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quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24600: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (2): O percurso de muitos de nós: Tavira (CISMI), Elvas (BC 8), Tomar (RI 15), T/T Uíge...


Foto nº 6 > Tavira > CISMI > Recruta > 2º turno 1972 Ao centro o Machado; o camarada da esquerda não recordo o nome; eu, à direita, de óculos.




Foto nº 7 > Tavira > CISMI > 1972 > Quando acabei a especialidade (atirador).



Foto nº 8 > Elvas > BC 8 > A dar recruta 4º turno 1972 [os pelotões eram numerosos, contam-se aqui quase meia centena de homens; o Cruz é o oitavo da fila de pé, a contar da direita]



Foto nº 9 > Tomar > RI 15 > 1973 : A formar o BCAÇ 4513/72 mobilizado para a Guiné: eu e o Victor Domingues com o nosso aspirante Jorge, no meio, de blusão, a formar o 3º pelotão da 1ª companhia.



Foto nº 10> T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: da esquerda para a direita, Raposo, Cruz, Victor Domingues e Félix.



Foto nº 11 > T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: O pessoal a dar ao dente a bordo do Uíge: da esquerda para a direita, Loução, Félix, Baeta e o outro camarada não recordo o nome.


Foto nº 12 > T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: à minha direita, o Félix e à esquerda o Victor Domingues.



Foto nº 13 T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: - No Uíge com o Félix

Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz (*).  Já em 2014 tínhamos descoberto a sua página do Facebbok, e publicámos dois postes. Já  na altura fizemos o convite, formal, para se juntar ao nosso blogue,  o que veio acontecer agora: é o novo membro, nº 880 da Tabanca Grande (**).

Ele fez o percurso de muitos de nós: Tavira (CISMI), Elvas (BC 8), Tomar (RI 15), T/T Uíge, conforme documenta as fotos acima publicadas... E depois Bolama (CIM),  de acodo com o próximo poste.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21914: Tabanca Grande (514): Eduardo Ablu, ex-fur mil, CCAV 678 (Ilha do Sal, Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime, 1964/66): senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 836


Foto nº 1

Foto nº 2


Cabo Verde >  Ilha do Sal > CCAV 678 > c. maio / julho 1964 > O ex-fur mil Eduardo Ablu




Foto nº 3

Guiné > Região de Bafatá > Bambadinca > Fá Mandinga > CCAV 678(1964/66)
 
Da esquerda para a direita: Furrieis [Manuel] Bastos [Soares], [Eduardo]Ablu, [Jorge] Ferreira (pai do Rui Ferreira), Primeiro Sargento Alberto Mendes, Furrieis Frazão, Matos e Guimarães.


Foto nº 3

Elvas > 2021 > Foto atual do Eduardo Ablu, novo membro da Tabanca Grande, nº 836  (*)

Fotos (e legendas): © Eduardo Ablu (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mensagem de Eduardo Ablu, ex-fur mil, CCAV 678 (Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime,1964/66)

Assunto - Tabanca Grande

Data - domingo, 7/02/2021, 16:30

Boa tarde,  Luís.

Conforme pedido, para que possa entrar para a Tabanca Grande, aí vão os meus dados:

(i) sou o Eduardo dos Santos Roque Ablu,
(ii) natural e residente em Elvas, 
(iii) 79 anos de idade.
(iv) casado e 2 filhos,
(v)  e reformado da Banca.

Da vida militar, já sabem por onde andei:  Cabo Verde e Guiné.

Em relação às perguntas que me fazem..., pois não sei onde e como o Jorge Ferreira apanhou a bicicleta (**).

Se o Jorge, andou de LDM, também não posso dizer. Vê-se que fez, pelo menos, uma escolta [, a Catió] (**).

Enquanto estivémos em Bissau, houve colegas que fizeram escoltas e falaram em barcos de nativos a fazerem o reabastecimento. Foram e, só quando chegavam, estavam em segurança.

Envio as fotos pedidas, uma actual [, foto nº 4] e as outras [, fotos nº 1 e 2]  são da Ilha do Sal. Da Guiné já tinha mandei uma em grupo, tirada em Fá Mandinga [, foto nº 4](***)

Um abraço
Eduardo Ablu



Foto nº 5

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Julho de 1965 > Festa de 1º. aniversário da CCAV 678. Na mesa dos oficiais e sargentos, o 1º de frente e da esquerda é o Fur Mil At Manuel Bastos Soares, autor destas fotografias, natural de Vila Nova de Gaia e residente na Maia, Gueifães.


Foto (e legenda): © Manuel Bastos Soares  (2008). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentário do editor:

Ok, Eduardo, obrigado por teres aceite o nosso convite. Precisamos cá de malta do teu tempo, do caqui amarelo!... Como te disse, não há quotas nem joias. Já pagaste, já pagámos o pesado imposto....

A tal Companhia de Caçadores Especiais (, a designação caiu depois em desuso,), nº 302, que vocês foram substituir, esteve na Ilha do Sal entre 25/4/1962 e 18/5/1964. Por sua vez, a vossa CCAV 678 desembarcou do T/T do Uíge, na Ilha do Sal, em 20/5/1964. E partiu para o CTIG, três meses depois, no Contratorpedeiro Lima, em 17/7/1964.

Gostávamos de saber, camarada, o que é andaram por lá a fazer e se ainda havia vestígios da presença dos expedicionários do RI 11 (Setúbal) que estiveram no tempo da II Guerra Mundial, vinte anos antes,,, E depois gostávamos de saber também das vossas andanças lá para os lados de Bambadinca, Xime, Ponta do Inglês, que alguns de nós irão conhecer uns anos mais tarde...

Pergunto-te também se manténs contactos com mais camaradas da tua CCAV 678... Na nossa Tabanca Grande o único representante da tua companhia era, até agora, o Manuel Bastos Soares (desde novembro de 2008) (****).

Natural de Vila Nova de Gaia, o Manuel Bastos Soares vive na Maia. (Ficou de me mandar um foto atual, quando lhe telefonei em 2011; não tive mais notícias dele, espero que esteja vivo e de boa saúde.)

Recorde-se ainda que a tua CCAV 678 foi mobilizada pelo RC 7, partiu para o TO da Guiné em 18/7/1964 e regressou à Metrópole em 27/4/1966. Passou por Bissau, Fá Mandinga, Bambadinca e Xime. Teve 3 comandantes, todos do quadro permanente: Cap Cav Juvenal Aníbal Semedo de Albuquerque; Cap Cav Inácio José Correia da Silva Tavares; e Cap Art José Vitor Manuel da Silva Correia.

Pronto, Ablum senta-te no teu lugar, nº 836, e espero que possas a partilhar connosco mais memórias do tempo em que andaste, quatro anos antes de mim, por estes sítios (míticos) do leste: Fá Mandinga, Bambadinca, Xime, Ponta do Inglês...

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21715: Em busca de... (310): Hilário Peixeiro, capitão que conheci no Forte da Graça, em Elvas, em 1973/75 (João Rico, ex-fur enfermeiro)




O hoje cor inf ref  Hilário Peixeiro, ex-cap,  
CCAÇ 2403 / BCAÇ 2851, Nova LamegoPicheFá Mandinga,
 Olossato e Mansabá, 1968/70


1. Mensagem do nosso leitor  João Rico, que foi fur enfermeiro, no Forte de Elvas, no período de 1973/75, é atualmente professor e vive em Mira:


Data: quarta, 25/11/2020 à(s) 23:47
Assunto: Hilário Peixeiro 


Faz hoje exatamente 45 anos que dei por finda a minha atividade militar (1973/75), tendo tido a sorte de ter servido o capitão Hilário Manuel Pólvora Peixeiro no Forte da Graça, em Elvas. 

Tentei, por diversas vezes, saber onde ou como o poderia encontrar ou contactar, sempre sem sucesso. Hoje, numa leitura pela vossa (de todos, afinal) "Tabanca", deparou-se-me o seu nome e não resisti à tentação.

Assim e desde já pedido-lhe desculpa pela ousadia de o incomodar sem o conhecer, agradecia-lhe que lhe solicitasse autorização para me facultar os seus contactos.

Para o ajudar, lembre-lhe que fui furriel enfermeiro, no Forte de Elvas, que: 

(i) conseguimos que a direção escolar nos autorizasse a fazer (e fizemos) exames da quarta classe aos militares; 

(ii)  conseguimos fazer uma enfermaria com 6 camas;

(iii) jogámos futebol na equipa do Forte.

Acrescento que sou professor e que resido em Mira.

Obrigado.
João Rico

 2. Resposta do editor LG:

Caro João Rico: Ficamos na dúvida se, na devida altura, lhe respondemos ao seu pedido. Se sim, espero que tenha conseguido contactar o nosso camarada que procurava, o Hilário Peixeiro. Se não, esperamos que ainda vá a tempo. 

Segue, por outra via, o endereço de email do nosso camarada,  cor inf ref Hilário Peixeiro. Não temos tido notícias dele, esperamos que esteja bem de saúde. Vamos em breve reeditar algumas das suas fotos relativas à Op Mabecos Bravios (5-6 fevereiro de 1969) (retirada de Madina do Boé). (**)

Vamos também editar a sua mensagem (, omitindo apenas os seus contactos pessoais que apenas seguem para o Hilário Peixeiro), na expetativa de o nosso camarada entrar em contacto  consigo e/ou connosco. (***)

Desejamos-lhes uma boa entrada no ano de 2021. Luis Graça

 PS - O Hilário Peixeira foi cap inf, CCAÇ 2403 / BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga, Olossato e Mansabá, 1968/70. É membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de maio de 2011 (*). Tem 15 referências no nosso blogue.

Tem facebook activo: https://www.facebook.com/hilario.peixeiro
____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


(...) "Sou Coronel reformado e, como complemento à minha vida militar, contida na história da CCaç 2403 que vos enviei (**),  acrescento que, depois da primeira comissão na Guiné,  iniciei a segunda em Maio de 1972 em Moçambique.

Ofereci-me para os Comandos donde saí a meu pedido e ingressei nos GEP (Grupos Especiais Pára-quedistas) depois de fazer o respectivo curso, regressando em Junho de 1974.

Fui colocado no Forte da Graça em Elvas onde estive até Setembro de 1977. Seguiu-se Santa Margarida, 2 anos, Casa de Reclusão de Elvas, Curso de Estado Maior e colocação no Estado Maior do Exército, Regimento de Elvas, Quartel General de Évora e Tribunal Militar de Elvas onde, aproveitando a chamada lei dos Coronéis, passei à situação de Reforma. (...)


(**) Vd. postes de:

14 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8273: História da CCAÇ 2403 (Hilário Peixeiro) (1): Deslocação para a Guiné e chegada a Nova Lamego

16 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8284: História da CCAÇ 2403 (Hilário Peixeiro) (2): Actividade da CCAÇ 2403 e participação na Operação Mabecos Bravios

19 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8299: História da CCAÇ 2403 (Hilário Peixeiro) (3): Actividade da CCAÇ 2403 e participação na Operação Mabecos Bravios

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19727: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004: repescando velhos postes (3): Em homenagem, póstuma, ao cap inf José Cravidão (1942-1967) (Claudina Cravidão)

Cap inf José Cravidão (1942-1967)
1. Mensagem, de 28 de maio de 2013, de Claudina Cravidão, viúva do cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão (Arroiolos, 1942- Farim, Guiné, 1967), cap inf, cmdt CCaç 1585 (Nema, Farim e Quinhamel, 1966/68), morto em combate em 4 de Junho de 1967 (*). 

Mobilizada pelo RI 2, a CCAÇ 1585 embarcou em 30/7/1966 e regressou à metrópole em 9/5/1968; era uma companhia independente; teve dois comandantes, o cap inf José  Cravidão e o cap mil inf Vitor Gama.

O cap inf José Cravidão era natural de Arroiolos, e é um dos muitos camaradas nossos injustamente esquecidos nos Dez de Junho destes anos todos, antes e depois do 25 de Abril. 

Fizemos questão de o lembrar, em 10 de junho de 2013, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que se comemorou justamente em Elvas, a terra que acolheu os seus restos mortais. Deixou viúva e 2 filhas, uma médica e outra enfermeira (**)

A mensagem da viúva chegou-nos pelo mail do Jaime Silva [, o Jaime Bonifácio Marques da Silva, meu amigo do peito, grande camarada, membro da nossa Tabanca Grande, natural de (e residente em) Seixal, Lourinhã, professor de educação física, docente reformado do ensino superior politécnico, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72 [, foto à direita, acima]




2. Palavras da Claudina Cravidão [, Maria Claudina Marçal Lopes Silva], licenciada em educação física, colega do Jaime Silva, de curso, e amiga de Luanda, onde conviveram, antes do 25 de Abril] (**)


Jaime, muito obrigada, pela tua intervenção neste assunto. Andei um bocado em baixo, porque já sabes que estas coisas doem e, quando mexemos nelas, doem ainda mais, porque se tornam mais presentes.No entanto aconteceu e o inevitável não tem solução. Já reuni outras homenagens, como o terem dado o nome dele a um largo, ao fundo da rua onde ele morava, em Arraiolos [, Largo Capitão José Cravidão] , assim como uma lápide, bastante grande, na parada do quartel, em Farim [, Guiné], também com o seu nome.


Está tudo digitalizado, aliás mandei digitalizar numa casa de artigos fotográficos, mas as letras são muito pequenas, não sei se estarão bem legíveis. Penso que não pode ser de outra forma. Nestas coisas da Net, não sou nenhuma expert e, o que sei, são os netos que me ensinam.

Pensei 2 vezes, em ir com isto para a frente. O meu marido era um homem que não ligava nada a homenagens e a outras coisas do bem parecer... Ligava, sim, à verdadeira essência das coisas, por isso discordava muitas vezes da opinião dos chefes, que passavam o tempo nos gabinetes e nem sequer conheciam os locais por onde eles andavam. Sei que os homens [, da CCAÇ 1585,] o admiravam e gostavam muito dele, porque ele os tratava como homens, e não como carne para canhão.

Mas, depois de muito pensar, achei que não seria mal nenhum publicitar as homenagens que lhe fizeram. Como eu própria as publiquei no semanário "Linhas de Elvas", penso que as datas devem lá estar.


A última, a que a Sara (filha mais nova) te mandou e a mais completa, saiu no semanário "Linhas de Elvas" a 31 de dezembro de 2012. A do soldado de Pinhel foi publicada no boletim paroquial "O Falcão", em outubro de 1967. A foto da lápide deve ter sido enviada ainda em junho de 1967. A carta do furriel Joaquim Pedrosa, em 6 de junho de 1967, assim como muitas mais, mas são muito extensas, por isso só referi algumas frases mais marcantes.



Cemitério de Elvas: Lápide funerária de José Jerónim da Silva
Cravidão (4-6-1942 / 4-6-1967). Cortesia do portal Linhas de Elvas
Afinal estou com a foto da lápide, de 20 de agosto de 1967. Também há outros depoimentos, como o do capitão miliciano que o foi substituir [, cap mil inf  Vitor Brandão Pereira da Gama], assim como um alferes com quem ele se dava bem e que o tentou convencer a não ir a essa operação (, visto fazer 25 anos nesse dia), mas ele teimou e disse que iria com eles e foi.

A operação chamava-se Cacau, deslocaram-se de lancha toda a noite, até atingirem o objectivo: Bricama, uma base pesada dos turras. Estes, emboscados na outra parte da bolanha, deixaram que destruíssem as moranças e as queimassem e, já na retirada, quando se iam deslocar, para outro local, rebentou um violento tiroteio e foi quando ele foi atingido.

Segundo o alferes, quando se propagou a notícia, entraram em loucura [, os militares da CCAÇ 1585,] e, se ele não tivesse segurado os homens, seria uma carnificina, muitos mais teriam morrido. 


Foi uma única bala, entrou na parte da frente, atravessou o fígado, causando hemorragia interna e saiu nas costas. Era a hora dele. Conforme ele dizia, estava escrito.

Para não te incomodar com todas estas coisas e, visto vires para baixo no fim do mês, estava a pensar enviar directamente as coisas para o teu amigo, pois tenho o mail dele. Diz-me o que queres que eu faça. O livro do teu amigo [, não sabemos de quem se trata... (LG)] deve chegar amanhã, pelo correio, à cobrança. 


Quando fico mais em baixo, digo para mim mesma "não penses nisso, pensa nos momentos bons que viveram" e tu faz o mesmo, umas vezes resulta, outras não, mas cada um carrega a cruz à sua maneira. Não é uma questão de catolicismo, mas acredito mesmo que nada acaba aqui. Só a carne morre, o espírito vive, se algum dia pudermos falar, verás que é assim.

Vou escrever ao Luís Graça, só para lhe agradecer a disponibilidade e a gentileza que tem mostrado. Fotos, vão muito poucas, porque as muitas outras que possuo, são pessoais e essas não se publicam. 


Podes reencaminhar o mail, para o teu amigo, para não escreveres tanta coisa, ou então sintetiza,mas eu queria saber se mando o que está digitalizado, para ele ou para ti. 


Um abraço grande para ti e para a Dina (minha homónima, pois também há muita gente que me chama Dina - é a terminação dos nossos nomes.). 

Beijinhos. (***)


3. Comentário, de 3/6/2017, 00h15,  de Carlos Alberto Alves Soares  ao poste P11691 (****) [, infelizmente, ainda não consegui contactá-lo, mas é amigo do Facebook da Tabanca Grande].


Amigo Luis Graça, eu sou Carlos Alberto Alves Soares, ex-Furriel Miliciano da Companhia  de Caçadores 1585, gostaria de saber o seu contacto telefónico para o contactar e falar da situação que a minha Companhia viveu na Guiné de Agosto de 1966 a Maio de 1968 e levar-lhe o livro verdadeiro que contém toda a vida da 1585, pois fui eu próprio que a escrevi e a cópia da que foi enviada ao Ministério do Exército,sou eu que a tenho.

No passado dia 27 de Maio de 2017 efectuámos mais um almoço convívio em Caldas Rainha, correu tudo bem. Duas semanas antes escrevi á Srª D.Claudina Cravidão a convidá-la para assistir ao convívio, já que no próximo dia 4 de junho [de 2017] faz 50 anos que o esposo faleceu. A Srª escreveu-me,  dizendo da sua impossibilidade. A Companhia tem um "site" no Google com alguma atividade (,muito pouca). O meu contacto telefónico é 918 245 449 e o email é : carlitosarelho@gmail.com. 


(**) Vd. poste de 10 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11688: In Memoriam (152): Cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate há 46 anos, em 4 de junho de 1967; natural de Arraiolos, os seus restos mortais repousam em Elvas; nunca foi condecorado (Claudina Cravidão / Jaime B. Marques da Silva)

terça-feira, 5 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18713: Álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) - Parte II: T/T Uíge (Lisboa - Bissau, o 1º e único cruzeiro da minha vida), Bula, Capunga...

Foto nº 1


Foto nº 2

 Foto nº 3

Foto nº 4

 Foto nº 5

 Foto nº 6

 Foto nº 7

 Foto nº 8

 Fioto nº 9

Foto nº 10


Fotos (e legendas): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem omplementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



1. Continuação da publicação do álbum de António Ramalho, ex-fur mil at cav,
CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), membro da Tabanca Grande, nº 757, natural de Vila Fernando, Elvas (*):



CCav 2639  > Guiné 1969/1971  > Listagem de fotos (10/55)


1.  T/T Uíge > Lisboa - Bissau > O 1º Cruzeiro da minha vida, único até hoje!
2. T/T Uíge > A 1ª Refeição a bordo, o Matias já partiu (canto inferior direito).
3. Bula > Içar da bandeira.
4. Bula > Lavandaria pública. 
5. Capunga Resort > O Nosso acampamento.
6. Capunga Resort > O Chalet Cónico dos Furriéis. 
7. Capunga > O 3º Pelotão todo reunido na parada.
8. Capunga > Com o meu inseparável Periquito!
9. Capunga > À falta de manicura!...
10. Bula  > Leitura do jornal da terra, "Linhas de Elvas" [, semanário, com 67 anos de existência, que ainda hoje se publica]

(Continua)
__________

sábado, 9 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15953: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - VIII Parte: VI - Por Terras de Portugal: (ii) Elvas...

Capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [Fitas Ralhete], mais conhecido por  Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67. Foi cofundador e é "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô.


Continuação da publicação do cap. VI - Por Terras de  Portugal. Depois de Tavira (CISMI), o Vagabundo é colocado em Elvas (BC 8), antes de passar por Oeiras e partir para o TO da Guiné.

Texto e foto: © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.

´


Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > VI - Por Terras de Portugal: Tavira, Elvas, Lamego, Oeiras...
> Elvas (pp. 29-30)

por Mário Vicente [, foto  à esquerda, março de 2016, Oitavos, Guincho, Cascais]

Oh Elvas! Oh Elvas! Badajoz à vista!.

Velha praça cer­cada de belas e antiquíssimas muralhas, sua segunda terra,  aqui veio parar (recordar Vagabundo. Voltou a casa de seus tios, voltou a casa de seus segundos pais,
vivendo)

Torna a subir ao fortim da Srª. da Conceição. Entra na capela e contemplativo, olha para a imagem da Santa e vê quão diferente se tornou, desde os tempos de estudante quando por ali passava. É gratificante por vezes ficarmos assim sós e repensar tudo o que se passou regredindo, ou sonhando tentando na futurologia adivinhar o amanhã.

Como antigamente, sobe às ameias, por sobre as muralhas da Cisterna e do Jardim das Laranjeiras, revê as eiras onde tantas vezes jogou futebol. Espraiando a vista pela cidade, fica tempos deliciando-se com os píncaros das igrejas e as pontas do forte de Santa Luzia em cujas grutas com Picolo, Orelhas de Camurça e outros, caçavam morcegos.

Alongando mais a vista pela planí­cie, extasiava-se vislumbrando lá longe o fio de prata do Guadiana. Desce pela muralha, pára na velha Cisterna que resistente, continua a dar de beber à cidade. Revê a fonte ao fundo da rua dos Cavaleiros e o recanto onde tantas vezes jogou ao berlinde com Picolo. Vê a porta velha e os degraus da casa do Tio Pinga, e tem saudades dos seus tremoços. Enquanto desce até ao jardim das Laranjeiras, vai recordando os pregões típicos:
–  "Queijo assente Requeijão! Oh queijo assente", "Água da Plata, água fresquinha", "Quem qué boiinhas, há bolo fesquinho", "Caramelo americano!... arvelhana torradinha… chora minino chora qui o Rodas si vai embora".

Relembra outros tempos de infância, e tantas figuras típicas desta sua segunda terra. Zé da Lorca, o Tio Pinga, Isidro, Alcides e a sua galinha debaixo do braço, o Ica do Monte, o tio Rodas, o Matias à frente da Banda 14 de Janeiro, lançando fo­guetes em tardes de Pendões, a Sali Pompa na garagem do Painho, levantando as saias para a estudantada dar um tostão, e outros tantos mais, pessoas simples, desta maravilhosa cidade.

Que saudades!... Pontapeando as pedrinhas que encontrava, dava a volta até entrar novamente lá em cima nas Portas da Esquina e aí, então, admirava a magnificência do Aqueduto da Amoreira feito a custas do povo, pagando o selo real de imposto durante três gerações.

Demoradamente olhava!... por detrás do horizonte, sentia a sua terra e as terras do lado do norte. Endurecido resis­tia, mas no coração tinha um "bypass" não na veia mas de gra­vação: Tânia.


Elvas > Março de 2014 >  Antiga Sé Catedral
 e praça da República. Foto de LG.
No fosso das velhas muralhas, tendo como fundo o belo Forte da Graça, os recrutas são ensinados, de uma forma humana e preparados para a guerra. Não é necessário tratá-los como animais. Há sã convivência e respeito mútuo. O pelotão tem como instrutores João Bar, Vagabundo e João Uva, que formam o trio "Locos". O pessoal pode rir quando a "égua" Luz aparece na muralha e João Bar alerta o cabo Monforte. Este raspa as botas da tropa na terra transformando-as em cascos e relincha como um garanhão com cio, enquanto a "égua" Luz se desmancha toda e bamboleia o traseiro.

O Tlinta e Tlês é aplaudido, quando se baba todo como um chibo, ao perder a virgindade com vinte anos. O trio paga todas as despesas da festa, e o Tlinta e Tlês quer mais! Faça-se a sua vontade, e a malta bate palmas e dá vivas ao herói nas casas próximo do Castelo.
– Nandinha! Sempre atenciosa e fogosa, foram tão simpáticas as noites e os momentos na tua casa. Nunca pensei que o João Uva ganhasse a aposta.

O trio não pára, de mota ou carro. Nos arredores da própria cidade, não há poiso certo. Os três são adorados pelos soldados básicos, na maioria do Baixo Alentejo. Não conseguem dar resposta aos convites para festins e patuscadas. Derivado dos transportes e ligações para as suas terras, toda a gente vai de fim-de-semana, com ou sem dispensa assinada, não interessa pois o código de honra é que manda. Segunda-Feira de manhã todos têm de estar presentes na chamada do pequeno-almoço. Não houve uma única falta em dezenas de homens! Felizes ficavam João Bar, Uva e Vagabundo.

Retorna a terras do norte mas clandestinamente. Fala sobre Tânia, mas mantêm-se firme. Os "Locos" mantêm-se unidos e convivem com as professoras de terras do Norte. Voltam os convívios com as miúdas da sua EICE - Escola Industrial e Comercial de Elvas. Os três entram nas brincadeiras. Há uma professora que se vê atrapalhada com as armadilhas, mas tudo na sã convivência. A professora cai no ardil montado pelo trio. As bonecas para a Mariazinha, pederasta, soldado lerdo das ideias e com a mania que era mulher, eram executadas na pró­pria aula da Formação Feminina com conhecimento da professora.

No Luso colégio das freiras, Vagabundo arranja uma "girl friend".
– Fomos loucos,  não fomos, Tuxa? Mas com a ajuda da Gény foram tempos agradáveis!

Tinha de resistir aos ventos que sopravam dos lados do Norte, que tomavam o coração tão fraco, tão fraco, que a luz da candeia de ténue chama de resistência, várias vezes tremeu e o enfarte do miocárdio esteve eminente.
– Atenção cabo miliciano Vagabundo, tem uma chamada telefónica!
– Atenção cabo miliciano João Uva, tem uma chamada telefónica!
– Atenção alferes miliciano João Bar, tem uma chamada telefónica!

Os microfones do BC 8 ecoavam pelo quartel. Os sargentos Correeiro e Serralheiro, nas suas oficinas comentavam:
– Lá estão eles outra vez! Passam mais tempo ao telefone do que a dar instrução. Juntou-se ali uma trempe e peras! Não param na “canastra”. E depois o capitão ainda lhes dá apoio!... Deram volta aos soldados, mas pelo menos aqui anda tudo cer­tinho. Vá lá a gente entender estas coisas?!...

Loucuras de Vagabundo, sã amizade:
– Cély, foste simplesmente impecável, obrigado pela canção com o nome de Vagabundo. Foste recordada nos dias tristes de solidão e guerra.
– Teresinha da Praia, porquê?! Deliciosos tempos de gandulo, maravilhosos já de Vagabundo, fiquei em dívida para contigo por aquele lenço perdido no Circo.
– Tuxa! criança das loucuras! As contas dos bilhetes do cinema ficaram certas? Perdi-te a pista nas areias da Costa da Caparica. Fizeste bem em teres efectuado a substituição logo a seguir. A vida de Vagabundo também não valia muito.

Bons momentos, mas que iam cavando mais fundo a fossa em que o militar se afundava. A vida não pára e mais uma instrução básica, agora com o con­terrâneo e amigo Zé Luís, do Rossio de Cima como aspirante miliciano a comandar o pelotão. Belos tempos!...

Este cabo miliciano tem boa pele para se lhe tirar, por­tanto o melhor é mandá-lo para Lamego para as Operações Especiais. Vai dar um bom Ranger. Segue as pegadas de João Uva que já tinha partido.

(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P15950: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - VII Parte: VI - Por Terras de Portugal: (i) Tavira...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15705: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2ª versão, 2010, 99 pp.) - IV Parte: III - Metamorfose 1 (pp. 20-21)

Capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [ Fitas Ralhete], o nosso querido camarada Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67, e cofundador e "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô.

Esta edição é uma segunda versão, reformulada, aumentada e melhorada, do livro "Putos, gandulos e guerra" (edição de autor, Estoril, Cascaiis, 2000). A sua pré-publicação, no nosso blogue, em formato digital, está devidamente autorizada pelo autor.


Texto e fotos: © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.


Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra >
 III - Metamorfose 1 (pp. 20-21)

por Mário Vicente


O tempo continuava galopante na sua louca correria, transformando as coisas e as pessoas. Ângelo Roncalli, sargento do corpo médico e capelão militar, da primeira Guerra Mundial, em Outubro de 1958 entra no Vaticano, como Papa João XXIII.  As suas encíclicas Mater et Magistra e Pacem in Terris, o Vaticano II puseram a Igreja em polvorosa, e começam a delinear-se reflexos na Igreja em todo o Mundo, Portugal incluindo mesmo a ignota aldeia da Planície. Há mudança de padre e a igreja é devolvida ao Povo, onde começam a aparecer alguns homens. A própria Colónia, agora Instituto de Reeducação de Menores, sente os ventos da mudança e sofre transformações.

Calças de Palanco vai crescendo, acompanha este desen­volvimento e adere a esse movimento maravilhoso de Baden Powell. A 15 de Agosto de 1959, a Patrulha Estorninho faz a sua Promessa, sendo formada pelos Exploradores, Baté, Calças de Palanco, Torreca, Carcaça, Pouca Sorte, Bertinho, Peta e Pitórrela; este foi o embrião do futuro Agrupamento 137 do CNE a cuja chefia chegam Baté, Calças de Palanco, Bertinho, Manito e outros mais tarde.

Calças de Palanco lê a conclusão aprovada pela Conferência Internacional Escutista [CNE], e fica extasiado: «A Conferência Internacional do Escutismo declara que o Escutismo é obra de carácter Nacional, Internacional e Universal, e o seu objectivo é dotar cada uma das nações e todo o Mundo em geral, de jovens física, moral e espiritualmente fortes. É Nacional, porque visa por meio de organismos nacionais, dotar cada nação de cidadãos úteis e válidos. É internacional, visto que não reconhece fronteiras às boas relações entre escuteiros. Universal, porquanto procura insistentemente incutir o sentimento de fraternidade universal aos escuteiros de todas as nações, classes ou crenças. O escutismo não pretende de forma nenhuma enfraquecer, mas antes fortalecer, as crenças religiosas individuais. A Lei do escuteiro requer que este pratique real e sinceramente a sua religião, e a orientação da Obra proíbe toda a espécie de proselitismo em reuniões mistas.»

Para Calças de Palanco melhor, só de encomenda. Na última mensagem do Chefe, relê e encontra coisas maravilhosas tais como: "Creio que Deus nos colocou neste mundo encantador para sermos felizes e apreciarmos a vida. A felicidade não vem da riqueza, nem simplesmente do êxito de uma carreira, nem dos prazeres. Um passo para a felicidade é serdes saudáveis e fortes enquanto sois rapazes, para poderdes ser úteis e gozar a vida quando fordes homens. O estudo da natureza mostrar-vos-á as coisas belas e maravilhosas de que Deus encheu o mundo para vosso deleite. Contentai-vos com o que tendes e tirai dele o maior proveito que puderdes. Vede sempre o lado melhor das coisas e não o pior. Mas o melhor meio de alcançar a felicidade é contribuir para a felicidade dos outros."

Estas e outras palavras grandiosas de Badden Powell, ecoaram profundamente no coração de Calças de Palanco. Aparecem aqui novos putos candidatos a gandulos: Zé Sacristão, Vauna, Carmélia, ManeI Pires, Casado, Cesário, Ratinho, Toi, Ma­nito e outros entram no grupo.

Caminheiros também já temos, e criam-se os Lobitos que, mais tarde, seguirão a trilogia, "putos, gandulos e guerra". Alistam-se então, os putos Caldeirinha, Gri­lezas, Armando, Quim ManeI, os irmãos Saramago, Zé Carlos Chico Zé, Silvino, etc...

Vivem-se momentos eufóricos na aldeia da Planície.

Acampamentos não faltam e toma-se romaria a sua visita, por familiares e outros habitantes. Festas e teatros tornam-se elementos evolutivos da so­ciedade humana. Rafael de Oliveira volta à sua grande paixão e retoma o seu lugar de ensaiador, encenador e coreógrafo dos espectáculos da terra. Dramas, comédias e tragicomédias fazem rir e chorar as pedras da calçada. Gente humilde do povo torna­-se em verdadeiros artistas, e o próprio povo delira em rir. Mas por vezes, gosta também de aflorar os seus sentimentos e sentir a lágrima no cantinho do olho. Faça-se segundo a vossa vontade.

Calças de Palanco, já gandulo, vive intensamente estes tempos e tem o privilégio com Bertinho, de preparar o pequeno-almoço para Dom Manuel Trindade Salgueiro,  Arcebispo de Évora, durante um Jamboree na cidade Museu, na Quinta da Mitra.

Dedica-se ao desporto e ingressa no "O Elvas",  Clube Alentejano de Desportos, como júnior, treinado por Otto Lebre,  conhece grandes triunfos. De terra em terra envolvido com a "Malta do Atum", rapazes do movimento de Baden Powell divulgam a sua obra e colaboram activamente com a Igreja.

Malta do Atum?... Sim, meus amigos, ficou-vos a alcunha, por como ratos da noite, terdes mamado a lata do atum, o que deixou o cozinheiro Torreca apavorado, com as batatas cozidas para o almoço e nada para acompanhamento. Tinha das boas,  o nosso cozinheiro Torreca!... Lembram-se daquela sopa de feijão em que na panela entrou primeiro a massa?... Tudo bem! Era nestas experiências que se ia enriquecendo o saber da vida feito.

Os estudos de Calças de Palanco vão andando, devagar como bom alentejano, para não se cansar muito. Algumas gaze­tas às aulas fazem parte do curriculum, principalmente quando na linda amuralhada cidade, aparecem excursões com "guapas hermanas", dos Colégios do lado de lá da fronteira.

– Manel,  vai buscar a viola! Vamos cantar umas mala­guenhas! –  E seguiam direito ao jardim mandando as aulas e o "Fumachum" às ortigas.

– Também já lá está o ManeI! Foi tão novo não foi, Manela? E deixou tantas saudades! "Cest la vie!"

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domingo, 17 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15624: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2ª versão, 2010, 99 pp.) - II Parte: I - Os putos (pp.7-16)



Capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [ Fitas Ralhete], o nosso querido camarada Mário Fitas, ex-fur mil inf, op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67, e cofundador e "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora,  alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô.

Esta edição é uma segunda versão, reformulada, aumentada e melhorada,  do livro "Putos, gandulos e guerra" (edição de autor, 2000). A sua pré-publicação, no nosso blogue, em formato digital, está devidamente autorizada pelo autor.

Texto e fotos: © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.


ÍNDICE

I          Putos

II         Putos, Gandulos e o Padre

III        Metamorfose

IV        Cepa do Zé de Varche

V         Vagabundo

VI        Por Terras de Portugal

VII       Guerra 1

VIII      Brincadeira no Mato

IX        Guerra II

X         Miriam

XI        Como se  Constrói uma Capela

XII       Guerra 3

XIII      Mamadu em Férias no Hospital Militar

XIV      Regresso à Guerra

XV       Adeus à Guerra




Elvas > Vila Fernando > s/d> c. 1950 > Calças de Palanco, Marquês e Picolo (p. 10)


Texto e fotos: © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.


Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > I PUTOS (pp. 7 - 16)

por Mário Vicente

A sideral abóbada negra com milhões de estrelas florescentes encantaram-no quando pisou a calçada. Com a forte excitação do momento, nem do medo da noite se recordou, o que seria normal a qualquer criança. Uma alegria interior dava-lhe um alento e uma curiosidade extrema para o seu temperamento calmo e introvertido. Seriam por volta das quatro da manhã! Calças de Palanco nunca se tinha levantado tão cedo.

No Rossio, em frente e por debaixo dos cedros, o rebanho ruminava deitado,  esperando o romper da aurora que, naquele dia, apareceria já com uma hora e pouco de caminho em direcção a terras do lado Norte.

Francisca, encostada na ombreira da porta, os olhos húmidos,  deixando cair uma tímida lágrima, desejou boa sorte e que tudo corresse bem.

António, com um nó na garganta, respondeu um até logo quase inaudível, e com seu filho e o companheiro Jolim dirigiram-se para o rebanho. Acossados por Jolim, o cão, os ovinos foram-se levantando e tomando rumo tocados por António e seu filho, enquanto Francisca,  agora com os olhos rasos de água,  se recolhia ao lar, rodando a chave a avançar na lingueta de segurança da fechadura.

A aurora rompeu a meia légua passada, não era longo o caminho. António embrenhado nos seus pensamentos e o miúdo sonhando com a Feira e como seriam as terras para o lado do Norte. Foram tocando o gado, incapaz de entender porque é que o seu dono os obrigara àquela caminhada a desoras.

Mas era assim!... António ia mudar de vida. Mais certo e seguro sempre seria ter um emprego do Estado do que a errante e incerta dúvida do amanhã da vida que até ali levara. Teria ainda a vantagem de estar junto da mulher, filhas e filho,  que agora saltitava radiante campo fora, rodeando os olivais que davam acesso ao recinto da Feira de Gado nas terras do lado do Norte.

Já no recinto da Feira, enquanto brincava com um pauzinho, fazendo Jolim saltar na esperança de o abocanhar, Calças de Palanco foi ouvindo atento a conversa de seu pai, com aquele sujeito de casaco de bombazina e boné aos quadrados, até que o dito homem pronun­ciou:
– Pronto! Está certo, são minhas!

Apercebeu-se então o puto que voltaria a sua casa ape­nas com o pai e o companheiro Jolim porque as “lanudas” e os cordeiros já eram propriedade de outrem. António ficou duplamente satisfeito. Tinha feito bom negócio, o seu gado ficava em boas mãos e continuaria a ser bem tratado. Últimos acertos quanto a contas e forma de pagamento.

O homem de boné aos quadrados chamou o seu pastor, que começou a encaminhar o gado para o seu novo destino, o qual não seria muito longe, conforme a conversa trocada.

António chamou o filho e com o fiel Jolim seguindo-os, dirigiram-se para a rua onde de um lado e outro se encontravam barracas de quinquilharia, e de comes e bebes. Parou na barraca das farturas e pediu dois pedaços com açúcar e canela, e dois copos de café de cevada. Encostados ao balcão, pai e filho saborearam o pitéu, tendo António de esperar pelo miúdo porque a cevada se encontrava muito quente.

Enquanto tomava o café, quase a queimar a língua, Calças de Palanco ia deitando o olho para as pessoas que iam e vinham, naquele característico movimento de terra em festa, contemplando o céu, onde, de quando em vez estalavam os foguetes anunciando o dia de festa em honra de Nossa Senhora do Paço e da respectiva Feira de Gado, este ano bastante concorrida.

Após ter terminado o improvisado pequeno-almoço, o pai tirou um lenço do bolso e, carinhosamente, limpou a boca suja de melaço gordo açucarado e os bigodes de café do seu filho. Levou-o à frente de uma barraca de brinquedos, e perguntou­-lhe:
– Então, que brinquedo queres?

Calças de Palanco ficou maravilhado e corou pela introvertida admiração e indecisão de tantos brinquedos lindos. Uns de madeira, outros de lata!... Ficou um pouco confuso, mas um ficou gravado no seu olhar encantado, enquanto atento percorria aquele mundo maravilhoso. Era aquele carrinho de lata pintada puxado por um cavalo, com cocheiro e tudo. Seria que o pai lho compraria? Mais uma segunda, e uma terceira volta de olhar mirando tudo ao pormenor, até que o pai o interrompeu no seu maravilhoso vaguear:
–  Como é, filho, não dizes nada? Querias tudo, não era? Pois!... Mas tudo não pode ser! Escolhe lá o que mais gostas!

O indicador do miúdo disparou ágil como seta, e pronunciou:
–  Aquele!

Era o carrinho do cavalo. António pagou e a mulher gorda,  de lenço castanho com flores amarelas amarrado à cabeça, agradeceu o pagamento e entre­gou o brinquedo ao contemplado.

Caminho de retorno, saltitante de alegria, o miúdo ia brincando com Jolim. Ficaram, pela primeira vez, visitadas as ter­ras para o lado do Norte, por onde mais tarde várias vezes passaria com sua mãe, quando iam visitar os primos de Fonte Clara.

Setembro passado, o Outono veio com muita água. Era Natal e ninguém podia entrar nos campos, que se encontravam completamente alaga­dos. Quando a mãe Natureza se distrai, são sempre os mesmos a sofrerem as consequências. Os lavradores mandaram os seus ga­nhões de férias sem vencimento. Claro! Que aguardassem pelo fim da invernia…

Zé do Barrocal, o filho mais velho do ti Manel, viu acabar-se-lhe o último naco de toucinho, pois já eram quatro bocas a comer e de trabalho não havia esperanças. Uma noite, resolveu fazer uma asneira e perder a honra com que era considerado em todas as abegoarias. Escondeu um saco de serapilheira debaixo do coçado casaco, e dirigiu-se sozinho ao mato, pois a vergonha não lhe permitia arranjar companhia, como outros que o mesmo faziam. Mãos geladas, por entre a erva molhada, foi apanhando bolota ou lande, azinho ou sobro, não importava, pois o impor­tante era juntar o suficiente que as costas aguentassem para carrego no regresso.

Madrugada, completamente molhado, escondeu o saco por entre as medas de lenha, dirigindo-se para casa. Tirou as botas de chumbo, com três dedos de barro verme­lho pegado, deixou a roupa enlameada no canto da chaminé e, vestindo umas ceroulas de baetilha enxutas, assim se deitou junto da mulher, que consigo tinha o filho mais pequenino para,  com seu corpo, lhe transmitir o calor e sossegado dormir. Sen­tindo o corpo gelado do marido, ajeitou as costas, até ficarem coladas com as dele, transmitindo-lhe assim um pouco de con­forto e, baixinho, segredou-lhe:
–  Tu dás cabo de ti, homem! E o pior é se te apanham! Já viste? Ai que vida esta!

Ajeitando-se melhor, colou o fraco corpo aos dois com­panheiros de cama tentando numa doação total a sua última rés­tia de calor. Mas, não havia sossego naquela cama. O filho do ti Manel dava voltas e revoltas! A cabeça, num fervilhar insano, não lhe deixava pegar no sono. Quem lhe compraria aquilo? Só quem tivesse um porco para engordar. A mulher,  não dormindo e adivinhando o atormentado pensamento do inquieto marido, como só as mulheres sabem adivinhar, voltou a segredar-lhe:
–  Oh, homem, agora descansa. Amanhã vais falar com a prima Chica, e vais ver que ela é capaz de querer a bolota!

Aí o homem esperançado acalmou e o sono tomou posse daquela mente escaldante e corpo amassado.

De manhã, na sua casa, Calças de Palanco, junto à lareira crepitante, comia uma torrada barrada de banha e polvilhada de açúcar, tomava uma caneca de café com leite, quando alguém, abrindo a porta, entrou dizendo:
–  Prima Chica, posso entrar?

Francisca, dando uma olhadela pela porta do meio, verificou quem era e respondeu:
– És tu, Zé?! Entra, assenta-te aqui ao lume, que está muito frio.
– Prima Chica, eu não me assento, queria era... nem sei como hei-de dizer! ...

Francisca olhou para o Zé do Barrocal e achou-o triste e um pouco nervoso.
– Diz lá Zé, há algum problema? Está algum miúdo mal?
– Não!... Não é isso! É que eu não tenho tido trabalho e esta noite tive de ir arranjar um saco de bolota!

Os olhos do homem estavam húmidos e uma vergonhosa lágrima rolou naquele magro rosto. O puto, no seu cantinho, gravava na mente aqueles dolorosos momentos e raciocinava:
– O primo Zé a roubar bolota para dar de comer aos filhos?! Ele tão considerado e respeitado por todos quantos consigo trabalham!...

Havia qualquer coisa que não entendia. O primo Zé está a chorar de vergonha, não por os filhos não terem de comer, mas por ter apanhado a bolota no mato, não sendo dele!

Instantes confusos. Mais tarde, retendo esta cena na mente e já com entendimento completo, compreendeu não só o problema do primo Zé mas todo o drama do povo da Planície. É que tudo isto acontecia em plena Europa, após a proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Homem, cujo artigo 25° diz: "Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistên­cia médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invali­dez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua von­tade."

A proclamação foi assinada a 10 de Dezembro de 1948.

As coincidências do destino! Calças de Palanco comia a torrada a 17 de Dezembro do ano seguinte. Francisca acalmou o filho do ti Manel e disse:
– Não te preocupes, diz lá quanto é? Levas já, pois de certeza que te faz falta. Logo, quando vires que podes trazer o saco, trá-lo. Se tiveres de fazer o mesmo, tem cuidado, não sejas apanhado, e escusas de andar à procura de quem fique com a bolota, pois eu só mato o porco lá “p´rós” fins de Janeiro.
– Obrigado, prima Chica! Nem sabe o bem que me está a fazer.

Tinha que saber! Não era favor nenhum, era obrigação, era um dever de solidariedade. Seria um acto de revolta contra todos os que exploravam e amarfanhavam os mais honestos e melhores filhos da Planície. Infelizmente nem sempre assim foi.

Calças de Palanco analisou isto tudo mais tarde e tam­bém os olhos lhe ficaram húmidos. Talvez por vergonha, quem sabe?

Ambos se foram cedo desta vida e com grande sofrimento, apesar da grande ajuda da improvisada enfermeira, a samaritana Xan­dra que muita dor aliviou. Tanto o Zé, filho do ti Manel,  como sua mulher partiram, mas com H e M bem grandes.

O fim de Janeiro chegou, e a matança do porco teve de ser adiada para o primeiro domingo de Fevereiro, por causa do pessoal da cidade, pois era só nessa data que o trem do quartel estava disponível. Mas uma semana passava rápido, menos para Calças de Palanco que estava desejoso de rever os primos da cidade.

Chegou a véspera da matança. António avisou Francisca para nesse dia não dar comida ao porco. À noite, Calças de Palanco não dormiu e manhã cedo, dia da matança, enquanto seu pai ia afiando facas e preparando a banca e todos os apetrechos, mais era satisfeita a sua curiosidade. Saltitava no quintal para ver os preparativos e assistir à chegada dos primos, enquanto seu avô, velhote,  ia atazanando a cabeça do paciente António. Até que o trem puxado por mulas e não cavalos, coisas esquisitas as dos militares, apontou ao portão da Colónia e,  contornando o Rossio, veio parar, em frente da casa de fachada azul e porta castanha. Grande alegria entre miúdos e graúdos!

Comeram-se as fatias paridas ao pequeno-almoço e matou-se o porco. Não era tão fácil assim,  pois havia tarefas complicadas, era necessária força e saber. Teria de se colocar o animal deitado sobre a banca – uma mesa forte –   e posteriormente amarrar-lhe a boca com arame ou corda para não utilizar os fortes dentes e ferrar em alguém.  Depois seria a mão certeira e experiente para aplicar o golpe seguro de forma que o animal tivesse boa sangria para feitura dos enchidos, e não sofresse muito.

Após o porco morto, era chamuscada a pele para empolar e retirar. Interessante para a miudagem era a abertura do porco, pois era satisfeita a curiosidade de verificar os órgãos internos do animal, confirmando o ditado popular “se queres conhecer o teu corpo,  mata um porco”.

A lavagem das tripas, que seriam utilizadas nos enchidos, foi feita no tanque de três bicos no eucaliptal, um pouco abaixo da nora. Toda a miudagem foi assistir, apesar do frio intenso. Fez-se uma fogueira e, enquanto Francisca e Rosária lavavam, a malandragem brincava e corria a mata de eucaliptos, desde a nora até à ribeira.

Almoçadas as sopas de cachola, a tarde correu tão rápida que não se deu por ela. Eram horas de voltar para a cidade! António e o compadre Zé Joaquim, já com um grãozinho na asa, iam-se num despedimento que não tinha fim, enquanto o pessoal.  todo acomodado no carroça, sonhava já com a nova vinda à aldeia. Os compadres fizeram a última despedida, e o trem arrancou com o sol já posto e as velas das lanternas acesas.

Veloz é o tempo quando se brinca e não há obrigações para cumprir! A miudagem, sem dar pela passagem dos anos, viu-se envolvida na vida escolar. Foram assim reduzidas as horas de brincadeira no casão do Baixa com Nanicha, e à noite as tenta­tivas de apanhar mamíferos voadores com Faty e Kinkas levan­tando as canas e gritando:
 – “Morcego, morcego vem à cana que tem sebo!”

Sacola às costas, caderno e lousa dentro, ei-los, no novo ciclo de existência, percorrendo a fase ainda muito incompleta de putos, para tentar alcançar a graduação de gandulos.

Com a cabeça quase rapada, pelo mestre Algêncio que era exímio, um verdadeiro perito na arte de tosquiar os pequenos crânios, e primava quando se lhe pedia um corte como devia, assim circulavam. Metia o pente mais grosso na máquina, e rapava a malta que era uma beleza. Vantagens? Livrava-se a malta dos "selos" ou "caldos" da gandulagem, "cuspinhadela" na mão e uma valente cachaçada.

Assim, geralmente, se apresentava Carrulho. Naquele dia, apressou-se ele a levantar o arame farpado mesmo juntinho à acácia enraizada no valado que dava acesso à eira da Colónia Correccional.

Imediatamente a canalha passou de gatas, não havia tempo a perder, para quê dar a volta pelo portão? Depois do Pato Marreco passar o último, como era cos­tume, o batalhão formou. A malta da Aldeia tinha ganho aos do Rossio de Cima. Braços sobre os ombros uns dos outros, todos engancha­dos, fazendo dos braços cangalhas, começou a lenga lenga do festim:

"Na quero trabalhar!
Porquê na quero!
A malta d´Aldeia ganhô ò Rossio!
Por três a zero!"


Eram comandados por Alacrau, incontestado capitão e chefe de muitas aleluias, a “tradição Pascal”. Não era brincadeira! Doze voltas à Igreja correndo, finalizando com a entrada na mesma, subida até ao altar, ostentando e badalando uma manga ou outra espécie de chocalho ao pescoço, geralmente cedidos pelo Zé da Defesa para o evento.

Desceram direito ao Joaquim dos Vinagres que, como di­ria meu avô, era seu vizinho. Cada voz com seu timbre, todos queriam berrar mais alto que o companheiro, numa desafinação total, tornando o "chinfrim" maior. Por cima da algazarra, sobressaia trombeteira a voz de Alacrau, pregoeiro-mor da aldeia, também incontestado, fosse qual fosse o produto.

Torreca seguia ladeado por Carrulho e Calças de Palan­co, Alacrau por Malhado e Binito. Na segunda linha seguia uma confusão de Ramada Curta, Narciso, Pegado, Laroso, Cabeçudo, Nanicha, Papo-seco, e outros de idades diferentes. Por último Pato Marreco, como habitualmente.

Não se compreendia bem! Havia coisas que não eram entendíveis. Calças de Palanco e Torreca, sendo do Rossio (de baixo),  alinhavam pelos da aldeia. O Narciso do Rossio (de cima) gritava também pelos da aldeia.

Confuso não era!... Calças de Palanco, mais tarde no sul Guiné, já vagabundo mas não ainda maltês,  compreenderia então perfeitamente, enterrado na lama, bolanhas e tarrafo dos rios Cumbijã, Manterunga e Quaiquebam. Enrolado e cheirando a morte no emaranhado das matas de Camaiupa, Afiá, Cabolol, Cadique e Cantanhez aprenderia como os homens se tramam uns aos outros, transformando o "amai-vos uns aos outros" em "mamai-vos e matai-vos”.

Era mesmo assim! Ricos, pobres ou remediados, os homens delimitavam as suas próprias fronteiras, as relações e a vida. Eram as castas exactamente: fulas, futa-fulas, fulas-pretos, fula­-forros, mandingas, balantas, papéis, manjacos, bijagós, felupes, beafadas, nalus e mais a puta que os pariu com estas divisões todas.

Todos um dia morrerão e voltarão a ser terra. Regressemos então, aos gloriosos que aplicaram três "secos" aos do Rossio.

A meio da rua do Monte  – assim se chamava nos tempos que a Duquesa de Bragança, dona e senhora daquelas terras, por ali passava no seu coche a caminho do Monte de Vila Fernando quando a aldeia ainda era conhecida por Conceição –, Kinkas,  por entre o postigo semiaberto, viu o pessoal passar e não resistiu a um olhar mais prolongado a Calças de Palanco. Tão embevecida estava, que nem reparou que também ele ia descalço e não só, a cabeça do dedo grande do pé direito deitada abaixo. Que impor­tava? Os do Rossio tinham levado três "secos"!...

“Na quero trabalhar!
Porquê na quero!”


A ladainha continuou até todos se abraçarem nos degraus do adro em frente ao Cruzeiro de granito, comemorativo e recordante de Guerras,  é claro, da Independência e Restauração, ali colocado em 1940.

Sentaram-se e descansaram um pouco as cordas vocais. Fez-se por momentos, silêncio apenas perturbado pelo ralhar da ti Marilopes contra aquela canalha toda.

Joaquim acabou de dar a ração às mulas. Saindo pelo portal grande do cabanão, ao passar pelo chafariz, deu uma lava­dela nas mãos e tirando o lenço das calças de bombazina casta­nha, as foi limpando, dirigindo-se para a vereda que dava aces­so ao caminho mais curto para casa. Bamboleante na sua manei­ra pesada de andar, olhou em frente e parou. Firmou bem a vista e confirmou:
– Uns sapatos! Malandragem!

Andaram aqui toda a tarde e nem se lembraram dos sapatos. Pegou neles, chegou a casa e gritou à entrada:
– Marizabel!
– Que queres, homem?

Respondeu-lhe a esposa.
–Toma lá!

Entregando os sapatos á mulher, sentou-se à chaminé, um sorriso malandro surgiu-lhe no rosto. Deve andar algum à rasca a saber deles, pensou consigo. Torreca tinha a quem sair!

Maria Isabel mirou os sapatos e reconheceu-os imediatamente. Desceu a rua cem metros e, ao chegar à casa de fachada azul e porta castanha, abriu o postigo e chamou:
– Chica! Ó prima Chica!
– Já vou! – respondeu Francisca do fundo do quintal, pedindo desculpa a Ti Catrina, pela interrupção da conversa.

Quando se aproximou da porta de entrada, Maria Isabel estendeu o braço pelo postigo mostrando os sapatos, e disse:
– Olha, toma lá que devem ser do teu, foi o meu Jaquim que os encontrou na "êra."
– Pois são, prima Marizabel! Deixa estar que ele vai levar uma sova!... Mas deixa-o andar , ele há-de aparecer descalço!

Abandonando os degraus do adro, Calças de Palanco correu até à fonte e molhou o dedo que agora lhe ardia com in­tensidade. Imediatamente lembrou-se dos sapatos e, numa cor­rida louca, voltou à eira. Os ditos cujos tinham ficado a servir de poste da baliza, mas… de sapatos nada, tinham-se evaporado!...

Já estava a ficar desorientado, quando de repente olhou para as eiras de baixo, e viu o acampamento de ciganos.
– Foram eles!

Tinha de ser! Tudo o que aparecia e acontecia de mau,  era obra de ciganos, não era?!. .. A cabeça de Calças de Palanco entrou em confusão. Porquê? Mas há coisas que aparecem feitas e não são eles?,,,
Tão estranho!.... E voltou a aflição dos sapatos:
– Como posso entrar?

Os ciganos? Não era má ideia. Mas... e se não tivessem sido eles!? Com a cabeça ardendo em louca confusão voltou ao Rossio. Sorrateiro, foi até ao pinheiro mais próximo de casa, esperou uns momentos para se certificar que a porta estava aberta e que ninguém se encontraria na sala de fora. Mal calculado! Assim que pôs os pés descalços em casa, aparecendo milagrosamente, dona Francisca gritou:
– Descalço? Então os sapatos!?

A cabeça de Calças de Palanco ficou como se lhe tivesse caído em cima um calhau do tamanho do sino da igreja. Os ombros mirraram-se-lhe num encolher ignorante, mais parecendo frango acabado de depenar. Um "glu glu" saiu-lhe da garganta como engasgamento de migalha no goto.
– Ai meu Deus! Como tens o pé filho!  – pronunciou Francisca, ao verificar o dedo do pé de seu filho. 

Oh! divina topada na pedra em vez da bola! Oh bom Deus que fizeste o milagre de plantares pedras na eira!. .. Estava assim salvo! Os sapatos passaram à história. A grande priorida­de era tratar daquele dedo. Que alívio, que sorte!

Calças de Palanco cantou de novo interiormente: 
– Não quero trabalhar, porque eu não quero!

Dona Francisca pôs no chão os sapatos que mantinha escondidos no avental, e foi procurar mercurocromo para tratar do pé de seu filho, esquecendo a sova que tinha para lhe dar. O pensamento de Calças de Palanco voou para as eiras de baixo e saiu-lhe:
– E os ciganos?
– Quais ciganos, filho?

Calou-se, viu que tinha sido injusto. Era verdade. Nem tudo era obra dos ciganos. Mais tarde compreenderia a perseguição que os seres humanos se movem uns aos outros como bárbaros. Compreenderia melhor quando seu pai lhe contou as atrocidades da guerra de Espanha por ele presenciadas. Ainda hoje, a visão do momento e palavras se mantêm intactas nos olhos, cérebro e ouvidos de Calças de Palanco.

Subiam os dois a estrada que dava acesso ao Monte do Lago, lá bem em cima no alto onde funcionava a queijaria. Cá em baixo, encoberto pelos silvados, choupos e salgueiros, corria o fio de água da ribeira das Espadas. Os contornos do Forte da Graça bem definidos, com um céu azul aveludado como pano de fundo, forneciam uma tela de beleza extraordinária. Já quase no cimo junto ao Monte, António parou! Passou docemente a mão pela cabeça do miúdo e disse:
– Olha filho, a besta humana é capaz de tudo!
– Vi-os! Mãos amarradas com arames em torniquete!
– Desses dos fardos, pai?
– Sim,  filho, desses com que vocês fazem carrinhos para brincar.
– Homens e mulheres,  até crianças como tu, mãos amarradas atrás das costas, direitos à praça de touros de Badajoz. (**)

António dizia isto e os olhos húmidos transmitiam a realidade do passado, agora bem presente. A metralha martela­va-lhe a cabeça. A Ribeira das Espadas e os seus silvados, onde escondidos, lhe distribuía as “perrumas” (pão de farelo cozido para cães), pequena dádiva por vezes para tanta gente. Uma atrevida e sentida lágrima rolou por aquele rosto seco, tisnado pelo sol.

O pensamento de António regrediu no sofrimento e na dor.  E Soledade!?... Seria viva?... E se estivesse grávida, como desconfiava!? Fizeram amor por gosto, em emaranhados de angústia.

Mais tarde, já homem, Calças de Palanco sonhou uma noite que tinha um irmão, chamado António, do outro lado da fronteira.

Voltando aos sapatos! Foram os ciganos perdoados, mas não só, a partir dessa data a maneira de pensar do puto mudou radicalmente. Prometeu a si próprio que havia de falar com ciganos, tendeiros e malteses.

Malteses!...  Gostava de ser maltês. Deveria ser bom, sem ter nin­guém a mandar e andar por montes e vales!... Ser dono dos dias e das noites, de estradas e caminhos. Que bom!...

Não seria maltês! Mas na Guiné, o seu grupo de combate seriam "Os Vagabundos" e ele próprio "O vagabundo", como que fruto de se ter armado em herói e em maluco quando andou a aprender a matar nos “Rangers”, em Lamego. Saberemos mais tarde coisas tristes desta louca história.

O tempo voava, corcel alado, eternidade para os putos, cegos na ânsia de se tomarem gandulos. Seria tarde já, quando compreenderiam que aqueles eram os tempos mais puros e belos da sua existência.

Era vê-los nos invernos: pés descalços, mãos e, por vezes, até as orelhas sangrando cheias de frieiras, por causa daquele vento leste, frio, trespassante que varre a Planície. Sem desistirem, na terra barrenta em água gelada. Aí brincavam desco­brindo as suas nascentes, dando asas à sua extraordinária engenharia, construindo barragens, albufeiras e rios.

Aos inver­nos seguiam-se os "pós de Maio" que os livrava das frieiras e lhes dava azo a iniciarem-se como predadores armando laços nos ninhos às "pardalas" e tentando meter em gaiola (prisão) quem nasceu com asas livre para sulcar os céus.

Seguindo o ciclo da mãe natureza, viria o Verão com a sua canícula. A Planície, transformada em braseiro, obrigava à procura de uma sombra amiga. Divergiam então os putos da engenharia civil para a mecânica agrícola e outras da sua universidade imagina­tiva. Tudo servia para construção das suas fabulosas máquinas. À sombra dos pinheiros do Rossio, o arame, matéria-prima mais utilizada e roubada aos fardos de palha ou de enfardadeiras exis­tentes nas proximidades, era trabalhado por hábeis mãos, de onde saíam os mais maravilhosos brinquedos. Mulas, bois, arados e charruas, tractores e respectivos atrelados, fazia-se tudo. A criação inventiva levava a tudo aproveitar: latas de conserva para atrelados e comboios; as latas de graxa dos sapa­tos davam para rodas, telefones e outros engenhos; a cortiça para carroças, rodas e barcos. O Rossio transformava-se num Instituto Superior de Sabedoria. Brincava-se ruidosamente até se ter a certeza que toda gente dormia a sesta.

Esse seria o momento de lançar o golpe dos putos, uma escapadela até à Ribeira Velha para dar uns mergulhos no pego Salgueiro. Isto se o Sombra Negra não andasse por perto, pois, caso contrário, lá teria a malta de enrolar a trouxa debaixo do braço e todos nus, fugirem como setas pelo eucaliptal direito à nora ou ribeira acima até à ponte, conforme ele aparecesse e não fosse o gajo soltar o “Alsácia Andaluz”.

No Rossio a ciência tomava-se livre. Era a pura liberda­de! Liberdade?!... Quem falou nisso?  Risco azul imediato sobre essa palavra.  A palavra liberdade nem lhes era comunicada, não fossem mais tarde fazerem uso dela e trazer perigo para a Ordem e Progresso do (velho) Estado Novo. Era uma causa gravíssima,  esta da Liberdade, constando-se até que tal palavra não era conhecida pela própria Guarda Republicana, por não constar nos dicioná­rios existentes nos respectivos Postos.

Puto, mas gostando de ouvir o que as pessoas mais velhas diziam, Calças de Palanco ouviu um dia comentar ao tio Catorze aquele caso bastante falado de proibirem as mulheres de cantar quando, madrugada bem escura, seguiam para as ceifas. E foi triste este verdadeiro acontecimento!...

Madrugada fora, as manageiras de porta em porta, iam chamando o pessoal. Batida na porta e a normal pergunta e resposta:
– Quinita? Sim! Vá, rapariga, vamos lá!...

Alzira, Amélia, Catrina, Antónia, Felizbela, Chica Rosa, Elvirica, etc. etc etc.  Assim, sucessivamente, Chica ou Cipriana ou outras, todas as madrugadas funcionavam como despertadores humanos, até se ter o rancho todo avisado, e que começava a juntar-se à esquina do Vinagre ou da Requêta ou outro local, conforme fosse o destino.

Como seria este sistema doloroso aliviado? Como?
– Olha, mulheres, vamos mas é cantar!

Rouxinóis da madrugada. Elvirica, voz certinha e bem timbrada, dava o tom e todo o rancho começava a subir a ladeira cantando as "Saias":

“Mesmo agora aqui cheguei,
Mais cedo não pude vir,
Ainda cheguei a horas
Da tua linda voz ouvir.

Oh, lua não dês luar
Na campa da minha amada,
Não vá ela acordar
Na sua triste morada.

Adeus, ó Vila Fernando,
Colónia Correccional,
Prenderam o meu amor
C'uma fita cardinal."



Nunca ficou definido o sentido deste último verso. Alguns diziam por ser da fita cardinal, que era de cor vermelha; outros opinavam ser por incomodar uma excelência que passava as manhãs na cama. O certo é que um dia, ainda madruga­da, o cabo e uma praça da Guarda Republicana interromperam a alegria daquelas mulheres escravas, cujo crime era única e sim­plesmente cantar para suas tristezas afastar.
– Ficam avisadas que daqui p'rá frente acabou a cantoria, e não há mais avisos, senão for com multa, vai com prisão.

Palavras certas as do tio Catorze a bailarem na cabeça de Calças de Palanco:
– É um crime! Até o canto tiram ao Povo!
– E o padre?

Nestes assuntos não se metia ele! Falaremos ainda do padre e dos problemas existentes, à sua vol­ta, com os putos, gandulos e não só.

Quando Abril abriu, da terra prenhe deste Alentejo brota­ram as mais lindas e belas cantigas. Mulheres e homens alente­janos voltaram a sentir a força da sua terra,  cantando-a. Vitorino, Janita, Paco, "Oh, Elvas, Oh, Elvas". Quantas vezes me cruzei e falei desta bela cidade com meu irmão Picolo!

Havia agitação nos putos. D. Maria Alice aos rapazes e D. Maria Amélia às raparigas, já tinham avisado a data das provas de passagem e dos exames. Estes seriam na Direcção Escolar na sede do Concelho. Haveria explicações extras para as provas de admissão dos que continuassem a estudar. Grandes senhoras estas, que bem souberam fazer a esta terra!... Graças a elas muitos miúdos de então virão a ser homens e mulheres de muito saber. A outras, ou outros que, antes ou depois delas, tive­ram o mesmo comportamento, o meu agradecimento pela sua obra e desculpa por os não nomear, apenas por desconheci­mento.

Como ia dizendo, os putos da agitação passaram às dores de barriga dos exames. Estava prestes a primeira separação,  tendo só o tempo suficiente para, sentados nas pedras à sombra da mimosa na esquina da Requêta, ouvir as histórias do ti Russo.

Pequeno, cabelo aloirado (daí a alcunha).  olho azul, um já coberto de névoa catarata que não definia a cor, ar ladino, grande contador de histórias e “cascarrilhos”, lá ia desfiando o que a malta mais gostava.

Na sua voz calma começava então:
–Naquele dia o Arronches ia a atravessar a ribeira quando lhe apareceu o diabo.
– Pára lá!

Disse o diabo ao Arronches.
– Só passas se me deres um cigarro dos fortes!

O Arronches era homem sem medo! Ia dizendo, olhando e mirando com ar maroto, a reacção dos putos. Mas o diabo sempre era o diabo! Lembrou-se então o Arronches que levava a espingarda e gritou para o diabo:
– Ó diabo, abre lá a boca!

O diabo abriu a boca, o Arronches  puxou da escopeta, dedo no gatilho, e pum! Uma chumbada em cheio na boca do diabo!

Com a sua calma habitual o ti Russo continuava:
– O diabo engoliu o chumbo, deu um arroto, deitou uma fumarada pelas ventas e disse: "Ó Arronches podes passar, este é do forte, é do bom!!"

Assim passava as horas o velhote, contando histórias, mudando o tema conforme a reacção provocada nos putos. Seguia-se a do Ti Cagaporras, no tempo em que os homens se procuravam como os bois para lutar. Depois lá vinha mais uma de bruxas e lobisomens, etc. etc. etc...

Passaram as férias, as últimas da instrução primária. Para alguns, o tempo de criança acabaria aqui, pois rumariam para os campos onde já buliam irmãos e pais. Outros, mais afortunados,  bafejados pela sorte e sacrifício dos pais, continuariam tentando subir mais um degrau na vida.

Calças de Palanco rumou à cidade onde encetou nova etapa, agora na companhia de seus primos irmãos Auta, Picolo e Marquês. Aos fins-de-semana regressava à sua aldeia para a compa­nhia de seus pais e irmãs Adelaide e Amália.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 10 de janeiro de  2016 >  Guiné 63/74 - P15603: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2ª versão, 2010, 99 pp.) - Parte I: capa, dedicatória, introdução e prefácio (, este com a assinatura de António Graça de Abreu)

(**) Vd. Fundação Mário Soares > Guerra Civil de Espanha > Mário Neves e a guerra civil de Espanha > A chacina de Badajoz

(...) Quando Mário Neves [, 1912-1999], com apenas 24 anos, e ainda estudante de Direito, foi incumbido da sua primeira e derradeira prova como repórter do Diário de Lisboa, nunca iria imaginar as repercussões internacionais que iria ter o seu testemunho da tomada violenta de Badajoz por parte das tropas nacionalistas. (...)

(...) A “Matança de Badajoz” foi presenciada em primeira mão por três jornalistas: Reynolds Packard, da United Press, Jacques Berthet, do Temps, acompanhados por Mário Neves. Estes jornalistas, e mais tarde Jay Allen, correspondente do Chicago Tribune, foram os primeiros a denunciar a violência e a “inflexível justiça militar” realizada pelo Exército de África, comandado pelo tenente-coronel Yagüe. (...)