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domingo, 10 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25259: In Memoriam (50): António Lobato, maj pil av, ref (Melgaço, 1938 - Lisboa, 2024), autor de "Liberdade e Evasão: o Mais Longo Cativeiro": Falta uma dimensão ao homem que não conheceu a prisão, escreveu ele, citando o filósofo Emmanuel Mounier. A sua vida foi também ela uma luta contra o esquecimento e a ingratidão. Repousa, finalmente, em paz, em Rio de Mouro.


Capa do livro do António Lobato, "Liberdade ou evasão: o mais longo cativeiro da guerra" (5ª edição, DG  Edições, Linda-A-Velha, 2014, 276 p.).





Capa da Revista do Expresso, de 29 de Novembro de 1997 (pormenor). Uma notável reportagem do jornalista José Manuel Saraiva , que conseguiu juntar em Lisboa 16 dos 25 militares portugueses, presos em Conacri, às ordens do PAIGC, e libertados na sequência da Op Mar Verde, em 22 de Novembro de 1970. Trata-se, sem dúvida, de um documento para a história.

Imagem: Digitalização feita por Henrique Matos, da capa da revista, a partir de um exemplar, pessoal, que ele comprou e guardou no seu arquivo. Foi através desta já famosa capa que ele localizou o seu antigo fur mil Jão Neto Vaz, do Pel Caç Nat 52. 

Neste grupo de dezasseis, está também o António Lobato (que nos parece ser o último da segunda fila, à esuerda,  de cabelo branco).



1. Morreu no passado dia 8,
 no hospital onde estava internado.  o nosso camarada da FAP,  António Lourenço de Sousa Lobato: ia fazer 86 anos, amanhã,  dia 11.  Foi hoje inumado no cemitério de Rio de Mouro.

 família, aos amigos e aos camaradas da FAP manifestamos aqui a  solidariedade na dor por parte dos editores, colaboradores e demais mais membros da Tabanca Grande (*)

O nosso camarada nasceu em Sante, freguesia de Paderne, concelho de Melgaço. Era major piloto-aviador, na situação de reforma...  Tem 17 referências no nosso blogue.

De 22 de maio de 1963 a 22 de novembro de 1970 foi prisioneiro do PAIGC. Seguramente o mais célebre, o mais inconformado e o mais resistente dos militares portugueses que passaram pelos cárceres do PAIGC na Guiné-Conacri. Foi libertado na sequència da Op Mar Verde. A sua história é publicamente conhecida.

Escreveu um notável livro de memórias do seu longo cativeiro, um grande documento humano, que já tem várias várias edições e pelo menos em duas versões (1995 e 2015) , "Liberdade ou Evasão",  e de que temos vários notas de leitura publicadas no blogue.(*).



Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > 7 dde Março de 2008 > Último dia do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Mensagem do Joseph Turpin, um histórico do PAIGC, para  o nosso camarada da FAP, hoje major piloto reformado, António Lobato, que esteve prisioneiro em Conacri, sete anos, de 1963 a 1970.

Vídeo (1' 36''): © Luís Graça (2008). 

Vídeo alojado em: You Tube >Nhabijoes.

2. Reproduz-se de novo o depoimento gravado por Luís Graça, em Bissau, no Hotel no dia 7 de Março, por voltas 13h11, no último dia do encerramento do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) (**)

As condições de luz eram más e a máquina era uma digital, de fotografia e não de vídeo. Joseph Turpin era um dos históricos do PAIGC, juntamente com Carmen Pereira e Carlos Correia, que estiveram presentes no Simpósio. Pediu-nos para mandar uma mensagem para o António Lobato, o antigo sargento piloto aviador portuguesa, aprisionado pelo PAIGC na sequência da queda, por acidente,  do seu T 6  em 22 de maio de 1963, na Ilha do Como. 

Levado para a Guiné-Conacri,  permanecerá sete longos e penosos  anos de cativeiro, com várias tentativas, frustradas, de evasão. Eis uma alguns excertos da mensagem do Joseph Turpin, 

"Ó Lobato, depois da tempestade, depois de tantos anos, não sei se te vais lembrar de mim..." - são as primeiras palavras deste representant do PAIGC, na altura a viver em Conacri, sendo então membro do Conselho Superior da Luta. 

 Neste curto vídeo, o Turpin recorda os momentos em que, por diversas vezes, visitou o nosso camarada na prisão. Não esconde que foram momentos difíceis, para ambos, mas ao mesmo tempo emocionantes: dois inimigos que revelaram o melhor da nossa humanidade... 

"Eu compreendia, estavas desmoralizado...Havia animosidade"... 

Joseph Turpin agradece ao Lobato as palavras de apreço com ele se referiu à sua pessoa, ao evocar  em entrevista à rádio, a sua experiência de cativeiro. Agradece o exemplar do livro que o Lobato lhe mandou e que ele leu, com interesse. Diz que ficou sensibilizado com as palavras e o gesto do Lobato. 

"Mas tudo isso hoje faz parte da história...Seria bom que viesses a Bissau" - são as últimas palavras, deste homem afável, dirigidas ao teu antigo prisioneiro português que ele trata por camarada... 

 O Joseph Turpin insistiu comigo para entregar pessoalmente ao António Lobato esta mensagem.  Nunca tive nenhum contacto pessoal com o António Lobato, que só vi uma vez, por ocasião da estreia do filme-documentário As Duas Faces da Guerra, de Diana Andringa e Flora Gomes, e em que ele  é dos participantes.   

Para o António Lobato na alt7ura, em 2008, deixámos registada,  em nome pessoal,  dos demais editores, bem como de toda a nossa Tabanca Grande, "uma palavra de respeito, camaradagem, solidariedade e apreço". ~~

Presumimos que sim, mas nunca saberemos ao certo se esta menagem chegou ao seu destinatário. Quatro anos depois o único "feedback" que tivemos foi o da filha de Joseph Turpin (***)

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segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24739: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXVI: Tocou tambor para Bubacar, em Porto Gole, Op Esmeralda Negra, 13-16 fev 1973



Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68) >  Ao centro, é visível o cavalo-de frisa; à esqueda e à direita, os 4 edifícios do aquartelament esquerda o Posto Administrativo que estava desactivado e ao fundo a cozinha, messe e dormitório de graduados; â direita , a camarata dos soldados e ao fundo o edificio onde funcionava a enfermaria e o posto de rádio

Foto (e legenda)  © Henrique Matos (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Carta geral da antiga Província da Guiné Portuguesa (1961)  (Escala 1/500 mil) > Posições relativas de Mansoa, Porto Gole, Malafo, Changalana, Mantem e Sára (base do PAIGC a sudoeste do Morés)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digitalizado, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O nosso  camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra,  facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.



Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.



O autor, em Bafatá, sua terra natal,
por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)


Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,

(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.

(xiv) o final da instrução realizou.se no subsector do Xitole, regulado do Corunal, cim uma incursão ao mítico Galo Corubal.

(xv) com a 2ª CCmds, comandada por Zacarias Saiegh, participa, em outubro e novembro de 1971, participa em duas acções, uma na zona de Bissum Naga e outra na área de Farim;

(xvi) em novembro de 1971, participa na ocupação da península de Gampará (Op  Satélite Dourado, de 11 a 15, e Pérola Amarela, de 24 a 28);

(xvii) 21-24 dezembro de 1971: Op Safira Solitária: "ronco" e "desastre" no coração do Morés, com as 1ª e 2ª CCmds Africanos  (8 morts e 15 feridos graves);

(xviii) Morés, sempre o Morés... 7 de fevereiro de 1972, Op Juventude III;

(xix) o jogo do rato e do gato: de Caboiana a Madina do Boé, por volta de abril de 1972;

(xx)  tem um estranho sonho em Gandembel, onde está emboscado très dias: mais do que um sonho, um pesadelo: é "apanhado por balantas do PAIGC";

(xxi) saída para o subsetor de Mansoa, onde o alf cmd graduado Bubacar Jaló, da 2ª CCmds Africanos, é mortalmente ferido em 16/2/1973 (Op Esmeralda Negra).


 Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXVI:

Tocou tambor para Bubacar, em Porto Gole (pp. 236-239)

Antes de sairmos, fizemos uma pequena reunião em Brá como era costume. Nesta reunião foram-nos comunicados os novos códigos para contacto rádio. Para as evacuações, “marabuta tocou tambor” significava que tinha morrido um oficial nosso. Se fosse um dos nossos sargentos seria “marabuta tocou guitarra” e “marabuta tocou viola” se se tratasse de uma praça.

Já no fim da reunião, com o pessoal a levantar-se, um dos supervisores perguntou ao alferes Bubacar Jaló, da 2ª Companhia, se estava tudo compreendido. Que sim, que não tinha dúvidas. Então, como é, perguntou-lhe o supervisor.

−  Marabuta tocou tambor − respondeu Bubacar.

−  E isso o que quer dizer, Bubacar?

− Que morreu um oficial!

Uma gargalhada terminou a reunião e preparámo-nos para arrancar.

A saída[1] era para Porto Gole, a  sudeste de Mansoa,  e eu ia no grupo do alferes Tomás Camará. O comandante da 2ª Companhia, o tenente Adriano Sisseco foi lançado com o grupo do alferes Bubacar Djaló.

Deslocámo-nos em viaturas até Porto Gole, onde havia população, milícias e um destacamento militar[2]. Depois do almoço, os helis apanharam-nos na pista e largaram-nos entre Malafo e a mata que vai até Mantém.

O nosso grupo, cerca de vinte e poucos homens, dirigiu-se para leste até à linha de água, que separava as matas de Malafo e de Mantem. A intenção era reunirmos ao grupo do Sisseco e do Bubacar, para depois montarmos uma emboscada no vale de Mantem. Logo que fomos lançados junto à mata de Malafo, afastámo-nos depressa do local e caminhámos cerca de uma hora, com a ideia de comermos qualquer coisa, porque não íamos comer na emboscada.

Começámos a ouvir barulhos e fumo. A mata estava a arder, tinham lançado fogo a toda a volta e não havia meio de voltar para trás. O fogo, puxado por algum vento, aproximava-se de nós e já não estávamos longe do local onde íamos montar a emboscada.

Estávamos a sair da zona do incêndio quando fomos surpreendidos com tiros e rebentamentos de morteiros e roquetes, que não nos eram dirigidos, mas estavam a cair bem à nossa frente, muito perto de nós, tão perto que cheirávamos a pólvora.

Era o grupo de Bubacar, onde ia o Sisseco, que estava a ser atacado. Tentámos o contacto rádio com o grupo, não responderam, mas ouvimo-lo pedir uma evacuação para um ferido[3]. 

Soubemos depois que o alferes Bubacar Djaló tinha sido atingido com um tiro na cabeça. Depois da evacuação, avançámos para o local donde tinha sido feito fogo e que era o nosso objectivo. Não encontrámos lá ninguém.

O sol estava a pôr-se, tínhamos sido detectados, e abandonámos a zona, em marcha forçada, para procurarmos um local para passarmos a noite. Estávamos dentro da mata, do lado oposto à linha de água, que estava seca. Aqui, o pessoal do PAIGC não ia contar com a nossa presença, pensámos nós. Era terra de ninguém, o local onde se tinha travado o combate.

Depois do confronto, nessa tarde, com o grupo do Bubacar, a guerrilha colocou os canhões a pouco mais de 100 metros do local onde o meu grupo passou a noite. Bateu a zona durante toda a noite. Mas o grupo, agora sob o comando do Sisseco, mudou três vezes de local durante a noite.

O nosso grupo estava próximo deles e combinámos que, ao acordar do dia nos íamos deslocar para onde o PAIGC tinha colocado os canhões. Quando nos estávamos a movimentar para esse objectivo, vimos um pequeno grupo da guerrilha e entrámos em confronto directo. Foi mais de meia hora seguida, a trocar tiros e roquetes. Tivemos um ferido, o soldado Assimo Djaló, que foi atingido numa perna com alguma gravidade[4].

A 3.ª Companhia, comandada pelo tenente Djalibá Gomes, que estava também a operar na zona, paralelamente a nós, tinha sofrido no dia anterior também dois feridos muito graves[5]. Um dos soldados mortos era de Bafatá, chamava-se Tcherno Baldé. O corpo foi de barco para Bafatá e eu, de avião, de Bissau para a minha cidade, para participar no funeral.

(Continua)
_________

Notas do autor e do editor literário, VB:

[1] Nota do editor: operação “Esmeralda Negra”,  na região de Changalana-Sará,  entre 13/16 fevereiro 1973 

[2] Nota do editor: do BCaç 4612.

[3] Nota do editor: Foxtrot Delta (ferido deitado). Evacuado para Bissau, morreu no HM 241 em 16 fevereiro de1973.

[4] Nota do editor: Assimo Djaló, DFA, residente em Lisboa.

[5] Nota do editor: evacuados para o HM241 onde morreram nesse mesmo dia: Cherno Baldé, natural de Bafatá e o soldado da 3ª CCmds, Domingos Quiassé Antunes, natural de Bissau.

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Guné 61/74 - P22944: Memória dos lugares (435): Missirá, regulado do Cuor, Sector L1 (Bambadinca), 23 de dezembro de 1966 (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, 1966/68)

Foto nº 1

Foto nº 2

Foto nº 3



Foto nº 3A

Foto nº 4



Foto nº 4 A

Foto nº 5


Foto nº 5A


Fpoto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 7A


Foto nº 8


Foto nº 8A


Foto nº 9



Foto nº 9A


Foto nº 10


Foto nº 10A


Foto nº 11



Foto nº 11A



Foto nº 11B


Foto nº 12


Foto nº 12A


Foto nº 13


Foto nº 13A


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadic«nca) > Missirá > CCAÇ 1439 /1965/67) e Pel Caç Nat 54 (1966/68) > 23 de dezembro de 1966...  Algumas legendas: 

Foto nº 1: sítio do Unimog, debaixo da 'cabaceira'; 

Foto nº 8 / 8 A: Alguns elementos do Pel Caç Nat 54 e da CCaç 1439, fotografados num cenário de destruição, na sequência do ataque do PAIGC;

Foto nº 9 ( 9 A: alf mil Marchand (Pel Caç Nat 54), comandante do destacamento, a avaliar os estragos do ataque de 22/12/1966, três dias antes da noite de Consoada;

Foto nº 10 /10A: José António Viegas (Pel Caç Nat 54); 

Foto nº 11 / 11A: morança dos furriéis (Pel Caç Nat 54)  alf mil Freitas (CCAÇ 1439), que comandou uma coluna de socorro a partir do Enxalé;   

Foto nº 12 / 12 A: a messe que escapou, por milagre, ao ataque, com balas incendiárias;

Foto nº 13 / 13A: a  morança do comandante do destacamento, que também não foi atingida.

Fotos (e legendas): © José António Viegas (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1.  [ Foto à esquerda:  José António Viegasex-fur mil art, Pel Caç Nat 54 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e Ilha das Galinhas, na altura, colónia penal); vivehoje  em Faro; é um dos régulos da Tabanca do Algarve; tem meia centena de referências no nosso blogue].

Estas fotos, que acima se reproduzem (de 1 a 13), foram tiradas pelo nosso camarada e amigo José António Viegas, e são reveladoras da violência da guerra em finais de 1966. Neste caso, do ataque do PAIGC ao destacamento e tabanca de Missirá, a norte do rio Geba Estreito, no regulado do Cuor, Sector L1 (Bambadinca), região de Bafatá. zona leste. Foram reproduzidas há muitos anos, na série "Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique  Matos)" (*)

O ataque começou por volta das 22h30 do dia 22 de dezembro de 1966, três dias antes da Consoada. 

O destacamento e a tabanca eram defendidos pelo Pel Caç Nat 54,  comandado pelo alf mil Marchand  (, foto à direita,) e por um pelotão de milícia, comandado pelo alferes de 2ª linha e régulo da tabanca, Malan Soncó.  O destacamento pertencia ao subsector atribuído à CCAÇ 1439, que estava então no Enxalé  (**)

O fur mil Viegas ainda era periquito: tinha partido para o CTIG em rendição individual, em 30/7/1966.  Completaria 25 meses de comissão, tendo regressado a casa em 22/9/1968. 

2. Ele já  descreveu aqui o aconteceu nessa noite (***):

(...) 22 de Dezembro 1966. 22h30 da noite estavam os 3 furriéis conversando á espera do sono, eis que atravessa a palhota uma saraivada de balas incendiárias, tracejantes, explosivas, um pouco acima dos mosquiteiros.

Fui pegar na G3, meio vestido, a caminho do abrigo. A palhota já ardia, no caminho duas morteiradas certeiras entram no depósito de géneros alimentícios, acertando no bidão de óleo e de azeite o que provocou um fogo de artifício.

Já no abrigo ajudo o meu cabo a municiar a MG [42, a célebre metralhadora do exército alemão na II Guerra Mundial], no meio daquele fogacho ele diz que ouve falar espanhol, presume-se que estavam lá Cubanos .

O ataque já ia avançado e as nossas munições escasseando, o único Unimog que tínhamos estava debaixo de um embondeiro [, "cabaceira", em crioulo] e caiam morteiradas junto, com as palhotas na maioria a arder.

Parecia Roma vista de Bambadinca , o condutor da CCAÇ 1439 arranca debaixo de fogo e põe o Unimog a trabalhar para o retirar da zona de fogo. Como ele estava a escape livre, a barulheira foi muita e o IN, pensando que eram reforços, retirou. Este soldado condutor foi condecorado com a cruz  de guerra de 4ª classe. 
[ Soldado, condutor auto, nº 5406064, António dos Santos Campos ].

Tendo ido montar emboscada em Mato Cão, já calculando que a CCAÇ 1439, sediada em Enxalé, viria em nosso socorro, o que aconteceu, e como tal caíram debaixo de fogo, não havendo feridos do nosso lado. Houve um tiro caricato no Furriel Monteirinho, do Pel Caç Nat 52, do Alf Matos [, o açoriano Henrique José de Matos Francisco] , que lhe passou no meio das nádegas deixando somente queimaduras.

Ao nascer do dia, feito o balanço, tivemos dois mortos na população  
[, quatro mortos, segundo relatório da CCAÇ 1439, ] (**)   e alguns feridos ligeiros e muitas palhotas destruídas, alguns de nós ficaram só com a roupa que tínhamos no corpo.

Aproximava-se a véspera de Natal, e para o rancho pouco havia... O meu cabo nativo Ananias Pereira Fernandes sugeriu que ia tentar caçar qualquer coisa e caçou, arranjou óleo de chabéu e arroz e cozinhou uma maravilha que todos na messe gostaram, mas quando chegou a altura de mostrar o troféu, a cabeça do macaco cão, houve quem não aguentasse o estômago... Guardei essa caveira do macaco por anos.

E foi este o primeiro Natal na Guiné do Pel Caç Nat 54. (...) 
 (***)

Num tipo de guerra como  esta ("subversiva", diziam as NT; "de libertação", dizia o PAIGC), não se fazia, de um lado e do outro, uma clara distinção entre alvos civis e alvos militares...A "militarização" (, sistema de autodefesa e formação de milícias, ) do povo fula, aliado tradicional das autoridades portuguesas de então,  teve consequências como estas, com todo o seu cortejo de mortos, feridos, casas incendiadas, víveres destruídos, dor e ódio: muitas tabancas fulas eram atacadas "com fúria e em força", de noite, com armamento pesado e balas incendiárias...  (****)
___________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22942: O que é feito de ti, camarada ? (15): Abel Rei, ex-1º cabo, CART 1661 (Fá, Enxalé, Bissá, Porto Gole, 1967/68), autor do livro, "Entre paraíso e inferno, de Fá a Bissá, memórias da Guiné, 1967/68... O João Crisóstomo manda-te um "hello", de Nova Iorque



O Abel Rei, foto atual  da sua página no Facebook.



Abel de Jesus Carreira Rei – Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/1968. Prefácio do ten gen Júlio Faria de Oliveira. Edição de autor. 2002. 171 pp. (Execução gráfica: Tipografia Lousanense, Lousã. 2002).



O Abel Rei autografando o seu livro (, presume-se que pro volta de 2002, numa sessão de lançamento). Foto da sua página no Facebook.



Almeirim > 10 de maio de 2014 > XXIII Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Caç Nat 52, Pel Caç Nat 54, e Pel Mort 1028, que passaram pelo Enxalé (1965/67). 

 O Abel Rei é o primero da primeira fila, do lado direito. Alguns camaradas nossos conhecidos (e membros ds Tabanca Grande): Henrique Matos (Pel Caç Nat 52), José António Viegas (Pel Caç Nat 54), Júlio Pereira (CÇAÇ 1439). 

O "Mafra" é a alcunha do Manuel Calhanda Leitão, também já convidado para integrar a Tabanca Grande: foi o organizador do último encontro do pessoal em 18 de maio de 2019, na Ericeira... 

Em 2010, houve um encontro histórico, deste pessoal, o 19º Encontro, onde estiveram presentes, entre outros, o Henrique Matos, o Mário Beja Santos, o Jorge Rosales, o João Crisóstomo, o madeirense António Freitas (um dos quatro alferes da CCAÇ 1439), o João Neto Vaz, o Luís Cunha, e outros.

Foto (e legenda): © Henrique Matos (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de João Crisóstomo (ex-alf mil at inf, CCAÇ 1439, 1965/67; a viver em Nova Iorque, desde 1977):

Data - sábado, 22/01, 17:01 (há 4 dias)
Assunto - Contacto do Abel Rei


Meus caros Luis Graca e Carlos Vinhal,

Numa das vezes que estive em Portugal num dos encontros/convívios em que tive oportunidade de estar presente ( deve ter sido em Monte Real, mas não tenho a certeza) deparei com o Abel Rei que na altura até me autografou o seu livro “Entre o Paraíso e o Inferno”. 

 Quando cheguei arrumei o livro com intenção de o ler logo que oportunidade surgisse mas o tempo foi passando e o livro acabou mesmo por ficar esquecido no meio de muitos, alguns deles esperando que tempo e ocasião se proporcionassem. 

Tenho quase vergonha do meu lapso mas a verdade é que, tendo várias vezes ouvido e lido das duas memórias me esqueci completamente que tinha o livro dele comigo. E ontem ao procurar algo na estante deparei com o livro dele. Comecei logo a lê-lo e já vou quase a meio.

Procurei mas o nome do Abel Rei não consta na lista que o Carlos Vinhal fez o favor de me enviar em Julho do ano passado. Talvez vocês ou algum outro camarada tenha essa informação. Se for o caso podem-me ajudar?

Embora tarde quero-o contactar; não só para o felicitar pelo seu livro, como para lhe pedir desculpa de só agora o fazer. Foi falta grande da minha parte, "mea culpa mea culpa”, mas... antes tarde do que nunca! 

 Até porque ao ler o livro verifico que nos meses de Fevereiro e Março de 1967 andamos pelos mesmos sítios: eu ainda estava na Guiné, quase de saída; e ele, ainda periquito descreve as suas primeiras impressões de Enxalé, Finete, Porto Gole, Mato Cão… escrevendo :” fiz a mais dura viagem… numa estrada com quase trinta quilómetros… cheia de buracos…com perto de um metro de fundo…"

Nas páginas 38 e 39 descreve uma saída, que já eu tinha esquecido, mas que ao ler o livro me veio à memória com muita nitidez. Porque na zona de Bissá havia muito gado bovino era lá que a nossa companhia “ se abastecia” … Recordo bem que nessas saídas ao mato, procurando víveres,   nunca faltava o nosso furriel/enfermeiro Geraldes que a si mesmo tinha chamado o cargo de cuidar das vacas e bezerras,( o que deu azo a muitas peripécias de morrer a rir, que agora me vêm à lembrança.

Eu fiz parte dessa saída que o Abel Rei menciona e que me parece merecer ser descrita: ”Saímos a pé, por uma enorme bolanha, toda coberta de capim com mais de dois metros de altura, pelas três e meia da madrugada, com destino a Bissá, onde chegámos às sete meia, para fim, quase exclusivamente, de compra de gado bovino.”

Lembro bem que o capitão Pires ( da nossa CCaç 1439) fazia questão de ser sempre ele mesmo a fazer essas negociações, como muito bem descreve o Abel Rei : 

”Instalámo-nos em redor das tabancas, para montar segurança ao capitão da CCaç 1439 ( ele diz Cart nº 1439) enquanto (este) negociava com os nativos , vistos os mesmos tanto nos venderem a nós, como aos nossos inimigos. “ (...).  “foram mais de cindo horas, de aldeia em aldeia"… “o calor era intenso”…” e com imenso desgaste de energias até à exaustão”. 

E o Abel Rei, então ainda periquito, pergunta-se e pondera:” hoje pude avaliar quão grandes teriam sido as dificuldades que os nossos antecessores sofreram, e eu ainda terei de sofrer(?)”…" bebia-se todo o líquido que nos aparecia, quer nas poças do terreno, ou nos poucos cursos de água, fosse ela da cor que fosse”...

Nas páginas 55 do seu livro menciona:  “...a 26 de Março ( 1967) esta companhia passou do aquartelamento de Fá para o de Enxalé a fim de render a CCaç 1439….”

 Ora eu lembro-me ter partido/saido de Missirá onde estive estacionado nos últimos dias antes do regresso; portanto não estava em Enxalé quando ele chegou, com a Companhia dele,  para render a CCaç 1439. Por isso não recordo ter feito conhecimento com ele na altura . Mas gostava mesmo de o chamar pelo telefone; e se não for pelo telefone será mesmo por E-mail...( talvez ele me forneça depois o número dele ).

(...) Se tiverem não se esqueçam do contacto do Abel Rei, OK?

Aos dois, e às vossas melhores metades, e demais queridos um grande abraço
João e Vilma


 2. Comentário do editor LG:

João, o Carlos Vinhal já te forneceu o endereço de email do Abel Rei. Não temos o seu número de telemóvel. Sabemos que mora na Marinha Grande, mas o nosso camarada Joaquim Mexia Alves, seu vizinho,  também não tem notícias dele. Faz anos a 30 de março, mas não tem feito a competente "prova de vida"... 

A sua página no Facebook está inativa desde 31 de março de 2021, o que pode não ser bom sinal...  Nessa altura agradeceu os parabéns que lhe deram amigos  e camaradas, incluindo o José António Viegas, do Pel Caç Nat 54, e o Henrique Matos, do Pel Caç Nat 52.

O Abel de Jesus Carreira Rei, ex-1º cabo, CART 1661 (1967/68), ou simplesmente Abel Rei, tem 17 referências no blogue, é amigo da página do Facebook da Tabanca Grande, é autor de um livro de memórias sobre a sua passagem na Guiné, já participou num dos nossos encontros nacionais, o IV, em Ortigosa, Monte Real, Leiria, em 2009. Mas, por lapso nosso, só foi registado formalmente como membro da Tabanc Grande em 2019 (**)


3. Mensagem do João Crisóstomo dirigida ao Abel Rei:

Data - domingo, 23/01/2022, 14:13  
Assunto - Hello de Nova Iorque



Caro Abel Rei,

Estou em dívida para contigo. Num encontro passado tive a oportunidade de te cumprimentar e na altura até me autografaste o teu livro diário sobre a tua experiência na Guiné. Tinha intenção de o ler logo que chegasse, pois várias vezes tinha ouvido falar de ti; mas não o fiz logo e…mea culpa mea culpa, o tempo foi passando. 

Ontem ao vascular prateleiras deparei com ele. Peguei-o e comecei a ler. Só interrompi a leitura porque tinha de ir a Nova Iorque. Mas quando voltei peguei nele de novo e foi de uma assentada até à ùltima página. 

Verifico que calcorreamos muitos lugares comuns, novidade para mim. Foi uma enxurrada de emoções. Mas sobre estas coisas não dá para falar muito por E mail. Na próxima oportunidade que estiver em Portugal , dentro de alguns meses, espero, temos de nos encontrar, pode ser? Entretanto, se não te importas, dá-me o teu contacto telefónico e eu ligo para ti.

Quero-te dizer pessoalmente da minha admiração, quase inveja , pela tua ideia de ires escrevendo as tuas impressões e experiências na Guiné quando as ias vivendo. Ao fazê-lo enriqueceste a tua vida e a de muitos outros , como a minha agora. Obrigado.
Um grande abraço com muita amizade

João Crisóstomo, Queens, Nova Iorque 

[ Seguem na mensagem os contactos e a morada do nosso camarada luso-americano, que não publicamos por razões de privacidade e segurança, embora ele se nos autorize a sua divulgação ]

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Notas do editor:
 

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22940: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XVI: brutal ataque ao destacamento e tabanca de Missirá na véspera do Natal de 1966


Foto nº 1 > Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá > Malan Soncó, Régulo de Missirá com o Alferes Crisóstomo




Foto nº 2 > Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá > 
O Régulo de Missirá e os homens grandes da tabanca de Missirá com o “novo” alferes de pé entre ele e o seu irmão; com os homens grandes estão os 3 furriéis do 2º pelotão : Agostinho Neiva, de pé à direita, o furriel Lopes no meio e no lado esquerdo o furriel Bonifácio.




Foto nº 3 > Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá > 
Esta foto com as bajudas de Missirá evidencia o bom relacionamento existente.


Foto nº 4 > Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá > Mesmo  num destacamento havia momentos de descontracção. Não sei qual a ocasião . Na foto estou com o novo médico do BCAÇ 1888, Paulo Patracki que substituiu o medico Francisco Pinho da Costa que tinha sido evacuado para Bissau e daí para Lisboa, vítima duma mina em 21 de Agosto de 1966.


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


A CCAÇ 1439 teve como unidade mobilizadora o BII 19 (Funchal), partiu para o CTIG em 2/8/1965 e regressou a 18/4/1967, tendo passado por Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole, Missirá, Fá Mandinga. O comandante era o cap mil inf Amândio Manuel Pires, já falecido. Alferes (milicianos): Freitas (Funchal, Madeira), Crisóstomo (Torres Vedras, hoje a viver em Nova Iorque), Sousa (Vila Nova de Famalicão), Zagalo (Lisboa, ator de teatro, já falecido).






João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67)
(a viver em Nova Iorque desde 1977,
depois de ter passado por Inglaterra e Brasil)


I. Continuação da publicação das memórias do João Crisóstomo, ex-alf mil at inf, CCAÇ 1439 (1965/67)


CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, luso-americano,
ex-alf mil, Nova Iorque) (*)


Parte XVI: Dia 23 de Dezembro de 1966 : Ataque ao destacamento e tabanca de Missirá



1. O ataque a Missirá foi um choque para todos. O Régulo de Missirá (Foto nº 1)  era como um amigo para todos e isso refletia-se na população com quem tínhamos um relacionamento muito bom, direi quase de família (Fotos nºs 2 e 3).

Virei a saber que,  depois de termos ido embora,  o mesmo relacionamento continuou como tive o prazer de ler nos escritos e livros de Beja Santos, especialmente no seu “Diário da Guiné, em Terras de Soncó.” As fotos que acima de reproduzem, tiradas antes do ataque,  ilustram bem este bom relacionamento

Embora o destacamento de Missirá nesta data ainda estivesse sob a responsabilidade da CCaç 1439 no Enxalé, o destacamento de Missirá já tinha recebido nesta altura, como já tinha sucedido em Porto Gole, o reforço de um pelotão de nativos, (o Pel Caç Nat 54, segundo me informaram) devidamente treinados pelas NF, comandado pelo Alferes Marchand. Isto dava mais flexibilidade e possibilidades à CCaç  1439 para outras “tarefas”.



Foto nº 5 >
 Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá >  Aspeto geral da tabanca



Foto nº 6 > Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá > O sold trms Júlio Martins Pereira.

Estas duas fotos (nº 5 e 6) são da autoria de Júlio Pereira : a 1ª mostra parte da tabanca; na 2ª foto o Júlio Pereira e o seu rádio de transmissões no largo dessa tabanca

Fotos (e legendas): ©  Júlio Martins Pereira  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].





Foto nº 7 >
 Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá  > O 
Alferes Marchand, cmdt do Pel Caç Nat 54, no dia do ataque do IN a Missirá.



Foto nº 8 >
 Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá  > O alf mil Freitas.



Foto nº 9 >
 Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá >  Sob o comando do Alferes Freitas (foto nº 8)  veio uma coluna do Enxalé, na qual me incorporei. Nesta foto, aqui estou eu,   “sem poder acreditar”, olhando os resultados do ataque.  O ex-fur mil José António Viegas, do Pel Caç Nat 54. tem também excelenets fotos do dia seguinte ao ataque a Missirá: vd. postes  P2105 e 2107 (**).


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



2. No dia 23 de Dezembro de 1966,  o IN atacou em grande força o destacamento de Missirá com efectivo muito numeroso, cercou toda a tabanca, tendo utilizado morteiro 82, canhão sem recuo, metrelhadoras pesadas 12.7 e toda a espécie de armamento automático.

"As NF reagiram convenientemente pelo fogo e com calma, não permitindo,  apesar do incêndio declarado na tabanca em consequência do fogo IN e do grande volume da forca atacante,  qualquer desmoralização nas nossas fileiras. 

"O ataque que durou cerca de 75 minutos alertou as forcas aquarteladas em Enxalé que,  não tendo ligação rápida com o destacamento de Missirá, decidiram ir em seu auxílio. Devido à distância Enxalé-Missirá, as forças idas do Enxalé quando chegaram à região de Missirá não encontraram já os elementos atacantes,  tendo-se verificado que os mesmos tinham dispersado para N por vários itinerários."

Resultados: f
eita uma batida a toda a zona  em volta de Missirá foi encontradomo seguinte material:

  • 1 granada de mão defensiva REGD-5;
  • 1 cunhete de granadas para canhão sem recuo;
  • vários invólucros de calibre 12,7 e 7,62 e uma fita de met 12,7.

O IN sofreu baixas confirmadas em número não estimado. Não houve baixas nas NT. A população civil, por seu turno,   sofreu 4 mortos e três feridos,  os quais foram evacuados para Bissau.

Do incêndio resultaram avultados prejuízos materiais- quer em material de querra e aquartelamento, quer em artigos de cantina e rancho em virtude de terem ardido 3 casas pertencentes à tropa e 5 à população civil.

Diversos - Foi salientado na acção o seguinte pessoal:

  • Régulo de Missirá, Malan Soncó;
  • Soldado Cond Auto  nº 5406064, António dos Santos Campos;
  • Soldado At nº 820 27666, Armando Félix Dionf, do Pel  Caç Nat 54.

Todos estes elementos foram louvados pelo Exmo Comandante Militar.

Referência apreciativa do Agrupamento 24:

"Comunico a V.Excia que causou a melhor impressão, neste Comando, a decisão tomada pelo Comandante da CCaç 1439 e medidas que pôs em prática para interceptar o IN, atacá-lo e aniquilá-lo se possível.

Gorou-se o esforço dispendido por falta de contacto mas o poder de determinaçnao daquele comandante, sua capaciade para montar uma operação, espírito de sacrifício e combatividade de suas tropas ficou bem vincado, o que me apraz registar.”

(Continua)
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Notas do editor:


(**) Vd. postes de:

14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2105: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (1): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte I)