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terça-feira, 17 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17872: Agenda cultural (594): Lançamento do livro "Isabel Minha Mãe", da autoria do nosso camarada Guilherme Costa Ganança, dia 21 de Outubro de 2017, pelas 16,30 horas, no Auditório do Centro Cultural John dos Passos, Ponta do Sol, Ilha da Madeira


C O N V I  T E

Lançamento do livro "Isabel Minha Mãe", da autoria do nosso camarada Guilherme Costa Ganança, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1788/BCAÇ 1932, Cabedú, Catió e Farim, 1967/69), no próximo dia 21 de Outubro de 2017, pelas 16,30 horas, no Auditório do Centro Cultural John dos Passos, Ponta do Sol, Ilha da Madeira

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Sobre o autor:

Guilherme da Costa Ganança nasceu no Funchal em 1945.
Concluiu o Ensino Secundário no Liceu de Jaime Moniz, do Funchal.

Licenciou-se em Engenharia Electrotécnica, pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa e fez o Bacharelato em Engenharia Civil, pelo Instituto Politécnico de Castelo Branco.
Foi professor no Ensino Secundário e no Politécnico, Vereador e Director do Departamento de Desenvolvimento, Educação e Cultura, da Câmara Municipal de Castelo Branco.
Foi Director de Produção da empresa Cablesa, hoje, Delphi.
É também autor dos livros: "Do Cacine ao Cumbijã" e "O CORREDOR DE LAMEL - 68 GUINÉ 69".

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Nota do editor

Último poste da série de 17 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17871: Agenda cultural (593): Lançamento do livro "Os Silêncios da Guerra Colonial", da autoria da antropóloga Sara Primo Roque, filha de um DFA, combatente em Moçambique, dia 9 de Novembro, quinta-feira, às 18:30 h, na Av. Padre Cruz, na ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13971: Inquérito online: as primeiras respostas: Máquinas fotográficas e fotografia; prova de vida; votos de boas festas 2014/15




Guiné > Região de Tombali > Setor S2 (Aldeia Formosa) >  CCAÇ 18  > c. 1973/74 > Uma saída para o mato.. Foto de Antero Santos , que têm lá mais 300, (que já mandou digitalizar, para partilhar com a Tabanca Grande... Eis uma bela prenda de Natal!).


Foto: © Antero Santos  (2014).Todos os direitos reservados [Edição: LG]


As primeiras respostas à nossa sondagem, envaidas ontem, e também provas de vinda e votos de bopas festas 2014/15 (*)...


(i) Rui Santos [ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda e Bolama, 1963/65]

 Luis, meu amigo

Máquina fotografica ?? Que é isso ?? Nunca usei ... granadas defensivas, ofensivas, incendiárias, de morteiro,  de bazuca ... isso sim mas nunca atirei com essa ... máquina, apenas fui "atingido" por máquinas de outrèm.

Mas acho piada a quem foi para o mato ... fotografar.

Bom Natal, mas antes encontramo-nos na "Gala dos galos" [, dia 18 de dezembro, na ADFA].

Abraço, Rui Santos (o verborreico)


(ii) João Lourenço [, vive em Matosinhos; ex-alf mil, PINT 9288, Cufar, 1973/74]

Meu caro Luís,

Foi na Guiné que comecei a fotografar, por causa do comércio de máquinas de boa qualidade a preços razoáveis. A minha foi comprada,  salvo erro,  no TAUFIK SAAD,  em Bissau;   era uma Canon FTb, se não erro.

Tenho algumas fotos a preto e branco, mas poucas,  porque vinham revelar a Lisboa, e nem sempre havia portador do mato para a metrópole.

São memórias que guardo com carinho, dos bons e maus momentos

Um alfabravo, João Lourenço



(iii) Rui Vieira Coelho

[médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74, e subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé [, foto à esquerda, em 1973, em Galomaro, da autoria de Juvenal Amado]

Tinha máquina fotográfica comprada nos Açores onde estive a fazer inspecções militares,  e era uma Aza Pentax Spontamatic II,  semi- profissional

Tenho fotografias a preto e branco. Tenho a cores. Tenho slides a cores

Um abraço do
Rui Vieira Coelho





(iv) Armando Fonseca 


[, ex-Soldado Condutor, Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64]



Levei da metrópole uma máquina tipo caixote que era minha e de mais dois camaradas, e que no final foi sorteada e não me calhou a mim, mas na altura , como hoje, o dinheiro era pouco e não dava para investir em muitas fotografias, mas hoje tenho pena de não ter feito mais

Armando Fonseca

(v)  José Manuel [de Melo Alves] Lopes [Josema]

[vitivinicultor, duriense, poeta, ex-fur mil, CART 6250/72, "Os Unidos de Mampatá, Mampatá, 1972/74]


Sim, tinha uma Kodak, prenda de meu pai no natal de 1971. A Kodak, um lápis e um caderno me acompanhavam para todo o lado. Os rolos eram revelados em Aldeia Formosa, eté o batalhão ser rendido em 73. Havia lá um "habilidoso" que percebia da poda. Depois, passaram a ser revelados em Bissau, quando havia portador.


josema


(vi) Ricardo Almeida 

[, ex-1.ºcabo, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, K3 / Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71]

Respondi:

1. Nunca tive máquina no CTIG

4.  Às vezes emprestavam-me uma máquina ou tiravam-me fotos

7.  Tenho bastantes “slides”

(vii) Guilherme Ganança


 [ex-Alf Mil da CCAÇ 1788/BCAÇ 1932,
 CabedúCatió eFarim
1967/69]

Olá, Luís Graça

Em relação à sondagem sobre fotografias: eis as minhas respostas:

1 - Nunca tive máquina fotográfica no TO da Guiné.
5 - Havia um «fotógrafo de serviço».
8 - Tenho algumas fotos a preto e branco.

Desejo-te, desde já, um Bom Natal, bem como a todos os camaradas da Tabanca Grande.

Eu estou recuperado e sinto-me bem. Só tenho de cumprir as «ordens de serviço» emenadas do IPO, atarvés da médica que me acompanha.

Alfa-bravo. Guilherme Costa Ganança


(viii) João [José de Lima Alves] Martins

[ex-alf mil art, BAC1, Bissum, Piche, 
Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69 ]


Respostas:


3. Comprei uma máquina na Guiné


7. Tenho bastantes “slides” [, que partilhei no Facebook e no blogue].


(ix) Antero Santos [ex-Fur Mil Atirador/Minas e Armadilhas da CCAÇ 3566 e da CCAÇ 18 - Empada e Aldeia Formosa -, 1972/74]


 Caros Amigos Luís Graça e demais editores

Relativamente a máquinas fotográficas informo que:

2 - quando parti para a Guiné levei uma máquina da marca Kodak, das mais baratas, toda em plástico.
3 - Comprei depois a um gila, em Empada, uma melhor, da marca Halina, ainda em 72. Em 73, já em Aldeia Formosa, vendi a Halina e comprei ao 1º sargento Pires (da CCAÇ 18, a minha unidade) uma Canon QL 17 (ou 19); esta Canon "foi-se" no Aeroporto Sá Carneiro por volta de 1994; deixei-a numa cabine telefónica e desapareceu. Em 73, numa das idas a Bissau, comprei um projector de slides (que ainda tenho);

6 - tenho algumas fotoa a preto e branco (40 a 50);

7 - tenho slides (cerca de 300) que já mandei digitalizar.

Em 73 comprei em Bissau um projector de slides (que ainda tenho).

Junto uma foto (transferida de um slide) do meu grupo de combate; como sempre saíamos do quartel mais ou menos a granel e quando chegávamos ao posto avançado antes do arame há que agrupar e sair - "vamos a eles antes que eles venham a nós" - frase que eu dizia sempre imediatamente antes de passar o arame farpado. Nos 18 meses que estive em Aldeia Formosa, comandei o grupo de combate por não ter Alferes,

Um abraço

(x) Martins Julião [, empresário, Oliveira de Azxemeis; ex-alf mil inf, CCAÇ 2701, Saltimnho, 1970/72]

Camarada,

Comprei uma no Saltinho, sob encomenda aos gilas, uma Canon,  formidável; no meio da confusão cheguei a Portugal sem ela.

Um furriel da CCaç 2701 era o fotografo de serviço: Furriel Mil Alves.

Uma saudação cheia de tempos idos.

Martins Julião


(xi) Fernando Chapouto 

[ex-fur mil op esp, CCAÇ 1426, Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, 1965/67]


Quando entrei no Niassa,  a primeira coisa a comprar foi uma garrafa de whisky só para saber como era, não me dei mal com ele, só um bocadinho mais forte do que a minha aguardente de bagaço.

No mesmo dia comprei a máquina fotográfica e foi tirar fotografias sem fim até chegar a Bissau.
Como era fracota quando cheguei ao sector de Bafatá,  comprei uma melhor por dois contos no meu amigo e conterrâneo Eduardo Teixeira, que era o dono da drogaria ao, lado onde se comiam uns bons petiscos e em frente à porta de entrada  do quartel, que passou a revelar-me os rolos, por isso ainda ganhei algum patacon com as fotografias.

È esta a história da máquina fotográfica.

Ficaste elucidado quanto à BOR?

Um forte abraço
Fernando Chapouto

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11173: Bibliografia de uma guerra (68): Alguns comentários sobre a guerra na Guiné e a sua literatura (2) (René Pélissier / Mário Beja Santos)

1. Lembrando a mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Fevereiro de 2013:

Queridos amigos,
Alguns meses atrás, recebi uma carta do Prof. René Pélissier solicitando-me livros e alguns contactos, ele continua indefetivelmente, infatigavelmente, a fazer recensões de livros em torno dos nossos conflitos coloniais. Daí nasceu a ideia, mais tarde, de sugerir a esta autoridade internacional na historiografia das nossas guerras que pusesse por escrito as suas reflexões sobre escritores e escritos de antigos combatentes.
Penso que este trabalho científico nos deve orgulhar e não escondo uma certa ufania em ter participado neste exclusivo que inclui fotografia inédita do historiador a mostrar leituras onde a Guiné é preponderante.

Um abraço do
Mário



Alguns comentários sobre a guerra na Guiné e a sua literatura (2)

René Pélissier

Um dos erros que um historiador não deve cometer, em absoluto, é o de a partir de uma dada situação num período preciso e generalizar conclusões. Cada mentalidade é uma ilha mais ou menos acolhedora ao leitor. Mário Beja Santos cultiva as relações humanas. É um autor que não nos vai ensinar muito sobre as operações militares. Ele não participa em grandes ofensivas. Não estará mesmo constantemente assediado pelos artilheiros cubanos do PAIGC. Vive num território onde a população não está ferozmente explorada por colonos brancos gananciosos, como em certas zonas de Angola ou Moçambique, o seu sector não é uma Disneylândia mas também não é o planalto dos Macondes nem a selva dos Dembos onde cada um sabe onde está o inimigo. Onde ele vive, há uma certa fluidez. O fator étnico, histórico e mesmo social deve ser sempre tomado em conta e nunca deve ser extrapolado à escala de todo um país em África. Uma das explicações da duração da resistência portuguesa à erosão nacionalista que, finalmente, a levará ao esgotamento, reside, apesar de tudo, no facto da guerra da Guiné ter sido conduzida no terreno por soldados oriundos de meios muito humildes, habituados à dureza da vida, e contra guerrilheiros ainda mais pobres do que eles, mas bem armados, cheios de esperança e bem aconselhados. Quanto aos portugueses, a sua esperança era a de regressar o mais rapidamente possível para junto dos seus entes queridos.

Nós estamos nos antípodas de uma guerra ultratécnica, de um lado, perante camponeses fanatizados (tipo Afeganistão e, mais longinquamente, o Vietname ou a Argélia) sem possibilidade de uma real aproximação humana, ao nível dos combatentes. Os portugueses estão condenados a perder, mas lentamente. E, sobretudo, esse sentimento está mais instalado na mente dos oficiais de carreira do que na superioridade esmagadora dos seus adversários. É uma guerra entre duas paciências.

De qualquer maneira, Mário Beja Santos é o autor que publicou mais livros sobre a Guiné: pelo menos cinco grandes volumes até ao início de 2013. E publicou-os através de editoras capazes de tocar um público numeroso. O mesmo não se pode dizer dos dois livros seguintes, seja qual for o valor literário ou documental destes títulos em apreço. Aqui, nós abordamos sem pudor uma questão delicada para um crítico, mas é preciso que fique claro. Para se vender bem um livro, é preciso que ele seja bem distribuído nas livrarias e que, no mínimo, haja bons contactos na comunicação social que permitam o conhecimento desta produção. Os autores-editores e os autores que pagam a um pequeno editor para que a sua obra seja publicada são, por vezes, bem-sucedidos a ganhar dinheiro quando apresentem um tema dito “do grande público”.

Infelizmente, as memórias da guerra colonial não fazem parte desse grande público, salvo honrosas exceções. O “grande público”, em todos os países, é um público de rebanhos que segue a moda ou em conformidade com o que se vê na televisão. Falar de Timor aquando dos massacres cometidos pelas milícias pró-indonésias era uma garantia de sucesso na época. Agora, seria sopa requentada numa panela velha: impensável! Ora, no contexto português atual, a guerra colonial da Guiné interessa a pouca gente, salvo precisamente os antigos combatentes, as suas famílias e os seus amigos. O que é insuficiente. Acresce, é preciso dizê-lo em muitos casos, os simples autores-editores não fazem nada para se fazerem conhecer, ou não têm meios para isso. Alguns limitam-se a dar algumas conferências em vilas de província, em reuniões de clubes, outros não ultrapassam o nível dos antigos camaradas das suas unidades militares, alguns mencionam um ISBN na ficha técnica mas não indicam o endereço ou as livrarias onde se podem fazer encomendas. Sei isto muito bem porque eu compro – ou muitas vezes procuro comprar – todos os anos dezenas de livros que as livrarias portuguesas não sabem mesmo aonde os encomendar. São livros fantasmas, desconhecidos das melhores bibliotecas estrangeiras e mesmo portuguesas. Ou sabe-se que eles existem, talvez, mas nunca lhes pomos a vista em cima.

O mínimo que devia respeitar um autor-editor seria fornecer nos livros e na publicidade à volta da sua obra, um endereço, seja postal, seja eletrónico, e responder aos potenciais compradores se ele não quer assegurar um serviço de comunicação aos raríssimos críticos que querem divulgar a obra. De igual modo, um jornalista ou um publicista deveria nas suas recensões dizer onde se pode obter a obra de que ele está a falar. Caso contrário, é amadorismo que revela uma ausência de confiança na qualidade do livro ou uma evidente falta de profissionalismo.

Pequeno ou grande, para mim, crítico e historiador, um livro desconhecido com uma tiragem de 300 exemplares tem o mesmo valor que um best-seller, se ele é original e me traz algo de novo, comparativamente ao que já foi publicado. Mas também é preciso saber que são muito raros os antigos combatentes que conhecem aquilo que já foi escrito, vai para uns três, cinco, dez anos antes, por um membro da sua própria unidade militar, a fortiori quando se trata de livros publicados por um autor que pertence a uma outra unidade. Cada um no seu pequeno cantinho faz, por conseguinte, a sua própria “cozinha” memorial, sem ir muitas vezes ao “restaurante” – uma biblioteca especializada, quero eu dizer – para comparar e verificar.

Compreendo que um avô queira deixar aos netos as suas memórias da guerra, dizer-lhes as experiências que teve, contar-lhe as operações nas quais ele talvez tenha participado, os seus estados de alma, as suas alegrias, a sua camaradagem com este ou aquele, mesmo os seus desesperos, a brutalidade do comandante, do inimigo, o seu horror face a crimes, os mortos, os hospitais, a rotina quotidiana, os seus medos, a imbecilidade de certos regulamentos, a sua indignação por o terem obrigado a deixar a sua aldeia ou o seu bairro, a vergonha de se ter sentido impotente ou manipulado, e mesmo – isto existe também nos textos de alguns antigos combatentes das tropas especiais – o seu sentimento de satisfação por terem pertencido a um corpo de elite e de se terem sentido “super-homens” durante alguns anos. Tudo isto é admissível, mas o que se destaca, sobre 10 ou 30 páginas, é a centésima versão da viagem para Bissau, Luanda ou Lourenço Marques, é que este material está muito longe de ser indispensável. Ou então que o autor seja um verdadeiro talento no campo do romanesco.

Entre os livros recentemente recebidos sobre a Guiné, assinalaremos ainda António Lobato, Liberdade ou Evasão. O Mais Longo Cativeiro da Guerra, 4ª edição aumentada, DG Edições, Linda-a-Velha, 2011, 277pp., fotos a preto e branco. Este livro foi inicialmente publicado pela Editora Erasmo, 1995, 214pp. com fotografias, analisei-o longamente (cf. René Pélissier, Angola-Guinées-Mozambique, op.cit, p.372), porque é um livro-documento importante sobre o tratamento dos prisioneiros portugueses e sobre a natureza da guerra praticada pela Força Aérea, Lobato acidentou-se em 22 de Maio de 1963, no regresso de uma operação na Ilha de Como. Como eu então cometi uma imprecisão, retifico-a agora. O autor, sargento da Força Aérea, não foi abatido diretamente pelos guerrilheiros, o seu avião simplesmente foi tocado em pleno voo. Ele pedira a um piloto de um outro T6 para verificar se o seu trem de aterragem não estava destruído, o outro piloto passou sob o seu aparelho. E foi durante esta manobra delicada que o avião do seu camarada colidiu com a hélice do avião de Lobato, este ficou ingovernável, o seu camarada despenhou-se e morreu enquanto Lobato aterrou numa bolanha de Tombali. Perderam-se assim dois aviões no dia 22 de Maio de 1963, Lobato foi feito prisioneiro, espancado, ferido e encarcerado em condições muito duras na Guiné-Conacri. Será libertado em 22 de Novembro de 1970 no decurso da operação Mar Verde, os Comandos Africanos assaltaram a prisão e trouxeram todos os prisioneiros portugueses que ali estavam. Na presente atualização da sua narrativa, em Fevereiro de 1999, Lobato foi convidado pelo Presidente ex-inimigo, “Nino” Vieira recebeu-o em pessoa em Bissau, tinha sido “Nino” Vieira a impedir que ele fosse mais mal tratado do que já tinha sido, no início do seu cativeiro: daí a adição de novas páginas (pp. 247-250) sobre este episódio menor mas sintomático da reconciliação. Assim, é necessário possuir esta 4ª edição.

É igualmente recomendado que se procure um romance histórico que decorre praticamente ao mesmo tempo que A Viagem do Tangomau…, op.cit.

Pensamos que Guilherme Costa Ganança, O Corredor de Lamel, 68 Guiné 69, 2ª edição, Chiado Editora, Lisboa, 2012, 418 pp., fotografias a preto e branco, é um romance autobiográfico que vem na sequência de outro volume, igualmente romanceado, sobre o período imediatamente anterior. Trata-se de um alferes da Madeira, da sua companhia, dos seus problemas com a hierarquia, dos seus amores epistolares e sobretudo das operações em que ele intervém em Contuboel, Bula, Cabedu, Catió e, finalmente, a partir de Farim, o famoso corredor de Lamel, que deve ainda hoje evocar muitas recordações. Uma das diferenças da Guiné relativamente a Angola é que o território sendo pouco extenso e o PAIGC militarmente muito mais ativo que a FNLA e o MPLA (e, acessoriamente, a UNITA) havia poucos sectores onde os portugueses viviam em calma ou segurança, com a exceção de Bissau e quatro ou cinco cidades do interior, nos Bijagós, e nos Felupes, e, de uma maneira mais compacta, na região dos Fulas. Dito de outro modo, à intensidade dos combates, à dureza do clima e à morbidade em geral, seria necessário juntar a raridade de sectores tranquilos para onde se podiam enviar as tropas para recuperação das energias. Na Guiné não havia Sá da Bandeira, Lunda, Bié ou vilegiaturas urbanas. A inquietação era geral e nós ainda não lemos uma só narrativa onde os soldados desmobilizados se tenham vindo a instalar na Guiné, situação que foi frequente em Angola e Moçambique. Era um Purgatório para todos e um Inferno para a maioria. Mesmo os ultrapatriotas ou os super-homens autoproclamados dos comandos, dos páras e dos fuzileiros só tinham em mira um objetivo: a peluda. Como é evidente, com o passar dos anos e com a juventude já no passado longínquo, certos autores não querem mais do que rememorar – seletivamente – os raros momentos em que eles estavam otimistas, mas se dispuséssemos de um corpus completo de todos os livros publicados pelos antigos soldados da Guiné, poder-se-ia estabelecer uma grelha de análise fina onde certamente se poderia constatar que as más recordações são mais frequentes que as reminiscências felizes. E isto ainda mais no Exército, em especial nos açorianos e nos madeirenses que foram enviados para a Guiné nos últimos anos da guerra.

Em última análise, todos estes autores (uma centena) não tiveram nem têm uma memória tão compassiva face aos guineenses como Mário Beja Santos que deve ter sido o alferes (1968 a 1970) mais atento à sorte dos seus homens, velhos e desesperados, vendo em que decrepitude caiu a Guiné, tal como ele a visitou em 1990, 1991 e 2010. Ele resumiu o quadro através de uma expressão fúnebre: “um buraco na escuridão” (p.509).

Tantos mortos, tantas esperanças para ter que ver um antigo coronel do PAIGC mendigar-lhe um saco de arroz.
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Nota do editor

Vd. poste anterior de 26 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11159: Bibliografia de uma guerra (67): Alguns comentários sobre a guerra na Guiné e a sua literatura (René Pélissier / Mário Beja Santos)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10416: Notas de leitura (407): O Corredor de Lamel - 68 Guiné 69 - de Guilherme Costa Ganança (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Julho de 2012:

Queridos amigos,
Aqui temos o segundo ano da comissão de Gabriel Silva, o alter-ego de Guilherme Costa Ganança, que andou por Contuboel, Bula, Cabedú, Catió e Farim.
Guarda recordações impressivas dessa região próxima do Cantanhez e do corredor de Lamel. Paira sobre a narrativa o espectro de um comandante de companhia profundamente estimado e morto em combate. Atravessa toda a sua prosa as cartas para a madrinha de guerra, os seus sonhos, uma profunda inocência. Quem previu que a literatura da guerra colonial se finara, exausta, tem aqui a prova em contrário, os sexagenários revelam uma impressionante capacidade para pôr a limpo as suas memórias. E Guilherme Ganança está longe de ser um escritor solitário.

Um abraço do
Mário


O Corredor de Lamel

Beja Santos

Guilherme Costa Ganança combateu na Guiné entre 1967 e 1969. No ano passado editou “Do Cacine ao Cumbijã, 67 Guiné 68” (Chiado Editora 2011). Escreveu-se na oportunidade que se tratava de um livro autobiográfico, narra a vida de Gabriel Silva a chegar ao Funchal, já promovido a aspirante, da Madeira irá para o campo de instrução militar de Santa Margarida para formar uma companhia de intervenção com destino à Guiné. Em 28 de Outubro de 1967, vindo de Tomar, embarca no Uíge, Gabriel Silva faz parte da companhia 78081 comandada pelo capitão Germano Neves. Segue-se o período de adaptação, Silva começa a escrever às madrinhas de guerra, precisa febrilmente de companhia. Faz o batismo de fogo na região de Caresse, uma operação que moralizou a sua unidade. Findo o treino operacional seguem para Bula onde participam na operação Bolo-Rei, na região de Choquemone.

O primeiro ano da comissão passa-se essencialmente em Cabedu, entre Cacine e o Cumbijã, estão perto do Cantanhez onde o PAIGC se posiciona nos locais de Catifine e Cafal, Cabanta e Catesse. Gabriel Silva está à frente de um pelotão que dispõe de uma maior capacidade ofensiva, “os corsários”. Em 16 de Fevereiro de 1968, tem lugar uma operação fatídica, Germano Neves morre em combate. A apreciação então feita é de que se tratava de uma obra asseada, marcadamente autobiográfica, com descrições minuciosas, via-se claramente que o autor reposicionava a sua prosa pela inocência do seu olhar a partir da Madeira, servia-se das suas madrinhas de guerra como confidentes da sua vivência em Cabedu.

Acaba de ser editado “O Corredor de Lamel, 68 Guiné 69”, romance histórico, por Guilherme Costa Ganança (Chiado Editora, 2012). A companhia 78081continua em Cabedu, companhia órfã, entrega aos alferes, sargentos e furriéis, em finais de Março retoma-se a atividade operacional, volta-se ao Cantanhez e arredores, são patrulhamentos sem danos, não se encontra o inimigo. O alferes de minas e armadilhas vai colocando engenhos explosivos e instala uma rede de minas e armadilhas nos acessos. E fica provado que grupos inimigos acionaram tais engenhos, deixam marcas eloquentes de sangue. No aquartelamento processa-se a construção de novos abrigos e a reparação dos existentes. Também em Abril terá lugar um patrulhamento até à Península de Cassacunda, haverá troca de tiros quando se detetou um grupo de guerrilheiros, capturou-se um guerrilheiro, uma mulher, uma espingarda e objetos que o inimigo abandonou na sua retirada apressada. O guerrilheiro foi levado prontamente para Bissau, tratava-se de alguém que tinha recebido instrução militar na Argélia e era responsável pela logística do Cantanhez.

Gabriel Ganança optou por uma prosa muito sóbria, terra a terra, é uma linguagem descarnada, não há perdas de tempo para descrições opulentas, só cede à emoção quando narra acidentes brutais, caso de uma descarga que eletrocutou o soldado Nestor Pimenta, aí a descrição aviva-se dá-se corpo aos sentimentos dos camaradas que estão em profunda mágoa, consternados. Spínola visita estas tropas que continuam metodicamente a patrulhar à volta do Cantanhez e por vezes com sucessos. Determina a sua transferência para Catió: “Ali, era apenas mais uma companhia no meio do batalhão comandado por um tenente-coronel, a quem eram devidos todos os agradecimentos (…) a vila de Catió, plana e bem desenhada, albergava 5 mil habitantes. A zona central, onde se encontravam os estabelecimentos comerciais que abasteciam a região, era constituída por edifícios sólidos, caiados de branco e aspeto razoável. Em volta da vila, existiam núcleos dispersos de gente nativa. As tabancas de Cudocó, Cubaque e Canchumane, encontravam-se arrasadas pela guerra. Pouco tempo depois, Spínola havia de engendrar um plano de reordenamento do território. Visava concentrar recursos e melhorar a sua eficácia. A tabanca de Cumebú, que ficava perto do rio Ganjola, seria transferida para junto da vila e a de Quibil anexada ao ilhéu de Infanda. A 78081 tinha de contar com o perigo das matas de Cubaque, Canchumane, Cufar e Camaiupa, atravessadas pelas estradas que ligavam Catió a Cufar. Era um território apetecido para atividade inimiga”. O comandante do batalhão entregou-lhes um mapa de circuitos que deviam ser patrulhados diariamente. São patrulhamentos por vezes muito duros, como uma ida à mata de Cabolol onde conheceram uma sede tremenda, como o autor explica: “A chuva parou, de súbito, e as pequenas poças que se criaram no chão pareciam limpas, quase transparentes. Gabriel olhou-as, ávido, e sentiu as securas de uma sede insaciável. Eram toalhas finas de água, tão delgadas que não podiam recolhe-las com a concha da mão. Teve sorte. O ramo mais baixo de uma árvore estendeu-lhe as folhas verdes, bem na frente do seu rosto. Pegou numa delas, curvou-a, e de joelho no chão, foi recolhendo pequenas porções do líquido precioso”.

Gabriel Silva vai conhecer o tenente João Bácar Djaló que vivia em Príame, descreve-o como um nativo de porte arrogante, senhor de muitas mulheres e de muitas bolanhas. Em Julho chega o novo comandante da companhia, Luciano Barbosa. Cedo há de perceber que a sombra de Germano Neves ainda paira sobre a companhia, pretende impor-se através do seu estilho, dar-se-ão choques, nem sempre fáceis de amortecer. Depois vão à ilha do Como, o comando-chefe decidira o abandono do aquartelamento de Cachil, a brigada de sapadores fará explodir tudo que não pudera ser retirado. Seguem-se férias na Madeira. No regresso, apercebe-se que Luciano Barbosa pretende punir dois soldados do seu pelotão, Gabriel procura negociar e garante contrapartidas, os soldados pedirão desculpas. Gabriel começa a escrever à irmã do padre Honório, o capelão de Catió, o leitor será inteirado do conteúdo destas missivas, o alferes está profundamente só, quer companhia a todo o custo. “Os corsários” estão numa grande exaustão, são transferidos para Cabedú, é quase um tempo de pasmaceira. Em Fevereiro, a 78081 recebe ordem de marcha para a zona de Farim, acabou-se o tempo entre Cacine e Cumbijã, vão conhecer o corredor de Lamel, a importância do corredor deve-se à utilização feita pelos guerrilheiros que o utilizam a partir do Senegal até às suas bases que ficam a Sul do Rio Jumbembem. Ali à volta estão os quartéis de Jumbembem, Cuntima, Binta e Guidage. É nesta altura que Gabriel toma a decisão de estudar matemática e física, quer ingressar no curso de engenharia, aspira ser engenheiro eletrotécnico. Aliás, passará as suas segundas férias em Bissau dedicado ao estudo. Em Farim, o capitão Barbosa quase que será linchado por soldados, depois de ter usado uma linguagem insultuosa. A companhia está instalada em Nema, não muito longe do Oio. Serão flagelados, a companhia anda desatinada, o fim da comissão nunca mais chega. Estamos em Junho de 1969, a atividade no corredor de Lamel entrara numa rotina enfadonha, as brigas repetem-se, ameaças de levantamento de rancho, de punições. Aqui e acolá, há mortes por acidente ou em combate.

E chega o anúncio da partida. Em fins de Agosto, chegam a Lisboa, vão até Tomar, a unidade mobilizadora, a guerra acabou, fica a nostalgia das últimas despedidas. Vai até ao Funchal, consegue uma bolsa de estudo, cumpre o sonho da sua vida, entra no Instituto Superior Técnico, toda aquela ansiedade descrita abundantemente na correspondência com as madrinhas de guerra vai-se extinguindo. Gabriel faz-se engenheiro, muitos anos mais tarde sente o impulso de passar a escrito aqueles tempos da Guiné. Ao fim de mais de 40 anos, publicou as suas memórias. Gabriel Silva agora é mesmo Guilherme Costa Ganança. Sente-se feliz por relatar episódios determinantes da sua vida, vivências de uma idade em que os seus sonhos correram risco de não se concretizar. Temos aqui obra asseada, despretensiosa, alguém que se sentiu impelido a partilhar a sua inocência e até a sua comunicação com as madrinhas de guerra. E não esquece a sua padroeira a quem sempre pediu proteção e que o premiou com a vida e a realização pessoal e profissional.
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Notas de CV:

Guilherme Gabriel da Costa Ganança foi Alf Mil da CCAÇ 1788/BCAÇ 1932, Cabedú, Catió e Farim, 1967/69 e faz parte da nossa tertúlia desde 22 de Julho de 2012

(*) Vd. poste de 3 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8850: Notas de leitura (282): Do Cacine ao Cumbijã, 67 Guiné 69, de Guilherme da Costa Ganança (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 20 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10411: Notas de leitura (406): O conflito político-militar na Guiné-Bissau (1) (Francisco Henriques da Silva)

domingo, 22 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10180: Tabanca Grande (351): Guilherme Gabriel da Costa Ganança, ex-Alf Mil da CCAÇ 1788/BCAÇ 1932 (Cabedú, Catió e Farim, 1967/69)

1. No passado dia 11 de Julho de 2012 o nosso camarada Guilherme Ganança dirigiu ao nosso Blogue a seguinte Mensagem:

Caro Camarada 
Acabo de ler no blogue um pedido de informação sobre o capitão Artur Manuel Carneiro Geraldes Nunes, o sogro de um camarada do António Teixeira Mota(1).
Estou a tremer!... Ele que entre em contacto comigo, através do meu endereço de mail.
Sei tudo o que se passou.

Com um grande abraço.
Não sei se conseguirei dormir esta noite.
GCG


2. A pedido do nosso editor Luís Graça, José Martins enviou a 15 de Julho a seguinte mensagem ao nosso camarada Ganança:

Bom dia
Os mail abaixo caíram na minha caixa de correio e, como sempre, cá estou a tentar encontrar o "fio da meada", ou seja, ajudar a construir a nossa memória colectiva.
Poderia deslocar-me ao Arquivo Histórico Militar para consultar a história da unidade, mas, por experiência adquirida, encontraria alguma menção, vaga, sobre o acontecido com o nossa camarada de armas Capitão Geraldes Nunes, se por acaso estivesse lá mencionada.
Como leitor do blogue, que parece ser, em nome dos mais de quinhentos membros da mesma e, na qualidade de colaborador, estou a fazer um convite formal para "entrada directa e imediata" para a Tabanca Grande, a um preço simbólico: duas fotos, uma dos nossos tempos de "mininos" e outra actual, assim como uma breve referência para nos localizarmos o tempo e espaço da Guiné, e a primeira de muitas histórias, creio, que a memória nos vai trazer. 
Permito-me sugerir que a "história de apresentação" fosse essa história que, apesar de passados mais de 40 anos, ainda "tira o sono". Cada um de nós temos uma história dessas, que temos de exorcizar e seguir em frente.
Somos contemporâneos da Guiné. Estive no Leste (Nova Lamego e Canjadude) entre Junho de 68 a 70, na CCaç 5, uma companhia de africanos, formada em 1961 e que foi desactivada em 20 de Agosto de 1974, após a entrega do aquartelamento ao PAIGC. 
Esperamos pois, dar as boas vindas a mais um membro, que já tem provas dadas, e acolher mais um camarada à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande.

Até lá, aqui vai um fraterno abraço do
José Martins


3. Ainda no mesmo dia recebemos esta mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Guilherme Gabriel da Costa Ganança, ex-Alf Mil da CCAÇ 1788/BCAÇ 1932, Cabedú, Catió e Farim, 1967/69):

Caro camarada José Martins.
Confesso que não sou muito dado aos blog's. Por isso, ainda não entrei para a Tabanca. Esta é uma fase da vida em que preciso levantar a moral, de novo!...
Na semana que findou, vi partir a minha irmã. Completara 69 anos, na véspera da "grande viagem". Mas, como acontecia na Guiné, temos de levantar a cabeça, encontrar energia no fundo das entranhas e prosseguir a luta pela sobrevivência daqueles que estão ao nosso lado e confiam em nós!...

No Blog do Luís Graça, já mora a solução para o "enigma" do António Teixeira Mota. Lá está um comentário do camarada Mário Beja Santos, sobre um romance publicado no ano passado: "Do Cacine ao Cumbijã - 67 Guiné 68"(2). Sou o autor e, conforme suspeitava o Beja Santos sou o "alferes Gabriel Silva".

Os nomes são fictícios, mas o livro é mesmo autobiográfico. Lá está tudo, timtim, por timtim, sobre a Ccaç1788 (de código: 78081), sobre o carinho especial que todos tinham (e mantêm) pelo capitão Geraldes Nunes (de Código: Germano Neves). É só ler este romance, que já vai para a 2.ª edição!

Esta obra levou "os minino" para a guerra e deixou-os lá...

Os leitores ficaram sem saber como de lá sair. Isso aconteceu porque o autor, o alferes Gabriel Silva, teve de travar um novo combate decisivo, sem saber se de lá saía vivo. E, antes que o comandante dos Corsário se "evaporasse", colocou a boina preta na cabeça e providenciou a publicação da parte da obra que já estava escrita. "Cavalgou para o fim", conforme se "queixou" o camarada Beja Santos. Felizmente para o "alferes corsário" e para todos os que desejavam saber o fim daquela "viagem pelas matas da Guiné", o autor, de nome completo Guilherme Gabriel da Costa Ganança, saiu vivo da Operação "IPO-2011".

Foram seis meses de combates e "bombardeamentos" sucessivos ao inimigo.
O "desgraçado" rendeu-se sem condições e o velho combatente "corsário" voltou às memórias para escrever e publicar "O Corredor de Lamel - 68 Guiné 69".

Não tenho o contacto do camarada Beja Santos. Gostaria de lhe dizer como o entusiasmo que coloquei na publicação da obra Do Cacine ao Cumbijã me ajudou a eliminar "O bandido".

Bem... Vamos agora ao que interressa:
O passaporte para a nossa Grande Tabanca.
Envio algumas imagens.
Numa pesquisa em "Guilherme Costa Ganança" encontra as sinópses das duas obras, que podem ser os textos do "passaporte" para a Grande Tabanca.

Com um grande abraço,
Guilherme Ganança


4. Sinopses dos livros referidos:

"Do Cacine ao Cumbijã"
Autor: Guilherme da Costa Ganança
Edição/reimpressão: 2011
Páginas: 342
Editor: Chiado Editora
ISBN:9789896971625
Coleção: Viagens na Ficção

As acções ocorreram, realmente, no espaço e no tempo da narrativa.
A acção decorre desde Outubro de 1967 a Março de 1968 e transporta um jovem de 22 anos para um ambiente repleto de incertezas, audácia e desespero, nas matas da Guiné.
São as memórias de um alferes, salpicadas de momentos de pura ficção. É o desenrolar de sentimentos e emoções. Juventude e generosidade, medo e coragem, dor e amor, tragédia e sobrevivência misturam-se numa exótica amálgama com o bálsamo das amizades e uma inveterada cultura da auto-estima.
Paisagens, ambientes e interacção com as tradições e gentes locais povoam a narrativa. A marca do tempo, que custa tanto a passar, é mitigada com nostálgicas recordações e ilusórios propósitos de vida. Na miragem, os «devaneios» adoçam-se com o carinho de uma geração generosa de «madrinhas de guerra».
Gabriel despede-se da sua cidade, da sua família e dos amigos e é levado a mergulhar nas teias da guerra.
Valoriza o rigor e o saber, como os melhores aliados da «sorte». Os «tempos livres» revelam-se marcantes para a concretização dos seus próprios desígnios.


"O CORREDOR DE LAMEL - 68 GUINÉ 69"
Autor: Guilherme da Costa Ganança
Colecção: Ecos da História
Páginas: 414
Data de publicação: Junho de 2012
Género: Romance Histórico
ISBN: 978-989-697-525-8

Entre Abril de 1968 até finais do ano de 1969, um jovem e tenaz alferes, imerso nas teias da guerra da Guiné, dá meia volta ao seu destino e radica os seus horizontes no ambiente de Lisboa. A sua alma suplicava "Tirem-me daqui!". Se outrora pensara que "podia morrer", naquele momento só pensava "quero viver".
Mesmo na guerra, Gabriel perseguia um norte, que lhe movia a esperança e espicaçava a fé... Sonhava "entrar na Universidade". Pela frente, muitos meses de vitórias e desânimos, de crenças e incertezas, de relações humanas complexas, em teatros de guerra.
Contava com a sua "Santa mãe", a sua Padroeira e as "madrinhas-de-guerra" por quem nutria afeição especial.
Trazer os seus rapazes, vivos, para o seio das famílias era o propósito do alferes Gabriel Silva. O destino, por vezes, seria cruel. Perante a ameaça permanente dos ataques inimigos, tudo fazia para domar o fantasma de um acidente fatal. Reforçava a auto-estima e nem o fogo hostil o faria esmorecer.

10 de Maio de 1966 > Guilherme Ganança > Cadete da EPI > Mafra


Sobre Guilherme da Costa Ganança
Nasceu no Funchal em 1945.
O nome de Família, Ganança, que se diz de origem nórdica, remonta há mais de três séculos, época em que o seu antepassado se radicou na Ponta do Sol.
Concluiu o Ensino Secundário no Liceu de Jaime Moniz, do Funchal.
De 1967 a 1969, prestou Serviço Militar na Guiné e passou à disponibilidade com o posto de Tenente.
Licenciou-se em Engenharia Electrotécnica, pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa e, mais tarde, acrescentou ao currículo académico o Bacharelato em Engenharia Civil, pelo Instituto Politécnico de Castelo Branco.
Casou e radicou-se na cidade albicastrense, onde exerceu intensa actividade.
Foi professor no Ensino Secundário e no Politécnico, Vereador e Director do Departamento de Desenvolvimento, Educação e Cultura, da Câmara Municipal. Foi, também, Director de Produção de uma empresa de cablagens, a «Cablesa», hoje, «Delphi». Exerceu cargos políticos, a nível concelhio e distrital, mas sentiu que não era esse o seu universo e renunciou.


Cabedú, 31 de Janeiro de 1969

Lamel > Farim > 22 de Março de 1969

Brá > Bissau > 15 de Agosto de 1969


5. Comentário de CV:

Caro camarada Guilherme Ganança, bem-vindo à Tabanca Grande.
Estou a receber-te em nome dos editores e da tertúlia depois de o camarada José Martins nos ter feito chegar a tua mensagem de apresentação.

Começas por dizer que não és "muito dado" a blogues, mas este não sendo este melhor nem pior do que os demais, é diferente na medida em que se tornou um repositório de memórias dos ex-combatentes da Guiné, onde alguns textos deram já origem a livros sobre o tema Guerra Colonial, como é o caso do nosso camarada Mário Beja Santos que já lançou três obras com textos publicados no Blogue. Temos esperança de que outros camaradas lhe sigam o exemplo.

A tua colaboração nesta página, que a partir de hoje também te pertence, pode ser em texto ou em fotos mas, oiro sobre azul seria enviares as tuas histórias, ou memórias como lhes queiras chamar, ilustradas com fotos a propósito. Fica ao teu critério o modo e a frequência da tua colaboração que esperamos seja regular.

A tua correspondência deverá ser enviada para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com (caixa de correio do editor principal Luís Graça) e para um dos co-editores cujos endereços encontrarás no lado esquerdo da página.

Não queria terminar sem te pedir para não estranhares o tratamento por tu, que é o modo como nos relacionamos, já que ser camarada da Guiné nesta tertúlia elimina todas as barreiras sociais e culturais, assim como a particularidade de se ter sido na vida militar Praça, Sargento ou Oficial.

Quero que recebas um abraço de boas-vindas em nome de toda a tertúlia onde se inclui naturalmente os editores.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Notas de CV:

(1) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3813: Em busca de... (62): Referências à CCAÇ 1788/BCAÇ 1932, Guiné, 1967/69 e à morte do Cap Artur Nunes (José Martins)

(2) Vd. poste de 3 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8850: Notas de leitura (282): Do Cacine ao Cumbijã, 67 Guiné 69, de Guilherme da Costa Ganança (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 16 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10156: Tabanca Grande (350): Bernardino Cardoso, ex-fur mil, Pel Rec 2024 (Bula, jan 1968/dez 1969), grã-tabanqueiro nº 567

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8850: Notas de leitura (282): Do Cacine ao Cumbijã, 67 Guiné 69, de Guilherme da Costa Ganança (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Setembro de 2011:

Queridos amigos,
Quero ser muito franco, o livro “Do Cacine ao Cumbijã”, cativa pelo ingenuidade e até pelo deslumbramento de quem regressa, pelo dever da memória, à reconstituição da formação de uma Unidade, de uma viagem marítima, de um treino operacional, tudo feito sem arrebiques, com a intenção de matar saudades na comunicação que pôde estabelecer com os seus camaradas. Só que quem lê vai ficar aturdido com os pormenores especiosos com que a obra arranca até ao súbito cansaço do autor que parece ter desfalecido quando as suas personagens estão bem vivas e a emergir num grande trauma.
É o sabor que lemos metade de um romance e temos de ficar à espera que o autor retome energia e recomece a sua comissão…

Um abraço do
Mário


Do Cacine ao Cumbijã

Beja Santos

“Do Cacine ao Cumbijã, 67 Guiné 68”, por Guilherme da Costa Ganança (Chiado Editora, 2011) é um livro singelo, supostamente um romance histórico alicerçado em personagens fictícias. Comporta uma ficha de autor, um funchalense nascido em 1945 e que depois de prestar serviço militar na Guiné entre 1967 e 1969 se licenciou em Engenharia Electrotécnica. É de presumir que Guilherme Ganança seja Gabriel Silva e tudo quanto escreve ande por portas e travessas no caminho autobiográfico. O jovem Gabriel Silva chega ao Funchal já promovido a aspirante, da Madeira regressará ao campo de instrução militar de Santa Margarida para formar uma Companhia de intervenção com destino à Guiné. Do aeroporto chega à freguesia da Lombada e apresenta-se à família, a notícia da mobilização deixa o rancho familiar transtornado. Gabriel despede-se da família e dos amigos, vai pedir ânimo à Senhora da Conceição. Toca-nos pela sinceridade.
Sai da capela, admira o vale profundo que vai beijar as águas da Ribeira da Ponta do Sol.

Temo-lo agora no dia 28 de Outubro de 1967 a embarca no paquete do Uíge. O Alferes Silva faz parte da Companhia 78081 comandada pelo Capitão Germano Neves. Espraia-se o autor na descrição da viagem e é feliz na descrição do jantar de despedida, já estão à beira de entrar no estuário do Geba, relata um jantar abrilhantado pelas ressonâncias de um concerto: “Os acordes, ora vigorosos, ora repousantes, desfilaram em cinco harmoniosos clássicos que arrebataram os passageiros, ao serem servidos as iguarias.

Os Capitães Rocha Leão e Alcides Faria confraternizaram à mesa do Alferes Silva e do Capelão Honório Ferraz. Enquanto saboreava uma canja à portuguesa apreciara o tema “Colas Breugnon – Abertura”, de Kabelavsky.

Momentos depois, vem uma lagosta à Parisiense e irrompeu a Sinfonia número 1 de Prokofief.

Sentiam-se os efeitos do vinho quando os espargos à Antártico acompanharam a Companhia Ligeira, de Suppé, que fez as delícias de primeira classe. Quando já todos falavam sem ouvir ninguém, voou para as mesas um peru assado à americana. Gabriel, de ouvido apurado, entrou na notalgia do concerto em dó menor de Grieg, ao escutar a subtileza dos sustenidos e bemóis.

Não acabaram sem o sabor de um Corbeille de Morangos e frutas diversas. O jantar de despedida aproximava-se do fim, tinha de acabar em festa. Ressoou uma Polca: “Relâmpagos e Trovões”, de Strauss. Festejaram de braços no ar e maças rosadas no rosto. As bebidas e os brindes desfilavam, eufóricos, no meio dos relâmpagos”.

De Bissau foram levados para o aquartelamento de Brá, daqui seguirão para Contuboel. É um período de adaptação, de descoberta, um outro camarada explica a Gabriel Silva quem eram as madrinhas de guerra e o apoio que podiam dar aos militares como retaguarda de suporte moral. Ao princípio Gabriel está reticente, depois escreve aerogramas para várias direcções. Percorrem Bissau, visitam o Pilão, chegou a hora do treino operacional. Nunca saberemos como irão de Bissau por camião até Contuboel (com muita imaginação, o autor diz que o percurso que ligava Bissau à cidade de Bafatá, não era considerado perigoso, se bem que não dispensasse medidas de segurança…). O capitão Germano já se impusera como líder, segundo o autor é um homem de grande humanismo. Em Contuboel vão fazer patrulhamentos e ter um cheirinho de guerra na região do Caresse. Tratou-se de um baptismo de fogo, a Operação Invicta moralizou a Companhia 78081.

Ficamos entretanto a perceber que há uma madrinha de guerra de eleição, de nome Raquel. Continuam as Operações na região e vão até à Bolanha de Sototo, tudo corre bem, concluído o treino operacional, chegou a hora de partirem para Bula, vão participar na Operação Bolo-rei, na região de Choquemone. Só há um ferido ligeiro, a estrela da sorte continua a acompanhar esta Companhia de intervenção.

Escoltados pelos fuzileiros, vão partir para Cabedu, entre Cacine o Cumbijã, é este o local que lhes foi atribuído. Temos uma descrição do quartel e da tabanca, como se procedia à defesa do perímetro, onde estavam as peças de artilharia, como foram cordiais logo os primeiros contactos entre o chefe da tabanca, de nome Duraman, e o capitão Germano Neves. O Capitão procura esclarecer-se da situação das forças do PAIGC na região de Cabedu, o Cantanhez está muito perto, posicionam-se nas tabancas de Catifine e Cafal, bem como em Cabanta e Catesse, os rios em torno da península de Cabedu são controlados pelo PAIGC. O Comando em Catió determina um conjunto de patrulhamentos. Apercebendo-se das inúmeras dificuldades impostas pelo terreno, Germano Neves cria um Pelotão com maior capacidade ofensiva que irá ficar conhecido como “Os Corsários”, dirigidos por Gabriel Silva, também conhecido como Grupo Especial de Comandos. Os aerogramas chegam e partem, a relação entre Raquel e Gabriel estreita-se. Há obras em Cabedu. Operação fatídica, nesse dia a Companhia 78081 perdeu o seu muito estimado Comandante na operação Alto Quilate. Acabara-se a estrela da sorte, é neste relato que o livro de Guilherme Ganança tem as suas melhores páginas.

Se até agora o autor entendia que o seu relato devia ser minucioso, imprevistamente tudo vai acelerar, ser alvo de uma inesperada síntese, Gabriel e os seus corsários ainda vão à ilha de Melo, as acções de vigilância nas matas prosseguem. Passadas umas semanas, chegou o substituto do Capitão, este novo Comandante veio trazer normalidade a uma Companhia esmorecida. Não se compreendera muito bem, a trama galopa para o final, o autor dá como encerado os capítulos desta história da Companhia 78081. E tudo termina assim: “Gabriel Silva tornara-se mais duro. Nos tempos que se seguiram muitas nuvens sombrias escondiam-lhe o azul do céu e esmoreciam a cor dos seus olhos. Mesmo assim nutria a certeza de vir a encontrar um futuro melhor. Um provir a que a sua juventude tinha direito”. O livro é apresentado como as memórias reais de um alferes salpicadas de momentos de pura ficção.

Não se fica a compreender o que leva Gabriel Ganança a escrever estas memórias. Percebe-se a transição entre o jovem inocente e o combatente que endureceu. Entende-se como aquela Companhia ficou enlutada com a perda de um Capitão muito especial. Mas há muito pouco entre o Cacine e o Cumbijã, é impossível que o leitor, seja ele qual for, não se sinta defraudado por não ficar a saber o que é que os Corsários fizeram nos meses seguintes. Estamos perante um estranho romance histórico, fica-se mesmo com a ideia que o jovem Alferes se desencantou com a sua escrita e deixou-nos em Cabedu à espera que a história continue…
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8840: Notas de leitura (279): Os Anos da Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 3 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8849: Notas de leitura (281): Nha Bijagó, de António Estácio. Prefácio de Eduardo J. R. Fernandes