Mostrar mensagens com a etiqueta Esposende. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Esposende. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23760: Recortes de imprensa (124): Homenagem a Fernando Cepa e inauguração de obras de requalificação do Pavilhão Gimnodesportivo de Mar, com a devida vénia aos jornais; Farol de Esposende e Correio do Minho

1. O nosso camarada Fernando Cepa, (ex-Fur Mil Art da CART 1689/BART 1913, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69) cidadão do Concelho de Esposende, foi e é uma pessoa activa, ligado aos assuntos que interessam aos Antigos Combatentes e à Cultura e Desporto na sua freguesia de Mar.

A sua dedicação à causa pública foi devidamente reconhecida numa homenagem que lhe foi prestada no passado dia 15 de Outubro, quando foi dado o seu nome ao Pavilhão Gimnodesportivo de Mar que foi recentemente alvo de obras de requalificação. Ao acto esteve presente o senhor Presidente da Câmara de Esposende, Benjamim Pereira.

Seguem-se, com a devida vénia, recortes dos jornais Farol de Esposende e Correio do Minho que dedicaram algumas colunas ao acontecimento.


____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23339: Recortes de imprensa (123): Bubaque: alterações climáticas e educação ambiental (Excertos de reportagem de Carla Tomás, Expresso, 18 de abril de 2019, com a devida vénia...)

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23636: Efemérides (373): O Núcleo dos ex-Combatentes de Mar, do concelho de Esposende, enriqueceu o seu Memorial com a inauguração e bênção das placas com os nomes, local e período de participação de todos os Combatentes (Fernando Cepa, ex-Fur Mil Art)

Memorial aos ex-Combatentes, sito no Largo 25 de Abril, em Mar, Esposende


Mensagem do nosso camarada Fernando Cepa, (ex-Fur Mil Art da CART 1689/BART 1913, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69) com data de 20 de Setembro de 2022:

Caro Carlos Vinhal
Boa Noite.
Junto remeto uma notícia sobre os Ex-Combatentes de S. Bartolomeu do Mar – Esposende, para publicares, se entenderes oportuno.

Um abraço do
Fernando Cepa
Ex-Furriel Miliciano
Cart 1689/Bart 1913



EX-COMBATENTES DO ULTRAMAR ENRIQUECEM MEMORIAL

O Núcleo dos ex-Combatentes de Mar, do concelho de Esposende, enriqueceu o Memorial aos ex-Combatentes, sito no Largo 25 de Abril, com a inauguração e bênção das placas com os nomes, local e período de participação de todos os ex-Combatentes, ato que decorreu no dia 11 de setembro e foi presidido pelo presidente da Câmara Municipal de Esposende Benjamim Pereira.

Presentes na cerimónia, o executivo da Junta de Freguesia da União de Freguesias de Belinho e Mar e a presidente da Assembleia de Freguesia da mesma União, Adelaide Carmo, para além de cerca de setenta convivas.

A colocação das duas placas com os nomes gravados de todos os ex-Combatentes do Núcleo de Mar encerra o processo do Memorial aos ex-Combatentes, sito no Largo 25 de Abril, em Mar, Esposende, o que deixou os responsáveis “muito satisfeitos”. Num trabalho “aturado e complexo, mas exaustivo” para além dos nomes dos Combatentes, ficou registado o posto de cada elemento, além do local onde prestou serviço no Ultramar, assim como o período temporal em que o mesmo ocorreu. De referir que há ex-Combatentes que serviram a Pátria em mais do que um local ou província. Jorge Costa e Jorge Sampaio, para além do Fernando Cepa, foram os homens timoneiros deste árduo trabalho, o que lhes valeu uma forte salva de palmas, “pelo seu trabalho incansável”.

Ilídio Saleiro, elemento mais graduado do Núcleo, referiu-se a esta “grande cerimónia de reconhecimento público e de justa homenagem aos ex-Combatentes, de enorme significado e simbolismo”. Por outro lado, manifestou “um profundo agradecimento ao Fernando e a todos os que com ele trabalharam, em particular, o Jorge Costa e o Jorge Sampaio, para chegarmos até aqui, com uma série de iniciativas e convívios realizados, muito em especial, a concretização e a construção dos símbolos, que ficarão para a história. Que farão a nossa história!”

Por fim, dirigiu uma “especial saudação e agradecimento aos familiares e amigos dos ex-Combatentes que, ao longo de mais de uma década, nos têm acompanhado e participado nos nossos eventos, com o espírito de solidariedade, que está na sua génese, e bem caracteriza a nossa comunidade”.

O pároco Manuel Viana benzeu as placas e presidiu à celebração da eucaristia em sufrágio dos elementos já falecidos.

Na homilia, o Pároco deu os parabéns ao Núcleo “pelo trabalho que tem desenvolvido ao longo destes anos para fazer a memória deste acontecimento.” Os nomes de todos os elementos nas placas é um trabalho “muito importante e muito significativo, pois é um gesto de memória”, referiu o sacerdote. E baseando-se na liturgia da Palavra em que apelava à Misericórdia, salientou que “os ex-Combatentes precisam de ser misericordiosos porque perdoar é um ato de nobreza”. E continuou: “hoje, é o dia de fazer memória, pois o povo que não tem memória é um povo que não vai longe”.

Numa brevíssima intervenção, Fernando Cepa fez três pedidos ao Presidente da Câmara: Ajuda para custear as despesas com o Memorial, já que “os ex-Combatentes têm pago todas as despesas”; a cedência da Bandeira Nacional para acompanhar o ex-Combatente no caso de falecer[1] e, por fim, construir um monumento concelhio aos ex-Combatentes.

Manuel Abreu, presidente da Junta da União de Freguesias de Belinho e Mar saudou os que “lutaram com a bravura conhecida”, pois “todos foram patriotas e heróis da nação. A vossa juventude não foi fácil pois viveram uma guerra no terreno que tinham de vencer, longe de todos os queridos”. E recordou que a Junta isenta de emolumentos os ex-Combatentes, desde que apresentem o respetivo cartão.

Benjamim Pereira, presidente da Câmara Municipal de Esposende, na sua intervenção começou por referir a necessidade de “honrar os que deram a sua juventude, a sua vida e o seu tempo pela pátria. Devemos honrar essas pessoas até para servir de ensinamento aos jovens”. E deixou uma “homenagem” dedicada a todos os que “trabalharam para que isto acontecesse”.

Quanto aos pedidos de Fernando Cepa, Benjamim garantiu custear as despesas, ceder a Bandeira Nacional e quanto ao monumento anunciou que “vou fazê-lo. Queremos encontrar um espaço condigno no largo por trás do Tribunal e já temos a pessoa que vai desenvolver a peça”. E sem parar, atirou: “estamos aqui para resolver os problemas das pessoas”. E rematou: “tenho uma dívida muito grande para com os que defenderam a Pátria. Não podem ser esquecidos”.

Por outro lado, Benjamim Pereira garantiu que a Câmara vai dar seguimento ao processo de desagregação das freguesias até porque “sempre estivemos contra o processo de agregação. Queremos as quinze freguesias”. E anunciou que irá ser realizada uma reunião da Assembleia Municipal só para tratar deste assunto.

A animação esteve a cargo do ex-Combatente Raul Machado.

Manuel Azevedo

Foto de família
____________

Notas do editor:

[1] - O direito à cedência da Bandeira Nacional, que deve acompanhar as cerimónias fúnebre dos Antigos Combatentes, está consignada na Lei n.º 46/2020 de 20 de agosto. A Bandeira deverá ser entregue, se solicitada, aos familiares do Combatente falecido.

"ESTATUTO DO ANTIGO COMBATENTE
Artigo 19.º
Honras fúnebres
1 - Os antigos combatentes, aquando do seu falecimento, gozam do direito a ser velados com a bandeira nacional, mediante pedido expresso pelo próprio ou a pedido da viúva ou viúvo, de ascendentes ou descendentes diretos.
2 - Cabe ao Estado português a disponibilização gratuita da bandeira nacional à família".

Último poste da série de 12 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23611: Efemérides (372): No dia 21 de Abril 2021 fez 58 anos que os 1.º e 2.º Pelotões da CCAÇ 414 estiveram em sérios apuros na Ilha do Como (Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enf)

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23171: Notas de leitura (1437): "Os Forjanenses e a Guerra Colonial", organização de Luís G. Coutinho de Almeida e Carlos M. Gomes de Sá; edição da Junta de Freguesia de Forjães, 2018 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Julho de 2019:

Queridos amigos,
A saga destes forjanenses merece a nossa atenção. Não é a primeira vez que uma Junta de Freguesia estende a mão aos antigos combatentes. No caso vertente, o Coronel Coutinho de Almeida contou com um credenciado publicista, Carlos Gomes de Sá, e lançaram-se nesta empreitada na recolha dos testemunhos, o resultado é um sucesso, vem sempre ao de cima o sentido da identidade local, onde quer que o militar chegue pergunta se há gente de Esposende ou Viana, por exemplo. São testemunhos comedidos, nada de jactâncias, vaidadezinhas ou azedumes que ficaram para o resto da vida. Todos deploram ao que a Guiné chegou e à inutilidade daquela guerra. E é profundamente comovente ver estes velhos combatentes nalguns casos abraçados às mulheres e até às suas mães. Uma edição exemplar que todas as autarquias deviam conhecer.

Um abraço do
Mário



Memórias insuperáveis, a historiografia as saiba escutar (2)

Beja Santos

É um belíssimo, inolvidável, trabalho de recolha junto de antigos combatentes ligados à freguesia de Forjães (concelho de Esposende), a organização pertence a Luís G. Coutinho de Almeida e Carlos M. Gomes de Sá, a edição é da Junta de Freguesia de Forjães, 2018. Não conheço nada de tão tocante, tal é o vigor do testemunho entre os vínculos locais e, em inúmeros casos, uma saudade guineense que não secou. Como é evidente, os testemunhos recolhidos são amplos, estes forjanenses e suas famílias falam da Índia, da guerra de África mas também de São Tomé e Príncipe, Timor e outras paragens. O que aqui se regista, obviamente, circunscreve-se à Guiné, mas desde já se adverte o leitor que se sentirá gratificado com a leitura de todos estes testemunhos, esta memória é aparentemente regional, não haja ilusões, mas estamos lá todos nós.

Temos agora o soldado Carlos Alberto Maciel Martins Gomes, fez a sua comissão na Guiné entre 1968 e 1970. Os vínculos locais afloram imediatamente, acaba de chegar a Bissau e logo se estabelece uma identificação com a terra de onde vem, aparece um soldado que lhe diz: “Ó Meira, também estás por aqui? Era o Sr. Manuel Neiva, o homem da Marta da Porcena. Era marinheiro. Nós seguíamos para cima, para Bambadinca. Também vi o Armindo da Gena”. Seguiram para Contuboel e Sare Bacar, confessa que os meses iniciais foram muito difíceis, refere o desastre da jangada no Cheche, no início de fevereiro de 1969. É comedido nas suas considerações, de como viveu e se adaptou. Adorava jogar futebol, apelidavam-no por “Pedro Gomes”, o defesa lateral direito do Sporting. Ajudava na horta. Regressou e procurou arranjar trabalho em França. Inserção difícil, teve pesadelos, sonhava que ainda estava na guerra.

Carlos Alberto Brochado de Almeida foi furriel miliciano entre 1967 e 1969, ficou adstrito à CART 1661, cujo primeiro-comandante foi o arquiteto Luís Vassalo Rosa. Desembarcou e foi colocado em Porto Gole, onde se encontrava o Pelotão de Caçadores Nativos N.º 54, a que pertencia. “Embora integrado numa Companhia de Artilharia, o meu grupo era um Pelotão de Soldados Nativos comandados por um Alferes teoricamente auxiliado por três Furriéis. O Pelotão de Soldados Nativos era um grupo heterogéneo formado por Balantas, Fulas, Futa-Fulas, Mandingas e Papéis. Cristãos eram alguns dos Papéis oriundos da ilha de Bissau. Apesar da sua heterogeneidade, o pelotão era um grupo coeso onde não havia fronteiras de relacionamento entre brancos e nativos. O segredo desta boa relação alicerçou-se, basicamente, no nosso respeito pela cultura de cada etnia e no tratamento de igualdade que havia entre todos os membros”. Não esquece uma flagelação ao quartel numa noite de abril de 1968, 45 minutos de fogo infernal. Ao fim de 18 meses, o furriel Almeida foi transferido para o Quartel-General, trabalho de secretaria. “Foi ali, durante seis meses, que vi a outra face da guerra: a dos papéis, a das cunhas, a das contrapartidas, mas também a das noites dormidas sem a arma à cabeceira da cama”.

O soldado José Boucinha da Cruz, condutor auto, esteve na Guiné entre 1970 e 1972, colocado na CCS do Batalhão de Bissorã e temos mais uma história de vínculos locais: “Fora, fazíamos segurança às colunas que traziam os géneros de Mansoa, onde os íamos esperar. Cada vez que lá ia perguntava sempre se havia por lá militares de Esposende, Barcelos ou Viana. Foi assim que encontrei o Carlos do Rogério, que me apresentou o Guilherme Pimentel e que viria a casar com a sua prima Lúcia Torres. Noutra ocasião em Bissau, encontrei o Couto dos Santos, que estava na Marinha e que andava a estudar. Encontrei também o Baltazar Costa, que estava de férias em Bissau. Por lá também me cruzei com o falecido Ascânio, de Antas (que foi guarda-redes do Forjães) e com o filho do moleiro da Azenha do Grilo, de S. Paio”. Não sendo operacional, escasseava-lhe o tempo livre, tinha de fazer a limpeza do Depósito de Géneros. É tocante o final do seu depoimento: “Quando cheguei a casa, o meu pai não estava. Tinha ido a Barroselas com o Zé Matos para me ir esperar. Estava só a minha mãe e que alegria que ela sentiu quando entrei em casa. Quando o meu pai chegou, mandou deitar uns foguetes. Eu estava à mesa a comer e, quando começaram a rebentar, mandei-me para debaixo da mesa, ainda com a ideia dos ataques. Casei em 9 de Dezembro e dali a uma semana fui com a minha mulher a Santa Maria Adelaide oferecer o vestido de casamento, como promessa de eu ter voltado vivo da guerra. Em termos de camaradagem, vimos lá momentos muito bons. Vou sempre aos encontros anuais do meu batalhão 2927. E, de há seis anos para cá, em Forjães, eu e o Albino do Firmino organizamos, anualmente, o encontro dos combatentes da Guiné. Há uma missa cantada, uma romagem ao cemitério para depor um ramo de flores pelos que já faleceram. E nunca nos esquecemos de ir a Aldreu, deixar também um ramo de flores na campa do António Amorim Torres, que faleceu na Guiné”.

José Carlos Ribeiro da Fonseca faz a sua comissão de 1970 a 1972, é furriel miliciano, vagomestre, pertenceu à Companhia de Caçadores Nativos 15. De Bissau segue para Bolama, para o Centro de Instrução Militar, logo se pôs à procura de alguém de Esposende ou Viana. Encontrou o Fernando Macedo (Ferreiro), bem como o seu chefe, um natural de Carvoeiro, seu colega na escola em Viana. Foi integrado na Companhia Balanta. Em 3 de março de 1970, partem para Mansoa, ficam junto do BCAÇ 2885. Numa coluna, em Safim, encontrou-se com o Jorge Gomes. Construiu um bom relacionamento com o Capitão Mário Tomé. Em 27 de março tem o seu batismo de fogo, um ataque a Mansoa com misseis terra-terra. No fim de maio chega-lhe a notícia do nascimento da filha. Vê chegar a Mansoa o Joaquim Luís e o Ascânio, seu amigo de S. Paio de Antas. Vêm de férias e no regresso apercebe-se do endurecimento da luta, o alcatroamento de Mansabá a Farim foi trabalhoso. Assiste à rendição do Batalhão 2885 pelo Batalhão 3832. Refere o ataque de 9 de junho de 1971 a Bissau e os muitos confrontos em patrulhamentos dentro da zona de ação. Regressou a 28 de janeiro de 1972, diz não ter experimentado perturbações de ordem psíquica ou física, o que gostou foi o frio do inverno. “Mas o meu tempo após o regresso foi muito difícil no âmbito familiar, porque a minha filha, já com vinte meses, não me conhecia de lado algum, fugia a qualquer contato comigo e, embora a mãe tudo fizesse para explicar quem eu era, só reconhecia o avô materno com quem conviveu desde o nascimento”.


O Coronel Luís Gonzaga Coutinho de Almeida entre o autarca da Murtosa e um elemento da GNR
Mário Leitão, escritor limiano, que se associou a este empreendimento
____________

Nota do editor

Último poste da série de 11 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23159: Notas de leitura (1436): "Os Forjanenses e a Guerra Colonial", organização de Luís G. Coutinho de Almeida e Carlos M. Gomes de Sá; edição da Junta de Freguesia de Forjães, 2018 (1) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 11 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23159: Notas de leitura (1436): "Os Forjanenses e a Guerra Colonial", organização de Luís G. Coutinho de Almeida e Carlos M. Gomes de Sá; edição da Junta de Freguesia de Forjães, 2018 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Julho de 2019:

Queridos amigos,
Para quem gosta de imprevistos, encontrar gente da nossa idade que recorda com quem andou na escola, que mantém intocáveis os vínculos do meio local, neste caso sempre com um sentimento forjanense, porque toda a obra é dedicada a militares desta vila do concelho de Esposende, e que nunca mais esqueceu a Guiné, vai ter aqui lauta leitura, elos de solidariedade que jamais se perderam. Testemunhos de oficiais, sargentos e praças, aqui se confirma a universalidade que reside na memória de gente de um terrunho que a todos toca no coração. Um livro que faz todo o sentido estar nas nossas estantes, lê-se e relê-se com imenso carinho, são registos autênticos da têmpera portuguesa.

Um abraço do
Mário



Memórias insuperáveis, a historiografia as saiba escutar (1)

Beja Santos

É um belíssimo, inolvidável, trabalho de recolha junto de antigos combatentes ligados à freguesia de Forjães (concelho de Esposende), a organização pertence a Luís G. Coutinho de Almeida e Carlos M. Gomes de Sá, a edição é da Junta de Freguesia de Forjães, 2018. Não conheço nada de tão tocante, tal é o vigor do testemunho entre os vínculos locais e, em inúmeros casos, uma saudade guineense que não secou. Como é evidente, os testemunhos recolhidos são amplos, estes forjanenses e suas famílias falam da Índia, da guerra de África mas também de São Tomé e Príncipe, Timor e outras paragens. O que aqui se regista, obviamente, circunscreve-se à Guiné, mas desde já se adverte o leitor que se sentirá gratificado com a leitura de todos estes testemunhos, esta memória é aparentemente regional, não haja ilusões, mas estamos lá todos nós.

O soldado Alcino Alves Pereira esteve na Guiné entre 1959 e 1961. De imediato, vemos como os forjanenses falam uns dos outros. Ele está no BC 5 em Lisboa, já lá andavam o Albino do Hilário e o Avelino de Palme. Certamente em consequência do 3 de agosto de 1959, foi tropa de urgência na Guiné, não teve tempo para ir até casa, nem lhes deram licença de mobilização, “só tive tempo de ir à procura do Armando do Rio que trabalhava em Lisboa e que me emprestou 40 escudos, para eu não ir completamente teso para a Guiné”. Embarcaram no Manuel Alfredo, descreve a vida em Bissau, as atividades desportivas a que se dedicou, era ciclista exímio. Lembra que houve um ataque a S. Domingos, em 1961. Tem imensas saudades da Guiné, e critica o colonialismo que ele viu com os seus próprios olhos, havia duas companhias comerciais, A Gouveia e a Ultramarina. “Vendiam de tudo. Quando iam comprar arroz aos guineenses, aquilo funcionava assim: recebiam um saco com 50 kg, ao pesar diziam que só tinha 40 kg e ao fazer contas só pagavam 30 kg. Depois, davam-lhes uns farrapos coloridos para colocar nas costas, para transportar os rapazes e, no final, os guineenses ainda lhes ficavam a dever dinheiro. Exploravam ao máximo aquela gente desgraçada”. O Alcino estava integrado na Companhia Expedicionária 352.

O soldado José Albino Sousa Ribeiro fez parte da CCAÇ 152, esteve na Guiné de 1961 a 1963. Soube que ia para a guerra e foi chamado com o Torcato do Gidório, o Manuel Boucinha e o Álvaro da Isolina. Viaja de avião, desembarca em Bissalanca no fim de julho de 1961, seguiu para Buba. “Tínhamos pelotões destacados em Aldeia Formosa, Cacine e Catió. A sede do batalhão ficou em Tite”. Não esconde como a comissão o marcou indelevelmente: “Lembro-me muitas vezes da Guiné e tenho saudades. Lembro-me muito daquela camaradagem entre a tropa. O povo da Guiné era muito bom. Cheguei a ir muitas vezes com eles para o batuque. Eram um joguete nas nossas mãos e nas dos turras. A guerra não me afetou. Apanhei o paludismo em Bissau e estive internado duas semanas, mas nunca mais tive sintomas. Em Forjães, costumo organizar os convívios dos militares da Guiné, juntamente com o Zé Boucinha. Tenho muito orgulho nisso. Gostamos de nos reunir para conversar e recordar aqueles bons tempos. Agora já é mais um convívio familiar. À volta da Guiné há um sentimento que nos une”.

O 1.º Cabo Paraquedista Manuel da Cruz Dias, que pertenceu à 1.ª Companhia de Caçadores Paraquedistas, esteve na Guiné em 1965 e 1966. Foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra de 3.ª Classe. “O meu comandante de pelotão era o Alferes Ferreira da Silva e o comandante de companhia era o Capitão Pardal. Vim de férias a Portugal, na Páscoa de 1966, de regresso, levei duas encomendas: uma da Fernanda Lajes para o marido, António do Neiva; a outra para o nosso capitão, da parte do seu sogro, que tinha uma loja ali para os lados da estação de S. Bento, no Porto”. Ficou bem estilhaçado em Fulacunda, semanas depois regressou ao ativo. “De passagem por Xitole, encontrei e conversei durante uns minutos com o Tone do Mouco. Andámos juntos na escola. Coitado, viria a morrer na Guiné, já depois de eu de lá regressar. Em Catió, encontrei o Quim Maria. Era furriel. Nunca tive madrinha de guerra. Escrevia para casa e quem me respondia era a minha mãe. Fui condecorado no 10 de junho de 1967. No mesmo dia, também foi condecorado com a Cruz de Guerra de 1.ª Classe e promovido ao posto de Major, a título póstumo, o meu Capitão Tinoco de Faria. Sinto muito orgulho nisso e ainda gosto de olhar e admirar a minha medalha. Um dia, um sujeito de Barroselas, que tinha ouvido falar de mim ao António Casal Martins, ligou-me a perguntar se eu recebia alguma coisa por causa da medalha. Respondi que não e ele disse-me o que é que eu deveria fazer para receber os meus direitos. Assim fiz e hoje recebo uma coisa pouca. A guerra tinha que acabar e ainda bem. Eles também tinham os seus direitos e direito a todas as independências que se deram”.

António de Amorim Torres pertenceu à CCAÇ 1547, esteve na Guiné de 1966 a 1967, faleceu em serviço em Bigene, em 7 de agosto, quem depõe é a viúva, Maria de Fátima Gonçalves de Sá. “Com 16 anos, fui servir para a casa do Sr. Manuel do Abreu, no Matinho, e foi lá que conheci o meu homem, que era lá vizinho. Havia uma fonte ao pé da casa dele. Eu ia para lá lavar e ele aparecia por aqui. Começámos a falar, depois a namorar, mas sempre às escondidas. Quando tinha 18 anos, vim embora para Aldreu, mas continuámos a namorar. Casei em abril, com 19 anos feitos, e fomos viver para casa dos meus pais. Ele foi trabalhar de trolha com os meus irmãos. Mas dali a pouco tempo chamaram-no para a tropa para Lisboa. Depois foi para a Guiné, embarcou no Uíge, seguiu para Bigene. Mandava-me aerogramas de lá. Um dia disse-me: ‘Estou num sítio muito mau. Aconteça o que me acontecer, uma coisa te peço, nunca dês padrasto à minha filha’.”

Imprevistamente, recebe um telegrama a comunicar a morte do António, por motivo de afogamento. “Já se passaram quase cinquenta anos e isso ainda me marca. Eu viúva, com 21 anos, com uma filha órfã, a viver com o meu pai e mais treze irmãos, sete deles abaixo de mim… Foi tudo muito duro!”. Depois de porfiadas diligências, passou a receber uma pensão de 600 escudos, começou a construir uma casinha, tomou conta de sobrinhos, recebia mais um dinheirinho. “O corpo dele demorou seis meses a vir da Guiné. Foram duas dores: a da notícia e do choque e, depois, a dor do funeral. Não acreditava que ele tinha morrido, sonhava que ele estava vivo. Passei muitos anos a sonhar que ele estava vivo. Ainda há dois anos sonhei que ele me apareceu por aí, todo contente, com a mesma roupa que levou ao nosso casamento. O meu pai foi a Lisboa para o reconhecer. Diz que o caixão tinha um vidro por cima e que se via metade do corpo. Diz que estava perfeitinho. No cemitério, os colegas dele fizeram uma fileira e dispararam umas rajadas para o ar. Foi uma marca que me ficou para sempre. Vou todos os anos à festa e ao almoço dos militares da Guiné, em Forjães. Eles convidam-me sempre, o Boucinha e o Albino taxista. Começa às 10 horas com a missa, depois eles vêm cá sempre ao cemitério de Aldreu colocar um ramo de flores na sepultura do meu falecido homem”.

(continua)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23152: Notas de leitura (1435): "O Silvo da Granada, Memórias da Guiné", por José Maria Martins da Costa; Chiado Books, Agosto de 2021 (4) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21633: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (14): Gampará, Natal de 1973: o bolo-rei da Confeitaria Nélia, Esposende, e a fava azarenta

1. Mais uma pequena história do 
Carlos Barros:

(i) ex-fur mil, defurriel mil, 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), "Os Mais de Nova Sintra", os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974;

(ii) membro da Tabanca Grande nº 815, tem 17 referências no nosso blogue; vive em Esposende, é professor reformado.


O bolo-rei de Natal e a fava azarenta…

por Carlos Barros (*)


Em novembro de 1973 , o furriel Barros, instalado em Gampará, com a 2ª Cart, 3º grupo de combate, escreveu uma carta à sua mãe, Jandira Lima, em Esposende, para que lhe fosse enviad, para a Guiné, um bolo-rei da Nélia [, confeitaria que ainda existe: R. 1.º de Dezembro, nº 24, 4740-226 Esposende, telef: 253 961 119] ou mesmo da Primorosa.

Numa comunicação breve aos soldados do seu  3º grupo, o Barros tinha informado que a malta iria ter um bolo-rei, no período do Natal, o que criou uma certa euforia entre os soldados..

Os soldados vibraram de contentamento e um bolo-rei na Guiné era “ouro sobre o azul” num ambiente de sobressaltos, sofrimentos, ansiedades,  de tragédias e de dramas que envolvia  toda a actividade da guerra.

Passados quinze dias, o bolinho, numa longa viagem, chegou ao aquartelamento, depois de uma longa demora, nos serviços do SPM de Bissau.

O Barros parecia um “empresário de pastelaria” e, sempre com o seu elevado sentido de partilha, reuniu, no dia 23 de dezembro [de 1973], os soldados em  círculo,  e dividiu o bolo-rei em 27 bocadinhos, bem cortadinhos e apresentou uma proposta sentenciosa a todos os presentes:

A quem saísse a fava,  teria de pagar, um próximo bolo-rei que seria comprado em Bissau, de qualidade muito inferior, como é natural, ao  da Nélia, uma pastelaria de excelência a nível local,  mesmo, em todo o  Norte do País.

 As fatias “magricelas”  foram divididas por todos os soldados que começaram a mastigar o bolo, cada um olhando e inspeccionando as bocas com a expectativa de saída da “abominável” fava …

 O Barros, muito atento, num ápice, sentiu  na boca ressequida a maldita  fava e pensou logo que estava “desgraçado”,  pois iria ser gozado por todos e não estava em questão pagar outro bolo, apenas receava ser colectivamente gozado, o que era a “praxe” no meio do grupo.

O Barros pensou de imediato, em sair daquela incómoda situação e sabem o que fez ele?

 Engoliu a fava que foi directamente para o estômago e, mais tarde,  expelida pelos intestinos, e o ânus está como testemunha,

O Cruz, soldado natural de Barcelos, gritou:

 Furriel, o bolo não tinha fava e você disse que vinha sempre com uma fava!...

O Venâncio, o Pedralva, o Domingos e o Araújo estavam muito desconfiados mas nada disseram, limitando-se a saborear o ressequido bolo-rei que estava a ser digerido muito lentamente, quase que “ruminando”, para que o sabor demorasse mais um pouco porque guloseimas, no aquartelamento, praticamente não existiam.

 − Olha, Cruz, o pasteleiro esqueceu-se de colocar a fava e não sei o que se passou  desculpou-se o Barros, com um ar de comprometido!...    Sabem, o Geninho,  pasteleiro da Nélia,  o melhor pasteleiro da região, não se lembrou de colocar a fava e com tantos bolos-rei que faz, este escapou. 

E acrescentou, com o ar muito natural:

 Sabem que  o Geninho, faz uns torrões de amendoim que são “os melhores do mundo”, e podem crer que, quando for de férias a Esposende, vou-vos trazer torrões da Nélia −  prometeu o Barros tentando atenuar a expectativa que os soldados tiveram  da famosa “fava invisível”.

Uma coisa é certa, o Barros só contou a história passados uns meses aos seus companheiros  da caserna que acharam muita graça à atitude do furriel que se tinha “safado” de um gozo geral.

No final, todos se levantaram, com a cadela Sintra a comer umas míseras migalhas que tinham sobrevivido, e estava-se na hora do jantar com os cozinheiros Eduardo, o Rochinha e o Bichas, este na Messe, já com a missão cumprida, junto aos panelões para se distribuir  a comida.

Gampará, 23 de dezembro de 1973.                                  

Carlos Barros

Esposende 10 de Junho de 2020

____________

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21316: Tabanca Grande (501): Carlos Barros, ex-fur mil, 2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) que passa a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 815... É natural de Esposende e professor aposentado.


Carlos Barros, novo membro da Tabanca Grande, nº 815. Foi fur mil at art, 2º CART / BART 6520/72 (1972/74), "Os Mais de Nova Sintra"


1. Mensagem de Carlos Barros, ex-fur mil. 2ª CART / BART  6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) (*), que passa a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 815:


 
Data: 18/06/2020, 20:43

Um pouco da minha biografia:

(i) Sou Professor Aposentado, casado, embora continue , como voluntário num Projeto de Leitura/Literacia, numa Escola do Concelho de Esposende, "Escola de Mar";

(ii) sou dirigente, há mais de 15 anos,  da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Esposende (AHBVE);´

(iii) pertenço à  Redação do Jornal "Farol de Esposende!,  redator permanente;

(iv) organizo anualmente, o Encontro/Convivio dos "Mais de Nova Sintra, (vamos no 45º),  sempre no Centro do País: Mealhada-Águeda-Recardães:  o 1º organizador foi o furriel José Sousa Gonçalves (12 anos seguidos,  de 1975 a 1987) e agora sou eu, nas calmas e faço-o com muito carinho;

(v) intervenho noutras atividades -Futebol;  fui Presidente da ADE (, Associação Desportiva de Esposende) e dirigente muitos anos;

(vi) em suma, sou um cidadão simples, humilde , solidário e interveniente.

Fico por aqui...Um abraço
Carlos Barros (Ex-furriel Miliciano)
Bart 6520/ 2ª Cart.

Nota: Todos os nossos testemunhos serão importantes para construir a História da Guerra Colonial

2. Resposta do editor LG, na volta do correio:

Carlos, então somos colegas, ambos somos professores, um profissão nobre...Na tua terra, Esposende, tenho amigos... E há um camarada do nosso blogue, que esteve comigo em Bambadinca, em finais de 1970, o Mário Miguéis da Silva, bancário reformado e talentoso cartunista... És capaz de o conhecer...Esteve no Saltinho, não muito longe de ti, que estavas m São João, mais a sul..

Mas vejo que não me mandaste nenhuma foto, das que te pedi, uma mais ou menos atual, e outro do "antigamente"... Vê lá isso, para eu te poder apresentar à Tabanca Grande, com pompa e circunstância... E também consegui abrir as fotos da entrega do aquartelamento de Nova Sintra, em 17 de julho de 1974, e outras do teu álbum, que me mandaste e que querias partilhar com os nossos leitores. Aguardo a 2ª via,

Boa saúde, boa reforma, bom desconfinamento... Luís

3. No mesmo dia, 18 de junho, às 22h43, o Carlos Barros respondeu:

Boa noite:

O Mário Miguéis é meu conterrâneo e grande amigo de infância. Estudamos juntos em Esposende, é um ano mais velho que eu, no Externato Infante Sagres.

A família são talentosos em "cartoon", todos eles, com ligeiras diferenças no talento. No ano passado fui a Lamego visitar o irmão. o Arquitecto Quim Miguéis.

Sabia que tinha estado em S. João onde esteve o alferes Garcia que faleceu assim como o nosso capitão da Companhia, Armando Cirne.

Ser professor é algo de dignificante e marcante na sociedade, sem desprimor para as demais profissões. Ser professor é ser diferente...

Por hoje é tudo. Um abraço e b.f.s.

Bom fim de semana.
Carlos Barros
Esposende 

4. Comentário de L.G.:

As tais fotos "históricas" não há maneira de cá chegarem... Mas entrentanto o Carlos Barros tem estórias do seu tempo de "soldado do fim do império" que aguardam publicação. Para não atrasar mais a sua edição, o Carlos Barros fica apresentado à Tabanca Grande, o que já devia ter acontecido há  dois meses atrás. Senta-se agora no lugar nº 815 (**), não precisa de pedir mais licença para entrar... Tem página no Facebook.

Sobre a sua companhia e batalhão, a 2ª CART / BART 6520/72, acrescentaremos o seguinte; mobilizados pelo RAL 5, partiram para o TO da Guiné em 23 de junho de 1972 e regressaram a 21 de agosto de 1974. Oficialmente estiveram em Nova Sintra e Bissau. Comandantes de companhia: cap mil inf Armando da Fonseca Cirne; cap art José Manuel Campante de Carvalho; e cap mil inf João Barbosa Machado. E ficaram justamente conhecidos pro "Os Mais de Nova Sintra".

O comano e a CCS do BART 6520/72, por sua vez esteviveram, em Tite, tendo por  o batalhão por comandantes o ten cor art Rui Ferreira dos Santos, e ten cor art Fernando José de Alemeida Mira. 

A 1º CART esteve em Jabadá e Bissau (cap mil inf José Pereira Baptista Dias), e a 3ª CART em Fulacunda (cap mil inf José João Mousinho Serrote).
___________

Notas do editor:


sábado, 21 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20164: In Memoriam (348): António Manuel Carlão (Mirandela, 1947- Esposende, 2018), ex-alf mil at inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel, Nhabijões e Bambadinca, 1969/71... Entra para a Tabanca Grande, a título póstumo, sob o nº 797.

António Manuel Carlão
(Mirandela, 1947- Esposende, 2018)
1. Através do nosso amigo, camarada e grã-trabanqueiro, Fernando Sousa, que viva na Trofa  (ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, maio de 1969 / março de 1971), soubemos ontem da notícia, tardia, da morte do ex-alf mil António Manuel Carlão, ocorrida no  passado dia 14 de novembro de 2018.

Essa triste notícia foi por nós confirmada através de pesquisa na Net:

"2018-11-14 > Deixou o nosso convívio... > Faleceu hoje António Manuel Carlão com 70 anos de idade, após doença prolongada. Era natural de Mirandela mas residia há bastantes anos nesta Vila fangueira, mais recentemente no lugar dos Lírios. Era genro do falecido sr. Bento da Lareira [, restaurante "A Lareira", em Fão,], figura que foi bastante conhecida na restauração local.

"O seu corpo encontra-se a ser velado na Casa Mortuária de Fão e as cerimónias fúnebres e religiosas terão lugar amanhã, quinta feira, a partir das 16 horas, indo depois a sepultar no cemitério local.

"O Novo Fangueiro apresenta a todos os familiares os votos sentidos de profundo pesar."


Também vimos, no Facebook da Agência Funerária Fangueira, a notícia necrológica dada pela família (esposa, filhos, genros, netos e demais parentes).


[Foto à direita:] Esposende > Fão > 1994 > 1º Encontro do pessoal de Bambadinca (1968/71): CCS do BCAÇ 2852 (1969/71), CCAÇ 12 (1969/71), Pel Daimler 2206 (1970/71) e outras unidades adidas.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Na foto, à direita, aparecia o ex-alf mil António Carlão, transmontano, da CCAÇ 12,  era o terceiro a contar da esquerda, sendo ladeado, à  sua direita, pelo Humberto Reis (Lisboa)n  o José Luís Sousa (Funchal), ex-furriéis, da mesma unidade; e, à sua  esquerda,   pelo José Luís Vacas de Carvalho (Lisboa), ex-alf mil cav do Pel Rec Daimler 2206

O Carlão era, na altura, comerciante em Fão, tendo tido ele o mérito de organizar do encontro, com a prestimosa colaboração da sua esposa Helena que conviveu connosco em Bambadinca, durante grande parte da comissão.

Foi a primeira (e última) vez,  de resto, que o reencontrei depois do regresso da Guiné, em março de 1971. No verão de 2018, passei por Fão e procurei saber notícias dele.  Disseram-me que tinha mudado de local de residência. Verifiquei que o sogro era pessoa conhecido na terra pela sua ligação à restauração, mas que já deixara a gerência do restaurante "A Lareira". Pelo que apurei, o Carlão e a Helena devem ter vivido em Angola, depois do regresso da Guiné, até à data da independência. Segundo bem percebi, a família da Helena era retornada e integrou-se bem em Fão, Esposende.

Tanto quanto me lembro, o Carlão veio do CSM para o COM, e foi mobilizado para a Guiné através da nossa CCAÇ 2590, que mais tarde daria origem à CCAÇ 12. Era originalmente o comandante do 2º Gr Comb, a quem pertcnciam, entre outros, os ex-fur mil, nossos grã-tabanqueiros, António Levezinho e Humberto Reis.  Teve uma atuação polémica no decurso da Op Pato Rufia, no subsetor do Xime, em 7 de setembro de 1969, de que resultou a primeira baixa mortal da companhia, o sold at inf Iero Jaló (*).

Entretanto, ainda antes de casar (a esposa virá  viver para Bambadinca,  creio que a partir de finais de 1969 ou princípios de 1970),  o António Carlão é escolhido pelo cap inf Carlos Brito para integrar a equipa técnica do reordenamento e autodefesa  de Nhabijões (**): essa equipa, pelo lado da CCAÇ 12, é constituída, além do alf mil António Manuel Carlão, pelo fur mil Joaquim A. M. Fernandes, o 1º cabo at Virgilio S. A. Encarnação e o sold arv Alfa Baldé,  os quais vão  tirar o respetivo estágio a Bissau, de 6 a 12 de Outubro de 1969. A essa equipa juntam-se dois  carpinteiros, os 1º cabos aux enf Fernando Andrade de Sousa, que vive hoje na Trofa, e o Carlos Alberto Rentes dos Santos, que  vive em Amarante (**).  

Esporadicamente, o alf mil Carlão ia fazendo uma ou outra coluna logística (aos subsetores de Mansambo, Xitole e Saltinho). Numa delas,  rebentou na frente da coluna uma mina A/C, num dia em que ele decidiu levar a sua Helena para ver os rápidos do Saltinho. Ainda me recordo como ia vestida: de camuflado e sapatos de salto, vermelhos... Seguia  "à guarda" do alf mil capelão Arsénio Puim.  Por razões de segurança (e de bom senso), acabou por ficar retida, a meio do trajeto, em Mansambo (***).


2. Temos, no nosso blogue,  uma escassa meia dúzia de referências ao António Manuel Carlão, e também à sua esposa,  Helena Carlão,  que era uma das poucas senhoras que viveu em Bambadinca no nosso tempo (****)



Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca, > CCS/BART 2917 (1970/72) > s/d  [. c. 1970] > Messe de oficiais > Da esquerda para a direita: (i) o Cap Art Passos Marques, comandante da CCS; (ii) o Alferes Sapador da CCS, Luís Moreira; (iii) a Helena Carlão, a mulher do Alf Mil Inf Carlão (CCAÇ 12); (iv) o Alf Mil Inf Abel Rodrigues (CCAÇ 12); (v) o Alf Mil Abílio Machado (CCS); (vi) e o Alf mil Op Esp Francisco Moereira; e (vii)  mais um oficial que não conseguimos idemtificar, provavel,mente da CCS, ou de uma suubidade adida ao BART 2917.

 Foto: © Gualberto Magno Passos Marques (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Convivi pouco com o alf mil Carlão, e menos ainda com a Helena (****). Vivíamos, os oficiais, os sargentos e as praças em "regime de apartheid", ou seja, de "segregação socioespacial"... Cada classe tinha os seus espaços de hotelaria,  sociabilidade, lazer e convívio. Outros camaradas poderão falar melhor do que eu do António Carlão e da Helena Carlão. Nunca tivemos relações de amizade nem nunca o Carlão se aproximou do nosso blogue. Em todo caso, e em memória do que passámos juntos (, a Op Pato Rufia foi, não posso esquecê-lo, o meu batismo de fogo...), eu acho que ele deve figurar, a título póstumo, na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande...

A sua aventura terrena acabou em 14/11/2018, por motivo de doença prolongada, aos 71 anos incompletos.  Lamentamos só agora ter sabido da sua morte. Que esta pequena homenagem  do nosso blogue seja vista pela Helena, e pelos seus filhos e netos, como um tributo de saudade dos antigos camaradas de armas do António.  Ele entra, a título póstumo,  para a nossa Tabanca Grande com o nº 797, depois do Domingos Robalo (nº 795) e do Carlos Marques de Oliveira (nº 796), cuja apresentação será feita nos próximos dias.

Embora com um atraso de 10 meses, aqui fica a manifestação do nosso apreço e da nossa solidariedade na dor,  para a Lena e a sua família. É missão, nobre, do nosso blogue "enterrar os nossos mortos" e "fazer o seu luto", não deixando os nossos camaradas da Guiné ir para a "vala comum do esquecimento". É esse o sentido do nosso gesto. (*****)
____________





quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17948: Agenda cultural (603): Tertúlia de antigos Combatentes, subordinada ao tema "Histórias Com Rosto", a realizar no dia 17 de Novembro próximo, às 21,30 horas, no Auditório Municipal de Esposende (Fernando Cepa, ex-Fur Mil Art da CART 1689)



Mensagem do nosso camarada Fernando Cepa, (ex-Fur Mil Art da CART 1689/BART 1913, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), dando-nos notícia de uma tertúlia de antigos Combatentes, subordinada ao tema "Histórias Com Rosto", a levar a efeito no próximo dia 17, às 21,30 horas, no Auditório Municipal de Esposende.

Caro Amigo Carlos Vinhal. 
Logo que possível, agradeço que estudes a possibilidade de inserir no nosso blogue, TABANCA GRANDE, o cartaz anexo, referente a uma tertúlia sobre Ex-Combatentes que se realizará no dia 17 de Novembro de 2017 no Auditório Municipal de Esposende. 

Grato pela atenção. 
Um grande abraço 
Fernando Cepa 
Ex-Furriel Miliciano 
Cart 1689 - Bart 1913 
Guiné
____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17946: Agenda cultural (602): Hoje, às 18h30, no Porto, FNAC Santa Catarina: lançamento do último livro do escritor Carlos Vale Ferraz (e nosso camarada de armas, Carlos Matos Gomes),"A Última Viúva de África". Apresentação por David Martelo

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17349: Efemérides (250): No passado dia 30 de Abril de 2017, os Combatentes da Guerra do Ultramar de S. Bartolomeu do Mar foram homenageados pelo seu Núcleo. A Junta da União de Freguesias de Belinho e Mar aproveitou a cerimónia para ofercer uma Bandeira ao Núcleo de Combatentes de Mar (Fernando Cepa)



Em mensagem do dia 3 de Maio de 2017, o nosso camarada Fernando Cepa, (ex-Fur Mil Art da CART 1689/BART 1913, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), dá-nos conta da homenagem, pelo Núcleo de Mar, União de Freguesias de Belinho e Mar, Concelho de Esposende, aos ex-Combatentes da guerra do ultramar, levada a efeito no passado dia 30 de Abril.

Caro Amigo Carlos Vinhal. 
Seguem dois anexos sobre a homenagem aos ex-combatentes efectuada na Freguesia de Mar, concelho de Esposende. 
Se achares oportuno e de interesse, podes publicar na Tabanca Grande. 

Um grande abraço. 
Fernando Cepa


____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17323: Efemérides (249): Dia 7, domingo, dia da mãe... O Museu da Marinha oferece bilhetes às mães para a exposição "Vikings - Guerreiros do Mar", composta por 600 peças originais provenientes do Museu Nacional da Dinamarca... A não perder