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terça-feira, 19 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19600: Memória dos lugares (387): Jemberém, no Cantanhez (António Castro, ex-fur mil inf, CCAÇ 4942/72, 1972/74)



Foto nº  3 > Um “cruzeiro” numa LDM pelo rio Cacine,  entre Cacine e Jemberém



Foto nº 4 > Aqui estou eu junto do abrigo, tipo “bunker”, que foi construído a pensar em defesa do comandante e das comunicações em caso de ataque em força.


Foto nº 2 > Um quarto duplo onde morei esses 11 meses que partilhava com outro Furriel.






Foto nº 1 > Esta era a cozinha de campanha, onde se faziam maravilhas quando havia comida fresca.


Foto nº 1A > Esta era a cozinha de campanha, onde se faziam maravilhas quando havia comida fresca.




Foto nº 6 > Este era o meu grup de combate, o 3º, o Zigue-Zague, [O alferes Lima era o meu comandante de pelotão - o 3.º; o alferes Vítor Negrais o comandante do 2.º pelotão, o alferes Pires, o comandante do 4.º pelotão e o do 1.º era um "Operação Especiais" ["ranger" cujo nome já me falha. A CCAÇ 4942, os "Galos de Jemberém", foram os "pioneiros e construtores de Jemberém" [, hoje, Iemberém]

Guiné > Região de Tombali > Jemberém > CCAÇ 4942/72 (1972/74) 

Fotos (e legendas): © António Castro  (2019) . Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).


Guiné-Bissau  > Região de Tombali >  Iemberém > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje > 2 de Março de 2008 > Monumento, em bom estado,  assinalando a passagem, por aqui, da CCAÇ 4942/72, de origem madeirense, conhecida por "Os Galos do Cantanhez". Estiveram em Jemberém (os guineenses hoje dizem Iemberém) entre Março de 1973 e Fevereiro de 1974.

Foto (e legenda): © Luís Graça  (2008) . Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).


1. Mensagem do António [Clodomiro Silva] Castro, ex-fur mil inf,  CCAÇ 4942/72  (Jemberém e Barro 1973/74. É membro nº 753.º da nossa Tabanca Grande (*)

Data: sábado, 16/03, 23:02
Assunto: CCAÇ 4942/72

Olá Luís,

Peço desculpa porque já passou muito tempo (*)  e parece que estou “desaparecido em combate” mas este é o combate da vida.

Depois das vossas boas vindas,  é de facto tempo de relembrar um pouco da “história” pelo que vou fazer um pequeno texto que segue abaixo e anexar 5 fotos, para publicação, se entenderam que tem interesse neste contexto.

Formamos uma Companhia Independente na Madeira, nos fins do ano de 1972. Foi denominada CCAÇ 4942. A nossa mobilização indicou - Guiné. (**)

A Companhia já completa foi para Lisboa aguardar embarque. No dia 26 de Dezembro do mesmo ano embarcamos no Uige rumo à nossa aventura.

 As notícias davam conta que o nosso destino era Bafatá. Sendo a segunda cidade da Guiné até
parecia que estávamos a caminhar para umas “férias”. Mas a apenas dois dias da nossa chegada, a notícia foi a morte de Amilcar Cabral [, em 20 de Janeirode 1973], o que nos fez logo esperar o pior. 

Depois do IAO no Cuméré, fomos para Mansoa,  a norte de Bissau,  aguardar transporte para Cadique no sul de onde passado pouco tempo fomos abrir destacamento no meio do mato, numa localidade já sem população que se chamava Jemberém e que distanciava cerca de 10 km de Cadique. (***)

Juntos com outra Companhia Independente e com o reforço de alguns fuzileiros, montamos um destacamento em círculo onde a alguns metros do “arame” escavamos valas para defesa em todo o perímetro e valas mais largas onde montamos camas de campanha para dormir, onde ficaram todos os praças e furriéis, para maior operacionalidade. Apenas os oficiais e especialistas não atiradores ficaram no centro. 

Pouco tempo depois os fuzileiros foram substituídos por um grupo de Artilharia com 3 obuses 10,5. E nestas condições ficamos durante 11 longos meses com saídas para o mato quase dia sim, dia não, em bigrupo ou com saídas de 2 dias quando era a Companhia com os seus 4 grupos operacionais a sair. Dos ataques ficaram certamente muitas recordações, mas não vou falar delas agora. Ficam algumas imagens que mostram um pouco do ambiente.

Final da história: depois deste período fomos para Barro, onde nunca mais tivemos ataques, passamos o 25 de Abril, fizemos, salvo erro, o “30 de Maio” que foi a expulsão do comandante e acabamos por regressar a Lisboa em Setembro por antecipação do nosso tempo de mobilização, em que TODOS os que integraram a nossa Companhia regressaram a casa. Sim, a nossa Companhia não teve nenhuma baixa, e teve apenas um ferido que ficou a mancar, mas mesmo assim ficou até ao fim.

Com os melhores cumprimentos,
António Castro
_______________

Notas do editor:


terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18314: (Ex)citações (328): Regresso de Iemberém, viagem até Bissau, das 3h às 10h da manhã... O Pepito continua no coração de muita gente do Cantanhez... Estive em Guileje, no dia 7. É sempre com emoção que ali paro... Mando-vos cinco fotos em homenagem a todos aqueles de vós que ali muito sofreram (Anabela Pires)


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje >  Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica.Foi uma das 9 baixas mortais da companhia também conhecida por "Piratas de Guileje" e um dos 75 alferes que perdeu a vida no CTIG..

Em segundo plano, vê-se o nicho que ao tempo da CCAÇ 3477 (1971/77), "Os Gringos de Guileje", abrigava a  imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres. A CCAÇ 3477 era, na alturam, comandada pel cap mil Abílio Delgado, nosso grã-tabanqueiro.


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Era a aqui a porta de armas, com a passadeira VIP feita com garrafas de cerveja dando acesso à pista de aviação, ao tempo da CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971), "Os Cobras de Guileje", de que era comandante o cap inf Jorge Parracho.


Foto nº 3  > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Pormenor da passadeira VIP feita com garrafas de cerveja...


Foto nº 4 > > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guildje > Interior da capela, da CART 1613 (1967/68), entretanto  renascida das cinzas, graças ao empenho da população local, da AD, do Pepito e do Domingos Fonseca, e da boa vontade de alguns velhos tugas, o "grupo de amigos da capela de Guileje", com o apoio do Blogue Luís Graça & Canmaradas da Guiné. A data da sua inauguração oficial foi 20 de janeiro de 2010 (com a presença de nossa amiga Júlia Neta, viúva do Zé Neto, entre outra gente ilustre)... Guileje voltou a ser um local de paz, de fé, de solidariedade, de (re)encontro, de ecumenismo, de esperança.  Não sabemos se tem sido utilizado mais vezes em atividades de culto. Em 2010 foi consagrada pelo bispo de Bafatá.

A imagem de Nossa Sra de Fátima foi oferecida e trazida, em março de 2010,  pelos nossos camaradas e grã-tabanqueiros António Camilo e Luís Branquinho Crespo,


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de  Tombali > Guileje > Núcleo Museológcio Memória de Guiledje > A placa original, restaurada, que estava afixada na parede da capelinha, ao tempo da CART 1613 (1967/68), "Os Lenços Verdes", comandada pelo cap art Eurico Corvacho (falecido em 2011).

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 7 de fevereiro de 2018 > Núcleo Museológico Memória de Guiledje

Fotos: © Anabela Pires (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1, Mensagem de Anabela Pires, com data de ontem, às 19:00:

[Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto acima,  de Pepito... Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; está lá de novo, desde 18 do corrente; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]

Caro Luís,

Só hoje [, dia 12,]  ao chegar li o teu email em que me pedias para saber notícias do pai da Alicinha e do seu avô (*). Foi uma pena mas na noite anterior à partida deitei-me bem cedo e nem computador levei para Iemberém. 

Consegui lá chegar [, a Iemberém,] e regressar sã e salva! Fiz parte da viagem de autocarro e para cá de 7place (tipo táxis coletivos) e o resto num jipe que está em Iemberém - fizeram o favor de me ir buscar e levar a Quebo pagando eu somente o gasóleo. 

Foi um regresso muito emotivo mas que eu precisava de fazer para encerrar o capítulo que tinha sido suspenso pelo Golpe de Estado de 12 de Abril de 2012 e depois com o desaparecimento do nosso tão estimado Pepito deste mundo.

Penso que para as pessoas de lá também foi reconfortante saberem que, apesar de eu só lá ter estado 3 meses,  regressei para as visitar. Como podes imaginar,  o Pepito esteve sempre presente nas nossas conversas. É daquelas pessoas que,  mesmo não estando fisicamente,  estão sempre nas nossas memórias e nos nossos corações e, quando digo "nossos",  refiro-me também a muitas, muitas pessoas de Cantanhez. 

Hoje estou muito cansada (saí de Iemberém às 3 horas da manhã e cheguei a Bissau às 10 - a estrada de Quebo até Guileje está muito pior do que há 6 anos!) mas quero dizer, a todos aqueles que aqui muito sofreram na guerra colonial, que faço sempre uma paragem em Guileje, em vossa homenagem.

Vou sempre à capelinha que,  embora tenha agora por fora um ar muito abandonado, mantém a imagem de Nossa Senhora intacta. Quero dizer-vos que fico sempre encantada com o "passeio" feito de garrafas de cervejas enterradas e que ainda se mantém em muito bom estado (bem hajam por não terem partido e espalhado todo aquele vidro!). É sempre com grande emoção que ali paro. 

Aqui há uns meses li, por acaso, um livro chamado "Deixei o meu coração em África", de Manuel Arouca (só o consegui comprar na Internet) cujo cenário principal é exatamente Guileje na época da guerra. Esta leitura só aumentou o meu desejo de regressar. Tenho a certeza de que muitos de vós gostarão de o ler. 

Por hoje só vos envio 5 fotos que tirei agora em Guileje. (**)

Um enorme abraço para tod@s,
Anabela Pires
____________

Notas do editor:

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18295: (In)citações (116): A 'mindjer grandi' Anabela Pires, de visita a Iemberém, até 2ª feira... Vai ser confrontada com uma série de memórias dolorosas: as perdas sucessivas dos nossos amigos comuns Cadi, Pepito, Alicinha... Esperemos que tenha notícias do nosso grã-tabanqueiro António Baldé, que voltou de mãos vazias, de Alfragide para Caboxanque, com o sonho desfeito de ser apicultor e dar um futuro melhor à Cadi e à Alicinha


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Farim do Cantanhez, 7 de dezembro de 2012... A última foto da Cadi...Morreria 2 meses depois...

Eu e a Alice conhecê-la-íamos em março de 2008. O nosso filho, médico e músico,João Graça, conhecê-la-ia, grávida, em Iemberém, em dezembro de 2009, a um mês de ter uma linda criança. a Alicinha do Cantanhez... Ficou com o nome da sua madrinha, a Alice de Candoz. O elo de ligação entre mãe, filha e madrinha era o Pepito, que entretanto morre em em fevereiro de 2014. Pouco tempos é a vez da Alicinha, que o pai, o nosso camarada António Baldé, a viver em Portugal, nunca chegará a conhecer!...É uma sucessão, dolorosa, de perdas...


Foto: © Pepito (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


Guiné-Bissau > Bissau > Bairro do Quelelé > Casa do Pepito e da Isabel Levy > 2010 > A Alicinha do Cantanhez, de oito meses (à direita), que tem na Alice de Candoz (que vive em Alfragide, Portugal) uma madrinha, quase tão babada e ternurenta como a sua mãe, a Cadi (à esquerda)... O pai, da criança, vive e trabalha na Linha de Cascais como segurança de uma empresa. A Cadi é de Farim do Cantanhez. Não fala português, só um pouco de crioulo, para desespero da Alice de Candoz que de vez em quando lhe telefona... De tempos a tempos, esta manda à Cadi as roupinhas e outras coisas que fazem da Alicinha uma pequena princesa do Cantanhez... Pelo meio, vai-se rezando ao Nhinte Camatchol para que proteja a menina (e a mãe)... Da cólera, do paludismo, das desinterias, da fome e das mil e uma causas de morte infantil na Guiné-Bissau...

Foto: © Pepito (2010).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné-Bissau > região do Cacheu > São Domingos > 15 de março de 2012... A Cadi, já doente, a caminho de Ziguinchor, no Senegal... E a Alicinha morrerá mais tarde, em Farim do Cantanhez. sem chegar aos cinco anos. (**)


Foto: © Pepito (2012). Todos os direitos reservados. [Eduição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem, que nos acabou de chegar de Bissau,  ontem, da nossa amiga e grã-tabanqueira Anabela Pires:



[Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto à esquerda de Pepito... Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; está lá de novo, desde 18 do corrente; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]


Queridos amig@s:
Parece que é amanhã que vou para o Sul, para Iembérém, Cantanhez, onde estive há 6 anos.  E digo parece porque só quando lá chegar é que direi "Cheguei!". 

Vou apanhar um autocarro de manhã cedo até Mampatá, a meio caminho, e depois irá um carro de Iembérém lá buscar-me. Vai correr tudo bem e talvez regresse na próxima 2ª feira. 

Lá não terei Internet e como tal a única forma de contacto é o meu nº de telemóvel português, quando é possível estabelecer ligação.

A situação política está mais calma mas .... bem, em Iembérém não há problemas desse género.
Darei notícias após o regresso.

Um abraço,
Anabela (*)


2 Resposta do nosso editor LG, na volta do correio:

Olá, Anabela!..Que faças boa viagem até Iemberém... E, já agora, vê se tens notícias do pai da Alicinha, a filha da Cadi. O seu nome é António Baldé, acho que nunca o chegaste a conhecer, vivia aqui em Alfragide. Vive hoje em Caboxanque (setor de Bedanda), a norte de Iemberém. Não chegou a conhecer a filha, a não ser por foto. Voltou para a sua terra, com o sonho (desfeito) de ser apicultor, levar com ele uma pequena reforma portuguesa e dar um futuro  melhor à Cadi e à filha de ambos... Foi um sucessão de tragédias... A Alice Carneiro era a madrinha, como sabes, o Pepito o nosso elo de ligação. Os três já morreram: a Cadi, a filha e o Pepito... Inevitavelmente vais reviver estes acontecimentos, dolorosos para todos nós...Eram nossos amigos comuns,,, O pai da Cadi ainda será vivo ? Vivia em Farim do Cantanhez, antigo combatente do PAIGC... Abdul Indjai, de seu nome, ficou sem uma perna numa mina.

Olha, dá depois notícias... Amanhã ponho notícia no blogue da tua partida. Boa estadia em Iemberém.... Bons encontros. Bj meus e da Alice. Luis

PS - Ah!, é vê se tens boas notícias da tua afilhadinha, de Catesse, e do projeto do Ecoturismo em que tiveste envolvida em Iemberém... A AD, parece-me,  ficou órfão do Pepito, perdeu o elã, entrou em entropia, não temos neste momento ligações diretas com a direção da ONG... É uma pena... Encontrámos há tempos em Lisboa a Isabel Miranda e o marido. Foi bom revê-los.  Boa noite. Luis.



Amadora > Alfragide > 27/7/2012 > O António Baldé com o nosso editior Luís Graça, foram vizinhos em Alfragide. O Baldé trabalhou em tempos com o Pepito no DEPA. É naural de Contuboel, onde fez a 4ª classe. Vive em Caboxanque e tem a nacionalidade portuguesa. Pertenceu ao Pel Caç Nat 57 (São João, 1969/70) e à CART 11 (Paunca e Sinchã Queuto, 1970/71). Era 1º cabo art.

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados. [Eduição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




Carlos Schwarz da Silva, "Pepito" (1949-2014). 

Foto: © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


3. Recorde-se aqui o mail que a Anabela Pires nos mandou, em 20 de fevereiro de 2013,  por ocasião da morte da Alicinha:

Luís, acabei de receber o teu e-mail e estou em estado de choque. Nunca percebi de que mal padecia a Cadi mas depois de ir para o Senegal e para o hospital de Comura,  nunca pensei que o desfecho fosse este. Não imaginas como lamento esta notícia. E cuidado com a menina que pouco depois da mãe adoecer também ela andava doentita. Nunca me esqueço delas até porque no dia em que a Alicinha fez 2 anos (dia da minha chegada a Cantanhez) também eu ganhei uma "afilhada" em Catesse que tem o meu nome. As nossas "afilhadas" têm exactamente 2 anos de diferença. E não esqueço a visita que recebi da Cádi, da sua mãe (lindíssima mulher também), da Alicinha e do Ansumané (irmão mais novo da Cadi). Para sempre ficarão também no meu coração. Um grande abraço para ti e para a Alice.

Anabela Pires

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Notas do editor:



(**) Vd. postes de:

3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3167: Ser solidário (19): Morreu o Nuninho, da Cadi. De paludismo. De abandono (Luís Graça)


19 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7816: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (4): 10/12/2009, último dia de consultas em Iemberém e viagem de regresso (10 horas!) a Bissau


18 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12738: In Memoriam (178): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori! (Luís Graça)

sábado, 22 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11745: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (6):De Iemberém a Guileje, a caminho de um casamento no Xitole




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > 5 de maio de 2013 > Os bangalôs do ecoturismo.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > 5 de maio de 2013 > A Aiassatu ou Satu, esposa do Abubakar (eng agron da AD) e nossa anfitriã.




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje  > 5 de maio de 2013 > A capela restaurada  de Guiledje



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje  > 5 de maio de 2013 >  Aspeto exterior do Núcleo Museológico Memória de Guiledje



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > 5 de maio de 2013 > Recordações: objetos do quotidiano recuperados, provenientes das escavações do antigo quartel das NT




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > 5 de maio de 2013 >  Armamento do PAIGC: as armas da nossa dor e sofrimento.



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > 5 de maio de 2013 > Cópia (digitalizada) de carta de um soldado portuguesa: a famosa carta que o nosso camarada J. Casimiro Carvalho mandou a seus pais, datada de Cacine, 22/5/1973, a anunciar a retirada de Guileje.

Cacine, 22/5/73: Queridos pais: Vou-lhes contar uma coisa difícil de acreditar como vão ter oportunidade de ler: Guileje foi abandonada [a bold, no original], ainda não sei se foram os soldados que se juntaram todos e abandonaram o quartel, ou se foi ordem dada pelo Comandante-Chefe, mas uma coisa é certa: GUILEJE ESTÁ À MERCÊ ‘DELES’ [, em maíusculas, no original].

Não sei se as minhas coisas todas estão lá, ou se os meus colegas as trouxeram. Tinha lá tudo, mas paciência.


Se foi com ordem de Bissau que se abandonou a nossa posição, posso dar graças a Deus e dizer que foi um milagre, mas se foi uma insubordinação, nem quero pensar…

Mas… já não volto para lá!!! Não tinha dito ainda que Guileje era bombardeada pelos turras há vários dias e diversas vezes por dia. Os soldados e outros não tinham pão, nem água. Comida era ração de combate e não se lavavam. Sempre metidos nos abrigos e nas valas. A situação era impossível de sustentar. Vosso para sempre (…).


Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte VI

por José Teixeira

O José Teixeira é membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete; no dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse; hoje, 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavama hospedados, visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e partem depois para o Xitole, convidados para um casamento ] (*) [LG]


O dia nasceu suavemente, com um mango a acordar-me ao cair encima do telhado de capim e rolar até ao chão. Talvez um dos macaquitos que estava a tomar o seu matabicho se tenha descuidado. Estes macacos, de pelo cinzento, não armam aquela gritaria a que nos habituamos em tempos idos com o macaco cão. Habituaram-se a viver com o homem e passeiam-se nas árvores por cima de nós, pacifica e calmamente. Certo é que neste dia 5 de Maio, o sol já ia alto quando me sentei para tomar o pequeno-almoço, que começou por um mango madurinho e saboroso.

A hora da despedida tem encanto e dor. É agradável sentir mais uma vez a amizade que nos devotam aqueles com quem convivemos e se juntam para se despedirem de quem parte, com a promessa de voltar. Faz doer o coração, no abraço que damos, sabendo que talvez seja o último, mas faz parte da vida e a esperança é sempre a última a morrer.

Partimos com destino a Bissau. Duas horas depois estávamos a admirar o Museu Memórias de Guiledje, inaugurado em 2008 e pretende documentar todo um passado de luta pela independência da Guiné-Bissau. À nossa espera estava o diretor Domingos Gomes, como tinha prometido,  para uma visita guiada. Foi um regresso ao passado para mim e para o Francisco no reencontro com as armas e canhões, com as viaturas, com as imagens da guerra que ambos vivemos em locais e tempos diferentes.

Em cada visita que faço, noto com alegria que o museu vai crescendo. Há outras partes do antigo quartel levantadas. No pavilhão principal estão os instrumentos de guerra portugueses, bem como as armas que o PAIGC usava, as fotografias da guerra e outros memoriais. Livros, poucos, sobre a guerra, são o princípio de uma biblioteca que se pretende seja enriquecida com todos os livros e documentos possíveis para enriquecer a história do conflito que existiu para separar e afastar os portugueses da Guiné e de facto separou-nos com muito sangue derramado, dor e pranto, mas creio que estranhamente nunca os guineenses estimaram tanto os portugueses como agora que estão livres da sua tutela política.

Um Unimog bem conservado transportou-nos ao tempo das colunas por aquelas picadas inóspitas atapetadas de perigosas minas. Transportou-nos até ao grupo de picadores que,  à sua frente e com todo o cuidado, picavam a terra, centímetro a centímetro, na esperança de as detetar e assim salvar possivelmente algumas vidas. Transportou-nos a um tempo que já passou, mas as suas marcas continuam bem presas na nossa mente e só desaparecerão com o pó da terra que nos há-de tragar.

A capela com a imagem de Nª Senhora de Fátima no seu altar, tal como no tempo da guerra, e a capelinha do Santo Cristo dos Milagres construída pelos devotos Gringos açorianos. Locais, onde os mais devotos se ajoelhavam a pedir por seu intermédio a bênção de Deus para os momentos difíceis que a guerra e agradecer os perigos passados dos quais se livraram com vida.

O Museu foi enriquecido com um novo auditório onde está patente, onde foi instalado o Museu de Cultura e Ambiente onde se pretende espelhar o ecossistema da mata do Cantanhez e as culturas dos diferentes grupos étnicos que habitam a região.

O tempo não tem paciência para esperar e os ponteiros do relógio vão marcando as horas. Tínhamos encontro marcado na tabanca do Xitole para participarmos na festa do casamento da filha do nosso amigo Mamadu Aliu que há três dias atrás atuou de cicerone na visita/peregrinação que o Francisco Silva ali fez em busca do seu passado.

Com pesar para o Domingos Gomes, que bem insistiu para ficarmos mais um pouco e havia muito para ver e refletir, mas não queríamos ficar mal com a família da noiva que tão amavelmente nos tinha convidado.

Ao passar pelo Saltinho, ainda houve tempo para dar um abraço de despedida ao Suleimane e à Dáda sua esposa, que ofertou à Armanda um lindo vestido típico das mulheres fulas. Uma surpresa linda que nos emocionou profundamente.

E lá seguimos para o Xitole.

(Continua)
________________

Nota do editor:

Último poste da série > 13 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11699: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (5): Visitando Cabedu, Cautchinké e Catesse... A alegria com que somos recebidos, a par da tristeza com que vemos a floresta ser destruída no Cantanhez...

sábado, 8 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11682: O nosso livro de visitas (166): Carlos Figueira, ex-fur mil, CCAÇ 4946 (Jemberém, Cacine e Bolama, 1974)... Uma saudação madeirense para os camaradas hoje reunidos em Monte Real, no VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande


Região Autónoma da Madeira > Funchal > 2013 > O nosso camarada Carlos Figueira, candidato a membro da Tabanca Grande




Guiné > Região de Tombali > Cantanhez > Jemberém > CCAÇ 4946 (Jemberém, Cacine e Bolama, 1974) > O fur mil Carlos Figueira, madeirense.


Foto: © Carlos Figueira  (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Carlos Figueira


Data: 7 de Junho de 2013 às 10:54

Assunto: Lamento

Camaradas,

O meu grande lamento é não estar presente dia 8 de Junho (amanhã) no vosso/nosso convívio.

Como estou no Funchal, esqueci-me de planear,  e neste momento,  deslocar-me ao continente.  As passagens são muito caras,  pois é época alta.

Tenho imensa pena pois assim iria rever os meus camaradas da Guiné.

Fiz parte da CCAÇ 4946 que saiu do Funchal para a Guiné onde estivemos no Cumuré,  Jemberém,  Cacine e Bolama.

A todos os camaradas envio um grande abraço com a promessa de comparecer no próximo convívio.

Perdi há muito o elo de ligação com os elementos que compunham a CCAÇ 4946 e dos que compunham a Companhia que saiu do Regimento Infantaria nº 1 - Amadora (, hoje Regimento dos Comandos)...  Pois fiz parte dessa Companhia antes de fazer a transferência para a CCAÇ 4946,  que igualmente foi para a Guiné  (mas não já não me lembro do nº de identificação).

Queiram,  por gentileza,  transmitir a todos os camaradas que estiveram em serviço militar na Guiné que envio-lhes um grande mas forte abraço,  acrescidos dos meus sinceros votos de bnoa saúde e prosperidade.

Carlos Figueira

Em anexo: As minhas fotos (hoje,  no Funchal, e ontem, em Jemberém)

PS - Quero pedir-vos que fornecam o meu e-mail aos meus camaradas para que me possam contactar. Fico-lhes mui grato e reconhecido. 

2. Comentário de L.G.:

Carlos Figueira, grande camarada da portuguesíssima região autónoma da Madeira: Obrigado pelo contacto e pelas tuas saudações. Serás seguramente lembrado em Monte Real pelos camaradas presentes. Estará lá malta do teu tempo, que passou por Jemberém e por outros míticos lugares do Cantanhez. Sobre a tua companhia (Os Galos do Cantanhez), temos pelo menos 4 postes. (Clica sobre o link anterior).

Espero que para o ano possas, com tempo, preparar a viagem e estar connosco. Este é o nosso VIII Encontro Nacional. Já cá tinhas batido à porta da Tabanca Grande, em 23 de janeiro de 2009, sem todavia teres entrado (*). Não preciso de te convidar. Este blogue também é teu. Fico só à espera de uma pequena história, tua, passada lá naquela terra verde e vermelha, no meio daquelas gentes de quem ficámos amigos. Já temos 3 fotos tuas, mas se quiseres manda mais.  Oportunamente serás apresentado à Tabanca Grande, como novo membro registado. Um Alfa Bravo. (**)

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Notas do editor
(*) Vd. postes anteriores sobre a CCAÇ 4946:

23 de janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3781: O Nosso Livro de Visitas (55): Carlos Figueira, ex-Fur Mil da CCAÇ 4946, Jemberem, Cacine e Bolama (1974)

(...) A título de curiosidade - a minha Companhia chegou à Guiné em 5 de Janeiro de 1974 e regressou a 16 de Agosto do mesmo ano.

Mesmo assim, fui ferido no braço direito por estilhaços a 5 de Fevereiro e transportado para o Hospital de Bissau. Não sei bem o que se passou, mas muitos dos meus documentos militares encontram-se desaparecidos dos arquivos militares, mas tenho o essencial. (...)


(**) Último poste da série > 24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11454: O Nosso Livro de Visitas (165): Um "recuerdo" do ex-1º cabo op cripto Luís Nascimento, CCAÇ 2533 (Camjambari, 1969/71)

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11678: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (4): Visita ao Cantanhez e ás tabancas de Iemberém e Farim do Cantanhez... O poilão de Amílcar Cabral... Recordações do tempo de guerra: Contabane e Mampatá (eu e Abdu Indjai, avô da Alicinha); e Jumbembem (o Francisco Silva e o Galissá)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez  > 3 de maio de 2013 > O majestoso poilão Amílcar Cabral (1)



 Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez  > 3 de maio de 2013 > O majestoso poilão Amílcar Cabral (2)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez  > 3 de maio de 2013 > O poilão Amílcar Cabral (3)... Na foto, a Armanda, esposa do Zé Teixeira.

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]

2. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau  (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte IV

por José Teixeira 

[, Membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete; no dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez] (*)


No dia seguinte ], 3 de maio, 6ª feira,] bastante cedo, depois de um pequeno-almoço bem recheado de compotas, fruta e mel das famosas lassas [, abelhas], visitamos a Tabanca de Iemberém no que ela tem de melhor, os seus habitantes. Cumprimentos e sorrisos, desde as crianças que nos disputavam os dedos das mãos, às mulheres grandes,  passando pelos homens e jovens que nos sorriam e acenavam com um bom dia.

Aqui em Iemberém ou em qualquer lugar onde parássemos,  tínhamos sempre um sorridente bom dia, Em português, crioulo ou na sua língua nativa, e logo entabulavam conversa, para saber quem éramos e de onde vínhamos. Ao saber que éramos portugueses, o sorriso abria-se e havia uma pergunta sacramental, sobretudo quando se tratava de um homem:
– Estiveste cá na guerra, onde?

Uns identificavam-se alegremente como antigos soldados portugueses como nós e havia,  logo ali, histórias sem fim para contar, como o motorista que nos acompanhou em todo o nosso deambular pela Guiné. O simpático,  e sempre disponível, motorista fez parte de uma Companhia de caçadores nativos e gostava de reencontrar os amigos com quem conviveu.

Outros identificavam-se como antigos combatentes do PAIGC. Localizavam-se as terras por onde andamos, nós e eles. Rapidamente, descobríamos que nos cruzamos algures no mato uma vez, duas, três…Logo começava um rosário de histórias,  seguidas com pormenores de ataques ou emboscadas.

Por exemplo, vim a descobrir que o avô da Alicinha, a menina que a Alice, esposa do Luís Graça, apadrinhou e cuja jovem mãe [, a Cadi,]  faleceu recentemente, foi um dos que em 22 de Junho de 1968 participou, como comandante, no ataque a Contabane, onde estava estacionada a CCaç 2382, destruindo e queimando a Tabanca, não ficando uma morança para recordação. Felizmente,  sem vítimas a registar. Posteriormente e depois me ter ido visitar em Mampatá Forreá, voltou ao local, talvez para saborear os estragos que provocou e caiu numa minas A/P,  que lhe roubou uma perna acabando por ter de se deslocar à Holanda para colocar uma prótese, terminando assim a sua guerra ativa.

Parece que o objetivo era demonstrar ao Régulo de Contabane, o Sambel, o poderio do PAIGC e sobretudo informar Bissau que aquele caminho para a mata do Boé não podia ser usado pelas forças portuguesas. Hoje sabe-se que o Régulo Sambel,  ao ter conhecimento que algumas tabancas do seu regulado, existentes na Guiné Conacri,  davam apoio ao PAIGC fez uma deslocação a essas tabancas para dissuadir os seus habitantes a não colaborarem com o partido, e o resultado foi a destruição da Tabanca pelo fogo em ataque cerrado debaixo de uma tremenda tempestade.

Um homem sorridente e bem-disposto com aspeto jovem apresenta-se ao grupo, pergunta-nos se somos ex-combatentes. Ao respondermos afirmativamente os seus olhos tomaram um brilho especial, que me impulsionaram para lhe fazer uma pergunta:
–  Bó bi. Abó bandido da mato?
– Eu mesmo, em Jumbembém.

O Francisco Silva,  ao ouvir falar em Jumbembém [, na região de Farim], pergunta-lhe em que ano esteve por lá. E não é que tinham estado do lado oposto da barreira no mesmo período de tempo, ou seja durante o tempo em que o Silva comandou o Pelotão Caçadores de Nativos 51!?

É fácil imaginar o diálogo que se seguiu, depois de selarem o feliz encontro com um apertado abraço. Um a dizer quando e como atacou a tabanca, o outro a dizer como se defendeu e contra atacou. Aninhados no chão alinharam as posições das suas armas. Nas suas mentes bailava de forma nítida a fotografia do terreno calcorreado há quarenta anos. Com o dedo traçaram as coordenadas do terreno no chão de Iemberém, para melhor justificarem as ações que desenvolveram. Para mim, foi um prazer imenso acompanhar este diálogo entre dois antigos inimigos, agora libertos do fantasma da guerra, a conversarem de forma desapaixonada sobre as técnicas e ardis usados para atacar ou defender posições.



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  3 de maio de 2013 >  O segundo encontro do Francisco Silva com o PAIGC. O Abraço do Galissa e a discussão dos planos de defesa e ataque a Jumbembém, na altura em que o Francisco era o comandante do Pel Caç Nat 51.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  3 de maio de 2013 >  Esta velhinha também me pediu um abraço...


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  3 de maio de 2013 > Aspeto da sala de jantar do restaurante da Satu, em Iemberém.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  3 de maio de 2013 > Um das várias hortinhas que existem junto às moranças

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

Nesta deslocação por Iemberém apreciamos a forma artesanal como fabricam o óleo de palma em que os homens apenas sobem às palmeiras para recolher o coconote, sendo reservado às mulheres o seu transporte e tratamento para produzir o saboroso e alimentar óleo de palma, desde a cozedura, a trituração no conhecido pilão, a separação e purificação do produto. A propósito de todo este trabalho, a AD tem em S. Domingos uma escola oficina de metalurgia onde fabrica máquinas para simplificar e reduzir o esforço humano, mas ainda não chegaram a Iemberém.







Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  3 de maio de 2013 > Destilação de óleo de palma em que todos ajudam até as criançinhas. O Francisco Silva ainda deu uma ajuda no pilão e até tentou subir à palmeira.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  3 de maio de 2013 > Uma bajudinha com a cesta de coconote que trouxe da bolanha.

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


Tivemos a oportunidade de conhecer as gentes da etnia tanda, com menos de dois mil indivíduos radicados na Guiné-Bissau, muito bem acolhida pelos membros da etnia fula de Iemberém, onde se fixou um grupo tanda e criou a sua Tabanca.

As bajudas solicitaram à AD [, a ONG do Pepito,] apoio para a criação de uma escola de costura. Organizaram-se em associação e avançaram. A Tabanca Pequena [, de Matosinhos,] deu a mão e colocou em Iemberém três máquinas de costura. O projeto avançou e proliferou até Cabedú e Catesse. Dele falaremos em poste próprio.

Ainda nesta manhã que começou muito cedo, embrenhamo-nos na Mata do Cantanhez para saborear toda a sua beleza. Espetacular monumento à natureza que está a ser criminosamente destruído por indivíduos sem escrúpulos. Abatem as árvores de grande porte para venderam aos chineses e desbastam o que fica para adaptarem o terreno à produção de caju. Por exemplo a salacunda é uma árvore enorme em extinção que só existe em três matas da Guiné. No Cantanhez apenas se conhece uma, a que nós pudemos apreciar.

Mas o grande desafio estava no poilão a que batizaram “poilão Amilcar Cabral”. Deve ser uma das maiores árvores de África, bem escondida no coração da Mata do Cantanhez. É um monumento digno de ser ver e apreciar, pelas dimensões do seu tronco e pelo tamanho e beleza da sua copa. Sobretudo pelo que representa. A Natureza com todo o seu esplendor.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Farim do Cantanhez >  3 de maio de 2013 > O avô da Alicinha, Abdu Indjai, antigo combatente do PAIGC, amputado de um perna na sequência de uma mina A/C, acionada em Mampatá, em finais de 1968, ma altura em que lá estava o Zé Teixeira.

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


Galinha com molho de mancarra, preparado com todo o carinho pela Satu, foi o pitéu que nos levou de novo até Iemberém para o podermos saborear. Um merecido descanso e nova partida até Farim do Cantanhez à procura da Alicinha.

Fomos recebidos por ex-combatentes do PAIGC, entre os quais o avô da menina. Foi a minha vez de falar do tempo da guerra e dos desencontros que tive com ele próprio, quando estava em Mampatá. Parece que foi um dos que em Novembro de 1968, juntamente com o Braima Cassamá que conheci em 2008, tentou ocupar a tabanca, pelas duas horas da tarde. Eles sabiam que nessa noite uma sentinela abateu uma vaca junto ao arame farpado. Eles sabiam que iriamos ter almoço melhorado e pacientemente esperaram nas redondezas pela hora do almoço. Quando se aperceberam que o almoço ia ser servido,  avançaram envolvendo a tabanca e penetrando pelo lado da estrada que ligava a Buba.

Tinham as armas com balas incendiárias apontadas às moranças e logo onze delas começaram a arder. Tão depressa entraram (alguns) como logo tiveram de sair.  para não sacrificarem as suas vidas, como testemunhou o Braima, um dos que ainda entrou dentro do arame.

A minha homenagem póstuma ao grande Aliu Baldé, o régulo, que com o morteiro 60, escutava para localizar a origem do fogo e… lá vai uma, duas, até se calarem. Logo mudava de posição sempre seguido por dois milícias com um cunhete de granadas e recomeçava a cena. Eu que,  desorientado com tanto “sakalata” (ou chocolate, como nós os europeus dizíamos, o que significa barulho/festa/ronco), deslocava-me pelo interior da tabanca à procura de supostos feridos, o que felizmente não aconteceu. Nem uma beliscadura.

Zé Teixeira