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sexta-feira, 3 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21133: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (9): A funda que arremessa para o fundo da memória

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Junho de 2020:

Queridos amigos,
A relação entre Annette e Paulo Guilherme evolui à roda de uma guerra onde o protagonista fora participante, cerca de trinta anos atrás, a intérprete belga acedera, num jeito de cumplicidade sem quaisquer outras consequências, a ir acompanhando a história dessa experiência na guerra colonial, mas tudo rapidamente se transforma, ambos já não escondem a atração mútua, ela própria fala em saudades, a correspondência é copiosa e os telefonemas constantes, a expetativa de reencontro começa a ser tórrida e Paulo Guilherme desvela aqueles primeiros meses e o amor que se vai entranhando pelo Cuor e pelas suas gentes.

Um abraço do
Mário


Esboços para um romance – II (Mário Beja Santos):
Rua do Eclipse (9): A funda que arremessa para o fundo da memória

Mário Beja Santos

Chère Annette, que maravilha, estivemos ao telefone tanto tempo ontem à noite, deu para mitigar as muitas saudades que tenho de si. Estou contentíssimo com o que se está a passar na evolução dos seus filhos, oxalá que tenham sucesso nas opções tomadas. Vejo que tem viajado pouco, tudo concentrado em Bruxelas ou quase, temo que, quando dentro de breves dias, lhe anunciar as minhas disponibilidades para a visitar (aguardo a qualquer momento a marcação de uma reunião urgente entre um serviço da Comissão Europeia e a Direção da Associação Europeia de Consumidores, de que faço parte), me vá responder que está na Irlanda ou na Dinamarca nessa altura. Faço figas para que tal não aconteça. Gostei muito do seu entusiasmo quando lhe falei do livro mais recente que publiquei, enviei-lhe um punhado de fotografias de alguns dos meus amigos que me deram o gosto de estar presentes.

Antes de adormecer, a minha querida Bruxelas, aquele território que tão bem conhece, assomou-me à mente, guardo ainda uma boa memória fotográfica. Logo aquele hotel que durante muito tempo foi um dos meus recursos mais baratos quando o George V estava cheio, o Mirabeau, na Place Fontainas, a Praça é mesmo incaraterística, dá para uma zona muito simpática, de gente alternativa, no Verão há imensas esplanadas, costumo passar por aqui até chegar à Grand-Place e depois tomo o metro na Gare Centrale ou se tenho tempo vou a pé até aos locais da reunião. Já a dormitar, imagine as imagens que me afluíram, primeiro o Museu de Ixelles, ainda não tive a felicidade de lá ir consigo, que belas exposições e que acervo permanente, houve para ali um doador que colecionava os cartazes de Toulose-Lautrec e deixou este fabuloso património a este museu comunal que se pode gabar de ter um dos maiores acervos de tais obras fora da França. E já na mais completa sonolência, sem qualquer lógica na sequência das recordações, como costumo ir comprar coisas aos meus filhos na Rua Nova, paro a fazer algumas orações na Igreja de Nossa Senhora da Finisterra, o monumento barroco que tem uma sumptuosidade contida, onde me sinto bem em recolhimento, às vezes sento-me ali já de mala aviada e com sacos dos presentes para os meus entes queridos. Tudo isto serve para dizer, se ainda subsistem dúvidas no seu pensamento, que o seu país me é profundamente caro, a ele volto com o coração aos pulos, mesmo quando passo um domingo fechado a trabalhar na organização de aulas ou coisa que o valha. Como é evidente, agora que a Annette me quer ouvir, é ao pé de si que me sinto bem nesses ditosos fins-de-semana. Estar na sua presença é uma exultação à vida, uma promessa de futuro ridente.

Agora procuro dar-lhe por escrito informações complementares àqueles primeiros meses de Missirá, tempo de adaptação, mas de descoberta, e não lhe quero esconder que ia ganhando uma enorme confiança neste novo relacionamento com os militares e os civis. De tal forma, que jamais os esqueci, e todos os dias agradeço ao Bom Deus com eles ter convivido.

 Praça Fontanais

 Museu Comunal de Ixelles

Igreja de Nossa Senhora da Finisterra

Havia pouco tempo em Missirá quando alguém matou esta temível cobra, uma surucucu. Aproveitei esta imagem recordatória para lhe comentar o fundo do que está a ver. São bidons encavalitados com chapas aplainadas, o objetivo é proteger quem por aqui circula no caso de uma flagelação. Por trás de mim está o primitivo balneário, logo que o contemplei pela primeira vez fiz a jura de o substituir rapidamente, quem ali entrava feria-se nas chapas cortantes, o cimento estava todo estalado onde púnhamos os pés, tomávamos banho calçados com sandálias de plástico, a água saía de um chuveiro com um cheiro oloroso a petróleo. Dentro de poucos meses, atravessaremos o rio Geba com um primoroso sistema de seis bidons interligados com três chuveiros, dando oportunidade a uma maior rotação no balneário, e depois de conversar com o régulo acordou-se que os homens e os jovens da população dele podiam usufruir, já que as mulheres e as crianças faziam a sua higiene quando iam lavar a roupa e trazer bilhas de água numa fonte chamada de Cancumba.

Tenho pena de não haver uma fotografia posterior com o novo balneário e os sanitários. Sim, os sanitários. Quando cheguei a Missirá, o Cabo Teixeira, com discrição, foi-me mostrar um local com vala para os nossos detritos sólidos e líquidos, não escondi a repugnância, muito em breve irá começar o meu assédio junto da delegação do Batalhão de Engenharia em Bambadinca, queria duas sanitas para criar dois compartimentos, só ganhei uma, o mesmo Cabo Teixeira concebeu a fossa, alisou-se o terreno, cimentou-se, fez-se porta. Eu sei que agora a Annette se vai rir com o que vou contar, um dia dirigi-me ao sanitário, vi a porta aberta e vi um dos meus soldados de pé, em cima da sanita, ele ficou confuso e eu aterrado, mais dia menos dia teríamos a sanita partida. Apercebendo-me que havia ali um problema cultural, e que a questão tinha os seus melindres, reuni a tropa e expliquei-lhes que se devia fazer um esforço para manter a higiene daquela instalação sobretudo não partir uma peça de cerâmica com todo o peso em cima, a vala ainda estava aberta e quem não pudesse ter o hábito de se sentar e de deixar o sanitário limpo depois de o usar, devia frequentar a vala. Para minha surpresa, a sanita mantinha-se irrepreensivelmente limpa depois de qualquer uso, um balde sempre cheio de água e um cesto para recolher papel usado. A higiene viera para ficar, os militares deixaram de ir à vala.


Annette, apresento-lhe um ângulo de Missirá, junto a uma porta que não é a principal, aí havia um cavalo de frisa, esta era a chamada Porta de Sansão, tinha torre de vigia, felizmente quando cheguei a Missirá já estava relativamente desbastada a área circundante, mas vi sempre com muita apreensão aqueles cajueiros onde se podiam instalar guerrilheiros na escuridão da noite. Mais tarde, alargou-se a distância, irei muitas vezes sair ou entrar pela Porta de Sansão, dava-nos a tranquilidade de caminhar a corta-mato, passava-se ao lado de Maná, mais adiante atravessava-se a estrada de Canturé e avançávamos pela região de Chicri, parecia um território lunar, umas formações em cogumelos, a laterite em pó, mesmo com as calças bem presas com atilhos, toda aquela poeira tinha o condão de subir até ao pescoço misturada com o suor, e assim caminhávamos até Mato de Cão, aproximadamente 12,5 quilómetros a partir desta Porta de Sansão. Como estamos em maré de intimidades, confesso-lhe que dava tudo para fazer este percurso debaixo de chuva torrencial ou com o sol inclemente, com aquelas ondas de calor que geram miragens como no deserto. E Chicri naquele tempo tinha um dos mais belos palmares, tantas vezes por ali passei e questionei como a natureza chega a ser esplendorosa em locais onde tanto sangue se derramou, como eu próprio experimentei.


Como é natural, procurei saber algo sobre esta família Soncó. Os comentários que me chegaram, o que pude ler, nunca me satisfez. Demorei muitos anos até chegar a um certo ponto da verdade. O avô do régulo Malam Soncó, de quem me irei transformar em irmão, dera muitas dores de cabeça às autoridades de Bolama, obrigou a que se tivesse feito uma expedição militar como jamais existira no Centro-Leste, governava Oliveira Muzanty, tudo se passou entre 1907 e 1908. Precisei de um dia ter acesso a um livro para conhecer Infali. Era uma família Beafada que viera do Forreá, e por isso se pode dizer que eram Beafadas mandinguizados, isto é, aceitaram a cultura Malinké e adotaram a sua língua.

Uma das pouquíssimas imagens de Infali Soncó, está sentado no centro, com uma arma na mão. Em breve, vai começar a guerra no Cuor, de que sairá derrotado, estamos em 1908. Fotografia retirada do álbum O Primeiro Fotógrafo de Guerra Português: José Henriques de Mello, por Alexandre Ramires e Mário Matos e Lemos, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2008, com a devida vénia.


Despeço-me da Annette com esta fotografia, foi um dia muito feliz da minha vida. Informara ao anoitecer muito cedo, no dia seguinte, iríamos até Bambadinca. Tudo mentira, tinha que estar perto das 10 horas da manhã em Mato de Cão. Chamei em segredo o condutor Setúbal e disse-lhe para levar jerricãs em quantidade, o percurso seria o dobro, iríamos até Enxalé, uma completa surpresa. Estou de braço dado com Nhamô Soncó, ao lado do seu marido, Bacari Soncó, irmão do régulo Malam. A Nhamô leva a sua trouxa convencida de que vai para Bambadinca, deu gritos quando em Canturé virámos para Gambaná e fomos estrada fora até Mato de Cão. E mais gritos deu quando nos encaminhámos para o Enxalé. É uma história que mais tarde irei desenvolver quando esta pobre Nhamô for brutalmente ferida numa flagelação a Missirá, em junho de 1969.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21111: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (8): A funda que arremessa para o fundo da memória

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19964: Historiografia da presença portuguesa em África (165): À procura de Sambel Nhantá (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Setembro de 2018:

Queridos amigos,
Chegara o tempo de mexer três fartos caixotes com documentação antiga, joeirar o que podia ir para o lixo, um fartote de agendas que perderam préstimo, resmas de brochuras associadas a viagens de um passado já longínquo, e algo mais. É nisto que o coração bateu mais forte, primeiro a longa carta de Abudu Soncó, cumpria uma promessa feita no ano anterior de me transmitir as lembranças de Infali Soncó, de que pouco se sabe, ele que deu dores de cabeça às autoridades portuguesas, foi o responsável pelas campanhas de 1907 e 1908, a última mobilizou um forte contingente europeu e moçambicano, como jamais acontecera. Havia que juntar peças, encontrar nexos entre os Soncó e este humilde escriba que um dia, por vontade de Malan Soncó, passou a pertencer à família, com as obrigações inerentes, como vai acontecendo, sobretudo com a saudade sem fim com aqueles que lhe deram tanta fidelidade e bravura e já pousaram nas estrelas.

Um abraço do
Mário


À procura de Sambel Nhantá

Beja Santos

Quando comecei a estudar a Guiné e a procurar localizar todas as povoações do regulado do Cuor, subsistiam duas interrogações sem resposta: aquele colosso de pedra que existia (e espero que exista) em Aldeia do Cuor, era fortaleza, quartel ou sede de uma grande empresa? Porque é que em Sansão, abaixo de Missirá havia túmulos de régulos, não teria feito mais sentido eles terem sido todos exumados na sede do regulado? A questão da Aldeia do Cuor só ficou resolvida ao tempo em que fiz o levantamento documental do BNU da Guiné. Era dado assente que aqui tinham funcionado duas empresas de grande porte, que acabaram na água. Ao tempo da Sociedade Agrícola do Gambiel é claramente referida a construção daquela imensidão de pedra, ali trabalhou Armando Cortesão, que se iria destacar na cultura portuguesa como um dos mais eminentes cartógrafos. Encontrava por toda a parte, nos mapas e livros a referência a Sambel Nhantá, procurava nos mapas modernos e nada.

Em 1991, durante os meses em que fui cooperante na Guiné-Bissau, fiz amizade com o filho mais novo do régulo Malan Soncó, Abuduramane Serifo Soncó, na época mestre de escola. Deu para conversarmos longamente sobre empreendimentos que houvera no Cuor, e aquela dúvida que me acicatava, a falta de elementos sobre o bisavô de Abdu, Infali Soncó.
Numa carta que me enviou de Bissau com data de 24 de janeiro de 1992, revela ter conversado longamente com o seu velho tio Aladjé Soaré Soncó, que tinha uma versão bem segura sobre Infali, passo a transcrever a sua carta:
“Infali Soncó era filho de Bacar Soncó e de Mussó Quebá Mané, natural de Berrecolom, Gabú, era comerciante. Conquistou a zona de Cumpone na região de Boké, Guiné Conakri, para onde fora designado régulo. Estava constantemente a ser ameaçado pelos Fulas, caso de Alfa Iaia.
Anos depois, foi solicitado pelo seu tio Calonandim Mané, régulo de Cossé, Bafatá, amigo dos portugueses. O objectivo era invadir o Cuor, o régulo da região impedia a passagem de barcos portugueses. Esse régulo Fula chamava-se Sambel Nhantá, vivia em Sansão. Infali Soncó e o seu tio acompanhados dos guerreiros cercaram a tabanca do régulo Sambel Nhantá durante uma semana, ninguém entrava nem saía. A população teve medo de morrer de sede e fome e o régulo Sambel Nhantá fugiu, não deixou paradeiro. Os portugueses agradeceram, o comércio no Geba voltava a funcionar.

Bolama deu posse a Calonandim Mané como régulo do Cuor, mas ele morreu numa batalha no Enxalé, a lutar contra os Balantas. Na circunstância, foi eleito Infali Soncó como régulo do Cuor.
Revoltou-se contra os portugueses. Tudo terá começado quando um alferes português, de nome Fortes, o foi visitar a Sansão. Enquanto se aproximava, Infali e os seus “djidius” (músicos) deram boas-vindas ao visitante, surpreendido e confuso, o alferes terá dado uma bofetada a um dos músicos, dizendo que estava a fazer muito barulho, o que agastou Infali, teve ganas de matar toda a comitiva portuguesa. Os homens grandes pediram-lhe que não o fizesse, o ambiente estava tenso, esses homens grandes conseguiram que a comitiva portuguesa retirasse. Tinha-se instalado a ideia de rebelião e Infali cortou a navegação entre Bissau e Bafatá. Atacaram um barco português na região de Gã Gémeos, prenderam o alferes, mas um amigo de Infali, o comerciante cabo-verdiano Pedro Moreira, que tinha uma destilaria em Gã Gémeos, pediu-lhe que não matasse o alferes, pedido aceite, o alferes foi entregue às autoridades portuguesas em Bolama. Apercebendo-se da hostilidade das autoridades, Infali foi transferido para Fulacunda, aqui morreu, e depois a sua família e os seus guerreiros voltaram para Sansão. O novo régulo foi o seu filho Bacari Soncó, foi este que transferiu a sede do regulado de Sansão para Missirá.”

É este o teor da carta com as informações de Infali prestadas pelo seu filho sobrevivente, Aladjé Soaré Soncó. Haverá aqui algumas questões a resolver. Em abril de 1908, terá lugar a campanha do Cuor, Canturé e Sansão serão incendiadas, como mais tarde Madina, Infali fugiu, andou a monte. Em Caranquecunda foi instalada uma guarnição de tropa europeia e de macuas, por ali esteve algum tempo. Há relatos da recuperação de Infali, pediu perdão aos portugueses. Daí esta neblina de Fulacunda, há que descobrir elementos que fundamentem que ele ali tenha sido régulo, como tivesse havido perdão. Juntam-se algumas imagens sobre todas estas figuras aqui faladas: este que se assina aparece de braço dado com o régulo Malan Soncó, o seu irmão Quebá e o chefe de tabanca Mussá Mané, que todos os dias lhe pedia colunas a Bambadinca para trazer arroz ou levar membros da família, são questões que aparecem em livros do signatário. No mapa do Cuor destacam-se a Aldeia do Cuor e Sansão, este que se assina por ali andarilhava quase diariamente, a caminho ou no regresso de Mato de Cão, era piso seguro, evitavam-se emboscadas e minas antipessoal, a despeito da poeirada que se infiltrava em todos os poros do corpo. Felizmente que a fotografia dos meninos do Cuor foi enviada para Lisboa antes de todo o espólio fotográfico do signatário ter desaparecido na flagelação de 19 de março de 1969. Tumulu, o primeiro à esquerda, impressionava por andar sempre de Mauser, teve há anos um AVC, recuperou parcialmente, é o último irmão que resta a Abdu, vive em Lisboa, e que o signatário trata por irmão, tem a saúde combalida depois de dois enfartes de miocárdio, aqui pode tratar-se e vive com alguma dignidade.
E fica contada a história, foi com imensa alegria que se reencontrou uma carta escrita acerca de 26 anos, num dossiê onde apareceu a fotografia de José Jamanca e uma carta enviada por Ussumane Baldé, o 104, o soldado prussiano de alfero, questões de que se falará mais tarde, sempre com uma inabalável saudade.

Missirá, 1968 - Retrato de meninos Soncó e Mané. Abuduramane é o segundo menino a contar da direita, está ao pé de Nhalim Cassamá, mulher de Quebá Sonco, irmão do régulo.

Uma das pouquíssimas imagens de Infali Soncó, está sentado no centro, com uma arma na mão. Em breve, vai começar a guerra no Cuor, de que sairá derrotado, estamos em 1908. 
Fotografia retirada do álbum O Primeiro Fotógrafo de Guerra Português: José Henriques de Mello, por Alexandre Ramires e Mário Matos e Lemos, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2008, com a devida vénia.

Malan Soncó, à esquerda, neto de Infali e filho de Bacari Soncó, na minha companhia e de familiares.


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Nota do editor

Último poste da série de 8 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19956: Historiografia da presença portuguesa em África (164): Alfa Moló Baldé e o mito fundador do reino de Fuladu, em 1867 (Cherno Baldé) - Parte I

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10512: As Nossas Tropas - Quem foi Quem (11): Tenente de 2ª linha Mamadu Bonco Sanhá, régulo de Badora, comandante da companhia de milícia do Cuor (Cherno Sanhá)



Guiné > Zona leste > Sem data nem local > Mamadu Bonco Sanhá. Segundo informação do filho Cherno Sanhá, esta foto deve ser de finais de 1960 ou de 1970, quando o tenenente Mamadu foi condecorado com a cruz de guerra. Deveria ter uns 40 e poucos anos.

Foto: © Cherno Sanhá (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados,


1.  No passado dia 5 de setembro, recebi a seguinte mensagem do nosso leitor, Cherno Sanhá, que presumo viva (ou tenha vivido em Espannha), a avaliar pelo endereço de correio eletrónico: cherno2009@yahoo.es

 Bom dia!

É com grande satisfação que pude hoje ler o vosso blog,é muito importante e enriquecedor.
Sou filho do Mamadu Bonco Sanhá,vou tentar contribuir com mais informações sobre o meu pai e enviar algumas fotografias dele.

Um grande abraço.

Cherno Sanhá


2. Comentário de L.G.:

Na altura eu não associei o nome, Mamadu Bonco Sanhá, ao todo poderoso cabo de guerra e régulo de Badora, homem grande de Bambadinca,  fula, que eu conhecera no meu tempo (1969/71). Hoje, 10 de outubro, recebo um outro mail com uma das prometidas fotografias do pai do Cherno Sanhá (Pelo indicatiivo  do telemóvel, 00 245, vejo que ele afinal vive na Guiné-Bissau):

Caros Luis Graça,

Junto envio uma foto do meu pai Mamadú Bonco Sanhá.
Cumprimentos
Cherno Sanhá
Telemóvel: (+245) 727 6999



3. Comentário de L.G.:

Meu caro Cherno:  De repente, ao olhar esta foto amarelecida pelo tempo, fez-se-me luz no "meu computador central", reconheci de imediato aquela cara: era ele, o tenente de 2ª linha Mamadu, ou simplesmente o tenente Mamadu, como os 'tugas' o tratavam, com deferência e respeito,   comandante da companhia de mílícia do Cuor...

Era ele, fardado, com os respetivos galões, e os óculos escuros que sempre lhe conheci. A farda, branca, devia ser a da administração colonial, a das cerimónias oficiais, a de régulo. Régulo de Badora.

Vestido de farda, branca, como na foto, não me lembro de o ter visto.  Rebobinando os filmes das minhas memórias de Bambadinca, estou a vê-lo, sim, ora de camuflado, ora com as vestes tradicionais dos homens grandes, a chabadora, e quase sempre, se não sempre, montado na sua motorizada de 50 cm3, de marca japonesa (talvez uma Kawasaki), oferta pessoal - segundo se dizia -  do Governador Geral da Província e e Com-Chefe, António Spínola (, facto que nunca pude confirmar).

Habituei-me a vê-lo,com alguma frequência, na parada do quartel de Bambadinca, junto ao comando do batalhão ali estacionado no meu tempo (primeiro, o BCAÇ 2852, e depois o BART 2917), ou seja, no período que medeia entre agosto de 1969 e março de 1971.

Nunca fiz, que me lembre, nenhuma operação com ele. De resto, não era habitual os pelotões de milícias participarem nas nossas operações, apenas os Pel Caç Nat (52, 54, 63)...

Também era voz corrente que tinha uma cruz de guerra, por feitos valorosos em combate, não sei onde nem quando. O que também nunca soube era onde vivia, se em Bambadinca ou nalguma tabanca dos arredores.

Dele também se dizia - seguramente com os exageros próprios das 'bocas'  da caserna  - que o todo poderoso e temido régulo de Badora tinha 50 mulheres, uma em cada aldeia do seu regulado, e que só em cabeças de gado deveria ter umas centenas. Mulheres e cabeças de gado  faziam parte do 'status' de um homem grande.

Dizia-se também que tinha alguns filhos na CCAÇ 12, como seria o caso do nosso infortunado  e saudoso Umaru Baldé, o 'puto' [,foto acima, à esquerda; crédito fotográfico: Benjamim Durães]...

Nunca lhe perguntei, ao Umaru,  nem nunca lhe perguntaria...Lidei, privei com os fulas, fiquei nas suas tabancas, mas também respeitei a sua privacidade, a sua cultura, o seu modo de ser e de estar... Com os balantas, infelizmente, não consegui criar qualquer empatia... A barreira da língua e da farda, além da pertença a uma companhia fula (, a CCAÇ 12,), eram obstáculos intransponíveis...

Havia tensão entre os fulas e os balantas de Badora... Julgo que desgraçadamente "ajustaram contas" entre eles depois da nossa saída... Os malditos demónios étnicos ficaram na "caixinha de Pandora" que entregámos ao PAIGC... (E os guerrilheiros tinham uma caixinha destas, com outros ingredientes)...

Eu, que sempre lidei com fulas, e fiz amigos entre eles, também tive que gerir sentimentos contraditórios, em relação a este povo e aos seus filhos... Sempre fiz uma distinção entre os seus "chefes" tradicionais, de um modo geral aliados das NT, e os seus pobres "súbditos", a grande maioria dos quais eram também  meus/nossos soldados.

Desgraçadamente o aliado dos 'tugas', o nosso Tenente Mamadu,  foi fuzilado em Bambadinca depois da independência, já em 1975: o seu "crime" terá sido apenas o de ter apostado no "cavalo errado" do jogo de xadrez geopolítico que se travava na Guiné... Não sei em que circunstâncias foi julgado, condenado e executado. Talvez o Cherno Sanhá nos possa (e queira) esclarecer melhor este último e trágico episódio da vida do seu pai e nosso camarada de armas.

Quanto às autoridades militares de Bambadinca do meu tempo,  faziam dele quase um mito... Veja-se por exemplo o que se pode ler na história do BART 2917 (1970-72):

(...) "No Sector L1 podemos considerar duas raças (sic) distintas: para Leste da estrada Bambadinca-Xitole onde predomina a raça Fula, e para Oeste da mesma estrada onde predominam as raças Balanta e Beafada.

"A população Fula de um modo geral é nos favorável, sendo de destacar o regulado de Badora, que tem como Chefe / Régulo um homem de valor e considerado pela população como um Deus. Esse homem é o Tenente Mamadu, já conhecido do meio militar pelos seus feitos valorosos e dignos de exemplo. Da outra população, fortes dúvidas se tem, especialmente as dos Nhabijões, Xime e Mero" (...).

Enumera-se depois o seu currículo, apresentado em termos grandiloquentes e laudatórios:

(i) Régulo do Badora; 

(ii) Vogal do conselho logístico da Província; [, ao lado, por exemplo, de outro grande aliado dos portugueses, o régulo manjaco Joaquim Baticã Ferreira]

(iii) Comandante da Companhia de Milícias do Cuor; 

(iv) "Intitulando-se Fula, é considerado pelos Mandingas e Beafadas como Beafada, em virtude da ascendência materna"; [, segundo Beja Santos, devia ser parente dos Soncó do Cuor, "os mais ardorosos guerreiros da Guiné";  em carta ao comandante Avelino Teixeira da Mota, ele escreveu o seguinte: (...) "Quando tiver tempo e paciência, gostava muito que me indicasse literatura sobre este dinamismo da islamização, que foi animada pela presença europeia, pela submissão dos infiéis beafadas e dos fula-pretos animistas. Também no estudo do Carreira descobri que Boncó Sanhá (seguramente familiar do actual tenente Mamadu Sanhá, régulo de Badora) era sobrinho de Infali Soncó. (...)]



(v) "Pelos seus actos de valentia é condecorado com a Cruz de Guerra"; 

(vi) "Régulo justo e especialmente preocupado com a segurança das suas populações"; 

(vii) O seu prestígio parece ir muito "para além dos limites do regulado de Badora"; 

(viii) "É um excelente colaborador das NT, parece representar o movimento dos Fulas Nativos" (...).

Fica aqui o nosso gesto de apreço pela memória de um homem  que foi um importante aliado das NT, na zona leste, e que pagou com a vida essa aliança.  Um abraço para o Cherno Sanhá que ao fim destes anos todos nos vem surpreender com uma foto do seu pai, seguramente rara e indiscutivelmente valiosa para todos aqueles de nós que, em Bambadinca, conheceram o "tenente Mamadu".  LG

4. Nota posterior de L.G.:

Em conversa com o Cherno Baldé (que teve a gentileza de me telefonou de Bissau e aceitou o meu convite para integrar o nosso blogue), soube mais o seguinte acerca de Mamadu Bonco Sanhá: (i) a residência oficial do tenente Mamadu era em Madina Bonco; (ii) muitos dos papéis dele perderam-se, ficaram nas  mãos das mulheres, mas a foto deve ser de 1970 ou por aí; (iii) o Cherno deve ter uns 20 irmãos; (iv) o tenente Mamadu nunca teve "50 mulheres", embora tivesse bastantes como régulo que era, mas algumas delas eram dos irmãos que faleceram antes dele; (v) o Umarau Baldé não era filho do Mamadu Bonco Sanhá: (vi) o Cherno Sanhá, que tem 56 anos, fez a 4ª classe em Bambadinca, foi aluno da profª Dona Violeta, residia em Bambadinca nessa altura, mas tinha nascido em Madina Bonco; (vii) fez o liceu em Bissau;  (viii) formou-se em Cuba, em 1983, em engenharia de telecomunicações; (x) trabalhou na rádio nacional durante uns 3 anos; (xi) andou por Espanha na sequência da guerra civil em 1998/99; (xii) vive hoje em Bissau, e trabalha numa empresa de telecomunicações: (xii) conhece alguns dos nossos grã-tabanqueiros de Bissau: o Pepito, o Patrício Ribeiro, o Cherno Baldé... Aguardo que ele me mande uma foto sua, atual. Aprecio a coragem dele por dar a cara e vir aqui recuperar a memória e a honra do seu pai.
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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3150: In Memoriam (7): Bacari Soncó, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52, Régulo do Cuor (Beja Santos)

Guiné-Bissau > Janeiro de 2008 > Fotografia de estúdio de Bacari Soncó, antigo comandante de milícias de Finete, na altura em que o Beja Santos era o comandante do Pel Caç Nat 52, e estava em Missirá (Agosto de 1968/Outubro de 1969), e actual régulo do Cuor.

Foto: ©
Beja Santos (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos, (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1), de hoje:

Bacari , Meu Querido Irmão,
Acabo de saber que te perdemos para sempre, em 23 de Agosto.

Com o teu desaparecimento, perco o último Soncó guerreiro da minha geração.

Recordo-te intrépido, resoluto, sempre pronto para seguires a meu lado nas operações e patrulhamentos de mais elevado risco.
Recordo o que aprendi contigo acerca do nome de árvores, culturas, a história do nosso Cuor tão amado.
Recordo a reconstrução de Missirá, as nossas viagens diárias a Mato de Cão, o desvelo que tiveste quando uma mina anti-carro me ia destruindo, em Outubro de 1969.
Recordo o nosso último abraço, em Dezembro de 1991, a partir daí só escrevemos um ao outro, fugíamos do telefone, até porque um régulo não pode chorar ou emocionar-se ao telefone, a autoridade não se compadece com lágrimas.

Acontece que te enviei pelo teu sobrinho uma semana antes do teu desaparecimento a derradeira carta que terminava com a saudação de sempre:

- Recebe um abraço e beijos do teu mano, Mário.

Seguiu igualmente o livro que escrevi sobre a nossa vida no Cuor, onde tive a dita de combater a teu lado. Agora, só posso esperar que tenhas o eterno descanso ao lado dos Soncó, os mais ardorosos guerreiros da Guiné.

Recebe sem mais explicações a minha saudade e gratidão pelo que fizeste por eu ser quem sou,

Teu mano,
Mário
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Nota de CV

(1) - Vd. Poste de 19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2778: Álbum das Glórias (45): Bacari Soncó, ex-comandante do Pel Mil Finete e actual régulo do Cuor, Janeiro de 2008 (Beja Santos)

sábado, 19 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2778: Álbum das Glórias (45): Bacari Soncó, ex-comandante do Pel Mil Finete e actual régulo do Cuor, Janeiro de 2008 (Beja Santos)

Guiné-Bissau > Janeiro de 2008 > Fotografia de estúdio de Bacari Soncó, antigo comandante de milícias de Finete, na altura em que o Beja Santos era o comandante do Pel Caç Nat 52, e estava em Missirá (Agosto de 1968/Outubro de 1969), e actual régulo do Cuor.

Foto: © Beja Santos (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem enviada pelo nosso amigo e camarada Beja Santos, em 7 de Fevereiro último. Recorde-se que

No dia de Natal de 2007, fui a casa do tenente-coronel Henrique Jales Moreira, o último oficial de operações em Bambadinca, [ BART 3873,] e entreguei-lhe uma carta para Bacari Soncó, um dos meus mais queridos amigos, antigo comandante de milícias de Finete e actual régulo do Cuor.

A resposta acaba de me chegar pelas mãos de Cherno Suane. Ficamos a saber que Bacari Soncó também nunca me esquece, que sente a responsabilidade de zelar pelas gentes do Cuor e sofre com os estilhaços de uma bala que lhe dificulta o andar.

Vou já escrever-lhe para lhe dizer que no dia 6 de Março [de 2008] só pensarei nele no lançamento de um livro onde os Soncó são exaltados como gente hospitaleira e de uma bravura inexcedível (1).
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Nota de L.G.:

(1) 1) Vd. postes de

8 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2617: Lançamento do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos (Virgínio Briote)

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2647: Imagens da apresentação do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos (Virgínio Briote)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2511: Álbum das Glórias (39): Bacari Soncó, o actual régulo do Cuor (Beja Santos)

Guiné-Bissau > Região de Baftá > Cuor > Missirá > Bacari Soncó, o actual régulo do Cuor, fotografado em Janeiro de 2008.




Foto: © Beja Santos (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem de 7 do corrente: Beja Santos (ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70; autor do livro Diário da Guiné: 1968-1969: Na Terra dos Soncó, Lisboa: Círculo de Leitores /Temas e Debates, 2008)



No dia de Natal de 2007, fui a casa do tenente-coronel Henrique Jales Moreira, o último oficial de operações em Bambadinca, e entreguei-lhe uma carta para Bacari Soncó, um dos meus mais queridos amigos, antigo comandante de milícias de Finete e actual régulo do Cuor. A resposta acaba de me chegar pelas mãos de Cherno Suane.

Ficamos a saber que Bacari Soncó também nunca me esquece, que sente a responsabilidade de zelar pelas gentes do Cuor e sofre com os estilhaços de uma bala que lhe dificulta o andar. Vou já escrever-lhe para lhe dizer que no dia 6 de Março só pensarei nele no lançamento de um livro onde os Soncó são exaltados como gente hospitaleira e de uma bravura inexcedível.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1995: Álbum das Glórias (21): Cuor: Os Soncó e os Mané (Beja Santos)


Guiné > Zona Leste > Cuor > Missirá > 1968 > Retrato dos Soncó e dos Mané, várias gerações...

Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70):

O Abudu(Abudurame Serifo Soncó, o filho mais novo do régulo Malã Soncó) trouxe os seus comentários a esta fotografia que eu tirei ainda em 1968 (1):

(i) À esquerda, Tumulu, quase adolescente, hoje comerciante em Bandim, tem 50 anos e é a cara do pai.

(ii) O Tumulu é filho da Mai Sai que aparece ao centro, sentada.

(iii) A seguir, a menina mais crescida é Sadjon (uma homenagem a S. João, em frente a Bolama), uma Mané que casou com o falecido Ansumane Mané, irmão de Tumulu. Os problemas de consanguinidade nunca se põem, as leis proíbem categoricamente casamentose entre membros das mesmas famílias.

(iv) Há um menino ao pé do Tumulu, a seguir, que o Abudu não recorda.

(v) O menino por detrás de Mai Sai é Samba Mané, filho de Braima Mané, tenho por aí uma fotografia ao seu lado e do Malã. Mai Sai cresceu na tabanca de Cancumba, que desapareceu com a guerra(a tabanca voltou à vida).

(vii) Manqui Mané é o menino seguinte, filho de um dos padres de Missirá.

(viii) A seguir está Abudu, com o sorriso que mantém.

(ix) Depois, Nhalim Cassamá, mulher de Quebá Soncó, filho mais velho do régulo (nesta época, estava hospitalizado no HMP, levou um tiro numa rótula em Madina, era o picador).

(x) Temos, por último, Nhima Mané, aoptada pela mãe de Abudu, Mama Mané, na altura a viver em Finete.

Não sei descrever a alegria no olhar do Abudu, enquanto falava e via a gente de Missirá, da sua infância. Muitos já partiram deste mundo.

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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1960: Em busca de... (3): Os Soncó, a aristocracia mandinga do Cuor (Beja Santos)

terça-feira, 17 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1960: Em busca de... (3): Os Soncó, a aristocracia mandinga do Cuor (Beja Santos)

Guiné > Zona Leste > Cuor > Missirá > 1968 > Retrato dos Soncó, várias gerações...

Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70):

Caro Luis, Precisei de mexer num album de fotografias da minha Mãe (1), saiu esta surpresa: uma recordação dos Soncó. Escrevi à minha Mãe:

Alguns filhotes e a grande mãe Soncó, na tabanca de Missirá. Meninos que usam armas, meninos que fogem espavoridos debaixo de fogo,meninos que gostam de futebol, correrias. Meninos de inocência.Que homens serão no futuro?

O maior deve ser Tumulu, um dos dois filhos vivos do régulo Malã Soncó. Penso que o Abudu está ao pé da sua Mãe. Abudu, meu querido Irmão, és capaz de falar e apresentar os membros da família? Para quem não sabe, o Abudu é o filho mais novo do régulo, trabalha em Portugal.

2. Mensagem, entretanto enviada, há dias, ao Engº Suncar Dabó:

Prezado Engº Suncar Dabó, através do meu amigo e irmão Abudu Soncó, venho-lhe pedir alguma ajuda para compreender e escrever sobre o que era o regulado do Cuor, antes da luta armada (1963).

Fui alferes em Missirá, sede do regulado, entre 1968 e 1969 e estou presentemente a escrever um romance num blogue intitulado Operação Macaréu à Vista (2). Se escrever em Google.pt "Luís Graça e camaradas da Guiné" pode consultar o blogue e ler tudo quanto escrevi, bem como as fotografias que temos vindo a publicar.

Penso que seria uma bonita homenagem às gentes do Cuor falarmos sobre as povoações existentes e as respectivas populações. Não sei quem vivia em São Belchior, Saliquinhé, Mato de Cão, Chicri, Gambana, Canturé, Sansão, Sancorlá, Paté Gidé, Salá, Quebã Jilá, Madina, Banir, Sinchã Corubal.

De onde vieram os Soncó? Lembra-se das histórias de Infali Soncó (3) ? Quais eram as grandes famílias do Cuor? De que viviam os Mandingas? Como vê, só lhe venho dar trabalho, mas penso que a causa é muito justa.

Bissimilai!

Receba os melhores cumprimentos
do Mário Beja Santos

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Notas de L.G.:

(1) Vd. 15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1952: Álbum das Glórias (18): A minha morada em Bambadinca (Beja Santos)

(2) Vd. últimos cinco posts desta série:

6 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1927: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (54): Ponta Varela e Mato Cão: Terror no Geba

29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1898: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (53): O ataque a Missirá de 15 de Julho de 1969, visto pelo bravo mas modesto Queta Baldé

13 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1948: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (52): Em Bissau, no julgamento do Ieró Djaló

22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1870: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (51): Cartas de um militar de além-mar em África para aquém em Portugal (5)

15 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1851: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (50): Do tiroteiro em Bambadinca na noite de 14 de Junho de 1969 à emboscada da bruxa

(3) Vd. posts de:

3 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1021: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (4): A minha paixão pelo Cuor

18 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P882: Infali Soncó e a lenda do Alferes Hermínio (Beja Santos)