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segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23715: Notas de leitura (1506): "Missão Guiné 63-65 Companhia de Artilharia 494", por Augusto Carias, Adelino Domingues, Aníbal Justiniano; edição de autor, Amares, Julho de 2012 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Março de 2020:

Queridos amigos,
Esta obra tem três autores, são memórias referentes à CART 494, esteve adstrita ao BCAÇ 513, de cuja história já aqui se fez menção. Andaram no Sul, começaram em Ganjola e depois Gadamael, parece que foram pau para toda a colher, os abastecimentos chegavam a Gadamael Porto e eles faziam colunas ou montavam segurança em itinerários de muito risco, num território que estava a ser desencravado desde finais de 1963, abarcando Guileje, Cacoca, Sangonhá e Cameconde e mais tarde Gandembel. 

Obra profusamente ilustrada, vemos o hoje Coronel Coutinho e Lima a desfilar em Viana do Castelo, vão embarcar em Lisboa; seguem para Cacine, constroem o aquartelamento de Ganjola, segue-se a construção do aquartelamento de Gadamael Porto. São imagens elucidativas de encontros de unidades, como a imagem de Ponta Balana, na estrada Guileje - Aldeia Formosa. Tocante é a imagem do Augusto Silva a escrever as suas notas no resto de uma máquina de escrever, no meio da azáfama militar.

Um abraço do
Mário



Memórias do Sul da Guiné, 1963-1965, um tocante escrito a várias mãos

Mário Beja Santos

Na base deste ajuntamento de notas e imagens está alguém que se apresenta com esta singeleza: 

“Augusto de Jesus da Silva nasceu a 19 de Junho de 1942. Aprendeu a profissão de alfaiate em Goães – Amares, sua terra natal, com João Coelho. Foi chamado para o serviço militar em Janeiro de 1963, depois mobilizado para a Guiné, até 1965. Regressado, montou uma mercearia em Goães. Foi emigrante na Alemanha durante três anos, trabalhou em alumínios. Regressado a Portugal, trabalhou na construção civil como camionista. Durante 12 anos, foi condutor de autocarros, transportando senhoras para a confeção, na Trofa. Acabou por se dedicar à restauração”. Augusto de Jesus da Silva foi coligindo notas durante a sua comissão e outros contribuíram para dar letra de forma.

A CART vai de Bissau para Bolama, daqui para Catió e depois Ganjola, houve que preparar a defesa, quartel não havia, logo começaram os tiroteios, enquanto se constrói o aquartelamento o sobressalto é permanente. Estamos em outubro de 1963, Coutinho Lima decide fazer uma operação a Ganjola Velha, queimaram-se todas as tabancas, trouxe-se uma manada de vacas. Passados dias, conjuntamente com a CCAÇ 414, vão ao Chunguizinho, houve refrega, volta-se a este objetivo, a reação da guerrilha é forte. A 16 de novembro, assinada por Mafalé Namabá, chega uma missiva em que o PAIGC pede à tropa portuguesa para não pegar nas armas e não lutar contra os irmãos africanos. 

“Se vocês não querem lutar contra nós, quando chegarem ao campo de batalha levantem mãos ao ar. Nós vamos prender-vos e transportar-vos para qualquer país que queiram. Mas se quiserem lutar contra nós, vocês vão morrer todos sem verem a vossa família”

E propõe-se um encontro, aguarda-se resposta. Saem de Ganjola a 11 de dezembro para Gadamael, à saída há tiroteio, tinham-se passado três meses, viagem cheia de incomodidades. Começam as patrulhas de reconhecimento, que se vão alargando à distância. A 27 de janeiro, numa emboscada, morre o Alferes Costa, e em fevereiro iniciam-se as flagelações a Gadamael. É o período em que se vai desencravar território, desimpedir o caminho de Aldeia Formosa até Cacine, as operações de Aldeia Formosa a Guileje, onde se instala a tropa, operações de Guileje a Ganturé, onde fica um pelotão FOX instalado. Feito o aquartelamento de Ganturé patrulham-se as estradas de Gadamael, Bricama, Ganturé, até Guilege, patrulha-se a fronteira, não se dá pela presença do PAIGC.

Estamos já em maio de 1964, as memórias de Augusto Silva falam das colunas de reabastecimento a Guileje. As coisas também não correm bem em Sangonhá, ali põe-se minas anticarro na estrada, o que dificulta as colunas de reabastecimento que vão até Guileje e Sangonhá. As memórias deste primeiro carro registam uma série de emboscadas e ataques a quarteis das proximidades, fala nas provações da comida, gente que se afoga, jogos de futebol entre as equipas de Gadamael e de Cacine, em novembro faz-se uma coluna até Gandembel, vai-se com imenso cuidado, há sempre imensas minas anticarro e antipessoal, vem também tropa de Aldeia Formosa. Rebenta uma mina debaixo de uma viatura blindada, não houve sequer um ferido. Alarga-se o campo de ação desta CART 494, já não basta as idas a Guileje, as colunas também se dirigem a Cacoca, a Cameconde. Em 26 de dezembro de 1964, assinada pelos responsáveis militares do sul do país chega nova carta dirigida aos oficiais, sargentos e praças:

“Após a vossa chegada, matastes, massacrastes e incendiastes à vossa vontade. Cometestes contra as nossas populações indefesas os maiores crimes, as maiores vilanias, julgando serdes impunes. Entre vós havia e continua a haver gente que, embora sabendo da justiça da causa por que lutamos, vos ajudaram a escorraçar e a chacinar os melhores filhos do nosso povo. Tentámos contactar convosco no sentido de entabular ligações num espírito construtivo, mas debalde (…) Não há nenhuma força do mundo, por mais poderosa que seja, capaz de desmoralizar o nosso povo e tirá-lo do caminho da luta e do progresso”

E dava-se o nome de três desertores, dizendo que tinham sido encaminhados para Dacar e Argel. Estamos já em janeiro de 1965, a atividade do PAIGC manifesta-se, logo no dia 1 foi destruído o pontão de Bricama, no itinerário Ganturé – Sangonhá; Ganturé é flagelada, sem consequências. A companhia suspira por ser transferida, não tem havido parança nos patrulhamentos e reabastecimentos. Em 25 de abril é inaugurada a Capela de S. João em Gadamael. O PAIGC, nesta fase, não dá sinal de vida. E a 28 de maio chegou a Gadamael a CCAÇ 798 que rendeu a CART 494.

Escrito a várias mãos fala-se igualmente do régulo Abibo, o régulo de Gadamael, com quem a tropa tem um excelente relacionamento, Abibo Inchassó era respeitado desde o Forreá até Cacine, foi aliciado pelo PAIGC, viu a sua vida a perigar, foi para Bedanda, muitos dos seus familiares partiram para a República da Guiné. Quando viu a recuperação de Ganturé, voltou, ficou na defesa do aquartelamento uma milícia Fula. Juntam-se outros apontamentos sobre a vida desportiva, o médico da companhia, Aníbal Justiniano, faz um relatório no final de dezembro de 1964 sobre o estado sanitário, que é integralmente reproduzido no livro. Este médico será condecorado com a medalha de mérito militar da 3.ª classe. A CART 494 estava adstrita ao BCAÇ 513, de que aqui já se procedeu à devida recensão.

Este livro de memórias é profusamente ilustrado, os autores são Augusto Silva, Adelino Domingues e Aníbal Justiniano, edição de autor, Amares, julho de 2012.

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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23708: Notas de leitura (1505): Uma escultura de renome mundial, a Nalu (Mário Beja Santos)

terça-feira, 16 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19684: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte VIII: Catió, Destacamento de Ganjola


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Destacamento de Ganjola > Rio Ganjola  > 1965 > O ex-alf mil João Sacôto, numa piroga (1)... Interessante embarcação   usada no sul da Guiné, com estabilizador ao meio e leme à popa, o que lhe dava outra segurança!...


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Destacamento de Ganjola >Rio Ganjola  > 1965 > O ex-alf mil João Sacôto,  numa piroga (2)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Destacamento de Ganjola > Rio Ganjola > 1965 > O ex-alf mil João Sacôto, numa piroga (3)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Destacamento de Ganjola >  c. 1965 > A caminho do destacamento de Ganjola, na estrada de Catió para o cais.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Destacamento de Ganjola > À minha direita o Furriel Ilídio

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66). (*)

Trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC (Direção Geral de Aeronáutica Civil).  Foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.

Estudou no Instituto Superior de Ciencias Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG) . Andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente. É natural de Lisboa. É casado. Tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas). É membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011.

2. Neste poste mostramos algumas fotos que documentam a passagem do alf mil João Sacôto  pelo destacamento de Ganjola. (**)
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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16437: Memória dos lugares (343): A CART 494, que eu tive a honra de comandar, foi a primeira unidade de quadrícula em Gadamael (de 17/12/63 a 28/5/65) e em Ganturé (de 21/2/64 a 28/5/65)... Fomos também nós quem construiu o primeiro aquartelamento de Ganjola, para onde fomos destacados, de 17/9 a 15/12/63 (Coutinho e Lima, cor art ref)



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CART 494 (de 17/12/1963 a 28/5/1965) > A equipa de futebol... Em 21/2/1964, o 3º Gr Com instalou-se em Ganturé em 21/2/1964.


Guiné > Região de Tombali > Setor de Catió > Ganjola  > CART 494 (de 17/9/1963 a 15/12/1963) >  O primeiro aquartelamento


Fotos (e legendas): © Alexandre Coutinho e Lima  (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do nosso camarada [Alexandre] Coutinho e Lima, cor art ref, ex-cap art cmdt da CART 494, Gadamael e Ganturé, 1963/65; adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné, 1968/70;  e ex-major art, cmdt  do COP 5, Guileje, 1972/73), 



Data: 29 de agosto de 2016 às 19:20
Assunto: P 7186 - 28 OUT 2010 - Memória dos lugares (105): Gadamael e as suas unidades de quadrícula


Caro Luis

Antes de mais um grande abraço, pois há bastante tempo que não temos tido contacto.

Aproveitando este magnífico tempo, aqui no Norte, tenho navegado no nosso blogue. revendo alguns aspectos relativos a Guileje e Gadamael. Hoje "esbarrei" no poste  P7186 do já longínquo ano de 2010.(*)

Nele é referido, com alguma incerteza, que a CART 1659 (67/68), poderá ter sido a 1ª. Companhia de quadrícula em Gadamael. Ora isso não corresponde à verdade. Com efeito, a primeira Companhia, naquela localidade, foi a CART 494, que eu tive a honra de comandar.

A Companhia chegou a Bissau em 22 de julho de 1963 e desde 17 de setembro até 15 de dezembro de 1963  esteve a passar umas "férias" em Ganjola (Norte de Catió, onde estava a sede do BCAÇ 356). O PAIGC ficou "tão contente", com a nossa chegada, que nos proporcionou, no próprio dia da chegada uma sessão de fogo de artifício diurno, que começou pelas 16h30; como certamente
pensaram que nós não tínhamos ficado totalmente satisfeitos, repetiram com uma sessão nocturna, por volta da 22g30.

A CART 494 foi a primeira tropa em Ganjola, onde construíu o primeiro aquartelamento, partindo do nada.

Transportada em 2 batelões (um motor) civis da Casa Gouveia (CUF) e no navio motor BOR da Armada, a Companhia fez a viagem de Ganjola para Gadamel, nos dias 15 e 16 de dezembro de 1963, tendo desembarcado em Gadamael Porto em 17.

Em 21 de fevereiro de 1964 o 3ª Grupo de Combate da Companhia ocupou a localidade de
Ganturé,  ficando assim a Companhia responsável pelos dois aquartelamentos, os quais construiu, de raiz.

Em Gadamael, construiu também a pista de aviação,apenas com pá e picareta e algumas cargas de trotil para desfazer os inúmeros morros de baga baga.

A CART 494 foi rendida em Gadamael / Ganturé, em 28 de maio de 1965, pela CCAÇ 798.(**)

No historial das Unidades que estiveram em Gadamel, falta preencher o período de 65 a 67.

Um abraço amigo,

Coutinho e Lima

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7186: Memória dos lugares (105): Gadamael e as suas unidades de quadrícula (Luís Graça / Daniel Matos)


(**) Último poste da série > 10 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16376: Memória dos lugares (342): Galomaro e as suas lavadeiras (António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912)

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16179: Facebook...ando (39): O crocodilo do Rio Ganjola (Alcides Silva, ex- 1.º cabo estofador, CCS / BART 1913, Catió, 1967/69)


´Guiné > Região de Tombali > Catió > Ganjola > c. 1967/69 > Um crocodilo apanhado por militares no rio de Ganjola. O zebro parece ser dos fuzileiros. Amigos e camaradas, não confundam crocodilo e jacaré. Na Guiné não há, nem havia no nosso tempo, jacararés...

Foto: © Alcides Silva (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legenda: LG]




1. Alcides Silva é membro da nossa Tabanca Grande desde  15/5/2010; foi 1.º cabo estofador, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69); e faz anos amanhã, 10 de junho (*)


Há tempos o  Alcides Silva (que tem página no Facebook) postou a foto acima, na nossa página da Tabanca Grande. Perguntámos-lhe a data e o local exatos onde tinha ocorrido esta "pescaria" ou "caçaada"... E se a foto era dele.

Ele, ponta e honestamente esclareceu: 

"Não, essa foto alguém, ma deu,  dos que andaram em Catió, já não faço ideia quem são os pescadores. Há dias a mexer nas minhas memórias encontrei essa e resolvi postá-la. Sei que o crocodilo foi pescado no rio,  em Ganjola, onde estava  um pelotão da companhia operacional, para proteger um comerciante que lá existia [, o sr. Brandão]. Quando o  Spinola foi para governador da Guiné, acabou com essa brincadeira de estar a tropa a proteger um civil. Houve uma ocasião em que  esteve em risco a vida de todos que lá estavam". (**)

Sobre o BART 1913 (Catió, 1967/69) temos  mais de 70 referências no nosso blogue.
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Notas do editor:

(*) 15 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6394: Tabanca Grande (219): Alcides Silva, ex-1º Cabo Estofador (e não ex-Sold Cond Auto...), CCS / BART 1913, Catió, 1967/69

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15123: Efemérides (197): O baptismo de fogo da CART 494 foi há 52 anos (Coutinho e Lima, Cor Art.ª Ref)

1. Mensagem do nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), com data de 17 de Setembro de 2015:

Caro Amigo Carlos Vinhal 
A CART 494, que eu comandei na minha 1.ª comissão na Guiné (63/65), teve o seu batismo de fogo, em 17SET63, em Ganjola (Norte de Catió), isto é, faz hoje 52 anos. 
Sobre este assunto foi publicado, no nosso blogue, em 17SET2004, um texto relatando os factos - P13617.

A CART 494 comemorou, no passado dia 29 de Agosto, os 50 ANOS DE REGRESSO DA GUINÉ, com o seguinte programa: 
- 10H00 - Concentração no Quartel da Serra do Pilar 
- 10H30 -Colocação de uma placa comemorativa, no local a isso destinado
- 11H30 - Missa na Igreja de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia, celebrada pelo Sr. Padre Joaquim Soares, Capelão do Batalhão . 
- 13H00 - Almoço convívio num restaurante na ribeira de Vila Nova de Gaia

Estiveram presentes 33 elementos da Companhia, juntamente com suas famílias (incluindo 3 netos), no total de 73 pessoas. 

Com um abraço amigo 
Alexandre C C Lima 
(Coronel de Art.ª Reformado
Comandante da CART 494 - Guiné (63/65) 

************

Nota do editor:
Do Poste 13617 de 17 de Setembro de 2004:

[...]
Na manhã de 17SET, quando a maré o permitiu, partimos de Catió para Ganjola; quando aqui chegamos (cerca da 11 horas), verificamos, que os GC da CI ainda não tinham feito a travessia do rio (Catió ficava a Sul do rio Ganjola e a posição a ocupar a Norte do mesmo rio), pelo que atracamos ao pequeno cais, sem estar montada qualquer espécie de segurança.


 Ganjola. Vd. Carta de Catió 1/50.000

Começamos a descarregar os batelões, enquanto era montada a segurança; o atraso verificado nesta era preocupante porque, seguramente, o Inimigo (IN), com muita probabilidade, tinha tido conhecimento da nossa chegada.

Uma das primeiras medidas foi montar a Metralhadora Breda e os Morteiros de 60mm, para permitir a reacção a qualquer acção do IN.

Às 16H45, o IN atacou o que iria ser o futuro aquartelamento, com grande intensidade de fogo, tendo-se aproximado a poucos metros do arame farpado (nas zonas onde já estava instalado), a coberto das bananeiras e de outras árvores de fruto, bem como do alto capim, que, obviamente, não houvera ainda tempo de cortar.
O ataque durou cerca de uma hora. O pessoal da Companhia, juntamente com os 2 GC da Companhia de Catió, reagiu ao fogo inimigo, tendo o IN retirado. Às 22H45, verificou-se novo ataque, igualmente com grande poder de fogo e foi novamente rechaçado.

No dia seguinte, foram encontrados 4 mortos do IN, deixados no meio do capim. Pelos rastos de sangue observados, o IN teve, certamente, mais baixas.
Foi capturado o seguinte material: 2 Espingardas Mauser, 1 carabina, 1 pistola metralhadora PPSH e 1 pistola de sinais; 1 cunhete de Metralhadora Ligeira Browning com 1 fita de munições completa e outras incompletas, bem como grande quantidade de granadas de mão. Durante os trabalhos de capinagem subsequentes, com o objectivo de abrir campos de tiro, foram encontradas dezenas de granadas de mão, que o IN tinha abandonado.
As Nossas Tropas (NT), com uma enorme dose de felicidade, não tiveram uma beliscadura sequer. 

[...]
____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15084: Efemérides (196): Homenagem aos Combatentes Limianos caídos ao serviço da Pátria, levada a efeito no passado dia 29 de Agosto, em Ponte de Lima (António Mário Leitão)

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14858: (De)caras (23): José António Canoa Nogueira (1942-1965), natural da Lourinhã, sold Pel Mort 942... Não morreu em Ganjola, mas numa operação para a instalação das NT em Cufar, da qual também fiz parte... Estranhamente tinha por alcunha o "Bombarral"... (João Sacôto, ex-alf mil inf, CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)






Lourinhã > Cemitério local > 6 de maio de2012 > Lápide funerária referente ao José António Canoa Nogueira (1942-1965), o primeiro militar lourinhanense a morrer em terras da Guiné, em 23/1/1965... Era sold ap mort Pel Mort 942 / BCAÇ 619 (Catió, 1964/66).

Era meu primo, em terceiro grau, pelo meu lado materno. Foram vinte os meus conterrâneos, mortos na guerra do ultramar. O seu funeral, três meses e meio depois, tocou-me muito. Tinha 18 anos e na altura, eu era o redactor-chefe do quinzenário regionalista "Alvorada"... E devo ter publicado uma das últimas cartas que ele escreveu (datada de Ganjola, 10/1/1965, e dirigida ao diretor do jornal). Sempre pensei que tivesse morrido nalgum ataque ao destacamento de Ganjola,

Os seus restos mortais estão em jazigo de família, não no novo talhão criado para os antigos comabtentes (I Guerra Mnudial e Guerra Colonial).

Fotos (e legendas): © Luis Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Trocando emails,  há dias, com o João Sacôto sobre Ganjola, destacamento de Catió (*), vim a a tomar conhecimento de factos novos, que eu desconhecia, sobre as circunstâncias da morte  do meu primo, mais velho do que eu cinco anos, José António Canoa Nogueira (1942-1965), o primeiro lourinhanense a tombar em combate na Guiné...

Prometi ao João publicar um poste sobre o assunto... Também lhe disse que achava   estranho  o facto do Canoa Nogueira ter a alcunha de "Bombarral" (já que ele era natural da Lourinhã, concelho vizinho...) ,Em contrapartida,  o  João Fernandes Almeida, soldado do pelotão do João Sacôto, tinha por alcunha o "Lourinhã"...

Aqui vai a nossa troca de mensagens. (Também vim a descobrir que o João Sacôto andou na aviação comercial e foi comandante da TAP, além de ter ligações, afetivas, com a minha terra!... Na realidade, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!).


2. Mensagem do João Sacôto, de 30 de junho e de 1 de julho de 2015:


[foto à esquerda, João Sacôto, ex-alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66), em  Ganjola, 1965, tendo por detrás a LDM 309, a manobrar para atracar;  João Gabriel Sacôto Fernandes,  que tinha já a frequência da licenciatura em ciências ecoonómico- financeiras  do ISCEF, hoje, ISEG,  (que não completou depois de vir da Guiné), foi piloto da aviação comercial e comandante da TAP, estando hoje reformado]


(i) Quanto ao teu primo José António Canoa Nogueira (1942-1965), natural da Lourinhã, sold do pelotão de morteiros 942 do BCaç 619, com sede em Catió, que tinha por alcunha o "Bombarral" e era muito amigo de um soldado do meu pelotão, o João Fernandes Almeida, alcunha o "Lourinhã", não morreu em Ganjola, mas sim, em combate, numa das operações para a instalação das NT em Cufar, da qual também fiz parte (CCaç 617) numa altura em que, estando a municiar o morteiro, saiu do abrigo para ir buscar granadas, foi atingido, na cabeça, por um estilhaço de granada do IN.

Ainda foi evacuado por helicóptero mas infelizmente, não sobreviveu aos ferimentos.

Sei também que se encontra sepultado no cemitério da Lourinhã, num talhão próprio de antigos combatentes, mortos em combate.

(ii) Realmente também achei estranho, sendo o Canoa da Lourinhã, ter a alcunha de "Bombarral". Acabei de ter o esclarecimento por telefone com o João Almeida (o "Lourinhã"): entre o pessoal havia, por vezes,  a tendência de gozarem com o pessoal da Lourinhã, velhas estórias que conhecerás.  Daí, o Canoa ter feito crer que era do Bombarral e não da Lourinhã, para não ser chateado. 

O João Almeida que era um grande amigo do Canoa, brincava, na altura, dizendo que ele era o "Lourinhã", muito embora não fosse exactamente de lá, da vila, mas sim de uma aldeia do concelho, ao passo que o Canoa,  sendo mesmo da Lourinhã. não tinha essa alcunha mas sim a de "Bombarral". (**)


3. Resposta de LG, com data de 1/7/2015:

Obrigado, João,  pelos teus completíssimos esclarecimentos... Tenho que descobrir o paradeiro do Almeida... Vou todos os fins de semana à Lourinhã... A tua explicação faz todo o sentido: na época a malta do norte (, mesmo sem saber de geografia...)  tinha uma expressão curiosa: "Mas tu julgas que eu sou da Lourinhã?!"... Ou seja: não me tomes por parvo!...

A terra era sinónimo de gente parva por causa da história da loba (que remonta aos anos 30) ... Confundiram uma loba da Alsácia, de uma quinta das vizinhanças (Quinta do Perdigão)  com uma loba selvagem que andaria a dizimar os galinheiros do pessoal e a espalhar o terror (na Lourinhã e no Bombarral)...

Chegaram a pedir a intervenção militar, os parolos!... Feita uma batida, o animal foi morto e levado em triunfo para um pátio camarário (onde é hoje o museu da Lourinhã, dedicado aos dinossauros), e até a banda local veio para a rua, a  tocar festivamente...

Um chico esperto qualquer lembrou-se inclusive de cobrar dinheiro aos mirones que, de longe e de perto, se deslocaram vere o bicho... Quando foi descoberto o engano, a Lourinhã passou a ser conhecida, depreciativamente, como a "terra da loba"... E a banda filarmónica como a "banda do toca ao bicho"... Dois insultos juntos para as gentes da mesma terra!...

Enfim, os vizinhos de Peniche também têm a história dos "amigos de Peniche", expressão depreciativa (que remonta a 1580 e ao prior do Crato, um dos pretendentes ao trono), os Rio Maior, mais acima,  têm a história do "leão de Rio Maior", os de Pombal , no distrito de Leiria,  não gostam que a gente diga que vai "ao" Pombal... (Tal como em Cuba, no Alentejo,  nunca digas que vais a Cuba, mas sim "à" Cuba)... Enfim, histórias da nossa terra e suscetibilidades das gentes de cada terra... 

Eu, quando era puto, também não  gostava nada de dizer aos de fora que era da Lourinhã, com medo de ser gozado... Hoje, a Lourinhã é orgulhosamente a "capital dosdinossauros" (e o seu museu merece uma visita, se lá fores apita...). Enfim, a história da loba só ficou na memória dos mais antigos... Mas nos anos 60 estava ainda muito viva... 

E tudo isto a propósito do infeliz camarada (e primo) Canoa Nogueira. Coitado do Nogueira, era um rapaz simples e bom!... Fui eu que lhe fiz a notícia necrológica, na altura era o redator principal do jornal local, o "Alvorada"...

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(**) Último poste da série > 29 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14810: (De)caras (22): Quando os autocarros (de Bafatá e de Gabu) chegavam ao porto fluvial do Xime com população e até com provocadores, simpatizantes do PAIGC... Um dia, já depois do 25 de abril, ía havendo uma tragédia: estava eu a montar segurança na Ponta Coli e os meus homens, fulas, quiseram fazer fogo de bazuca, em resposta às provocações da malta do autocarro (António Manuel Sucena Rodrgues, um dos últimos guerreiros do império, ex-fur mil, CCAÇ 12, Xime, 1973/74)

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14821: Memória dos lugares (298): Ganjola e o Rio Cumbijã (ex-alf mil, João Sacôto, CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)


Guiné  > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Destacamento de Ganjola > Rio Cumbijã > 1965 > O ex-alf mil João Sacôto, num "momento de descontração" (1)...

[Curiosa esta piroga. usada no sul da Guiné, com estabilizador ao meio e leme à popa!... Não me recordo de ver este tipo de piroga nos rios da Guiné!...] [LG]


Guiné  > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Destacamento de Ganjola > Rio Cumbijã > 1965 > O ex-alf mil João Sacôto, num "momento de descontração"...



Guiné  > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Destacamento de Ganjola > Rio Cumbijã > 1965 > O ex-alf mil João Sacôto, num "momento de descontração" (3)...

[Em Ganjola, na época, viva a família do velho Brandão, um "homem grande" de quem se dizia ter sido desterrado para a Guiné... Era natural de Arouca. E por lá passou, também, no destacamento de Ganjola, o meu infortunado primo José António Canoa Nogueira o primeiro lourinhanense a  morrer em combate no TO da Guiné, em 23 de janeiro de 1965;  tinha 23 anos, e era sold ap mort. Pel Mort 942 / BCAÇ 619] [LG].

Fotos (e legenda): © João Sacôto (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. João Sacôto, ex-alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66): 

[foto à esquerda, em Ganjola, 1965, tendo por detrás a LDM 309, a manobrar para atracar; 
nome completo: João Gabriel Sacôto Fernandes; Sacôto é o nome pelo qual, entre amigos e profissionalmente, é conhecido]:

(i) assentou praça em Mafra, em agosto de 1962 após dois anos de adiamento, por ele pedidos, em virtude de estar a estudar no então ISCEF (Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras);

(ii) ficou bem qualificado no curso de oficiais milicianos (COM);

(iii)  foi colocado no RI 1 - Amadora;

(iv) foi mobilizado dois anos depois, em 1964,  para a Guiné;

(v) já era casado,  com vinte e cinco anos, com uma filha que fez 2 anos exatamente no dia 8 de janeiro de 1964, data do embarque para a Guiné no T/T Quanza;

(vi) levou consigo um herói, o cão Toby, de raça boxer,  cuja folha de serviço já foi publicada;

 (vii) está hoje reformado da TAP onde foi piloto e comandante de avião (1970-1998);

(viii) em 1980, voltou à Guiné-Bissau  em "romagem de saudade";

(ix) tem página no Facebook

(x) nasceu em 1938; é tio, pelo lado materno, do nosso camarada e grã-tabanqueiro João Martins.
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terça-feira, 30 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14815: Sondagem: Os rios Geba (26%), Cacheu (20%) e Corubal (14%) colhem as preferências de 60% dos votantes... Resultados preliminares (n=85)... A votação encerra a 3 de julho, 6ª feira, às 7h00


Guiné > Região de Quínara > Mapa de Empada (1955) > Escala 1/50 mil > Rio Fulacunda (ou Bianga), afluente do Rio Grande de Buba.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  "Porto fluvial", no Rio Fulacunda > Chegada de uma LDP [, Lancha de Desembraque Pequena]

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]



Guiné > Região de Cacheu > Bissorã  > "Eu e o Forcado, ambos em traje domingueiro, atravessando a ponte sobre o rio Armada, que separava Bissorã da Outra Banda". [Foto do álbum do Armando Pires, ex-fur mil enf, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70].

Foto (e legenda): © Armando Pires (2009). Todos os direitos reservados [Edição: LG].

O meu conterrâmeo, amigo, vizinho e colega de escola Ludgero Henriques de Oliveira, sargento chefe (Sch), reformado, da Marinha (1947-2011), fez parte, como fogueiro, da tripulação da mítica LDM 302. atacada e afundada em 19 de dezembro de 1967, quando descia o rio Cacheu, frente à clareira de Tancroal.   Mas já antes, em 4/10/1965,  no rio Armada, afluente do Cacheu, em missão de transporte de forças terrestres, a LDM 302 fora  atacada das margens com metralhadoras ligeiras e granadas de mão, resultando 10 feridos ligeiros entre os militares embarcados. São apenas dois episódios do seu historial de guerra. (LG)



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Catió - Porto exterior > Foto 3 > "Cais do porto exterior de Catió no Rio Cagopere. Da esquerda para a direita, os  fur mil Cabrita Gonçalves, Machado e Mendonça,  e o civil sr. Barros.

Foto (e legenda) do nosso saudoso grã-tabanqueiro Victor Condeço (1943/2010), ex-fur mil, mecânico de armamento, CCS/BART 1913  / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Destacamento de Ganjola > Rio Cumbijã > 1965 >O nbosso ex-mil João Sacôto,num "momento de descontração"

Foto (e legenda): © João Sacôto (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


I. Eis os primeiros resultados da nossa sondagem desta semana (*):

Três rios recebem as preferências de 60% dos nossos leitores que votaram, até agora:

5. Geba > 22 (25,9%)
1. Cacheu > 17 (20%)
3. Corubal > 12 (14,1%)


Seguem-se mais quatro  rios que congregam as preferências de menos de um terço (31,7%) dos votantes;

2. Cacine > 7 (8,2%)
4. Cumbijã > 7 (8,2%)
7. Mansoa > 7 (8,2%)
6. Grande de Buba > 6 (7,1%)

Eis as restantes categorias (residuais) escolhidas:

8. Tombali > 0 (0%)
9. Outro (o que corria junto do sítio onde estive) > 3 (3,5%)
10. Outro (não referido acima) > 1 (1,2%)
11. Nenhum > 3 (3,5%)


Nº de votos apurados: 85 (às 12h00 de hoje)

Dias que restam para votar: 2 (até às 7h00 d0 dia 3/7/2015)


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Nota do editor:

Vd poste anterior > 30 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14812: Sondagem: O rio da minha... tabanca... O meu rio da Guiné, aquele que mais amei / odiei... Responder até ao dia 3 de julho

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14768: Blogpoesia (416): A senhora Sexta-Feira, que vivia em Ganjola, a doce companheira do senhor Brandão (J.L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, "Os Palmeirins", Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)

A senhora Sexta-Feira

por J. L. Mendes Gomes  (*)


Vivia em Ganjola,
arredores de Catió.
Era a doce companheira
do senhor Brandão. (**)

Um desterrado de Arouca
a cumprir pena na Guiné.

Fez-se comerciante,
vendia de tudo aos nativos,
por todo o sul desde Bedanda a Cufar.

Faziam bicha em corropio
as mulheres negras,
açafates à cabeça,
e filhinhos atrás das costas.

Traziam ovos,
traziam galinhas,
de cristas rubras,
e levavam arroz e sal
para suas tabancas.

Sua casa era um palacete,
à beira-rio,
onde abundavam os crocodilos,
mas havia peixe a dar com pau.

Ali fui parar um mês com meu pelotão.
Como num quartel.
Ali dei com o célebre Brandão,
sempre rodeado de muitas crianças,
que lhe ventilavam o ar,
na sua esteira suspensa.

E havia uma senhora negra,
cabelo grisalho
um rosto belo,
cheio de rugas,
e uns olhos brilhantes,
um sorriso divino e puro.

Era a Sexta-Feira.
Cozinhava tão bem!...
Que será feito dela?


Berlin, 19 de Junho de 2015, 8h47m
Joaquim Luís Mendes Gomes

[ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66]






Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Destacamento de Ganjola > Meninos, filhos de habitantes locais, dois deles irmãos, os mestiços . Dizia-se que eram filhos (ou netos?) do velho Brandão (que não sabemos quando e onde morreu). 

O que foi feito destes meninos e desta menina, pretos e mestiços de Ganjola ? Estarão vivos ? Casaram ? Tiveram filhos ? Vivem na sua terra ? São felizes e livres ? Ficamos semopre fascinados pelas fotos de gente, de ontem e de hoje... Quantas histórias não ficarão por contar se não inquirirmos estas fotos ?

Fotos do nosso saudoso grã-tabanqueiro Victor Condeço (1943/2010), ex-fur mil,  mecânico de armamento, CCS/N»BART 1913 (Cati+ó, 1967/69) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados

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Notas do editor:


(**) Vd, poste de 22 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjola, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira

(...) Era-nos fácil imaginar, com sadia cobiça, a deliciosa época da vida colonial, de antes da guerra, para os felizardos, a quem a sorte, em boa hora, escorraçara, com a pena de desterro, por feitos heterodoxos à moral reinante das gentes da metrópole.

Era o caso do Sr. Brandão, de Ganjola (...) , a quinze km de Catió, um injustiçado lavrador das terras de Arouca. Ali vivia há dezenas de anos, por assassínio, cometido numa das romarias da Senhora da Mó. No meio dos folguedos e romarias, por vezes, acertavam-se contas atrasadas, duma qualquer hora de desavença, mesmo no fim da missa domingueira.

O Sr. Brandão, agora, era um velhote, rodeado de filhos e netos que foi gerando, ao sabor das madrugadas de batuque e da liberdade de escolha, sem custos, entre as mais viçosas bajudas da tabanca…

Uma negra, velha, mas de rosto e olhar, ainda iluminados por olhos meigos, como a sua voz, doce, era a predilecta, de sempre. Seu nome, Sexta-Feira. Soava bem aos ouvidos dos falares balantas, fulas ou mandingas. Era ela quem lhe tratava das tarefas caseiras. Dedicada. Sem nada cobrar, para além do breve e malicioso sorriso do velho Brandão, quando lhe despontava o desejo do seu corpo, negro, sem idade. Podia despontar a qualquer hora. Sexta-Feira ali estava, sempre dócil e submissa.

Uma loja farta de tudo o que chegava na carreira regular das barcaças de Bissau. Os lindos panos de cor garrida e os gordos cordões reluzentes, de fantasia, com que as negras tanto gostavam de se enfeitar.

O vinho tinto da metrópole era o regalo dos ociosos negros, de rostos engelhados e curtidos pelo álcool, pela tarde fora, a par da cachaça de coco.O saboroso bacalhau, curado nas míticas secas da Figueira da Foz e Aveiro, tão apreciado e toda a sorte de ferragens eram tudo o que aguçava o desejo daquelas gentes, para a troca do arroz, milho, mandioca, galinhas e demais produtos que, em cortejo lento e constante, pelas picadas entre as frondosas matas, traziam em açafates, à cabeça.O preço era feito, à medida da vontade gulosa do velho, matreiro e bem afortunado, Brandão.

Dizia-se que tinha metade das terras de Arouca… não fosse o diabo tecê-las. Ali, vivia, pacatamente, como se não houvesse guerra, numa típica mansão colonial, de um piso sobreelevado, com um varandim a toda a volta, com as dependências necessárias à farta panóplia de utensílios, alfaias e mercadoria. (...)


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13739: Efemérides (176): A primeira Operação da CART 494 foi em 11 de Outubto de 1963 (Coutinho e Lima)

1. Mensagem do nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), com data de 9 de Outubro de 2014:

Caro Amigo
Junto envio, em anexo, um pequeno artigo sobre o assunto em epígrafe.

Um abraço amigo
Coutinho e Lima


Primeira Operação da CART 494 – 11OUT63 

A primeira Operação da CART 494, em Ganjola (Norte de Catió, que tinha sido ocupada em 17SET63), a que foi dado o nome de “ ALVORADA”, realizou-se no dia 11 OUT 63.

Na véspera foi presa uma mulher de etnia balanta, que vagueava nas imediações do aquartelamento, com evidentes sinais de desequilíbrio mental. Interrogada, declarou que o IN se encontrava instalado na tabanca Ganjola Dabenche (mais conhecida por Ganjola Velha), a mais próxima do quartel.

Imediatamente foi planeada uma operação, cuja missão era desalojar o IN e incendiar a tabanca.
Às primeiras horas da manhã de 11OUT, iniciámos a aproximação ao objectivo, verificando-se que o IN se furtou ao contacto e, juntamente com a população, internou-se no mato.
Foram incendiadas cerca de 100 moranças e recolhidos vários documentos.

 Ganjola. Vd. Carta de Catió 1/50.000

Ao regressar ao quartel, fomos surpreendidos com um numeroso número de vacas (em número de 52), que levámos à nossa frente, o que foi particularmente difícil, porque houve necessidade de fazer passar as vacas, uma a uma, por uma pequena ponte sobre um braço de rio, enquanto que a bolanha à volta, estava totalmente alagada, por virtude da chuva. O que nos deu mais trabalho foi um grande touro reprodutor, que, seguramente, pesava mais de 500 quilos.

O esforço dispendido por todo o pessoal foi muito grande, não só com a recolha das vacas, mas porque as bolanhas que tivemos que atravessar, além de ser novidade, estavam completamente alagadas, sendo frequente verificar elementos enterrados até à cintura, tendo que ser ajudados para sair dessa situação.

Um ensinamento tirado foi a utilização das botas de borracha por alguns militares na operação, o que se verificou totalmente inadequado nas bolanhas.

Chegados ao quartel, improvisamos uma cerca de arame farpado, para evitar que as vacas fugissem. Com o imprevisto e agradável reabastecimento, passámos a abater uma rês por semana, o que melhorou de maneira muito significativa a nossa dieta alimentar: bifes com batata frita, carne assada no forno construído por nós, jardineira e cozido à portuguesa, quando recebíamos frescos de Catió.

O magarefe da Companhia, Soldado Atirador Armando Macedo Marques (o Sintra, por ser natural desta localidade), passou a trabalhar mais, para o bem comum.
Esta Operação, se tivesse recebido o nome, após a sua realização poderia ser denominada “Recolha imprevista de vacas”.

Possuidores desta manada, não mais tivemos problemas com a alimentação, permitindo-nos até dispensar algumas reses a Catió. A nossa grande desilusão foi termos que deixar o magnífico touro, que estava reservado para o Natal, que já foi passado em Gadamael.

Alexandre da Costa Coutinho e Lima
Coronel de Artª. Ref.
Ex-Comandante da CART 494 (63/65)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13701: Efemérides (175): O Curso Caldas Xavier da Academia Militar iniciou-se há 50 anos (António Martins de Matos)

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13620: Memória dos lugares (273): Ganjola, destacamento de Catió, na margem direita do Rio Ganjola, vista pelo saudoso Victor Condeço (1943-2010), ex-fur mil mec armamento, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69)...Foi também lá que tombou, em combate, em 23/1/1965, o lourinhanense José António Canoa Nogueira (sold, Pel Mort 942 / BCAÇ 619, Catió, 1964/66)


Foto 6 >  CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Destacamento de Ganjola (*).  O fur mil  Victor Condeço em foto para a família com menina mestiça.


Foto 5 > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Destacamento de Ganjola. Meninos filhos de habitantes, os mestiços eram irmãos e dizia-se entre a tropa, que eram filhos do proprietário, o sr. Brandão. Vista parcial dos edifícios.


Foto 5> > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Destacamento de Ganjola. Por menor dos meninos filhos de habitantes locais, dois deles irmãos, os mestiços.


Foto 4 > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Destacamento de Ganjola. As instalações que eram do Sr. Brandão que vivia em Catió, eram compartilhadas pela tropa e por uns poucos civis, duas famílias.  Na foto, o fur.mil Pires:  de visita, aproveitou foi ao barbeiro.


Foto 3 > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69)  > Rio Ganjola na cambança para o Destacamento, o militar em primeiro plano é o Srgt  Gaio, do Pelotão de Morteiros 1209.



Foto 2 > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Rio Ganjola vendo-se na margem direita o Destacamento de Ganjola Porto,  na foz do rio Canlolom. O destacamento tinha uma guarnição fornecida por Catió, ao nível de um pelotão, a área ocupada era menor que meio campo de futebol. [este destacamento foi abandonado pelas NT na segunda metade de 1968]



Foto 2A > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69)  > Pormenor da foto anterior (2). Ganjola Porto era apenas um grande edifício à beira rio, que servia de habitação e entreposto de comércio, nas traseiras deste, uma outra pequena edificação era a cozinha. O resto era os postos de sentinela e defesa, tudo circundado por uma paliçada e arame farpado. O poço era fora do arame farpado a pouca distância.


Foto 1 >  CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69)  > Rio Ganjola visto da margem esquerda, junto da cambança para o Destacamento de Ganjola Porto. Distava cerca de 5 km do centro de Catió para Norte.

Fotos do álbum do ex-fur.mil mec armamento,  CCS / BART 1913 (Guiné, Região de Tombali, Catió, 1967/69), o saudoso Victor Condeço (1943-2010), natural de (ou residente, até à sua morte, em) Entroncamento.


Fotos (e legendas) de Catió: Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados


José António Canoa Nogueira (1942-1965)
1. Temos poucas referências (cerca de uma dezena) ao destacamento de Ganjoja, a nordeste de Catió. Por lá passaram alguns camaradas nossos, como o então cap art Alexandre Coutinho e Lima, que fez a sua primeira de três comissões no TO da Guiné, como comandante da CART 494 (Gadamael, 1963/65). Ou o Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, CCS/BART 1913 (Catió, 1967/69) que visitou Ganjola 8e que esteve em Catió com o Victor Condeço..

Ganjola é o primeiro topónimo que me fica gravado a ferro e fogo, na minha memória, quando eu já tinha os meus dezoito anos... Dirigia o jornal regionalista "Alvorada" quando soube da morte do primeiro lourinhanense em terras da Guiné, e fiz 3 meses tarde a notícia do seu funeral. Por sinal, ele era meu primo em 3º grau,  o José António Canoa Nogueira. Era sold do Pel Mort 942 / BCAÇ 619 (Catió, 1964/66). Morreu em Ganjola, em 23/1/1965. Tinha 23 anos (nascera em 11/1/1942, na vila da Lourinhã). O seu pai, o primo Nogueira, primo direito da minha mãe, ficou destroçado, nunca mais fo o mesm,o homem. Tem duas irmãs que eu já não conheço. Creio que uma está emigarada (nos EUA ou no Canadá).

Publiquei, em 23/5/1965, no jornal, quinzenário, "Alvorada", a última (ou uma das últimas cartas que ele terá escrito antes de morrer. Já a republiquei na I Série do nosso blogue, em poste de 8/9/2005. Continuam a ser memórias (algumas, dolorosas) daquela  terra e daquela guerra (***).

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 17 de setembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13617: O meu baptismo de fogo (27): Às 16H45 do dia 17 de Setembro de 1963, o IN atacou o que iria ser o futuro aquartelamento de Ganjola (Coutinho e Lima)

(**) Último poste da série > 23 de julho de  2014 > Guiné 63/74 - P13433: Memória dos lugares (272): Espectáculos em Galomaro no tempo do BCAÇ 2912 (1970/72) (António Tavares)

(**) Vd, I Série > 8 de setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXXI: Antologia (18): Um domingo no mato, em Ganjolá

(...) Um domingo no mato

Aqui, Ganjolá, Guiné, 10-1-1965

Mesmo no sul da Guiné, pequeno destacamento militar presta continência à Bandeira Verde-Rubra que sobre o mastro fica brilhando ao sol. E que linda que é a nossa bandeira; e é tão alegre, tão garrida, só olhá-la nos faz sentir alegria e também emoção; alegria de sermos portugueses e emoção por estarmos cá longe para a defender. Embora assim perdida no mato, a bandeira, brilhando, afirma que aqui também é Portugal.

Em volta, meia dúzia de barracas verdes, o nosso aquartelamento, a única nota de civilização nesta imensa planície. Muito ao longe, quase perdidas no mato e no capim, algumas palhotas indígenas; de resto, tudo é solidão. Somos soldados de Infantaria e por isso o nosso trabalho é fazer operações em qualquer parte do mato.

Aqui não há escolas e as igrejas não têm paredes; o tecto é o céu. Em toda a parte se reza e tudo nos incita à oração. Deus está em toda a parte e ouve-nos.

Hoje é domingo, dia de descanso, não se trabalha, mas distracções também não há. Alguns vão à pesca ou à caça; outros, deitados debaixo das enormes árvores, dormem e pensam nas suas terras e famílias distantes, mas pertinho do coração. Como são diferentes aqui os divertimentos nos domingos.

Dois soldados vão todos os dias à caça; por isso, fome não há. Temos carne com abundância, mas falta tanta coisa!... Ei-los que chegam com tenros cabritos e gazelas e logo enorme fogueira crepita alegremente. Esfolam-se os animais e lava-se a carne; a água não falta, embora para se beber seja preciso enorme cuidado. Prepara-se um espeto para se assar a carne. Espalha-se então o cheiro da carne assada pelo pequeno acampamento. Está a refeição preparada; troncos de árvores, caixotes vazios, servem de mesa e de cadeiras.

Todos se servem. A refeição é pouco variada: apenas carne assada e pão. O vinho também é pouco, mas dividido irmãmente dá para todos; que bem que sabe uma pinguita com este almoço!...

Bebia-se mais mas não há, paciência… O improvisado cozinheiro faz enormes quantidades de café. Todos enchemos os copos de alumínio e bebemos alegremente. Acaba a refeição; por fim, alguns macacos, meio domesticados, que por aqui andam, aproximam-se e reclamam a sua parte.

É assim um domingo no mato. Depois de explanar esta ideia, termino. Despeço-me com o mais ardente desejo de a todos vós abraçar brevemente, fazendo preces ao Senhor para que tenhais saúde e boa sorte. Vosso amigo que respeitosamente se subscreve, todo vosso.

José António Canoa Nogueira.
Soldado nº 2955/63
SPM 2058. (...)


Guiné 63/74 - P13617: O meu baptismo de fogo (27): Às 16H45 do dia 17 de Setembro de 1963, o IN atacou o que iria ser o futuro aquartelamento de Ganjola (Coutinho e Lima)

1. Mensagem do dia 12 de Setembro de 2014 do nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel na situação de Reforma (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné, 1968/70 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73):


Baptismo de fogo da CART 494 - 17SET63

A CART 494, uma Companhia Independente, isto é, não integrada em nenhum Batalhão, desembarcou em Bissau em 22 de Julho de 1963.

O seu destino era Gadamael, mas porque ali não havia instalações (foi o que me disseram) e, porque o Batalhão com sede em Catió, vinha insistindo na necessidade de instalação de tropa em Ganjola, para permitir que a sua Companhia de Intervenção (CI) pudesse fazer operações na península do Tombali, onde o PAIGC estava instalado, foi atribuída de reforço temporário a este Batalhão.

Desta forma, a Companhia embarcou em Bissau, em 4 batelões da Casa Gouveia (um motor e os outros rebocados), em 15SET, com destino a Catió, onde chegou às 18 horas do dia 16SET. Fui então transportado de jeep, ao Comando do Batalhão, onde me foi comunicado que, no dia seguinte, 2 Grupos de Combate (GC) da CI, se deslocariam por terra, atravessariam o rio Ganjola e montariam a segurança para que, quando a CART 494 chegasse, nos batelões, pudesse desembarcar à vontade.

Na manhã de 17SET, quando a maré o permitiu, partimos de Catió para Ganjola; quando aqui chegamos (cerca da 11 horas), verificamos, que os GC da CI ainda não tinham feito a travessia do rio (Catió ficava a Sul do rio Ganjola e a posição a ocupar a Norte do mesmo rio), pelo que atracamos ao pequeno cais, sem estar montada qualquer espécie de segurança.

 Ganjola. Vd. Carta de Catió 1/50.000

Começamos a descarregar os batelões, enquanto era montada a segurança; o atraso verificado nesta era preocupante porque, seguramente, o Inimigo (IN), com muita probabilidade, tinha tido conhecimento da nossa chegada.

Uma das primeiras medidas foi montar a Metralhadora Breda e os Morteiros de 60mm, para permitir a reacção a qualquer acção do IN.

Às 16H45, o IN atacou o que iria ser o futuro aquartelamento, com grande intensidade de fogo, tendo-se aproximado a poucos metros do arame farpado (nas zonas onde já estava instalado), a coberto das bananeiras e de outras árvores de fruto, bem como do alto capim, que, obviamente, não houvera ainda tempo de cortar.
O ataque durou cerca de uma hora. O pessoal da Companhia, juntamente com os 2 GC da Companhia de Catió, reagiu ao fogo inimigo, tendo o IN retirado. Às 22H45, verificou-se novo ataque, igualmente com grande poder de fogo e foi novamente rechaçado.

No dia seguinte, foram encontrados 4 mortos do IN, deixados no meio do capim. Pelos rastos de sangue observados, o IN teve, certamente, mais baixas.
Foi capturado o seguinte material: 2 Espingardas Mauser, 1 carabina, 1 pistola metralhadora PPSH e 1 pistola de sinais; 1 cunhete de Metralhadora Ligeira Browning com 1 fita de munições completa e outras incompletas, bem como grande quantidade de granadas de mão. Durante os trabalhos de capinagem subsequentes, com o objectivo de abrir campos de tiro, foram encontradas dezenas de granadas de mão, que o IN tinha abandonado.
As Nossas Tropas (NT), com uma enorme dose de felicidade, não tiveram uma beliscadura sequer.

Duas conclusões se podem tirar do que aconteceu:
- A primeira, relativa à actuação do IN, que demonstrou grande ousadia e determinação, ao atacar, em pleno dia, as NT.
É de salientar que, só nos primeiros meses de 1973, isto é, quase 10 anos depois, o PAIGC voltou a atacar aquartelamentos das NT de dia: em Guidage (MAI/JUN 73), Guileje (MAR e MAI 73) e Gadamael (MAI/JUN 73); estas actuações foram associadas à utilização pelo IN de mísseis terra-ar STRELLA.

- A segunda conclusão diz respeito ao comportamento do pessoal da CI de Catió, cuja missão era a montagem da segurança, enquanto a CART 494 descarregava os barcos; é incompreensível e inaceitável a maneira, no mínimo desleixada, como executou a missão; de facto, uma segurança minimamente eficaz, teria detectado o avanço do grupo IN, não permitindo tão grande aproximação, o que poderia ter tido graves consequências para as NT, que, felizmente, não se verificaram.
Penso que a sua actuação, irresponsável, se pode enquadrar numa usual manifestação de pretensa superioridade da “tropa velhinha” (pessoal da Companhia de Catió), face à inexperiência dos “periquitos” (CART 494). Só assim é possível tentar um esforço de compreensão, ao concluir que o pessoal que, supostamente, deveria estar com a máxima atenção à segurança, se tenha “deitado à sombra da bananeira”, no verdadeiro sentido da expressão.

Foi este o inesperado “Baptismo de fogo da CART 494”, em pleno dia, em 17SET63, há 51 anos.

Alexandre da Costa Coutinho e Lima
Coronel de Artª: Reformado
Ex- Comandante da CART 494
Guiné 63/65
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Março de 2014 > Guiné 63/74 - P12829: O meu baptismo de fogo (26): Có - os primeiros contactos de fogo: um teste para os "piriquitos" (Francisco Henriques da Silva)

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13498: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Parte III: Um periquito praxado com pornografia à mesa do comandante... E as primeiras impressões (más) de Catió e do destacamento de Ganjola...

Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão (CCS/BART  1913, Catiói, 1967/69).

[ Foto à direita tirada pelo nosso saudoso Victor Condeço, 1943-2010, que foi fur mil mec armam, CCS/BART 1913].


1. Continuação da publicação do testemunho do nosso camarada, o grã-tabanqueiro Horácio Fernandes.que foi alf graduado capelão no BART 1913 (Catió, 1967/69) (*)

Esse tstemunho é um excerto do seu livro autobiográfico, "Francisco Caboz; a construção e a desconstrução de um padre" (Porto: Papiro Editora, 2009, pp. 127-162).

O Horácio Fernandes vive no Porto. Vestiu o hábito franciscano, tendo sido ordenado padre em 1959. Deixou o sacerdócio no início dos anos 70. É casado, tem 3 filhos. Está reformado da Inspeção Geral de Educação onde trabalhou 25 anos na zona norte. Em 2006 doutorou-se em ciências da educação pela Universidadfe de Salamanca, Espanha.

Foi o nosso camarada e amigo Alberto Branquinho quem descobriu o paradeiro do seu antigo capelão (*).Tenho a autorização verbal do autor (que de resto é meu parente e conterrâneo), dada por altura do nosso reencontro, 50 anos depois da sua missa nova (em 15 de agosto de 1959, em Ribamar, sua terra natal), para reproduzir esta parte do livro, relativa à sua experiênciade como capelão militar na Guiné, muito marcante e decisiva para o seu futuro como homem e como padre.

O livro já aqui foi objeto de recensão crítica por parte do nosso camarada Beja Santos (*).

Francisco Caboz é o "alter ego" do Horácio Fermandes (n. 1935, Ribamar, Lourinhã). O livro começou por ser uma tese de dissertação de mestrado em ciências da educação, pela Univeridade do Porto (1995): Francisco Caboz: de angfélico ao trânsfuga, uma autobiografia. Nesta III parte (pp. 139/143), o autor relata-nos como foi praxado à sua chegada a Catió... E descreve-nos também as suas primeiras impressões de Catié e do destacamento de Ganjola. /(LG)