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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7269: Operação Saudade 2010 (Mário Beja Santos) (5): Páginas de um diário quase improvável, antes de viajar para a Guiné (3) 1 de Novembro

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Novembro de 2010:

Queridos amigos,
Há muito tempo que não fazia um exercício destes. Não é petisco nenhum, são carambolas da memória, anda-se de pinça em riste, à procura das emoções vividas. A chatice é que estou atolado de trabalho, até partir. E a Guiné já está a mexer comigo. Hoje fui buscar vários quilos de roupa para entregar à filha do Abudu, vai ser uma das primeiras missões deste recoveiro. E há chamadas, contactos ainda a estabelecer. E há o medo de que falava o Torcato, talvez o mais insidioso de todos: o que é que se vai dizer, passado todo este tempo? Como é que é possível não deflagrarem várias granadas ofensivas e defensivas naquilo a que se chama o coração e os sentimentos?
Glosando o que a minha irmã escreveu num daqueles bilhetes-postais, eu tenho que aguentar a viagem a que me impus, não foi ninguém que me empurrou, de cá para lá.

Um abraço do
Mário


Operação saudade 2010 (5)

Páginas de um diário quase improvável, antes de viajar para a Guiné (3)

Beja Santos

Os bilhetes-postais, os telefonemas, os livros

1 de Novembro

Faço vigília pelos meus mortos, os do sangue, os da mais terna amizade, aqueles de quem serei devedor para todo o sempre. Incómoda foi a hora em que decidi abrir a caixa de sapatos com os bilhetes-postais recebidos na Guiné, até aqueles que enviei para os meus mortos. Todas estas imagens desinquietam, me transferem prematuramente para a aventura que vou viver, dentro em breve.

Primeiro os bilhetes que a Manuela me enviava frequentemente, fosse a que pretexto fosse. 3 de Março de 1979, com a fachada da Estação do Rossio, a minha irmã recomenda-se: “Um dia de Páscoa o melhor possível é o que sinceramente te desejamos. Que Deus te vá dando forças para suportares tudo o que seja imposto. A 10 de Agosto desse ano, a minha mãe, a caminho de São Pedro do Sul, na companhia do Rodolfo, o meu sobrinho, com a biblioteca da Universidade de Coimbra, despede-se como sempre: “Beijo da tua mãe que nunca te esquece, Ângela”. Há bilhetes para todos os gostos, bilhetes policromos, do tipo arte pop, castelos, aldeias típicas e santinhos como aquele que a minha mãe me envia em Fevereiro de 1969, recordando um ano antes, as férias que passara nos Açores, na minha companhia. Leio e releio o que me dizem Junho de 1970 a minha irmã com uma imagem da Basílica de Fátima: “Viemos de passeio no nosso Fiat 850 Especial, o teu cunhado fez exame de condução com 27 lições e comprou o carro novo no dia. Desejo-te um rápido e feliz regresso”. A gratidão que devo à minha irmã não tem preço. Meticulosamente, aos sábados à tarde, ela ia visitar todos os feridos que estavam no Hospital Militar, levava-lhes comida e muito carinho. O marido e os filhos ficavam no carro enquanto ela atravessava aqueles corredores com gente com membros amputados, cegos, em cadeiras de rodas. Ela fez a comissão toda com uma devoção fraternal e um grande espírito de dádiva, muito próprio das enfermeiras.

Escrevo à minha mãe em 20 de Janeiro de 1967 e mando-lhe um bilhete-postal com uma plantação de chá em S. Miguel. Comunico-lhe que vou para exercícios finais para a Lagoa do Fogo. E é da Lagoa do Fogo que a minha amiga Cremilde Tapia me envia notícias, pedindo-me para ser perseverante e cumprir a vontade de Deus. Chega mesmo a dizer que quando acabar a comissão na Guiné irei passar por lá. Como aliás aconteceu, o Carvalho Araújo lá foi arrastado do cais do Pidjiquiti até à Ponta Caió, depois atirou-se pela noite escura em direcção a Cabo Verde, contingentes foram largados na ilha do Sal e depois em S. Vicente. A etapa seguinte foi o porto de Ponta Delgada, tinha os amigos todos à minha espera. O mais emocionante foi o barco a avançar lentamente sobre aquele esporão de cimento onde uma multidão de mulheres trajando de negro aguardava filhos, maridos e irmãos. De um silêncio sepulcral passou-se à estridência máxima enquanto de lá para cá, e de cá para lá, se faziam os reconhecimentos da voz do sangue.

A Lagoa do Fogo, ilha de S. Miguel

Plantação de chá, ilha de S. Miguel

Estação do Rossio em 1969

Não sei o que hei-de fazer destes bilhetes-postais. Procurei-os como teias de todo esse tempo que me parecia já descodificado, reconhecido, escancarado. É mentira, somos mnésicos, mas há sempre sombras, leituras dúplices. É um dos sabores da velhice, redescobrir lembranças do passado, poças de água que resistiram aos escaldões do vento suão.
Agora importa conversar, saber o que se vai passar na Guiné.

Começo pelo Cherno.
- Cherno!
- Pronto, às ordens!
- Cherno, já conseguiste encontrar o Doutor (Doutor é Quebá Sissé, cozinheiro, atirador e outras coisas mais, perdi-lhe o rasto, vive perto de Farim, pedi ao Cherno para o contactar)?
- Tumulu Soncó foi comprar tecidos a Zinguichor, passou por Farim, deixou recado. Boa notícia, Tomani Sanhá está vivo, vive perto de João Landim, a caminho de Mansoa. Com o telemóvel as coisas agora são mais fáceis, ficou combinado que vou seguir a tua viagem e a partir do dia 18 vou saber quando chegas a Bambadinca. No Cossé e em Badora, está tudo informado. Ninguém sabe do Campino, deve andar pelo Senegal. Tumulu deixou recado em Ziguinchor. A gente de Amedalai quer fazer-te uma festa, vais receber galinhas e panos.
- Cherno, não tenho palavras para te agradecer!
- Nosso alfero manda sempre, sempre. Pessoal da Guiné está à espera.

A seguir ligo para o Queta Baldé.

- Boa tarde, Queta.
- Boa tarde, boa tarde.
- Queta, já falei com o Mamadu, há muita informação a correr entre Bambadinca e o Xime, mas há nomes em falta, ninguém encontra Domingos nem o Príncipe Samba.
- Zé Pereira já foi encontrado. Está em Catió, vem para Bissau para te ver. Guardou sempre os louvores e a condecoração. Gostava de ser ajudado, não sei o que dizer, há muita tristeza, tens de partir preparado para o que vais ver.
- Vai-me dando notícias, meu bom Queta.

Amanhã vou ligar para Santa Helena e Bissau. Hoje já chega de emoções.

Remexi na bibliografia de tudo o que li na Guiné. Cheguei à conclusão que há títulos omissos. Agora sei bem porquê. Livros que não me tocaram, mesmo que fossem obras-primas. Foi o caso de “As Vozes do Silêncio”, de André Malraux. Para quem se lembra, o café Bento tinha uma pequena livraria ao fundo, ali encontrei relíquias. Recordo que na segunda visita a Bissau, em Julho de 1969, andava à procura de livros, perdera tudo no incêndio de 19 de Março, em Missirá. Malraux era para mim um grande escritor. Como, aliás, vim a confirmar quando, anos mais tarde, li "A Condição Humana" e as memórias que ele dedicou a Charles de Gaulle. Comprei “As Vozes do Silêncio” à toa, não me pude entender com aquela catadupa de análises. Dois exemplos: “O génio pode nascer de uma ruptura individual; a evolução e a mutação brusca dos valores provocam, contudo, em certas épocas privilegiadas, rupturas relativamente numerosas. Vários artistas tomam consciência, quase simultaneamente, de um desacordo fraterno entre cada um deles e a arte que admiram em comum; certas descobertas são retomadas por todos, como as descobertas técnicas do cinema o são hoje numa contradança inextrincável”. E mais adiante “É impossível compreender o papel desempenhado na nossa civilização pela ressurreição que ela suscita, senão descobrirmos que a arte que a pede surgiu das brechas da cristandade. Não do cristianismo, nem do pensamento religioso, mas da sociedade toda-poderosa que modelou a alma e o espírito dos homens, e cuja última expressão encontramos no que conservam do seu passado a Índia inquieta e o Islão”. Eu sei que isto é muito belo e seguramente profundo. Li na Guiné e não compreendi. E continuo a não alcançar esta forma de falar do absoluto e da permanência do acto criador. Paciência.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7259: Notas de leitura (168): Crónica da Libertação, de Luís Cabral (5) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 7 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7237: Operação Saudade 2010 (Mário Beja Santos) (4): Páginas de um diário quase improvável, antes de viajar para a Guiné (2) 31 de Outubro

domingo, 7 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7237: Operação Saudade 2010 (Mário Beja Santos) (4): Páginas de um diário quase improvável, antes de viajar para a Guiné (2) 31 de Outubro

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Novembro de 2010:

Queridos amigos,
Não sei se não estou a ir por um caminho perigoso nestes preparativos de viagem.
A verdade é que se já instalou alguma confusão entre a realidade e a ficção. Mas este mapa existe, encontrei-me de facto com o Sousa Pires e até estou a ler o André de Faro. Mas preferia ter a imaginação mais solta e preparar-me para as pessoas e locais que não visito há décadas, conhecer até as pessoas que me procuraram aniquilar. Vamos ver.

Um abraço do
Mário


Operação saudade 2010 (4)

Páginas de um diário quase improvável, antes de viajar para a Guiné (2)

Beja Santos

31 de Outubro

O furriel João Sousa Pires foi um dos meus mais dilectos colaboradores, tanto no Cuor como em Bambadinca. Não só me ajudou nas idas a Mato de Cão, como, sobretudo ao nível das entediantes fainas administrativas, foi um leal arrimo na logística e na pagadoria. Quando comecei a escrever os meus diários sobre a comissão militar, contei novamente com a sua devoção e solicitude. Encontrávamo-nos na Livraria Barata, ao fim da tarde. Agora, surpreendi-o completamente com a nova viagem à Guiné. E voltamos a encontrar-nos na Livraria Barata. Trazia-me um presente, uma carta da Guiné datada de 1933, reedição do Instituto Geográfico do Exército. É espantoso como aquela região se transfigurara em 30 anos. Como é natural, fixei-me na região do Cuor e na de Bambadinca. Coisa estranha, o Cuor aparece com o nome de Gufié e as povoações mais importantes eram Sambelchior ao pé de Enchalé. Mais acima, no que é hoje o Cuor, destacam-se os nomes de Sambel Nhantá e Caranqué Cunda. Ao fundo, Aldeia do Cuhor. Na região de Bambadinca, a maior parte dos nomes das povoações são irreconhecíveis. Mas aparece o Xime e Chitoli. Há pouquíssimas estradas, o Cuor até à região do Oio só tinha picadas. Será que estas disparidades em nomes das localidades não foi um puro delírio do geógrafo e dos topógrafos? É facto que na documentação que eu consultei sobre o Cuor se referia a importância de Sambel Nhantá e Caranquecunda, na campanha militar de 1908 aparecem claramente mencionadas, Infali Soncó viveu em Sambel Nhantá (que eu visitei, na carta geográfica aparece com o nome de Sansão, em 1968 só havia vestígios de algumas hortas do passado) e em Caranquecunda ficaram os soldados macuas e do regimento de infantaria de Bragança.

Vi-me em apuros para identificar alguns dos locais por onde andei e aonde quero voltar. Embora esteja datado de 1933, muito certamente este mundo era muito mais anacrónico, deviam ser dados ainda do século XIX ou até anteriores.

O Pires voltou a um dos assuntos que sempre abordou com entusiasmo nas nossas conversas: a pobreza de instalações de Missirá, aquele absoluta falta de conforto onde, sobretudo depois dos grandes incêndios de Março de 1969, fomos pondo solidez, segurança e habitabilidade. O Pires nunca entendeu a ira do Spínola e do Felgas quanto ao estado do quartel, aquilo era mesmo uma tabanca onde, pela força das circunstâncias, se tinham incrustado algumas instalações militares. Encolhi os ombros, tenho essa perplexidade já resolvida, nunca aceitei pôr a população em gueto, tanto mais que a generalidade dos soldados tinha ali as suas famílias.

Gosto muito desta fotografia: tinha feito 24 anos, nascera um dia cheio de sol, o que parecia ser uma simples coluna de abastecimento transformou-se numa viagem até ao Enxalé, cuja estrada estava fechada ao trânsito há cerca de dois anos. Estou de braço dado com Djassió Soncó, recentemente falecida. Aliás, dos 4 desta fotografia sou o último dos vivos.

À despedida, mostrei-lhe a fotografia que ele me tirou, de braço dado com Djassió Soncó, a mulher do irmão do régulo, com o Trilene ao fundo. Não havia que enganar, no verso da fotografia consta o nome Foto Pax, Beja, foi ele que mandou revelar, veio de férias. Lembrava-se da odisseia daquela ida a Mato de Cão com viagem até ao Enxalé, para muita fúria do pessoal guerrilheiro em Madina, que há cerca de dois anos não via aquela estrada frequentada por viaturas.

À noite voltei a arrumar papéis. Descobri uma fotografia que logo separei para juntar aos materiais que têm a ver com a minha estadia em Ponta Delgada, entre 1967 e 1968. Era o juramento de bandeira, perto do Natal, não havia altifalante, bradei aos céus pelo megafone. No verso, envio uma saudação natalícia à minha querida Mãe, agradecendo tudo o que ela tinha feito por mim.

Estamos perto de Natal de 1967, impontaram-me o discurso do juramento de bandeira daquela recruta, no Batalhão de Infantaria Independente, n.º 18. Voltei lá em Julho deste ano, aproveitei uma viagem de trabalho para ir vasculhar elementos para o meu livro. Esta estrutura foi ligeiramente alterada, mas mesmo assim é ali que têm lugar as sessões solenes da unidade.

traquitana, no porto de Bissau, quase houve um acidente terrível, partiram-se as cordas e uma das caixas entrou no batelão de chofre, o David Payne escapou por um triz. São insignificâncias, mas são as minhas insignificâncias, naquelas caixas seguiam o que eu tinha de mais precioso, os livros comprados ou oferecidos, a mais doce das companhias. Ainda hoje o Cherno me fala nas cinzas da minha morança. Eu repondo-lhe: “Não foi assim tão mau, ainda lá achei uma moeda de prata de 20 escudos, que mais tarde dei à minha filha”.

É muito estranho o modo como eu estou a preparar este regresso à Guiné, mistura a todo o momento o que estou a escrever para o livro com as notas das missões a que me proponho. A “Peregrinação de André de Faro à Terra dos Gentios” é a história, mal comparada, de um aventureiro tipo Fernão Mendes Pinto que andou pelas terras da Guiné, isto no tempo da regente Luísa de Gusmão. Esta peregrinação será escrita no hospício de Cacheu e o caderno manuscrito, datado de 10 de Agosto de 1664, irá parar a um convento de Vila Viçosa. Uma viagem num simples patacho, correndo todos os riscos possíveis, passaram pelas Canárias e Cabo Verde, assim chegaram ao Cacheu. A Guiné é uma terra de ídolos, os missionários não têm sucesso na sua pregação. André de Faro percorre a costa acidentada da Guiné. É um relato de mártires, um registo de usos e costumes, uma exaltação da fé evangelizadora, a descrição de reinos estranhos e até dos sertões da Guiné. Vou ler tudo minuciosamente, a ver se André de Faro pode entrar na Viagem do Tangomau, há sempre circunstância feliz para dois aventureiros se encontrarem em qualquer ermo do mundo e esbaterem as distâncias, criando amizades.

E agora vou-me deixar de efabulações, tenho que trabalhar para o blogue sintetizando as memórias do Luís Cabral.

Assim seja.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7232: Notas de leitura (166): Crónica da Libertação, de Luís Cabral (3) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 5 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7228: Operação Saudade 2010 (Mário Beja Santos) (3): Páginas de um diário quase improvável, antes de viajar para a Guiné (1) 30 de Outubro

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7228: Operação Saudade 2010 (Mário Beja Santos) (3): Páginas de um diário quase improvável, antes de viajar para a Guiné (1) 30 de Outubro

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Novembro de 2010:

Queridos amigos,
Sem compromisso de continuidade, inicio aqui algumas notas avulsas acerca dos preparativos da viagem.
É a única maneira que me ocorre de vos agradecer essa ideia de terem criado a secção “Operação Saudade”.

Com um abraço do
Mário


Operação saudade 2010 (3)

Páginas de um diário quase improvável, antes de viajar para a Guiné (1)

Beja Santos

30 de Outubro

Chove torrencialmente, são bátegas a chicotear os vidros. Está na hora de começar a preparação do que vou fazer à Guiné. Primeiro, e ciente do insucesso, vou catar os álbuns de fotografias, manda a razão que se diga que já deve estar tudo bem embalado em poder do Luís Graça. Afinal há surpresas. Ou a fotografia é um duplicado ou falhou o seu envio em momento oportuno para o Luís. Estamos em Dezembro de 1969, houve um jogo de futebol entre oficiais e sargentos. Aceitei ir para a baliza. Os sargentos marcaram logo quatro golos na primeira parte. Apareço de luvas e quico, de pé, seguem-se depois o então major Cunha Ribeiro, depois o David Payne, médico inesquecível, depois o capitão Brito, comandante da CCaç 12, no extremo o Abel Rodrigues, um dos meus companheiros de quarto e que já fui visitar a Miranda do Douro. De cócoras, não consigo identificar o camarada à minha frente, segue-se o Rodrigues (já falecido), o Carlão (que organizou o primeiro encontro do BCaç 2852 e a CCaç 12, em Fão, nos anos 90) e o Ismael Augusto, o guru das viaturas.

No afã de que apareça um milagre ou uma grande surpresa, continuo a escavar entre a papelada. Encontro uma imagem que a minha mãe me enviou, ela escreve: “O Senhor te ilumine, meu filho”. Data: Natal de 1968. Há outras imagens, fixo-me nesta, creio que ela saiu vitoriosa, recebi todas as bênçãos necessárias para resistir e até para me fortalecer.

Saiu depois uma fotografia tirada em Lucala, creio que no Quanza Norte, Angola. Chegou a Primeira Guerra Mundial, a minha mãe, a segunda a contar da direita, está protegida pela tia Lucília, a minha avó aparece com um amplo chapéu de palha. O que me impressiona são as indumentárias, todos os homens usam colete, estão de chapéu e sapato lustroso. Esta a minha mãe que dizia sempre: “Primeiro sou angolana, depois sou portuguesa”.

Encontro finalmente referências no livro de Luís Cabral à região de Xime e Xitole. No fundo, ele confirma o que escreve Hélio Felgas acerca do início da luta armada: primeiro, o Sul; onde se criou o caos e o isolamento dos aquartelamentos e povoações; a seguir, a floresta do Morés e a turbulência criada à volta, em Mansoa, Olossato, Bissorã, Bula, Farim, etc; e a penetração, com sucessos e revezes, entre o Xime e o Xitole. Telefono ao Queta, ele é o meu dicionário vivo, a central da minha memória. Sim, conheceu muito bem o padre António Galli, de que fala o Luís Cabral, na missão católica de Samba Silate. Domingos Ramos era o nome do dirigente político que agitou a região, ainda em 1962. A partir do segundo semestre de 1963, tudo se começou a desarticular, a guerrilha instalou-se para lá da Ponta Luís Dias, à frente da Ponta do Inglês, a base estava localizada em Mangai, no Fiofioli. Os dados batem certo. A partir daí, só as tropas especiais é que foram coroadas de algum êxito em avançar até ao interior destas bases. Na operação “Lança Afiada”, em 1969, todo o território foi percorrido a pente fino, os guerrilheiros e as populações transferiram-se para a outra margem do Corubal, finda a operação, retiradas as tropas especiais a partir da Ponta do Inglês, os guerrilheiros e a população voltaram calmamente para os seus locais habituais.

O Queta lembrou depois o fim da grande tabanca de Samba Silate, ele chegou a viver em Taliurá, perto da Ponta Coli, um dos lugares mais temidos para emboscadas, na estrada Xime-Bambadinca. Perguntei ao Queta se ele não se lembrava de que tínhamos estado ali quase todo o mês de Julho de 1970. “Lembra, lembra muito bem. Era tempo de chuvas, íamos noite escura buscar os materiais da Tecnil ao Xime, sempre a picar a estrada cheia de lama. Tu falas disso no livro grosso que escreveste, em que eu estou na capa”.

Peço o número de telefone do filho, de nome Mamadu, que vive em Amedalai. Ligo e sou atendido prontamente. Mamadu sabe que eu vou chegar em breve. Esclarece: “Nasci em 1968, em Missirá. O meu pai fala muito do senhor. Sei que vai haver uma festa dos homens grandes que estiveram consigo em Missirá. Eu vou aparecer”. Pergunto por Mamadu Djau, o meu bazuqueiro. Mamadu tem uma resposta pronta: “Mamadu é comerciante, já recebeu informações de Fodé, de Bambadinca, o pessoal vai concentrar-se quando ele mandar”.

Despeço-me deste Mamadu, parece que nos conhecemos desde o princípio do mundo. Sinto que tenho a voz embargada. Tive com o Mamadu Djau um dos episódios mais lindos mas pungentes da minha vida. Em 1990, não o consegui visitar, foi uma estadia de uma semana só para preparar a missão de 1991. O mais longe que fui foi a Missirá, um acontecimento lancinante, ainda encontrei a mãe do Quebá Soncó, com mais de 80 anos, viu partir todos os seus filhos, como vira desmembrar-se todo o regulado do Cuor, em Missirá passou todo o tempo da guerra. Foi uma recepção inesquecível. Esta descrição irá aparecer na Viagem do Tangomau. O que importa agora é referir que mal cheguei à Guiné, em 1991, através de Mamadu Soncó, sobrinho de Abudu Soncó, mandei notícias para Bambadinca, com indicação de quando passaria por Amedalai e que iria visitar Mamadu Djau. Recebeu-me como se recebe um filho pródigo ou um pai muito amado de que se perdeu o rasto, há muito. Passeámos por Amedalai, tirei fotografias com as suas duas mulheres e sete filhos. Como eu gostava de ter essa fotografia aqui! Nunca mais lhe pus os olhos em cima. Caminhava para o fim da tarde quando eu pedi licença ao Mamadu para voltar a Bissau. Ele vestia à europeia, um fato cinzento e uma camisa branca, imaculada. Disse-me: “Não demoro nada, já tenho as malas prontas para seguir contigo”. Foi nesse preciso instante que eu me senti à beira de um precipício, tratara da organização desta visita sem pensar nas consequências. O Mamadu, com a sua lógica, esperava que eu o viesse buscar. Apercebeu-se rapidamente que eu estava atordoado, titubeante. Eu olhava à volta pensando naquelas tabancas de fulas e biafadas que tinham estado sempre com os portugueses, sem vacilar, eu olhava para o fundo como se procurasse Taibatá, Demba Taco e Moricanhe, durante anos e anos flageladas e até destruídas, mas sempre com a bandeira portuguesa a tremular no alto de um poste. Com a tristeza estampada no rosto, Mamadu disse-me: “Estava mesmo à espera que me viesses buscar, esperei estes anos todos, tu sabes muito bem como eu lutava, tu sempre confiaste em mim”. Seja como for, separámo-nos depois de um abraço muito apertado, muito próprio de uma estima profundíssima. Nem o Mamadu Djau sabe o erro crasso que cometi não tendo posto em destaque o seu comportamento heróico naquela noite fatídica de 16 de Outubro de 1969, em Canturé, quando ele ficou a comandar o que restava da força que defendia um Unimog 404 desfeito, com o Manuel Guerreiro Jorge moribundo. Na fotografia do livro “O Tigre Vadio” ele é o primeiro a contar da esquerda, que está de pé, com uma chibata parece afugentar mosquitos. O meu inesquecível Mamadu Djau. Perguntei duas vezes ao telefone ao filho do Queta sobre o estado de saúde de Mamadu Djau e ele disse-me: “Está bem, graças a Deus. Melhor ficará quando daqui a um bocado lhe falar neste telefonema”.



Jogo de futebol em Dezembro de 1969, Bambadinca. Deixei entrar 4 frangos, mas não consegui encontrar um guarda-redes suplente…

Imagem que a minha mãe me enviou no Natal de 1968

Dia de festa, lá para o Norte de Angola. A minha mãe teve uma infância cheia de felicidade e amor.

Mamadu Djau é o primeiro à esquerda; de pé, a seguir, está Jobo Baldé e depois o Queta
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7223: Notas de leitura (165): Crónica da Libertação, de Luís Cabral (2) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 1 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7206: Operação Saudade 2010 (Mário Beja Santos) (2): Os meus anfitriões em Santa Helena - Bambadinca

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7206: Operação Saudade 2010 (Mário Beja Santos) (2): Os meus anfitriões em Santa Helena - Bambadinca

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Outubro de 2010:

Operação saudade 2010 (2)

Os meus anfitriões na Guiné-Bissau, em Santa Helena, perto de Bambadinca

Para percorrer o Cuor a palmo, rever todos os locais onde vivi, abraçar pela última vez os amigos e as populações que ali viviam entre 1968 e 1969, ir a Mato de Cão, santuários do PAIGC, Enxalé, sentir aqueles meandros do Geba, e esperar o macaréu.

Para visitar as tabancas beafadas de Amedalai, Taibatá, Demba Taco e Moricanhe, por onde andei entre 1969 e 1970, chegar ao Xime e daí vaguear sem pressas até Ponta Varela, depois o Poidom, Ponta do Inglês e acabar no Burontoni e Baio, precisava de dois apoios logísticos fundamentais: comida, pernoita e banho; e viatura e condutor experiente, a dominar fluentemente o crioulo-português.

Aqui vai a fotografia dos meus anfitriões, vou ficar em Santa Helena, muito perto de Bambadinca. Lá fui, em tempos de guerra, eu e o Jorge Cabral, na altura em Fá.

Estou à espera do contacto do Jorge Cabral, ele quer passar os últimos anos (últimos? Mais 40,50 anos, insuportável, a chatear as bajudas...) em Finete, penso que ele quer que eu saiba preços de moranças T0, T1 e T2.

O maravilhoso disto tudo é que os anfitriões estão impacientes em conhecer-me.


Quanto à viatura, o meu Querido Fodé Dahaba cede-me um 4x4 adaptado ao local, Kalil, um dos seus filhos, será o comandante do bólide. Eu também.

já recebi encomendas do camarada Torcato, levo mensagens de paz e muita saudade. Vejam lá em que é que vos posso ser útil.

Um abraço do
Mário
__________

Notas de CV:

(*) Vd. último poste de 31 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7199: Notas de leitura (163): Guerra na Guiné, por Hélio Felgas (4) (Mário Beja Santos)

Vd. primeiro poste da série de 29 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7188: Operação Saudade 2010 (Mário Beja Santos) (1): Carta ao meu querido amigo Fodé Dahaba

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7188: Operação Saudade 2010 (Mário Beja Santos) (1): Carta ao meu querido amigo Fodé Dahaba

1. O nosso camarada Mário Beja Santos vai à Guiné-Bissau a partir do próximo dia 17 de Novembro de 2010.
A este propósito e sabendo que o Mário nos irá proporcionar relatos interessantes da sua viagem, vamos criar uma série dedicada a esta romagem de saudade, hoje inaugurada com uma carta que o camarada Beja Santos dirigiu ao seu querido amigo Fodé Dahaba*.


2. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Setembro de 2010:

Caríssimo Carlos,
É só para ficares com conhecimento do que é que eu ando a preparar.
Ficas autorizado a dar-lhe a publicidade que entenderes.

Recebe um abraço do gratidão do
Mário


3. Carta de Mário Beja Santos para Fodé Dahaba

Lisboa, 24 de Setembro de 2010

Fodé, meu querido irmão,


Por recomendação do Abudu Soncó, que me prometeu portador para esta carta, nos próximos dias, faço-te chegar por escrito o plano da minha viagem.

Espero na próxima semana marcar a viagem entre, aproximadamente, 17 de Novembro e o primeiro fim da semana de Dezembro. Tenho assegurado um quarto para os dias em que ficar em Bissau e o Sr. Fernando Ramiro Semedo, que tem uma quinta em Santa Helena dar-me-á abrigo, no período em que eu estiver na região de Bambadinca. Se ao Sr. Semedo convier que eu parta imediatamente do aeroporto de Bissau para Santa Helena, assim acontecerá. Estarei aí cerca de 10 dias e depois regresso a Bissau. Mas também pode ser ao contrário, fico primeiro uns dias em Bissau e depois sigo para Bambadinca.

Como te disse ao telefone, só vou porque tu me podes ajudar com a viatura e o motorista (que eu pagarei) e porque o Sr. Semedo me dá condições de alojamento. Estou a preparar um livro que é complemento dos dois que escrevi sobre a minha comissão na Guiné. Desta vez, um homem de 65 anos vai rever os sítios onde viveu e onde combateu, vai reencontrar-se e despedir-se dos seus amigos, nada tem de melancólico ou triste, faz parte das leis da vida, muitos dos nossos camaradas já partiram deste mundo, quero-me despedir dos que ainda cá estão e que nunca, em todos estes dias ao longo de 40 anos, esqueci a amizade e a lealdade que tiveram comigo.

O que pretendo fazer?

Em primeiro lugar, percorrer todo o Cuor: De Finete a Canture, de Canture a Gãngémeos, de Carenquecunda a aldeia do Cuor; visitar Sansão, que foi a velha tabanca do régulo, subir depois a Missirá e ir a Cancumba (onde estava fonte onde nos abastecíamos) e depois seguir até à ponte do Gambiel. Claro está que penso visitar demoradamente Missirá. Depois se, houver estrada, ir até Pate Gide, Sancorlá, até Salá. Também se houver condições, descer até Quebá Jilã, que naquela altura era território povoado pelo PAIGC. Noutro passeio, seguir de Cancumba até Gambana e depois Mato de Cão, onde fui praticamente todos os dias, enquanto estive no Cuor; e fazer a estrada entre Saliquinhé, passar por São Belchior e descer até ao Enxalé. A última etapa será subir por Sinchã Corubal e ir até Madina e depois Belel, no fundo todo o território onde vivia a população e o bigrupo que nos atacava no Cuor.

Em segundo lugar, pretendo rever a região dos Nhabijões, seguir daqui para Amedalai, depois Demba Taco, Taibatá e Moricanhe, se existir. Não te esqueças que percorri esta região a pente fino, um pouco à semelhança das tabancas próximas de Bambadinca, desde Bambadincozinho até Samba Juli.

Em terceiro lugar, percorrer toda a região do Xime, passando por Madina Colhido, Ponta Varela, Poindom, Gundagué Biafada, Baio, Buruntoni e depois a Ponta do Inglês. É muito provável que esteja tudo bastante diferente, haverá certamente população, no tempo da guerra era o Xime e depois o Poidom o Buruntoni e Galo Corubal, onde nunca estive. Combati muito neste sítio, faz todo o sentido voltar a visitá-lo.

Em quarto lugar, mas só se houver condições, fazer o itinerário até Bafatá, onde fui tantas vezes, seja para ir buscar correio, receber instruções no agrupamento, fazer compras, etc.

Em quinto lugar, e também só se houver condições, ir até ao Xitole, pois dirigi várias colunas, fará todo o sentido ir até lá, embora não seja prioritário, tirando a região de Mansambo, onde combati e patrulhei, tudo mais foram colunas de reabastecimento, embora sempre cheia de riscos de toda a espécie.

Em sexto lugar, rever os meus inesquecíveis amigos. Conto que tu possas dar notícia da minha viagem e escolhermos um dia para nos encontrarmos todos em Bambadinca. Tu ficarias responsável por organizar um encontro com arroz e frango assado que, como é evidente, serei eu a pagar. Dos cabos do meu tempo, não sei por onde andam o Domingos Silva e o José Pereira. Tenho feito perguntas ao Mamadu Camará e ao Queta Baldé, mas eles perderam o rasto dos seus camaradas, vivem há muitos anos em Portugal. Disseram-me que morreu o Ussumane Baldé. Parece que o Jobo Baldé vive em Galomaro. O Serifo Candé vive em Biana, ainda estava cheio de saúde quando o fui visitar, em 1991. O Mamadu Jau, um dos meus bazuqueiros, vive em Amedalai. Tenho por ele um afecto muito grande, e sei que sou retribuído pelo Mamadu. Nada sei do Abdulai Djaló, a quem chamavam “Campino”, não se está na Guiné ou no Senegal. O “Doutor”, Quebá Sissé, parece que vive em Farim. Nada sei de Ieró Baldé, o “Nova Lamego” que foi o meu primeiro guarda-costas. Tu tens obrigação de me ajudar com os nomes dos soldados milícias de Finete, aqueles que estiveram às minhas ordens entre Agosto de 1968 e Novembro de 1969. Disseram-me que o Mamadu Silá era padre, deve viver em Badora ou no Cossé. Tenho imensas saudades de Gibrilo Embalo, do Albino Amadu Baldé (era o comandante das milícias de Missirá) e de Madiu Colubali. Em 1991, andei à procura de Dauda Seidi, também não sei nada dele. Olhando agora para a fotografia que tirei na ponte de Udunduma, no dia de Natal de 1969, vejo Tunca Sanhá, Sadibi Camará, Jalique Baldé, Sadjo Baldé (não confundir com o Sadjo Baldé que morreu em Missirá na noite de 19 de Março de 1969), Bacari Djassi, Fodé Sani, a memória não guardou mais nomes e eu não tenho coragem para te pedir para andares a anunciar esta minha viagem a toda a gente. Faz o que puderes, nunca terei palavras para te agradecer o que vais fazer por mim.

Não podes imaginar a emoção que representa para mim esta viagem, todos estes encontros, rever com os meus olhos todos estes locais, ver o pôr-do-sol em Chicri e sobre Finete. Todas as noites rezo pelos nossos mortos, pelo Uam Sambu, o Cibo Indjai, o Paulo Semedo, o José Jamanca, o Benjamim Lopes da Costa. A distância que nos separa é irremediável e é por isso que me quero preparar bem para um dos maiores acontecimentos da minha vida, visitar pela última vez a Guiné onde me fiz homem.

Logo que esteja tudo concretizado sobre os horários de chegada e partida, telefono-te. Fiquei à espera que a Margarida me falasse do assunto do teu filho, ainda não telefonou. Vê no que eu posso ajudar. Será com muita alegria que te vou ver e abraçar dentro de poucos meses. Desde o dia 22 de Fevereiro de 1969, em que ficaste tão ferido, que te guardo como a imagem de todo o sofrimento em que tem vivido a Guiné. Daria tudo o que tenho para que esta viagem se transformasse na derradeira hora de paz desse martirizado.

Até breve, beijo-te com muito carinho e mando saudades à tua mulher e toda a família,
Mário

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Nota de CV:

Vd. poste último poste de Mário Beja Santos de 27 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7192: Notas de leitura (162): Guerra na Guiné, por Hélio Felgas (2) (Mário Beja Santos)

(*) Vd. poste de 3 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3016: Em busca de... (32): Margarida Dahaba, professora, filha do 2º Sargento Fodé Dahaba (M. Ribeiro de Almeida / J.M. Gonçalves Dias)