travamos, não tanto no bar, onde nem sempre havia ambiente para tal, mas mais nas nossas passeatas, ao fim da tarde, avenida acima, avenida abaixo, da pacata vila/cidade de Teixeira Pinto [, hoje Canchungo].

Nas minhas pesquisas na Net para o encontrar, foi com profunda mágoa que li a notícia do seu falecimento em Malema, diocese de Nampula-Moçambique, em 5 de Dezembro de 2011, depois de ter sofrido um AVC que o debilitou e levou à morte.

João Baltar da Silva nasceu em Burgães, Santo Tirso, a 15 de Agosto de 1944. Foi ordenado sacerdote no Seminário de Cucujães a 28 de Julho de 1968.

Integrado na Sociedade Missionária da Boa Nova [, fundada em 1930 como "Sociedade Missionária Portuguesa"], partiu em Missão para Porto Amélia [, hoje Penha,] em Outubro de 1969.

Regressou em 1971 para ser incorporado no exército como capelão militar, tendo partido para a Guiné em 16/9/71 e regressado em 23/6/74. Duas comissões.

Depois da tropa, ainda em 1974, regressou como Missionário a Porto Amélia [, hoje Penha].

De regresso a Portugal, é em 1982 nomeado para a equipa formadora no Seminário de Valadares. Também exerceu as suas funções como sacerdote e professor, com elevado prestígio e reconhecimento, em outras localidades, entre elas Cucujães e Cernache.

Em 1987 parte novamente para as Missões em Moçambique, tendo ministrado em Pemba, Maputo, Chibuto, Matola e Malema.

Em 1994 pediu a nacionalidade Moçambicana.

No testemunho dos que com ele conviveram, se depreende ter sido um Missionário dedicado na sua Missão de evangelizador, mas que não ignorava as realidades humanas daqueles a quem se dirigia, estudando as suas culturas, o que eu já me tinha apercebido quando convivi com ele em Teixeira Pinto. 

Era um profundo conhecedor da cultura Manjaca e chegara a presenciar alguns dos seus ritos animistas.
Consta que ao longo da sua vida, nomeadamente em Moçambique, se referia às suas experiências e amizades de capelão na Guiné.

E é tudo por agora.
Votos de boa saúde e um Natal fraterno, mesmo que confinados.

Um abraço

Joaquim L. Fernandes

______________

Notas do editor:



(**) Vd. poste de 17 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19023: Os nossos capelães militares (9): segundo os dados disponíveis, serviram no CTIG 113 capelães, 90% pertenciam ao Exército, e eram na sua grande maioria oriundos do clero secular ou diocesano. Houve ainda 7 franciscanos, 3 jesuitas, 2 salesianos e 1 dominicano.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13333: (Ex)citações (234): Comentários ao poste do António Medina sobre os acontecimentos de 1964 em Jolmete: Vasco Pires, António Graça de Abreu, Manuel Carvalho, Joaquim Luís Fernandes, Júlio Abreu, Manuel Luís Lomba, António Rosinha e António Medina



Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70 > As NT e a população.

Foto: © Manuel Carvalho (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem;:LG]

Publicamos, seguindo uma ordem cronológica, os comentários suscitados até à data pelo poste P13326 (*). Sobre os acontecimentos de há 50 anos em  Jolmente (ou Djolmete), evocados pelo nosso camarada da diáspora António Medina (que vive nos EUA), não encontrei até agora nenhuma referência no Arquivo Amílcar Cabral, disponível para consulta pública no portal Casa Comum. O que não quer dizer absolutamente nada.. Em muitos casos o arquivo tem muitas lacunas e é decionante...(LG)


1. Vasco Pires  [ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; membro da Tabanca Grande, a viver na diáspora, Brasil]

"War is hell,"

"You cannot qualify war in harsher terms than I will. War is cruelty, and you cannot refine it; and those who brought war into our country deserve all the curses and maledictions a people can pour out. I know I had no hand in making this war, and I know I will make more sacrifices to-day than any of you to secure peace."

General William Tecumseh Sherman

Parabéns Camarada, por conseguires exorcizar os teus "fantasmas".

PS - Esclarecimento:  Fiz a citação Major - General Sherman, por se tratar de um militar da terra de adoção do Camarada Medina.

Citei-o também, por ser o autor da célebre frase "War is hell", repetida até hoje à exaustão.

Transcrevi a frase seguinte, por ter sido feita, por um militar considerado intransigente, num momento de decisão particularmente difícil - a evacuação e incêndio de Atlanta.

Quanto a juízos de valor,nada tenho contra quem os faz, contudo, eu, tento não os fazer. (...)


2. Manuel Carvalho [ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70]

Caros camaradas: Cerca de quatro anos depois, em  junho de 68 a minha companhia, a CCAÇ  2366, chegou a Jolmete e aí permanecemos cerca de um ano. O Blog tem fotos minhas desse mesmo barracão que era o edifício com mais qualidade que existia em Jolmete.(**)

A pouca população que havia tinha sido recuperada no mato.O Régulo atual de Jolmete julgo que é o Cajan Seidi. Por acaso não te lembras do nome desse Régulo?



Diz o António Medina: "Não se trata de nenhuma minha criatividade ou ficção, mas sim a descrição verdadeira de factos sucedidos, contados a mim na altura por quem foi testemunha e participante de uma acção bastante degradante e vergonhosa."

Portanto o António Medina não assistiu aos "fuzilamentos", ouviu contar.

Não digo que não possam ter acontecido, todas as guerras são sujas, tudo é possível, até o assassínio de três majores e um alferes, mais dois guias, gente do meu CAOP 1, em 1970, militares desarmados que iam em negociações de paz, exactamente na estrada do Pelundo para o Jolmete.

Estive sete meses em Teixeira Pinto, em 1972/73, estive no Jolmete em 1972, jamais ouvi esta história. Eu sei que já haviam passado oito anos, mas "fuzilamentos" deste tipo costumam deixar lastro na memória das gentes.

Gostava que estes "fuzilamentos" fossem confirmados por mais pessoas que se possam pronunciar com verdade, com factos, não de ouvir contar. (...)

4. Joaquim Luís Fernandes [ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974]

Caros Camaradas e Amigos: Eu sou um sentimentalão! E se calhar muito ingénuo.

Ao ler esta narrativa sentia uns arrepios e um desgosto profundo e interrogava-me: Como terá sido possível tão medonho ato por parte de um corpo do exército português, formado e enquadrado por valores éticos, que condenariam em absoluto tal procedimento? Ou havia nesse tempo outra doutrina que eu desconheço?

E porque duvidar da verosimilhança da descrição do camarada António Medina?...

Tudo isto mexe comigo. Porque vivi aí os meus primeiros medos e pisei esse chão incerto e instável, sou remetido para as questões que tantas vezes coloquei a mim próprio: Porquê a antipatia que via espelhada nos rostos dos manjacos e a sua desconfiança e má vontade?

Teria a ver com a memória desses factos, ou eram memórias bem mais antigas, do tempo de Teixeira Pinto ou ainda mais antigas do tempo dos escravos do Cacheu?

Em 1973, em Teixeira Pinto, coabitávamos em paz aparente com a população local, (velhos, mulheres alguns jovens adolescentes e crianças) mas sentia que éramos "personas non gratas". Toleravam-nos enquanto os servíamos. Diziam-me os meu soldados: "Eles fazem de nós seus criados".

Também ainda não consegui encaixar bem, toda a tramóia dos assassinatos dos três majores, do alferes e dos acompanhantes, em 1970. Apesar de tudo o que li, ficaram-me vários hiatos sem explicação. Agora fico com mais esta dúvida: Será que um acontecimento não tem nada a ver com o outro? A minha intuição diz-me que sim. Pelo menos o local escolhido foi o mesmo. Porquê?... Esta história tem muito por contar! (...)

5. Júlio da Costa Abreu [ex-1º cabo radiomontador do BCAÇ 506 (Bafatá) e ex-1º cabo comando, chefe da 2.ª equipa do grupo de comandos "Centuriões" (Brá, 1964/66); a viver na Holanda }


Ser ou não ser, eis a  questão...  Ter ou não ter razão... E de quem foi a culpa de terem fuzilado em Bambadinca depois do 25 de Abril tantos soldados Comandos, como por exemplo o Jamanca e muitos outros? Ou será que depois de eles terem confiado nos novos donos da Guiné, foi a paga que lhes deram? Isso também é  motivo para serem assassinados? E a guerra realmente nunca foi limpa mas isso é normal. (...)

 6.  Manuel Luís Lomba [ ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66]

'Terei sido contemporâneo destas circunstâncias.Chegámos a Bissau (BCav 705) em 26/7/64 e a minha subunidade (CCav 703) foi de intervenção para Bula em Agosto, fez o seu baptismo de fogo em Naga e durante 20 dias reforçou a atividade operacional o BCaç 507, comandado pelo então t-coronel Hélio Felgas - que alinhava no mato.

Sem pretender sindicar a memória do camarada António Medina, acho algo de estranho. Aquele comandante exortava-nos à implacabilidade em relação à gente que nos recebesse à bala ou granada, mas incitava-nos ao cuidado de poupar populações. Enfatizava o dilema das mesmas - colocados entre a tropa e os "terroristas". Havia bastantes presos, junto à casa da guarda que recebiam o rancho geral e não me apercebi de maus tratos. Isto dois meses após esses eventuais factos. Cercar tabancas e fazer capturas foi o nosso dia a dia de cada dia operacional. Aconteceram atos lamentáveis? Com certeza. Mas o fuzilamento dos capturados diferido dois meses suscita melhores provas. Luís Cabral não refere esse evento no seu livro Crónica da Libertação. E aquele foi o tempo da prisão de importantes paigcistas, como Rafael Barbosa, Fernando Fortes, sem esquecer os que vieram a conspirar e assassinar Amílcar Cabral que não foram eliminados. (...)

7. Antº Rosinha [ex-fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93]

Todos os crimes e fuzilamentos e atrocidades cometidos pelos tugas estão adaptados ao discurso anticolonial conveniente às autoridades revolucionárias que tomaram conta do poder em toda a África.

Isto desde o início da guerra em 1961, sempre se acreditou em tudo o que vinha de Argel, Moscovo e Brazaville e Conacry.

Desde os números arredondados tipo os 50 mártires do Pidjiquiti até aos milhares de turras da UPA lançados ao mar, pelos luxuosos PV2 da FAP, tudo está "provado" e "comprovado".

Só falta descobrir o segredo das valas comuns e da contagem dos respectivos cadáveres.(...)

8. António Medina [ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; vive nos EUA]

Acabo de tomar conhecimento de comentários feitos por alguns camaradas, mostrando certa relutância em aceitar a narrativa dos factos acontecidos na área de Jolmete. Cada um tem o direito de aceitar ou discordar e até pedir provas mais concretas desde que estejam disponíveis.

Segundo a teoria aplicada pelo Comandante do Batalhão de Bula , ver comentário do camarada Manuel Lomba porque assim reza o seu segundo parágrafo:

” AQUELE COMANDANTE EXORTAVA À IMPLACABILIDADE EM RELAÇÃO ÀS GENTES QUE NOS RECEBESSEM À BALA OU GRANADA MAS INCITAVA-NOS AO CUIDADO DE POUPAR POPULAÇÕES “.

Ora, o que foi feito em Jolmete ?

Pouparam, sim, a vida das mulheres e crianças. Mas sem condescendência, como vingança exterminaram os homens da tabanca, considerando o facto que talvez fossem coniventes com os autores da tal emboscada ou assim evitar o perigo de virem a pegar em armas. Foi uma acção bastante secreta como é óbvio. 

SE ENQUADRA OU NÃO NA TEORIA OPERACIONAL DAQUELE COMANDANTE?

Sabemos que casos semelhantes aconteceram não só na Guiné mas também em Angola e Moçambique, em grupos ou a nível individual.

O camarada Manuel Carvalho se refere ter estado em Jolmete em 1968, quatro anos depois, assim como que a pouca população que havia em Jolmete tinha sido recuperada no mato. isto vai ou não ao encontro do que escrevi, da fuga da população que restou e se refugiou no mato?

Estava eu em Bissau como empregado do BNU quando em 1970 se deu o caso dos três majores, um alferes e outros na estrada de Jolmete. Não obstante fossem militares e em guerra, o caso consternou os civis da cidade de Bissau. Teria sido vingança do PAIGC sobre a tropa colonial? (...) (***)
_____________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 24 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13326: De Lisboa a Bissau, passando por Lamego: CART 527 (1963/65) (António Medina) - Parte II: Foi há 50 anos, a 24 de junho de 1964, sofremos uma emboscada no regresso ao quartel, que teria depois trágicas consequências para a população de Jolmete: como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte e executados pelas NT, dois meses depois

(**) Vd, poste de 24 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10191: Memória dos lugares (189): Jolmete, quotidiano da tabanca e aquartelamento (Manuel Carvalho)

(***) Último poste da série > 20 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13167: (Ex)citações (233): Venho manifestar o meu apoio ao camarada Veríssimo Ferreira pelo repto que faz ao camarada Manuel Vitorino (Manuel Luís Lomba)

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13295: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (35): A missa celebrada na igreja de Monte Real, por intenção de todos os nossos camaradas já falecidos, incluindo o António Rebelo (1950-2014), vítima de morte súbita na véspera do nosso convívio (Fotos de Manuel Resende e Rui Silva)



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real, às 11h30, conforme o programa.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real, celebrada pelo padre Patrício Oliveira, vigário paroquial da Marinha Grande.



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real >  O Manuel  dos Santos Gonçalves (Carcavelos / Cascais).


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real >  O Joaquim Mexia Alves (Monte Real / Leiria), membro da Comissão Organizadora


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real > O celebrante, vigário paroquial da Marinha Grande 


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real > O Joaquim Luís Fernandes (Maceira / Leiria).



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real >  Aspeto parcial da assistência > Em primeiro plano, a Isaura Serra, mulher do Manuel Resende, e a sua mãe Palmira Serra, de 95 anos. Em segundo plano, à esquerda, o nosso camarada Joaquim Luís Fernandes (Maceira / Leiria). E à direita  na ponta, o Joaquuim Mexia Alves.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real > À saída da igreja, dois camaradas da 3ª CART /BART 6520/72 (Fulacunda, 1072/74), o Jorge Pinto (ao meio, de camisola vermelha, entre o Joaquim Jorge e o Eduardo Jorge Ferreira), e o José Louro (de perfil, no lado direito) que deveriam ter trazer com eles o António Rebelo,  também da mesma companhia, e que infelizmente foi vítima de morte súbita, no passado dia 10 do corrente.

Fotos: © Manuel Resende  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real >  Aspeto geral da assistência (1).


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real >  Aspeto geral da assistência (2).

Fotos: © Rui Silva  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. Um dos momentos de grande recolhimento, espiritualidade e solidariedade,  neste  nosso encontro, foi a missa celebrada às 11h30 na igreja paroquial de Monte Real,  pelo jovem vigário paroquial  da Marinha Grande, padre Patrício Oliveira, de 29 anos, e amigo do Joaquim Mexia Alves, da comissão organizadora, e que é também seu paroquiano.

Devemos ao padre Patrício e ao Joaquim o privilégio deste momento. O ato religioso teve a assistência de numerosos camaradas nossos e seus acompanhantes. Publica-se a seguir dois textos, da autoria do Joaquim Mexia Alves, e que foram lidos no decorrer da celebração litúrgica.


INTENÇÕES DA MISSA

Esta Eucaristia é celebrada pelas seguintes intenções:

(i)  por todos aqueles nossos camaradas de armas que faleceram na guerra do Ultramar:

(ii) por todos aqueles que lutaram contra nós e faleceram na mesma guerra;

(iii) por todos os civis inocentes que morreram nessa guerra; 

(iv) por todos aqueles nossos camaradas de armas que faleceram já depois do seu regresso a casa; 

(v) por todos aqueles que de alguma maneira ainda sofrem por causa da guerra; 

(vi) pelas nossas famílias, e as famílias de todos aqueles que combateram na guerra do Ultramar;

(vii) muito especialmente ainda pelo nosso camarigo António Rebelo e sua família, que, estando inscrito para este nosso encontro, faleceu repentinamente no dia 10 de Junho.


ACÇÃO DE GRAÇAS

Senhor, somos ex-combatentes que serviram a sua Pátria.

O que fizemos de bem e o que fizemos de mal, colocamos nas tuas mãos, agradecendo-te pelo bem e pedindo-te perdão pelo mal.

Nós Te damos graças, Senhor, pelo dom da amizade, que colocas em todos nós, irmanados num mesmo sentir, porque vivemos as mesmas experiências.

Nós Te damos graças, Senhor, pelas famílias que nos deste e nos sabem acolher no dia a dia, às vezes com dificuldades, por causa das marcas de guerra que alguns de nós ainda vivem.

Nós Te damos graças, Senhor, porque ao fazermos a guerra percebemos bem melhor a importância do dom da paz.

Nós Te damos graças, Senhor, porque hoje “tocaste a reunir” e nós aqui estamos, reunidos à tua volta, pedindo-te que nos ensines e ajudes a sermos sempre testemunhas e proclamadores da paz, para que os homens se amem, como Tu, Senhor, nos amas.

Amen.

2. Comentário de L.G.:

Joaquim: tive pena de não ter conhecido pessoalmente o teu jovem vigário paroquial, mas fica aqui, no blogue, uma palavra de apreço pela sua preciosa colaboração neste evento, em que celebrámos também 10 anos de camarigagem (como tu gostas de dizer, usando um palavra nova, da tua autoria, e que nós já grafámos no léxico da Tabanca Grande).  Dá-lhe um alfabravo nosso, dos grandes, e diz-que eu, pessoalmente,  lhe desejo as melhores venturas para a sua carreira sacerdotal e para sua missão espiritual.

Obrigado também pela  oração que me mandaste, que, não tendo estado presente na missa,  li agora com emoção e que te agradeço do fundo do coração. Obrigado também em nome dos camaradas do António Rebelo, da 3ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), presentes no nosso encontro e na missa, o Jorge Pinto e o José Miguel Louro. Obrigado em nome de todos nós, grã-tabanqueiros, membros da Tabanca Grande. 
________________

Nota do editor:

sábado, 26 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13047: 10º aniversário do nosso blogue (22): Mensagens de parabéns (Parte I): Virgílio Valente (Macau, China), Albano Costa (Guifões, Matosinhos), Joaquim Luís Fernandes (Maceira, Leiria) e Felismina Costa (Agualva, Sintra)

1. Seleção de mensagens enviadas para a caixa do correio da Tabanca Grande ou comentários a postes anteriores (*):

(i) Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], Macau [ ex- alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74.] [, foto atual à esquerda]

Parabéns à Tabanca Grande pelo 10.º Aniversário.

Parabéns também aos seus mentores e um grande abraço pelo trabalho que vêm fazendo.

É de facto uma Tabanca Grande onde cabem todos os que vêm por bem.

Diariamente acedo ao blogue e diariamente me culpo por ainda não ter contribuído com algo.

Mas tudo virá a seu tempo.

Daqui, de Macau, do longe Oriente, vai um abraço muito especial, neste 10.º Aniversário da Tabanca Grande, para todos os que diariamente constroem e mantém vivo este ponto de encontro.

Para todos os que passaram, viveram e sentiram a Guiné-Bissau um grande abraço.

Para os camaradas da minha CCaç 4142, que estiveram em Gampará, de 1972 a 1974, que lá viveram o 25 de Abril e o primeiro 1.º de Maio, que lá tiveram os primeiros encontros, em paz, com os camaradas do PAIGC e para aqueles que sendo da Guiné se lembram ou estiveram também nesses momentos, um grande Abraço.

Força, ainda há muito para escrever nesse blogue.

Obrigado Luís Graça e restantes Camaradas.
Virgílio Valente
Macau, China.

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(ii) Albano Costa [ ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74] [., foto à direita  no nosso II Encontro Nacional, Pombal, 2007]

Caros amigos

Não queria deixar passar este dia sem vos agradecer a todos o prazer que me têm dado de vos acompanhar ao longo destes anos todos.

Parece fácil mas não o é, só com pessoas empenhadas como todos os que fazem mover este blogue, desde já os meus agradecimentos, e que Deus vos dê saúde e paciência para continuarem nesta luta que tem feito muitos bem aos ex-combatentes, que os aproximou e fez com que nós todos tenhamos sacudido o pó e que ainda possamos continuar a fazer despertar as nossas mentes para mais estórias.

Um bem haja para todos,
Albano Costa

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(iii) Joaquim Luís Fernandes, Maceira, Leiria [ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974] [, foto à direita]

Caro Luis Graça, Caros Camarigos

24 de abril de 2014; De manhã visitei o blogue e deparei-me com este Post 13030. Apressado li o poema (que já tinha lido noutro post) "Hoje tenho pena de nunca ter escrito a uma madrinha de guerra". Então, senti um tremor e comovi-me até às lágrimas. Senti o impulso de logo comentar e enviar o meu abraço fraterno e os parabéns ao Luís, mas as obrigações profissionais exigiam de mim que saísse do blogue e adiasse o comentário, como tantas vezes acontece.

Foi um dia intenso, exigente. A minha sensibilidade esteve à flor da pele, pelo poema, pelo que me fez sentir, pelo dia em que estava, no muito que me recordava e me fazia reviver em fortes emoções.

Agora já é dia 25, 40 anos depois desse outro dia 25 de abril que me apanhou na Guiné. Apetecia-me escrever muito, exteriorizar os meus sentimentos, registar os meus pensamentos e reflexões sobre esta data e o que ela encerra e me diz, neste confronto de esperanças e desilusões, de interrogações e conclusões, mas não é este o lugar apropriado e também já estou cansado, pelo que vou ser breve.

Quero dizer-te Luís, que gostei muito deste teu poema, em que dizes tanto, naquilo que sentes e expressas e de que comungo. Nesta confissão, vejo a grandeza da tua alma e o teu grande talento. Mas permite-me que te diga: Não tenhas medo do Sagrado. Ele está perto de ti. Ele está em ti e nada te rouba, apenas te engrandece e te devolve em ti, a plenitude do teu Ser.

Postal de aniversário. Autor: Miguel Pessoa
Eu também nunca tive uma madrinha de guerra, mas tinha uma namorada/noiva/mulher. Tinha deixado também a rezar por mim, mãe, pai, futura sogra, irmãs, irmãos. Escrevi e recebi centenas de cartas e aerogramas. Eles foram para mim um bálsamo. Ler e escrever era o meu momento de encontro comigo próprio, livrando-me da alienação da guerra. Momento de interiorização e de equilíbrio emocional.

Por fim quero manifestar mais uma vez o meu apreço pelo Blogue. Endereçar-te os parabéns pelo seu 10º aniversário, que torno extensivos aos camaradas co-editores a a todos os camarigos de tertúlia. Peço compreensão pela minha parca participação. Quando tiver mais tempo disponível, escreverei mais. Há muitas reflexões e vivências que gostaria de partilhar e perguntas a fazer. Há enormes hiatos na minha compreensão do que foi aquela guerra, que gostaria de esclarecer. Haja tempo para isso.

E por aqui me fico por hoje.

Um forte abraço
JLFernandes

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(iv) Da nossa amiga tertuliana Felismina Costa de Agualva, Sintra

Ao seu criador Luís Graça,
Aos Editores Carlos Vinhal e Eduardo Magalhães Ribeiro, e à tertúlia em geral.

É com muita amizade que saúdo o Décimo Aniversário da existência deste Blogue, seu criador e editores, e bem assim quantos que, com o seu testemunho, fazem com que o propósito da sua criação tenha atingido um nível tão alto e tão diverso, tal como foram as vivências aqui relatadas, suas ideias, suas convicções, suas dores, mágoas e alegrias...

Ele, é a página que relata, treze anos de vida da Juventude Portuguesa, perdida numa luta sem sentido, por terras da Guiné entre 1961/1974, e onde os participantes sobreviventes dão testemunho da sua experiência, do seu crescimento e amadurecimento, e o palco do reencontro de velhos camaradas e amigos!

Ele, o Blogue, reuniu uma grande família, que cresceu e se multiplicou nos anos de ausência, na análise do passado, do vivido e aprendido, nos valores da fraternidade que toda a vivência produz!

Aqui, eu mesma, reencontro o tempo, a ligação ao passado, a amizade coexistente num tempo em que também fui "espectadora" ausente e preocupada. Com ele, julgo, também tenho crescido um pouco na compreensão do tema uno.

Ganhei amigos que fazem parte do meu presente, que preenchem as minhas horas, que são tema das minhas referências, com quem partilho vivências, ideias, alegrias e tristezas, pois que é de tudo isso que a vida se faz!

Felicito o tempo de vida desta Página, a Grande Obra, onde se regista muito do vivido "Naquele Tempo"! 

Felicito o seu Criador na Pessoa do Dr. Luís Graça.

Felicito os seus editores, nas Pessoas de Carlos Vinhal e Eduardo Magalhães Ribeiro.

Todos os seus Colaboradores, todos os que participam com o testemunho da sua vivência e da sua amizade e suas respectivas famílias. Eu, sou-vos devedora, da vossa amizade e do orgulho que sinto por tudo o que atrás refiro.

Desejo a continuação deste Diário, desta Obra-Prima de Organização e testemunho, por muitos anos, que é o relato em primeira mão de uma grande página da História dos Povos.

Bem-hajam Amigos! Obrigada!
Felismina Mealha