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sábado, 19 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10967: Blogoterapia (221): As nossas vidas valiam pouco ou nada para quem ficava na retaguarda (Júlio Benavente)

1. Mensagem do nosso camarada Júlio Benavente, ex-Fur Mil da CCS/BCAV 1905, Teixeira Pinto, 1967/68, com data de 16 de Janeiro de 2013: 

Caros camaradas,
Gostava de vos mostrar a desorganização e a falta de ética militar por que passámos muitos de nós.

Em fevereiro de 1967 chegámos a Bissau pela manhã no navio Uíge.
Até aqui nada de especial, só que permanecemos, até às tantas da noite, a bordo, à espera que chegassem as LDGs que nos haviam de levar rio acima a Teixeira Pinto.

O mais curioso é que o nosso batalhão inteiro não tinha uma única arma, só os marinheiros que compunham a guarnição das LDGs é que tinham algumas metralhadoras.
Quem conhece esse rio, sabe como era fácil alguém, mesmo da margem, lançar algumas granadas para dentro das embarcações e matar dezenas de companheiros.

No dia a seguir à nossa chegada a Teixeira Pinto, eu furriel miliciano mecânico de armamento, mais o meu segundo comandante, major Luís Rodrigues de Carvalho, e o alferes de transmissões, voamos num Dornier de volta a Bissau onde eu fui levantar todo o armamento em caixotes e novamente metido na LDG regressei a Teixeira Pinto.

Escusado será dizer que todo o batalhão ficou cerca de uma semana sem uma única arma, com excepção das que o 7 ou 10 de espadas, que era o pelotão que fomos render, tinha.

Por outro lado, as G3 que vieram nos caixotes eram velhas e a maior parte delas encravava.
Nessa altura aquela zona de Teixeira Pinto era bastante agitada sempre com emboscadas, minas, etc!...

O Pelundo era mau, o Cacheu era mau, e muito especialmente Jolmete onde os ataques eram quase diários. Na única vez em que lá fui tive a sorte de nada acontecer.

A razão por que vos escrevo é para comentar o pouco ou nada que as nossas vidas valiam para gente que ficava sempre na retaguarda, dando ordens e estratégias para muitos de nós que passamos maus bocados naquela guerra. Felizmente isto não se aplica muito a mim.

P.S. -  Desculpem a falta de acentuação, mas estou a escrever num teclado americano, e alguns erros de composição e ortografia que possa ter dado, pois já estou um pouco enferrujado, já que vivo há 33 anos nos Estados Unidos da América.

Júlio Benavente
ex-furriel miliciano
CCS/BCAV 1905
North Providence
Rhode Island
USA
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10941: Blogoterapia (221): Fantasmas do fundo do baú... A morte, em 24/1/1971, do cap inf op esp Fernando Assunção Silva,1º comandante da CCAÇ 2796 , e meu amigo (Vasco Pires, 23º Pel Art , Gadamael, 1970/72)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2285: Roubaram-me a Caderneta Militar (Júlio Benavente/Carlos Vinhal)


A nossa Caderneta Militar que tinha uma cor muito triste. Neste caso, a minha (CV)...

Foto: © Carlos Vinhal (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do nosso camarada Júlio Benavente, ex-Fur Mil da CCS/BCAV 1905, de 15 de Novembro:

Nunca se sabe o que a net nos pode dar.

Em 1990 fui de férias a Portugal (vivo nos States) e na Batalha fui roubado.

Entre várias coisas, lá foi a minha Caderneta Militar. Parece estranho, mas entre muitas coisas quiçá mais importantes, esta é a que tem mais valor para mim.

Claro que participei o roubo à GNR da Batalha.

Muitos anos já se passaram e, como a vida é cheia de surpresas, é possível que já tenha acontecido o mesmo a outros camaradas.

O que fazer? Ideias?

Julio da Silva Benavente


2. Comentário de CV:

O nosso camarada Júlio Benavente ficou sem o símbolo da sua vida militar. Lá estariam registados todos os passos que ele deu, desde a Incorporação até à Disponibilidade.

Na nossa Caderneta podem constar Unidades por onde passámos, postos, datas das promoções, louvores, punições, licenças, etc.

Para ele, que está nos Estados Unidos, longe da sua Pátria, há tantos anos, a Caderneta representava o tempo em que serviu Portugal para o bem e para o mal. Não tínhamos grande escolha, então. Nas suas entrelinhas podiam ler-se as horas de Sangue, Suor e Lágrimas. Saudades e privações de toda a ordem.

Perguntei-lhe porque razão não pedia uma segunda via, ao que ele respondeu que não seria a mesma coisa. Que interessa um segundo documento onde diz que esteve aqui, ali e acolá, se já não é o original?

Se calhar, muitos de nós nem sabemos onde está a nossa Caderneta Militar neste momento. As gavetas do tempo guardam muita coisa fora de ordem.

Se alguém achar este post despropositado, lembre-se do nosso camarada Baptista que tem sido espoliado, precisamente por lhe negarem o direito de ter uma Caderneta Militar (1).

E se alguém que acede à nossa página tivesse o Documento Militar do Júlio Benavente? Porque não devolvê-lo?

Afinal não serve a ninguém, a Caderneta, a não ser ao próprio.

CV

___________

Nota de CV:

(1) Vd. post de 30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2011: Vamos ajudar o António Batista, ex-Soldado da CCAÇ 3490/BART 3872 (Júlio César / Paulo Santiago / Álvaro Basto / Carlos Vinhal)

quarta-feira, 3 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P720: Tabanca Grande: Dos Estados Unidos com saudades dos velhos camaradas (Júlio Benavente, CCS/BCAV 1905, 1967/68)

Texto do Júlio Benavente:

Amigo Luis:

Somos quase da mesma idade, estive na Guiné em 67/68 e que saudades desse tempo, embora pareça um paradoxo, pois como se pode ter saudades duma coisa como foi o tempo de guerra ?!...

Mas lá aprendemos o que é a camaradagem que nos juntou ateé hoje, mesmo sem contacto pessoal... E como ficamos putos novamente quando falamos com alguém que também lá esteve, na Guiné!...

O meu nome é Julio Benavente, fui furriel miliciano na CCS do BCAV 1905, de Fevereiro 1967 até Novembro de 1968 (1).

Hoje vivo no Estado de Rhode Island, na cidade de North Providence, nos Estados Unidos da América.

Um abraço, camarada, e obrigado por esta oportunidade de reviver.
Júlio Benavente
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Nota de L.G.

(1) Vd post de 28 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXIX: Um ataque a Sare Ganá (1968)

Texto de A. Marques Lopes, coronel (DFA) na situação na reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/1968), sobre o ataque a Sare Ganá, 12 de Agosto de 1968, e a resposta das NT:


(...) "Às 01H00 atingiram Sare Ganá as forças de socorro de Bafatá e enviados pelo Comando de Batalhão. Estas forças eram constituídas a primeira por um pelotão do EREC 2350 e o PEL CAÇ NAT 64 a segunda por outro PEL REC do EREC 2350 e 2 secções da CCS/BCAV 1905.

"Uma vez que a situação estava praticamente normalizada, um pelotão do EREC 2350 e as 2 secções da CCS regressaram a Bafatá levando os feridos mais graves, tanto milícias como população, enquanto as outras forças se instalavam em Saré Ganá, montando segurança a tabanca"(...).